CÁLCULO DE PRODUTIVIDADE VISANDO A
PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS DAS EMPRESAS
Engº. José Claudio Macedo Cardoso
Bosch Freios
R. João Felipe Xavier da Silva, 384. Campinas-SP. CEP: 13030-903.
Prof. Dr. Milton Vieira Junior
Universidade Metodista de Piracicaba. E-mail: [email protected]
Rod. Santa Bárbara - Iracemápolis, KM 01 - Santa Bárbara D’Oeste -SP. CEP: 13450-000.
The use of productivity rate has been a resource for the enterprises to evaluate
their performance. However, once the brazilian congress has approved a law that obey the
enterprises to divide their profits between their employes, the use of this rates gained more
atention. Some of the paramethers used to calculate the rates can be influenced by
organizational characteristics of the enterprises. Under this context it was necessary to
develop a new method to calculate the productivity rate. This new rate has to consider
some influences that the variety of sizes and of batches of the parts bring. By the same way,
the rate may not be influenced by some organizational characteristics of the enterprises.
Keywords: Productivity, profits, global productivity
1- Introdução
O índices de produtividade sempre foram um recurso largamente utilizado pelas
empresas para medirem seu desempenho, tanto a nível global como localizado. Diferentes
enfoques a respeito desse tema foram apresentados (Agostinho, 19__, por exemplo).
Porém, após a aprovação pelo Congresso Nacional de Lei determinando a participação de
funcionários nos lucros da empresa para a qual trabalham, tanto os sindicatos como as
empresas viram -se obrigados a buscar um número que pudesse monitorar com maior
fidedignidade a produtividade, pois é através desse índice que deve ser definida a cota de
participação por empregado.
Vários fatores podem ter influência sobre a definição desse índice:
• Dificuldade das empresas de capital fechado abrirem sua contabilidade , uma
vez que estariam disponibilizando uma informação estratégica e confidencial
para o mercado;
• Dificuldade de interpretação por parte do sindicato de trabalhadores dos
números apresentados pelas empresas, gerando desconfiança e conflitos;
• O fato do lucro da empresa ser grandemente influenciado por atos
administrativos da direção e pelo próprio mercado, independente do empenho
dos trabalhadores em aumentar a produtividade;
• A dificuldade das empresas com diversidade de produtos com diferentes valores
agregados em definir um número representativo de sua produtividade global
devido a variação no mix de produção;
• O fato dos índices tradicionalmente utilizados não serem mais representativos da
produtividade global da empresa.
O presente trabalho, um relato sobre a experiência desenvolvida em uma empresa
de auto-peças da região de Campinas-SP, apresenta e comenta brevemente alguns dos
índices tradicionalmenteutilizados, visando criar subsídios para a proposição de um novo
índice de produtividade que atenda às necessidades impostas pela legislação.
2 - Índices Tradicionais
Os índices tradicionais utilizados para medição da produtividade no chão de fábrica
são os seguintes:
1. Peças por Homem (Quantidade de peças produzidas no mês dividida pela
quantidade de trabalhadores).
2. Toneladas por Homem (Quantidade produzida em toneladas no mês dividida
pela quantidade de trabalhadores).
3. Peças por Hora Trabalhada (Quantidade de peças produzidas no mês dividida
pelo total de horas trabalhadas).
4. Toneladas por Hora Trabalhada (Quantidade produzida em toneladas no mês
dividida pela quantidade de horas trabalhadas).
5. Índice de Refugos (em porcentagem - % - ou em partes por milhão - ppm).
Todos os índices relacionados anteriormente são diretamente influenciados pela
variação no mix da produção, uma vez que existem diferenças significativas entre peças
e/ou produtos. Além disso, em uma indústria metalúrgica pode-se produzir uma peça (A),
pesada mas com pouco tempo de usinagem e baixo índice de refugo, ou uma peça (B), leve
mas com elevado tempo de usinagem e alto índice de refugo. A oscilação das quantidades
programadas de (A) ou (B) tem influência direta nos índices tradicionais que, desse modo,
deixaram de ser representativos da verdadeira produtividade.
Assim, surgiu a necessidade de se buscar um novo índice que representasse com
maior fidelidade o aumento ou a redução da produtividade global da empresa, e que pudess
ser utilizado em consonância com a legislação.
3 - Definição do Índice
Após vários estudos realizados dentro da empresa, chegou-se à conclusão de que
o índice ideal deveria ser definido como a relação entre a quantidade produzida em peças
equivalentes e o total de horas efetivamente trabalhadas.
A utlização de valores ou parâmetros equivalentes vem sendo adotada por
diversos autores como uma forma de estabelecer níveis de comparação entre situações
diferenciadas. Saljé, 19__, Vieira, 1992, são autores que utilizaram os parâmetros
equivalentes em comparação de diferentes situações em processos de usinagem. No
entanto, índices de equivalência podem ser utilizados também em outras situações.
3.1 - Definição de Tempo Standard (tstd)
Para o calculo da produção em “Peças Equivalentes”, é necessário, em primeiro
lugar, conhecer o tempo “Standard” de cada processo ou de cada operação. Assim, o
tempo “Standard” (tstd) de uma operação é definido como sendo a quantidade de tempo
de mão de obra necessária para realizá-la.
3.1.1 - Tempo Standard para operações individuais.
No caso de processos com operações individuais onde para cada operação existe
um operador dedicado o tstd é calculado multiplicando-se o tempo da operação pelo nº de
operadores, que neste caso é igual a 1.
3.1.2 - Tempo Standard para células ou linhas de fabricação.
Com o advento da tecnologia de grupo praticamente não existem mais operadores
dedicados a executar uma única determinada tarefa (Villa, 19__; Pires, 19__; Agostinho,
19__).
A produção atualmente é realizada em células ou linhas de produção onde os
operadores são multifuncionais e executam várias operações ou tarefas simultaneamente.
Nesses casos, o cálculo do tstd é feito multiplicando-se o tempo da operação “gargalo” pelo
nº de operadores da célula ou linha.
Suponha uma célula de produção “Y” fabricando um produto “A”, com 5
operações e 2 operadores, conforme mostra a tabela 1:
Nº OP
(fase)
Tempo de
Quantidade de
operação
Operadores
(Minutos)
10
2,5
20
2,0
30
3,0
2
40
2,5
50
1,8
Tabela 1 - Descrição do tempo de operação, por fase
A operação “Gargalo” (aquela com maior tempo) é a de Nº 30 (Tempo de
operação = 3,0’).
O cálculo do tstd da célula (para o produto “A”) será igual ao tempo da operação
gargalo multiplicado pelo nº de operadores da célula “Y”.
tstd = 3,0’ * 2 = 6,0’
Assim, o para a peça A tstd = 6,0’.
Imaginando-se agora que esta mesma célula “Y” seja responsável pela fabricação
de outros produtos (B,C,D,E) cujos tempos do gargalo e a quantidade de operadores
variem conforme mostra a tabela 2:
Peça
Tempo Gargalo Quantidade de tstd
(Minutos)
operadores
A
3,0'
2
6,0'
B
3,5'
2
7,0'
C
2,9'
2
5,8'
D
2,0'
2
4,0'
E
1,8'
2
3,6'
Tabela 2 - Descrição do tempo gargalo das peças A a E, das respectivas quantidades de
operadores e do tstd de cada peça.
Assim, a quantidade de peças que a célula “Y” tem capacidade para produzir
varia de acordo com a quantidade programada mensalmente para cada peça. Por exemplo,
se a célula “Y” trabalhasse em regime de três turnos (24 horas por dia) num mês de 20 dias
úteis ela teria condições de produzir 7200 peças “D”, mas em compensação somente 4114
peças “B”.
Dessa maneira, a produtividade, em peças por hora trabalhada, seria penalizada
quanto maior fosse a programação da peça “B” no mês.
3.2 - Definição de “Peça Equivalente”
Para chegar ao conceito de “Peça equivalente” é necessário eleger uma peça
qualquer para que seja usada como referência. Voltando ao exemplo da célula “Y”, a peça
de referência escolhida pode ser a peça “D”, por apresentar um valor intermediário de tstd
em relação à célula. Desse modo, é possível calcular um índice de equivalência para cada
uma das outras peças utilizando para isto o tstd da peça “D”.
3.2.1 - Definição do Índice de Equivalência
Índice de equivalência é a relação entre o tstd de cada peça e o tstd da peça
escolhida como referência. Por exemplo, na célula “Y” (Peça referência “D”):
Índice de equivalência da Peça “A” = 6,0’/4,0’
Índice de equivalência de “A” = 1,5
Este índice significa que para se produzir a peça “A” gasta-se 1,5 vezes mais
tempo de mão-de-obra do que para produzir a peça “D” (Peça Referência).
O índice para célula “Y” está apresentado na tabela 3:
Peça
TSTD
A
B
C
D
6,0'
7,0'
5,8'
4,0'
Índice
Equivalência
de
1,50
1,75
1,45
1,00
(Peça Referência )
E
3,6'
0,90
Tabela 3 - Índice de equivalência da célula “Y”
3.2.2 - Cálculo do Volume Equivalente
O Volume Equivalente de cada peça deve ser calculado multiplicando-se a sua
quantidade programada no mês pelo seu índice de equivalência. Assim, uma programação
de 4.114 peças “B” será:
Volume Equivalente de “B” = Volume programado de “B” * Índ. Equiv. de “B”
Volume Equivalente de “B” = 4.114 * 1,75 ≅ 7.200 peças equivalentes.
Isto quer dizer que uma programação de 4.114 peças “B” equivale a uma
produção de 7.200 peças “D” (Referência). Desta forma em termos de volume equivalente
tanto faz programar 7.200 peças “D” ou 4.114 peças “B” porque ambos os volumes
eqüivalem a 7.200 peças equivalentes.
Se o conceito for extendido para todas as peças programadas no mês em todas as
células ou linhas de produção haveria condição de calcular um volume equivalente global,
o que corrigiria as distorções causadas pela variação no mix de produção e permitiria
estabelecer uma meta de produtividade global para toda a empresa.
Obs: No caso de peças com operações individuais e operadores dedicados, o tstd a
ser considerado é a somatória dos tstd de cada operação.
4 - Cálculo do Índice de Produtividade Global da Empresa
Define-se como índice de produtividade global a relação entre o volume em peças
equivalentes produzidas e a quantidade de horas homem efetivamente trabalhadas no mês.
Assim, para chegar ao índice falta definir como apurar a quantidade de horas
“efetivamente” trabalhadas.
4.1 - Apuração das horas efetivamente trabalhadas
A somatória pura e simples das horas homem trabalhadas no mês não é um
número ideal para se calcular a produtividade pelas seguintes razões:
• Podem acontecer perdas de produção por problemas de logística (Falta de
material).
• Os tempos previstos para preparação de uma máquina ou célula (Set-Up)
devem ser descontados. Porém, os tempos de preparação que ultrapassarem os
tempos previstos originalmente não devem ser adicionados no desconto.
• Os tempos perdidos pela não qualidade de fornecedores (refugos devido à má
qualidade de matéria-prima) também devem ser descontados.
• As horas perdidas com manutenção preventiva também devem ser
descontadas.
Obs: As horas perdidas por manutenção corretiva não devem ser descontadas. As horas
homem trabalhadas por operadores em outras células (empréstimos) devem, no entanto, ser
adicionadas às horas homem trabalhadas na célula ou linha que os tiver utilizando.
Os tempos mencionados anteriormente devem ser apurados diariamente e
acumulados mensalmente de forma a serem descontados no somatório total de
horas/homem trabalhadas no mês, e assim obtermos realmente a quantidade de horas
“efetivamente” trabalhadas pelos operadores.
4.2 - Fechamento do Índice
O Índice de Produtividade Global (IPG) será igual ao volume em peças
equivalentes produzido (VEQ) dividido pelas horas homem efetivamente trabalhadas
(HET), conforme descrito a seguir:
IPG = VEQ/HET
Com este índice calculado, a meta de produtividade global, que definirá a
participação nos lucros, poderá ser estabelecida sem penalizar os empregados com
problemas de administração, logística ou má qualidade de fornecedores. A definição deste
índice também possibilita calcular a quantidade de operadores necessária para se atingir a
meta de produtividade.
5 - Coleta e administração dos dados:
5.1 - Cálculo do volume em peças equivalentes global
Para chegar ao volume equivalente global produzido em um mês, é necessário
preparar uma tabela de conversão do volume real produzido de cada peça (VRP) em
volume de peças equivalentes (VEP). Isso é feito multiplicando-se o VRP pelo índice de
equivalência (IQ) calculado para cada peça conforme descrito anteriormente.
VEP(A) = VRP(A)* IQ(A)
VEP(A) ë Volume equivalente da peça (A)
VRP(A) ë Volume Real Produzido da Peça (A)
IQ(A) ë Índice de Equivalência da Peça (A)
O volume equivalente global (VEQ) é o somatório dos volumes equivalentes de
cada peça:
VEQ = Σ VEP
É evidente que em uma empresa com grande quantidade de peças diferentes este
cálculo deve ser feito através de um sistema de processamento de dados.
5.2 - Apuração das horas “Efetivamente” trabalhadas
A apuração das horas “efetivamente” trabalhadas deve ser feita diariamente
observando os descontos previstos em 4.1 (downtime). Esses descontos, por sua vez,
devem ser acordados previamente entre a direção da empresa e seus funcionários de forma
a ficarem claramente definidos.
Por exemplo, pode haver um acordo para que as horas dispendidas com
manutenção corretiva também sejam descontadas, o que particularmente não é
recomendado, já que intervenções deste tipo demonstram uma ineficiência da manutenção
preventiva.
Os dados sobre downtime devem ser coletados nas próprias células ou linhas e
informadas ao sistema diariamente e acumulados mensalmente.
5.3 - Acompanhamento da evolução da produtividade
O Índice de produtividade deve ser acompanhado mensalmente e, ao final do ano,
deve ser calculada a média anual que servirá de referência para se estabelecer a meta do
ano posterior. Essa meta deve ser sempre negociada entre a direção da empresa e os
funcionários.
6 - Conclusão
A utilização deste índice como medida de produtividade global de uma empresa, é,
conforme mostra a experiência da empresa onde o índice foi aplicado, a forma mais justa,
abrangente e simples para se monitorar o desempenho dos funcionários, uma vez que a
meta só será alcançada com o envolvimento de todos.
O cálculo do índice através da metodologia proposta evita que fatores imprevistos ou
indesejáveis, que decorrem da falta de organização ou da má administração da empresa,
possam influenciar o objetivo final que é atender à legislação e estabelecer um parâmetro
para a divisão dos lucros das empresas.
Bibliografia
AGOSTINHO, O.L. Estudo da Flexibilidade dos Sistemas Produtivos.
Doutoramento, EESC-USP, São Carlos, 1985.
Tese de
GONÇALVES Fº., E.V. Introdução à Tecnologia de Grupo: Um Novo Enfoque
emSistemas de Produção. Dissertação de Mestrado, EESC-USP, São Carlos, 1982.
PIRES, S.R.I. Planejamento e Controle da Produção em Ind~ustrias que Utilizam
Tecnologia de Grupo: Um Modelo de Sequenciamento da Produção Celular Dependente
dos Tempos de Preparação de Máquinas. Dissertação de Mestrado, EESC-USP, São
Carlos, 1989.
REFA-ASSOCIAÇÃO PARA O ESTUDO DO TRABALHO E A ORGANIZAÇÃO
EMPRESARIAL, Edição 1.985.
SALJÉ, E.; Matsuo, T.; Lindsay, R.P. Transfer of Grinding Reseach Data for Different
Operations in Grinding. Annals of the CIRP, 34/2, 1985, pp625-626.
VIEIRA JR., M. Metodologia Para Determinação das Condições de Usinagem e de
Operação no Processo de Retificação. Dissertação de Mestrado, EESC-USP, 1992.
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