A Psicologia Social
Discursiva
Rafael Andrés Patiño
Psicologia Social II
2010
Definição
Estudo de como os conceitos psicológicos são
usados no discurso cotidiano. A PD é a análise
de como conceitos como memória, percepções,
entendimentos, emoções, etc., são utilizados
nas ações sociais e no trabalho retórico que o
discurso desempenha.
O foco principal é o discurso cotidiano, mas
também pode ser usada analisar vocabulários,
teorias e práticas.
Origens
• A psicologia experimental tem ignorado o
discurso cotidiano por considerar que é
errado.
• Uma das características principais da PD
é que usa a análise conversacional (AC).
• Depende da Retórica e da filosofia
conceitual.
Análise Conversacional
• Permite examinar o que as pessoas dizem de forma
empiricamente rigorosa.
• Não se considera o que as pessoas dizem
simplesmente como expressões de seus pensamentos,
cognições ou crenças, pelo contrário, são examinadas
como ações de desempenho de vários tipos no contexto
que as coisas são ditas.
• A entrevista não é analisada como uma coleção de
visões, mas como produto de um contexto interacional.
O que o entrevistado fala está em relação com o
contexto da conversa.
• A retórica é importante porque permite levar em conta
aquilo que no discurso não é dito
A filosofia conceitual
• Filosofia da linguagem associada com
Wittgenstein, Ryle e Austin.
• Sua contribuição é a ênfase na maneira
como descobrimos o significado das
palavras não na coisa a que elas referem,
mas examinando como são usadas (seu
contexto). Para compreender o conceito
de crença a a pergunta não o que são,
mas como é usada a palavra crença.
Conteúdos principais da PD
• Focaliza as descrições de pessoas ou eventos em
conversas e textos e as inferências sobre ambos.
• A preocupação fundamental é pela relação entre os
relatos e as características psicológicas das pessoas
que os fazem, isso porque os relatos dependem em
grande parte de motivos, interesses, desejos, crenças,
etc. Em outras palavras, os estados psicológicos
condicionam os relatos.
• Esta relação também é evidente quando as pessoas
mudam de contexto conversacional (tribunais,
periodismo investigativo, terapia, pesquisa).
Tipos de pesquisa da PD
1. Práticas de discurso. Passo do estudo da
memória ao estudo de como as pessoas falam
do passado.
2. Estuda o discurso psicológico do senso
comum em si mesmo, sem referência a à
psicologia acadêmica. Uso dos termos como
zangado, ciumento, sentir, etc.
3. Estudo de como os negócios psicológicos do
senso comum são administrados pelos
sujeitos. Por exemplo como o preconceito é
negado através da forma como as ações e
circunstâncias são descritas.
Teoria, método e descobertas
• Não se pretende estabelecer distinção
rígida entre teorias, métodos e
descobertas. Descobertas são produzidas
pelo método e elas são parte da teoria e
são por ela formadas. Descobertas podem
tornar-se teoria ou método
Métodos
• Coleta de materiais textuais ou
conversacionais que preferivelmente
tenha ocorrido de forma natural. Ou seja,
análises de produções da vida cotidiana
são preferíveis a entrevistas em contextos
de pesquisa.
Análise
• Não perguntar pelo estado do espírito que reflete tal
conversa, mas que ações estão sendo realizadas
quando as conversas acontecem dessa maneira.
• Examinar interesses dos participantes: as coisas que
estão tratando. O trabalho começa de forma indutiva.
• Se vc quiser introduzir uma questão na pesquisa
examine primeiro se é um tema relevante para os
participantes, se não for pergunte-se porque quer incluila.
• Examine a relação das descrições com as ações
realizadas.
Análise
• Pergunte como é dito e não por que é dito.
Pergunte o que ele faz e como faz.
• Levar em conta a retórica: o que esta sendo
negado o contrariado.
• Examine o que não está sendo dito.
• Para qualquer trecho analisado examine a fala
anterior e a posterior para saber como surgiu,
este é um princípio fundamental
• Se encontrar padrões que se repetem na
conversa na maneira como as coisas são ditas
ou feitas devem se procurar as exceções.
Exemplo (centrado no uso de categorias emocionais, como
são usados retoricamente e o performance na seqüência de interação)
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Hum, e então obviamente
Você passou por sua fase
zangada,
não foi?
(.)
Muito transtornado,
obviamente, e ah,
começamos a discutir muito
e
fomos nos distanciando um
do outro
•
•
•
•
•
•
•
Caracterização da reação dele como
emocional em vez de cognitiva.
O importante é descobrir o significado que
tem para eles essa reação.
“Fase” permite inferir que é temporal
O problema para Mary e a reação de Jeff,
enquanto para Jeff é o comportamento e os
sentimentos de Mary
Expressão “fase zangada” é retórica e
performática. Evita que Mary o culpe
diretamente “Obviamente” indica que Jeff
tem direito a estar assim por um tempo.
“Começamos a discutir muito e fomos nos
distanciando um do outro” indica que os
problemas agora são comuns sem culpa
para ninguém.
“Passou por sua fase zangada, não foi?”
Indica que a fase deveria ter passado já e
evita focalizar no caso extraconjugal e
voltando a atenção nos problemas do
marido.
Psicologia socio-histórica
• Dicotomias
estruturantes das
psicologias clássicas:
interno/externo;
psíquico/orgânico;
comportamento/vivên
cias subjetivas;
natural/social;
autonomia/determina
ção.
• O estudo de qualquer
um dos lados gera
uma compreensão
incompleta do
fenômeno
psicológico, por tal
motivo é necessário
assumir tal
contradição.
Psicologia socio-histórica
• Psicologia histórico cultural de Vigotski apresenta uma
alternativa para superar tais dicotomias: uma psicologia
dialética.
• Possibilidade de crítica como fundamento
epistemológico e teórico.
• Fundamenta-se no marxismo. Concebe o homem como
ativo, social e histórico. A sociedade como produção
histórica humana que através do trabalho produz sua
vida material.
• A realidade material fundada em contradições que se
expressam nas idéias.
• Histórica como um movimento contraditório do fazer
humano.
Psicologia socio-histórica
• Abandono da visão abstrata do fenômeno psicológico.
• Contexto histórico de nascimento: As idéias liberais da
burguesia (o individualismo).
• Cada indivíduo é um ser moral que possui direitos
derivados de sua condição humana.
• Somos indivíduos iguais, fraternos, livres, com direito a
propriedade, segurança liberdade e igualdade.
• A visão liberal rompeu a estabilidade e certezas do
mundo.
• O indivíduo passa a ser o centro.
• Tais idéias liberais são necessárias para o capitalismo
surgir e se desenvolver.
Psicologia socio-histórica
•
•
•
•
•
Transformações dos costumes.
Vida privada.
Arquitetura.
Trabalho na fábrica.
IDÉIA DE MUNDO INTERNO, EXISTÊNCIA DE
COMPONENTES SINGULARES E PRIVADOS
PERMITE O DESENVOLVIMENTO DO EU. DAÍ
A QUE A PSICOLOGIA COMO A CIÊNCIA QUE
ESTUDE ESSE EU SE TORNA NECESSÁRIA.
Psicologia sócio-histórica
• Múltiplas formas de definição do fenômeno psicológico. O que é?
Quase todas elas o consideram interno e o opõem ao ambiente ou
mundo social.
• Para a psicologia sócio-histórica o fenômeno psicológico se
desenvolve ao longo do tempo, não pertence a natureza humana,
não é preexistente ao homem, reflete a condição social, econômica
e cultural em que vivem os homens.
• Falas do fenômeno psicológico é falar da sociedade.
• Compreender o mundo interno precisa da compreensão do externo,
são dois aspecto do mesmo processo.
• O fenômeno deve ser entendido como subjetividade, concebida
como algo que se constitui na relação com o mundo material e
social, são os sentidos pessoais, construídos a partir da linguagem,
os que constituem a subjetividade.
• A relação com o mundo é essencial para o surgimento do
psicológico ele na surge somente do organismo
Psicologia socio-histórica
• A psicologia tem reforçado as condições de vida e
desenvolvimento das elites como padrão de
normalidade e de saúde, a psicologia sócio-histórica é
critica porque denuncia tais ideologias.
• Para compreender o mundo psicológico deve-se
compreender o mundo social.
• Tenta-se romper com a tradição classificatória e
estigmatizadora da psicologia como ciência e profissão.
(exemplo do Brasil colonial e imperial, no centro o
controle)
• Desenvolvimento de capacidade naturalizadas. Exemplo
da escrita.
• Novo conceito de normalidade
Psicologia socio-histórica
• Tenta-se fazer visível a origem
social das diferenças
individuais.
• Superação da neutralidade,
nosso trabalho influencia
práticas e transformações, a
escolha tem um caráter
político e ético.
• Superação do positivismo e o
idealismo.
• Método materialismo histórico
dialético:
• Existência de uma realidade
material independente das
idéias e a razão, é possível
conhecer a realidade e suas
leis
• Concepção dialética segundo
a qual a contradição é
característica de tudo o que
existe, a contradição é a base
de todo movimento de
transformação.
• A história deve ser analisada a
partir da realidade, não das
idéias. As leis que regem a
realidade são históricas por
tanto mudam e são
contraditórias
A psicologia como ciência do
sujeito e a subjetividade
• Afirmação contraditória do sujeito na modernidade: individual,
racional, natural; social ativo e histórico.
• Historicidade de todos os fenômenos como noção básica.
• Categorias trabalho e relações sociais são básicas para situar o
homem em relação com a história.
• Sujeito surge como indivíduo livre em contradição com a igualdade,
enquanto para o romanticismo a liberdade é liberdade de ser
diferente.
• O desenvolvimento da modernidade mostra que ambas idéias são
ilusões.
• O indivíduo precisa ser controlado: para isso a psicologia aplicada é
essencial.
• Categoria subjetividade como experiência humana, signo e conceito
teórico.
• Como conceito teórico delimita o conjunto de experiências do
sujeito
Pensamento dialético
• Transformação da coisas através das
contradições que encerram.
• A separação dicotômica entre subjetividade e
objetividade se supera a partir da categoria
contradição.
• Então o homem se constitui indivíduo porque é
social e histórico.
• Subjetividade como objeto e como questão
metodológica.
• As duas psicologias de Wundt e a subjetividade
Pensamento dialético
• Pensamento dialético aparece na psicologia sócio-histórica
de Vigotski como crítica à separação entre objetividade e
subjetividade e pela consideração do caráter histórico das
coisas.
• Caráter histórico do movimento social no que estão
inseridos os indivíduos.
• A subjetividade como experiência humana é entendida a
partir de uma método que considera a relação dialética
entre subjetividade e objetividade.
• Homem determinado pelo social e determinante do social.
• Propõe o estudo dos fenômenos psicológicos como
resultado de um processo de construção social do
indivíduo em que as relações intersubjetivas viram
intrasubjetivas no desenvolvimento. A subjetividade se
constitui através de mediações sociais.
Pensamento dialético
• Dentre tais mediações a linguagem é a que
melhor representa a síntese entre subjetividade
e objetividade.
• Signo é a mesmo tempo três coisas
• A linguagem fundamenta o desenvolvimento de
operações intelectuais.
• Se inclui o fator subjetivo no estudo da
psicologia ao levar em conta a base afetivovolitiva.
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