ESQUIZOFRENIA GENERALIZADA
Marcos Coimbra
16 de agosto de 2011
Vivemos, nos tempos atuais, dias tempestuosos nunca dantes imaginados. A esquizofrenia caracteriza-se quando comportamentos abertamente
desviantes se manifestam em um sistema. O que é válido para qualquer
conjunto, seja ele um indivíduo, um país ou o mundo.
Na área internacional, persistem episódios dantescos, abrindo sérios
precedentes, capazes de ameaçar todos os países. Virou moda o ataque dos
modernos corsários a países detentores de matérias primas, em especial
petróleo ou outros recursos naturais escassos nas nações agressoras e até
mesmo daqueles passíveis de abrigar portos ou dutos de interesse estratégico.
Primeiro o Iraque, sob o pretexto de possuir armas de destruição em massa, até
agora não encontrados. Simultaneamente, Afeganistão e Paquistão. A imprensa
noticia que foi eliminado aquele que seria o líder da principal organização
terrorista mundial e seu corpo é jogado no mar, sem transparência. Acredite
quem quiser. É evidente que versões, as mais fantasiosas imaginadas, pululam na Internet. A verdade, como sempre, é a grande vítima.
Continua a agressão à Líbia, sob a desculpa de proteção à população
civil, enquanto os bombardeios da OTAN massacram indiscriminadamente
centenas de inocentes. De onde surgiram as “forças rebeldes”, com armamento e munição farta, em um regime dito tirânico? Foram fornecidas pela
Internet? Os recursos de um país soberano aplicados nas nações mais ricas
são confiscados e sua utilização transferida para os “rebeldes”. Hoje é a
Líbia. Amanhã poderá ser qualquer outro país, inclusive o nosso Brasil.
A bola da vez parece ser a Síria. De novo, a estória de que um feroz
ditador está atacando com armas de guerra a população civil. O Tribunal
Penal Internacional entra em campo outra vez denunciando Khadafi, Assad
e outros. Por outro lado, surge a denúncia contra o ex-presidente Bush, acusado também de crimes contra a humanidade. Virou moda. Quem sabe
amanhã também será acusado até o detentor do Nobel da Paz Obama? Afinal,
as guerras de “libertação” continuadas e/ou empreendidas por ele estão
provocando centenas de mortes e milhares de feridos.
No campo econômico, persiste o impensável. O rebaixamento da nota
de crédito soberano dos EUA pela agência de risco Standard & Poors para
AA+, agravada pela fraqueza de quem deveria ser o homem mais poderoso
do mundo. Até quando o mundo aceitará o dólar como moeda padrão, sem
qualquer lastro? É uma situação insustentável no médio prazo. Que venha o
bancor de Keynes! Na zona do euro, reina a desconfiança. Bilhões de euros
e dólares são “doados” aos grandes e verdadeiros responsáveis pela crise
mundial, em detrimento da classe trabalhadora de seus respectivos países.
A indignação se alastra por toda a Europa, pois direitos adquiridos
estão sendo atingidos. Até aposentadorias e pensões, além, é óbvio, da eliminação de oportunidades de trabalho. As taxas de desemprego atingem
valores absurdos principalmente nos mais jovens. Enquanto isto os “donos
do mundo” e seus agentes permanecem acumulando riquezas imorais. Até
o insuspeito bilionário Warren Buffett brada: “Parem de mimar os superricos”. Será que os detentores do poder político ainda não tiveram a sensibilidade de perceber que estão criando as condições para uma revolta sem
precedentes em seus respectivos países?
Em Pindorama, este quadro é agravado. Não existem recursos para
aplicação na infra-estrutura econômico-social (saúde, educação, segurança,
energia, transportes, comunicações, ciência e tecnologia), mas aparecem
milagrosamente em obras ou empreendimentos faraônicos como Olimpíadas,
Copa do Mundo, “trem-bala” (no mínimo, 50 bilhões de reais) etc. Parece que
as necessidades coletivas e básicas do povo brasileiro já foram atendidas e
agora é hora do circo. A corrupção alcança patamares de pandemia. É difícil
achar um órgão, nas três esferas de administração, capaz de passar incólume
por uma devassa.
Políticos oportunistas propõem a criação de novos Estados. Ora, a
experiência mostra o erro trágico de permitir o surgimento de milhares de
municípios sem a menor condição de autonomia econômico-financeira.
Vivem das transferências recebidas da União e dos Estados. Somente poderia ser estudada a possibilidade de criação de novos entes federativos com a
condição de serem auto-suficientes, sem necessidade de recebimento de um
centavo oriundo de transferências.
A União possui mais de 20.000 cargos de nomeação política para
manter a “coalizão presidencialista”, fora os demais atrativos. Imaginem o
número adicional de cargos de governadores, senadores, deputados federais
e estaduais, conselheiros de contas e suas respectivas e inúmeras assessorias.
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Enquanto isto a presidente Dilma tem a coragem de vetar o aumento real já
acertado para os aposentados com valores acima de um salário mínimo. É o
paroxismo da crueldade e da prepotência.
A FIESP publica um anúncio monumental informando que se o
governo leiloar todas as concessões que vencerão dentro de quatro anos, o
preço médio da energia cobrada pelas hidrelétricas poderá cair dos atuais
R$ 90,98 por megawatt-hora (MWh) para R$ 20,69 MWh. Isso porque os
investimentos feitos para construir as usinas já foram amortizados, permitindo uma forte redução do preço da eletricidade produzida. Segundo a
FIESP, as tarifas poderiam cair até 20% com os leilões. E agora?
Observações:
1) O autor é Professor de Economia, Membro do Conselheiro Diretor do
CEBRES, autor do livro Brasil Soberano e Membro Fundador da Academia Brasileira de Defesa e Titular da Academia Nacional de Economia;
2) As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, o pensamento da Academia Brasileira de Defesa.
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