CIÊNCIA O QUE NICOLELIS ESTÁ FAZENDO PARA UM PARAPLÉGICO ANDAR NA ABERTURA DA COPA retrato 8 2> 9 771980 37900 4 doBRASIL WWW.RETRATODOBRASIL.COM.BR | R$ 11,00 | NO 82 | MAIO DE 2014 PETROBRAS Em ano eleitoral, a compra de Pasadena, uma questão menor para a estatal, vira um escândalo ELEIÇÕES Em São Paulo, o PT lança Padilha para enfrentar o PSDB, no poder há quase duas décadas SETOR ELÉTRICO Governo e bancos aplaudem o plano para fazer a grande massa pagar pelos desatinos do modelo A DISPUTA DA UCRÂNIA Soldado ucraniano ameaça manifestantes pró-Rússia na entrada de base aérea em Kramatorsk, na região de Donetsk Depois da Crimeia, virão Donetsk e Luhansk? A Rússia reage aos esforços de EUA e União Europeia para ampliar as fronteiras da Otan WIKIPÉDIA capaRB82.indd 1 COMO A ENCICLOPÉDIA ON-LINE PARTICIPATIVA MUDOU A CONSULTA A OBRAS DE REFERÊNCIA 05/05/14 11:54 retrato dobrasil www.retratodobrasil.com.br | n o 82 | MAIO de 2014 fale conosco: www.retratodobrasil.com.br 5 Ponto de Vista a conta mal contada O governo achou uma saída – com claros ganhadores – para as distribuidoras de energia. Faltou explicá-la aos perdedores 8 padilha, o desafiante Para desalojar o PSDB do governo paulista, ocupado pelos tucanos desde 1995, Lula aposta no ex-ministro da Saúde [Tânia Caliari] 14 a batalha do financiamento Empresas podem financiar campanhas eleitorais? O STF diz que não. No Congresso, há articulações contra e a favor [Lia Imanishi] 24 jogo duro Só a Rússia tem a perder no jogo geopolítico com EUA e UE envolvendo a Ucrânia, limite oriental da Otan [Sônia Mesquita] 30 Sinal de fumaça para uma nova física Ondas gravitacionais vindas dos instantes iniciais do Universo vão compatibilizar Relatividade e Mecânica Quântica? [Álvaro Caropreso] 34 grandes esperanças, grandes desafios Na Copa, o neurocientista Nicolelis quer mostrar os avanços de seu projeto para fazer com que paraplégicos voltem a andar [Lia Imanishi] 16 pavio aceso Problema menor da Petrobras, a compra da refinaria de Pasadena virou escândalo midiático em ano de eleições [Téia Magalhães] 22 pé no freio, lucro acelerado Demissões, alta do spread e redução do Reprodução crédito: assim os bancos alcançaram os maiores lucros já obtidos no Brasil [Lia Imanishi] 40 arte, política, religião Livro do historiador italiano Carlo Ginzburg interpreta as conexões entre criação artística e o mundo moderno [Maurício Cardoso] 42 a enciclopédia viva Entenda como funciona a Wikipédia e como seu surgimento mudou os hábitos com relação à consulta de obras de referência [Thiago Domenici] cartas à REDAÇÃO [email protected] praça da república, 270 - sala 108 - centro cep 01045-000 são paulo - sp aTENDIMENTO AO ASSINANTE [email protected] tel. 11 | 3814 9030 de 2a a 6a, das 9h às 17h Entre em contato com a redação de Retrato do Brasil. Dê sua sugestão, critique, opine. Reservamo-nos o direito de editar as mensagens recebidas para adequá-las ao espaço disponível ou para facilitar a compreensão. Retrato do BRASIL é uma publicação mensal da Editora Manifesto S.A. EDITORA MANIFESTO S.A. PRESIDENTE Roberto Davis DIRETOR VICE-PRESIDENTE Armando Sartori DIRETOR EDITORIAL Raimundo Rodrigues Pereira EXPEDIENTE SUPERVISÃO EDITORIAL Raimundo Rodrigues Pereira EDIÇÃO Armando Sartori SECRETÁRIO DE REDAÇÃO Thiago Domenici REDAÇÃO Lia Imanishi • Sônia Mesquita • Tânia Caliari • Téia Magalhães EDIÇÃO DE ARTE Pedro Ivo Sartori REVISÃO Silvio Lourenço [OK Linguística] COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Álvaro Caropreso • Maurício Cardoso CAPA REUTERS/Marko Djurica REPRESENTANTE EM BRASÍLIA Joaquim Barroncas ADMINISTRAÇÃO Mari Pereira • Mariluce Prado DISTRIBUIÇÃO EM BANCAS Global Press 4 | retratodoBRASIL 82 Ponto de Vista A conta mal contada Na história do empréstimo bilionário para empurrar o desastre do setor elétrico para frente, sabe-se quem ganha. Falta explicar, a quem perde, o porquê É sem dúvida um empréstimo estranho. São 11,2 bilhões de reais tomados de dez grandes bancos por uma empresa minúscula, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a rigor um clube de acerto de negócios, cujo orçamento anual é um centésimo desse valor. Sua direção é formada por cinco pessoas. Só duas assinaram o contrato, e três se demitiram, alegando razões “pessoais”. Eram altos executivos, com passagens pelas maiores empresas do setor. Na CCEE, sabe-se, ganhavam salários em torno de 50 mil reais mensais. O governo, que nomeou os dois dirigentes restantes, diz que os demissionários teriam ajudado a negociar o empréstimo e não o assinaram pelo temor de consequências sobre seus patrimônios. Diz também que esse risco não existe. Mas há motivos para duvidar dessa avaliação. O empréstimo foi tomado para pagar contas das distribuidoras, contraídas ao comprar energia elétrica para fornecimento público. As contas serão, portanto, repassadas. Pelas leis do setor, a distribuidora tem cerca de um mês para pagar, e o repasse ao consumidor demora até um ano. E como houve uma explosão nos preços da eletricidade – só a conta de fevereiro chegou a 4,7 bilhões de reais –, as distribuidoras corriam o risco de quebrar. O empréstimo foi feito para empurrar o problema para frente, 2015 e além. E a aí vem o primeiro sinal de confusão: a CCEE pode passar para os consumidores de energia do futuro um aumento feito nas contas de energia dos consumidores de hoje? Nota-se, como diria um jurista, fumaças de ilegalidade nesse acerto. O governo aplaudiu o negócio. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal entraram com quase metade (21,9% do total, cada) do dinheiro emprestado. Mas os outros oito bancos são privados: os dois grandes brasileiros (Bradesco e Itaú-Unibanco, que assumiram 17,9% cada), um médio (BTG Pactual, da nova estrela ascendente do mercado financeiro local, André Esteves, 3,5%) e cinco gigantes globais (Santander, 8,9%; Citibank, 4,5%; Merrill Lynch, 1,8%; J.P. Morgan, 0,9%; e Credit Suisse, 0,9%). A entrada dos grandes privados, segundo o diário O Estado de S. Paulo, ajudou a melhorar a “percepção do mercado” sobre a operação. A presidente Dilma Rousseff parece querer, acima de tudo, agradar os credores da dívida do País: parafraseando o título de artigo do destacado jornalista Ribamar Oliveira, publicado pelo diário Valor Econômico no mês passado, o único compromisso do governo é com o superávit primário. Como se sabe, a alegria dos credores é ver que, no orçamento público, há todo ano uma razoável parcela do produto nacional, algo como 3%, destinada ao pagamento dos juros da dívida. Mas o governo andou capengando ultimamente e, neste ano, está com dificuldades para entregar metade disso, 1,55% do PIB, algo como 110 bilhões de reais. Se tivesse de pagar os 11,2 bilhões no lugar das distribuidoras, teria de tirar do quinhão dos credores. Márcio Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia (MME), vinha repetindo que não pagar a conta das distribuidoras equivaleria ao mal supremo, à “ruptura dos contratos”. O governo foi quem decretou no início de abril, para o pagamento do empréstimo, que a CCEE criasse a Conta no Ambiente de Contratação Regulada – Conta ACR. E foi também, quem, pelo mesmo decreto, incumbiu a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de repassar, mensalmente, às distribuidoras, por meio dessa conta, os valores a serem retirados das contas pagas pelos consumidores. Antes, o governo vinha repassando dinheiro às distribuidoras pela manipulação de contas de fundos do setor elétrico (como CDE, 82 retratodoBRASIL | 5 RGR, Coner). E foi atacado pela grande mídia, que denunciou as operações como subsídios. Zimmermann contestou, dizendo que o governo estava apenas emprestando dinheiro às distribuidoras para defender os consumidores, para “amortizar o choque” em que resultaria o aumento integral de suas contas de eletricidade neste ano. Também os bancos consideraram o empréstimo um ótimo negócio – e com razão. O dinheiro será emprestado em três parcelas até o fim deste ano, a primeira das quais, de 4,8 bilhões de reais, depositada já no final deste mês na Conta ACR – aberta, diga-se de passagem, na conta de um dos emprestadores, não na da Eletrobras, a tradicional repassadora de fundos do setor elétrico. O empréstimo será pago em três anos, com carência para o principal; mas os juros – de 1,9% anual acima da taxa CDI, dos depósitos interfinanceiros – já estão correndo e serão pagos mensalmente. Pode-se calcular o lucro dos bancos com a operação em mais de meio bilhão de reais. Resumindo: o governo da presidente Dilma empurra o problema do setor elétrico para frente porque quer ganhar as eleições; os bancos se empenham em concretizar o empréstimo malcheiroso porque lucram com isso. Mas, e a grande maioria, que tem a ganhar se o governo agrada credores e esconde dificuldades, especialmente neste ano de eleições, quando se deve discutir com clareza os grandes problemas nacionais? Cinco governos, dois do PSDB e três do PT, podem ser responsabilizados pelos descaminhos causadores da crise atual. Os de Fernando Henrique Cardoso, porque tentou enfiar o setor elétrico do País num modelo liberal mal copiado. Os de Luiz Inácio Lula da Silva, porque, após várias campanhas eleitorais denunciando esse modelo, assinou a “Carta ao povo brasileiro”, prometendo honrar todos os compromissos assinados por seu antecessor. Lula poderia comandar o aprimoramento do modelo nacional existente, uma grande conquista da política e da engenharia do País – que tinha problemas, o principal dos quais era o fato de os governos militares dos anos 1964-1985, ao final, terem usado as estatais para esconder a inflação. Mas Lula mudou de rumo. Interveio no grupo que o acompanhava há tempos e onde estavam líderes da construção do modelo nacional do setor elétrico e nomeou Dilma, recém-chegada ao PT, como a principal 6 | retratodoBRASIL 82 dirigente do setor, com a missão de achar um meio-termo entre o modelo liberal e o nacional. A Editora Manifesto, através de Retrato do Brasil e outras publicações que editou, há mais de dez anos critica o modelo liberal dos tucanos e o remendo feito nele pelos petistas. Quatro textos que publicamos nesse período resumem nossas principais conclusões: 1. Em “Ascensão e desgraça do Mercado Atacadista de Energia” dissemos que FHC implantou a fantasia de um modelo de mercado livre, no qual produtores e consumidores independentes, em negociações diretas, longe da tutela do governo, criariam uma oferta ampla e barata de energia elétrica no País. A matéria, publicada pela revista semanal Reportagem, em janeiro de 2002, saiu logo após o governo ter decidido fechar seu extravagante mercado. O governo diz que a operação do sistema é normal. Mas não está na operação o problema. Está nos “mercados”: são três – o cativo, o livre e o spot – e todos são, no mínimo, extravagantes A seguir, no entanto, FHC o ressuscitou, remendado. O remendo principal: ao batizar a energia das estatais de “energia velha”, ele visou criar condições para que elas, com preços muito baixos, não prejudicassem o “mercado livre”. 2. Com o título de “A escolha de Dilma”, Reportagem publicou, em março de 2004, matéria contando as manobras feitas sob o comando da atual presidente para remendar o remendo de FHC, mantendo viva a ideia de um mercado livre. Na preparação dessa reforma e logo após ela, as geradoras de Furnas e da Chesf, as duas maiores do sistema Eletrobras, foram forçadas a vender energia a preços irrisórios, e assim se começou a criar o tal mercado livre. 3. “O espectro liberal”, produzido em agosto de 2007, pela associação da Editora Manifesto com a Editora Con- fiança, se refere a uma conjuntura como a atual, quando o espectro de um apagão produzia manchetes nos jornais e gerou divergências no governo, especialmente entre dirigentes da Petrobras e Dilma, já então na Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras. O principal motivo da divergência: Dilma queria que a estatal garantisse o fornecimento de gás às termelétricas construídas no fracassado plano de FHC para tentar evitar o apagão, mesmo sem a estatal ter contratos de longo prazo assinado com elas. A Petrobras se recusava, como dizia Ildo Sauer, um de seus diretores na época, a pagar “a farra dos consumidores livres”. No artigo, contamos como, numa reunião do Conselho Nacional de Política Energética, presidida pelo próprio Lula, os planejadores do MME admitiram que, se o País crescesse acima dos 4,8% ao ano previstos, a despeito do novo sistema de contratação de geração de energia – não mais como imaginava FHC, pela oferta de produtores independentes, pelas leis do mercado, mas sob comando do governo –, se houvesse atraso nas obras o abastecimento só poderia ser garantido pela contratação de termelétricas caras e poluentes, como as movidas a óleo combustível e diesel. Como se vê, a partir das ameaças de racionamento dos dois últimos anos e do fato de as térmicas caras e poluentes estarem ligadas de modo praticamente ininterrupto desde então, a pior das previsões é a que se está vivendo agora. 4. “Medida provisória, perdas definitivas”, publicada em Retrato do Brasil em junho do ano passado, escrita por Roberto d’Araujo, um dos maiores especialistas do País no assunto, conta como foi forçada a redução das tarifas de energia com a Medida Provisória 579, de setembro de 2011. O governo manipulou os números dos balanços das estatais responsáveis pela maior parte da geração e transmissão, para concluir terem sido já praticamente amortizados os investimentos feitos por elas. E, com base nisso, impôs-lhes um corte de cerca de 20% nas tarifas e ofereceu-lhes indenizações inferiores às que teriam direito por renovar as concessões antecipadamente. Parte das estatais, em Minas Gerais, São Paulo e Paraná, não aceitou o negócio. E o setor mergulhou em grande confusão, agravada por um período de chuvas escassas e pelo fato de o governo, por motivos eleitoreiros, não ter tomado qualquer providência para a redução do consumo. Dez anos de crítica à reforma liberal do setor elétrico feita pelos tucanos e aos remendos feitos nela pelos petistas: “A escolha de Dilma” é de 2004; “O espectro liberal”, de 2007 Voltando ao ponto de partida: por que as distribuidoras tiveram um aumento tão brutal na energia comprada? O governo se exime de qualquer culpa. Diz que fez tudo certo e que a culpa é dos tucanos não terem aceitado a renovação das concessões a preços mais baixos, deixando as distribuidoras obrigadas a comprar no mercado à vista em circunstâncias ruins. O modelo liberal reformado, insiste o governo, vai bem e tem dado conta, perfeitamente, inclusive do enorme consumo provocado por um calor excepcional, combatido por aparelhos de ar condicionado, mesmo nas camadas mais pobres. Quando, no ano que vem, no vencimento de novas concessões, novos cortes de tarifa forem feitos, tudo voltará ao normal. No que o governo tem razão? A operação do sistema elétrico brasileiro é, de fato, espetacular. Mesmo na atual conjuntura de excepcional estresse hídrico, o sistema tem operado normalmente. Como se conta numa das reportagens citadas, de uma visita à sala de operações do Operador Nacional do Sistema (ONS), as usinas necessárias ao equilíbrio do conjunto continuam a ser despachadas, a qualquer momento, como sempre se fez, por “ordem de mérito”, ou seja, entram primeiro as hidrelétricas, mais baratas, e, por último, as térmicas a diesel e óleo combustível, as mais caras. E o produto oferecido a todos, pobres e ricos, de um modo geral, de Norte a Sul, é absolutamente o mesmo, o quilowatt-hora. O problema do setor elétrico brasileiro, no entanto, não está na operação, mas no sistema de preços, definidos, pode-se dizer, em três mercados extravagantes: “cativo”, “livre” e “spot”. O cativo, apesar do nome, é o único no qual existe concorrência de fato, se bem que de forma parcial, sob controle do Estado. Nele estão, de um lado as distribuidoras, uma em cada estado, como a Eletropaulo, a Light, a Cemig. E de outro, a imensa maioria, todos os consumidores residenciais e quase todos os comerciais e industriais. A concorrência não envolve os consumidores, no entanto é promovida pelo governo, em leilões periódicos para empresas construírem usinas e fornecerem eletricidade ao conjunto das distribuidoras, em contratos de longo prazo. O mercado chamado de “livre” é o de uma minoria de cerca de 600 grandes empresas que compram em torno de 25% do total consumido no País a preços mais baixos em contratos de médio e longo prazo, não porque existam produtores independentes que lhes fornecem energia mais barata, no momento necessário, mas graças ao fato de quase 80% da geração ser hidrelétrica e em grande parte de “energia velha” de estatais que, como vimos, foram muitas vezes manipuladas exatamente para ajudar a criar esse mercado. Por último, há o spot, em que se acertam os grandes que tinham ou contratado menos energia do que consumiram ou fornecido menos energia do que tinham garantido em contrato. E no spot não há também nada de livre: não se trata de um preço instantâneo como o nome su- gere e que flutua ao sabor da oferta e da procura. O preço do spot é o PLD – Preço da Liquidação das Diferenças. Ele vem da adaptação de um número resultante de contas feitas a partir de estudos do Centro de Pesquisas da Eletrobras, que projetava mensalmente as afluências dos rios a partir dos dados correntes e de séries dos 70 anos anteriores. Assim se procurava medir o “valor” da água armazenada. Esse número hoje é definido semanalmente e veio se transformando, com a reforma liberal do setor elétrico e os remendos posteriores, no que é agora: o valor em megawatt-hora da energia dos acertos a posteriori, como o feito pelas distribuidoras que tiveram de comprar energia por estarem descontratadas, a partir do início de 2013. Em função da redução dos estoques de água armazenada no sistema, esse número-preço foi oscilando, cada vez mais para o alto: no final de 2012 subiu e chegou a mais de 400 reais em janeiro de 2013; com a estação chuvosa relativamente boa do ano passado, caiu para cerca de 150 reais em agosto. Mas, depois, foi subindo: para 300 reais em outubro; para 400 reais em janeiro deste ano, quando pulou para os 822,83 reais por megawatt-hora em que se manteve nas ultimas 13 semanas até o final do mês passado. As distribuidoras tinham cerca de 3 mil megawatts de seu fornecimento descontratados nesse período. Como dissemos, no ano passado o governo conseguiu emprestar-lhes o dinheiro para pagar a diferença entre os preços que tinham contratado, de cerca de 100 reais por megawatt-hora dos leilões, e os PLDs, que tiveram de pagar. Para 2014, além de acossado pela grande mídia, o governo viu que a conta tinha se tornado muito pesada – chegou aos 11,2 bilhões de reais do empréstimo tomado no final de abril. O jeito foi montar a fórmula para repassá-la para a turma do cativeiro, do mercado cativo. Qual o sentido dessa conta? Os liberais argumentam que esse é o chamado “custo marginal de expansão” do atual sistema. Os 822,83 reais por megawatt-hora são aproximadamente o custo de geração de uma usina que utiliza diesel ou óleo combustível. Mas que maluco imaginaria expandir a geração do sistema brasileiro dessa forma, quando o País tem, só no seu potencial de hidrelétricas e usinas eólicas possíveis, de geração mais barata e não poluidora, muito mais do que a sua atual capacidade instalada? 82 retratodoBRASIL | 7