Product: OGlobo PubDate: 25-04-2014 Zone: Nacional Edition: 2 Page: PAGINA_X User: Asimon Time: 04-24-2014 23:15 Color: C K Y M Economia Sexta-feira 25 .4 .2014 2ª Edição DIVULGAÇÃO O GLOBO DAVID PAUL MORRIS/BLOOMBERG Imagina na Copa PÁG. 27 l 23 Ficou para trás PÁG. 28 RECEITA APREENDE PRODUTOS PIRATAS A NOKIA, AGORA, É MICROSOFT MOBILE Operação com 6 países recolheu 836.112 itens, calculados em R$ 1,5 milhão. Adidas (foto) foi uma das falsificadas Marca finlandesa que já foi líder global na venda de celulares sai de cena hoje após acordo com a gigante americana A CONTA DA CRISE Luz pode subir 18,7% em 2015 _ Impacto virá do socorro ao setor e de uso de térmicas. Especialistas apostam em nova ajuda a elétricas MICHEL FILHO/14-3-2014 DANIELLE NOGUEIRA [email protected] HENRIQUE GOMES BATISTA [email protected] -RIO E SÃO PAULO- Depois que o governo aprovou reajuste de até 29% nas tarifas este ano, a conta de luz dos consumidores deve ficar ainda mais salgada em 2015. Segundo cálculos da consultoria Safira Energia, o aumento médio será de 18,7% no próximo ano. Boa parte da alta é resultado do socorro ao setor elétrico, que já soma R$ 24,2 bilhões este ano. E, mesmo assim, alguns especialistas avaliam que o montante não será suficiente para sanar os problemas por que passa o setor, com chuvas escassas e uso intenso de térmicas, que fornecem energia mais cara. Na prática, o peso da conta para o consumidor pode se tornar ainda maior. Dos R$ 24,2 bilhões de socorro, entram no cálculo da Safira o aporte do Tesouro Nacional de R$ 9 bilhões previsto no Orçamento deste ano — que será custeado via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), com impacto de 4,6% na conta de luz em 2014 — e o empréstimo de R$ 11,2 bilhões ao setor via Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Um novo aporte, de R$ 4 bilhões, anunciado em março, não foi considerado porque ainda não está claro como será custeado. ‘TEMOR DE NOVOS ESQUELETOS’ A consultoria considerou percentual médio de 7,5%, este ano, de reajuste de tarifa das distribuidoras. Além disso, a estimativa leva em conta o custo de uso das térmicas este ano, o que, por decisão do governo, só afetará a conta de luz a partir de 2015. O impacto das térmicas é da ordem de R$ 9,6 bilhões, mas o valor deve ser diluído entre 2015 e 2018. O ressarcimento do empréstimo via CCEE, de R$ 11,2 bilhões, só deve ocorrer entre 2015 e 2016. Segundo cálculos da Safira, o reajuste de 18,7% deve se repetir em 2016, caindo para 14,1% em 2017 e mais 14,1% em 2018. — As distribuidoras de energia ficaram subcontratadas porque algumas geradoras não conseguiram entregar a energia vendida nos leilões. As distribuidoras tiveram que comprar energia no mercado de curto prazo, em que o preço estava muito elevado. A situação se agravou com o nível Relatório prevê reservatórios a 15,7% em novembro Previsão de documento do ONS é pior do que nível registrado em 2001, no racionamento Preocupação. Usina de Marimbondo, na fronteira de Minas Gerais: bancos avaliam que socorro a distribuidoras é “excelente negócio” baixo dos reservatórios — diz Fábio Luiz Cuberos, gerente de Regulação da Safira. Para Cuberos, o resultado do leilão de energia marcado para quarta-feira será determinante para dimensionar se o socorro dado ao setor até agora é suficiente. Segundo ele, as distribuidoras precisam contratar 3.200 MW médios, mas esse volume não deverá ser ofertado no leilão. A estimativa é que metade ou pouco mais da metade da demanda seja atendida. — Provavelmente no segundo semestre será necessário novo aporte no setor — disse fonte próxima à negociação. Segundo esta fonte, a crise mostra que a política de modicidade tarifária, que visava a aumentar a competitividade reduzindo o custo da energia, mostrou-se inviável. — Há um temor de novos esqueletos no setor elétrico — disse a fonte. Cláudio Pinho, do comitê de Petróleo e Gás do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB) e professor da Fundação Dom Cabral, diz que o empréstimo evidencia a necessidade de reformulação do setor: — O planejamento do Ministério de Minas e Energia para 2030 é baseado em da- dos de 2005. Na Empresa de Pesquisas Energéticas, os dados são de 2008. Isso é anterior ao forte crescimento da demanda, anterior à crise mundial e à recuperação americana, baseada no uso do gás. O advogado lembra que o empréstimo é um “tapa-buraco” para o setor, que pode ter mais déficits estruturais se não houver revisão do marco regulatório: —A relação das empresas é privadas, mas a estrutura da tarifa ainda é estatal. Segundo fonte, os bancos consideram o socorro às distribuidoras um “excelente” negócio, com risco baixíssimo. — A garantia são as contas de luz, que ninguém deixa de pagar — destacou. Entre os que participam do empréstimo, apenas o Bradesco se manifestou. O presidente do banco, Luiz Carlos Trabuco, disse que a operação terá estrutura e garantias para que seja segura. l Colaboraram Lino Rodrigues e Ramona Ordoñez ‘Não consigo dizer se o valor de R$ 11,2 bilhões é suficiente’, na página 24 U AÇÕES DE SOCORRO R$ 9 BI: O Orçamento de 2014 incluiu o aporte por parte do Tesouro. Os recursos vão para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), custeada pelos consumidores, via conta de luz R$ 11,2 BI: Em março, o governo anunciou empréstimo via Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que será ressarcido com aumento de tarifas R$ 4 BI: Foi anunciado em março novo aporte do Tesouro, mas não está claro como será custeado R$ 24,2 BI: É o total do socorro previsto para 2014 até agora. Alguns especialistas creem que a cifra não será suficiente Um relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS) ao qual O GLOBO teve acesso mostra que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste podem chegar a 15,7% em novembro, início do período chuvoso. A projeção considera que, entre maio e novembro, o índice de chuvas seria de 75% da média histórica para o período. O patamar previsto é inferior ao dos piores momentos de 2001, ano do racionamento, quando o nível dos reservatórios na região chegou a 20%. Hoje, este patamar é de 37,7%. Procurado, o ONS não comentou o assunto. — Se não chover a partir de novembro, estamos lascados — disse uma fonte familiarizada com o relatório. Caso o prognóstico do relatório se confirme, será necessário usar mais energia térmica. Além disso, a medida pode aumentar os temores de racionamento. Especialistas avaliam que os problemas do setor elétrico são maiores que o polêmico empréstimo de R$ 11,2 bilhões assumido pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). — A CCEE está assumindo função que era da Eletrobras, que é gerir o encargo setorial. Isso reforça a necessidade de uma melhoria do marco regulatório do setor, que com muitas soluções casuísticas fica mais complexo — disse Tiago Figueiró, do Veirano Advogados. Márcio Reis, do Siqueira Castro Advogados, afirma que a solução adotada foi uma “fórmula criativa, em linha com a contabilidade criativa do governo”. — O problema do setor não é de mercado, mas de gestão — simplifica. (Danielle Nogueira, Ramona Ordoñez e Henrique Gomes Batista) l