833 Patrimônio Arqueológico de Montenegro: Conhecer para Preservar V Mostra de Pesquisa da PósGraduação Lisiane da Motta, Professor Dr. Klaus Hilbert (orientador) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,PUCRS, Programa de Pós-Graduação em História A pesquisa, ainda em andamento, baseia-se no estudo de sítios arqueológicos précoloniais em Montenegro/RS e a relação estabelecida entre este patrimônio e os proprietários das terras onde está localizado. A síntese sobre a presença de grupos pré-coloniais onde hoje localiza-se o município de Montenegro, com delimitação temporal estabelecida no encontro destes com posteriores colonizadores da região, também é foco de estudos, bem como o inventário de locais de interesse arqueológico para novas pesquisas. É preciso lembrar que a delimitação restrita a Montenegro é apenas um recurso para estabelecer o recorte da pesquisa, condizente com a disponibilidade de informações e prazos para a execução. Tal delimitação permite uma análise também focada na própria comunidade onde estão localizados os sítios arqueológicos, possibilitando que esta participe e tenha um retorno quanto aos resultados. Portanto, não basta aos arqueólogos produzirem novos conhecimentos científicos e apenas os divulgarem em revistas especializadas. Eles precisam fazer esses saberes alcançarem o maior número possível de pessoas, principalmente aquelas que não freqüentam os círculos acadêmicos onde ocorrem os mais variados debates sobre temas de interesse à Arqueologia. Dessa forma, o conhecimento que produzem sobre o passado, e também acerca do presente, poderá ser gradativamente incorporado à memória coletiva da sociedade que fazem parte ou, até mesmo, daquelas que foram por eles estudadas, a exemplo de sociedades indígenas e quilombolas. (OLIVEIRA, 2005, p. 118). Considerando a revisão bibliográfica realizada até então, constatamos que os dados sobre a ocupação indígena no território montenegrino são escassos e generalizados, exigindo aplicação de outros recursos que possibilitem promover um debate produtivo, que conduza à confirmação, ampliação e esclarecimentos a respeito destes dados. Acreditamos que para tal intento a cultura material seja fundamental e que, num segundo momento, as informações geradas neste processo multidisciplinar de análise, sejam redirecionadas à população, visando cumprir com o papel social da pesquisa arqueológica. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 834 Arqueólogos e historiadores ganham seu dia-dia contando histórias às pessoas sobre outras pessoas. Pois a história não é o passado. História é uma narrativa sobre o passado, contada no presente com a finalidade de construir o futuro das pessoas. Revisamos mitos, ajustamos e proporcionamos carências nos roteiros sobre os quais construímos o passado, escolhemos novos fatos, novos agentes e fontes, expandimos nossas visões além do documento escrito, para incorporar história oral e cultura material (GLASSIE apud HILBERT, 2006). O território montenegrino já foi local de estabelecimento e passagem de grupos précoloniais, o que é atestado pela existência dos sítios arqueológicos RS-C-16 – Passo da Pimenta, RS-C-38 – Morro Montenegro, RS–T-14 – Morro do Sobrado, RS-TQ–56- Otílio de Matos e RS–TQ–71-Adão da Silva, reconhecidos como patrimônios culturais de ordem material, conforme cadastro do IPHAN e do CEPA/UNISC. As datações destes sítios oscilam de 8.000 A. P., no caso dos sítios arqueológicos atribuídos à Tradição Umbu e 300 anos A. P., de acordo com o a datação proposta à cerâmica Guarani. Figura 01 – Sítio arqueológico RS-TQ-71- Inscrições nas paredes do abrigo, com seu aspecto atual. Foto: Acervo próprio Figura 02 - Ponta de projétil de calcedônia, conhecida como “Rabo de peixe”, encontrada em Montenegro Foto: Acervo próprio. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010 835 Este patrimônio arqueológico, apesar de amparado legalmente, algumas vezes está situado em um contexto onde as pessoas vivem, gerenciam e adaptam os recursos naturais – onde estão localizados os sítios arqueológicos - de acordo com as necessidades e os valores próprios de sua época, o que incide diretamente na preservação e conhecimento desta cultura material e inspira um olhar mais crítico do pesquisador. É preciso cultivar uma relação de igualdade e troca, onde então poderemos conhecer mais nitidamente qual a ótica destes grupos sobre sua própria noção de patrimônio e como aplicar, dentro deste contexto, iniciativas que valorizem a cultura material e gradativamente estabeleçam laços de identidade com o patrimônio arqueológico local, oportunidade em que o embasamento da Arqueologia Pública e da Arqueologia Patrimonial são fundamentais. Penso hoje que o trabalho de um arqueólogo é de reorganizar o passado, contando histórias. Devem ser histórias úteis, contadas, escritas e desenhadas para responder às necessidades das pessoas que precisam de compreensão, consolo e ajuda para entender suas tragédias, derrotas e, por que não, vitórias (HILBERT, 2006). Neste sentido, durante as visitas aos sítios arqueológicos, estão sendo estabelecidos contatos constantes com proprietários de terras onde estes estão localizados, os quais são documentados através de entrevistas. As conclusões ainda não estão disponíveis, visto que a pesquisa encontra-se em processo de elaboração. No entanto, o andamento da pesquisa de campo e a revisão bibliográfica têm indicado, até então, um grande desconhecimento sobre o tema e a conseqüente desvalorização patrimonial. O aspecto negativo destas evidências, sob um olhar mais técnico, também constitui um indicador de que a pesquisa em questão é de extrema importância e tem o papel de contribuir não só a nível acadêmico, mas para uma sociedade mais consciente e engajada para com suas raízes mais profundas. Referências HILBERT, Klaus. Qual o compromisso social do arqueólogo brasileiro? Revista de Arqueologia. N. 19 (2006), pp. 89-101. OLIVEIRA, Jorge Heremites de. Por uma arqueologia socialmente engajada: arqueologia púbica, universidade pública e cidadania. In: FUNARI, Pedro Paulo A.; ORSER JR. Charles E.; Schiavetto, Solange Nunes de Oliveira (orgs.). Identidades, discurso e poder: Estudos da arqueologia contemporânea. São Paulo: Annablume, 2005. Sítios arqueológicos de Montenegro. Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Patrimônio Material. Disponível em: http://www.iphan.gov.br/portal/montarResultadoSitiosArqueologicos. Acesso em: 28 set 2009. V Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2010