A PRODUTIVIDADE DA VACA NELORE
Dante Pazzanese Lanna e Irineu Umberto Packer
Departamento de Zootecnia, ESALQ/USP
1. Introdução
Todos os agentes econômicos envolvidos no processo de produção e
comercialização de carne bovina reconhecem os baixos índices de produtividade da
bovinocultura de corte no Brasil. Estes baixos índices podem ser rapida e
significativamente melhorados em função de ações adotadas pelos agentes deste processo.
Ainda que os indices médios para o país como um todo sejam muito ruins, enorme
mudança tem ocorrido nos últimos anos. Grupos de produtores, pesquisadores e
consultores tem adotado novas tecnologias de forma muito rápida e obtido aumentos de
eficiência considerável.
Do ponto de vista empírico numerosos critérios têm sido usados para avaliar a
produtividade de vacas no intuito de melhorar a eficiência de produção de carne bovina.
Dentre esses, podemos destacar: peso a desmama dos bezerros; peso a desmama do
bezerro/vaca exposta; relação entre peso a desmama do bezerro/peso da vaca; peso a
desmama do bezerro/unidade metabólica da vaca (kg0.75) na desmama. (DINKEL &
BROWN 1978; FRAM & MARSHAL 1985; KRESS at al. 1990; RAHNEFELD at al.
1993).
Existe um consenso de que a avaliação mais apropriada da produtividade da vaca
deve considerar três componentes: taxa reprodutiva; tamanho (peso) da vaca; e
crescimento da progênie. O objetivo desta revisão é discutir e cristalizar alguns conceitos
sobre a curva de crescimento e a produtividade das vacas, com ênfase na raça Nelore.
Foram avaliados os possíveis efeitos de certas práticas de seleção na eficiência biológica e
econômica de bovinos de corte, com especial referência ao melhoramento da fêmea da
raça Nelore.
2. Curvas de crescimento das vacas
Parâmetros das curvas
O produto de sistemas de bovinos de corte é o crescimento. A curva de
crescimento básica é a que descreve a alteração do peso (crescimento) em função do
tempo (Figura 1). O objetivo da pesquisa nesta área é descrever a curva de crescimento
animal pré e pós-natal e estudar os efeitos dos diferentes fatores que a influenciam.
A maior parte das atividades desenvolvidas por produtores envolvem a alteração
nas curvas de crescimento. Procura-se atingir pontos importantes desta curva, como
maturidade sexual, peso e composição de abate, da forma mais rápida e econômica
possível.
Dois parâmetros que descrevem as curvas de crescimento devem ser considerados
para a identificação de animais mais eficientes dentro de um sistema de produção: o peso
adulto (A) e a taxa de maturação ou taxa de precocidade (k).
Peso adulto
O primeiro parâmetro que deve ser definido é o peso adulto, também denominado
de peso maduro ou simplesmente pela letra A. Definir este parâmetro não é simples e
existe controvérsia com relação à melhor metodologia para tanto. Segundo Taylor e
Young (1968), peso adulto é o peso do animal quando este atinge 25% de gordura
(química) no corpo vazio e, segundo o autor, tem seu crescimento esquelético completo.
Este conceito é utilizado pelo sistema australiano de cálculo das exigências nutricionais
(CSIRO, 1991). O conceito é interessante especialmente quando se compara diferentes
espécies animais, mas diversos trabalhos demonstram que bovinos com 25% de gordura
ainda não completaram o crescimento ósseo e muscular (Reid et al, 1955; Fortin et al,
1980). Outra definição utiliza o peso no qual o animal atinge a máxima deposição de
matéria desengordurada (soma de proteína, água e minerais), ou seja, quando o ganho de
peso passa a ser composto exclusivamente por gordura (Fox e Black, 1984; Owens et
al,1995). Ainda outros autores sugerem a utilização do peso das fêmeas adultas, corrigido
para uma mesma condição corporal ou para mesma época do ano (e.g. peso ao parto).
Este último conceito utiliza um valor de peso que é geralmente mais fácil de ser
determinado e é muito importante para o estudo da eficiência dos rebanhos em diferentes
sistemas de produção. O conceito sugerido por Fox e Black (1984) parece o mais lógico,
porém requer a determinação ou estimativa da composição corporal dos animais, uma
tarefa importante, mas extremamente trabalhosa e de alto custo (Lanna et al., 1995).
700
Peso, kg
600
500
400
A=650 kg
A=550 kg
A=650 kg
A=550 kg
300
k=0,3%
k=0,3%
k=0,5%
k=0,5%
200
200
400
600
800
1000
1200
1400
Idade, dias
Figura 1.
Curva de crescimento da desmama à idade adulta (modelo de Brody) de
bovinos com diferentes pesos adultos e diferentes taxas de maturação.
Um dos aspectos importantes sobre o peso adulto é a sua alta herdabilidade, cerca
de 0,50 quando avaliado pelo peso adulto de vacas em Bos taurus (Koots et al., 1994).
Barbosa (1991), revendo a literatura, obteve média de herdabilidade de 0,75 para peso à
idade adulta de vacas Nelore.
2
Taxa de maturação
O outro parâmetro da curva de crescimento, a taxa de maturação, talvez seja o de
maior importância, pois define o animal precoce.
A taxa de maturação representa a rapidez com que o animal atinge uma
determinada proporção do seu peso adulto. Por exemplo: um animal de peso adulto de
800 kg que chega aos 400 kg (50% do peso adulto) com 365 dias de idade tem taxa de
maturação mais alta do que um animal de peso adulto de 1000 kg que chega aos 450 kg
com um ano de idade (45% do peso adulto). Ou seja, nem sempre o animal mais pesado à
idade jovem é o mais precoce.
Naturalmente, a taxa de maturação é grandemente alterada por modificações no
manejo, e portanto tem herdabilidade bem menor do que a observada para peso adulto.
Definir um valor de taxa de maturação para um genótipo ou para uma determinada
estratégia de manejo é muito difícil, especialmente quando se considera a existência de
complexas interações entre genótipo e ambiente.
É interessante discutir o valor destes parâmetros nas curvas de crescimento de
animais de diferentes padrões genéticos. A Figura 1 apresenta a curva de crescimento
teórica, da desmama à idade adulta, de bovinos de diferentes composições genéticas,
descrita segundo a equação de Brody (Brody, 1945). As linhas sólidas representam
animais com taxa de maturação baixas enquanto as curvas de crescimento pontilhadas são
daqueles animais com taxas de maturação mais elevadas. Os pesos adultos variam entre
550 e 650 kg. Animais de peso adulto mais elevado tendem a apresentar peso à desmama
mais elevados, mesmo que a taxa de maturação seja igual à do animal de menor peso
adulto. Nota-se que animais de elevado peso adulto apresentam pesos intermediários
semelhantes ao de animais de menor peso adulto, mas com elevada taxa de precocidade.
Logo, não é possível distinguir um animal precoce de um animal com elevado peso adulto
apenas pelo peso à uma idade jovem.
Correlação entre peso adulto e taxa de maturação
Existe correlação negativa entre peso adulto e taxa de maturação (Taylor e Young,
1968; Taylor, 1989; Tedeschi, 1996). Ou seja, animais com elevados pesos adultos
apresentam menores taxas de maturação (i.e. precocidade).
Dados obtidos no programa de avaliação de germoplasmas do Departamento de
Agricultura dos EUA foram utilizados para ilustrar esta correlação (Figura 2). O peso à
idade adulta de diferentes genótipos foi regredido em função da taxa de maturação
determinada através de múltiplas pesagens dos animais ao longo da curva de crescimento
(Jenkins e Ferrel, 1993).
A correlação negativa proposta por Taylor e Young (1968) também foi
demonstrada por Tedeschi (1996) trabalhando com curvas de crescimento de diferentes
grupos raciais zebuínos e cruzamentos Bos taurus x Bos indicus em condições brasileiras
(Figura 3). Tedeschi (1996) observou efeito maior que o proposto por Taylor e Young
(1968), embora a metodologia seja diferente.
Como aparente para puberdade em fêmeas, os programas de melhoramento
parecem não ter piorado a taxa de maturação. Isto pode estar ocorrendo porque na seleção
para peso à idade jovem (12-18 meses), animais que depositam gordura mais cedo tem
maior mérito. Estes animais seriam mais precoces. Talvez por este motivo (somado à
3
Correlação entre taxa de precocidade (k) e peso adulto.
600
Peso Adulto, kg
580
y = -1,9014x + 710,47
R2 = 0,2732
560
540
520
500
480
460
440
420
80
85
90
95
100
105
110
115
120
Taxa de precocidade, % da média
Figura 2.
Regressão entre peso adulto e a taxa de maturação de produtos F1 de
diferentes raças paternais (cada ponto representa uma raça). Regressão dos dados
de Jenkins e Ferrel (1993) obtidos no programa de avaliação de germoplasmas
do Meat Animal Research Center, Nebraska, EUA.
0,008
Taylor (1968)
taxa de maturidade
0,007
Ajustado
Observado
0,006
0,005
0,004
0,003
0,002
0,001
240
340
440
540
640
peso adulto
740
840
940
1040
Figura 3. Regressão entre o peso adulto e a taxa de maturação de fêmeas B.
indicus e de cruzamentos B. taurus x B. indicus. Nota-se uma redução na taxa de
maturação com o aumento no peso adulto (Tedeschi, 1996).
4
seleção das novilhas com menor idade à puberdade) a pressão de seleção para animais de
elevado peso adulto não tenha piorado a taxa de maturação relativa, segundo a relação
apresentada na Figura 2 (Taylor e Young, 1968; Jenkins e Ferrel, 1993; Tedeschi, 1996).
Muito relevantes são os resultados de Ricards (1975) que demonstram claramente
ser possível selecionar animais precoces sem alterar o peso adulto. Logo a correlação
genética entre estas variáveis é menor do que 1, e alguns genes distintos estão envolvidos
na regulação destes processos. Para obter estes resultados Ricards (1975) selecionou os
animais mais pesados a uma idade jovem e posteriormente descartou os animais de maior
peso adulto.
3. Puberdade ou maturidade sexual
Conceito de puberdade
Produtores, extensionistas e pesquisadores empregam livremente os termos
“precocidade”, “puberdade” e “maturidade sexual”. Muitas vezes aquilo que alguns
chamam de “precoce” ou “puberdade” não corresponde exatamente ao que outros
entendem por estes termos. Torna-se necessário, portanto, definir melhor estes conceitos
para em seguida discutirmos os aspectos que os afetam.
A precocidade, como vimos nas figuras 1 e 2, representa a velocidade com que o
animal atinge uma determinada proporção do peso adulto. Em mamíferos a puberdade é
definida como “a idade em que o animal se torna capaz de reproduzir”, enquanto a
maturidade sexual é definida como “a idade em que o animal atinge todo o seu potencial
reprodutivo”. Estes dois conceitos não podem ser utilizados indistintamente. Muitas
vezes novilhas são incapazes de reproduzir após a primeira ovulação. Portanto, a primeira
ovulação não é sinônimo de maturidade sexual. Outra consideração é com a novilha que
apresenta ovulação fértil, mas sem sinais exteriores de cio.
A fertilidade de novilhas cobertas em seu primeiro é inferior da obtida no terceiro
estro (Byerley et al, 1987), consequentemente, seria ideal que novilhas atingissem a
puberdade cerca de 2 meses antes da estação de monta (Patterson et al, 1992). Isto evita
que novilhas concebam ao final da estação de monta, e tenham ainda menores
possibilidades de conceber durante a estação de monta seguinte como primíparas. Logo,
acreditamos que o conceito proposto por Moran et al. (1989) seja aquele que melhor
descreva o que chamamos de puberdade: puberdade é atingida por uma novilha quando
de seu primeiro estro seguido de uma fase luteal normal. Maturidade sexual é quando o
animal atinge a fertilidade funcional, fisiológica e comportamental.
A questão básica é a eficiência econômica destas técnicas. Como discutido, a
idade à puberdade é basicamente função do ambiente. Dependendo do manejo, a idade à
puberdade de novilhas Nelore pode ser alcançada aos 15 meses, mas a média é superior
mesmo em rebanhos mais precoces.
5
0,05
Maturidade sexual
Puberdade
0,04
0,04
Frequência
0,03
0,03
0,02
0,02
0,01
1o cio
0,01
Estação
de Monta
0,00
230
260
290
320
350
380
410
440
470
500
530
560
590
Idade à puberdade, dias
Figura 4.
Efeito da idade à puberdade sobre a proporção de fêmeas que alcançam a
maturidade sexual ao início da estação de monta. Utilizou-se o dado de
idade à puberdade de novilhas F1, Bos Indicus (Brahma) x Bos taurus
(Hereford/Angus), de 400 dias com variância de 59 dias, determinada por
Gregory et al., (1979) em sistemas com suplementação de volumoso e
concentrado. Estação de monta de 90 dias, com período de gestação de 289
dias e maturidade sexual ao 3o cio (Byerley et al, 1987).
Mais importante é notar que existe uma variação em torno da idade média de
ocorrência da puberdade (Fig. 4). Combinando-se esta variância para a idade à puberdade
(59 dias segundo Gregory et al., 1979) ao conceito de maturidade sexual (animais púberes
se tornam sexualmente maduros ao terceiro cio, Lesmeister et al., 1973), podemos
calcular as relações de custo/benefício de alterações no manejo de novilhas de corte.
Utilizando o exemplo da Figura 4, cerca de 50% das novilhas F1 (B. indicus x B.
taurus) não estavam sexualmente maduras ao início da estação de monta (Gregory et al,
1979). É pouco provável que a suplementação de 100 novilhas para obter 40 gestações
positivas aos 17 meses seja viável econômicamente (e.g.. taxa de concepção de 80%).
Este efeito seria ainda pior para o Nelore, embora existam animais que podem atingir esta
meta e portanto existe diferencial de seleção.
Para o NELORE, seria muito difícil obter produtividade semelhante e para
manutenção da estação de 15 meses inviável pelo custo de suplementação das novilhas
que não vão apresentar cio. Em propriedades sem estação de monta o efeito da
suplementação seria mais benéfico.
6
Para a vaca Nelore devemos reconhecer que é simples obter fêmeas férteis aos 27
meses (mantendo uma estação por ano) e inaceitável manter no rebanho qualquer novilha
que não apresente cio e peso a esta idade.
Maturidade sexual de fêmeas em proporção do peso adulto
Normalmente recomenda-se incluir novilhas ao sistema de produção quando estas
atingem cerca de 60% do peso adulto da vaca de genótipo correspondente. Na prática o
produtor utiliza um número mais próximo de 50-55% (Kunkle et al., 1995).
Em revisão feita para a publicação atual do NRC (1996) chegou-se a valores da
proporção do peso adulto da vaca em que as novilhas apresentam puberdade para diversos
genótipos:
• 55% do peso adulto para raças B. taurus de duplo aptidão como Gelbvieh,
Braunvieh e Red Poll
• 60% para a maioria das raças de Bos taurus
• 65% para Bos indicus
Fica a sugestão clara para um melhoramento do material genético do Nelore para
que a fêmea atinja a puberdade em proporções inferiores do seu peso adulto.
Quadro 1. Resultados do peso à maturidade e da taxa de maturação de novilhas produtos
1/2 sangue de diferentes raças paternais cruzados com fêmeas Hereford ou
Angus (Jenkins e Ferrel, 1993).
Angus
Brahman
Charolês
Chianina
Gelbvieh
Hereford
Jersey
Limousin
Maine Anjou
Pinzgauer
Red Poll
Simental
Tarantês
Peso
Adulto
A
kg
511
549
553
588
538
499
424
515
582
524
510
513
518
Taxa de
Maturação (k)
Taxa de
Maturação
k
5,4
6,1
5,0
4,7
5,3
6,0
6,1
5,0
4,9
6,6
4,9
5,7
6,3
% da média
96
109
89
84
95
107
109
89
88
118
88
101
113
Há uma correlação fenotípica positiva entre peso adulto e peso à puberdade,
embora uma parte da variação não seja explicada pelo peso adulto apenas (Figura 5).
Arije e Wiltbank (1971) observaram correlação genética entre idade e peso à puberdade
7
de 0,36. Como proposto por Taylor (1989), uma vez que a correlação genética entre estas
características é menor que 1, seria possível selecionar animais para precocidade. Isto foi
demonstrado experimentalmente por Ricards (1975).
O fato mais notável, observado na Figura 5, é que não houve efeito do peso adulto
sobre a idade à puberdade. Em outras palavras raças de maior peso adulto tem taxas de
crescimento mais elevadas, o que contrabalança a necessidade de chegarem a pesos mais
elevados para atingir a puberdade.
Embora o ambiente tenha efeito preponderante sobre a taxa de maturação (e.g.
aparecimento da puberdade) o fator genético é importante (Quadro 1).
Utilizando dados de A (peso adulto) e k (taxa de maturação), para diferentes raças
(Quadro 1, Jenkins e Ferrell, 1993), e dados de características das fêmeas no período pósdesmama, obtidos nos mesmo animais por Gregory et al. (1993), fez-se algumas
correlações entre o peso e idade à puberdade em função do peso adulto das vacas. É
importante ressaltar que todas as novilhas testadas eram filhas de vacas britânicas
Hereford ou Angus, variando apenas a raça paternal. Os resultados obtidos para as
regressões entre as características podem ser vistos no figura 5.
Peso ou idade à puberdade
410
y = -0,2662x + 514,58
R2 = 0,0481
390
370
350
330
y = 1,0356x - 209,56
R2 = 0,6183
310
dias
kg
290
270
495
505
515
525
535
545
555
Peso adulto, kg
Figura 5.
Correlação entre idade e peso à puberdade de novilhas em função do peso
adulto. Comparação entre animais de diferentes raças paternais. Resultados
foram obtidos regredindo-se dados de Jenkins e Ferrell (1993) com dados
de Gregory et al. (1993).
8
4. Relações entre os parâmetros da curva de crescimento e a
produtividade das vacas
As relações entre o tamanho dos animais e a eficiência de produção dos bovinos
de corte foram revisadas por MORRIS & WILTON (1977); DICKERSON (1978) e
FITZHUGH (1978).
DICKERSON (1978) realizou um estudo de natureza conceitual relativamente ao
binômio tamanho do animal e eficiência de produção para as diferentes espécies de
animais domésticos. Considerou que se deve examinar os efeitos biológicos sobre a
eficiência econômica, definindo os custos dos insumos totais (input) sobre a produção
total (output). Neste contexto, o tamanho do corpo apresenta efeitos biológicos e
econômicos sobre a eficiência da produção animal. Dentre os efeitos biológicos do
tamanho corporal destacam-se: custo extra de energia para manutenção; associação com
várias medidas de quantidade e qualidade da carne; adaptabilidade às condições de
alimentação, clima, outros recursos do sistema de produção. Dentre os efeitos
econômicos:custo fixo por animal; a questão da padronização do tamanho do corpo nos
animais de abate; custos dos alimentos para os animais de reprodução e crescimento. O
autor, em vista da sua análise, recomenda em primeiro lugar escolher um tamanho adulto
melhor adaptado as condições do ambiente, sistema de reprodução e fatores do mercado,
e em segundo lugar focalizar fundamentalmente na melhoria dos componentes da
performance animal, taxa de crescimento e composição corporal dos animais de abate. Na
mesma linha de raciocínio FITZHUGH (1978) considera que o tamanho do corpo, maior
ou menor, pode apresentar vantagens biológicas importantes para a adaptação (clima,
recursos alimentares, pastorio sazonal e mercado), resistência e uso de animais como
linha macho ou fêmea em programas de cruzamento. Em vista desses aspectos é
impossível identificar um tamanho ótimo para todas as situações de produção. O
problema é acentuado pelas interrelações entre tamanho adulto e taxa de maturação com
os aspectos nutricionais relativos a necessidades de nutrientes e disponibilidade. Como
consequência surgem interações genótipo-ambiente. Se os recursos alimentares são
inadequados (em quantidade e qualidade) indivíduos menores têm vantagem produtiva
sobre os maiores. Portanto, o tipo biológico que tem melhor performance em cada
situação de produção necessita ser identificado.
No Brasil, EUCLIDES Filho at al. (1995) usaram a relação kg de bezerro
desmamado por kg de vaca a desmama para comparar vacas meio sangue Fleckvieh x
Nelore, Chianina x Nelore e Charolês x Nelore. As primeiras foram mais eficientes.
Diversas relações importantes entre os parâmetros da curva e caracteres
econômicos da reprodução e performance materna são relatados na literatura. Alguns
trabalhos indicam claramente a existência de um tamanho ótimo das vacas em termos de
certas medidas de eficiência e produtividade.
FITZHUGH e TAYLOR (1971) sugeriram que diferenças individuais na taxa de
maturação estão provavelmente associadas com diferenças na eficiência produtiva.
STEWART & MARTIN (1981) analisaram as relações entre A e k (do modelo Brody) e
performance materna na vida toda de vacas Angus, Shorthorn e cruzamentos. Observaram
heterose de 3 a 7% para o parâmetro A. O aumento de A causou uma redução no número
de bezerros/kg de vaca e aumento no peso médio a desmama. STEWART & MARTIN
9
(1983) observaram uma regressão quadrática entre A e a performance materna de vacas
Angus. Foram encontrados: peso médio adulto igual a 468 kg como ótimo para a vida útil
das vacas; 465 kg para número de bezerros; 471 kg para peso total de bezerros; 493 kg
para peso a desmama dos bezerros; e 475 kg para peso bezerro por ano no rebanho. As
relações entre taxa de maturação (k) e performance materna não foram significativas.
MARSHALL at al. (1984) relataram regressão quadrática entre o tamanho adulto A e
produtividade materna, enquanto que a regressão de k (taxa de maturação) e aspectos da
produtividade eram lineares e negativas. BUTTS at al. (1984) verificaram que os
parâmetros A e k eram associados com peso ao nascer e a desmama em vacas Hereford,
Angus e Shorthon. O aumento de 100kg no A acarretava aumento de 1 a 2 kg no peso ao
nascer e 7 a 12kg no peso na desmama. O aumento de 0.01 no valor k resultava em
aumento de 0.50 a 0.80 no peso ao nascer e 2.7 a 5.2kg no peso a desmama dos bezerros.
TAWAL & FRANKE (1985) verificaram que o peso a maturidade era associado
negativamente com a taxa de desmama, enquanto que vacas com maior taxa de maturação
tendiam a apresentar maior % de desmama e maior peso a desmama dos bezerros. LÖPEZ
de TORRE at al. (1992) trabalhando com animais da raça Retinta, na Espanha, utilizaram
o modelo Von Bertalanffy e obtivaram valores de 650 kg e 0,038 para A e k. Houve um
decrécimo significativo no número de bezerros nos cinco primeiros ciclos da vaca com o
aumento do peso adulto, bem como uma tendência das vacas maiores apresentar bezerros
mais pesados ao nascer e a desmama. Não encontraram relações significativas entre a
taxa de maturação e os pesos dos bezerros. Embora tenham usado um número pequeno
de vacas os autores sugerem que as vacas mais precoces seriam mais eficientes.
OLIVEIRA (1995) estudou as relações entre os valores de A e k do modelo Von
Bertalanffy com medidas da eficiência reprodutiva de vacas Guzerá, tendo verificado
que as vacas de maturação precoce tiveram menor idade no primeiro parto, menor
intervalo entre partos e maior vida útil no rebanho relativamente as vacas tardias. As
vacas mais pesadas apresentaram maior idade no primeiro parto, menor intervalo entre o
primeiro e segundo parto e produziram mais bezerros que as vacas mais leves.
5. Estratégias
Estratégias de melhoramento genético
Já nos referimos à dificuldade de se selecionar animais efetivamente precoces, em
função da necessidade de se manter os animais até a idade adulta para cálculo da sua taxa
de maturação.
Como resultado da seleção para ganho de peso temos obtido aumentos no peso
adulto do gado Nelore. Este efeito associado, observado no projeto de seleção do IZ em
Sertãozinho, é pequeno. Na verdade, em função do longo intervalo entre gerações os
efeitos principais da seleção, qual seja a taxa de ganho de peso, é alterada lentamente.
É óbvio que qualquer produtor com boa capaciade de observação sabe que os
animais com maior peso adulto são os que apresentam maior taxa de ganho de peso.
Entretanto, produtores tendem a selecionar novilhas com muita “caixa” e vacas de
elevado peso corporal. Até mesmo bezerros com peso ao nascer aberrantes tem sido
premiados. Estas estratégias, somadas aos elevadíssimos valores de herdabilidade para
peso adulto estão elevando rapidamente o peso adulto do gado Nelore.
10
Em termos de melhoramento, como proposto por Frias (1996), é fundamental
premiar animais que chegam mais rapidamente à puberdade e a idade de abate, sem
valorizar animais excessivamente grandes ou dar crédito aos animais com elevado peso
ao nascer. Novilhas que atingem puberdade ou maturidade sexual a pesos e/ou idades
muito elevadas devem ser descartadas e isto é mais importante na raça Nelore.
A herdabilidade para idade ao primeiro parto é, das carcaterísticas reprodutivas, a
de maior herdabilidade, da ordem de 0,30 (Arije e Wiltbank, 1971; Ghulam, 1983;
Barbosa, 1991; Koots et al., 1994). Esta herdabilidade alta é função do alto grau de
correlação entre esta variável de reprodução e do potencial de crescimento do animal. A
correlação positiva entre precocidade sexual das fêmeas e circunferência escrotal do
macho é uma outra oportunidade para melhoramento. Há necessidade entretanto de se
estabelecer melhor estes efeitos e seus limites, exigindo estudos que terão que ser
conduzidos com bovinos.
Frias (1996) muito corretamente apontava para o problema descrito acima,
alertando também que o peso ajustado à desmama e sobreano incorpora o peso ao nascer
ao mérito genético do animal. Peso ao nascer elevado não é mérito, mas geralmente um
problema em termos de aumento de partos distócicos e no peso adulto das matrizes. Frias
(1996) propões utilizar para seleçào o número de dias gasto pelo animal para ganhar 160
quilos de peso do nascimento à desmama e da desmama ao peso de abate, por volta de
440 kg. Embora esta proposta seja um passo no sentido de se minimizar a seleção para
peso adulto, ela não é suficiente.
Ainda outra proposta de trabalho seria simplesmente de se identificar e selecionar
os animais mais pesados à idade jovem, posteriormente descartando os touros de maior
peso adulto ou os que geram vacas de maior peso adulto (através da estimativa da EPD
para peso das vacas).
Estratégias de alteração do ambiente
Diversas estratégias podem ser empregadas para alterar a eficiência de produção
da vaca Nelore. Geralmente, entretanto, estas técnicas tem como efeito aumentar mais a
produtividade de genótipos de cruzamento industrial em função do maior potencial
genético para responder com aumentos na taxa de maturação à melhoria do ambiente do
B. taurus.
Dentre estas técnicas, revistas por nós em outra publicação (Lanna, 1996) estão o
“creep-feeding”, suplementação pós-desmama, uso de ionóforos (rumensina e taurotec),
separação em grupos, implantes, exposição aos machos e indução e sincronização do cio.
Adequação do ambiente e do potencial produtivo do animal
O aumento da eficiência de produção requer a identificação do genótipo mais
adequado para as condições ambientes. A utilização de animais de maior tamanho
corporal (peso adulto), que apresentam taxas de crescimento mais elevadas por maior
período de tempo, e cujas fêmeas apresentam maiores produções de leite, somente será
viável se as condições de manejo e principalmente a nutrição o permitirem. O “ranking”
de eficiência (kg de bezerro desmamado/kg de vaca exposta a touro) de vacas de
diferentes tamanhos corporais é função da nutrição (Nugent et al, 1993). Em elevados
níveis nutricionais vacas de maior tamanho corporal tem altas taxas de concepção e
11
desmamam bezerros mais pesados. Entretanto, em nívei nutricionais mais baixos, vacas
menores tem uma maior taxa de concepção que mais do que compensa o menor peso do
bezerro desmamado. Deve-se notar, entretanto, que a eficiência de produção em kg
bezerro/Mcal de alimento ingerido por vaca+bezerro é maior quanto mais baixo o nível
nutricional (Jenkins e Ferrel, 1993).
Animais muito precoces (com elevadas taxas de maturação), independentemente
do seu peso adulto tem exigências nutricionais elevadas e quando submetidos a períodos
de sub-nutrição apresentam maiores problemas de restrição permanente do crescimento.
Fica clara a necessidade de se alterar potencial produtivo do animal e o ambiente
de forma integrada. Tres erros básicos cometidos pelos produtores são patentes:
1- Animais tardios de elevado peso adulto estão sendo utilizados, o que não tem
permitido aos produtores obter um novilho acabado, com adequada deposição de gordura,
em menos de dois anos, após dois períodos de inverno (estacionalidade da produção
forrageira), classificando-o como novilho precoce. Este efeito é menor para o Nelore do
que para raças gigantes como o Marchigiana. Estes resultados sugerem ser os animais de
peso adulto inadequado para o sistema de produção utilizado. Provavelmente, estes
produtores estão encontrando menores taxas de concepção em função da elevada
exigência de matrizes de grande porte. Embora os animais produzidos sejam mais
eficientes no confinamento, com melhores conversões alimentares, esta maior eficiência é
função da composição mais magra do tecido depositado. Com a evolução da tipificação
de carcaças, os abates terão de ocorrer à mesma composição corporal, e parte dos
benefícios desaparece. Deve-se optar por animais de peso adulto compatíveis com o
programa nutricional.
2- Na situação atual, a suplementação de novilhas zebuínas não traz grandes
retornos quando a propriedade tem uma estação de monta definida, pois é difícil cobrir
uma elevada proporção das novilhas Nelore com 15 meses. Outro problema que deve ser
avaliado é a baixa taxa de ganho das novilhas quando do retorno ao pasto após período de
suplementação.
3- Produtores com novilhas F1 zebu x europeu, tem a oportunidade de alterar o
ambiente, intensificando o sistema, e garantindo níveis nutricionais para que novilhas
cruzadas alcancem maturidade sexual aos 15 meses e que elevada proporção desta esteje
prenha na primeira metade da estação de monta. Para o Nelore estes objetivos terão que
ser alcançados com uma seleção intesiva para precocidade.
6. Conclusões
A fêmea Nelore, pela sua menor exigência para mantença tem vantangens em
sistemas de produção onde a suplementação é inviável econômicamente.
De modo geral a seleção do Nelore tem acarretado aumento do peso adulto, como
um efeito associado da seleção para aumentar a taxa de ganho e tal fato tem várias
implicações.
O peso adulto da vaca é importante para a eficiência econômica do sistema de
produção de bovinos. Etretanto, estamos longe de saber qual seria o peso ideal da vaca. A
luz do conhecimento atual devemos manter pesos intermediários.
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Um consideração importante seria possibilidade do direcionamento da seleção na
raça Nelore para o desenvolvimento de linhagens com diferentes potenciais de
crescimento e tamanho adulto.
O conhecimento do efeito de hormônios e o desenvolvimento da biotecnologia já
permitem que o peso de abate dos animais seja elevado sem alterar o peso da vaca. No
futuro, e possível imaginar que poderemos aumentar o potencial de ganho de peso e o
peso de abate (“caixa”) de um determinado bezerro a partir de manipulação do meio
hormonal, com a possibilidade de redução do peso adulto das vacas.
Através de manejo nutricional é possível criar um sistema de criação com idade ao
primeiro parto aos 24 meses com animais cruzados, mas este sistema seria menos viável
para animais Nelore (embora animais superiores possam atingir este índice), em função
da variância da idade à puberdade na população. Este deve ser um objetivo importante da
seleção.
A vaca Nelore, considerando o seu peso adulto, representa um genótipo adequado
às condições comuns do meio em que os rebanhos são explorado. É importante o
desenvolvimento de pesquisa, principalmente na área de modelagem, que descrevam o
efeito da alteração do peso adulto sobre a eficiência de produção do sistema,
considerando os custos de alteração e manipulação do ambiente.
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A PRODUTIVIDADE DA VACA NELORE Dante Pazzanese Lanna e