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NOTAS SOBRE UM ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES DE GEOGRAFIA
CONSTRUÍDAS POR ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL
NOTES ON A STUDY OF THE REPRESENTATIONS OF GEOGRAPHY
CONSTRUCTED BY STUDENTS OF BASIC EDUCATION
Wilson Galvão
Universidade Federal do Paraná
Mestrando em Geografia
Salete Kozel
Doutora em Geografia
Universidade Federal do Paraná
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RESUMO
Diante das mudanças sociais ocorridas em várias frentes, como o estabelecimento de
uma nova ordem política, cultural e econômica devido a intensificação dos fenômenos
da globalização; as novas propostas curriculares e as reformas no ensino, além do
advento de “novas” influências teóricas e metodológicas na ciência de um modo geral, o
que é a Geografia segundo as representações de alunos matriculados no ensino
fundamental? É esta interrogação que este artigo discute, mas, sobretudo, buscando
apresentar algumas notas para o diálogo junto a comunidade científica. Para tanto, para
fundamentar as discussões, busca-se uma aproximação às formulações da Geografia
Cultural, Geografia das Representações e da Psicologia Social.
Palavras-chave:
Ensino
de
Geografia,
Geografia
Cultural,
Geografia
das
Representações, Psicologia Social
ABSTRACT
Ahead of the social changes occured in some fronts, as the new political, cultural and
economical order established with the intensification of the fenomenon of the
globalization; the new curricular proposals and the reforms on the education, beyond the
advent of "new” theorical and metodological influences in science in a general way,
what is geography according to the representations of the students of a sixth grade of
basic education? This is the interrogation that this article argues, but, above all, search
to present some notes for the dialogue, together with the scientific community. In such
way, fundamenting the discutions, one search a proximity to the formulations of the
Cultural Geography, Geography of Representations and the Social Psychology.
Key words: Education of Geography, Cultural Geography, Representatios of
Geography, Social Psychology.
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“A realidade de uma sociedade depende em parte do que existe em sua representação de si
mesma” (KOLAKOWSKI, 1978, p. 94)
INTRODUÇÃO
Sabe-se que a Geografia, enquanto ciência, trilhou um longo caminho para
introduzir o homem e a mulher enquanto indivíduos que constroem, transformam e se
relacionam no espaço, quando são consideradas suas pesquisas. Separava-se sujeitos e
objeto no desenvolvimento dos trabalhos geográficos. Na escola, por sua vez, o ensino
em geografia seguia orientado segundo a tônica das investigações geográficas. Ou seja,
havia uma correspondência entre o fazer científico da geografia e a geografia ensinada
na escola. Deste modo, a escola reproduzia e difundia as idéias e pressupostos
teórico/metodológicos vigentes em cada período da história geográfica. Na literatura,
observa-se que as pesquisas sobre geografia escolar, embora incipientes, também se
orientavam segundo uma perspectiva teórica dominante.
Todavia, atualmente o ensino em Geografia na educação básica têm sido alvo de
importantes investimentos na pesquisa, seguindo orientações e/ou filiações teóricas
diversas. Tal interesse se dá, dentre outros aspectos, em função de mudanças sociais
ocorridas em várias frentes, tais como: o advento de “novas” influências teóricometodológicas na ciência de um modo geral; uma nova ordem política, cultural e
econômica com a intensificação dos fenômenos da globalização e a difusão cada vez
maior da informação, tendo em vista as relativizações dos espaços e do tempo; e ainda,
novas propostas curriculares e reformas no ensino em geral, que invariavelmente
acarretam desafios para o universo dos envolvidos no processo de ensino e
aprendizagem na geografia escolar.
Deste modo, dada esta gama de aspectos, temáticas e desafios que
invariavelmente dizem respeito ao espaço da geografia que se ensina na escola, investir
na pesquisa sobre o ensino em geografia é algo que realmente se faz necessário, uma
vez que ainda há muito por se fazer para que aconteçam avanços na formação de um
cidadão com vistas à compreensão do seu espaço vivido hoje: o mundo.
Estas notas iniciais têm por objetivo apresentar a discussão que permeia este
texto, que é um ensaio relativo ao atual estágio de desenvolvimento de uma investigação
de mestrado que está em andamento junto ao Programa de Pós Graduação em Geografia
da Universidade Federal do Paraná. Objetiva-se, portanto, a apresentação da temática de
pesquisa, assim como alguns encaminhamentos teóricos que têm sustentado nossos
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argumentos em relação ao objeto de investigação – o ensino em geografia, além do
apontamento de algumas reflexões suscitadas até o momento.
ENSINO ESCOLAR, REPRESENTAÇÕES E GEOGRAFIA
Apesar dos investimentos na pesquisa sobre o ensino em geografia alguns temas
acabam sendo mais privilegiados. Como, por exemplo, prática de ensino, transposição
didática, formação do professor, a utilização de recursos didáticos, interdisciplinaridade,
educação ambiental, cartografia escolar, construção de conceitos, livros didáticos e
outros assuntos1. Tais investigações partem tanto da Geografia quanto de outros ramos
do conhecimento, sobretudo da Educação. Alguns trabalhos são desenvolvidos por
pesquisadores do ensino em geografia, outros por educadores e muitos por geógrafos
que são reconhecidos no âmbito da pesquisa geográfica por serem especialistas em
outras áreas da Geografia, como a Geopolítica, a Geografia Urbana, a Geografia
Agrária, entre outras. De qualquer modo, consideramos isto positivo, pois tem havido
importantes contribuições para o debate acerca do ensino em geografia, além de
despertar o interesse de outros pesquisadores em relação ao assunto. Por outro lado,
abordar a sala de aula enquanto um espaço construído e onde se processam relações
sociais é algo ainda pouco explorado, especialmente pela comunidade da pesquisa
geográfica, de modo que enveredar por esta senda é um grande desafio, tanto do ponto
de vista teórico e metodológico quanto da especificidade e multiplicidade de relações
que se estabelecem neste espaço. Mas, trata-se de um aspecto muito importante para se
considerar, uma vez que, conforme TUAN (1980), conhecer, compreender, sentir e
dizer do espaço onde se vive é algo inerente ao ser humano e a Geografia não pode se
abster de enfrentar, refletir e teorizar a este respeito.
É para enfrentar este desafio que optamos por trilhar este caminho. Neste
sentido, para compreender um pouco daquilo que os alunos conhecem, compreendem,
sentem e dizem deste espaço vivido por eles, cabe um importante questionamento. Que
representações de geografia têm os alunos do ensino fundamental de uma escola
pública? Ou seja, o que tem estes alunos a dizer sobre este espaço dinâmico vivido por
eles cotidianamente: a sala de aula de geografia. E ainda, quais os desafios que essas
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É possível confirmar estes aspectos ao se observar algumas obras que tem como tema o ensino em
geografia, tais como: Callai (1986), Revista Terra Livre 8 (1991), Carvalho (1998), Cavalcanti (1998),
Castrogiovanni et all (1999), Carlos (1999), Soares (2001), Pontuschka e Oliveira (2002), entre outras.
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representações apresentam e representam para o professor de geografia, para a escola e
para a Geografia de um modo geral?
A multiplicidade dos aspectos quem envolvem a sala de aula de geografia que
acima mencionados, ou a associação deles, acaba por influenciar o contexto intraescolar, no qual se insere a Geografia como um conhecimento que tem por objetivo
formar o educando para “enfrentar” e entender o mundo que o cerca. Mas, que aspectos
estariam influenciando de forma decisiva este espaço intra-escolar, que aqui
chamaremos de sala de aula? Acreditamos que a busca pela compreensão das
representações que os alunos do ensino fundamental têm da geografia, estabelecendo
relações entre elas e o trabalho escolar pode nos fornecer algumas respostas.
São questões que merecem esforços para serem enfrentadas, compreendidas e
refletidas, especialmente porque os resultados podem incidir diretamente sobre uma
grande comunidade: a dos professores de geografia. Por essas razões, e, sobretudo em
função da ligação que temos com o tema, é que este ensaio, assim como a investigação,
busca seguir os pressupostos que regem a vida da pesquisa acadêmica, mas não se isenta
dos sentimentos, vivências e experiências que permeia nossa relação com o tema, uma
vez que temos procurado respostas rumo à compreensão do universo da sala de aula de
geografia, muitas vezes tido como enfadonho e hostil.
Ainda se concebe no senso comum um ensino de geografia que é
descontextualizado, distante da realidade vivida pelo estudante, dos avanços da ciência
geográfica e das mudanças da sociedade em geral, devido as experiências vividas pelas
pessoas ao longo de sua vida escolar. Portanto, entender o papel deste importante sujeito
envolvido neste processo, o professor e a professora de geografia, a partir do olhar dos
alunos e alunas, também reflete, de maneira direta, uma busca pessoal pelo
entendimento do que é e como é ser professor, tanto nossa quanto de outros professores.
É consenso que os professores têm desejado e procurado respostas concretas que os
auxiliem diante das dificuldades que se apresentam e que os desafiam no
desenvolvimento de seu trabalho docente.
Para o desenvolvimento da investigação, que é de cunho qualitativo, o estudo de
caso está inserido no contexto intra-escolar de uma 6ª série do ensino básico em
geografia em uma escola pública, buscando revelar as representações dos alunos sobre a
geografia vivida por eles na sala de aula, considerando suas experiências em seu espaço
vivido, permeadas pelas influências recebidas no cotidiano da escola e da sociedade.
Com isso, busca-se a observação da influência dos vários sujeitos envolvidos na
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constituição das representações de Geografia construídas pelos alunos, a partir do
espaço da sala de aula, especialmente aquelas que perpassam o trabalho escolar. Ou
seja, como esta complexa teia de relações se reflete na dinâmica da sala de aula, e em
que medida cada um desses agentes pode interferir no processo da construção do
conhecimento geográfico. Além de buscar saber em que medida estes reflexos podem
subsidiar o entendimento do cotidiano da sala de aula, de modo com que possamos
apontar e refletir acerca dos desafios para o professor e a comunidade envolvida com o
ensino e a aprendizagem de geografia.
Assim, algumas frentes são consideradas. Uma é a que reflete diretamente sobre
as ações didáticas do professor e a sua intervenção na construção do conhecimento pelo
educando, e se justifica nas palavras de Lima (2002):
Se a pesquisa acadêmica quiser contribuir para a formação dos
professores, deverá acompanhar seus trabalhos didáticos, suas
experiências didáticas e considerá-las nas várias possibilidades de
intervenção. Intervenção que deverá considerar o conhecimento
científico e pedagógico. Deverá considerar ainda os níveis diferentes
que existem em relação a utilização dos processos didáticos, ou seja,
deverá preocupar-se com a sutura do processo que fundamenta a
prática pedagógica. (LIMA, 2002, p. 123)
Nas outras, estão aqueles aspectos que também atingem de forma contundente e
formam o arcabouço que sustentará as representações dos alunos acerca da Geografia,
forjando o espaço de representação. Ou seja, o meio escolar onde o aluno está inserido,
mas também o “seu mundo”, “seu espaço vivido”, “seu lugar” e o “seu dia-a-dia”, pois
estas dimensões perpassam por elementos da dinâmica social, política e cultural do
mundo vivido e que serão refletidas nas suas representações, assim como essas
representações produzirão reflexos na dinâmica social, provocando-se um movimento
dialético constante.
Segundo Kozel (2002), as representações indubitavelmente permitem a
compreensão do processo cognitivo, conduzindo-nos a um melhor entendimento dos
indivíduos e consequentemente a sua visão de mundo, contribuindo para explicar os
comportamentos e possibilitando redimensionamento de nossas ações. A autora ainda
assevera que:
Estamos inseridos no mundo e não podemos nos excluir dele para
compararmos aparência com essência, conteúdo com representação,
pois o senso comum e o contexto estão implícitos e não podem
simplesmente ser eliminados, constituindo-se no cerne do processo
cognitivo. (KOZEL, 2002, p. 221)
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É consenso que a geografia se configura na escola como um importante
componente curricular, formando cidadãos, fornecendo-lhes bases para o entendimento
e a compreensão de seu espaço vivido, desde o local até o global.
Além deste aspecto, a importância da presença da geografia no currículo escolar
está na gênese desta ciência, pois ao estudarmos a história da geografia e a
historiografia do pensamento geográfico verificamos quão importante papel teve a
geografia escolar na conformação deste campo científico, especialmente se
considerarmos a Alemanha enquanto berço da Geografia moderna. Cabia à geografia
formar os cidadãos com o objetivo de forjar uma unidade territorial e isto se
concretizava na escola. Ou seja, antes da existência das cátedras desta ciência, já se
fazia geografia na sala de aula da educação básica e foi a necessidade da estruturação
das bases do que se ensinaria nessa escola, assim como da formação de seus
professores, algumas das razões que serviu como legitimação da gênese da Geografia
enquanto uma ciência reconhecida pela comunidade científica.
Portanto, as cátedras de geografia vão surgir para formar geógrafos professores
de geografia, uma vez que a demanda existente se orientava nesta direção. E hoje, que
demandas existem quando se pensa na formação dos estudantes dos cursos de geografia
do país? Quem será e o que do egresso desses cursos?
Apesar da proximidade existente entre a Geografia e a escola no processo de
consolidação desta área do conhecimento, com a obtenção do status de ciência, nota-se
ainda uma certa distância entre as pesquisas geográficas e a escola. Entretanto, é
também papel do geógrafo pensar este espaço. Mas, esse distanciamento existente
também provoca e desafia. Como teorizar o espaço da escola sob a ótica da geografia?
Enfocar o espaço da geografia na escola ou da escola e da geografia na vida dos alunos?
Acreditamos que isto se torna possível quando nos aproximamos das abordagens
propostas principalmente pela Geografia Cultural.
NA SENDA DA GEOGRAFIA SOCIAL E CULTURAL
Sabe-se que tanto a Geografia Social quanto a Geografia Cultural possuem
formulações teóricas específicas, entretanto, optou-se pela associação entre elas, uma
vez que, segundo Kozel (2001), existe uma proximidade na estruturação dessas
abordagens. Logo, optamos por desenvolver este artigo utilizando essa base teórica. Na
abordagem sociocultural em Geografia, observa-se a inserção, dentre outros aspectos,
do ser humano que vive, se relaciona, constrói e transforma seu espaço.
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Ao contextualizar o estado da arte da Geografia Cultural, Claval (1999), relata
que após as décadas dos anos de 1950 a 1970 – período em que esta abordagem foi
marginal no desenvolvimento das pesquisas geográficas, houve o advento da nova
Geografia Cultural. No atual contexto “a cultura deixa de ser analisada apenas na
relação entre homem e meio e passa a se constituir numa variável mais complexa que
vai além do que o meio natural pode explicar. Cultura passa ser um conceito de valor”
(KOZEL, 2001, p. 126). Com isso, apesar de muitos percalços, somente a partir do ano
de 1980 mudanças significativas tornam-se evidentes na Geografia Cultural, de modo
que gradativamente sua reestruturação foi ocorrendo.
Entretanto, em meio ao período da crise instaurada na Geografia Cultural,
destacam-se alguns trabalhos marginais que se aproximam de uma abordagem cultural e
que naquela época foram desprezados pela comunidade geográfica. Dentre eles,
conforme Campos (2006), merece destaque o legado de Eric Dardel. Segundo o autor,
foi a partir das idéias de Dardel, dentre elas a de geograficidade, que surge a geografia
fenomenológica, que analisava como o homem se relacionava com a Terra.
Para Mello (1990), essa a geografia fenomenológica se constitui na Geografia
Humanista, que por definição “procura um entendimento do mundo humano, através do
estudo das relações das pessoas com a natureza, do seu comportamento geográfico bem
como dos seus sentimentos e idéias a respeito do espaço e do lugar” (TUAN, 1985, p.
143) apud (MELLO, 1990, p. 92). Portanto, o centro é o homem, enquanto ser pensante,
procurando-se a compreensão e interpretação de seus sentimentos e entendimentos do
espaço e até mesmo, como a simbologia e o significado dos lugares podem afetar a
organização espacial. Para o desenvolvimento de seus estudos, os geógrafos humanistas
utilizam como essencial ferramenta de trabalho a experiência vivida.
Apesar do ecletismo, todas as vertentes filosóficas que balizam as análises
geográficas originadas na abordagem humanista, perpassam pelo geográfico ao
interpretar o arranjo dos objetos no espaço, seus códigos e simbolismos relacionando-os
ao universo sígnico do mundo das imagens e seus reflexos. Deste modo, “ao geógrafo
cabe, desvendar esta nova dimensão humana nas relações espaciais simbólicas
impressas pelos valores, sentimentos e ação, assim como as representações e
simbolismos que figuram neste espaço” (KOZEL, 2001, p. 135).
A autora ainda adverte que inevitavelmente, ao abordar a subjetividade humana,
a Geografia passa a estabelecer ligações com outras áreas do conhecimento como a
Arte, História, Sociologia, Antropologia, Psicanálise, Psicologia e Linguagem, a fim de
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buscar subsídios para as interpretações culturais, uma vez que torna imprescindível a
reunião do maior número possível de elementos referentes a valores e significações de
um grupo.
Com a renovação da Geografia Cultural, rompe-se com o positivismo. Com uma
aproximação de uma abordagem cultural humanista, Kozel (2001), ao interpretar as
idéias de Claval (1997), assinala que a reorganização das abordagens da Geografia tem
em vista o resgate do homem no centro de suas análises.
Neste sentido, essa reorganização aconteceria em torno de três eixos:
O estudo das sensações e percepções, das linguagens e códigos voltados à
comunicação e do simbólico na perspectiva da construção de identidades; pois o
homem apreende o mundo através dos sentidos e sensações e o sistemas de
comunicação e estabelece um sistema simbólico, anexando valores, e permitindo
a construção de identidades. (KOZEL, 2001, p. 128)
A autora ainda afirma que a geografia social, por sua vez, acompanha o
movimento de renovação cultural na geografia, muitas vezes, sendo confundida com o
viés cultural, pois são complementares, uma vez que tem por objetivo descrever e
explicar os vários aspectos da vida em sociedade que contribuem para as diferenciações
no mundo e na organização do espaço. Logo, ambas estão ligadas a linguagem, à
organização das instituições características de cada grupo, e à sua distribuição espacial,
de modo que os enfoques pertinentes à geografia cultural/social estão na interface da
antropologia e sociologia, estabelecendo relações muito estreitas e complementares.
Embora durante as décadas de 1980 e 1990, a forte presença do marxismo na Geografia
Social tenha tentado sufocar novamente o enfoque cultural, elas permanecem coesas,
tendo em vista a também reducionista forma de tentar explicar a organização do espaço
segundo um viés economicista.
Atualmente, tendo em vista os fenômenos ocasionados pela globalização, a
cultura de massa passa a ser difundida por todos os cantos da terra, circulando por redes
cada vez mais sofisticadas, desconsiderando as diversidades culturais. Por outro lado, as
sociedades relutam e tentam preservar sua cultura e seus valores, tornando-se evidente o
resgate da identidade cultural e social. Tendo em vista toda essa gama de relações,
acreditamos que é o enfoque da geografia social/cultural que pode nos fornecer as
reflexões mais interessantes para a busca no entendimento deste mundo, onde também
se insere a geografia escolar e a complexa teia de relações que se estabelecem em seu
interior.
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O DESAGÜAR NA GEOGRAFIA DAS REPRESENTAÇÕES
O conceito de representação social, tem a sua origem no conceito de pensamento
coletivo incluído na teoria sociológica de Durkheim. Segundo Moscovici (2003), para
Durkheim, a vida social é essencialmente formada de representações coletivas que,
embora do seu ponto de vista sejam comparáveis às individuais, estão numa realidade
distinta. Assim, as representações coletivas são para Durkheim, produções sociais que
se impõem aos indivíduos como forças exteriores e que contribuem para a coesão social
como a religião, a ciência, os mitos e o senso comum e estão na base das representações
individuais que, por sua vez, estão associadas à consciência individual do sujeito.
Entretanto, foi Moscovici que, em 1961, fez o primeiro delineamento formal do
conceito e da teoria das representações sociais, no trabalho intitulado “La psychanalyse,
son image et son public”, que lhe permitiu pôr em destaque três aspectos fundamentais:
a coexistência de várias representações de um mesmo objeto dentro do mesmo grupo
social, as representações sociais que os sujeitos elaboram serem função das práticas de
cada grupo de referência e dos seus valores, e a transformação de uma teoria na sua
representação, pode se efetuar a partir da seleção de informações que o sujeito extrai do
contexto e da respectiva concretização. Assim, na teoria de Moscovici existe uma
relação dialética entre o social e o individual, sendo as representações sociais estruturas
dinâmicas e heterogêneas.
A partir destes resultados, o autor conclui que a representação social é de ordem
cognitiva: ela articula as informações sobre o objeto de representação e as atitudes do
sujeito relativamente a ele. Deste modo, rompe definitivamente com a tradição
behaviorista, propondo uma explicação da realidade em que a representação assume o
caráter de variável independente, e não intermediaria, entre estímulo e resposta.
Portanto, os indivíduos não se limitam a esperar pela informação e a processá-la,
constroem significados e teorizam a realidade social.
Contudo, o caráter polissêmico faz com que tenham surgido diferentes ênfases
para o conceito de representação social, atribuindo-lhe sentido, ideológico, estrutural,
experimental ou de caráter específico e de dimensão irredutível, uma vez que
“constituem uma organização psicológica, uma forma de conhecimento que é específica
da nossa sociedade e que não é redutível a nenhuma outra forma de conhecimento”
(MOSCOVICI, 2003, p. 62)
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Ao delinear o objeto central de interesse da Psicologia Social, o autor torna
evidente suas posições em relação ao estudo dos fenômenos sociais, que são base para o
funcionamento de uma sociedade, portanto, para ele o campo específico da Psicologia
Social é:
O estudo dos processos culturais que são responsáveis pela organização do
conhecimento em uma sociedade, pelo estabelecimento das relações
interindividuais no contexto do ambiente social e físico, pela formação dos
movimentos sociais (grupos, partidos, instituições), através dos quais os
homens agem e interagem, pela codificação da conduta interindividual e
intergrupal que cria uma realidade social comum com sua normas e valores,
cuja origem deve ser novamente buscada no contexto social. (MOSCOVICI,
2003, p. 154)
Essas são bases teóricas que acreditamos sejam pertinentes para o
desenvolvimento das análises das representações elaboradas pelos alunos a respeito da
geografia. Para tanto, dois processos fundamentais deixam transparecer como o social
transforma um conhecimento em representação, e como esta representação transforma o
social, transformando o não familiar em familiar. Trata-se, para Moscovici (2003), dos
conceitos de objetivação e ancoragem.
A partir de reflexões formuladas por Jodelet (1984), Moscovici (2003), nos diz
que a objetivação consiste numa operação pela qual se dá forma específica ao
conhecimento acerca de um objeto, tornando-o concreto, quase tangível, de modo que
permite descobrir a qualidade incógnita de uma idéia, como se reproduzíssemos o
conceito numa imagem. Por outro lado, se a objetivação reflete a intervenção do social
na representação, a ancoragem traduz a intervenção do social na representação. Assim,
a ancoragem consiste na integração cognitiva do objeto a um sistema de pensamento
social pré-existente e nas transformações implicadas em tal processo, além disso, um
papel importante da ancoragem é o fornecimento de mecanismos que nos permitem
enfrentar as inovações ou o contato com objetos que não nos são familiares.
Acreditamos que estes são dois conceitos centrais para o desenvolvimento das
análises que desejamos fazer, pois oferecem importantes subsídios para o entendimento
das representações construídas pelos alunos de geografia investigados.
REFLEXÕES FINAIS
Conforme se observou, nesta perspectiva há uma busca constante pela
introdução dos sujeitos da pesquisa enquanto seres sociais e culturais no geográfico,
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uma vez que são consideradas suas múltiplas dimensões, que por vezes acabaram por
forjar as representações de geografia a partir da sala de aula. Desde suas impressões
sobre o trabalho docente até os elementos da dinâmica social que perpassam suas vidas
no interior da sala de aula, e que, invariavelmente, influem em suas representações.
Representações que também podem influir no contexto, refletindo o processo dinâmico
e dialético que observamos nas práticas cotidianas por meio de observação participante;
nas representações imagéticas elaboradas a partir de mapas mentais e de um
questionário respondido por eles.
As análises dos dados estão em desenvolvimento e por isso não os apresentamos.
De qualquer modo, acreditamos que conseguimos expor nosso objetivo: apresentar as
principais partes do arcabouço teórico que sustentam nossas análises, a fim de abrir ao
diálogo e ao debate. Isto é importante, pois há uma grande comunidade de interessados
no tema e que carecem de elementos que os auxiliem tanto na reflexão quanto nas ações
do dia-a-dia. Referimos-nos aos alunos e professores de geografia do ensino básico.
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Notas sobre um estudo das representações de geografia