III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 001-005 MONITORAMENTO DA VEGETAÇÃO DA REGIÃO DO EIXO-FORTE NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA UTILIZANDO IMAGENS DOS ÍNDICES DE VEGETAÇÃO NDVI E NDWI. ANA SOFIA SOUSA DE HOLANDA CARLOS EDUARDO GUERRA Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA Laboratório de Sensoriamento Remoto de Santarém - LASERS [email protected], [email protected] RESUMO – Este trabalho tem como objetivo avaliar a contribuição das imagens derivadas da aplicação dos índices de vegetação NDVI e NDWI no monitoramento e estudo da vegetação da região do Eixo – Forte no município de Santarém-PA. Como dados, foram utilizadas três imagens do satélite Landsat 5, sensor TM, referentes as anos de 1986, 1996 e 2008, durante a estação de baixa pluviosidade (agosto e setembro). Sobre estas imagens, aplicou-se uma série de transformações radiométricas, conversão de ND (números digitais) para valores físicos de radiância aparente e reflectância de superfície, correção atmosférica e normalização radiométrica, de forma a permitir o cálculo dos índices e o estudo da cobertura vegetal. A análise conjunta dos índices NDVI e NDWI permitiu uma melhor caracterização da cobertura vegetal da área estudada, destacando, inclusive, uma possível ocorrência de desmatamentos. A correlação entre o NDVI e NDWI, no que se refere à vegetação e o teor de umidade, contribuiu para o descarte de feições e objetos que poderiam induzir a erros de interpretações. ABSTRACT – This study aims to evaluate the contribution of images derived from the application of NDVI and NDWI in monitoring and studying the vegetation of the region Eixo-Forte in Santarém-PA. As data, we used three satellite images from Landsat 5 TM, referring to the years 1986, 1996 and 2008, during the season of low rainfall (august and september). On these images, we applied a series of radiometric transformations such as, conversion of DN (digital numbers) to physical values of apparent radiance and surface reflectance, atmospheric correction and radiometric normalization, to allow the calculation of indices and the study of vegetation cover. The joint analysis of indices NDVI and NDWI allowed a better characterization of the vegetation of the area studied, highlighting, including, a possible occurrence of deforestation. The correlation between NDVI and NDWI, in relation to vegetation and moisture content, contributed to the discharge of features and objects that could lead to errors of interpretation. 1 INTRODUÇÃO O sensoriamento remoto tem exercido grande papel no estudo da vegetação, suas numerosas ferramentas têm auxiliado no monitoramento, dinâmica e detecção de mudanças tanto naturais como antrópicas, além das aplicações em estudos fisiológicos e fenológicos das plantas. Uma das ferramentas desenvolvidas para o estudo da vegetação são os índices de vegetação- IV. Diversos índices de vegetação têm sido propostos na literatura com o objetivo de explorar as propriedades espectrais da vegetação, especialmente nas regiões do vermelho e infravermelho próximo. Estes índices estão relacionados a parâmetros biofísicos da cobertura vegetal, como biomassa e índice de área foliar, além de A. S. S. Holanda, C. E. Guerra minimizarem os efeitos iluminação da cena, declividade da superfície e geometria de aquisição que influenciam os valores de reflectância da vegetação (Ponzoni e Shimabukuro, 2007). O NDVI (Normalized Difference Vegetation Index), proposto por House et al. (1973), é uma operação aritmética simples e muito utilizada atualmente para estudos do comportamento espectral, caracterização e monitoramento da vegetação bem como detecção e avaliação de desmatamentos. O NDVI é obtido através da equação: NDVI = ρ nir − ρ red ρ nir + ρ red (1) III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação onde: ρnir = reflectância da banda no infravermelho próximo; ρred = reflectância da banda no vermelho. O NDWI (Normalized Difference Water Index), apresentado por Gao (1996), é relacionado com o conteúdo de água presente nas folhas. Este índice é importante nos estudos referentes ao vigor da vegetação, mudanças na biomassa e estresse hídrico das plantas (Cardoso et al., 2009; Jensen, 2009). O NDWI utiliza duas bandas no espectro infravermelho, equivalentes as bandas 4 e 5 do satélite Landsat 5, sensor TM (Tematic Mapper) , e é definido como: ρ (0,86µm) − ρ (1,24µm) NDWI = ρ (0,86 µm) + ρ (1,24 µm) (2) onde: ρ = reflectância da banda. O objetivo deste trabalho é avaliar a contribuição das imagens dos índices de vegetação NDVI e NDWI no monitoramento da vegetação da região do Eixo – Forte no município de Santarém a oeste do estado do Pará. 2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de estudo Foi selecionada uma área na região do Eixo-Forte localizada a oeste do estado do Pará no município de Santarém ao longo da rodovia PA-457 (rodovia Everaldo Martins) correspondente as coordenadas (2º 24’S, 54º 58’W) e (2º 32’S e 54º 46’W). Esta região é caracterizada pela presença de savanas que ocorrem em pequenas extensões ao longo da rodovia, geralmente isoladas, formando mosaicos de vegetação, variando de florestas abertas a savanas. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 002-005 resolução espacial de 30 metros, referentes ao anos de 1986, 1996 e 2008, entre o período de baixa pluviosidade, que vai junho a novembro. Antes da aplicação dos índices de vegetação, as imagens foram submetidas a uma etapa de préprocessamento que consistiu no registro das imagens, aplicação de contrate e filtragem para minimizar a interferência de ruídos na região de interesse, além de uma série de transformações radiométricas necessárias para elaboração de cálculos que podem incluir dados de diferentes bandas ao longo do tempo. 2.2 Conversão do número digital (ND) para radiância aparente (Lo) As imagens em números digitais foram convertidas para radiância aparente segundo a equação citada por Ponzoni et al. (2005). Lo (λ ) = ND (λ ) − offset (λ ) / G (λ ) (3) onde: Lo(λ ) = radiância na banda (λ ) ; ND(λ ) = valores de ND na banda (λ ) ; offset (λ ) = quantidade de valores de ND suficiente para compensar a chamada corrente escura do detector; G(λ ) = ganho na banda (λ) . 2.3 Conversão de radiância aparente (Lo) para reflectância bidirecional aparente (FRB) Esta conversão foi realizada através da equação de Markham e Barker (1986) apud Ponzoni e Shimabukuro (2007). ρa = π .Lo(λ ).d 2 Esun(λ ). cos θ (4) onde: pa = FRB aparente; Lo (λ ) = radiância na banda(λ); d = distância Sol-Terra em unidades astronômicas; Esun ( λ ) = Irradiância média do sol no topo da atmosfera; θ = ângulo solar zenital. 2.4 Correção atmosférica Figura 1 – Imagem TM, Landsat 5, da região do Eixo Forte no município de Santarém-PA, composição 5R, 4G e 3B. Como dados, foram utilizadas três imagens do satélite Landsat 5, sensor TM, órbita/ponto (227/62), com A. S. S. Holanda, C. E. Guerra A partir das imagens de reflectância aparente (FRB aparente) foi feita a minimização dos efeitos da atmosfera utilizando-se o modelo de transferência radiativa (Second Simulation at the Satellite Signal in the Solar Spectrum6S) utilizado por Holanda et al.(2009). De acordo com Ponzoni e Shimabukuro (2007), a aplicação deste e outros modelos de transferência radiativa resultam em uma imagem denominada de reflectância de superfície, ou III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação seja, são estimados os valores de reflectância bidirecional dos objetos presentes na superfície terrestre. 2.5 Normalização radiométrica Após a obtenção dos valores de reflectância de superfície através da correção atmosférica, aplicou-se o método de normalização radiométrica proposto por Hall et al. (1991), este método visa minimizar as influências de variações não lineares da sensibilidade dos detectores ao longo do tempo e de variações na geometria de iluminação, para melhor comparar as imagens obtidas ao longo do tempo. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 003-005 As áreas de floresta possuem valores de NDVI em torno de 0.5 a 0.8, nas savanas estes valores diminuem, chegando a cerca de -0,6 a -0,4 (negativo) que são característicos de áreas com baixa cobertura vegetal (ver figuras 2, 3 e 4). As figuras 5, 6 e 7, representam a composição colorida das imagens NDWI referentes aos anos de 1986, 1996 e 2008, onde as cores variam de azul escuro, valores altos de NDWI, caracterizando zonas de alta umidade, a cor branca, baixos valores de NDWI, que correspondem as zonas de baixa umidade. 2.6 Aplicação do índice NDVI Para a elaboração do índice NDVI foram selecionas as bandas referentes ao comprimento de onda do vermelho e infravermelho próximo que correspondem as bandas 3 e 4 respectivamente. Os valores obtidos com NDVI variam entre -1 e +1. Em cenas com vegetação o NDVI, geralmente, varia entre 0,1 e 0,8 conforme sua arquitetura, densidade e umidade (ESPIG et al. 2006). Em áreas onde a vegetação é relativamente escassa, em savanas, por exemplo, esses valores tendem a diminuir aproximando-se de zero. Figura 2 – Imagem NDVI do ano de 1986 2.7 Aplicação do índice NDWI O índice NDWI foi aplicado nas bandas correspondentes ou próximas aos comprimentos de onda indicados por Gao (1996), sendo assim foram selecionas as bandas 4 para o comprimento de onda entre 0,86µm e 1,24 µm para a banda 5. Gao (1996) complementa que os valores de NDWI variam de – 0,056 (negativo), para vegetação seca, à valores positivos para vegetação verde. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Figura 3 – Imagem NDVI do ano de 1996 As figuras 2, 3 e 4 mostram uma composição colorida das imagens resultantes da aplicação do índice NDVI nos anos de 1986, 1996 e 2008 respectivamente. A coloração varia de amarelo, em áreas onde a cobertura vegetal é relativamente densa, alaranjado, cobertura vegetal não densa, até a cor vermelha, que corresponde a áreas com baixa cobertura vegetal e/ou solo exposto. As regiões mais escuras nas imagens correspondem a corpos d’água e/ou sombra de nuvens, devido à similaridade espectral entre estes alvos. Na figura 4, do ano de 2008, quando comparada as figuras 2 e 3, dos anos de 1986 e 1996, nota-se o aumento das áreas com baixos valores de NDVI, destacando-se as causadas pela abertura de estradas. Percebe-se também, claramente, o aumento do número de polígonos que caracterizam áreas de desmatamento, principalmente no entorno destas estradas. Esta perda de cobertura vegetal pode ser atribuída à transformação dessas áreas em grandes fazendas de criação de gado, causando redução nos índices de vegetação nestes locais. A. S. S. Holanda, C. E. Guerra Figura 4 – Imagem NDVI do ano de 2008 Comparando-se estas três figuras pode-se verificar um expressivo aumento de áreas com baixos índices de umidade ao longo do tempo, evidenciando-se os causados por desflorestamentos no entorno das estradas. III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação Nas imagens NDWI, as zonas de floresta apresentam índices de umidade entre 0,6 a valores próximos a 0,8. Já em zonas de baixa cobertura vegetal ou vegetação esparsa, savanas, por exemplo, os índices estão entre 0,2 a – 0,4 (negativo), em áreas onde há pouca ou quase nenhuma cobertura vegetal, os índices de umidade aproximam-se de -1. Recife - PE, 27-30 de Julho de 2010 p. 004-005 onde se pode notar a ausência desta feição, correspondendo esta área, a uma região de alta umidade. A figura 8 mostra os recortes das imagens NDVI e NWDI dos anos de 1986, 1996 e 2008, da região destacada com o circulo vermelho. Observa-se que no ano de 1986 a região apresenta valores relativamente altos tanto de índice que vegetação (indicada pela região em amarelo) quanto de índice de umidade (região em azul). Figura 5 – Imagem NDWI do ano de 1986 Figura 6 – Imagem NDWI do ano de 1996 Figura 8- Recorte das imagens NDVI e NDWI dos anos de 1986, 1996 e 2008. No ano de 1996, é perceptível um aumento razoável nas áreas que representam baixos índices de vegetação (em vermelho) e baixa umidade (em branco). Nas imagens de 2008, as áreas de baixo índice de vegetação bem como as de baixo índice de umidade tiveram aumento significativo, além apresentarem formas geométricas características de desmatamentos, que ocorrem principalmente no entorno ou próximos a estradas. Figura 7 – Imagem NDWI do ano de 2008 Na figura 3, em 1996, uma extensa mancha, no canto inferior direito da imagem NDVI, com valores de índices de vegetação baixos, pode ser confundida, por um intérprete desatento, com zonas de baixa cobertura vegetal, o que na verdade trata-se de uma região com uma tênue cobertura de nuvens. Esta informação ser confirmada observando-se a imagem NDWI de 1996, A. S. S. Holanda, C. E. Guerra 4 CONCLUSÕES As imagens do índice de vegetação NDWI podem ser utilizadas para complementar ou auxiliar na interpretação das imagens índices de vegetação NDVI. Tanto as imagens NDVI quanto as NDWI são favoráveis na análise, identificação e no monitoramento das áreas desmatadas ou com ausência de cobertura vegetal ao longo do tempo. Nas imagens NDVI a distinção de elementos como nuvens é dificultada, devido sua proximidade com a III Simpósio Brasileiro de Ciências Geodésicas e Tecnologias da Geoinformação resposta espectral de outras feições na imagem como solo ou baixa cobertura vegetal, por exemplo, o que pode interferir na interpretação ou até mesmo confundir o intérprete. AGRADECIMENTOS Ao Laboratório de Sensoriamento Remoto de Santarém (LASERS) por possibilitar a realização deste trabalho. Ao departamento de geração de imagens do INPE por ceder as imagens utilizadas no corrente trabalho. REFERÊNCIAS CARDOSO, F. S.; PEREIRA, G.; SILVA, G. B. S.; SILVA, F. B.; SHIMABUKURO, Y. 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