Para compreender as imagens hoje
“Do mesmo modo que não há mídia
inocente, também não há transmissão indolor.”
Régis Debray
Para pensar as imagens hoje é necessário traçar um percurso que consiga unir os inúmeros
processos culturais, sociais e políticos detonados por sua presença na sociedade e suas
características técnicas (novos modos de produção e veiculação). Ver como esses mecanismos
técnicos e discursivos de produção estão ligados a estruturas políticas de controle que expõem
toda a sociedade a um fluxo de imagens que condiciona visões predeterminadas da realidade.
Esse controle a todo momento gera novos regimes de visibilidade que se estruturam por meio de
imagens produzidas, das mais diversas formas, em busca de alguém que as perceba. O que
acontece é que a percepção, como nos adverte Virilio, se transforma em uma “questão de
logística”, de manejo de conteúdos e de finalidades muito bem definidas, na maioria das vezes
ligadas ao controle e à disseminação de formas culturais, políticas e econômicas dominantes.
Nesse cenário não temos outra saída que não seja transpor o apelo estético dessas imagens
sedutoras e tentar buscar outras, produzidas em circuitos diferentes (ou como resistência dentro
dos circuitos principais), que nos reconectem com nosso entorno mais imediato, com nossas
inquietações, para que sejam percebidas de forma não logística.
Atualmente a produção de imagens oscila entre a possibilidade de revelar novas formas de
mostrar a realidade e a “imagem-clichê-transmissão ao vivo” que apresenta o mundo numa
mistura perversa e sutil de informação e entretenimento, em redes transnacionais de
comunicação. Nessa configuração, as propostas artísticas parecem tomar, entre esses dois pólos,
múltiplos caminhos e conseguem, algumas vezes, revelar a latência dos conflitos, os jogos de
poder e controle, os circuitos de negociação de espaços publicitários, as mais inusitadas
estratégias globais de controle e os novos processos socioculturais provocados pela quase
onipresença das imagens.
Como entender as inúmeras estratégias que agenciam a produção de imagens no mundo
contemporâneo? Como avaliar essas estratégias, sobretudo nos cenários periféricos que se
reconhecem pela influência, sem precedentes, da visibilidade instaurada pelas tecnologias de
comunicação e produção de imagens? Interessa-nos perguntar como essa visibilidade redireciona
a construção das identidades, condiciona os registros da realidade, e participa da definição de
panoramas políticos descompromissados com a coletividade.
É nesse cenário em movimento que o Videobrasil reflete sobre a produção artística
contemporânea, assumindo a diversidade de visões e a realidade global multifacetada como
ponto de partida para traçar possíveis trajetos entre as perspectivas do deslocamento. Nesse
sentido propomos uma série de encontros com teóricos, artistas e curadores para debater a
produção artística atual e suas novas articulações — para compreendermos, de forma mais
profunda, as imagens hoje.
Eduardo de Jesus – Coordenador
© Associação Cultural Videobrasil
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