APRESENTAÇÃO Este útil e objetivo trabalho é um alerta aos pecuaristas da Região Noroeste do Paraná, no sentido de tornar mais produtivas suas propriedades. É a região pecuária mais importante do Paraná, que devido à erosão e ao desgaste de seu solo arenoso, assiste a substituição das forrageiras nobres por invasoras. A consequência é que a produção baixou, resultando em êxodo rural e desvalorização dos imóveis e possível enquadramento como propriedades improdutivas, aumentado os focos de conflito e invasão pelos sem-terra. O IAPAR e outras instituições de pesquisa dispõem de resultados experimentais, mostrando como aumentar a lotação das pastagens. É preciso agora incentivar e executar de forma eficiente a recuperação das pastagens do arenito Caiuá. Milton Alcover Eng° Agr° ex-pesquisador do IAC e IAPAR 3 INTRODUÇÃO O arenito Caiuá ocupa 16% (3,2 milhões de hectares) da área total do Paraná de 20 milhões de hectares (Figura 1) . É a mais importante região pecuária paranaense com 2,3 milhões de hectares de pastagens (72%) que suporta, em seus 107 municípios, 36,5% do rebanho bovino do Estado, estimado em 9,6 milhões de cabeças (EMATER, 1996 e DERAL, 1997). Apresenta, no entanto, solos com alta suscetibilidade à erosão que, devido a sua fragilidade e manejo encontra-se em adiantado grau de degradação física e química com níveis críticos de matéria orgânica. A consequência mais sentida da degradação das pastagens é a substituição, em diferentes graus, das espécies forrageiras nobres por invasoras indesejáveis de baixa qualidade como, pela ordem de importância, grama-mato-grosso (Paspalum notatum), capim-rabo-deburro (Andropogon bicornis), agriãozinho (Synedrellopsis grisebacchii), capim-amargoso (Digitaria insularis), carrapicho-de-bolinha (Triunfetta bartramia), guanxuma (Sida cordifolia), fedegoso (Senna obtusifolia e Senna occidentalis), capim-favorito (Rhynchelytrum repens) e amarelinho (Tecoma stans) (W.M. Kranz, informação pessoal). Fig. 1. Localização da região do arenito Caiuá no Estado do Paraná. 4 Os municípios da região do arenito Caiuá estão enquadrados (INCRA, 1993) na chamada "Zona de Pecuária 1" onde as pastagens para serem consideradas produtivas, devem suportar uma lotação mínima de 1,20 unidade animal por hectare (UA/ha). Uma UA equivale a 450 quilos de peso vivo. A capacidade de suporte ou lotação das pastagens é uma informação técnica valiosa para medir o grau de eficiência da atividade pecuária por apresentar uma relação direta com o manejo praticado. A região do arenito Caiuá é polarizada pelos municípios de Umuarama e Paranavaí, que foram fundados na década de 50, quando ostentavam lotação de suas pastagens ao redor de 3 UAs/ha, caindo, porém, já na década de 70, para cerca da metade (Mella, 1993). A expansão das áreas de pastagens foi uma consequência natural e até mesmo benéfica para o tipo de solo da região, que é impróprio, segundo Marun (1996), ao cultivo intensivo com culturas anuais, porque favorece, ao longo dos anos, a queda de seu teor original de matéria orgânica. As informações disponíveis sobre lotação das pastagens são mais divulgadas na forma de cabeças de bovinos por hectare, independentemente da idade ou peso vivo de cada categoria animal. Esta publicação é uma proposta de cálculo para estimar a capacidade de lotação das pastagens do arenito Caiuá, sob a forma, tecnicamente mais apropriada, em UA por hectare. Caracteriza-se também por ter utilizado informações estatísticas de diversas fontes e, principalmente, por ter tomado como referência a lotação de 1,20 UA por hectare de pastagem. MATERIAL E MÉTODOS Foram considerados 107 municípios com mais de 11% da área de seu território situado em solos originários do arenito Caiuá localizados nas regiões Noroeste e parte da Norte do Estado (EMBRAPA/IAPAR, 1984), ficando excluídos 12 municípios por apresentarem baixa participação (de 3,6% a 0,02%). Empregou-se o critério do INCRA (1993) para determinar a capacidade de lotação das pastagens, o qual utiliza para cada 5 categoria ou idade de bovinos, os seguintes fatores de conversão: 0,25 (categoria 1, bovinos com menos de 1 ano); 0,50 (categoria 2, bovinos com 1 a 2 anos); 0,75 (categoria 3, bovinos acima de 2 anos); e 1,00 (categorias 4 e 5, para touros e vacas). Quanto à população bovina e a área de pastagem de cada município, foi empregada a média dos dados estatísticos fornecidos pela EMATER e o DERAL. A "Campanha de Vacinação Contra a Febre Aftosa" forneceu a quantidade, em cabeças, de bovinos vacinados por categoria ou idade. No entanto, como tais valores situam-se um pouco abaixo do efetivo do rebanho, pela impossibilidade prática ainda da vacinação atingir a totalidade (100%) do rebanho, foi necessário extrair desses dados, considerados mais precisos, a relação percentual de participação das cinco categorias de bovinos que compõem o rebanho municipal. Exemplo do procedimento adotado para o cálculo da estimativa de lotação das pastagens, em unidades animais por hectare (UA/ha), de cada um dos 107 municípios que compõem a região do arenito Caiuá: a) Multiplicou-se a relação em número de cabeças vacinadas das cinco categorias de bovinos, pelo fator de conversão, obtendo-se a quantidade de bovinos vacinados em UA. 6 b) Determinou-se o percentual de participação de cada categoria vacinada. c) Multiplicou-se o percentual de cada categoria obtido anteriormente, pela população total média (85.003 cabeças), resultando daí a população bovina por categoria, em cabeças. d) Multiplicou-se pelo fator de conversão a quantidade em cabeças de cada categoria, obtendo-se a soma total do rebanho em UAs. 7 e) Finalmente a capacidade de lotação da pastagem foi estimada empregando-se uma regra de três simples com as informações sobre o total do rebanho em UAs (62.239) e a área da pastagem (55.883 ha), cujo cálculo foi feito da seguinte forma: (62.239 x l ) 55.883- 1,07. O município usado como exemplo revelou, portanto, uma lotação média de suas pastagens de 1,07 UA por hectare. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 mostra a participação de cada um dos 10? municípios na constituição da área do arenito Caiuá. Verifica-se que há municípios com 100% de seu território dentro dos limites desse tipo de solo, indo até o extremo de município cuja participação se restringe a apenas 11,08%. A lotação das pastagens dos municípios agrupados em 10 faixas de lotação, do valor mais baixo (0,85 UA/ha) ao mais alto (2,30 UAs/ha), revelou (Tabela 2) que há 45 municípios (42,1%) com lotações abaixo de 1,20 UA/ha (média de 1,05 UA/ha) e 62 municípios (57,9%) com lotações acima de 1,20 UA/ha (média de 1,73 UA/ha). 8 Tabela 1. - Participação dos municípios na formação da área do arenito Caiuá. 9 10 De forma mais simples e ilustrada, tomando-se ainda como referência principal o índice de lotação de 1,20 UA/ha, observam-se (Figura 2) os municípios com lotação de suas pastagens acima e abaixo desse valor. Fig.2. Lotação das pastagens por município da região do arenito Caiuá no Estado do Paraná. 11 É possível reverter essa acelerada tendência de degradação das pastagens do arenito Caiuá e retornar, até mesmo superando, os índices originais de lotação (ao redor de 3 UAs/ha). O IAPAR dispõe de resultados experimentais que dão suficiente suporte técnico e económico á recuperação e reforma das pastagens degradadas do arenito Caiuá. O método proposto pelo IAPAR consiste no emprego de sistemas de rotação de culturas anuais e bianuais, tanto em cultivo tradicional (Alcover, 1976; Brondani et ai., 1991; Marun e Mella, 1997), como em plantio direto (Calegari et ai., 1997; Oliveira, 1997). Aliás, a viabilidade económica deste método teve início recentemente pelo Programa de Arrendamento de Terras do Arenito Caiuá - PATER, coordenado pela Secretaria Municipal de Agricultura de Umuarama, que consiste em estimular agricultores experientes a investir no plantio direto de soja, visando reformar as áreas de pastagens degradadas. Como se utilizou valores médios de lotação, propriedades situadas em um mesmo município, e até vizinhas uma da outra, podem apresentar índices de lotação de suas pastagens bem diferentes entre si. Estas informações servem, contudo, como alerta geral para a necessidade mais urgente de recuperação e reforma das pastagens do arenito Caiuá, principalmente daquelas propriedades, teoricamente em número maior, situadas naqueles municípios com índices mais baixos de lotação de suas pastagens. CONCLUSÕES Por se tratar de uma proposta, certamente a metodologia aqui empregada deverá ser aperfeiçoada, buscando-se de preferência consenso entre os técnicos, objetivando a elaboração futura de um mapa completo e atualizado da capacidade de lotação das pastagens de todo o Paraná. 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALCOVER, M. Rotações de culturas e suas vantagens. In: FUNDAÇÃO INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ, Londrina, Manual Agropecuário para o Paraná. Londrina, IAPAR, 1976. p. 155-63. BRONDANI, L.F.; BUBLITZ, U.; MELLA, S.C. Recuperação intensiva das pastagens do arenito Caiuá - REIPAR, Curitiba, EMATER, 1991. 31p. (EMATER. Informação Técnica, 8). CALEGARI, A. et ai. Soja no Arenito: propostas tecnológicas básicas para uma agricultura sustentável. Londrina, IAPAR/EMBRAPA/EMATER, 1997. 38p. EMPRESA PARANAENSE DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL. Curitiba. Realidade municipal. Curitiba, EMATER, 1996. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Curitiba. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Paraná. Curitiba, EMBRAPA-SNLCS/SUDESUL/IAPAR, 1984, 414p. (IAPAR. Boletim Técnico, 57). INCRA - INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA' AGRÁRIA. Sistemática de desapropriação por interesse social. Instrução Normativa n° 08. Distrito Federal, 1993. MARUN, F. Propriedades físicas e biológicas de um Latossolo Vermelho-Escuro do arenito Caiuá, sob pastagem e culturas anuais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.31, n.8, p.593-97, ago.1996. MARUN, F. e MELLA, S.C. Recuperação de pastagens pela sucessão de culturas anuais e bianuais: um estudo no Noroeste do Paraná. Londrina, IAPAR, 1997. 23p. (IAPAR. Boletim Técnico, 52). MELLA, S.C. Manejo como fator de recuperação de pastagens. In: ENCONTRO SOBRE RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS, 1., Nova Odessá, SP, Anais ... IZ, 1993. p.61-78. 13 OLIVEIRA, E. Estudo de recuperação de áreas de pastagens na região Noroeste do Estado do Paraná. Londrina, IAPAR, 1997. 19p. (IAPAR. Projeto de Pesquisa). SEAB/CCFA - SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO/CAMPANHA CONTRA A FEBRE AFTOSA. Informe quadrimestral de campo. Curitiba, 1996. SEAB/DERAL - SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO/DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL. Composição do rebanho bovino por município. Núcleos regionais, 1997. 14 AGRADECIMENTOS Aos técnicos da EMATER, DERAL e AFTOSA que forneceram as informações sobre o rebanho e as áreas de pastagem. 15