Tratamento do HCC - Resultados da ablação por radiofrequência - Proposta de indicação G uilherme F elga , M arcelo B runo Abstract de R ezende, B en -H ur F erraz N eto 1 Among the potentially curative therapeutic modalities for hepatocellular carcinoma (HCC), radiofrequency ablation is an interesting option for patients with early disease. The current study reviews its indications, limitations and suggests who are the best candidates for this treatment. Resumo 32 Entre as modalidades terapêuticas potencialmente curativas para o carcinoma hepatocelular, a ablação por radiofrequência é uma opção interessante para indivíduos com doença inicial. O presente estudo revê suas indicações, limitações e sugere quais os melhores candidatos a este tratamento. A ablação por radiofrequência (RFA) é considerada, segundo a AASLD e EASL, uma modalidade de tratamento potencialmente curativa para o tratamento do carcinoma hepatocelular (CHC). Entre os métodos ablativos, sobretudo em comparação com a alcoolização percutânea e a ressecção cirúrgica, apresenta vantagens em termos de previsibilidade de seu efeito local e morbimortalidade1. Quando comparada diretamente com a injeção percutânea de etanol (PEI), a RFA apresenta como vantagens um efeito antitumoral mais previsível1. Tal superioridade resulta em maior tempo livre de doença e maior sobrevida global2,3. A taxa de recidiva tumoral nos nódulos tratados é superior na PEI em relação à RFA, particularmente em nódulos acima de 2 cm4. Em nódulos de até 2 cm, os métodos se equivalem5, porém a RFA necessita um menor número de sessões para a obtenção de necrose completa1. A RFA possui custo significativamente mais elevado que a PEI6, porém não há dados conclusivos a cerca de sua morbidade, risco de disseminação tumoral no trajeto da agulha e sua eficiência em nódulos de localização desfavorável, como aqueles subcapsulares, aqueles próximos à vesícula ou via biliar principal e aos grandes vasos hepáticos1. Assim sendo, uma vez indicado um método localmente ablativo, a RFA apresenta resultados superiores à PEI na maioria das situações, exceto nos nódulos inferiores a 2 cm, nos quais equivalem-se em termos de resposta oncológica. Como o diâmetro da ablação conseguido com a RFA é em torno de 3 cm, os nódulos acima deste tamanho podem ter necrose incompleta se tratados com este método. Idealmente, nódulos acima deste último tamanho não devem ser tratados com métodos localmente ablativos, pois é difícil que se consiga o tratamento uniforme da lesão, resultando em áreas de viabilidade tumoral. Graças à escassez de ensaios clínicos com delineamento apropriado, a qualidade da evidência científica comparando RFA e resseção cirúrgica é inferior àquela comparando os métodos localmente ablativos. Um único ensaio randomizado controlado e outros 9 ensaios não-randomizados efetuam a comparação entre os métodos7-16. A análise combinada dos dados de tais estudos permite concluir que a superioridade da resseção em relação à sobrevida em 3 anos e as taxas de recorência local. A sobrevida livre de doença em 1, 3 e 5 anos são melhores com a ressecção, enquanto a morbidade pós-operatória é menor com a RFA17. Esta diferença em termos de sobrevida possivelmente se deve à taxa mais elevada de recidiva local da doença uma vez que as taxas de recidiva à distância são semelhantes. Não houve diferença significativa entre RFA e ressecção cirúrgica para nódulos < 3 cm nos ensaios não-controlados17. Considerando-se que o efeito necrótico do probe de RFA é previsível dentro de uma área com até 3 cm de diâmetro, a ressecção parece ser inquestionavelmente superior em nódulos acima desta medida. Embora isto seja relativamente lógico, não há evidências sólidas que corroborem esta informação até o presente momento. Um ponto crucial no que tange à indicação da RFA é a seleção do paciente. Segundo Bruix et al.1, os pacientes que se beneficiam mais 1. Programa Integrado de Transplantes Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP GED gastroenterol. endosc.dig. 2011: 30(Supl.3):10-72 G. F elga , M. B. R ezende, B. F. N eto do tratamento com RFA são aqueles com bom performance status, tumores únicos ou múltiplos (até 3 nódulos de 3 cm), com a hipertensão portal e as comorbidades clinicamente significativas. Tal seleção de pacientes sugere que os candidatos ideais ao procedimento são indivíduos com contraindicações à realização de transplante ou procedimentos de ressecção por comorbidades relevantes ou, entre os cirróticos, aqueles que não possuem indicação de transplante por ausência de insuficiência hepática e aqueles que possuem alguma contraindicação para a ressecção. A localização dos nódulos hepáticos também pode limitar a RFA, uma vez que não podem situar-se em posição subcapsular, próximos à vesícula biliar ou à via biliar principal e grandes vasos. Diante do exposto, a RFA deve ser considerada o método localmente ablativo de escolha. A cuidadosa seleção de candidatos é primordial. O candidato ideal para a RFA é aquele paciente que apresenta contraindicação à ressecção ou ao transplante, quer seja por apresentar doença hepática branda, quer seja por apresentar comorbidades clinicamente relevantes ou contraindicações técnicas que inviabilizem o transplante hepático convencional ou a ressecção. As lesões selecionadas devem ter tamanho inferior a 3 cm e localização favorável, isto é, não serem subcapsulares, não serem próximas à vesícula biliar ou à via biliar principal e distante de grandes vasos. deve ser a opção primordial em indivíduos com o diagnóstico do hepatocarcinoma dentro do critério de Milão19 que possuam qualquer um dos critérios listados, ou quando houver hipertensão portal severa ou inviabilidade técnica para a RFA, sobretudo pela localização do nódulo. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. A Resolução SS-151 da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, datada de 13 de agosto de 2010, propõe critérios de irressecabilidade para o paciente com CHC, e somente os indivíduos que apresentarem um destes critérios serão candidatos ao transplante de fígado (Tabela 1)18. Analogamente, tais critérios também podem ser utilizados para determinar quais indivíduos não devem ser submetidos à ressecção, restando como opções o tratamento localmente ablativo ou o transplante hepático. O transplante hepático 8. 9. Tabela 1 – Critérios de irressecabilidade para o carcinoma hepatocelular 10. MELD > 10 Classificação de Child-Pugh B-C Sódio sérico < 130 mEq/litro Necessidade de ressecção de mais de dois segmentos hepáticos Tumores múltiplos (múltiplos - mais de 1 nódulo em segmentos distintos) 11. Bruix J, Sherman M. Management of hepatocellular carcinoma. Hepatology 2005;42:1208-1236. Lencioni R, Allgaier HP, Cioni D, Olschewski M, Deibert P, CrocettiL, et al. 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