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CITOLOGIA ONCÓTICA DO COLO DO ÚTERO: ATUAÇÃO DE EQUIPES DA
ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA PARA ALCANÇAR AS METAS DE
COBERTURA
ONCOTIC CYTOLOGY ABOUT CERVIX: ACTION TEAM OF FAMILY
HEALTH STRATEGY TO ACHIEVE THE GOALS OF COVERAGE
Francineide Campos de Sá
Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais Unileste.
[email protected]
Vitória Augusta Teles Netto Pires
Enfermeira. Graduada em Enfermagem e Obstetrícia. Mestre em Saúde e Enfermagem na área
de Planejamento, Organização e Gestão de Serviços de Saúde. Especialista em Saúde Pública
e em Educação Profissional na Área Saúde: Enfermagem pela Escola de Enfermagem da
UFMG; Especialista em Ativadores de Processos de Mudança pela Fiocruz/ENSP. Docente do
Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste. [email protected]
RESUMO
O câncer do colo do útero é uma doença com alto índice de mortalidade. De acordo com o
Instituto Nacional do Câncer (INCA) faz cerca de 4.800 vítimas fatais por ano. Sua detecção
precoce e prevenção se fazem pelo exame da citologia oncótica do colo do útero, geralmente
realizado nas Unidades de Atenção Primária a Saúde. Esta pesquisa teve como objetivo
identificar a atuação das Equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) em um município do
Vale do Aço, MG, para o alcance das metas de cobertura da citologia oncótica preconizadas
pelo Ministério da Saúde (MS). O levantamento de dados envolveu 12 trabalhadores das
equipes das Unidades da Saúde da Família (USF) que informaram sobre as estratégias
utilizadas para orientar e estimular a população feminina a realizar a citologia oncótica, os
conhecimentos da equipe sobre a população a ser atendida no seu território de abrangência e
sobre o monitoramento e avaliação do atendimento oferecido pela ESF. Os resultados
indicaram o desconhecimento da maioria dos participantes sobre as orientações preconizadas
pelo Programa Viva Mulher (MS) para a realização da citologia oncótica, desconhecem a
população de mulheres do território que deveriam realizar os exames ou que o faziam
regularmente e o monitoramento, a avaliação e a práticas educativas de orientação e estímulo
a realização do exame não são sistematizadas. Para a prevenção do câncer do colo do útero, a
atuação das equipes da ESF é fundamental. Porém, somente será efetiva se houver
capacitação das equipes, maior na abordagem da população feminina de risco, estimulando
sua maior participação e envolvimento com o cuidado da sua saúde e participação no
planejamento, monitoramento e avaliação das ações de controle do câncer do colo do útero.
PALAVRAS-CHAVE: Câncer de colo uterino. Saúde da família. Prevenção.
ABSTRACT
The cancer of the cervix is a disease with high mortality. According to the National Cancer
Institute (INCA) it makes about 4,800 fatal victims per year. Its early detection and prevention
are made by oncotical cytology examination of the cervix, usually realized in the Primary Unit
Health.This research had how goal to identify the action of the Teams of the Family Health
Strategy (ESF) in a county of Vale do Aço, MG, to achieve the coverage targets of oncotic
cytology recommended by the Ministry of Health (MS). The data lifting involved 12 workers of
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the teams from the Family Health Units (USF) that reported the strategies used to guide and
stimulate the female population to perform the oncotic cytology, the knowledge of the team
about the population to be served on its territory coverage and about the monitoring and
evaluation of care provided by the ESF. The results indicated the ignorance of the majority of
the participants about the guidelines recommended by the Program Woman to Live (MS) to
perform oncotic cytology, unaware the female population of the territory they should perform the
tests or that them did regularly, and the monitoring, the evaluation and educational practices of
guidance and encouragement to realization of the exam are not systematized. For the
prevention of cancer of the cervix, the performance of the ESF teams is fundamental. However,
only will be effective if there is training of the teams, improvement in the approach of the female
population at risk, encouraging wider participation and involvement with the care of their health
and participation in planning, monitoring and evaluation of the actions to control the cancer of
the cervix.
KEYWORDS: Cancer of the cervix. Family health. Prevention.
INTRODUÇÃO
O câncer de colo do útero é uma doença crônico-degenerativa com alto
índice de mortalidade. Conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA) esta
neoplasia é rara em mulheres até 30 anos e sua incidência aumenta
progressivamente a partir dos 45 anos (INCA, 2011).
Entre os tipos de câncer que atinge as mulheres brasileiras o câncer do
colo do útero se destaca como o primeiro mais incidente na região Norte, com
23 casos para cada 100 mil mulheres; nas regiões Centro-Oeste e Nordeste
ocupa a segunda posição, com as taxas de 20/100 mil e 18/100 mil,
respectivamente, sendo o terceiro mais incidente nas regiões Sudeste com a
taxa de 21/100 mil e no Sul com 16/100 mil (INCA, 2011).
Trata-se do segundo tumor mais frequente nas mulheres, ocupa o quarto
lugar como causa de mortalidade na população feminina, sendo superado
apenas pelo câncer de mama. Por ano é responsável por 4.800 vítimas fatais
e, no ano de 2011 foram diagnosticados 18.430 novos casos. Porém quando a
mulher é diagnosticada precocemente e recebe o tratamento adequado, ela
tem até 100% de chances de cura (INCA, 2011).
Devido as elevadas taxas de incidência e mortalidade, os serviços de
saúde continuamente procuram identificar o que leva as mulheres a não
realizarem o exame de citologia oncótica do colo do útero, uma vez que a
detecção precoce do câncer, possibilita um tratamento mais eficaz e uma
melhor qualidade de vida (FERREIRA, 2009).
O desconhecimento sobre o câncer do colo do útero e o medo da
confirmação do diagnóstico está associado a não realização do exame
citopatológico, também conhecido como Papanicolaou (OLIVEIRA et al., 2006).
Este exame é recomendado para toda mulher que já iniciou a vida sexual e que
têm ou já teve atividade sexual, sendo preconizado principalmente para a faixa
etária dos 25 aos 64 anos de idade (INCA, 2011).
O exame é recomendado também pelo Programa de Atenção Integral à
Saúde da Mulher (PAISM), implantado em 1984, que prevê que os serviços
básicos de saúde, envolvendo a estratégia saúde da família, devem oferecer
ações de prevenção do câncer do colo do útero. Este atendimento foi ampliado
em 1998, através do Programa Viva Mulher que tem como objetivo reduzir a
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mortalidade e as repercussões físicas, psíquicas e sociais desta neoplasia, por
meio da oferta de serviços para a prevenção, detecção nos estágios iniciais da
doença, o tratamento e a reabilitação dos casos que apresentem alterações
(BRASIL, 2002).
Para o registro dos casos ocorridos foi desenvolvido pelo INCA em 1999
o Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero (SISCOLO), que é uma
ferramenta de gerência das ações do programa de controle do câncer do colo
do útero. Os dados gerados pelo sistema permitem avaliar a cobertura da
população-alvo, a qualidade dos exames, a prevalência das lesões
precursoras, a situação do seguimento das mulheres com exames alterados, o
acompanhamento das mulheres e a melhoria das ações de rastreamento,
diagnóstico e tratamento (INCA, 2011).
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece como necessária
uma cobertura de 85% da população feminina para a redução das taxas de
mortalidade em até 90% (OLIVEIRA et al., 2006). Nos países onde a cobertura
dos exames citopatológicos é superior a 50% e estes são realizados a cada
três a cinco anos, as taxas de mortalidade são inferiores a três mortes por 100
mil mulheres por ano. Para aqueles com cobertura superior a 70%, essa taxa é
igual ou menor que duas mortes por 100 mil mulheres por ano (ANTILLA et al.,
2011).
Segundo Vasconcelos et al. (2010), o êxito do rastreamento do câncer
do colo do útero dependerá da ampliação da cobertura da população feminina
com a realização da citologia oncótica em massa; da reorganização da
assistência clínico-ginecológica às mulheres nos serviços de saúde; da
capacitação dos profissionais; da qualidade e continuidade das ações de
prevenção e controle da doença e do estabelecimento de intervenções mais
humanizadas no âmbito da atenção primária.
Considerando a efetividade das medidas de prevenção e de detecção
precoce, a equipe da ESF pode oferecer um melhor acompanhamento das
mulheres do território, promovendo uma maior sensibilização e compreensão
quanto à realização periódica da citologia oncótica. Os membros da equipe,
entre eles o enfermeiro, possui papel fundamental no rastreamento destas
mulheres, possibilitando sua identificação ao realizar a busca ativa (INCA,
2010; OLIVEIRA; SPIRI, 2006; VALE et al., 2010).
A equipe de saúde deve, portanto, orientar as mulheres quanto à
importância da realização do exame, para promover o conhecimento sobre a
doença e ampliar o vínculo e a confiança entre os profissionais da equipe e a
usuária (SILVA; DIAS; RODRIGUES, 2009).
Ao se considerar as elevadas taxas de incidência de câncer do colo do
útero que crescem a cada ano, afirma-se a necessidade de buscar novas
estratégias para reduzir os índices desta patologia. Ao mesmo tempo buscar
ampliar o conhecimento dos profissionais de saúde e gestores em relação ao
planejamento e definição de processos de atenção que deverão ser articulados
para favorecer a conscientização da mulher sobre a importância de se realizar
o exame citopatológico do colo uterino (MINAS GERAIS, 2012).
A proposta precursora desta pesquisa era de que a cobertura da
citologia oncótica no município pesquisado encontrava-se inferior a meta anual
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preconizada pelo Ministério da Saúde, definida pelo exame anual de no mínimo
30% das mulheres da faixa etária. Para identificação desta situação fez-se a
apreciação dos exames realizados pelo município de Timóteo em Minas
Gerais, utilizando-se o relatório de cobertura de citologia oncótica disponível
para consulta pública no site do Programa Viva Mulher da Secretaria de Estado
de Saúde de Minas Gerais (SESMG), que são elaborados a partir do
SISCOLO.
Ao analisar os dados do relatório do município, no período de janeiro de
2008 a junho de 2012, os registros indicaram que, não houve homogeneidade
nos seus índices de cobertura, resultando no descumprimento das metas
estipuladas para o período avaliado. Como as metas anuais preveem o
atendimento de 28 a 30% das mulheres na faixa etária de 25 a 59 anos e de 25
a 64 anos a partir de 2012 por ano, todas as vezes que a cobertura
permanecer abaixo dos valores preconizados, significa que algumas mulheres
estão ficando sem acesso ao exame e sem a possibilidade de identificar
previamente o diagnóstico da patologia, caso estejam apresentando alguma
alteração para câncer do colo uterino (MINAS GERAIS, 2012).
A relevância das ações de promoção e prevenção que devem ser
desenvolvidas pelas equipes da ESF, notadamente no que se refere ao
controle do câncer do colo uterino delineou o objeto deste estudo. Identificar as
ações desenvolvidas no cotidiano assistencial da equipe para estimular nas
mulheres a realização da citologia oncótica com vistas a redução da
mortalidade por câncer e garantir o alcance das metas pactuadas de cobertura
da citologia oncótica preconizadas pelo Ministério da Saúde (MS).
METODOLOGIA
Para atender ao objetivo desta pesquisa optou-se pela pesquisa descritiva
com abordagem qualitativa, ao considerá-la mais adequada para permitir que
as participantes manifestassem sobre suas vivências e experiências em
relação ao tema.
A pesquisa foi desenvolvida em um município do Vale do Aço, região
leste do estado de Minas Gerais, situado a 210 km da capital Belo Horizonte.
No município estavam cadastradas 16 equipes de saúde da família, com
16 médicos, 16 enfermeiros, 16 técnicos de enfermagem e 96 agentes
comunitários de saúde (ACS). O grupo era composto por 144 profissionais,
mas resultou em uma amostra de 12 participantes (três enfermeiros, três
técnicos de enfermagem e seis ACS), obtidos pelo princípio da saturação de
dados. Os médicos não foram encontrados nas unidades de saúde, durante o
período da coleta de dados, que ocorreu no mês de setembro e outubro de
2012, em dias e horários diferenciados.
Os participantes foram entrevistados individualmente nas USF, de
acordo com a sua disponibilidade de horários. Utilizou-se um roteiro de
entrevista semi-estruturado que abordou sobre o atendimento oferecido às
mulheres para a realização do exame de citologia oncótica, o conhecimento
sobre a meta de cobertura programada para o município, a organização do
serviço para fazer a captação da população alvo e o monitoramento e
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avaliação do atendimento oferecido pela ESF para atingir a cobertura dos
exames em cada território.
As entrevistas foram gravadas, com a manutenção do sigilo das
informações e da identidade das participantes. Os nomes foram substituídos
por siglas, de acordo com suas funções na ESF, como Agente Comunitário de
Saúde (ACS), Técnico de Enfermagem (TEC) e Enfermeiro (E) seguidos de
numerais arábicos sequenciados.
Para análise de dados procedeu-se inicialmente a transcrição na íntegra
dos depoimentos das participantes, seguida da leitura recorrente das falas para
a identificação de unidades de significado comuns. Para a discussão dos
resultados, os dados foram analisados de acordo com o referencial teórico
estudado e os resultados organizados em categorias descritivas.
Todos os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) atendendo aos critérios da Resolução nº 196 de 10 de
outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que dispõe sobre as
diretrizes e normas regulamentadoras das pesquisas envolvendo seres
humanos (BRASIL, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As metas anuais definidas pelo Ministério da Saúde, através do INCA
para o controle do câncer do colo do útero preveem o atendimento de 30% do
total das mulheres da faixa etária preconizada, ou seja, a cada ano um terço
das mulheres deverá fazer o exame citopatológico.
No período analisado, o município apresentou coberturas anuais de 75%
em 2008; 90% em 2009; 93% em 2010; 69% em 2011 e 41% até junho de
2012, de acordo com relatórios derivados do SISCOLO, não atendendo a toda
a população feminina prevista.
A partir da análise dos relatórios do período e das entrevistas realizadas,
foram definidas três categorias descritivas: orientação e estímulo à população
para a realização do exame, conhecimento da equipe sobre a população
atendida no território de abrangência e o monitoramento e avaliação pela
equipe da ESF das metas alcançadas.
Orientação e estímulo à população para a realização do exame
Os agentes comunitários de saúde e os técnicos de enfermagem
relataram que estimulavam as mulheres para que o exame fosse realizado.
Mencionaram que através das visitas domiciliares abordavam sobre os riscos a
que estão expostas quando não fazem exame e os benefícios relacionados a
prevenção da doença, conforme os relatos:
Falo que tem que fazer o preventivo pra previnir o câncer. (ACS 3)
A gente orienta sobre o risco de câncer e a prevenção [...].(TEC 1)
A gente fala sobre os benefícios do preventivo. (ACS 1)
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Durante as entrevistas observou-se que as informações repassadas às
mulheres encontravam-se restritas ao conteúdo das falas (“fazer o preventivo
pra prevenir câncer, doenças podem ser descobertas, há o risco de ter
câncer”...). Os ACS e os técnicos demonstraram ter deficiência de
conhecimentos para fazer uma abordagem mais detalhada sobre o que
significa a prevenção do câncer, os fatores de riscos ou sobre as outras
patologias que podem ser identificadas com o exame de citologia oncótica.
Esta observação sugere que estes profissionais poderiam estar com limitações
de informações ou mesmo desprovidos da devida capacitação para realizá-las,
podendo comprometer a sensibilização das mulheres.
Para uma orientação satisfatória que favoreça o conhecimento sobre o
câncer do colo do útero e o seu controle é necessário que as mulheres adotem
atitudes voluntárias de cuidado com o próprio corpo. Deve-se também
considerar os aspectos culturais e a realidade da população alvo em relação a
sua percepção sobre as medidas preventivas do controle do câncer uterino.
Segundo Orquiza (2009), através do exame de citologia oncótica podese detectar doenças que ocorrem no colo do útero antes do desenvolvimento
do câncer.
Nascimento (2010) destaca que a equipe da ESF deve desenvolver
atividades de educação em saúde para prestar esclarecimentos sobre as
formas de prevenção do câncer uterino com o objetivo de sensibilizar as
mulheres a adotarem atitudes de cuidado com a saúde no seu cotidiano.
Conhecimento da equipe sobre a população atendida no território de
abrangência
Ao serem questionados sobre o número de mulheres que deveriam
realizar o exame de citologia oncótica em cada território, os participantes
demonstraram não ter informações sobre estes registros, como exposto a
seguir:
Em número assim, eu não sei. (ACS 5)
Não sei, mas a enfermeira tem esses dados. (TEC 2)
São muitas... .(ACS 6)
O desconhecimento sobre a população a ser atendida prejudica o
planejamento da assistência que deve ser realizada pelos componentes da
equipe. Uma vez que se desconhece o público alvo e sua demanda, o
planejamento do cuidado com a saúde da população do território ficará
comprometido, com a tendência a se tornar deficitário e com o risco de não
oferecer as mulheres as medidas preventivas adequadas ao controle do câncer
do colo uterino.
Uma das atribuições da ESF na área de atuação da equipe é identificar
os grupos, as famílias e os indivíduos expostos a riscos e manter a atualização
contínua dessas informações (OLIVEIRA, 2010).
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Nogueira (2010) compartilha desta afirmativa ao considerar como
atribuição da ESF conhecer toda a população feminina do território de
abrangência, para realizar ações de controle do câncer do colo do útero que
envolve a promoção, a prevenção, o rastreamento, a detecção precoce, o
diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e os cuidados paliativos.
Os componentes das equipes da ESF devem registrar todos os
procedimentos e situações de assistência realizadas no território em sistemas
de informações próprios para favorecer a organização e gestão de trabalho da
equipe. Desta forma podem identificar e conhecer a realidade da população
sob sua reponsabilidade e estabelecer o monitoramento e a avaliação do
trabalho realizado pela equipe que deve fundamentar a desenvolvimento de
práticas efetivas de intervenção (KRUG et al., 2010).
Monitoramento e avaliação pela equipe da ESF das metas alcançadas
O monitoramento das citologias oncóticas das mulheres dos territórios
não era um procedimento de rotina e também não era realizado em conjunto
com a equipe de acordo com os relatos citados:
Ah! Não sei te responder. A enfermeira é que tem esta informação.
(ACS 2)
É anotado no prontuário, se ela não vem a gente sabe através da
enfermeira. (TEC 3)
Só através dos ACS, através da visita mensal, não tem controle [..].
(E 3)
A fragmentação do processo de trabalho emerge dos relatos
apresentados. Houve indicativos de que os trabalhadores da equipe atuavam
de modo isolado, sem incorporação de ações programadas e sistematizadas
que promovam a consistência do trabalho em equipe.
As informações disponíveis sobre os atendimentos realizados no
território quando são insuficientes podem advir do despreparo das equipes para
trabalhar com o preenchimento adequado dos instrumentos de registro de
dados. Esta situação dificulta a avaliação e interpretação dos dados
registrados, limitando o entendimento dos resultados do trabalho realizado ou
mesmo a sua utilização para planejar as ações da equipe.
Segundo Oliveira et al. (2006), para se ter uma abordagem adequada e
um atendimento integral na atenção à saúde da mulher é necessário um
trabalho em equipe para conhecer a realidade da população do território e
desenvolver ações como palestras e oficinas que estimulem a adesão ao
exame de citologia oncótica.
De acordo com Krug et al. (2010), para alcançar a efetividade desejada
na atenção básica, considera-se necessário o planejamento e a implementação
de ações de saúde que exigem conhecimentos detalhados sobre as condições
de vida das pessoas que ali residem, sobre o processo de organização das
ações realizadas na assistência à saúde e a gestão do trabalho das equipes e
dos profissionais envolvidos.
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A partir do conhecimento da realidade, da definição de estratégias e de
atividades previstas para a atenção à saúde, faz-se necessário que as equipes
garantam, no seu cotidiano, a implementação de novas ações que motivem as
mulheres a aderir ao exame.
Em relação ao conhecimento das metas previstas para o município, os
participantes não souberam informar quais eram:
Ah!... Não sei... Tem pouco tempo que tô aqui. (E1)
No município não sei a quantidade exata... (E 2)
Ah!.... Não sei. (E 3)
As equipes da ESF precisam participar e ser informadas pelos
responsáveis da gestão dos serviços de saúde sobre as ações que são
planejadas para o município. Devem conhecer as necessidades de
atendimento do seu território, as metas a serem alcançadas, bem como fazer o
monitoramento do atendimento ofertado para conhecer e acompanhar a
cobertura da sua população.
Para Feliciano, Christen e Velho (2010) é necessário haver profissionais
capacitados para planejar, organizar e desenvolver atividades que respondam
às necessidades das mulheres e estimulem sua participação e envolvimento
nas ações de prevenção e controle do câncer do colo.
Krug et al. (2010) ressaltam que os objetivos e as metas definidas para
cada equipe da ESF devem ser discutidas, pactuadas e avaliadas de forma
clara para garantir a qualidade e a efetividade da atuação das equipes.
Também deve ser estimulada a participação de todos os sujeitos envolvidos na
produção do cuidado em saúde nos fóruns de planejamento e de negociação
dos processos de atenção a saúde. A negação desta condição, ou seu
tratamento inadequado, pode tornar a equipe inativa e isenta de
responsabilidades no processo, comprometendo o cuidado em saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As equipes da ESF tem uma importante atuação na prevenção e
controle do câncer do colo do útero. A necessidade de redefinição de
estratégias que ampliem a adesão ao exame das mulheres da faixa etária
preconizada pelo Ministério da Saúde mostrou-se necessária, quando se avalia
o relato das participantes e se considera a resistência para a realização do
exame preventivo identificadas no município.
Alguns obstáculos foram observados como a deficiência de capacitação
ou orientação adequada dos ACS e técnicos de enfermagem para abordarem a
população alvo e estimulá-las a realizar os exames, o desconhecimento sobre
a população a ser atendida no território, a fragmentação do processo de
trabalho da equipe e a falta de participação da equipe no planejamento das
ações que previstas para o município e os respectivos territórios.
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Os investimentos a serem feitos para modificar o cenário encontrado
devem prever o fortalecimento de estratégias com vistas a ampliar a adesão
aos exames e a ampliação da cobertura da população alvo.
As atividades educativas regulares e variadas devem ser constantes nas
unidades de saúde e em espaços externos, além de aproveitar melhor as
oportunidades geradas pela demanda de serviço que possibilitem a abordagem
das mulheres ao comparecerem a unidade para qualquer tipo de atendimento,
visando o fortalecimento do vinculo da mulher com a equipe da ESF.
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