ENTOMOLOGIA
MANEJO PRÁTICO DA COCHONILHA
ORTÉZIA EM POMARES DE CITROS
SÉRGIO ROBERTO BENVENGA1, SANTIN GRAVENA1, JOSÉ LUIZ DA SILVA1,
NILTON ARAUJO JUNIOR1 e LUÍS CARLOS SOUZA AMORIM1
RESUMO
A cochonilha ortézia, Orthezia praelonga Douglas, é
considerada uma praga-chave no sistema de manejo ecológico
de pragas (MEP) dos citros, em vista dos aspectos bioecológicos
e da presença de plantas hospedeiras alternativas que exigem a
adoção de um conjunto de táticas para o seu manejo ecológico
em pomares cítricos. Dentre os aspectos bioecológicos de
maior importância para a compreensão das táticas de manejo,
destacam-se a presença do saco de ovos (ovissaco) no corpo
das fêmeas e a infestação da praga a partir dos ramos basais e
dos internos, pela migração natural ou introdução acidental.
As aplicações de inseticidas químicos, em mistura com biológicos ou em conjunto com inseticidas granulados sistêmicos
via solo, realizam-se em função da eclosão de ninfas a partir
do ovissaco das fêmeas. A definição do tratamento em focos
iniciais ou área total do talhão é estabelecida a partir da análise
da dispersão da praga, com ênfase ao manejo de resistência
pela técnica da rotação de inseticidas com mecanismos de ação
distintos. O conjunto de táticas que antecedem o controle químico é apresentado para orientação dos citricultores, técnicos
e consultores no manejo prático da cochonilha ortézia em
pomares.
Termos de indexação: Orthezia praelonga, manejo ecológico, amostragem, controle integrado, manejo de resistência.
1
Gravena - ManEcol Ltda. Rod. Dep. Cunha Bueno, km 221,5 - SP 253, Caixa Postal, 546 14870-990
Jaboticabal (SP).
ARTIGO TÉCNICO
292
SÉRGIO ROBERTO BENVENGA et al.
SUMMARY
PRACTICAL MANAGEMENT OF ORTEZIA
SCALE IN CITRUS ORCHARDS
Orthezia praelonga Douglas is considered a key-pest
in the ecological pest management of citrus (EPM) due to biological and ecological aspects, and the presence of alternative
hosts that demand the adoption of a set of tactics for its ecological management in citrus orchards. The presence of the egg
sack (ovissaco) in the females’ body and the pest infestation
from basal and internal branches, by the natural migration or
accidental introduction, are among the aspects of higher importance to better understand these tactics. Chemical insecticides applied in mixture with commercial insect pathogens as
aerial sprays alone or together with systemic granulated insecticides in the soil are recommended regarding the nymphs appearance from the females’ egg sacks. The treatment definition restricting to the very initial infestations or spraying to the
total area are established based on pest dispersal analysis, with
emphasis on the resistance management by the insecticide rotation technique based on mechanisms of action. Tactics that
precede the chemical control are shown in this paper for orientation of growers, technicians and consultants in the practical
management of ortezia scale in citrus orchards.
Index terms: Orthezia praelonga, ecological pest management,
sampling, integrated management, resistance management.
1. INTRODUÇÃO
A cochonilha ortézia, Orthezia praelonga Douglas (Hemiptera:
Ortheziidae), é uma das pragas de maior importância na citricultura brasileira, sobretudo em virtude do elevado custo dos tratamentos fitossanitários,
que, realizados de forma desordenada e como estratégia única de manejo,
ainda selecionam o desenvolvimento de populações resistentes da praga. Além
disso, os danos diretos e indiretos relacionados às plantas cítricas contribuem para a redução da produtividade e, conseqüentemente, da rentabilidade da atividade agrícola.
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O controle químico da cochonilha ortézia, quando preconizado como
a única estratégia de manejo da praga em pomares, leva a um contínuo uso
de inseticidas, podendo resultar em desequilíbrios biológicos pela drástica
redução da população de inimigos naturais. Nesses casos, o constante uso de
defensivos agrícolas contra a ortézia pode resultar em surto de outras espécies
de cochonilhas desprovidas de carapaça, como a cochonilha-branca,
Planococcus citri (Risso) e a cochonilha-australiana, Icerya purchasi
(Maskell). Esse desequilíbrio tende a ser mais intenso sob aplicações sistemáticas e preventivas de fungicidas no manejo de doenças, em vista da menor
incidência de fungos benéficos como agentes de controle biológico natural.
O controle conjugado é uma prática usual nos casos de ocorrência conjunta de pragas cujos índices de infestação atingem ou excedem os níveis de
ação referenciais para tomada de decisão. Já quando for detectada a presença
das diversas fases de desenvolvimento da mesma praga, o uso de um defensivo agrícola com ação sobre os ovos em associação a outro com ação sobre
as fases jovem e adulta, potencializa a ação de controle e pode resultar em
menor número de aplicações, com vantagens ecológicas e ambientais.
O manejo da cochonilha ortézia com inseticidas deve ser preconizado
nos focos iniciais de infestação, com a aplicação de um volume de calda
suficiente para a cobertura interna e externa dos ramos e folhas, direcionando-se o jato da calda inseticida sobre o alvo biológico. Em virtude da camada
cerosa sobre as diversas fases da cochonilha, a adição de óleo vegetal ou
mineral à calda inseticida, como adjuvante, também contribui para maior
eficiência no manejo da praga.
As aplicações devem ser específicas para o controle dessa cochonilha,
pois, embora o volume de calda seja similar ao utilizado para o manejo do
ácaro-da-leprose, pode haver incompatibilidade dos adjuvantes, como o óleo
vegetal ou mineral, com outros defensivos da classe dos acaricidas.
A prática do controle conjugado da cochonilha ortézia e do ácaro-da-leprose, definitivamente, não deve ser rotineira, em função da freqüência de
aplicação para cada alvo biológico. Considerar o manejo da cochonilha ortézia
pela simples adição de inseticidas organofosforados ou piretróides ao acaricida
para o ácaro-da-leprose, em aplicações conjugadas, pode ser uma estratégia
de baixa eficiência para a cochonilha, por exigir reaplicações para o controle
de ninfas e ovos no interior do ovissaco.
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O uso contínuo de inseticidas organofosforados pode favorecer a seleção de indivíduos resistentes ao aldicarb, que, embora seja um carbamato,
apresenta o mesmo mecanismo de ação, impedindo a rotação desses dois
grupos de inseticidas. Da mesma forma, os inseticidas piretróides, quando
usados de forma contínua, podem desfavorecer o manejo de resistência do
ácaro-da-leprose pelo desenvolvimento de indivíduos resistentes aos
acaricidas do mesmo grupo químico.
Assim, para o sucesso do manejo prático da cochonilha ortézia, devem-se implementar táticas associadas harmoniosamente e embasadas em
análises de custo/benefício dentro dos preceitos ecológicos, econômicos e
sociais, refletindo uma evolução do conceito de controle de pragas na
história da entomologia agrícola.
2. ASPECTOS BIOECOLÓGICOS
O conhecimento dos aspectos biológicos da cochonilha ortézia e sua
ecologia permitem a definição das estratégias de manejo mais adequadas,
visando a seu desfavorecimento em benefício dos agentes de controle biológico nos pomares cítricos.
2.1. Descrição
A cochonilha ortézia é um inseto desprovido de carapaça, mas que
apresenta, como proteção, uma cerosidade sobre o corpo. A ausência de
carapaça quitinosa permite que a cochonilha tenha elevada mobilidade na
fase de ninfa e, também, na fase adulta, propiciando a sua disseminação
natural. Nesse processo de disseminação, há forte influência do vento. Além
disso, o aspecto ceroso do corpo favorece a aderência do inseto em material
de colheita, vestimenta dos trabalhadores e maquinária, garantindo a disseminação artificial a longas distâncias.
A fêmea é desprovida de asas (áptera) e possui o corpo recoberto por
placas cerosas de cor branca, medindo cerca de 2,5 mm. Na parte posterior
do corpo, desenvolve uma cauda alongada denominada tecnicamente de
ovissaco, também recoberta por placas cerosas. No interior do ovissaco, são
depositados os ovos, em formato de bastonetes, recobertos de cera branca e
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envoltos por longos filamentos cerosos. O ovissaco pode atingir até 8 mm de
comprimento e tem como função a proteção dos ovos, garantindo a eclosão
das ninfas.
As ninfas recém-eclodidas permanecem protegidas no interior do
ovissaco até a primeira mudança do estádio ninfal (primeira ecdise), propiciando, assim, a migração gradativa dos insetos para os tecidos vegetais,
visando à perpetuação da espécie. A diferença básica entre o primeiro e o
segundo estádios ninfais é o tamanho. As ninfas de machos e fêmeas são
iguais; entretanto, quando os machos atingem o segundo estádio ninfal,
migram para o tronco da planta e ficam reunidos até atingir a fase adulta.
Os machos são azulados e com filamentos cerosos no final do corpo.
São providos de asas semitransparentes e, dessa forma, garantem a cópula,
podendo ser facilmente observados ao entardecer, voando em grande quantidade ao redor das plantas infestadas ou, mesmo, copulando as fêmeas.
2.2. Aspectos biológicos
Os estudos biológicos de O. praelonga realizaram-se em condições
laboratoriais com temperatura de 23 ± 4ºC, umidade relativa do ar de 74 ±
22% e fotofase de 14 horas, tendo como substrato brotos de batata, Solanum
tuberosum L. cultivar Omega, durante três gerações sucessivas. Nessas condições, verificou-se que o período médio de incubação dos ovos foi de 5
dias. Após a eclosão das ninfas, as fêmeas apresentaram três estádios ninfais
com a duração média de 42 dias, com o ciclo de vida (ovo adulto) completando-se em cerca de 47 dias. A longevidade média das fêmeas foi de 130
dias, sendo a duração média dos períodos de pré-oviposição, oviposição e
pós-oviposição de 26, 34 e 31 dias respectivamente (LIMA, 1981). A
fecundidade das fêmeas foi de 70 a 100 ovos, tendo sido avaliada pelo
confinamento dos insetos sobre plantas cítricas.
Os machos apresentaram quatro estádios ninfais com a duração média
de 51 dias. O ciclo de vida (ovo a adulto) foi, em média, de 56 dias. As ninfas
alimentam-se até o segundo estádio e, nos demais remanescentes, permanecem agrupadas até a emergência dos adultos. Na fase adulta, os machos podem copular mais de uma vez.
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2.3. Hospedeiros
O conhecimento dos hospedeiros alternativos da cochonilha ortézia
exalta a importância da inspeção preventiva nos pomares como uma das táticas de manejo, pois, havendo comprovação da capacidade de adaptação a
novas plantas, o tráfego de máquinas e equipamentos ou a aquisição de plantas ornamentais facilita a sua introdução em áreas não infestadas. Nos casos
em que se observarem ervas daninhas hospedeiras alternativas, deve-se
planejar a sua eliminação nas proximidades dos focos da praga para impedir
a migração, eliminando os locais de refúgio e sobrevivência após a pulverização das plantas cítricas.
A introdução dessa cochonilha na propriedade pode, então, ser de modo
acidental, através da aquisição de plantas ornamentais infestadas para o
emprego em projetos paisagísticos. Assim, a aquisição de mudas sadias deve
ser extensiva à ornamentação, bem como realizada na implantação de pomares cítricos, cuja preocupação com a sanidade das mudas impulsionou a
instalação de viveiros telados com mudas certificadas e fiscalizadas.
A lista de plantas consideradas hospedeiras de O. praelonga é extensa,
contendo mais de 30 famílias botânicas e uma centena de espécies vegetais.
Na Tabela 1, adaptada de LIMA (1981), estão citadas algumas plantas, mencionando-se a família, a espécie e, quando conhecido, o nome comum para
facilitar a consulta diária dos técnicos e produtores.
2.4. Dispersão
A elevada incidência de pomares cítricos infestados pela cochonilha ortézia
ou, mesmo, unidades produtivas de uma mesma propriedade citrícola, ressaltam a elevada capacidade de disseminação e adaptação a novos hospedeiros.
A dispersão da cochonilha a longas distâncias se pode realizar mediante material vegetativo, como ramos ou mudas infestados por ninfas ou
fêmeas adultas que, em contato com plantas cítricas ou hospedeiros alternativos, garantem a sobrevivência e reprodução do inseto em áreas ainda não
infestadas. Essa dispersão artificial também se pode verificar no transporte
de mudas cítricas ou plantas ornamentais infestadas e pelo uso de material de
colheita comunitário.
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Tabela 1. Relação das plantas hospedeiras da cochonilha ortézia, Orthezia praelonga
Espécie vegetal
Família botânica
Nome comum
Acanthaceae
Sem referência1
Rubrastilis
Sanchezia
Tumbérgia
Graptophylum sp.
Hemigraphis colorata
Sanchezia nobilis
Thunbergia speciosa
Amaranthaceae
Achyrantes sp.
Amaranthus sp.
Rabo-de-gato
Caruru
Anacardiaceae
Anacardium occidentale
Mangifera sp.
Cajueiro
Mangueira
Apocynaceae
Plumeria alba
Jasmim-de-caiena
Araceae
Anthurium sp.
Phylodendron sp.
Antúrio
Cipó-imbé
Asclepiadaceae
Cryptostegia mandagascariensis
Criptostégia
Bignoniaceae
Spathodea campanulata
Tecoma speciosa
Espatódea
Ipê-roxo
Bromeliaceae
Ananas sativus
Abacaxizeiro
Caricaceae
Carica papaya
Mamoeiro
Caprifoliaceae
Lonicera sp.
Enredadeira
Combretaceae
Terminalia catappa
Chapéu-de-sol
Compositae
Baccharis sp.
Bidens pilosa
Chrysanthemum morifolium
Coreopsis grandiflora
Dahlia sp.
Eupatorium sp.
Vernonia squamulosa
Wedelia paludosa
Vassoura
Picão-preto
Crisântemo
Coroa-de-cristo
Dália
Cambará-roxo
Assa-peixe
Malmequer
Convolvulaceae
Ipomoea fistulosa
Algodão-bravo
Curcubitaceae
Curcubita pepo
Aboboreira
Continua
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Tabela 1. Continuação
Espécie vegetal
Família botânica
Nome comum
Euphorbiaceae
Acalypha wilkesiana
Croton sp.
Euphorbia thiracalli
Manihot utilissima
Phylanthus corcovadensis
Phylanthus distinchus
Sapium sp.
Acalifa
Cróton
Avelós
Mandioca
Quebra-pedra
Quebra-pedra
Leiteiro
Generaceae
Sem referência1
Besleria sp.
Gramineae
Brachiaria purpurascens
Panicum plantagineum
Saccharum sp.
Capim-fino
Capim-angola
Cana-de-açúcar
Hederaceae
Hedera helix
Hera-dos-muros
Labiatae
Coleus sp.
Hyptis sp.
Leonotis nepaentifolia
Boldo-de-arvorezinha
Sem referência1
Cordão-de-frade
Leguminosae
Bauhinia alba
Caesalpinia peltophoroides
Cajanus indicus
Cassia sp.
Haematoxylon sp.
Macroptilium sp.
Pterocarpus violaceus
Bauinia-rosa
Sibipiruna
Feijão-andu
Mata-pasto
Sem referência1
Sem referência1
Aldrago
Liliaceae
Dracena sp.
Dracena
Loranthaceae
Loranthus sp.
Carmesim-vermelho
Malphigiaceae
Malphigia sp.
Acerola
Malvaceae
Gossypium sp.
Hibiscus syriacus
Malvastrum coromandelianum
Malviscus sp.
Sida sp.
Algodoeiro
Rosa-da-síria
Malva
Vitória
Guanxuma
Moraceae
Ficus canoni
Figueira
Continua
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Tabela 1. Conclusão
Espécie vegetal
Família botânica
Nome Comum
Eugenia jambos
Psidium guajava
Myrtaceae
Jambo-rosa
Goiabeira
Nyctaginaceae
Bouganvillaea spectabilis
Mirabilis jalapa
Pisonia sp.
Buganvílea
Maravilha
Piranha
Palmaceae
Cocos nucifera
Coqueiro
Polipodiaceae
Sem referência1
Davalia surinamensis
Polygoniaceae
Coccoloba uvifera
Triplaris filipensis
Cajueiro-bravo
Pau-mulato
Portulacaceae
Portulaca sp.
Onze-horas
Rosaceae
Eriobotrya japonica
Rosa sp.
Nespereira
Roseira
Rubiaceae
Coffea arabica
Gardenia jasminoides
Ixora coccinea
Parderia sp.
Pentas sp.
Cafeeiro
Gardênia
Ixora
Sem referência1
Estrela
Rutaceae
Citrus latifolia
Citrus limonia
Citrus limetta
Citrus reticulata
Citrus sinensis
Lima ácida Tahiti
Limão Cravo
Lima
Tangerina
Laranja-doce
Solanaceae
Brunfelsia sp.
Capsicum sp.
Solanum tuberosum
Manacá-amarelo
Pimentão
Batateira
Sterculiaceae
Sem referência1
Dombeya acutangula
Umbelifera
Pimpinella anisum
Anis
Verbenaceae
Aegiphila pernabucensis
Tamanqueira
Violaceae
Viola sp.
1
Violeta
Sem referência do nome popular na língua portuguesa. Adaptado de LIMA (1981).
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Uma vez introduzida no pomar, a disseminação ocorre naturalmente
sob influência do vento, que pode acelerar o deslocamento dos insetos para
as plantas sadias, especialmente das ninfas recém-eclodidas. Entretanto, em
vista da ausência de carapaça para proteção do corpo, que confere mobilidade às ninfas e adultos, ocorre a dispersão para as diversas partes vegetativas
e entre as plantas nos pomares adensados. Além disso, os machos, por serem
alados (asas), acompanham as fêmeas para garantia da fecundação.
A disseminação é facilitada pelas operações de colheita, seja através
da roupa do colhedor que pode conter insetos aderidos e, involuntariamente,
transferir o inseto para novas plantas do mesmo talhão, seja da movimentação do material de colheita, pelo mesmo princípio, infestando também
outros talhões da propriedade. O tráfego de máquinas e equipamentos também tem participação ativa na disseminação da praga, especialmente pela
barra de herbicidas, pois, além das plantas cítricas, várias ervas daninhas de
ocorrência freqüente nos pomares, como a trapoeraba, o picão-preto e a
guanxuma, também hospedam a praga. Nesses casos, havendo contato da
barra de herbicidas com as ervas daninhas infestadas, ou, mesmo, com os
ramos baixeiros da planta cítrica infestada, os insetos podem ficar aderidos
ao equipamento e ser transportados para outras plantas.
A dispersão da cochonilha ortézia também pode ser favorecida por
outros insetos, especialmente por dípteros (moscas) que, em contato com as
plantas infestadas, acabam por ter indivíduos aderidos ao corpo. Do mesmo
modo, outros animais que transitam por entre as plantas com presença da
cochonilha ortézia podem ser considerados como agentes de disseminação,
sendo essa modalidade de dispersão de insetos-pragas denominada forésia.
3. INFESTAÇÃO E DANOS
3.1. Infestação
Em infestação inicial da praga não há sintomas característicos, resumindo-se, exclusivamente, à detecção visual da ortézia nas plantas, podendo a localização auxiliar na identificação da forma de introdução do inseto na área.
Para as introduções acidentais por equipamentos agrícolas, como a
barra de herbicidas, o início do ataque ocorre a partir dos ramos basais das
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plantas, influenciado pela migração da praga a partir de ervas daninhas, bem
como nas brotações internas pelo lado inferior da folha, quando os insetos
migram através do tronco em direção ao centro da planta. Nas plantas em
que a presença da cochonilha estiver visivelmente nas brotações externas, há
indicativos de que a introdução tenha ocorrido durante a operação de colheita, pois, com o contato dos colhedores e seu material, os insetos permanecem
aderidos à superfície vegetativa das plantas.
Nessas, a ortézia suga continuamente a seiva para sua alimentação e,
em tal processo, elimina constantemente as suas excreções, que são compostas por água e açúcares. Por essa composição, a excreção é atrativa para
moscas de diversas espécies, que auxiliam no controle biológico da
cochonilha, por disseminar entomopatógenos aderidos ao corpo, combatendo as pragas. Outros insetos também estão associados à cochonilha ortézia,
como a formiga-doceira, vulgarmente conhecida como formiga-lava-pés; entretanto, é uma relação de simbiose em que a cochonilha fornece “gratuitamente” o alimento para a formiga em troca de proteção contra o ataque de
seus inimigos naturais.
Após um período de infestação, o líquido eliminado pela cochonilha
ortézia sobre as folhas e frutos propicia condições para o desenvolvimento
da fumagina, o fungo Capnodium citri, de coloração preta e que recobre as
estruturas vegetativas e reprodutivas das plantas. Entretanto, a presença de
fumagina não deve ser considerada exclusiva da ocorrência de cochonilha
ortézia, pois esse fungo oportunista também se pode encontrar nos casos em
que as plantas cítricas estão sendo infestadas por pulgão, mosca-branca,
cochonilhas verde e branca e, até mesmo, por psilídeos.
3.2. Danos
Os danos causados pela cochonilha ortézia podem ser classificados
em diretos e indiretos, em função do grau de infestação e do período de
exposição das plantas ao ataque da praga respectivamente.
Os danos diretos referem-se à extração contínua de seiva para a alimentação e à constante injeção de toxinas durante esse processo. Assim, o
primeiro dano indireto é o definhamento das plantas pelas toxinas e pelo
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desenvolvimento da fumagina, que interfere negativamente sobre a atividade fotossintética da planta, cujo definhamento é visualizado pela queda de
folhas e frutos. Além disso, os frutos que não se desprendem da planta são
pequenos, com baixos teores de açúcar e ácidos, não apresentando valor para
a comercialização. Não bastasse isso, a presença de fumagina sobre frutos
em outros ramos da planta causa a depreciação visual, além de onerar o custo
de produção por exigir a limpeza mecanizada para ser exposto ao mercado
consumidor.
4. CONTROLE BIOLÓGICO
Entre os agentes de controle biológico da cochonilha ortézia em
pomares cítricos, consideram-se os insetos predadores e os fungos
entomopatogênicos. Como inseto predador de ovos, cita-se a larva da mosca
Gitona brasiliensis (Lima) (Diptera: Drosophilidae) e, como predador de adultos e ninfas, as joaninhas Scymnus sp. e Azya luteipes (Mulsant) (Coleoptera:
Coccinellidae), as larvas do bicho-lixeiro Chrysopodes sp. e Ceraeochrysa
cubana (Hagen) (Neuroptera: Chrysopidae), e os adultos e ninfas do percevejo predador Heza insignis (Stal) (Hemiptera: Reduviidae). Entretanto, as
referências indicam apenas a presença desses inimigos naturais em plantas
severamente infestadas pela cochonilha ortézia, sem, contudo, mencionar a
capacidade de predação ou mesmo sua influência na redução populacional
da praga.
Os fungos entomopatogênicos, considerados como agentes de eficácia no controle biológico da cochonilha ortézia em todos os seus estádios de
desenvolvimento, incluem o Verticillium lecanii (fungo-branco), o
Colletotrichum gloeosporioides (fungo-vermelho) e o Fusarium sp. (mofo-vermelho). A infecção da cochonilha (epizootia) pelos fungos branco e
vermelho é mais significativa no período chuvoso do ano e, para o mofo-vermelho, ainda se observam infecções durante o período seco. Outros
fungos também são citados como inimigos naturais da cochonilha ortézia,
como Beauveria sp., Aschersonia sp. e Cladosporium sp., sendo esse último
de ocorrência esporádica e associado a cochonilhas mortas.
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Tabela 2. Toxicidade de formulações de produtos fitossanitários ao Boveril PM,
Beauveria bassiana1
Classe de Toxicidade
Produto comercial
Ingrediente ativo
Categoria agronômica
Compatível (não há restrição para a mistura e ação sinergista)
Cefanol
Acephate
Inseticida/acaricida
Decis 25 CE
Deltamethrin
Inseticida
Dimexion
Dimethoate
Inseticida/acaricida
Kumulus DF
Enxofre
Fungicida/acaricida
Meothrin 300
Fenpropathrin
Inseticida/acaricida
Orthene 750 BR
Acephate
Inseticida/acaricida
Provado
Imidacloprid
Inseticida
Rufast 50 SC
Acrinathrin
Acaricida
Tiomet 400 CE
Dimethoate
Inseticida/acaricida
Torque 500 SC
Óxido de fenbutatin
Acaricida
Vertimec 18 CE
Abamectin
Inseticida/acaricida
Moderadamente Tóxico (não há restrição para a mistura)
Omite 720 CE BR
Propargite
Acaricida
Talstar 100 CE
Bifenthrin
Inseticida/acaricida
Tóxico (inadequado para a mistura)
Danimen 300 CE
Fenpropathrin
Inseticida/acaricida
Tedion 80
Tetradifon
Acaricida
Turbo
Betacyfluthrin
Inseticida
Muito Tóxico (não misturar e respeitar intervalo de 15 dias para a aplicação)
Agral
Etilenoxi
Espalhante adesivo
Amistar 500 WG
Azoxystrobin
Fungicida
Applaud 250
Buprofezin
Inseticida/acaricida
Break Thru
Poliéter polimetil
Espalhante adesivo
Continua
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Tabela 2. Conclusão
Classe de Toxicidade
Produto comercial
Captan 500 PM
Ingrediente ativo
Categoria agronômica
Captan
Fungicida
Cercobin 700 PM
Tiofanato metílico
Fungicida
Cobox
Oxicloreto de cobre
Fungicida/bactericida
Cordial 100
Pyriproxyfen
Inseticida
Cuprogarb 500
Oxicloreto de cobre
Fungicida/bactericida
Derosal 500 SC
Carbendazin
Fungicida
Dicarzol 500 PS
Formetanato hidrocloreto
Inseticida/acaricida
Dimetoato CE Milênia
Dimetoato
Inseticida/acaricida
Dithane PM
Mancozeb
Fungicida/acaricida
Ethion 500 RPA
Ethion
Inseticida/acaricida
Extravon
Alquil fenol poliglicol-éter
Espalhante adesivo
Folicur 200 CE
Tebuconazole
Fungicida
Folidol 600
Paration metil
Inseticida/acaricida
Folpan 500 PM
Folpet
Fungicida
Frowncide 500 SC
Fluazinam
Fungicida/acaricida
Hokko Cupra 500
Oxicloreto de cobre
Fungicida/bactericida
Hokko Cyhexatin 500
Cyhexatin
Acaricida
Karate 50 CE
Lambdacyhalothrin
Inseticida
Kelthane 480
Dicofol
Acaricida
Manzate 800
Mancozeb
Fungicida/acaricida
Match CE
Lufenuron
Inseticida/acaricida
Metiltiofan
Tiofanato metílico
Fungicida
Ofunack 400 CE
Piridafenthion
Inseticida/acaricida
Sevin 480 SC
Carbaryl
Inseticida/acaricida
Sipcatin 500 SC
Cyhexatin
Acaricida
Sportak 450 CE
Procloraz
Fungicida
Tiger 100 CE
Pyriproxyfen
Inseticida
Trebon 100 SC
Etofenprox
Inseticida
1
Adaptado: Folheto técnico da ITAFORTE Bio-Produtos Ltda e ALVES et al., 2000.
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O controle biológico natural da cochonilha nas plantas cítricas pode
ser incrementado com a aplicação de Beauveria bassiana ou V. lecanni,
ambos produzidos por empresas do ramo e com resultados promissores.
Entretanto, a viabilidade do controle biológico com fungos entomopatogênicos
depende da compatibilidade desses agentes com os defensivos agrícolas aplicados durante a safra ou período de maior epizootia no pomar. Na Tabela 2,
encontram-se os defensivos e a classe de toxicidade ao fungo B. bassiana,
comercializado como Boveril PM.
5. MANEJO PRÁTICO DA COCHONILHA ORTÉZIA
5.1. Inspeção
As modalidades de introdução da cochonilha ortézia em pomares
cítricos foram classificadas em natural, favorecida pelo vento, ou artificial,
através de material vegetativo infestado, de máquinas e do homem. A incidência de casos de introdução artificial reforça que a prevenção é a melhor
estratégia para a manutenção da sanidade do pomar.
O sistema de prevenção permanente pode ser adotado pela implantação de quebra-ventos e cercas vivas para reduzir a disseminação natural
pelo vento, bem como pela capacitação de mão-de-obra no reconhecimento
da praga e as formas de prevenção, atuando como inspetores fitossanitários
para impedir a entrada da cochonilha ortézia pela porteira.
Deve-se efetuar inspeção preventiva em todo o veículo que esteja
autorizado a percorrer a propriedade, especialmente aqueles provenientes de
outros pomares com histórico de ocorrência da praga, mas, sobretudo, aqueles que transportam material vegetativo, como plantas ornamentais ou
mudas cítricas, além dos veículos de colheita ou de colhedores. O material
de colheita, quando não for de uso exclusivo da propriedade, também deve
ser rigorosamente inspecionado antes da liberação para os colhedores. A restrição do tráfego de veículos e pessoas não autorizadas, adotada em muitas
propriedades citrícolas, para prevenção do cancro cítrico, também contribui
para menor probabilidade de introdução acidental da cochonilha ortézia.
Um programa de vigilância constante deve-se implementar da porteira para dentro da propriedade em inspeções rotineiras pela equipe de
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inspetores de pragas. Esses profissionais são capacitados para o reconhecimento das pragas e inimigos naturais de ocorrência na cultura dos citros,
bem como no método adequado de inspeção na planta. Em intervalos
freqüentes, percorrem o pomar da propriedade, que deve ser dividido em
talhões para facilitar a atuação sob os focos iniciais de infestação, e estabelecem os níveis de infestação das pragas e ocorrência de inimigos naturais
que serão interpretados pelo manejador de pragas para o estabelecimento das
estratégias de manejo mais adequadas.
Nas inspeções rotineiras, os inspetores de pragas devem observar, atentamente, os ramos basais das plantas, pois a migração da praga nesses casos
pode ser a partir de ervas daninhas pela introdução acidental através da barra
de herbicidas. Entretanto, a face inferior das folhas em brotações internas
também deve ser rigorosamente analisada, pois os insetos podem ter migrado pelo tronco em direção ao centro da planta. O método proposto pela
Gravena ManEcol Ltda é que sejam inspecionados 3 ramos por planta, em
1% de plantas do talhão, identificando-se qualquer fase de desenvolvimento
da praga.
Embora, tecnicamente, o método de inspeção da cochonilha ortézia
esteja muito bem definido, o indicativo da presença da praga na planta é, em
muitos casos, através da visualização do desenvolvimento do fungo da
fumagina, que torna enegrecidas as partes vegetativas e reprodutivas das plantas. Entretanto, a ocorrência de fumagina não é exclusiva da presença da
cochonilha ortézia, podendo ser favorecida também por pulgão, cochonilha-branca, cochonilha-verde, mosca-branca ou, mesmo, pelo psilídeo, embora
com variações na intensidade, mas que exige a confirmação do agente
causador pelo inspetor de pragas.
Definida a presença da cochonilha ortézia no talhão da propriedade,
deve-se realizar uma inspeção de varredura, avaliando-se ramos basais e
internos, tronco e presença de fumagina. Essa operação é de suma importância, pois serão demarcadas as plantas infestadas (focos) e, assim, definida
a modalidade de controle em reboleira, apenas nas plantas-focos, ou na área
total do talhão. Por definir a modalidade de controle da praga no talhão, essa
inspeção de varredura exige profissionais qualificados e atenção redobrada,
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pois, em baixa infestação da praga na planta, a visualização é, de certa
forma, dificultada, em virtude da localização estratégica em ramos basais ou
folhas internas e da ausência de fumagina pelo curto período de colonização
na planta.
Vale ressaltar que a inspeção de varredura deve-se realizar com freqüência nos talhões infestados pela cochonilha ortézia, mesmo após realizar
o conjunto de táticas de controle, em vista da dificuldade de visualização da
praga em baixa infestação. O término dessas inspeções deverá ser quando,
pela análise do histórico de plantas infestadas, não se detectarem novos
focos de infestação. Além disso, em termos econômicos, antecipando-se a
detecção da planta-foco, menos oneroso será o controle e, também, poderá
impedir a disseminação da praga para os demais talhões da propriedade,
justificando a manutenção da inspeção de varredura.
5.2. Modalidades de controle
Pela inspeção de varredura será definido o número de plantas e/ou
focos de infestação da cochonilha ortézia no pomar, utilizado como parâmetro
para estipular o controle em reboleira ou área total do talhão.
Recomenda-se o controle em reboleira nos casos específicos em que
for detectada apenas uma planta ou foco de infestação no talhão. Para controlar a cochonilha ortézia na planta-foco, demarcam-se 25 plantas, distribuídas em 5 ruas ao redor da planta infestada. No caso de haver um foco de
infestação, o controle deve ser extensível às duas ruas paralelas e até quatro
plantas, definidas a partir da última rua e planta infestada respectivamente.
Em ambos os casos, a pulverização deve seguir em direção à planta-foco ou
centro do foco de infestação para evitar a dispersão pelo vento do equipamento de pulverização.
Recomenda-se o controle em área total quando se notificam mais de
dois focos em pontos extremos do talhão, ou índice superior a 20% de ramos
com presença de qualquer fase de desenvolvimento da cochonilha. A experiência indica que o controle em reboleiras, nesses casos, propicia o surgimento
de novos focos no talhão, em função da dificuldade do inspetor em detectar
todas as plantas a pulverizar, especialmente, em início de infestação.
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5.3. Equipamento de pulverização
A escolha do equipamento de pulverização é, na maioria das vezes,
estabelecida em função da necessidade de rendimento operacional; nesse caso,
a escolha recai sobre o uso de turboatomizadores. Para o manejo da cochonilha
ortézia, cujo controle deve ser priorizado em focos iniciais, também pode ser
viável o equipamento de lança manual “pistolas”.
Para auxiliar na definição do equipamento mais adequado no manejo
da cochonilha ortézia a cada propriedade, deve-se analisar o local de infestação
da praga na planta e o modo de ação do inseticida a utilizar. Havendo alta
infestação nas folhas de brotações internas e, caso a decisão seja pelo emprego de inseticidas com ação de contato, recomenda-se o equipamento de lança manual, para o direcionamento do jato aos locais de infestação. Os inseticidas com ação sistêmica podem ser aplicados com equipamento
turboatomizador; entretanto, recomenda-se proceder à retirada dos brotos
internos e dos ramos infestados das plantas-foco, pois, além de reduzir drasticamente o nível de infestação, garante melhor molhamento interno da planta.
5.4. Manejo ambiental
Esse manejo é definido como um conjunto de táticas auxiliares ao controle químico ou biológico da praga, as quais visam desfavorecer aspectos da
bioecologia, no intuito de amenizar o uso de defensivos agrícolas e favorecer
o controle biológico na busca do equilíbrio populacional no meio ambiente.
As estratégias de manejo ambiental devem ser planejadas na implantação do pomar, através do dimensionamento dos talhões e carreadores
esquadrejados em meio a quebra-ventos que auxiliam na redução da disseminação natural da cochonilha ortézia e outras pragas-chave na citricultura.
As cercas vivas, por impedirem a entrada indevida de pessoas e veículos,
também devem ser planejadas na propriedade agrícola.
Com o pomar implantado, deve-se restringir a entrada de pessoas,
máquinas e equipamentos nos talhões infestados pela praga, em virtude da
especialidade desse inseto em utilizar métodos artificiais para a dispersão. O
mesmo raciocínio deve-se aplicar durante a fase de colheita, principalmente
pela movimentação de pessoas, material e máquinas, que impulsionam a
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dispersão da praga para talhões isentos de infestação. Nesse caso, a estratégia prioritária é finalizar a colheita pelos talhões infestados, reduzindo os
problemas com carência dos defensivos, quando o controle químico antecipar a colheita para reduzir a infestação da praga. Se não for possível, é
primordial respeitar o período de carência dos inseticidas e o de reentrada
dos colhedores no talhão pulverizado em pré-colheita, além de desinfestar
todo o material dos colhedores antes de prosseguir com a atividade em
outros talhões.
A poda interna e a de reforma, embora já abordadas no tangente à
definição do equipamento de pulverização, complementam a ação dos inseticidas de contato por reduzir, substancialmente, o nível de infestação da
praga, além de favorecer a cobertura interna das folhas e ramos pela calda do
defensivo agrícola. Desse modo, fica registrada como mais uma estratégia
de manejo ambiental da cochonilha ortézia.
Visando desfavorecer a reprodução da cochonilha, elaborou-se a
estratégia de limpeza do tronco, pois os machos agrupam-se nesse local até
atingir a fase adulta. Além disso, é através do tronco que as ninfas migrantes,
a partir de ervas daninhas, alcançam a brotação interna ou mesmo os ramos
basais. Desse modo, procedendo-se à limpeza do tronco com jato de água,
aplicação de calda sulfocálcica ou mesmo com o uso de lança-chamas, haverá redução direta no índice de infestação. Entre as modalidades de limpeza
do tronco, o uso de água apenas retira o inseto, podendo ocorrer morte natural por ausência de alimento em área desprovida de ervas daninhas, ou quando retornar para a planta pulverizada. No caso da calda sulfocálcica, além da
eliminação de musgos que abrigam ninfas da cochonilha ortézia, apresenta
ação de choque sobre as fases infestantes no tronco, ao passo que o lança-chamas, faz o controle total de insetos sem a possibilidade de haver remanescentes por resistência. Nesses dois últimos casos, deve-se considerar que
haverá também a eliminação de inimigos naturais, podendo ser desfavorável
para o manejo ecológico da praga.
A presença de plantas ornamentais e, mais especificamente nos pomares cítricos, das ervas daninhas hospedeiras da cochonilha ortézia (Tabela 1),
torna obrigatória a eliminação das plantas daninhas sob a copa das plantas
no foco ou em área total, bem como a retirada das plantas ornamentais nas
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proximidades do pomar. Para a eliminação das plantas daninhas, empregamse herbicidas de pós e de pré-emergência, nessa seqüência, permanecendo
com a utilização exclusiva de herbicidas pré-emergentes até a erradicação da
praga no foco, retornando, a partir de então, ao manejo correto das plantas
daninhas preconizado pelo Manejo Ecológico de Pragas.
Em ambos os casos, o objetivo é eliminar os hospedeiros alternativos
onde a cochonilha pode sobreviver e propiciar a migração da praga na planta
cítrica após o término do resíduo do defensivo agrícola.
5.5. Controle químico
Tal controle da ortézia se deve realizar no pomar cítrico somente após
a avaliação das estratégias de manejo ambiental passíveis de implementação.
Os inseticidas registrados para o controle da cochonilha ortézia estão
agrupados em quatro grupos químicos, a saber: organofosforados (dimethoate,
ethion, methidathion, parathion e acephate), piretróides (fenpropathrin,
betacyfluthrin e bifenthrin), carbamatos (aldicarb) e nicotinóides
(thiamethoxan) (Tabela 2). Para o manejo de resistência, os inseticidas do
grupo químico organofosforado não devem ser rotacionados com carbamatos,
por apresentar o mesmo mecanismo de ação no controle da cochonilha ortézia.
A repetição dos inseticidas via foliar com mecanismos distintos de
ação deve ser em intervalos quinzenais, visando ao controle das ninfas
recém-eclodidas do ovissaco, durante o período em que, pela inspeção, ainda
houver insetos remanescentes. Nessa operação, a adição de óleo mineral ou
vegetal na concentração de 0,5% incrementa a eficiência dos inseticidas. O
manejo com defensivos agrícolas é mais efetivo com a pulverização do inseticida via foliar em conjunto com a aplicação de um granulado sistêmico via
solo ao redor de toda a copa da planta, nos focos de controle da praga.
O controle biológico natural com os fungos V. lecanii, Fusarium sp. e
C. gloeosporioides pode ser auxiliado com a aplicação do fungo B. bassiana,
produzido por empresas do ramo. Em muitos casos, o controle químico pode
ser efetuado de forma conjugada, associando-se o fungo B. bassiana a formulações de inseticidas compatíveis (Tabela 2), havendo a possibilidade de
redução na dose do inseticida químico, incrementando a seletividade aos inimigos naturais.
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6. COMENTÁRIOS FINAIS
O manejo da cochonilha ortézia não deve ser resumido ao uso exclusivo de inseticidas, sob pena de haver o desenvolvimento de indivíduos
resistentes, exigindo reaplicações mais freqüentes que, além de onerar o
custo dos tratamentos fitossanitários, desfavorecem a ação dos agentes de
controle biológico natural.
O conjunto de táticas para o sucesso do manejo dessa cochonilha e
que foram abordadas no artigo está listado da forma seqüenciada abaixo,
para auxiliar a adoção pelos citricultores e técnicos na busca de uma citricultura
sustentável e competitiva ante os novos desafios fitossanitários:
1. Restringir a entrada de pessoas, máquinas e equipamentos no
talhão;
2. Realizar a colheita após o término dos demais talhões não infestados;
3. Fazer uma inspeção de varredura nas plantas do(s) talhão(ões)
infestado(s);
4. Decidir pelo controle em reboleira do foco inicial ou área total do
talhão;
5. Eliminar as ervas daninhas na área-foco de manejo da cochonilha;
6. Podar os ramos internos infestados para melhor cobertura interna da
calda inseticida;
7. Programar as aplicações rotacionadas de inseticidas químicos e
biológicos;
8. Restringir as operações na área pulverizada até completo efeito dos
inseticidas;
9. Planejar a implantação de cercas vivas como medida de manejo
ambiental;
10. Adotar as estratégias preventivas para impedir a reinfestação das
plantas.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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