East Timor Agriculture Network and Virtual Library
Rede agrícola e biblioteca virtual de Timor Leste
Documento:TA022
Interesse da implementação de medidas de protecção
integrada na agricultura de Timor-Leste
Author: Barros, M.L. e Ferreira – Pinto, M.M
Date: 2001
Published by: Unpublished
Summary
On the importance of Integrated Pest Management (IPM) for
agriculture in East Timor
East Timor just came out of years of war and destruction. The new
Nation needs help in every front: health care, education,
agriculture. Yet the Timorese must be cautious on what concerns
agriculture development, making sure they establish the grounds
for a Sustainable Agriculture. Thus, productivity and farmer’s
returns cannot be enhanced at the expenses of food security and
environmental destruction: an increase in the present quality of life
of the Timorese should not jeopardize the quality of life of future
generations. Integrated Pest Management (IPM) is a strategy whose
main aim is to produce sufficient affordable food and fibre,
economically and in an environmentally and socially sensitive
manner, maintaining farmers' natural resource base for future
generations;
it
concentrates
in
reducing
the
health and
environmental risks associated with pest control. IPM is supported
by the UN Agenda 21 and promoted by international groups such
as IPM-Europe (European Group for Integrated Pest Management
in Development Cooperation) and GCPF (CropLife International,
former Global Crop Protection Federation). It is crucial, though,
that IPM is adopted at national level by governments, both from a
legal perspective (written policy regarding pest management
practices and quarantine measures for imported plant material) and
from an IPM strategies’ dissemination (Extension educators). This
review highlights the need for education and training, but also the
importance of integrating traditional practices and local farmers’s
views. A "pest management" or "advisory" committee of
technicians should be established, including representatives of the
farmers and of the public. Strategies include regular monitoring and
evaluation, mechanical controls, biological controls, and least toxic
chemical controls. IPM can be applied to crop production and
storage, as much as to husbandry and forestry.
Resumo
Timor-Leste acaba de sair dum período conturbado de
guerra e destruição. O novo país necessita ajuda em todas as
frentes: saúde, educação, agricultura. Contudo, a urgência em
resolver problemas não pode descurar princípios de um
desenvolvimento sustentado: a produtividade agrícola e o
rendimento dos agricultores não podem ser maximizados às custas
da segurança alimentar ou da conservação dos recursos naturais. É
imperioso não colidir com o equilíbrio dos ecossistemas naturais
que ainda existem e são uma riqueza da ilha, nomeadamente
vigiando a introdução de material de propagação vegetal
relacionado com os alimentos que constituem a alimentação base
das populações. A Protecção Integrada (PI, IPM no jargão
internacional) é uma estratégia concertada de práticas agrícolas que
visam combater pragas, infestantes e doenças das culturas dum
modo económica e ambientalmente sustentável que tem ainda em
conta a saúde dos consumidores. Estas estratégias incluem
monitorizações regulares das culturas e produtos armazenados,
sistemas de prevenção e avisos, e protecção das culturas usando
sobretudo meios mecânicos e biológicos, apenas coadjuvados por
meios químicos pouco nocivos. A PI é especialmente referida pela
Agenda 21 das NU, e promovida por grupos como a IPM-Europa
(European Group for Integrated Pest Management in Development
Cooperation) e o GCPF (CropLife International, antiga Global
Crop Protection Federation). Este artigo ressalta a importância do
envolvimento governamental (ao nível da Extensão Agrícola, mas
também da legislação fitossanitária) e da sensibilização e
envolvimento dos agricultores locais no seguimento das acções e
tomada de decisões. A PI é mais comum no meio agrícola, mas
pode igualmente aplicar-se na pecuária e na silvicultura.
Rezumu
Interese ba implementasaun husi medida sira ba protesaun
integrada iha agrikultura Timor-Leste nian.
Timor-Leste foin sai husi períodu funu no destruisaun nian.
Hanesan nasaun foun presiza ajuda iha parte sira hotu: Saúde,
Edukasaun, agrikultura. Ha buat sira-ne’e hotu, períodu urjente
ne’ebé uza hodi rezolve problema sira-ne’e la bele halakon
prinsípiu ba dezenvolvimentu sustentadu (kontinua): produtividade
agríkola no rendimentu ne’ebé maka agrikultór sira iha la bele
maka’as liu (maximizar) fali kustu sira husi seguransa alimentár ka
ba konservasaun ba rekursu naturál nian. No imperiozu tebes atu la
bele ontra filafali ekilíbriu husi ekosistema naturál ida ne’ebé sei
iha no sai hanesan rikusoin rai ida- ne’e nian liuliu ba materiál
ne’ebé tama mai rai- laran ne’ebé iha propogasaun vejetál relasiona
ho alimentu sira (hahán) ne’ebé konstitui ba alimentu baze husi
populasaun ida-ne’e. protesaun integrada (PI< IPM iha jargaun
internasionál) hanesan estratéjia ne’ebé konsentra ba prátika
agríkola ida ne’ebé iha hodi kombate (halo lakon) pragas (ular-oan
ne’ebé estraga ai-oan), infestante sira (du’ut sira ne’ebé estraga ba
ai-oan sira ) no moras ba ai-oan sira ne’ebé iha efeitu ba ekonomia
no ambiente nian ne’ebé mós iha efeitu ba saúde husi konsumidór
sira.
Estratéjia ida-ne’e tama mós iha monitorizasaun regulár ba ai-oan
no produtu armazenadu sira, sistema sira ne’ebé utiliza atu halo
prevensaun no avizu, no mós protesaun ba ai-oan liuhusi protesaun
mekániko no biolójiku, no protesaun liuhusi dalan kimiko ba parte
ki’ik balaun. PI referida espesialmente ba Ajenda 21husi NU, no
halo promosaun ba grupu sira hanesan: IPM-Europa (European
Group
for
Integrated
Pest
Management
in
Development
Cooperation) e o GCPF (CropLife International, antiga Global
Crop Protection Federation). Artigo ida-ne’e fó-hanoin fali ba
importánsia husi envolvimentu governamentál (ba nivel Estensaun
Agríkola, maibé mós ba lejislasaun fitosanitariu nian) no ba
sensabilizasaun no envolvimentu husi agrikultór sira liuhusi aksaun
sira ba tomada husi desizaun sira. PI toman (komún) iha meiu
Agríkola, maibé bele mós aplika iha pekuária balada) no
Silvikultura (kona-ba floresta nian)
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facilitate its use for the economic development of East Timor.
This is a project of the University of Évora, made possible through a
grant from the USAID, East Timor. info: [email protected]
Interesse da implementação de medidas de protecção integrada na Agricultura de Timor Leste
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA
INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA TROPICAL
Centro de Estudos de Produção e Tecnologia Agrícola
INTERESSE DA IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS DE PROTECÇÃO
INTEGRADA
NA AGRICULTURA DE TIMOR-LESTE
Maud Lewes de Barros
M. Manuela Ferreira – Pinto
Lisboa, Junho de 2001
Maud Lewes de Barros at al.,
1 – INTRODUÇÃO
Timor passou por anos muito conturbados, esperando pacientemente por melhores
oportunidades. Vê-se, agora, como País a recomeçar quase do nada em todas as frentes, como
um recém-nascido a quem todos querem ajudar. Mesmo que com as melhores das intenções,
falta-lhes por vezes os conhecimentos necessários e é natural o sentimento de pressa. Urgem a
educação, a saúde e os programas agrícolas.
Relativamente ao aspecto da produtividade agrícola conjuntamente com a da segurança
alimentar há que ter na devida conta a implementação de uma Agricultura Sustentável que
pressupõe que a protecção do ambiente e o desenvolvimento da produção das culturas estão
intimamente ligados sendo não só compatíveis como indissociáveis não sendo possível uma das
partes sem a existência da outra (5).
Para Timor-leste é necessário garantir a segurança alimentar e a vida para hoje e para o
devir, fazendo-se a evolução da agricultura mas preservando o meio natural.
É absolutamente imperioso não colidir com o equilíbrio dos ecossistemas ainda
existentes na ilha, por um lado e igualmente, com alguma premência, a possível introdução de
material de propagação vegetal sobretudo relativamente a cultura de subsistência como o arroz,
milho, feijão, mandioca, batata-doce que fazem parte da alimentação básica das populações
locais. Deve saber-se qual a proveniência do material a importar, ter em atenção certificados
fitossanitários e certas medidas preventivas e de decisão que mais adiante indicaremos.
2 – DEFINIÇÓES
Para nos debruçarmos sobre alguns conceitos fundamentais para uma protecção agrícola
sustentável tentaremos expor o seguinte:
A sigla internacional “IPM” refere-se às iniciais de “Integrated Pest Management” que
podemos traduzir como Protecção Integrada, considerando o conjunto das pragas, infestantes e
doenças de uma cada cultura, visto o termo “pest” ser aqui definido de forma abrangente no
sentido de incluir todos os organismos que prejudicam as culturas. Assim, passamos a referir
algumas definições do conceito acima referido:
Interesse da implementação de medidas de protecção integrada na Agricultura de Timor Leste
•
“IPM, que combina controlo biológico, resistência da planta Hospedeira e
práticas agrícolas adequadas e minimiza o uso de Pesticidas, é a melhor opção
para o futuro porque garante as produções, reduz os seus custos, não prejudica o
ambiente e contribui para uma agricultura sustentável” de acordo com a Agenda
21 da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento
(CNUAD), em 1992, que é igualmente citada pela (6,14).
•
“IPM é uma estratégia interdisciplinar para reduzir as perdas das culturas através
da utilização conjunta de técnicas de controlo dos agentes patogénicos. Combina
os objectivos de produtividade agrícola, sustentabilidade ambiental e
economicidade de custos” e apareceu para evitar problemas de resistência e
ressurgimento de pragas, surtos secundários, problemas de saúde humana e
elevado custo do controlo feito com utilização de pesticidas e consequente
degradação ambiental (12).
Apesar de até data o conceito de IPM incidir na protecção das considera-se que a sua
filosofia é igualmente aplicável nos sectores florestal, de pós-colheita e agro-pecuário.
Aliás, foram os efeitos colaterais negativos dos pesticidas que levaram ao
desenvolvimento de estratégias de IPM que favorecem o controlo natural das pragas e limitam o
uso de pesticidas de síntese.
Assim, o conceito de IPM pode ser definido na actualidade como uma estratégia
ecologicamente fundamentada que promove a sanidade das culturas, protege a saúde humana,
evita problemas ambientais e utiliza métodos de controlo preferencialmente naturais.
Segundo um painel de peritos da FAO a protecção integrada pode ser definida como “um
sistema que no contexto da associação do ambiente e da dinâmica das populações das espécies
de pragas, utiliza todas as técnicas e métodos de uma forma tão compatível quanto possível,
mantendo os níveis populacionais daquelas abaixo dos níveis economicamente prejudicais” (10).
Hoje em dia a sigla IPM desenvolve-se como uma medida holística e multidisciplinar de
proteger uma cultura de forma ecológica em que os agricultores confiam, fazendo parte
integrante de conceitos mais abrangentes como Produção Integrada das Culturas (ICM),
Agricultura Sustentável e, em última análise, Desenvolvimento Sustentável –
Maud Lewes de Barros at al.,
Fig.1) adapta de Fig. 1 – Integração do IPM no contexto geral de desenvolvimento
sustentável.
Assim, todas as decisões tomadas num programa de Agricultura Sustentável (7) têm em
devida consideração os factores sócio – económicos, a saúde humana e a protecção do ambiente.
Deste modo as medidas de IPM contribuem para a sustentabilidade dos sistemas de produção
agrícola.
Relativamente ao grupo IPM Europa – “European Group for Integrated Pest Management
in Development Cooperation ” trata-se de uma rede internacional destinada a coordenar o apoio
dos Estados membros e associados da União Europeia, ao conceito de IPM na investigação e
desenvolvimento mostrando o Maio interesse na promoção de IPM nos países menos
desenvolvidos (11).
O grupo IPM Europa, em que o IICT (Portugal) colabora, tem especificamente como
principais objectivos: 1 – aumentar a disponibilidade e o acesso à informação sobre projectos e
programas relacionadas com IPM e intensificar assim a cooperação; 2 – promover a colaboração
entre as instituições dos países membros da União Europeia (UE) e dos países menos
desenvolvidos na elaboração e desenvolvimento de projecto e programas envolvendo a
protecção das culturas nestes últimos países; 3 – contribuir para a criação, dentro da UE, de
políticas concertadas relativamente a IPM; 4 – proporcionar a instituições europeias e às de
países menos desenvolvidos o acesso a uma base europeia alargada de especialização em
protecção das culturas; 5- intensificar o contributo europeu para o desenvolvimento da
agricultura sustentável (3).
3 – CARACTERIZAÇÃO DO CONTROLO SANITÁRIO DAS CULTURAS
A protecção das culturas pressupõe a aplicação racional de um conjunto de medidas de
modo a minimizar os efeitos dos agentes patogénicos. Assim, de acordo com a Global “Crop
Interesse da implementação de medidas de protecção integrada na Agricultura de Timor Leste
Protection Federation” (GCPF), qualquer programa de Protecção Integrada tem de contemplar
obrigatoriamente três áreas de actuação: Prevenção, observação e Intervenção – fig. 2 (7).
A primeira dessas áreas, a prevenção, consiste num conjunto de medidas ditas indirectas
que visam proporcionar um bom desenvolvimento da cultura e reduzir o foco inicial de infecção
ou infestação. Passamos a referir algumas delas (1,4,7).
•
A localização da implantação da cultura deve reunir as condições (solo, clima,
topografia) aconselháveis ao desenvolvimento das plantas.
•
A utilização da prática de rotação de culturas reduz a incidência de doenças e
pragas principalmente as do solo como nemátodos, roedores de raízes e alguns
fungos. Os problemas de infestantes também apresentam menor incidência o que
permite utilizar mais racionalmente os herbicidas no controlo, por exemplo, das
infestantes perenes.
•
A escolha de plantas melhoradas, com grande capacidade produtiva e resistência a
algumas doenças e pragas, reduz a frequência dos tratamentos com pesticidas e
protege as espécies auxiliares. Os avanços na engenharia genética têm permitido o
aparecimento de novas variedades resistentes a doença e pragas e tolerantes aos
herbicidas.
•
Também as plantas geneticamente modificadas constituem um meio de veicular
agentes biológicos como por exemplo proteínas com propriedades insecticidas,
tendo a vantagem de actuar selectivamente sobre determinados insectos, nocivos
à planta. Embora este tipo de material vegetal abra novos horizontes no controlo
de agentes patogénicos a sua utilização deve ser encarada com alguma reserva
tendo em vista, entre outros riscos, o possível desenvolvimento de fenómenos de
resistência nos patogénicos e / ou efeitos nocivos na saúde humana.
•
A fertilização, incluindo correctivos, sideração, estrumação e adubação mineral,
deve ser racional em função das necessidades da cultura – azoto e fósforo são os
nutrientes mais necessários, no caso de Timor-leste (8) – evitando-se. Porem o
excesso de azoto que, pela maior produção de massa verde, torna a planta mais
susceptível a doenças, pragas e infestantes.
•
A rega quando em excesso pode favorecer determinados problemas
fitopatológicos ou, pelo contrário, controlar alguns problemas como por exemplo
Maud Lewes de Barros at al.,
os devidos a infestantes na cultura do arroz. No entanto, pode afectar a
sobrevivência dos microorganismos auxiliares que se encontram no solo.
•
A prática tradicional da consociação ao permitir a coexistência de culturas
diferentes no mesmo campo, por exemplo: milho com feijão, produz efeitos
benéficos na fertilidade do solo além de minimizar a incidência das doenças,
pragas e infestantes em cada uma das culturas.
•
A colheita e o armazenamento são fases importantes que devem ser processadas
cuidadosamente recorrendo a métodos adequados, evitando assim a disseminação
de infestantes e/ ou o posterior aparecimento de pragas e doenças.
•
A utilização de culturas – armadilha, menos sensíveis a determinados agentes
patogénicos do que a cultura principal, geralmente de maior valor económico, por
exemplo: milho, semeado em linhas com intervalos de 10 – 15 metros no meio de
um campo de algodão permite controlar eficazmente a população de algumas
pragas importantes do milho (7). Seria de interesse incrementar esta estratégia por
exemplo: na Costa Norte de Timor-leste, que é propícia para a cultura do algodão.
•
A protecção dos agentes auxiliares autóctones deve ser assegurada pela
manutenção do seu habitat natural nas margens dos campos cultivados.
As medidas indirectas acima referida contribuem para a redução da incidência das
pragas, doenças e infestantes mas, são muitas vezes insuficientes para eliminar a necessidades de
algumas forma de intervenção, pelo que é imprescindível efectuar a observação (monitorização)
da cultura para determinar quando e qual a acção a tomar no controlo dos agentes patogénicos,
eventualmente presentes.
•
O controlo de uma cultura implica inspecções de rotina no campo para avaliar o
desenvolvimento das plantas e planear as acções a tomar, entre outros, no
respeitante a algumas práticas como fertilização, rega, aplicação de pesticidas,
época de colheita.
•
Para avaliar o estado de desenvolvimento das doenças e pragas podem ser
utilizadas algumas estratégias de apoio à tomada de decisão, como sejam
armadilhas de variados tipos bem como os sistemas de previsões e avisos que
permitem avaliar e prever a evolução positiva ou negativa de um problema
fitopatológico e determinar qual, quando e onde, determinadas medidas de
controlo devem ser aplicadas.
Interesse da implementação de medidas de protecção integrada na Agricultura de Timor Leste
O funcionamento destes serviços já criados ou a criar pressupõe a existência de uma
central onde técnicos da área da protecção vegetal analisam os dados referentes às condições
atmosféricas e os relacionam com as pragas ou doenças em questão. Sempre que tal se justifique
os agricultores são informados por várias maneiras como rádio, correio ou fax sobre o estado de
desenvolvimento dos problemas fitopatológicos e, eventualmente, é feita uma recomendação
acerca das medidas de controlo a tomar (5).
•
Refira-se que algumas das tomadas de decisão mais importantes nos programas de IPM
requerem colaboração com as entidades nacionais nomeadamente governamentais, no
respeitante a legislação, regulamentação de quarentenas, certificação fitossanitária,
formação de serviços de consultoria e estabelecimento de estratégias contra as pragas e
doenças com maior impacte económico nas culturas tradicionais mais importantes. No
entanto, os grupos ou associações de agricultores devem tomar decisões localmente, de
acordo com as suas necessidades. Os sistemas de informação geográfica (GIS) e técnicas
de observação remota coordenados a nível nacional, apresentam grandes potencialidades
na observação de extensas áreas cultivadas como no caso do café e arroz em Timor-leste
(4,7).
•
Relativamente à legislação fitossanitária, Timor-leste deve ser rigoroso quanto à entrada
de material vegetal no seu território, exigindo que todo ele seja acompanhado de
certificados de isenção de agentes patogénicos passível de causar prejuízos nas plantas. A
legislação sobre esta matéria deve basear-se num conhecimento evolutivo aprofundado
dos problemas existentes no território assim como os que existem nos países de origem
do material vegetal importado.
É imprescindível a criação de serviços apropriadas que efectuem inspecções aquando da
entrada do material vegetal e acompanhem a cultura de modo a detectar a presença de novos
inimigos das plantas e proceder, quando for caso, à sua erradicação. A legislação deve impor
medidas de quarentena obrigatórias, sempre que necessário, em estação destinada a esse fim
(2,7).
Sempre que se justifique é efectuada uma intervenção que consiste na aplicação de medidas
directas que têm como objectivo reduzir, para níveis economicamente aceitáveis, os prejuízos
causados pelas pragas, doenças e infestantes, estas medidas de controlo – cultural, físico,
biológico e químico – podem ser aplicadas individualmente ou combinadas tendo em
consideração custos, benefícios, “timing,” disponibilidade de força de trabalho e máquinas/
instrumentos bem como os efeitos ambientais.
Maud Lewes de Barros at al.,
Passamos a referir algumas destas práticas de intervenção em IPM:
•
Embora as medidas de controlo cultural e físico possam ser utilizadas em qualquer tipo
de agricultura, algumas destas medidas são particularmente importantes para Protecção
Integrada, como seja por exemplo: solarização do solo, tratamentos de material vegetal
pelo calor e / ou radiações, apanha manual de larvas de insectos, remoção de resíduos
vegetais infectados e controlo de infestantes por meios mecânicos ou manuais. Contudo,
a sua aplicação terá que ser ponderada de acordo com as disponibilidades do agricultor e
com o seu impacte na produção (7,9).
•
O bio-controlo ou controlo biológico consiste, sobretudo, em recorrer à acção de certas
espécies de predadores, parasitóides, parasitas ou patogéneos (fungos, bactérias e vírus),
com a finalidade de reduzir as populações dos inimigos das culturas, principalmente
insectos. As estratégias de controlo biológico podem ser desenvolvidos através de
intensificação do parasitismo natural, utilizando entomófagos no seu habitat de origem
ou adaptados da fauna local, mas de habitat secundário e também através da importação
de espécies auxiliares exóticas, específicas ou polífagas, embora neste caso sejam sempre
possíveis de causar desequilíbrios nos ecossistemas locais (13).
A intensificação do controlo biológico envolve a produção comercial em massa dos
inimigos naturais permitindo a sua utilização no campo à semelhança do que acontece com
os pesticidas. Alguns pesticidas biológicos ou biocidas, por exemplo: produtos formulados a
partir de Bacillus thuringiensis, têm mostrado grande capacidade no controlo de alguns
insectos em culturas de grande interesse económico como no caso do arroz (13).
•
Apesar do conceito de protecção integrada ter surgido como consequência de graves
inconvenientes do uso irracional dos pesticidas, a sua utilização continua a ser um
importante componente da protecção integrada. No entanto, torna-se essencial que a
tomada de decisão relativa à utilização daqueles produtos seja fundamentada num
profundo conhecimento das suas características e que o seu uso reduza ao mínimo os
seus inconvenientes e maximize as vantagens inerentes à sua aplicação.
Ao desenvolver uma estratégia apropriada de controlo químico num programa de IPM
deverá ter-se em conta as características e os custos dos disponíveis.
Localmente; seleccionar os produtos que apresentam uma relação custo -eficácia
adequada e o mínimo de efeitos secundários indesejáveis.
A investigação decorrente dos últimos anos respeitante a pesticidas tem conduzido ao
aparecimento de produtos altamente selectivos que protegem as espécies auxiliares, reduzem
Interesse da implementação de medidas de protecção integrada na Agricultura de Timor Leste
o aparecimento de resistência por parte dos agentes patogénicos e protegem o ambiente
(7,15).
1. PREVENÇÃO
2. OBSERVAÇÃO
3. INTERVENÇÃO
Medidas indirectas
Factores de decisão
Medidas directas
•
•
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•
•
•
•
•
•
Localização
Rotação de culturas
Plantas melhoradas
Fertilização
Rega
Consociação
Colheita e
conservação
Culturas-armadilha
Protecção dos agentes
auxiliares
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•
•
•
•
Monitorização da cultura
Sistemas de avisos
Previsões
Inspecções
Legislação
Quarentenas
Formação técnica
Estabelecimento de
propriedades.
•
•
•
•
Controlo cultural
Controlo físico
Biocontrolo
Controlo químico
Figura 2 – componentes básicos de um programa de IPM (adaptado de 7 ).
4 – FORMAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIAS
O desenvolvimento sustentado da agricultura baseia-se na utilização de vários métodos
de investigação e na aplicação de novas metodologias. Para que seja possível a transferência de
novas metodologias num país e/ou entre países é necessário existir uma estratégia de formação e
informação adequada, envolvendo a colaboração de todos os interessados (5).
A formação e o treino são vitais para o sucesso de um programa de implementação de
IPM. Assim, tem de haver localmente programas convencionais de extensão e só depois propor
uma determinada metodologia para uma campanha sobre uma cultura implicando
necessariamente, a participação, gestão e implementação das entidades directamente interessadas
(técnicos extensionistas e agricultores) no planeamento, gestão e implementação da estratégia
acima referida.
As campanhas em apreço visam aumentar a eficácia dos referidos serviços através do seu
contributo directo na orientação da resolução dos principais problemas. São metodologias que
tentam compreender e avaliar o conhecimento empírico dos agricultores, os seus valores e as
suas práticas agrícolas ancestrais que podem ser melhoradas, modificadas ou desencorajadas,
Maud Lewes de Barros at al.,
mas sempre com a preocupação de respeitar os princípios básicos da ruralidade “começar com o
que o povo já sabe” e “construir a partir do que já existe”.
O objectivo de uma campanha, como por exemplo: Protecção Integrada, é o de criar uma
necessidade de procura, através da informação e da motivação e / ou satisfação dessa mesma
procura através da educação e formação dos beneficiários visados, de modo a levá-los à adopção
das medidas recomendadas. Para tal é necessário conhecer os interesses e as necessidades dos
beneficiários, em última análise, e estabelecer propriedades para assim aumentar a probabilidade
de sucesso e simultaneamente e eficácia dos recursos a utilizar – fig. 3 (adaptada de7).
Organização não
Governamentais
Governo
Indústria ligadas à
Protecção vegetal
Estratégias de Protecção Integrada (IPM)
Crédito e
Aconselhamento
Investigação e Desenvolvimento
Produtos e
Tecnologias
(IPM)
Educação, Formação, Treino e Extensão (IPM)
Adopção e implementação das estratégias de IPM pelos agricultores
Consumidores
Figura 3 – esquema dos vários níveis de intervenção na adaptação de estratégia de IPM
De acordo com a bibliografia especializada o melhor exemplo conhecido de participação
dos agricultores no desenvolvimento e implementação de estratégias de IPM é o dos sistemas
Interesse da implementação de medidas de protecção integrada na Agricultura de Timor Leste
agrícolas baseados na cultura do arroz na Ásia. São casos muito promissores que se devem
considerar para Timor-leste (15).
Assim, seria do maior interesse que no futuro uma instituição de Timor-leste ligada à
agricultura implementasse acções de informação sobre IPM junto dos técnicos extensionistas e
populações rurais recorrendo a meios simples como panfletos e cartazes, mensagens na rádio e
televisão (visto já terem), jornais com avisos, conselhos e inovações importantes para o
agricultor, passagem de filmes no cinema sobre questões agrícolas, reuniões para formadores e
formandos, reuniões de grupos de agricultores com o apoio de um formador, para além de
formação específica para consultores locais e técnicos extensionistas.
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