0 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE JUSSARA LICENCIATURA PLENA EM MATEMÁTICA ADRIANA CARLA DA SILVA O MÉTODO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: UMA REFLEXÃO DA PRÓPRIA PRÁTICA JUSSARA-GO 2008 1 Adriana Carla da Silva O MÉTODO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: UMA REFLEXÃO DA PRÓPRIA PRÁTICA Trabalho realizado para a conclusão do curso de Licenciatura Plena em Matemática da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Jussara, sob a orientação da professora especialista Josane Rocha Caldeira. JUSSARA-GO 2008 2 3 Dedico este trabalho à minha família, namorado e amigos em especial a Karla Patrícia, que me deram todo suporte necessário para vencer mais essa etapa da minha vida. Amo todos vocês!!! 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me dado força, para sempre levantar a cabeça nas horas difíceis e por ter permitido que eu chegasse até aqui. Agradeço aos meus amigos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. Em especial, agradeço a minha professora orientadora Josane Rocha Caldeira que me deu todo suporte teórico e prático para a realização desta pesquisa. 5 Erros são, no final das contas, fundamentos da verdade. Se um homem não sabe o que uma coisa é, já é um avanço do conhecimento saber o que ela não é. (Carl Jung, 18751961). 6 RESUMO Esta pesquisa refere-se à resolução de problemas como método de ensino em que, expõem-se teorias que podem ser usadas como suporte teórico para compreender tal método. O interesse pela temática surgiu através de experiências docentes própria. A presente pesquisa é bibliográfica e investigativa, está dividida em três capítulos: o primeiro é referente às experiências por mim vividas enquanto professora; o segundo descreve o parecer de autores em relação à resolução de problemas; o terceiro refere-se às estratégias que o professor pode usar em sala de aula para trabalhar a resolução de problemas de modo eficaz e motivador. Quando nos referimos à resolução de problemas apresentam-se para nós situações que necessitam de auxílios teórico e prático. Auxílios que colaboram para compreender a dimensão deste método de ensino e a sua importância na construção do conhecimento matemático. Aborda-se o tema fundamentando-se em Rabelo, Dante, Polya, D’Ambrósio, PCN’s, Smolle e Diniz, que defendem que a resolução de problema deve obedecer a critérios de resolução e que ao professor compete estimular em seus alunos: a curiosidade, o pensamento independente, favorecer conjecturas mentais, motivando-os para a aprendizagem que nada mais é do que a interpretação do seu cotidiano. Também se levanta a questão do erro, como sendo fator considerável para a resolução de problemas, uma vez que este é uma oportunidade de investigação e que por ele pode ser verificado o raciocínio lógico que o aluno assumiu. Para isto toma-se como referência pesquisas de Piaget descritas por Yves de La Taille e Revista Presença Pedagógica. 7 SUMÁRIO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 RELATO DE COMO SURGIU O PROBLEMA 8 11 CAPÍTULO 2 TEORIA CONCEPÇÕES SOBRE O ENSINO DE MATEMÁTICA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 15 2.1 A matemática e o seu ensino 15 2.2 Resolução de problemas nos PCN’s 17 2.3 O papel do professor 18 2.4 Resolução de problemas como método de ensino 19 2.5 Conhecendo melhor os problemas 21 2.6 Estágios na resolução de problemas 24 2.7 Problemas convencionais e não-convencionais 27 2.8 A importância do erro no processo de ensino aprendizagem 34 CAPÍTULO 3 ESTRATÉGIAS PARA O TRABALHO COM RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS 45 BIBLIOGRAFIA 48 8 INTRODUÇÃO Tendo em vista que a matemática está presente em tudo que nos rodeia e que ela é uma das mais importantes ferramentas da sociedade moderna, justamente por permitir à resolução de problemas do cotidiano, é que ao priorizar a construção do conhecimento pelo fazer pensar do aluno, o papel do professor é mais o de facilitador, de orientador e de incentivador da aprendizagem a fim de desenvolver a autonomia do aluno, instigando-o a refletir e a descobrir. Cria-se assim, na sala de aula, um ambiente de interação professor-aluno e alunoaluno pela busca do desconhecido, em que o diálogo e a troca de idéias são constantes. Surge, neste contexto a importância de se trabalhar a resolução de problemas. Apresenta-se neste trabalho a constatação e a discussão da importância que a resolução de problemas assume no ensino da matemática, algumas estratégias e sugestões que ajudarão o professor a trabalhar a matemática através deste método. Posto que, não se aprende matemática para resolver problemas mas sim, se aprende matemática resolvendo problemas. Apesar de POLYA (1995) ser um dos principais autores que se refere à resolução de problemas, a presente pesquisa também é fundamentada em outros autores, como: DANTE (1999), RABELO (2002), D’AMBRÓSIO (1986), Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) (1997), SMOLE e DINIZ (2001), que defendem que a resolução de problemas deve obedecer a critérios de resolução. Portanto, para tal são expostas diferentes formas de abordar a resolução em sala de aula, propiciando o verdadeiro saber matemático. Espera-se com esta proposta que os professores reflitam de forma diferente sobre as suas atitudes enquanto mediador do conhecimento, visando melhorar a qualidade do ensino de matemática. 9 O presente trabalho monográfico está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, foi feito um relato das minhas experiências como docente, esclarecendo a opção pelo tema. No segundo capítulo, aborda-se o ensino de matemática, o parecer dos PCN’s sobre a resolução de problemas e o seu papel no processo de ensino aprendizagem de matemática. Mostra-se também a resolução de problemas como método de ensino segundo RABELO, DANTE e POLYA, incluindo ainda as funções que os problemas exercem no ensino de matemática bem como, a sua classificação. São expostas também as etapas de resolução de problemas segundo POLYA. Ainda no segundo capítulo, argumenta-se sobre problemas convencionais e nãoconvencionais. Em que, para uma melhor compreensão das concepções apresentadas, incluíram-se exemplos de problemas e suas respectivas soluções. Na maioria das vezes os professores encaram o erro como sinônimo de fracasso, aqui ele será abordado dentro de uma visão construtivista, segundo trabalhos fundamentados em PIAGET, como CARVALHO (2001), AQUINO (1997) e outros, que vêm o erro como ferramenta importantíssima no processo de construção do conhecimento, desde que seja trabalhado de forma correta, ou seja, que assuma um significado no processo ensinoaprendizagem. O terceiro capítulo é composto de estratégias para o trabalho didático através de resolução de problemas, mostrando que a leitura e a escrita não são habilidades restritas à língua portuguesa, mas sim, a todas as disciplinas, no caso da matemática é praticamente inviável resolver problemas sem ambas. Por isso, são sugeridas propostas de elaboração de problemas por meio de desenhos e de outras situações problemas, para desenvolver de maneira significativa às habilidades de resolver problemas. Contudo, esta pesquisa foi feita no intuito de mostrar que a resolução de problemas é uma ferramenta muito eficaz no ensino da matemática, desde que seja bem trabalhada; porém 10 o professor deve ter a consciência que o seu papel é fundamental para o bom desempenho desta metodologia de ensino. 11 CAPÍTULO 1 RELATO DE COMO SURGIU O PROBLEMA Às vezes nos deparamos com situações desafiadoras, em que nos encontramos sem ferramentas para resolvê-las, ainda mais quando temos como referencial a área educacional, em especial a educação matemática. Isso acontece, não por falta de caminhos a se seguir, mas por pura falta de informação. Vivenciei isso na prática, porém, passar por esse período de dificuldade foi de grande valia para o meu crescimento profissional, até porque, ainda sou uma iniciante na área educacional, mas pretendo ser uma profissional competente e coerente com o que acredito, e sou convicta de que, se cada um fizer a sua parte, a educação certamente irá melhorar significativamente. Apesar de ainda não ter concluído a graduação, já tive a oportunidade de exercer a profissão de docente. Trabalhei por três anos na rede estadual de educação, no Colégio Estadual Marechal Rondon situado à rua dois (02), quadra oito (08), lotes de quatro a seis (04 a 06) em Betânia - Distrito de Jussara - Goiás, no ano de dois mil e quatro (2004). Comecei trabalhando com séries iniciais e após dois anos recebi um convite para trabalhar com a disciplina de matemática na segunda fase do Ensino Fundamental, concordei de imediato, achei que seria fácil ministrar as aulas, já que esta é a área, em que eu estou me graduando Licenciatura em Matemática pela Universidade Estadual de Goiás, na Unidade Universitária de Jussara. Nas primeiras semanas tudo ocorreu bem, no entanto certo dia quando eu estava planejando minhas aulas, encontrei em um livro didático alguns problemas, e por sinal muito interessantes, selecionei alguns para trabalhar em sala com os alunos, mas o resultado não foi o que eu esperava, pois a maioria dos alunos demonstrou uma dificuldade muito grande no 12 momento de resolver os problemas. Achei que se preparasse uma lista com problemas mais simples, eles efetuariam a resolução com tranqüilidade, mas não foi bem assim, infelizmente eles também não obtiveram êxito. Notei que os alunos não conseguiam solucionar se quer problemas simples usando aplicações de algoritmos. Neste momento, me deparei com uma dessas situações desafiadoras, na qual não conseguia enxergar um recurso para resolvê-la. Ficou mais complicado ainda, quando percebi, que apesar de todo o esforço, eles não conseguiam atingir o objetivo, que era resolver os problemas propostos. Alguns por não compreenderem o problema, outros por não conseguirem efetuar os cálculos, ou ainda, por puro desinteresse. Antes de ter um contato direto com esse tipo de situação, julgava essas questões obsoletas, sem nenhum tipo de valor pedagógico. No entanto passei a vivenciar essa realidade e o que parecia não ter valor passou a assumir uma relevante e crucial importância, levandome a questionar qual era o motivo de tamanha dificuldade. Então, iniciei um processo de observação, tendo em vista detectar a fonte dessa defasagem, ou seja, se o problema surgiu devido o não desenvolvimento de algumas competências e habilidades, e quais seriam elas. Após observar os alunos por um tempo, pude notar que em todas as séries as dificuldades eram as mesmas. Não conseguiam interpretar textos matemáticos e não sabiam manusear as operações matemáticas necessárias à resolução. Posto isso, fui em busca de informações de como havia sido trabalhada a resolução de problemas, objetivando nortear o meu trabalho, para ajudar os educandos a superarem esse problema. Por fim, deparei-me com uma “situação problema”, ou seja, a de usar a resolução de problemas como método de ensino. De forma mais clara, procurei entender o que havia acontecido para que os alunos se encontrassem em tal estado. Então percebi, que a resolução de problemas era vista e usada como mera atividade, o que acabou provocando o desinteresse dos alunos e, conseqüentemente, o não aprendizado. Observei que, ao utilizar a resolução de problemas 13 como simples atividade, os professores anteriores ao meu trabalho não deram a oportunidade aos alunos de desenvolverem o seu potencial, a autonomia, a autoconfiança e a criatividade. Não conseguiram mostrar aos alunos, que a resolução de problemas é algo que está não só dentro da sala de aula, mas em inúmeras situações do nosso cotidiano. Após compreender o que havia acontecido, procurei novas estratégias para trabalhar com esses alunos. Comecei então a trabalhar a resolução de problemas, como método de ensino, os obstáculos encontrados foram muitos. Os alunos não se interessavam, reclamavam muito, dizendo que não conseguiam fazer o que se pedia, e ainda, que estavam perdendo tempo, insistindo em algo que não daria resultado positivo. Notei que a auto-estima dos alunos estava muito baixa. Cheguei à conclusão de que para reverter esse quadro teria que me dedicar muito. Passei a trabalhar alguns desafios matemáticos em sala, todos bem simples, então ví que alguns alunos se mostraram interessados, tentaram resolver e conseguiram. Mas, infelizmente, a maior parte dos alunos não quis nem tentar. Tentei ainda, trabalhar com problemas diversificados, focalizando a interpretação de textos matemáticos, pensei que, se eles conseguissem desenvolver a habilidade de interpretação, facilitaria bastante a resolução dos problemas propostos, também organizei um torneio de matemática entre as séries, no intuito de promover o estudo das operações elementares da matemática. Os alunos conseguiram obter algum sucesso, mas não foi satisfatório, pois a maioria não conseguiu desenvolver suas habilidades em relação à resolução de problemas. Depois de inúmeras tentativas, comecei a refletir sobre tudo que eu, enquanto professora juntamente com os alunos, havíamos feito e os resultados que alcançamos. Percebi que os alunos progrediram, porém não o suficiente. Cheguei à conclusão que, este era um trabalho que seria realizado em longo prazo e necessitaria de muita dedicação por parte do professor e dos alunos e, ainda, de muita pesquisa. 14 Tomando este fato como ponto de partida, resolvi fazer este trabalho monográfico voltado para a resolução de problemas como método de ensino de matemática; em que, no próximo capítulo, estaremos expondo teorias que explicam como surge essa defasagem no processo de ensino-aprendizagem da resolução de problemas, e como nós, professores, devemos agir perante essas situações para conseguirmos melhorar a qualidade do ensino de matemática. 15 CAPÍTULO 2 CONCEPÇÕES SOBRE O ENSINO DE MATEMÁTICA ATRAVÉS DA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS No capítulo que se segue levantam-se questões teóricas, no entanto, apesar de POLYA (1995) ser um dos pioneiros da resolução de problemas, a pesquisa fundamenta-se também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) (1997), em RABELO (2002), em DANTE (1999), em SMOLE e DINIZ (2001), autores que se referenciam em POLYA (1995), porém não deixam de ter concepções diferentes em alguns aspectos, por isso o envolvimento destes e de suas concepções. Aborda-se neste capítulo, o ensino da matemática, a resolução de problemas nos PCN’s, a resolução de problemas como metodologia, o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem de matemática através da resolução de problemas, as funções que os problemas desempenham no ensino de matemática e, o erro de acordo com a teoria construtivista de PIAGET. No intuito de deixar bem claro aos leitores tudo o que foi pesquisado serão apresentadas diversas situações problematizadas. 2.1 A matemática e o seu ensino Não é possível argumentar sobre a resolução de problemas sem primeiro falar da matemática de um modo geral, porque é a disciplina do currículo escolar responsável por desenvolver habilidades como pensar, criar, conjecturar habilidades que por sua vez, facilitam 16 significativamente a resolução de problemas. Mesmo sabendo que a matemática faz parte desde cedo da nossa vida, inclusive em situações inusitadas, e também que é considerada uma das mais importantes matérias escolares, justamente por ajudar a resolver problemas da nossa vida, a maior parte das pessoas não gostam dela ou possuem aversão a ela. Baseando-se na diferença de concepções, entre o “aprender matemática” para a vida e o “gostar de aprender matemática” para aplicá-la na vida, chega-se à pergunta: como podemos ver a matemática e o seu ensino? De acordo com D’AMBRÓSIO “... a transferência do aprendizado resultante de uma certa situação para uma situação nova é o ponto crucial do que se poderia chamar aprendizado da matemática e talvez o objetivo maior do seu ensino.” (D’AMBRÓSIO, 1986, p. 44). Sendo assim, é necessário que todos os educadores falem a mesma língua, ou seja, todos sem exceções, comecem a ensinar a matemática mostrando a sua utilidade dentro e fora da sala de aula, caso isto não ocorra, a matemática continuará tendo barreiras para o processo de ensino aprendizagem. Segundo RABELO (2002), é necessário caminhar para o lado do desempenho individual que a matemática exerce sobre cada um, visando o seu desenvolvimento enquanto pessoa que vive em sociedade, bem como suas capacidades cognitivas e ainda a sua formação enquanto indivíduo que formula e resolve problemas em situações corriqueiras do cotidiano. “O ensino da matemática deve ser entendido como parte de um processo global na formação do aluno, enquanto ser social.” (RABELO, 2002, p.70). Sabe-se que a qualidade do ensino de matemática é baixa para todos que se encontram envolvidos e, principalmente, preocupados com o ensino dessa área de conhecimento. RABELO (2002) diz que existem muitos pontos para se repensar, um deles é a questão dos profissionais de educação estarem sempre se limitando a mudanças de métodos, técnicas e seqüências curriculares, não que isto não ajude em alguns aspectos, mas segundo o autor, para se melhorar o ensino da matemática é preciso algo maior, como uma mudança fixa de postura, uma mudança de filosofia pedagógica. Isto quer dizer que, os profissionais da educação 17 devem repensar os seus conceitos do que realmente vem a ser ensinar, e trabalhar em prol dessa mudança, tendo como objetivo melhorar a qualidade do ensino. Nota-se então que ensinar é bem mais que fazer os alunos decodificar símbolos e operações matemáticas, é preciso mostrar a utilidade de tudo que se ensina na prática, tornando o aprendizado, significativo, coerente e concreto. 2.2 Resolução de Problemas nos PCN’s Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) apontam a resolução de problemas como um caminho para o ensino da matemática. Entretanto, na maioria das vezes ela é usada como mera atividade para se aplicar conhecimentos adquiridos anteriormente, o que acaba por banalizar a resolução de problemas. Defende-se que a resolução de problemas não é uma atividade que deve ser trabalhada separada da aprendizagem, mas sim incluída em todas as disciplinas, pois tudo o que se tem a resolver pode ser considerado um problema a ser resolvido. A resolução de problemas quando executada de forma correta propicia ao educando a capacidade de gerenciar as informações que estão ao seu alcance, podendo assim ampliar os seus conhecimentos matemáticos e do mundo em geral, desenvolvendo a sua autoconfiança, a criatividade, a autonomia e muitas outras potencialidades. Em muitos casos os problemas que são dispostos aos alunos não apresentam situações desafiadoras, o que se torna algo repetitivo, mecânico e sem proveito pedagógico. Em diversas situações, o que é problema para um não é problema para outro, em função dos conhecimentos que cada um possui, para que estes constrangimentos sejam 18 evitados o professor deverá ter o cuidado de analisar essas diferenças, para saber formular um bom problema. Os PCN’s deixam claro que a resolução de problemas entra na matemática como um eixo organizador do processo de ensino aprendizagem, em que a situação problema deve fazer com que os alunos pensem e procurem estratégias para resolvê-la desenvolvendo assim aptidões cognitivas. De acordo com os PCN’s: Resolver um problema não se resume em compreender o que foi proposto e em dar respostas aplicando procedimentos adequados. Aprender a dar uma resposta correta, que tenha sentido, pode ser suficiente para que ela seja aceita e até seja convincente, mas não é garantia de apropriação do conhecimento envolvido. (PCN’S, 1997, p. 45). Tendo isto em vista, vê-se que o importante não é a resposta correta, e sim o processo de resolução que foi usado para se chegar a essa resposta. Pois, através dele, é possível concluir se houve ou não retenção de conhecimento. 2.3 O papel do professor Segundo DANTE (1999), ao adotar o método de resolução de problemas o professor deve assumir o papel de incentivador, facilitador, mediador das idéias dispostas pelos educandos de maneira que estas sejam produtivas, levando os alunos a pensarem e gerarem os seus próprios conhecimentos. Deve criar um ambiente de cooperação e busca, de exploração e descoberta deixando claro que o mais importante é o processo e não o tempo gasto para resolvê-lo ou a resposta final. Dado um problema para ser resolvido em grupo ou individualmente, é importante que o professor: 19 o Permita a leitura e a compreensão do mesmo; o Propicie a discussão entre os alunos para que todos entendam o que se pede no problema – proporcione a verbalização; o Não responda diretamente as perguntas feitas durante o trabalho, mas sim, os incentive com novas indagações, idéias e dicas. Trabalhando dessa forma o professor estará ajudando os alunos a desenvolver habilidades que lhes serão úteis na resolução de qualquer situação problema. 2.4 Resolução de problemas como método de ensino De acordo com os Parâmetros Nacionais Curriculares (PCN’s) o ensino através da resolução de problemas é um método que tem como pré-requisito fazer com que os alunos pensem matematicamente e agucem a sua autonomia matemática, não se restringindo apenas a aprender meras fórmulas prontas e métodos mecânicos de resolução. Ratificando a esses métodos mecânicos de resolução, RABELO (2002) defende que “a resolução de problemas deve proporcionar o desenvolvimento de conceitos e descoberta de relações”. (RABELO, 2002, p.76). Se for feita uma análise na prática, nota-se realmente que se a resolução de problemas for vista apenas como simples atividade, os alunos serão prejudicados, pois não estarão desenvolvendo as suas habilidades e competências, para se tornarem bons formuladores e resolvedores de problemas. Posto isto, é fundamental para o ensino que os educadores aproveitem todas as formas e oportunidades que surgem para mostrar aos educandos, que eles são plenamente capazes de solucionar os problemas propostos, basta ter vontade, esforço, autoconfiança e muita pesquisa. Assim, os aprendizes poderão ampliar os seus conhecimentos, lapidar o seu aprendizado e desenvolver aptidões 20 cognitivas. “A resolução de problemas é uma aptidão cognitiva altamente complexa que caracteriza uma das atividades humanas mais inteligentes”. (RABELO, 2002, p.77). Complementa o autor dizendo que a resolução de problemas é um processo de reorganização de conceitos e habilidades. Entretanto o professor desempenha um papel primordial nesse processo. São de responsabilidade dele, desafiar a curiosidade dos educandos propondo problemas compatíveis com o seu nível de conhecimento e ainda indagar-lhes estimulantemente para despertar o gosto pelo pensamento independente, não esquecendo da parte principal, a de proporcionar aos seus alunos os meios necessários para atingir o objetivo em questão. Veja a opinião de POLYA a respeito: Uma grande descoberta resolve um grande problema, mas há sempre uma pitada de descoberta na resolução de qualquer problema. O problema pode ser modesto, mas se ele desafiar a curiosidade e puser em jogo as faculdades inventivas quem o resolver por seus próprios meios experimentará a tensão e gozará o triunfo da descoberta. Experiências tais, numa idade susceptível, poderão gerar o gosto pelo trabalho mental e deixar, por toda a vida, a sua marca na mente e no caráter. (POLYA, 1995, p.v). Incentivar os alunos a buscarem diferentes formas de resolver problemas permite uma reflexão mais elaborada sobre os processos de resolução, porém é necessário que o professor deixe bem claro que acertar nem sempre é o mais importante, e que o erro é apenas uma oportunidade de investigação, podendo encontrar o seu erro, e assim começar novamente, propiciando o verdadeiro saber matemático. Falaremos do erro e o seu papel no processo de ensino aprendizagem logo adiante. É responsabilidade do professor, transferir para os alunos todos os métodos e conceitos de desenvolvimento na resolução de problemas. E ainda, deve ajudar os alunos nesse processo de resolução, o que não é fácil, pois exige tempo, prática, dedicação e foco no que se pretende alcançar. Na concepção de POLYA (1995) a técnica de resolução de problemas não se baseia em oferecer ao aluno vários problemas para resolver, onde o aluno não consegue resolver ou resolve rapidamente sem nenhuma dificuldade. A melhor forma de se trabalhar é 21 apresentando aos discentes situações onde eles tenham que, pensar, argumentar e criar, pois assim eles acabarão acreditando em seu potencial, desenvolvendo de forma significativa o seu conhecimento. Luiz Roberto Dante, mostra que a resolução de problema, tem como objetivo fazer o aluno pensar produtivamente, para isso é preciso disponibilizar aos alunos situações-problema que os motivem a resolvê-las. Deve-se dar ao aluno a oportunidade de se envolver significativamente com a matemática e suas aplicações, pois não é suficiente saber efetuar cálculos mecanicamente. É necessário saber quando e como fazê-los adequadamente na resolução de problemas. Sabe-se que a matemática não é a mais adorada das matérias escolares, assim DANTE (1999) propõe que os educadores da área, tornem suas aulas mais interessantes e desafiadoras. Como fazer isso? Segundo o autor, o professor deve deixar um pouco a teoria de lado e partir para a parte prática suscitando um trabalho ativo por parte dos alunos. Para resolver problemas é necessário que haja o desenvolvimento de certas estratégias, por isso o docente precisa dar suporte teórico e prático a seus alunos, ou seja, equipá-los com estratégias que lhes sirvam posteriormente para aplicar em outras situações, o que conseqüentemente desencadeará o raciocínio, levando-o a produzir suas próprias estratégias. “O real prazer de estudar matemática está na satisfação que surge quando o aluno, por si só resolve um problema. Quanto mais difícil, maior a satisfação em resolvê-lo.” (DANTE, 2000, p.49). 2.5 Conhecendo melhor os problemas 22 É fundamental que o educador saiba quais as funções que os problemas desempenham no ensino da matemática, de acordo com RABELO (2002) são: função de ensino, um caminho para adquirir, exercitar e consolidar os conhecimentos matemáticos e ainda, função educativa, ou seja, desenvolvimento intelectual, o que leva o docente a ter uma atenção redobrada ao escolher os problemas que serão trabalhados. Para a escolha do problema o referido autor apresenta características, foram assim interpretadas: a) Dados – Consideram-se dados as informações, as condições expostas no problema que podem ser detectadas com facilidade; b) Metas ou questões – São as partes implícitas do problema e as mais difíceis de serem resolvidas; c) Obstáculos – Entende-se por obstáculo o fato do resolvedor não saber de imediato o que deve ser feito, ou seja, como deve ser a seqüência dentro do processo de resolução que ele deve usar. Muitos profissionais da educação matemática, apesar de sua experiência na área, não conseguem diferenciar o que vem a ser realmente um problema matemático e um simples exercício. Entretanto, o conceito de problema é muito relativo, pois depende do nível de conhecimento dos alunos. O que para alguns é um problema muito complexo, para outros pode ser um simples exercício de aplicação de algoritmos. RABELO (2002) expõe a seguinte maneira de classificar os problemas: Problemas de um passo, que podem ser resolvidos com a aplicação direta das operações básicas da aritmética; Problemas de dois ou mais passos, que podem ser resolvidos pela aplicação direta das operações básicas, mas envolvendo duas ou mais delas; Problemas-processo, que não podem ser resolvidos utilizando-se processos mecânicos, mas estratégias de resolução: problemas não rotineiros; Problemas de aplicação, que muitas vezes admitem mais de uma solução e são resolvidos pela utilização de uma ou mais operações e de uma ou mais 23 estratégias de resolução; Problemas tipo puzzle, que podem suscitar o interesse e hábitos de olhar para eles sob diversos pontos de vista diferentes. Os Problemas de um passo objetivam treinar a habilidade em efetuar cálculos usando apenas uma operação matemática, no intuito de reforçar conhecimentos anteriores. Exemplos: PROBLEMA 01: Em uma biblioteca há 125 livros de matemática em uma prateleira e 190 de língua portuguesa na outra. Quantos livros há nas duas prateleiras? PROBLEMA 02: Um gato tem 4 patas. Quantas patas têm 8 gatos? Esses Problemas de um passo também são conhecidos como Problemas-padrão simples. Os Problemas de dois ou mais passos, também objetivam treinar a habilidade em efetuar cálculos, porém usando duas ou mais operações matemáticas. Exemplos: PROBLEMA 03: Para realizar um trabalho de artesanato são necessários 2400 palitos de fósforo. Sabendo que cada caixa contém, em média, 40 palitos e que cada pacote contém 10 caixas, quantos pacotes serão usados nesse trabalho? PROBLEMA 04: Pensei em um número, multipliquei-o por 4 e, do resultado, subtraí 4. Obtive 44. Se tivesse dividido por 4 e ao resultado adicionado 4, quanto encontraria? Tais problemas também são denominados Problemas padrão compostos. Porém, tanto os problemas padrão simples quanto os compostos na maioria das vezes não são desafiadores, pois a sua solução está contida no enunciado do próprio problema. Já os Problemas-processo, aguçam a curiosidade do aluno permitindo assim o desenvolvimento de sua criatividade. Isto acontece porque, para solucionar tal problema será necessário usar mais de uma estratégia de resolução, o que de acordo com DANTE (1999) é mais importante que chegar à resposta certa. Exemplo: PROBLEMA 05: Certo presidente da República governou o país durante 5 anos consecutivos. A soma dos números dos anos do seu mandato é 9790. Em que anos o Brasil foi governado por esse homem? Qual é o nome dele? 24 Este tipo de problema também recebe o nome de Problema heurístico. Problemas de aplicação são aqueles que, segundo DANTE, procura se matematizar uma situação real usando conceitos, técnicas e métodos matemáticos, como: fazer tabelas, traçar gráficos, efetuar operações, etc. De maneira geral para solucioná-los é necessária muita pesquisa e levantamento de dados. Exemplo: PROBLEMA 06: Para fazer o seu relatório, um diretor de uma escola precisa saber qual é o gasto mensal, por aluno, que ele tem com a merenda escolar. Vamos ajudá-lo a fazer esses cálculos? Podemos levantar as seguintes questões: i) Quantos alunos comem a merenda por dia? E por mês? ii) Quantos quilos de arroz, macarrão, tomate, cebola, sal, etc. a escola recebe por mês? iii) Qual o preço atual, por quilo, de cada um desses alimentos? iv) Qual o salário mensal da merenda? v) Quanto se gasta de gás? Os Problemas do tipo puzzle, que também podem ser chamados de Problemas de quebra-cabeça, são aqueles que desafiam a curiosidade dos alunos. Para DANTE são aqueles que na maioria das vezes constitui a denominada matemática recreativa, em que a sua solução é obtida a partir da percepção de algo que seja a chave da solução. Para tanto, é preciso olhar o problema de várias maneiras. Exemplo: PROBLEMA 07: Com 24 palitos de fósforo, forme 9 quadradinhos. Como fazer para tirar 4 palitos e deixar 5 quadradinhos? 2.6 Estágios na resolução de problemas O livro “A arte de resolver problemas” de POLYA (1995) leva o professor a analisar as etapas que facilitam a resolução de problemas e aceitá-las como válidas e importantes 25 etapas do desenvolvimento do pensamento, pois permitem a aprendizagem pela reflexão possibilitando aos alunos o desenvolvimento da autonomia e da confiança em sua capacidade de pensar. As etapas dispostas por POLYA (1995) foram assim interpretadas: Compreensão do problema - O professor deve levar o aluno a identificar as partes principais do problema, tornando-o interessante e concretizando o mesmo. Para que o aluno compreenda o problema, é necessário que saiba retirar do texto: Qual é a incógnita (termo desconhecido do problema); Quais são os dados; Qual é a condicionante (condições às quais se devem obedecer na resolução). O problema deve ser bem escolhido, nem muito difícil, nem muito fácil, natural, interessante e certo tempo deve ser dedicado à sua apresentação. Estabelecimento de um plano - Nessa etapa o aluno deve tentar, usando experiências anteriores, um método de resolução. Isso pode ser um caminho tortuoso ou não. Entretanto, o professor pode fazer questionamentos aos alunos; a fim de facilitar a busca deste caminho. Alguns questionamentos podem ser: Já viu antes? Já viu o mesmo problema apresentado de forma diferente? Conhece um problema semelhante? Conhece um problema que lhe poderia ser útil? É possível reformular o problema? É possível reformulá-lo ainda de outra maneira? O melhor que o professor pode fazer por seu aluno é propiciar de forma discreta, uma idéia luminosa. As indagações tendem a gerar tal idéia. Execução do plano - Aqui, o aluno deve executar o plano elaborado passo-a-passo. O plano proporciona apenas um roteiro geral. No entanto é necessário estar convicto de que os detalhes inserem-se nesse roteiro e, para isso, é preciso examiná-lo pacientemente até que tudo fique perfeitamente claro, não restando nem um recanto obscuro no qual possa ocultar-se um erro. Retrospecto - É necessário que o aluno analise se o resultado encontrado está correto e se pode ser obtido por outros caminhos. Fazer uma revisão detalhada do que foi feito e do raciocínio utilizado. Com isso, é possível encontrar uma outra resolução melhor e ainda 26 descobrir fatos novos e interessantes. De qualquer maneira se os alunos adquirirem o hábito de verificar e examinar suas resoluções, certamente obterão conhecimentos que poderão ser utilizados sempre e, assim, desenvolverão a capacidade de resolver problemas. Segue agora um exemplo de problemas e alguns questionamentos feitos na sua resolução. PROBLEMA 08: Carlos participa de um jogo que é disputado em rodadas. Se uma rodada não lhe parece favorável, ele não entra; se parece favorável, entra. Quando acerta, ganha um (01) ponto, mas perde dois (02) se erra. Carlos entrou em vinte (20) rodadas e fez onze (11) pontos. Quantas rodadas ele acertou e quantas ele errou? Solução: Compreendendo o problema - Dados: Carlos entrou em 20 rodadas e fez 11 pontos. Objetivo: Determinar o número de rodadas que ele acertou e que ele errou. Estabelecimento de um plano - Supondo que Carlos tivesse acertado todas as rodadas (20). Ele teria feito 20 pontos. A diferença de 9 (20 – 11= 9) existe porque, ao entrar em uma rodada e errar, além de não ganhar 1 ponto, perde 2, ou seja em cada erro, ele deixa de ganhar 3 pontos. Dividindo, então, 9 por 3 obtemos o número de rodadas que ele errou. Em seguida, subtraímos, do total de rodadas erras, obtendo o número de rodadas que acertou. Executando o plano 20 . 1 = 20 (total de rodadas) 9 : 3 = 3 (rodadas que errou) 20 – 3 = 17 (rodadas que acertou) Fazendo o retrospecto ou verificação 3 erradas + 17 certas = 20 rodadas 17 certas 17 . 1 = 17 pontos 3 erradas 3 . 2 = 6 pontos Subtraindo temos: 27 17 pontos – 6 pontos = 11 pontos. As resoluções de problemas mostram não somente a resposta, como também todo o procedimento usado para chegar até ela. Como estamos falando de procedimentos, é fundamental não deixarmos de falar do erro, que é algo constante dentro de qualquer procedimento, porém quando bem trabalhado o erro pode ser usado como ferramenta no processo de ensino aprendizagem de matemática. Mas, é necessário ter a convicção que acertar é sempre o objetivo principal. Segundo Yves de La Taille: “(...) embora seja óbvio, é preciso lembrar que o erro somente tem valor no processo de aprendizagem e desenvolvimento. O objetivo é naturalmente o acerto. Portanto, devemos encorajar as várias e inteligentes tentativas dos alunos em acharem as respostas certas, as teorias corretas, os procedimentos eficazes, devemos dar valor a seus erros (aqueles realmente advindos de um processo legítimo de reflexão). (Yves de La Taille apud. AQUINO, 1997, P.38). 2.7 Problemas convencionais e não-convencionais Dentre as bibliografias consultadas há um consenso em classificarem os problemas em convencionais e não-convencionais. De acordo com Kátia Smole e Maria Diniz em sua obra : Ler, escrever e resolver problemas, o problema convencional apresenta as seguintes características: é apresentado por meio de frases ou parágrafos curtos; vem sempre após a apresentação de determinado conteúdo, todos os dados que o resolvedor precisa aparecem explícitos no texto, pode ser solucionado através da aplicação direta de um ou mais algoritmos, a tarefa básica é identificar a operação apropriada e transformar a linguagem do problema em linguagem matemática, é ponto fundamental a solução numérica correta, a qual existe e é única. Nos livros didáticos existem grandes quantidades de problemas convencionais. Veja um exemplo: 28 PROBLEMA 09: Genilson vende 20 litros de leite por dia. Em um mês, quantos litros de leite Genilson vendeu? Se o professor propuser este problema de forma problematizadora, poderá ajudar no desenvolvimento de várias habilidades que foram citadas. Pode por exemplo, adotar os seguintes critérios: 1) Alterar os dados do problema: E se Genilson vendesse 10 litros de leite por dia ao invés de 20, como ficaria a resolução? E se Genilson vendesse o leite apenas dezenove dias no mês, como ficaria a resposta? 2) Poderá também propor alterações como: Quem consegue resolver o problema através de um desenho? Quais operações serão usadas? Vamos elaborar o problema de forma que seja possível encontrar o total de vacas que Genilson tem? Para o educador atingir seu objetivo nesses problemas, é fundamental que a cada nova pergunta ele espere os alunos respondê-las, só assim passar para o próximo questionamento. Já os problemas não-convencionais exigem bem mais dos alunos, pois eles terão que refletir e analisar sistematicamente o problema, para elaborar técnicas que os permitirão chegar à solução desejada, desenvolvendo no aluno a comunicação, posto que ele tenha que argumentar para chegar à solução, em síntese permitindo a aprendizagem que os problemas convencionais não propiciam. A classificação dos problemas não-convencionais, segundo SMOLE e DINIZ (2001) é: Problemas sem solução, Problemas com mais de uma solução, Problemas com excesso de dados e Problemas de lógica. Vejamos estes problemas com mais detalhes: Os Problemas sem solução devem desenvolver nos alunos habilidades para se posicionar frente a situações inusitadas; este é um objetivo clássico da matemática. Aqui, os alunos terão que desenvolver a capacidade de dúvidas e não concordar com tudo que é proposto. Estes tipos de problemas mostram que nem todos os problemas impostos apresentam soluções. Exemplo: 29 PROBLEMA 10: Adriano corre nove quilômetros em duas horas. Quantos filhos ele tem? Como os alunos estão acostumados a resolver problemas convencionais, é comum eles utilizarem os números 9 e 2 que estão no enunciado para somar, subtrair, multiplicar ou dividir, na tentativa de encontrar a solução. Com isso, o educador pode interferir na resolução destes problemas, fazendo com que os educandos notem que estão faltando dados para a solução. O educador pode então propor que eles modifiquem-no acrescentando as informações de modo que o problema seja solucionado, e ainda deve sugerir que eles analisem o problema, seguindo as etapas dispostas por POLYA, ao analisar todas as etapas, poderão perceber facilmente as falhas cometidas e, com isso reduzir erros em problemas futuros. Os Problemas com mais de uma solução mostram aos alunos que muitas vezes os problemas matemáticos possuem mais de uma solução, em que podem ser utilizadas mais de uma forma de resolução, cabendo ao aluno investigar, para chegar à resolução. Vejamos um exemplo: PROBLEMA 11: Pedrinho tem 9 notas, num total de R$ 93,00. as notas de R$ 1,00, R$ 5,00, R$ 10,00 e R$ 50,00. Quantas notas de cada valor ele tem? (DANTE, 1999, p. 102) Uma das possíveis soluções: Vamos fazer uma tabela com todas as possibilidades. Notas de Notas de Notas de Notas de R$ 50,00 R$ 10,00 R$ 5,00 R$ 1,00 1 4 - 3 1 3 2 3 1 3 1 8 30 1 3 - 13 - 9 - 3 - 8 2 3 - 7 4 3 - 6 6 3 - 5 8 3 - 4 10 3 - 3 12 3 - 2 14 3 - 1 16 3 - - 18 3 - - 17 8 - - 16 13 - - 15 18 Não há necessidade de continuar a tabela, pois Pedrinho tem apenas 9 notas. Aliás, poderíamos interrompê-lo bem antes. Então Pedrinho tem: 1 nota de R$ 50,00; 3 notas de R$ 10,00; 2 notas de R$ 5,00; 3 notas de R$ 1,00; totalizando R$ 93,00. As outras possíveis maneiras de soluções são deixadas aos leitores interessados em resolvê-las. 31 Dos Problemas com excesso de dados podemos citar o problema extraído do PROJETO ARARIBÁ (2006) . Veja a seguir. PROBLEMA 12: Todos os dias a abelha Quica acorda cedo e a primeira coisa que faz é olhar o calendário para saber o dia da semana. Às segundas-feiras, ela limpa a colméia e lustra suas asas; aos sábados, faz tricô e assisti à TV; em outro dia, visita sua avó e lava a roupa da semana toda. Assim como nesses dias, nos outros dias da semana ela realiza apenas duas atividades fixas, saindo raramente da rotina. Todas as terças seu primo Teço a visita. Numa sexta-feira Quica saiu da rotina: não produziu mel nem estudou inglês, porque ficou no salão de beleza o dia todo. Ela mudou os hábitos nesse dia porque na véspera, em vez de produzir mel por apenas meio período, produziu o dia todo e não assistiu o seriado de TV preferido. Quando não sai da rotina, Quica produz mel em três meio períodos por semana. Na quarta-feira passada, Quica não passou as roupas que foram lavadas na véspera, porque não estavam secas. Em compensação depois que produziu mel, leu um livro. No domingo seguinte, como de costume, Quica cozinhou e assistiu a TV. Todas as quintas e sábados, sua prima Tuti lhe telefona. a) Em que dia da semana Quica costuma visitar sua avó? b) Quando não sai da rotina, Quica produz mel em quais dias da semana? c) Que dia da semana Quica reservou para escrever um livro? Este é um problema com excesso de dados, o qual desenvolve nos alunos a habilidade de interpretação e a capacidade de selecionar os dados necessários para a solução e para isso vir a acontecer o professor deve ser um bom mediador, para conduzir os alunos em sua solução os questionado em relação aos dados que devem ser aproveitados e quais não devem ser aproveitados, mostrando as diferentes possibilidades de solução. No PROBLEMA 12 é possível notar que existem várias possibilidades de solução, veja: No item a, em que dias da semana Quica costuma visitar a sua avó? Há cinco possibilidades de respostas: terças, quartas, quintas, sextas e domingos; No item b, quando 32 não sai da rotina, Quica produz mel em quais dias da semana? Neste item a três possibilidades: terças, quintas e sextas ou quartas, quintas e sextas, ou ainda quintas, sextas e domingos. No item c, que dia da semana Quica reservou para escrever um livro? A resposta será nenhum dia, pois sua semana está toda ocupada. A solução deste problema confirma o que foi dito, há mais de uma possibilidade, só depende da interpretação de quem o ler. Os Problemas de lógica são problemas que exigem raciocínio dedutivo, desenvolvendo as operações de pensamento como previsão e comparação, levantamento de hipótese, busca de suposições, análise e classificação. Para a solução destes Problemas de lógica exige-se tentativa, erros, organização de dados e tabelas, diagramas, estratégias que favorecem o desenvolvimento das habilidades de leitura e interpretação. Eis aqui dois problemas de lógica: PROBLEMA 13: Adaptado de DANTE (1999). O gavião chega ao pombal e diz: - Adeus, minhas cem pombas. As pombas respondem, em coro: - Cem pombas não somos nós; com mais dois tantos de nós e com você, meu gavião, cem pássaros seremos nós. Quantas pombas estavam no pombal? Esta é uma maneira curiosa de propor um problema. É um jogo de palavras que as crianças gostam de desvendar e interpretar. Vejamos a solução: (Número de pombas) + 2x (números de pombas) + 1 = 100 Assim: 3x (número de pombas) + 1 = 100 33 3x (número de pombas) = 100 - 1 = 99 3x (número de pombas) = 99 número de pombas = 99 : 3 número de pombas = 33 Verificação: 33 + 2. (33) + 1 = 33 + 66 + 1 = 100 Resposta: Estavam no pombal 33 pombas. PROBLEMA 14: Complete o quadro mágico onde a soma seja 15 nas linhas e colunas e nas diagonais, usando os números naturais de 1 a 9. Veja uma das possíveis soluções: 6 1 8 7 5 3 2 9 4 As outras possíveis soluções deixo aos leitores interessados a solucioná-los. Compete ao professor problematizar essas atividades de forma que os alunos possam adquirir confiança e autonomia, deixando o conformismo de lado. Para tanto, no próximo capítulo serão exploradas estratégias, como sugestão para os professores trabalharem de forma mais eficaz a resolução de problemas. Tais estratégias são abordadas tendo como fonte de fundamentação as obras de DANTE, SMOLE e DINIZ. 34 2.8 A importância do erro no processo de ensino aprendizagem O erro sempre foi considerado como elemento negativo, sendo visto como algo que precisa ser extinto do contexto escolar. Muitos professores apontam o erro como produto da insuficiência dos alunos em relação aos conhecimentos necessários. Aqui, procura-se mostrar através da teoria construtivista de Jean Piaget explorada por Yves de La Taille e Júlio Groppa Aquino, a importância do erro no processo de ensino aprendizagem. Numa concepção construtivista, o erro assume um significado completamente diferente, deixa de ser sinônimo de fracasso e passa a fazer parte do processo de construção do conhecimento, sendo necessário e fundamental, por ajudar a detectar o quê o aluno sabe, e ainda, o quê ele pode vir a aprender. Deve-se ver o erro, como ponto de partida para recomeçar e nortear o processo de construção do conhecimento. No entanto, é necessário mostrar aos alunos que quem erra na verdade está querendo aprender, tentando acertar. Acertar é o objetivo, porém errar é natural. Muitos educadores já possuem essa visão construtivista sobre o erro, mesmo que às vezes não consigam aproveitá-lo com eficácia. Infelizmente, mesmo que os educadores tenham e usem essa visão construtivista sobre o erro, existe uma incoerência nas instituições escolares, o sistema de avaliação por notas. Tal sistema repreende o erro e o exclui como fator que influência de modo positivo ao processo de aprendizagem. Jean Piaget foi o responsável por redimensionar a questão do erro, onde errar deixa de ser um sinônimo de incapacidade e passa a ser um fator importante no processo de ensinoaprendizagem. PIAGET apresenta conceitos importantes e as relações existentes entre eles, ambos relacionados ao erro. Ele acredita que o conhecimento é construído pelo indivíduo em sua 35 interação com o meio. A partir daí, ele desenvolveu os conceitos de assimilação, acomodação, equilibração e regulação para explicar o desenvolvimento da inteligência. Agora, veremos a interpretação do que vem a ser cada um desses conceitos: Assimilação – Consiste em assimilar novos conhecimentos, ou seja, integrar elementos do meio a sua parte cognitiva. Acomodação – Consiste em acomodar os novos conhecimentos, isto é, modificar-se em função deles, sem deixar os seus poderes anteriores de assimilação. Equilibração – Consiste em equilibrar a assimilação e acomodação, pois nesse processo ocorrem situações de conflitos cognitivos, esse desequilíbrio mostra o progresso no desenvolvimento do conhecimento. Através da busca pelo equilíbrio é que se pode explicar a evolução da inteligência e dos conhecimentos. Regulação – Consiste no indivíduo retornar suas ações modificando-as ou conservando-as conscientemente, baseando-se nos três conceitos citados acima. Tendo em vista a concepção de PIAGET, a evolução dos conhecimentos tem como fonte fundamental as regulações obtidas através de situações de conflitos, pois é aí que entra a importância do erro na aprendizagem, que passa a ser o ponto de partida para o desenvolvimento. Na resolução de problemas o erro é algo constante e, praticamente, inevitável por ser um método que, de certa forma, exige muito do aluno, pois é necessário usar competências e habilidades que na maioria das vezes ainda não foram desenvolvidas. Ainda mais, quando se tem como clientela alunos do ensino fundamental, pois, esses alunos se encontram em um período de desenvolvimento cognitivo e em plena construção do conhecimento. Quando se tem um contato direto com eles, vê-se que estão sempre vivenciando situações de conflitos. Estas situações surgem porque os educandos estão em um período de formação de suas concepções, assim, os erros acontecem com freqüência, porém através desses erros surgem caminhos para se chegar ao êxito, que é na verdade o objetivo primordial de qualquer método de ensino. 36 Em suma, toda a teoria apresentada neste capítulo é de inquestionável importância para se compreender a dimensão do método de resolução de problemas dentro do ensino de matemática. Para usar a resolução de problemas como uma ferramenta de trabalho é necessário que o educador saiba em sua totalidade o que é realmente a resolução de problemas, e ainda, qual seu papel dentro do processo de ensino-aprendizagem, e mais ainda, como usar a teoria de forma prática tornando o aprendizado significativo e concreto. No próximo capítulo, serão apresentadas várias estratégias para se trabalhar a resolução de problemas em sala de aula, a fim de oferecer aos leitores, que se interessam pela temática, sugestões de metodologias que podem ser muito úteis no ensino através da resolução de problemas desde que bem trabalhadas. 37 CAPÍTULO 3 ESTRATÉGIAS PARA O TRABALHO COM RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS O presente capítulo apresenta algumas estratégias para o trabalho com resolução de problemas, a fim de direcionar o leitor para a prática de resolução de problemas, como método facilitador da matemática. Baseando-se nas obras de SMOLE e DINIZ (2001), de POLYA (1995) e de DANTE (1999), observou-se as seguintes estratégias: A primeira delas chama-se Lendo e Comentando. Na resolução de um problema o professor deve incentivar seus alunos a ler o problema quantas vezes forem necessárias até que compreenda o real sentido do que foi proposto. Quando os alunos fazem uma leitura detalhada do problema, conseguem descobrir as partes ocultas dos problemas e acabam socializando-o. Depois de realizar uma boa leitura, o professor deverá discutir com os alunos o problema, no intuito de sanar as dúvidas e ampliar as compreensões para garantir uma boa elaboração da estratégia e do plano de resolução. A segunda estratégia é o Dicionário matemático. SMOLE e DINIZ (2001) em sua obra Ler, escrever e resolver problemas sugerem que seja elaborado um dicionário matemático onde aparecem palavras com o seu significado no cotidiano matemático, já que por várias vezes surgem dúvidas sobre significados de palavras ou símbolos, que dificultam para os alunos a resolução de problemas. Por exemplo: “...Quero que me pague em dinheiro vivo...” . Numa situação como essa, os alunos com menos esclarecimento confundem, podendo perguntar, ora, existe dinheiro morto? Daí a importância de ter um dicionário matemático para estar solucionando estes problemas freqüentemente apresentados no contexto matemático. 38 O próximo passo é a estratégia Problemas em tiras. É uma proposta de grande importância para ajudar os alunos a fortalecer e consolidar suas idéias em relação a um enunciado, pois ao receber as tiras do problema os alunos terão que organizar as frases de maneira que fique coerente com o que se pede, tendo em vista montar um plano para solucionar o problema, levando os alunos a refletir sobre a importância e a utilidade de cada tira, onde eles serão beneficiados até mesmo em outras disciplinas como a interpretação de textos matemáticos. É necessária muita atenção por parte dos alunos nestes tipos de problemas, pois cada frase e dado numérico terão a sua utilidade para a resolução do problema. Citemos agora um problema em tiras: PROBLEMA 15: 1. Ganhou 22 jogando “bofinho”. 2. Sandro tem quantas figurinhas? 3. Sandro tinha 15 figurinhas. 4. Sandro deu 10 figurinhas para o seu irmãozinho. Para este problema, a ordenação mais adequada é 3, 1, 4, 2. A exploração dos problemas em tiras não se encerra no que foi apresentado, mas abre novos caminhos para trabalhar diferentes contextos, além de sistematização das soluções e problematizações acerca das seqüências encontradas. É de grande valia que o educador leve seus educandos a analisarem as seqüências e as soluções do problema, para não haver dúvidas o educador deve verificar se a organização de dados ficou correta, ou ainda, se agrupou da melhor maneira possível para chegar à solução desejada. Em um estágio mais avançado, pode-se explorar a Escolha da Operação Adequada. Segundo SMOLE e DINIZ (2001), esta estratégia é de grande importância na matemática, pois permite aos alunos ler o enunciado e perceber quais erros podem cometer quando se lê 39 um problema rapidamente, sem a atenção necessária. Se não houver uma boa interpretação os erros serão inevitáveis e, conforme descrito no capítulo 2, o acerto é o objetivo da resolução do problema, isto então deve ser focalizado pelo professor durante a resolução. O professor deverá saber quando é necessário usar essa estratégia, e quando for, segundo as autoras, é aconselhável fornecer poucos problemas, no máximo quatro. Ao aluno compete a tarefa de descobrir qual a operação que será utilizada para solucionar o problema e, muitas vezes, aconselham-se utilizar mais de uma operação no problema. Veja um problema convencional que pode ser explorado pelos educadores segundo a referida estratégia. PROBLEMA 16: “Na classe de Ricardo há 17 meninos e 22 meninas. Quantas crianças há na classe?” (DANTE, 1999, p. 81). Qual das contas abaixo leva à solução deste problema? 17 × 22 17 + 22 22 – 17 22 ÷ 17 Cabe ao leitor descobrir qual a operação a ser utilizada. Uma outra forma de se trabalhar é oferecendo os cálculos, ao invés do problema pronto, para que os alunos criem o seu critério, pois assim eles estarão desenvolvendo a habilidade de criar problemas de maneira que satisfaçam os dados propostos. Comparar problemas é uma estratégia abordada por SMOLE e DINIZ (2001), objetivando desenvolver a capacidade dos alunos em compreender o papel dos dados dispostos nos problemas e das perguntas na resolução de problemas. Compete ao professor apresentar aos alunos dois problemas que tenham algumas semelhanças, no enunciado (texto matemático) ou na operação a ser resolvida, assim os 40 alunos farão a compreensão e comparação dos dois problemas, as autoras esclarecem que é conveniente que a atividade seja resolvida coletivamente, em pequenos grupos, para propiciar a troca de idéias na hora de realizar a comparação, ao ser feito isto, os alunos deverão registrar o que foi discutido na comparação. Observe os dois problemas em que será proposta a comparação entre eles . PROBLEMA 17: Um ano tem 365 dias. O ano bissexto tem 366 dias. Quantos dias já viveu Fábio que completou 9 anos, sendo que 2 deles foram bissextos? PROBLEMA 18: Fábio já viveu 3.287 dias. Quantos anos Fábio já viveu sendo que um ano tem 365 dias, e o ano bissexto 366 dias, e 2 desses anos foram bissextos? A partir da comparação têm-se as semelhanças e as diferenças. Dentre as semelhanças tem-se: Nos dois problemas aparece o nome de Fábio; Os dois problemas falam de idades; Os dois problemas falam de anos e dias; Os dois problemas falam de anos bissextos. As diferenças entre os dois problemas acima citados são: No primeiro problema aparecem quantos anos Fábio já viveu; No segundo problema aparecem quantos dias Fábio já viveu; No primeiro problema a pergunta é quantos dias já viveu Fábio, no segundo é, encontrar quantos anos Fábio já viveu; A forma de resolver os problemas é diferente porque, no primeiro têm-se que achar quantos dias viveu Fábio, já no segundo problema pede, quantos anos já viveu Fábio. Com várias leituras, análises e questionamentos sucessivos dos dois problemas, as semelhanças e diferenças se tornam cada vez mais claras, principalmente quando isto é feito em grupo, pois proporciona aos alunos a oportunidade para discutir estratégias, conclusões e procedimentos obtendo assim, conhecimento amplo e aprofundado. Outra estratégia é chamada pelos referidos autores por Qual é a pergunta?. Nesta estratégia, o educando recebe um problema juntamente com algumas perguntas que poderão ser respondidas a partir do problema disposto. É de responsabilidade do aluno ter a capacidade de interpretar quais são essas perguntas e como resolvê-las. 41 Fazendo isso, os alunos perceberão a relação entre as perguntas e os dados podendo utilizá-los de maneira útil para suas soluções, essa é uma das principais etapas de resolução de problemas elaboradas por POLYA (1995). O problema a seguir proporcionará a visualização deste tipo de problema PROBLEMA 19: A classe de Thiago tem 34 alunos. Ele fará uma apresentação na véspera do dia das crianças. Para isso foram formadas equipes de 5 crianças. Quais das perguntas a seguir podem ser respondidas a partir do problema? 1 – Quantos alunos há na classe de Thiago? 2 – Qual a idade de Thiago? 3 – Por que eles formaram equipes? 4 – Em que série Thiago estuda? 5 – Quantos alunos possui cada equipe? 6 – Quantas equipes de 5 alunos foram formadas? 7 – Houve alguma equipe com menos alunos? Por quê? 8 – Qual equipe venceu? 9 – Qual equipe perdeu? As respostas dessas perguntas ficam para os leitores. Conforme já foi falado anteriormente, o erro numa concepção construtivista possui um papel muito importante no processo de construção do conhecimento, mas infelizmente muitos de nós educadores acreditamos que nossos alunos não são capazes de criar suas próprias estratégias para solucionar os problemas que lhes são apresentados, com isso oferecemos modelos para serem seguidos em exercícios posteriores.Desta forma, estaremos formando alunos para serem meros repetidores de conhecimento, bem como estaremos fugindo do real sentido da Resolução de Problemas. DANTE (1999) propôs a estratégia Tentativa e erros organizados, com o objetivo de desenvolver neles a técnica de dividir, criar suas próprias estratégias e conclusões, levantando 42 hipóteses, em que os educandos para conseguir encontrar uma solução adequada não terão um modelo a seguir, serão necessários testes acompanhados pelo professor, que auxiliará os alunos, exercendo o papel de orientador na organização do conhecimento. Então, através de tentativas eles devem chegar à solução do problema e assim, alcançar o verdadeiro objetivo que é desenvolver as habilidades, já comentadas anteriormente. Seguindo as estratégias, têm-se então as Propostas de Formulação de Problemas. Quando o educando cria de forma autônoma os textos de problemas, é necessário que ele organize tudo que sabe para elaborar o texto, dando-lhe sentido e estrutura adequada para que possa comunicar o que pretende. Nesse processo, o aluno deixa, então, de ser um resolvedor para ser um propositor de problemas, tendo controle sobre o texto e as idéias matemáticas. Dar oportunidade aos alunos de formular problemas é uma forma de levá-los a escrever e perceber o que é importante na elaboração e na resolução de certa situação. As primeiras propostas de formulação de problemas devem ser planejadas com muito cuidado, uma vez que, os alunos demonstram dificuldades para realizar tal tarefa por estarem acostumados a apenas resolver problemas. Vejamos algumas propostas de formulação de problemas sugeridas por DANTE, SMOLE e DINIZ. A partir de um problema dado, criam perguntas que possam ser respondidas através dele. Nesta atividade o aluno deve reconhecer no problema os dados que estão à sua disposição, a situação criada e evidenciar a existência de um problema através da pergunta inventada. Deve ainda, discutir as diferentes perguntas que surgirem no grupo, bem como resolver o problema a partir da pergunta formulada pelo colega, o que exige maior empenho e favorece a melhoria da qualidade dos textos produzidos. 43 A partir de uma figura dada, criam-se perguntas. Esta proposta faz com que os alunos tenham uma interpretação de uma imagem, retirando dela uma idéia que possa gerar diversas perguntas. A partir de um início dado, continuar os problemas. Esta atividade exige muito do aluno, especialmente no que diz respeito ao sentido de dominar as características do texto de um problema e os conhecimentos matemáticos que ele possui para aplicá-los numa situação nova. A partir de um problema dado criam um parecido. Esta proposta, objetiva observar se os alunos já estão apropriando-se da estrutura de um problema e se já percebem o que é essencial em sua formulação. Nessa atividade o aluno produzirá, pela primeira vez, um problema em sua totalidade. Compete ao professor encorajar os alunos para que essa primeira produção sirva como suporte para escritas posteriores, valorizando o que foi feito e, ao mesmo tempo, fazer uma reflexão do que foi realizado. É fundamental utilizar diferentes tipos de problemas modelo, para que os alunos desenvolvam inúmeras formas de pensar. E por fim, a última estratégia é a Resolução de Problemas e Comunicação. Por meio dos exemplos descritos na tentativa de esclarecer a concepção que se tem sobre resolução de problemas, é perceptível que os recursos de comunicação oral, escrita e pictórica aparecem naturalmente. A Oralidade é utilizada como recurso na resolução de problemas e pode ampliar a compreensão do problema. Falar e ouvir nas aulas de matemática permite uma maior troca de experiências entre aluno-aluno, professor-aluno, amplia a linguagem matemática e faz com que as idéias e procedimentos sejam compartilhados. Por meio da oralidade os educandos que não gostam de se expor nos momentos de discussão na classe têm um espaço garantido de discussão nos grupos e duplas. Essa é uma forma de assegurar que falem e sejam ouvidos, opinem e recebam sugestões. 44 Tais observações podem parecer óbvias, mas, muitas vezes os educadores esquecem de abrir esse espaço para que os alunos possam falar sobre um problema qualquer que já esteja colocado para toda a classe, em seu formato correto e final. Dentre as Representações Pictóricas, o desenho é um importante recurso de interpretação de problemas e também de registro da estratégia de solução. De acordo com Smole e Diniz o desenho pode ser utilizado de três maneiras na resolução de problemas. Na primeira, o desenho é usado para representar a situação apresentada no texto. Na segunda etapa, o resolvedor consegue representar a resolução completa do problema usando apenas o desenho. E por fim, na terceira etapa o resolvedor começa a misturar desenhos e sinais matemáticos, em que dois fatos podem decorrer dessa representação: ou o aluno está utilizando o desenho para interpretar o texto, e expressa a resolução através de uma escrita matemática, como se fizesse uma relação entre as duas linguagens, ou faz a resolução numérica, e utiliza o desenho para comprovar se sua resposta está correta. Desenhar por desenhar não constitui numa forma de comunicação, é preciso organizar atividades em que o desenho seja realmente um meio de transmissão de idéias. Em síntese, o objetivo deste capítulo é apontar caminhos que o professor possa seguir em sala de aula, ou seja, estratégias para o educador exercer seu trabalho de forma dinâmica, coerente, significativa, concreta e eficaz. Mas para isso é fundamental que o educador saiba conciliar a teoria (apresentada no segundo capítulo) e a prática (apontada no terceiro capítulo), porque teoria sem prática nem sempre funciona. 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS Observando a resolução de problemas de modo novo, ela passa a ser vista como um objetivo do ensino de matemática que proporciona um posicionamento diferenciado diante de situações desafiadoras. Neste momento é possível refletir sobre a prática. Na realidade a minha prática enquanto docente. Aproximando os benefícios da resolução de problemas com a experiência vivenciada por mim, relatada no primeiro capítulo deste trabalho, percebe-se que esta foi fundamental para a escolha do tema e após um estudo detalhado compreende-se que a busca da solução do problema, enquanto professora fez-me percorrer pelas etapas descritas por POLYA (1995) e fez-me também compactuar com as diversas concepções de resoluções de problemas e os aspectos que a envolvem, como por exemplo, o papel do professor, a importância do erro e os tipos de problemas, bem como aprender a trabalhá-los. Para ajudar os alunos a superarem o problema de compreender a matemática de forma significativa para a vida deles, ao mesmo tempo em que buscava usar a resolução de problemas como método de ensino, tentava solucionar uma situação perturbadora de que a realidade da prática pedagógica me proporcionou. A primeira etapa descrita por POLYA é a compreensão do problema, isto ocorreu com o meu problema quando procurei entender o que havia acontecido, para que os alunos se encontrassem em tal estado, de notável dificuldade em matemática. Então percebi, que a resolução de problemas era vista e usada como mera atividade, o que acabou provocando o desinteresse dos alunos e conseqüentemente a não aprendizagem. Observei que, ao utilizar a resolução de problemas como simples atividade, os professores que me antecederam não 46 deram oportunidade aos alunos de desenvolverem o seu potencial, a autonomia, a autoconfiança e a criatividade, que são fatores relevantes na conduta do professor, destacados no capítulo 2. Não era possível para os alunos a transferência de conteúdos da sala de aula para inúmeras situações do nosso cotidiano, ou seja, eram conteúdos descontextualizados da realidade. Após compreender isto que havia acontecido, houve o estabelecimento de um plano de resolução, que é outro passo de POLYA, foi quando procurei novas estratégias para trabalhar com esses alunos. Comecei então a trabalhar a resolução de problemas como método de ensino, os obstáculos encontrados foram muitos, pois os alunos não se interessavam, reclamavam muito, dizendo que não conseguiam fazer o que se pedia, e ainda, que estavam perdendo tempo, insistindo em algo que não daria resultado positivo, ou seja, os alunos estavam totalmente desmotivados, o que exigia muito mais de dedicação da minha pessoa. Executei um plano de resolução, que é outro passo de POLYA, através do trabalho com problemas diversificados, focalizando a interpretação de textos matemáticos, pensei que, se eles conseguissem desenvolver a habilidade de interpretação, facilitaria bastante a resolução dos problemas propostos, também organizei um torneio de matemática entre as séries, no intuito de promover o estudo das operações elementares da matemática. Os alunos conseguiram obter algum sucesso, mas não foi satisfatório, pois a maioria não conseguiu desenvolver suas habilidades em relação à resolução de problemas. O retrospecto, segundo POLYA, ocorreu quando comecei a refletir sobre tudo o que eu, enquanto professora juntamente com os alunos, havíamos feito e os resultados que alcançamos. Percebi que os alunos progrediram, porém não o suficiente. Cheguei à conclusão que, este era um trabalho que seria realizado em longo prazo e necessitaria de muita dedicação por ambas às partes, professor e aluno, e de muita pesquisa. Pesquisa esta que primeiramente situou a matemática no mundo moderno destacando a resolução de problemas neste cenário amplo e a sua adequação em todas as disciplinas, 47 conforme prevê os PCN’s, não apenas na matemática. Para isto, o professor assume relevante papel, pois além de incentivador, facilitador é mediador e tem que compreender que a resolução de problemas faz o aluno pensar, e tem que ser explorada de forma motivada e dinâmica, através de muita prática, o que foi argumentado por DANTE no capítulo 2. Mas para isto, o professor deverá conhecer bem os problemas, que foram de forma resumida tratados neste trabalho, em que disponibilizamos dezenove tipos de problemas, de diferentes abordagens, sendo convencionais e não-convencionais. Deverá também dominar bem os passos a serem seguidos, respeitando a sua hierarquia, para desenvolver o pensamento de seus alunos. O erro que é também destaque deste trabalho deixa o leitor ciente de uma concepção de ensino construtivista, que o reconhece como parte do processo ensino-aprendizagem, pois o aluno erra na tentativa de acertar. E, também se explora, mesmo que de forma implícita uma abordagem interacionista, preocupando-se com as relações de professor-aluno e alunoaluno durante a resolução de problemas. Para os alunos, a resolução de cada problema é uma situação em que terão a possibilidade de tentar encontrar um caminho próprio, desenvolver relações aritméticas de forma contextualizada e refletir sobre as operações matemáticas. Por outro lado, é preciso assegurar que eles tenham acesso à linguagem matemática por meio de aproximações sucessivas ao longo da sua vida estudantil, garantindo uma aquisição equilibrada, gradual e coerente. Para tanto, é preciso encorajá-los a encarar ativamente situações novas. Nesse sentido acredito que trabalhando com diferentes formas de explorações e reformulações, buscando desenvolver o interesse pelo problema, explorando sua linguagem, incentivando e desafiando os discentes, contribui-se significativamente para a formação de indivíduos autônomos e com a capacidade de enfrentar os problemas propostos sem receio ao mesmo tempo em que estará preparando-os para a vida. 48 BIBLIOGRAFIA AQUINO, Júlio Groppa, org. Erro e fracasso na escola: Alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997. BRASIL, Projeto Ensinar e Aprender – Matemática. CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisa Aplicada à Educação. São Paulo. 2001. CARVALHO, M.M.; CARVALHO, D. D. M.; Para Compreender o Erro no Processo Ensino Aprendizagem. Revista Pedagógica, Vol. 7, N. 42, Novembro/Dezembro, 2001. D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Da realidade à ação: reflexões sobre a educação matemática. 4 ed. Campinas: Sammus. 1986. DANTE,Luiz Roberto. Didática da resolução de problemas de matemática. 12 ed. Ática, 1999. POLYA,George. A arte de resolver problemas.Rio de Janeiro: Interciência, 1995. RABELO, Edmar Henrique. Textos matemáticos: produção, interpretação e resolução de problemas. 4 ed. Petrópolis, RJ: vozes, 2002. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais. Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997. SMOLE, Kátia Stocco & DINIZ, Maria Ignez. Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2001.