O CURRÍCULO E AS PRÁTICAS COTIDIANAS NA
REPRESENTAÇÃO DA IDENTIDADE DOS LICENCIANDOS EM
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UEPG
TOLENTINO, Patrícia Caldeira – UEPG/PPGE
[email protected]
ROSSO, Ademir José – UEPG/PPGE
[email protected]
Eixo temático: Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência financiadora: Não contou com financiamento
Resumo
Durante o processo de formação nos cursos de licenciatura, a proposta para o docente a ser
formado deve considerar, com primazia, a capacidade de leitura crítica do sistema
educacional e a construção de sua identidade profissional. A questão da formação de
identidade é abordada por diferentes ciências podendo ser discutida em diferentes
perspectivas que podem relacionar-se através de convergências e divergências. Trataremos do
conceito através do construtivismo piagetiano, que conduz progressivamente a autonomia do
sujeito diante de seu processo de formação. O sujeito possui papel ativo que o permite atuar
sobre sua realidade. É o sujeito epistêmico, construtor do conhecimento, através de sua
interação com o objeto. Os componentes desta atividade são a assimilação e acomodação.
Este trabalho emprega uma análise qualitativa que tem como finalidade compreender a
representação dos sujeitos com relação à sua identificação profissional e perspectiva de
futuro. Para análise das questões, desenhou-se um modelo de sujeito social, que aceita, nega
ou é ambivalente diante de sua formação e identificação profissional. De uma forma geral
podemos perceber que os licenciados estão divididos na escolha profissional e que o interesse
maior provém do status proporcionado pelas atividades vivenciadas em laboratórios em
relação àquelas proporcionadas pelas atividades de docência. A negação da formação, mesmo
conscientes que frequentam um curso de licenciatura é um fator preocupante. Juntamente com
os ambivalentes conclui-se que a identidade profissional não foi construída dentro da
instituição e que as interações licenciando-escola necessárias não foram assimiladas.
Considerando que para Piaget os processos de conceituação não ocorrem de uma hora para
outra e sim requerem reorganizações cognitivas constantes pressupõe-se que os licenciandos,
através de uma cultura curricular condizente ao perfil formativo esperado, poderiam através
da tomada de consciência progressiva reformular os conceitos do fazer docente.
Palavras-chave: Formação docente. Identidade profissional. Currículo.
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Introdução
Consideramos a formação docente como um processo de inserção do sujeito a um
ativo profissional, normatizado por políticas e diretrizes. O projeto pedagógico do curso
traduz o entendimento dessa formação visando interpretar os desafios do contexto
profissional. No tocante da formação nos cursos de licenciatura, a proposta para o docente a
ser formado deve considerar, com primazia, a capacidade de leitura crítica do sistema
educacional e a construção de sua identidade profissional.
Uma leitura crítica somente é possível se, durante o processo de formação o
licenciando foi acompanhado por formadores para tal e, que este acompanhamento favoreça a
identificação com a profissão docente. Este processo, para ser eficaz, deve ser realizado desde
o início da graduação, onde o licenciando deve interagir com o futuro contexto de trabalho
associando a importância de sua formação profissional, docente, para a sociedade.
A questão da formação de identidade é abordada por diferentes ciências como a
psicologia, antropologia e sociologia podendo assim ser discutida em diferentes perspectivas
que podem relacionar-se através de convergências e divergências. Trataremos do conceito
através do construtivismo piagetiano, que conduz progressivamente a autonomia do sujeito
diante de seu processo de formação. Segundo Rosso e Berger (2006 p.321), “o construtivismo
piagetiano, interessado na gênese da construção do conhecimento, enfatiza o sujeito
construtor de si mesmo e do mundo, e focaliza as estruturas mentais como as formas de
organização da atividade, esta última fonte de toda e qualquer construção”.
Como um dos objetos deste processo, a instituição interage com o sujeito em formação
através do currículo explicito e oculto. Este transmitirá as percepções e concepções a serem
construídas e assimiladas por seus integrantes, sejam estes docentes ou discentes, e estas
informações e práticas chegam ao ambiente escolar da maneira como foram assimiladas,
traduzidas. Por estas situações questiona-se: Quais seriam as condições que permitem ou
impedem a construção da identidade profissional docente?
Este trabalho desenvolverá uma análise exploratória das representações identitárias
dos concluintes do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UEPG do ano de 2008
associada a uma síntese do projeto pedagógico do curso com o objetivo de responder: Seria
esta identidade representada a expressão de uma cultura, cotidiano ou das ênfases ou omissões
apresentadas no currículo?
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Referencial teórico
Todo o processo de formação possui elementos tácitos e propositivos para o
desenvolvimento de cultura profissional, através da interação entre a instituição formadora e o
ambiente escolar. Esta relação deve ser capaz de promover um debate dialógico e reflexivo
que resulte em um compromisso que supere uma formação técnica e atinja as esferas pessoais,
profissionais e sociais.
A socialização permite ao sujeito a construção de sua identidade. No momento da
formação docente, os objetos deste processo são a instituição e a escola. Demarcando o
processo de socialização profissional em uma perspectiva piagetiana, este consiste na
interação do sujeito e o objeto visando o desenvolvimento dos indivíduos a partir da
organização das estruturas cognitivas e a atividade do sujeito está nos processos de
assimilação e acomodação. Percheron (apud DUBAR, 2005) afirma que toda a socialização
resulta destes dois processos, “pela assimilação, o sujeito procuraria modificar seu entorno
para torná-lo mais conforme a seus desejos e para diminuir seus sentimentos de ansiedade e
de intensidade; pela acomodação , ao contrário, o sujeito tenderia a se modificar para
responder às pressões do seu entorno”.
O sujeito possui papel ativo que o permite atuar sobre sua realidade. É o sujeito
epistêmico, construtor do conhecimento, através de sua interação com o objeto. Os
componentes desta atividade são a assimilação e acomodação. Piaget (apud CHAKUR, 1995)
define a assimilação como “incorporação de um elemento exterior em um esquema sensóriomotor ou conceitual do sujeito” e a acomodação “necessidade em que se encontra a
assimilação de considerar as particularidades próprias do elementos a assimilar”. A
acomodação transforma os esquemas existentes às novas informações ou experiências e as
verdadeiras estruturas de conhecimento são “resultado de um processo de interação radical
entre o mundo do sujeito e o mundo do objeto, (inter)ação ativada pela ação do sujeito”
(BECKER,1993 p.21).
Na interação sujeito-meio, quando o esquema é posto em ação, o sujeito encontra
obstáculos à assimilação através de novos objetos e situações que provocam um desequilíbrio
no esquema em atividade que precisam ser contrapesadas para haver o reequilibrio. O
reequilíbrio se produz em novas bases e os esquemas podem ajustar-se à situação ou
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combinar-se com os outros para dar conta da situação inicialmente não assimilada.
(CHAKUR, 2002)
A socialização não consiste apenas na transmissão de valores e normas, mas sim o
“desenvolvimento de determinada representação do mundo” principalmente de “mundos
especializados” (DUBAR, 2005 p. 23), em nosso caso o mundo da escola. Cada indivíduo vai
compor e organizar conforme a sua leitura esse contexto, socializando-se, assumindo um
pertencimento através do processo de identificação, de construção de identidade. O
mecanismo básico do processo de socialização é descontínuo, “procedendo por desequilíbrios
e reequilíbrios, implicando um duplo movimento de acomodação e assimilação, associando
estruturas lógicas e formas sociais de cooperação” (ibid, p. 29). Este processo se prolonga por
toda a vida do sujeito seguindo o mecanismo da equilibração (p.30).
Quando o indivíduo chega à idade adulta há uma última forma de equilíbrio com o
ambiente, pois as estruturas necessárias já estão desenvolvidas. Este equilíbrio é dinâmico,
pois a todo o momento há conflitos que rompem este estado e consequentemente há uma
mobilização das estruturas mentais com o objetivo de solucionar o desequilíbrio e voltar ao
equilíbrio. Assim, o desenvolvimento baseia-se neste trânsito constante do equilíbrio para o
desequilíbrio e seguinte equilíbrio superior. O processo de equilibração consiste na
organização das estruturas cognitivas em um conjunto lógico interdependente que tornam
possíveis ao sujeito diversas formas de equilíbrio, permitindo ao sujeito o entendimento e
atuação sobre sua realidade (Piaget, 1976, apud RAPOSO; MACIEL, 2006).
Durante o processo de formação a identidade do sujeito vai se construindo movido
pelo ambiente que lhe capacita que deve proporcionar uma base epistemológica que responda
as novas demandas da educação. Segundo THERRIEN (2006, p.74-75);
Os saberes múltiplos e heterogêneos, construídos no percurso da formação inicial e
contínua docente são: os saberes que lhe proporcionam condições de leitura do
mundo nos múltiplos olhares que a ciência desenvolve (noções de sociologia, de
psicologia, de história, de filosofia, entre outros); os saberes disciplinares do seu
próprio campo de formação profissional e os saberes curriculares das áreas
específicas do seu trabalho docente; os saberes de formação pedagógica que
fundamentam os processos de ensino-aprendizagem, suas teorias metodológicas,
além de elementos de políticas educacionais; e finalmente os saberes construídos na
sua experiência cotidiana da trajetória pessoal de vida social, cultural, escolar e,
particularmente, de trabalho profissional.
Com todas as especificidades, “pode-se conceber a prática docente no sentido da ação
piagetiana: atividade transformadora, um ‘agir sobre’ intencional, calcado na interação
indivíduo-meio e que, além disso, passa por um processo de construção” (CHAKUR, 1995 p.
9186
644-45), ou seja, de uma progressão ou sucessão necessária. Uma finalidade projetada em
busca do produto ideal: a leitura de mundo, expressão formatada por Paulo Freire que, durante
a formação se constitui no letramento docente definido por Rosso (2008) “como a maneira
pela qual o licenciando se insere na situação de sujeito que aprende e dos seus formadores
como sujeitos que promovem a leitura crítica da educação, da escola e da docência não apenas
para a execução de ações predeterminadas ou em vista de uma adaptação do espaço
educativo.”
A resolução CNE/CP 2 de 19 de fevereiro de 2002 trouxe a separação entre
licenciatura e bacharelado, que “à primeira vista poderia ser um ganho histórico para
construção identitária de ser professor”(FERNANDES;SILVEIRA, 2007). Mas, como a
organização do currículo depende do contexto de seus gestores, fica-se à mercê de suas
decisões e aos debates internos dos grupos de formadores. Assim o contexto formador deixa
de ser simples monolítico. Assume o contorno complexo, diverso e dissensual. Através de
uma síntese dos resultados obtidos por Rosso (2008) dentro de um paralelo entre as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN), as Diretrizes Curriculares para os cursos de Ciências
Biológicas (DC-Bio) com a Proposta Pedagógica de Curso (PPC-Bio), visualiza-se dentro da
PPC-Bio as seguintes ausências:
- de elementos articuladores da profissão de biólogo à docência,
- do compromisso com o aluno e sua aprendizagem
- das questões de inclusão em sentido amplo
- do compromisso com a educação e a formação de educadores
- do conhecimento de processos de investigação que possibilitem o aperfeiçoamento
da prática pedagógica
Estes dados divergem “da concepção pedagógica fundante da formação docente na
sociedade contemporânea” (THERRIEN, 2006). A retirada do sujeito final, o aluno; e de seu
ambiente, a escola, dos objetivos do processo de formação dos professores leva ao contexto
da capacitação dos licenciandos “opções teórico - metodológicas que seguem as trilhas da
racionalidade técnica e da reprodução do conhecimento são ineficientes para promover a
formação de professores capazes de entender-se na sua totalidade como sujeitos históricos,
portadores de inteligências múltiplas e para provocar novas visões, sonhos e aspirações”
(ROSSO; BERGER, 2006 p.324)
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Metodologia
Este trabalho emprega uma análise qualitativa que tem como finalidade compreender a
representação dos sujeitos com relação à sua identificação profissional e perspectiva de
futuro. “A dialética da representação caracteriza o meio no qual se realiza a apropriação
subjetiva do objeto pelo sujeito” (DUBAR, 2005 p. 101) buscando evidenciar a identificação
dos licenciandos do curso de Ciências Biológicas com a profissão docente. Para análise das
questões, desenhou-se um modelo de sujeito social, que aceita, nega ou é ambivalente diante
de sua formação e identificação profissional. Os sujeitos de pesquisa foram os concluintes do
curso dos períodos vespertino e noturno em um total de 32 informantes. As informações
foram levantadas mediante questionário com questões abertas onde foi solicitado completar o
pensamento em aberto nas frases conforme a sua maneira de pensar sobre o curso e o seu
futuro em três situações:
1- Nos próximos três anos, após a conclusão do curso me vejo...
2- Mas se isso não der certo, vou...
3- Como biólogo e licenciado em Biologia me identifico...
Pádua (1996, p. 67) afirma que “As perguntas abertas, por exigirem uma resposta
pessoal, espontânea, do informante, trazem dados importantes para uma análise qualitativa,
pois as alternativas de respostas não são todas previstas como no caso das perguntas
fechadas”.
Análise dos resultados
O sujeito é concebido na corrente da linguagem no qual as enunciações representam
mais do que um grupo de palavras. As palavras formadas possuem valor ideológico que
apresentam uma relação dialética com o meio social. (Bakhtin, 1997a, apud LEMOS, 2002).
A partir deste quadro “só se pode conceber um sujeito social, histórica e ideologicamente
situado, que se constitui na interação com o outro. Eu sou eu na medida em que interajo com
o outro. É o outro que dá a medida do que eu sou. A identidade se constrói nessa relação
dinâmica com a alteridade.” (BRANDÃO, 2003 p.8).
Desta forma, a partir da análise das respostas, construíram-se os três sujeitos presentes
no contexto da Licenciatura em Ciências Biológicas:
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O que aceita e se identifica com a formação profissional é comprometido com o
processo formativo e na busca de aperfeiçoamento direcionado à educação e ao ensino. Tem
identificação com a Biologia com o desejo de contribuir para o desenvolvimento dos
educandos. As expressões transcritas abaixo são algumas respostas destes sujeitos:
Respostas da primeira situação:
- Como uma profissional reconhecida na área de atuação, satisfeita e em busca de
novos desafios.
- Como professora, dar aulas na universidade e em alguma turma do ensino médio.
- Trabalhando naquilo que realmente gosto, dar aulas de Ciências e Biologia,
concursada no Estado, fazer uma especialização e após mestrado.
Respostas da segunda situação:
- Continuar a dar aulas. Sempre tive em mente que quero trabalhar na minha área.
- Trabalhar em alguma escola particular inicialmente com turmas de reforço e
substituições.
- Acredito que vai dar certo, pois hoje já dou aulas de Ciências em uma escola
particular e no Estado como PSS.
Respostas da terceira situação:
- Na área de saúde e educação, produzindo alternativas significativas para ensinar e
produzindo projetos na área específica, tentando conciliar saúde e meio ambiente.
- Com o ensino de Biologia, como uma formadora de opiniões.
- Professora de Biologia.
O ambivalente não possui uma posição definida quanto à direção profissional, possui
uma visão técnica da profissão evidenciada na atração pela pesquisa. Tem identificação com a
Biologia, mas a atuação dependerá da oportunidade, podendo ser em escolas ou empresas. As
falas abaixo ilustram esta situação:
Respostas da primeira situação:
- Terminando meu mestrado ou empregada em um concurso publico trabalhando
como bióloga. Pretendo continuar a linha de pesquisa que trabalhei durante a
iniciação da minha graduação ou ainda lecionar para o ensino médio.
- Ou dando aulas para escolas ou trabalhando na área de pesquisa em Biologia.
- Trabalhando como professor ou biólogo, fazer concursos públicos, conseguir uma
estabilidade financeira.
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Respostas da segunda situação:
- Se nada der certo tentarei fazer vestibular para outro curso e tentar outra carreira
enquanto trabalho na profissão que tiver vaga.
- Procurarei um emprego para lecionar no ensino fundamental aulas de Ciências.
- Trabalhar em outro ramo de atividade, prestando concursos, além de me interessar
estudar Fisioterapia.
Respostas da terceira situação:
- Com a sala de aula e também com os laboratórios de uma carreira acadêmica.
- Como bióloga, apesar de não deixar de lado a possibilidade de ser professora de
Biologia.
- Apto a trabalhar tanto como biólogo como licenciando. Vai depender do meu
interesse que no momento é ser biólogo. Mas se surgir uma necessidade de partir
para licenciatura, realizo sem nenhum medo.
O que nega a formação profissional não se identifica como professor. Identifica-se
com a área de conhecimento, mas não com a docência e pretende fazer uma pós-graduação
nela, focando a profissão de biólogo, ser professor faz parte de um plano B, caminho mais
fácil devido a formação na licenciatura e em caso de necessidade, busca-se também algum
outro curso de formação. As falas abaixo elucidam o exposto:
Respostas da primeira situação:
- Trabalhando em outras áreas e não na licenciatura.
- Fazendo outro curso na universidade voltado para área da saúde.
- Não me vejo professora.
Respostas da segunda situação:
- Ser professor.
- Dar aulas pela maior facilidade em conseguir emprego.
- Trabalhar em uma empresa ou colégio particular.
Respostas da terceira situação:
- Com ambas as partes, porém não pretendo fazer carreira como professora.
- Melhor com o trabalho de pesquisa.
- Como professora não me identifico nenhum pouco, não gosto de lecionar e não
tenho vocação para isso.
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Sendo que em proporções numéricas temos 22% dos informantes identificados com a
docência, 50% são ambivalentes e 28% negando a formação da licenciatura.
De uma forma geral podemos perceber que os licenciados estão divididos na escolha
profissional e que o interesse maior provém do status proporcionado pelas atividades
vivenciadas em laboratórios em relação àquelas proporcionadas pelas atividades de docência
“por entenderem que um curso de Licenciatura em Ciências Biológicas lhes dá possibilidades
de trabalhar com pesquisa, o que mais almejam, optam pela licenciatura, sem se dar conta das
conseqüências desse ato para sua formação”. (BRANDO, 2005 p. 78). Destacando o discurso
da atração pela pesquisa em Biologia evidencia o desinteresse ou até o desconhecimento pelas
pesquisas em educação e ensino.
A negação da formação, mesmo conscientes que frequentam um curso de licenciatura
é um fator preocupante. Juntamente com os ambivalentes conclui-se que a identidade
profissional não foi construída dentro da instituição e que as interações licenciando-escola
necessárias não foram assimiladas. Percebem-se as ausências de referências que possam ativar
os esquemas nas situações de interação e que poderiam conduzir o licenciando na condição de
sujeito epistêmico, consciente no que diz respeito às futuras atuações profissionais. Podemos
inferir que o local de trabalho apresentado e vivenciado durante a formação consiste em um
laboratório e a carreira docente é somente uma possibilidade mais fácil de trabalho após o fim
do curso.
A identificação com a formação é traduzida no comprometimento do licenciando com
seu futuro profissional e também dos seus educandos através do enriquecimento do que lhe
foi transmitido durante a graduação. Foram superadas contradições curriculares como a pouca
ênfase dada à formação docente e as experiências proporcionaram outra visão de mundo. Este
contexto conduz a autonomia. Sabe-se que esta conquista é fruto de um processo iniciado
durante o processo de formação e a partir do compromisso assumido pelo licenciando, pois “a
autonomia explicita-se pela participação irredutível e indispensável do individuo na
elaboração de novas formas de pensar e novos conhecimentos” (LA TAILLE, 1992, p.112).
Considerações finais
O processo de identificação profissional dentro da formação se manifestará através da
coerência do currículo do curso no entendimento das necessidades que levam a autonomia do
sujeito para a inserção deste nos ambientes educacionais e suas particularidades. No enfoque
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piagetiano, o professor deve ser qualificado como sujeito epistêmico, um sujeito que “constrói
seu conhecimento (que vem a constituir-se como realidade) em co-autoria com a face social
da realidade, com os muitos outros que estão constituídos nessa realidade” (ROSSO;
BERGER, 2006 p. 327).
Verificamos que mesmo com as mudanças curriculares ainda há uma hierarquia de
valores entre os conhecimentos específicos e pedagógicos perpetuados intrinsecamente no
curso e sendo assimilados pela maioria dos licenciandos. Há uma cultura impelindo para as
áreas especificas sem dar conta que antes de tudo estão sendo formados professores. O
resultado deste processo se apresenta no ambiente escolar, nas dificuldades no entendimento
do papel social do professor de Biologia, da incapacidade de realizar a leitura crítica do seu
ambiente de trabalho e reconhecer os alunos como sujeitos de conhecimento.
Considerando que para Piaget os processos de conceituação não ocorrem de uma hora
para outra e sim requerem reorganizações cognitivas constantes pressupõe-se que os
licenciandos, através de uma cultura curricular condizente ao perfil formativo esperado,
poderiam através da tomada de consciência progressiva reformular os conceitos do fazer
docente. A importância de um processo de formação que envolva o sujeito em um
crescimento pessoal com entendimento da sua realidade profissional é condição para o
estabelecimento das bases identitárias.
A identidade profissional não depende somente da formação na universidade, as
oportunidades do mercado de trabalho irão contribuir na constituição dessa identidade. O
caráter propositivo do curso gira em torno da formação docente, mas em algum (ou vários)
ponto este propósito foge à realidade e leva os licenciandos a adquirirem uma postura
diferente da esperada. Pretende-se refletir esta problemática através da constituição da
identidade perpassando as relações sociais e históricas dos indivíduos vividas no cotidiano do
curso. Este trabalho é um ponto de partida para uma ampla discussão, frente à necessidade da
ampliação teórica onde se pretende, a partir da Epistemologia Genética de Piaget, apontar as
possibilidades de construção da identidade profissional docente dos licenciandos do curso de
Ciências Biológicas da UEPG.
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