A importância da radiografia convencional do crânio diminuiu nos últimos anos em função da ampla disponibilidade das modalidades de imagem como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM). Estas têm um papel muito mais importante na investigação de um paciente com suspeita de patologia intracraniana e uma delas geralmente seria a modalidade de escolha se houvesse suspeita de tal patologia. Entretanto, a radiografia convencional ainda tem papel importante na investigação de pacientes com alguns distúrbios ósseos e, em extensão limitada, no traumatismo, como, por ex., quando há suspeita de lesão com afundamento, ou penetrante, ou se for difícil avaliar o paciente. Em consequência disso, ainda se recebe um grande número de solicitações do setor de emergência. Para produzir imagens do crânio de alta qualidade e reduzir o risco para o paciente, o tecnólogo em radiologia deve conhecer bem a anatomia relevante, os pontos de referência para posicionamento e o equipamento usado. Isso deve ser associado à capacidade de avaliar a capacidade do paciente e assim de aplicar a técnica correta em qualquer situação. Esse capítulo permitirá que o tecnólogo ajuste os fatores técnicos às necessidades do paciente para maximizar o resultado diagnóstico. Interpretação das imagens do crânio As imagens do crânio estão entre as mais difíceis de interpretar em função da complexidade da construção óssea (vários ossos unidos por suturas) e impressões arteriais e venosas na díploe, uma vez que todas elas podem assemelhar-se com fratura. Anteriormente, o esqueleto facial complexo superpõe-se à parte inferior da abóbada craniana; o osso temporal petroso denso também encobre detalhes. As fraturas da base do crânio são importantes devido ao risco de extravasamento de líquido cerebrospinal (LCE) e disseminação de infecção para o conteúdo intracraniano, mas é difícil demonstrá-las devido à natureza fina e plana dos ossos e à superposição do esqueleto facial e osso petroso. A superposição de outras estruturas indesejadas, incluindo rabos-de-cavalo, prendedores de cabelo e cabelo misturado com sangue, pode causar confusão. Já os clipes cirúrgicos usados para fechamento das feridas não devem provocar confusão e podem ajudar marcando o local da lesão. A interpretação inicial de uma série de radiografias do crânio, com frequência será feita por um clínico relativamente inexperiente em radiologia no traumatismo. Assim, é fundamental que o exame tenha a melhor qualidade possível. Terminologia anatómica Toda radiografia do crânio é realizada em relação a uma série de pontos de referência palpáveis e linhas ou planos conhecidos do crânio. É fundamental, então, que o tecnólogo os conheça bem antes de realizar qualquer posicionamento. Pontos de referência • Ângulo lateral do olho: o ponto onde as pálpebras superiores e inferiores se encontram lateralmente. • Margem/ponto infra-orbital: a margem inferior da órbita, com o ponto localizado em seu ponto mais baixo. • Násio: a articulação entre os ossos nasal e frontal. • Glabela: uma proeminência óssea encontrada no osso frontal imediatamente superior ao násio. • Vértice: o ponto mais alto do crânio no plano sagital mediano. • Protuberância occipital externa (ínio): uma proeminência óssea encontrada no osso occipital, geralmente coincidente com o plano sagital mediano. • Meato auditivo externo: a abertura na orelha que conduz ao canal auditivo externo. Linhas • Linha interorbital (interpupilar): une o centro das duas órbitas ou o centro das duas pupilas quando os olhos estão olhando diretamente para frente. • Linha infra-orbital: une os dois pontos infra-orbitais. • Linha de referência antropológica: segue do ponto infraorbital até a margem superior do meato auditivo externo (também conhecida como linha de Frankfurt). • Linha de base orbitomeatal (linha de referência radiográfica): estende-se do ângulo lateral do olho até o centro do meato auditivo externo. Essa linha é angulada aproximadamente a l O graus em relação à linha de referência antropológica. Planos • Plano sagital mediano: divide o crânio em metades direita e esquerda. Os pontos de referência nesse plano são o násio anteriormente e a protuberância occipital externa (ínio) posteriormente. • Planos coronais: estes são perpendiculares ao plano sagital mediano e dividem a cabeça em partes anterior e posterior. • Plano antropológico: um plano horizontal contendo as duas linhas de referência antropológicas e a linha infra-orbital. É um exemplo de um plano axial. Os planos axiais são paralelos a este plano. • Plano auricular: perpendicular ao plano antropológico. Atravessa o centro dos dois meatos auditivos externos. É um exemplo de um plano coronal. Os planos sagital mediano, antropológico e coronal são mutuamente perpendiculares. Anatomia radiográfica para posicionamento Linha auricular Vértice -ç" Linha de referência antropológica (LRA). Glabela Násio Ponto infra-orbital Meato auditivo externo (MAE) Linha de referência orbitomeatal (LROM) ou linha de referência radiográfica (LRR) Protuberância occipital externa (ÍNIO) Plano sagital mediano Linha interorbital ou interpupilar Linha infra-orbital Plano sagital mediano Linha infra-orbital Linha interorbital ou interpupilar A = Linha de referência orbitomeatal (LROM) ou radiográfica (LRR) B = Linha de referência antropológica - o p l a n o sagital m e d i a n o e os p l a n o s frontais p e r p e n d i c u l a r e s no p r e c e d e n t e ; - o p l a n o o r b i t o m e a t a l p a s s a p e l o â n g u l o e x t e r n o da ó r b i t a e o c o n d u t o auditivo e x t e r n o . T o d a s a s i n c i d ê n c i a s d a face s e r ã o d e s c r i t a s e m r e l a ç ã o a e l e ; - o g r a n d e e i x o do r o c h e d o p a s s a a p r o x i m a t i v ã m e n t e , q u a l q u e r q u e seja a m o r f o l o g i a do sujeito-assunto, pelo mastóide e pela barba externa da órbita oposta. FlG. 3 - 1 . - Planos e marcas de referência, a) As duas linhas de referência: 1. linha orbitomeatal, unindo o bordo externo do olho ao c o n d u t o auditivo externo; 2. linha de base antropológica, que atravessa o b o r d o inferior da órbita e o conduto auditivo externo. T o d a s as incidências descritas a seguir têm relação c o m a linha orbitomeatal ( L O M ) . b) Vista superior esquemática do crânio: 1. plano sagital m e d i a n o ; 2. linha entre a mastóide e o b o r d o externo da órbita - esta linha, i n d e p e n d e n t e m e n t e do tipo morfológico do paciente, constitui uma marca do eixo do rochedo; 3. plano frontal atravessando os dois condutos auditivos internos.