Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins
ISBN: 978-85-63526-36-6
11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO
MACABÉA: O FEMININO SUBALTERNO E AS
REPRESENTAÇÕES VISUAIS NA GRANDE CIDADE
Eliene Rodrigues Sousa Silva (UFT)
[email protected]
André Teixeira Cordeiro (UFT)
[email protected]
RESUMO: O presente trabalho propõe-se a estudar a linguagem figurativa de Clarice
Lispector na obra A Hora da Estrela publicada em 1998. O objetivo é verificar, mais
precisamente na personagem Macabéa, os sentidos visuais das representações de gênero
(a condição feminina como subalterna) e identidade. Atenção especial será dada ao uso
do aspecto figurativo, visando a compreender as várias interpretações e significações
que ele imprime ao texto e a verificar de que forma as referências visuais colaboram
para a construção da personagem em destaque. Assim, nos deteremos, largamente, no
olhar quase fotográfico da narrativa. A escrita de Clarice Lispector apresenta relações
direta com a pintura, a música e outras artes e estes aspectos também serão aqui
levantados. Com a finalidade de investigar inter-relações entre literatura e outras artes
na obra da escritora, o corpus foi elucidado no recorte da condição que Macabéa é
representada na obra, sempre sujeitada. Além disso, a cultura visual dá grande
importância não apenas à compreensão, mas também, à interpretação crítica da arte e da
imagem no texto literário como artefatos culturais. Na discussão, serão utilizados
teóricos que discutem a relação literatura e pintura em Clarice, dentre entre eles,
HERNANDEZ (2007); IANNACE, (2009); NUNES (1995); SOUSA (2013).
PALAVRAS-CHAVE: Visualidade; Macabéa; Condição feminina.
A literatura e outras artes
O presente trabalho propõe-se a estudar a linguagem figurativa de Clarice
Lispector na obra A Hora da Estrela publicada em 1998. Com a finalidade de investigar
inter-relações entre literatura e outras artes na obra da escritora, o corpus foi elucidado
no recorte da condição que Macabéa é representada na obra, sempre sujeitada.
A partir das últimas décadas do século XIX o termo “arte” ganhou sentido
ideológico vinculado a uma produção material individualizada, superior, que pretendia
transcender a experiência comum ao mesmo tempo em que o design passou a ser
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caracterizado como atividade funcional com o objetivo de atender e criar necessidades
cotidianas da sociedade. Na primeira metade do século XX o termo “arte” passou a
designar um espaço autônomo que incluía obras literárias, interpretações, valores e
instituições dando origem ao que hoje conhecemos como o sistema moderno das belas
artes.
A proposta da cultura visual é questionar e construir um conhecimento mais
profundo, rico e complexo ao colocar em perspectiva a “relevância que as
representações visuais e as práticas culturais/sociais têm dado ao ‘olhar’ em termos das
construções de sentido e das subjetividades no mundo contemporâneo” (HERNÁNDEZ,
2007, p. 27). Além disso, a cultura visual dá grande importância não apenas à
compreensão, mas também, à interpretação crítica da arte e da imagem no texto literário
como artefatos culturais.
A escrita de Clarice Lispector apresenta relações direta com a pintura, a música e
outras artes e estes aspectos também serão aqui levantados. Além disso, a cultura visual
dá grande importância não apenas à compreensão, mas também, à interpretação crítica
da arte e da imagem no texto literário como artefatos culturais. Assim, percebe-se na
obra A Hora da Estrela um contato entre a escrita e outras manifestações artísticas, mais
especificamente a fotografia, a música e a pintura, evidenciando a busca por uma
homologia entre as artes.
As referências à fotografia, à escultura, à pintura e o retrato não aduzem apenas
uma comparação qualitativa com a escrita, mas também um apelo às características
dessas outras artes para que se alcance uma complementaridade, revestindo-se a escrita
de elementos que permitem um modo de percepção de si análogo ao das outras artes.
Essa busca de homologia da escrita com as artes não supre a insuficiência da palavra –
constantemente referida nas obras – mas talvez faça com que a escrita adquira uma
relativa autonomia, alcançando dessa forma uma dimensão mais ampla e uma relação
mais estreita com as sensações e ideias que se deseja exprimir.
A visualidade possibilita uma visão da condição sujeitada da mulher (Macabéa),
constante na obra A Hora da Estrela (1998), de Clarice Lispector, recorrendo, para sua
elucidação, através dos elementos visuais. Objetiva-se verificar na obra, mais
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precisamente na personagem Macabéa, os sentidos visuais das representações de gênero
(a condição feminina como subalterna), e identidade.
Atenção especial será dada ao uso do aspecto figurativo, visando a compreender
as várias interpretações e significações que ele imprime ao texto e a verificar de que
forma as referências visuais colaboram para a construção da personagem em destaque.
Assim, nos deteremos, largamente, no olhar quase fotográfico da narrativa.
A escrita de Clarice Lispector apresenta relações com a pintura, fotografia, a
música e outras artes. Elas são observadas, basicamente, a partir da imagem como
elemento homólogo entre tela e texto. Na obra que discutiremos aqui, as imagens
poéticas são analisadas a partir do texto literário para enfim serem traçadas algumas
analogias com a pintura e com a fotografia.
Juro que este livro é feito sem palavras. É uma fotografia muda. Este
livro é um silêncio. Este livro é uma pergunta. Pergunto-me também
como é que eu vou cair de quatro em fatos e fatos. É que de repente o
figurativo me fascinou: crio a ação humana e estremeço. Também
quero o figurativo assim como um pintor que só pintasse cores
abstratas quisesse mostrar que o fazia por gosto, e não por não saber
desenhar. Para desenhar a moça tenho que me domar... (H.E, 1998,
p.16 e 17)
A narrativa apresenta na personagem Macabéa, nas suas ações, nos
acontecimentos e nos eventos, a figura do fazer. O pintor Wassily Kandinsky escreveu
que o artista criador busca na aproximação com diversas artes, um modo de exprimir
com seus próprios meios sem que a imitação seja um fim em si.
O espelho, o retrato e as cores como representação subalterna de Macabéa
Trata-se de um aspecto observável no narrador de A Hora da Estrela, por isso
procuramos discutir de que modo a arte (pintura, escultura) relaciona-se com a
composição do romance. Pode-se visualizar no trecho a seguir essa imagem
extremamente sugestiva em relação à escultura. “No livro de Clarice o criador-narrador
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vai esboçando, perante nossos os olhos, um retrato da criatura a quem quer dar vida,
como o escultor a trabalhar na rocha ou no barro.” (SOUSA, 2013 p. 582)
Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam
faíscas e lascas como aços espelhados. // Ah que medo de começar e
ainda nem sequer sei o nome da moça. Sem falar que a história me
desespera por ser simples demais. O que me proponho a contar parece
fácil e à mão de todos. Mas a sua elaboração é muito difícil. Pois
tenho que tornar nítido o que está quase apagado e que mal vejo. Com
mãos de dedos duros enlameados apalpar o invisível na própria lama.
(H.E, p. 19)
Além da escultura, o espelho, o retrato e as cores são também, elementos
figurativos de representação subalterna de Macabéa. O espelho como retrato de si
mostra a figura decadente de Macabéa representada por meio da autoimagem da
personagem. Ao longo da narrativa pode-se perceber o espelho como reflexo e busca da
identidade.
“Vejo a nordestina se olhando ao espelho”. p.22. “Olhou-se
maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada,
cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-lhe
que o espelho baço e escurecido não refletia imagem algum (...). Logo
depois passou a ilusão e enxergou a cara todo deformada pelo espelho
ordinário (...). Quando era pequena sua tia para castigá-la com medo
dissera-lhe que homem-vampiro (...) não tinha reflexo no
espelho.”p.25-26. “No espelho distraidamente examinou de perto as
manchas no rosto”. p.27. “Agora em traços desenharei a vida
pregressa da moça até o momento de espelho do banheiro”.p.28.
“Arrumou, como pedido de favor, um pouco de café solúvel com a
dona dos quartos, e, ainda como favor, pediu-lhe água fervendo,
tomou tudo se lambendo e diante do espelho para nada perder de si
mesma.”p.41 e 42. “E até ver-se no espelho não foi tão assustador:
estava contente, mas como doía.”p.42. “Depois de pintada ficou
olhando no espelho a figura que por sua vez a olhava espantada.” p.62
(H.E, 1998)
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Em toda a obra de Clarice, a visão é de uma centralidade espantosa, desde a
frequência das formas verbais ligadas ao visualismo até o impacto nas tramas narrativas.
As personagens olham-se a si mesmas permanentemente – e vemos como os espelhos
ocupam um destaque obsessivo nos seus textos. (SOUSA, 2013. p. 77)
O significante gráfico produz uma analogia aos elementos da pintura que
compõe a personagem Macabéa. Ao ler a narrativa, o leitor constrói junto com o
narrador-personagem, Rodrigo S.M, a personagem Macabéa. Quase visualizamos a
personagem por meio da escrita figurativa e descritiva do narrador.
Tudo se joga no processo criativo. Em Clarice, as narrativas remetem
obsessivamente ao ato criador por meios de figurações mais ou menos complexas (...)
desde as falas das personagens até a explícitos procedimentos de desmontagem da parte
dos narradores. (SOUSA, 2013, p.124). Na voz de Rodrigo S.M., Clarice se utiliza da
memória, dos recursos de um escultor, carpinteiro, escritor e até mesmo de um pintor
para construir, criar e elaborar a personagem Macabéa.
Escrevo em traços vivos e ríspidos de pintura. (...) p.17. Pretendo,
como já insinuei, escrever de modo cada vez mais simples (...) as
informações sobre os personagens são poucas e não muito
elucidativas, que penosamente me vêm de mim para mim mesmo, é
trabalho de carpintaria. Sim, mas não esquecer que para escrever nãoimporta-o-quê o meu material básico é palavra. p.14 (...) E eis que
fiquei agora receoso quando pus palavras sobre a nordestina. E a
pergunta é: como escrevo?(...) Antecedentes meus do escrever?(...).
Mas quando escrevo não minto. p. 18. (H.E, 1998).
Para descrever Macabéa, Nunes (1995) nos revela a capacidade figurativa da
linguagem, e demonstra até um despreparo do narrador, enquanto criador, para lidar
com aquilo que ele afirma ser seu material básico de trabalho: as palavras. Para o
narrador, Macabéa não é uma personagem clara, dizível. Sua imagem é nebulosa, escura
e difícil.
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Eu não sou um intelectual, escrevo com o corpo. E o que escrevo é
uma névoa úmida. As palavras são sons transfundidos de sombras que
se entrecruzam desiguais, estalactites, renda, música transfigurada de
órgão. Mal ouso clamar palavras a essa rede vibrante e rica, mórbida e
obscura tendo como contratom o baixo grosso da dor. Alegro com
brio. Tentarei tirar ouro do carvão. Sei que estou adiando a história e
que brinco de bola sem a bola. // Este livro é feito sem palavras. É
uma fotografia muda. Este livro é um silêncio. (H.E. 1998p. 16 - 17)
Essa figuratividade que Clarice, por meio do narrador Rodrigo S.M., almeja
alcançar, Sousa cita o livro de Olga de Sá, A escritura de Clarice Lispector, de 1979,
em que ela reporta-se a “uma espécie de talento visual e plástico” que caracteriza o
estilo clariciano. “A escritura de Clarice Lispector aspira a ser uma fotografia, uma
pintura, vibração de som que se ouve com as mãos”. Na obra, força do figurativo verbal
torna-se visual/imagem. Porém, de acordo com o autor, não é intencional por parte de
Clarice, fazer uma literatura visual. (SOUSA, 2013, p. 67-69).
Além do espelho, da figuratividade, da fotografia, da visualidade na escrita, na
descrição detalhada na construção sujeitada de Macabéa, o narrador-criador da
personagem se vale de outro elemento constitutivo na escritura: o retrato. “Se estou
demorando um pouco em fazer acontecer (...) é porque preciso tirar vários retratos
dessa alagoana (...) Outro retrato: nunca recebera presentes (...) Em compensação se
conectava com o retrato de Greta Garbo quando moça.” (H.E. 1998, p. 48, 49 e 77). O
retrato também compõe a personagem Olímpio, namorado de Macabéa, quando esta
pede-lhe uma fotografia: “Havia, no começo do namoro, pedido a Olímpico um
retratinho tamanho 3x4 onde ele saiu rindo para mostrar o canino de ouro.” p.73 O
retrato aparece como criação artística de Olímpio avigorando ainda mais a supremacia
de Olímpio sobre Macabéa. “Ele também se salvava mais do que Macabéa porque tinha
grande talento para desenhar rapidamente perfeitas caricaturas ridículas dos retratos
de poderosos nos jornais.”p.70. (H.E.1998, p.70 e 73).
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Clarice Lispector cita em um pequeno fragmento de “Abstracionismo e
figurativo” (1999d, p.31) : “Tanto em pintura como em música e literatura, tantas vezes
o que chamam de abstrato me parece apenas um figurativo de uma realidade mais
delicada e mais difícil, menos visível a olho nu.” (SOUSA, 2013. p. 97). Ainda de
acordo com Sousa, é na obra A Hora da Estrela que se concretiza uma das remissões
mais recorrentes ao universo da pintura por parte de Clarice Lispector que é aquela que
a partir de dado momento explicita uma categorização que assume grande relevância na
arte moderna: a polaridade figurativo versus abstrato. A categorização será pedida de
empréstimo ao domínio da pintura para informar um dado posicionamento face às artes
em geral, incluindo a literatura. (SOUSA, 2013. p. 97).
Compondo esse universo das relações entre a literatura e outras artes, há outro
elemento característico da pintura que está presente na A Hora da Estrela: as cores.
Embora afirme não ser proposital, a escrita de Clarice é permeada de alegorias
pitorescas. Em A Hora da Estrela as cores ganham uma ressignificação e estão
presentes em toda a obra. Para compor a personagem Rodrigo S.M. se vale do realce
para dá vida e morte à Macabéa. Na dedicatória: “Dedico-me à cor rubra e escarlate
como o meu sangue de homem em plena idade e portanto dedico-me a meu sangue. (...)
e à vibração das cores neutras de Bach.” ( H.E. 1998, p.9)
Macabéa é “pintada” na obra como um retrato decadente e as cores dão
visualidade à personagem. O brilho, o dourado, o preto e o vermelho são cores às
avessas na composição de Macabéa. As cores vivas não remetem à alegria, beleza e
glamour, na maioria das vezes, o narrador usa as cores vivas, fortes, escuras, brilhantes,
para ridicularizar ainda mais Macabéa. As manchas marcam o aspecto encardido e sujo
de Macabéa. As cores claras, amenas, opacas como o branco, o azul, o rosa, também
remetem à umbrosidade da personagem:
“No espelho distraidamente examinou de perto as manchas no rosto
(...) Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava
meio caiada era melhor que o pardacento (...) Nada nela era
iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve
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brilho de opala.”p.27 “moça essa que dormia de combinação de brim
com manchas bastante suspeitas de sangue pálido.” p.24 “- E você tem
cor de suja!” p. 53” “o olhar de uma nordestina amarelada”.p.57 “A
luz aberta e rebrilhante das ruas atravessava a sua opacidade.”p.42
“que não seria de todo ruim ser vampiro pois bem lhe iria algum
rosado de sangue no amarelado do rosto”p.26 “A sua cara é estreita e
amarela como se ela já tivesse morrido”.p.24. (H.E, 1998)
Descrevendo o retrato da miséria de Macabéa, Márcia Lígia Guidin, sintetiza a
história sofrida da personagem. “Macabéa é uma alagoana de 19 anos, raquítica e órfã.
Os pais morreram quando ela estava com dois anos. Foi criada pela tia beata, que a
maltratava e com quem se mudou para Maceió e depois, “ignora-se por quê”, para o Rio
de Janeiro. Morta a tia, passa a dividir uma vaga de quarto com outras moças
balconistas, que mal conhece. O cortiço fica na Rua do Acre, “entre as prostitutas que
serviam a marinheiros, depósitos de carvão e de cimento em pó, não longe do cais do
porto” (H.E, 1998, p. 30). Macabéa dormia mal, com fome e nariz entupido, vestida
com uma suja camisola de brim. De madrugada ouvia a Rádio Relógio, “não ouvia
músicas”. Macabéa é feia, ignorante, virgem e solitária. “ela era incompetente.
Incompetente para a vida. Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente tomava
conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma”. (H.E, 1998, p. 24).
Moça humilde que comia sempre e mal no botequim da esquina. Colecionava anúncios
e fotos de artistas, recortados de jornais velhos, que colava em um álbum. E uma vez
por mês ia ao cinema”. Ainda segunda a autora, Macabéa não é nem bonita, nem culta,
nem inteligente. Para atingir o retrato da marginalidade de Macabéa, Clarice chamou de
‘inocência pisada’. (GUIDIN, 1998 p. 36-37;51)
Ainda nessa mesma esteira, Nádia Batella Gotlib também se debruça sobre a
condição inferiorizada de Macabéa na cidade grande. “Ela não é nada. Não tem saúde.
Não tem erudição. Não tem dinheiro. Não tem graça. Não tem poder. Nada de
substantivo, nessa personagem que ou pergunta, ou diz bobagens, ou se cala”. “Macabéa
é da classe baixa. Como ‘subproduto’, encarna o deslocamento periférico da região de
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menos-valia em plena cidade grande, alocada no subúrbio, alijada para o quase fora do
cenário urbano”. (GOTLIB, 1995 p. 468-469).
A cidade grande é o espaço onde a narrativa está calcada. Macabéa sai do
nordeste, Alagoas, para o Rio de Janeiro. Porém, seu lugar na cidade grande é no
subúrbio pobre. Macabéa é o antagonismo dessa cidade. De acordo com GUIDIN,
Macabéa vaga anônima pela cidade grande, que a ignora; mais ainda: será destruída por
um dos grandes símbolos da industrialização, o automóvel. Morre atropelada por uma
Mercedes Benz. (GUIDIN, 1998, p.63)
Referências Bibliográficas
HERNANDEZ, Fernando. Catadores da Cultura Visual. Porto Alegre: Mediação, 2007.
GOTLIB, Nádia Battella. Clarice: Uma vida que se conta. 5ª ed. São Paulo: Ática,
1995.
GUIDIN, Márcia Lígia. Roteiro de Leitura: A hora da estrela de Clarice Lispector. 2ª
ed. São Paulo: Ática, 1998.
IANNACE, Ricardo. Retratos em Clarice Lispector: Literatura, pintura e fotografia.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. (1977). Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
NUNES, Benedito. O drama da linguagem: uma leitura de Clarice Lispector. 2ª ed. São
Paulo: Ática, 1995.
SOUSA, Carlos Mendes Nunes de. Clarice Lispector: pinturas. Rio de Janeiro: Rocco,
2013.
______ Clarice Lispector – Figuras da escrita. São Paulo: Instituto Moreira Salles,
2012.
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o feminino subalterno e as representações visuais na grande