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O SÍTIO DO
CASASANTA1
PICA-PAU-AMARELO
NA
PRODUÇÃO
DE
THEREZINHA
Isabel Cristina Alves da Silva Frade – Pesquisadora do Ceale. Professora da FaE/UFMG –
[email protected]
Tatiane Elza Maria Pessoa – Bolsista de iniciação científica da Fapemig. Graduanda de
Pedagogia da FaE/UFMG – [email protected]
Palavras-chave: história da alfabetização, autoria, edição
Introdução
O estudo sobre aspectos editoriais envolvidos na produção do livro Sítio do Pica-PauAmarelo de Therezinha Casasanta e Maristella Gondim, publicado na década de 70 do século
XX, vincula-se ao projeto Autores mineiros de cartilhas escolares: uma contribuição para a
história da alfabetização em Minas Gerais. Com esse trabalho objetiva-se recompor dados
sobre a produção de uma das autoras e da editora, o lugar ocupado pela alfabetização e o
conjunto de circunstâncias que envolveram a produção e divulgação da obra, percebendo o
modo como se deu o processo de elaboração da mesma e as relações das autoras com o
mundo editorial.
Como referências teóricas mais amplas usaremos pressupostos da história do livro e de
seu circuito, através dos estudos de Roger Chartier (1994) e Robert Darnton (1995, 2008),
estudos sobre a história da alfabetização (Anne-Marie Chartier, 2006) e história da edição,
como Hallewell (2005) e diversos trabalhos que envolvem a edição de livros para
alfabetização desenvolvidos no Brasil.
Alguns questionamentos guiaram a análise: por que se produzir um livro: por defender
uma inovação metodológica ou pelo apelo de algum editor? O prestígio do autor, suas obras
anteriores, sua posição nas instituições e no campo pedagógico repercutem no interesse das
editoras para captar autores? O autor utiliza-se dessas posições para divulgação de sua obra?
Que recursos foram mobilizados para a produção: experiência docente e de formação e/ou os
modelos de outros livros? Quais estratégias pesam para dar credibilidade a uma produção: as
das editoras ou as dos autores? Qual a relação dessa produção para alfabetização, no conjunto
da produção da autora?
Como
abordagem
metodológica
utilizamos
pressupostos
da
história
oral,
compreendendo seu potencial para condução de estudos de uma história recente e para
recuperar percepções e experiências dos próprios sujeitos envolvidos. A entrevista com a
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autora constitui-se na fonte privilegiada de análise e levantamento de dados. Foram também
utilizados a análise do impresso e de outras fontes documentais, assim como a pesquisa
bibliográfica de estudos relacionados.
Filha de pai professor, cujos irmãos eram todos professores, um deles casado com a
grande educadora Lúcia Casasanta, Therezinha já nasceu em um ambiente favorável ao
destino de professora. Embora, declare na entrevista o desejo de cursar Direito, frustrado pela
impossibilidade de alunas do Curso Normal ingressarem em cursos superiores à época, a
autora mostra-se bastante realizada com sua carreira de professora.
Declarações colhidas durante a entrevista trazem à tona algumas semelhanças de sua
trajetória profissional com a de sua tia, Lúcia Casasanta, apresentada em trabalho
desenvolvido por Francisca Maciel (2001). Ambas declararam que a escolha pelo magistério
não foi feita por vocação, mas sim, pelo fato de representar uma das poucas, senão a única
possibilidade de carreira profissional para mulheres. Ainda assim, as duas desempenharam a
função de educadoras com louvor, tornando-se, inclusive, formadoras de professores e autoras
de livros didáticos. Nesse último aspecto mais uma semelhança: a ética sempre as impediu de
utilizar suas posições no campo educacional e editorial para ampliação de divulgação e
circulação de suas obras. Característica que Therezinha faz questão de ressaltar durante a
entrevista, deixando explícito que tal postura reflete um aprendizado possibilitado pelo
contato com a tia que, segundo ela, nunca tinha levado suas próprias obras para divulgação
em sala de aula:
T: ...Ela não falava uma palavra sobre livro dela. Isso eu posso
testemunhar, porque eu fui aluna dela depois. Ela não falava. Nunca
precisou falar. Mas levava nas classes anexas, estavam com os livros.
Então, já viam ali. Professoras que estudavam as classes anexas ... de
demonstração, já falavam naquilo. Então, no fim, indiretamente, elas
aprendiam era aquilo. E o método principalmente... era o global. Então,
elas todas saíam daqui e multiplicavam. Era um elemento multiplicador.
[...]
I: E você chegou a acompanhar alguma escola mais de perto, que utilizava
seu livro? Ou na época você era chamada por algumas? Você estava onde
quando seu livro saiu? Você estava em alguma escola modelo?
T: Eu estava no Leon Renault.
... I: E eles usavam seu livro lá?
T: Eu não usei. Enquanto eu fui diretora de lá, eu não usei meu livro lá não.
I: Por uma questão...
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T: Minha, né? Ética.
Atuação da Bloch Editores no mercado editorial
O cenário editorial no final do século XIX e início do XX é marcado pela forte
presença da Livraria Francisco Alves, nas produções didáticas. Como era uma das únicas
editoras no país, e na tentativa de se firmar no mercado, a Francisco Alves ganha também o
mercado editorial mineiro, passando a produzir a maioria das cartilhas e livros que circulavam
pelo estado. (FRADE e MACIEL, 2006; HALLEWELL, 2005).
A Bloch Editores foi fundada em 1952 por Adolpho Bloch, um imigrante russo que
chegou ao Brasil em 1922, em parceria com seus irmãos Arnaldo e Bóris. Com sede no Rio
de Janeiro, destacou-se no mercado editorial pela extensa produção de revistas. Em 1960
investiu na produção de livros destinados ao público em geral e em 1970 com a criação da
Divisão de Educação, ganhou grande destaque com a produção de livros didáticos, junto à
Fename3. (HALLEWELL, 2005:526) Apostando no mercado de livros, a Bloch Editores,
então situada no Rio de Janeiro, começa sua produção didática na década de 1970, não tão
aclamada quanto a Francisco Alves, porém com algumas semelhanças no que diz respeito à
captação de autores e às estratégias de produção. Segundo relatos de Arnaldo Niskier, então
presidente da Bloch Editores, citados por Cardoso (2011), buscava-se ampliar a produção da
editora, indo em busca de trabalhos originais, principalmente em outros estados, e que já
tivessem dado algum tipo de resultado. Exemplo disso foi o que aconteceu com a cartilha
Nossa Terra, Nossa Gente, no Mato Grosso, que a Bloch, no intuito de diversificar sua
produção, levou para o Rio de Janeiro, transformando a cartilha em Ada e Edu.
Fato semelhante ocorreu com a produção do Sitio do Pica-Pau-Amarelo, em Minas
Gerais, quando a Bloch veio em busca de nomes já consagrados no ramo, no caso o de Lúcia
Casasanta, acabando por chegar em Therezinha, sua sobrinha.
Conseguimos repertoriar algumas das produções didáticas da Bloch Editores, dentre
elas destacamos obras destinadas a alfabetização como o pré-livro Sítio do Pica-PauAmarelo, de Therezinha Casasanta; O jardim encantado – pré-escolar, de Cleide Nogueira,
Davi, meu amiguinho, de Eunice Thereza Alves, Ada e Edu, de Rosa Maria Jorge Persona, O
circo chegou, de Eunice Thereza Alves, Caixa mágica – cartilha, de Maria Ângela Coelho,
Regina Veado e Jaqueline Ramalho, localizadas em acervos virtuais de bibliotecas públicas.
Publicidade da editora em Cardoso (2011) apresenta outros títulos destinados à alfabetização:
Na floresta encantada, Parabéns Tetê, Hora de aprender e Palavra viva.
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A aposta na diversidade metodológica e não na defesa de uma tendência específica,
parece ser a marca editorial, constatada na forma como a editora se apresenta em texto
publicitário reproduzido em estudo sobre a obra Ada e Edu:
Ensinar a ler significa instalar um processo dos mais complexos para a
mente humana. Envolve a pessoa como indivíduo e como ser social, com
seus hábitos, experiências, atitudes e habilidades.
Daí, a diversidade de meios e recursos adequados a cada grupo, a cada
professor – no tempo e no espaço – para que se efetive, de verdade, o
milagre da leitura.
Por isso, não há métodos certos ou errados. Cada método forma o processo
de ler de maneira diferente. O importante é que a sua aplicação seja correta e
segura. (CARDOSO, 2011:139)
Contexto mineiro de ideias, de autoria e de produção de obras didáticas
Em Minas Gerais, cenário de intensa divulgação dos métodos globais, a partir da
década de 30 do século XX, sobretudo pela influência intelectual da professora Lúcia
Casasanta, pode ser identificada uma ampla produção de pré-livros, destacando-se O livro de
Lili, de Anita Fonseca, publicado pela Francisco Alves, As mais belas histórias, de Lúcia
Casasanta, publicado pela Editora do Brasil e O circo do Carequinha, de Maria Serafina de
Freitas, publicado pel’A Grafiquinha Ltda (FRADE e MACIEL, 2006). Vários desses livros
serviram de modelo para outras produções nacionais.
A partir da década de 50 a produção de obras para a alfabetização em Minas Gerais
passa a apresentar também as influências do PABAEE (Programa de Assistência BrasileiroAmericano ao Ensino Elementar). Tal programa, fruto de um acordo firmado entre o
Ministério da Educação e Cultura e a USOM-B (United States Operation Mission – Brasil),
tinha como objetivos principais a formação de instrutores de professores de ensino normal e a
elaboração, publicação e aquisição de materiais didáticos. Para tanto, foi realizado
intercâmbio por cinco grupos de bolsistas brasileiros nos Estados Unidos pelo período de um
ano, os quais deveriam ser contratados pelas escolas normais brasileiras no momento de
retorno. O Instituto de Educação de Belo Horizonte deveria abrigar um centro piloto para o
desenvolvimento de cursos de aperfeiçoamento, ministrados pelos professores após seu
regresso ao Brasil. Assim, como outras escolas normais brasileiras deveriam abrigar outros
centros. Os últimos, entretanto, nunca foram efetivados, o que fez com que o centro piloto
recebesse professores de vários estados brasileiros para a realização do curso de
aperfeiçoamento. O professor Mário Casasanta, um dos Pioneiros da Escola Nova – marido
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de Lúcia e tio de Therezinha – foi nomeado diretor desse centro, como uma forma de dar
sequência ao trabalho desenvolvido por ele durante a Reforma Francisco Campos (1931), uma
vez que o PABAEE retomava o modelo da Escola de Aperfeiçoamento, implantado naquele
período. (PAIVA e PAIXÃO, 1995)
Em 1956, conforme Paiva e Paixão (1995), com a implementação do PABAEE, foi
intensificado o intercâmbio de professores que, ao fazer parte da equipe deste programa,
marcaram uma diferença metodológica na alfabetização. Segundo as mesmas autoras (2002),
que apresentam uma síntese das áreas de conhecimento, época da viagem e postos ocupados
no retorno, identificamos que Magdala Lisboa Bacha e Therezinha Casasanta, foram as
primeiras a seguir para universidades americanas, na primeira turma de 1956, ano de criação
do convênio. Entre a instituição do programa e a viagem, transcorreram apenas quatro meses.
Paiva e Paixão (2002) fazem um balanço das categorias profissionais criadas no
PABAEE, indicando que Therezinha Casasanta foi alocada como professora educadora
assistente das classes primárias de demonstração, enquanto Magdala Bacha ocupou o
Departamento de Linguagem.
É preciso destacar o número de pessoas enviadas por cada estado, para compreender a
posição de Minas Gerais no PABAEE e, nesse programa, a dos autores mineiros de materiais
de alfabetização: Bahia (5), Brasília, Distrito Federal (1), Goiás (2), Guanabara (5), Paraná
(3), Pernambuco (6), Rio Grande do Sul (9), São Paulo (20) e Minas Gerais (61). Nesta rede
da qual participou Therezinha Casasanta, havia quatro autoras de pré-livros: Therezinha
Casasanta (1956/57); Magdala Lisboa Bacha (1956/57); Maria Yvonne Atalécio (1958/59) e
Iêda Dias da Silva (1961/62).
Como o programa previa formação de professores brasileiros e apoio à produção de
material didático, no retorno do intercâmbio vários membros do PABAEE mineiro tornaramse autores de pré-livros, como Magdala Lisboa Bacha, Maria Yvonne Atalécio e Iêda Dias da
Silva. Autores como Iêda Dias da Silva (FRADE e PEDERSOLI, 2012) produziram seu livro
para dar algum tipo de resposta às demandas dos professores, identificadas em suas viagens
para formação no Brasil. No entanto, a produção de Therezinha não se deu na sequência de
sua viagem feita pelo PABAEE. Após seu retorno, constata-se a participação de Therezinha
no setor editorial, no Centro de Artes Gráficas do PABAEE e, posteriormente, seu apoio na
criação d’A Grafiquinha Ltda. (RODRIGUES e VAZ, 1980:45). Tendo em vista que ela não
utilizou da sua rede de sociabilidade para produzir um livro didático, qual teria sido sua
motivação para a produção de material didático pela Bloch Editores?
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A autora foi procurada pela Bloch Editores, através da indicação de uma pessoa que
sabendo do interesse do editor em procurar a professora Lúcia Casasanta, mencionou que esta
tinha uma sobrinha mais jovem, Therezinha Casasanta. O fato de ser sobrinha de uma
educadora tão ilustre pesou no convite, mas será que a obra de Therezinha se respalda no
legado construído pela tia?
Conforme dados da entrevista com Therezinha Casasanta percebe-se que, sendo uma
obra encomendada, a motivação para a sua produção tem outro sentido, no que tange ao
diálogo com uma obra específica de literatura, no caso, a de Lobato 4. Isso foi motivado pela
encomenda e pela posse de direitos autorais da obra de Lobato, conseguida pela Bloch
Editores, conforme dados da entrevista. O intervalo entre a formação no PABAEE e a
produção do livro 5 atesta que não foi uma motivação individual ou institucional que gerou a
produção da obra de alfabetização. Como a autora dispunha de um contexto intelectual e de
uma rede de relações propícias e não produziu livros didáticos antes, pode-se dizer que ela
não queria se distanciar muito da influência de sua tia, a professora Lúcia Casasanta
No entanto, seu pré-livro mostra um tipo de rompimento metodológico. Até a década
de 60 prevaleceram em Minas Gerais as tendências do método global de contos na produção
de pré-livros. No entanto, entrevistas com vários autores mineiros atestam que houve uma
polêmica e um corte em relação às tendências metodológicas anteriores, que passaram a usar a
palavra como um dos focos da alfabetização e não apenas o texto, o que caracteriza várias
dessas obras como métodos ecléticos, embora permaneça o nome pré-livro herdado dos
métodos globais.
Não escapando da nova tendência, o pré-livro Sítio do Pica-Pau-Amarelo foi
elaborado com base no método mixto de alfabetização, como é explicitado no próprio livro do
professor e reafirmado por Therezinha em entrevista. Segundo as orientações do livro, tal
escolha deveu-se a posição das autoras, contrárias ao sucesso de um único método de
alfabetização. Em suas palavras:
Estudos realizados e longa experiência em administração, supervisão e
regência de classes de alfabetização nos permitem afirmar que:
● não existe método ideal para o ensino de leitura, porque as crianças não
são iguais
● há inúmeras variáveis que interferem direta ou indiretamente no processo
de aprendizagem (CASASANTA e GONDIM, s/d, p. 13)
Como o próprio texto do livro do professor confirma, a elaboração do pré-livro teve
forte influência da experiência docente das autoras. Therezinha narra em entrevista algumas
de suas experiências docentes, sobretudo aquelas que foram possíveis a partir de formações
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realizadas em cursos no exterior. Nesse aspecto, sua trajetória profissional, volta a
assemelhar-se a de sua tia. A respeito das influências recebidas por Lúcia Casasanta, Maciel
informa:
Suas intuições pedagógicas foram fortalecidas com a experiência vivenciada
na Universidade de Colúmbia, de onde trouxe o saber construído pelo
convívio acadêmico com os pesquisadores da área da leitura, e o empenho
em uma busca incessante de sistematização prática do conhecimento teórico.
Os estudos sobre as inovações metodológicas vivenciadas em sua passagem
pela Universidade de Colúmbia foram o ponto de partida para Lúcia
Casasanta continuar a estudar, pesquisar e pôr em prática o conhecimento
que produziria com suas alunas-mestras nas experimentações nas Classes
Anexas da Escola de Aperfeiçoamento (MACIEL, 2001, p. 117)
A autora enfatiza que apesar de ter desenvolvido trabalho com classes de várias séries,
o trabalho em classes de primeira série teve destaque em sua carreira. Fato que esclarece sua
preocupação com questões de alfabetização, sobretudo com o ensino de leitura.
Ao falar de sua experiência docente, Therezinha esclarece que sempre buscou realizar
seu trabalho de maneira bastante variada. Nunca se prendeu a um método único de
alfabetização, chegando a trabalhar com livros diferentes em turmas de uma mesma série,
quando ocupava cargo de diretora, já que os alunos são diferentes. Além de defender a riqueza
do trabalho, possibilitada pelas diferentes metodologias, Therezinha argumenta ainda que o
trabalho do professor não deve ficar restrito às propostas dos autores de livros didáticos,
devendo o professor mesmo ser o autor de seu trabalho. Tal preocupação é explicitada,
inclusive, nas instruções do Livro de Atividades, destinadas aos professores:
Nós desejamos que você saiba que todos os textos do Pré-livro foram
cuidadosamente trabalhados a fim de complementar o seu trabalho. Por
complementar não queremos dizer substituir. Você pode estar certo de que
todas as atividades aqui apresentadas não seriam suficientes para dispensar
as que são indicadas no manual que você deverá desenvolver dia a dia com
seus alunos. E muito menos aquelas que você planejará de acordo com
sugestões nossas.
É importante notar que o livro de atividades é indispensável na medida em
que completa o seu trabalho. Caberá, pois, a você, determinar com segurança
o melhor modo de utilizá-lo para obter melhores resultados com os seus
alunos. (CASASANTA e GONDIM, 1982, p.4)
Embora a Bloch Editores tenha determinado o tema, não acreditamos que tenha
delimitado uma linha metodológica e constata-se, pelo depoimento da entrevistada, que há
certa linha de continuidade com as obras que antecederam O Sítio do Pica-Pau-Amarelo, ao
mesmo tempo em que há um diálogo com obras de autoras que sofreram maior influência do
PABAEE, optando por algumas rupturas.
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Indagada sobre se foi a abordagem eclética a sua tendência, a autora destaca muito a
sua experiência pessoal e observa:
I: ... naquela época, quando vocês foram convidadas para fazer o livro, já
existiam outros livros de alfabetização de tendências parecidas? Ou ainda
eram aqueles do método global?
T: Já havia. É... Havia o global, havia... Eu não sei como que elas chamam
o da Iêda Dias da Silva...
I: Experiências criadoras.
T: Experiências criadoras... Aquele do “Barquinho Amarelo”. Da Yvonne
Atalécio ... Ela falava que era global e eu achava que ele era mais eclético.
E havia os da Magdala Bacha também, que era... “O presente”... E depois
ela escreveu outro, “No mundo da leitura”, algo assim... “Surpresas e mais
surpresas”.
I: ... Então você, de alguma forma, estava com uma tendência parecida?
T: Então, tinham algumas que trabalhavam no PABAEE e algumas na DAP.
Os americanos usavam aqueles títulos da Magdala e da Yvonne. Então elas
escreveram lá até aposentarem... Com aquela menina que trabalhava com
linguagem... A Ms Caipon [sic6], ela era do grupo de professores
educadores americanos e nós brasileiros poderíamos também trabalhar com
eles. Mas eu, por exemplo, trabalhei com eles cinco anos. Então aí elas
[Magdala e Yvonne] começaram a fazer um estilo mais parecido com o que
nós víamos lá [Estados Unidos] que era esse que estava usando lá na época,
sabe...
O que usava lá nessa época, era isso... Era um pouco global, vamos dizer,
tinha historinha. Mas tinha... Vamos dizer, você queimava algumas etapas,
se chegava mais depressa. Eu acho. Eu não estou bem lembrada disso.
I: Na época que você escreveu esse livro já tinha alguma virada aqui em
Minas que circulava os métodos sintéticos, silábico, fônico ou ainda era bem
hegemônico o global? Você se lembra assim...
T: O global teve uma audiência tão grande, que todo mundo que escrevia
alguma coisa nesse sentido ficava apertada com... As pessoas ficavam com
receio de...
I: De sair do modelo?
T: De sair do modelo. Porque primeiro, que todo mundo conhecia, e
segundo, porque todo mundo adorava a minha tia e não queria também que
ela ficasse aborrecida. Eu me lembro que um que saiu e fez muito sucesso,
que eu achei que deu grandes resultados em termos assim de status mesmo
foi aquele da Serafina
T: Tem também bastante daquele que Iêda usa muito, por exemplo, eu
atravessei, nós atravessamos... É...
I: Exercícios estruturais...
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T: Estruturais, tem muito disso...
A gente pegou o que a gente achou de interessante em cada um e... Tudo
que a gente achou interessante. É você pegar tudo o que você gosta e bolar
o seu próprio processo, quer coisa melhor do que essa? Eu era diretora
nessa época... Na minha escola, eu tinha sala sendo alfabetizada com o
método da Yvonne Atalécio, sala sendo alfabetizada com o método de
Magdala, sala com o método de Iêda, sala com “O circo do Carequinha”.
O Sítio do Pica-Pau-Amarelo é composto pelo pré-livro, pelo manual de orientação do
professor, pelo livro de atividades do aluno, por cartazes que apresentam o Sítio do Pica-PauAmarelo e as personagens e por um marcador de páginas. Através da análise dos três
primeiros itens, foi possível constatar a estratégia metodológica utilizada pelas autoras,
identificadas pelas mesmas no manual como “Processo integrado de alfabetização”. Segundo
elas, tal processo consiste no uso simultâneo de quatro unidades para a alfabetização: a frase,
o texto, o fonema e a sílaba.
O pré-livro inicia-se com a apresentação do Sítio e de cada personagem, feita através
de frases. Essa apresentação é seguida de seis histórias independentes, mas que mantêm
relação entre si, uma vez que as mesmas narram uma sequência de fatos com os mesmos
personagens.
No livro de atividades estão presentes exercícios que exploram as quatro unidades
linguísticas citadas, “a estrutura frásica como unidade básica de percepção, o texto como
unidade de sentido necessário a compreensão e exercícios fonéticos e o estudo de sílabas
como recursos para conhecer os elementos da palavra” (CASASANTA e GONDIM, s/d, p.
14).
Durante a entrevista, Therezinha declarou que apesar do pré-livro não ter alcançado o
sucesso de vendas previsto pela editora, sua ampla circulação em escolas do Rio de Janeiro e
sua inserção em listas oficiais chegou a motivar a extensão da obra para as demais séries do
ensino fundamental. Entretanto, tal produção foi inviabilizada pela impossibilidade de manter
os personagens do Sítio.
O lugar ocupado pela alfabetização na produção de Therezinha Casasanta
A partir de breve levantamento das obras produzidas pela autora observa-se grande
predomínio de livros de literatura infantil, em detrimento de livros didáticos e a variedade de
editoras através das quais publica.
Dos 27 títulos localizados através de buscas aos acervos virtuais de bibliotecas
públicas, apenas 6 se referem a livros didáticos. A confirmação feita por Therezinha durante a
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entrevista, de que o convite para produção do pré-livro Sítio do Pica-Pau-Amarelo seria feito
a princípio à sua tia, Lúcia Casasanta, permite levantar a hipótese que a produção de obras
didáticas em sua carreira seja fruto de um legado deixado por sua tia. A evidência de uma
predominância de obras literárias de sua autoria, no entanto, demonstra sua vocação para a
escrita literária e parece que a formação literária foi marcante em sua experiência dentro e
fora do país.
Durante a entrevista, Therezinha cita inúmeras vezes a importância que a prática de ler
obras literárias desde sua infância teve para sua formação e carreira:
Então, eu acho assim que eu tive muita sorte, porque em casa eu tinha
muitos livros e muita ênfase nesta parte intelectual. E na escola também.
Então, realmente eu achei que eu dei muita sorte. Agora, toda vida eu gostei
muito de ler e de escrever. Você pode ter estudo e não gostar.
Ao escrever tantas obras literárias, Therezinha parece querer reforçar a importância
que atribui ao acesso das crianças ao universo da literatura. Na contracapa de um de seus
livros, Aviso ao rei leão, editado em 2010, encontra-se um depoimento da própria autora,
confirmando suas convicções a esse respeito:
Acredito que os livros contribuem para desenvolver a imaginação e a
capacidade de refletir e criticar. E é somente convivendo com bons livros
que a criança adquire o gosto pela leitura. Penso que o livro infantil deve ser,
antes de mais nada, fonte de alegria, diversão e prazer para o leitor. Ler é
voar, é sair do lugar. (CASASANTA, 2010)
Embora seja autora de tantas obras, Therezinha reconhece a dificuldade da população
brasileira em adquirir livros e demonstra total ausência de pretensões financeiras nesse
sentido. Mas se entusiasma com as possibilidades recentes de que as escolas adquiram livros
através de programas de governo. A biblioteca escolar, inclusive, é uma instituição de
presença constante em suas falas.
Circunstâncias de publicação e divulgação
Considerando as instâncias envolvidas na edição (DARNTON, 1995, 2008) e a
circunstâncias que permitem sua produção (CHARTIER, 1994), destaca-se que Therezinha
Casasanta afirma ter recebido o convite para escrever o pré-livro Sítio do Pica-Pau-Amarelo
do próprio Arnaldo Niskier, que era então um dos diretores da Bloch Editores. Segundo ela,
o fato de ser sobrinha de Lúcia Casasanta, autora consagrada de livros didáticos para
alfabetização, também influenciou para o recebimento de tal convite:
O Arnaldo Niskier, que era Secretário... Na época ele era um dos diretores
da... Hoje ele é Secretário de Educação, já foi de Cultura, voltou para a
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Educação... Ele era da Bloch. Parente do Bloch. Um dia, ele me telefonou,
perguntando se eu gostaria de fazer um livro que... Ele pensou na minha tia,
alguém falou: “Ah ela tem uma sobrinha aí que é legal, que não sei o quê,
que é mais nova, quem sabe?” Aí ele telefonou...
Therezinha relata ainda que partiu dela a ideia da escrita em co-autoria, assim como a
escolha da parceira: Maristella Gondim. O encontro das duas autoras aconteceu no início de
suas carreiras docentes, durante um processo de escolha de escolas pelos professores
aprovados em um concurso público. Segundo ela, ambas ficaram entre as primeiras colocadas
em tal concurso e escolheram a mesma escola. A convivência no ambiente de trabalho deu
origem à amizade entre as duas, além disso, ambas vivenciaram uma trajetória como
formadoras de professores, fato que confirmou as afinidades profissionais entre elas.
Arnaldo Niskier já havia comprado os direitos autorais dos personagens do Sítio do
Pica-Pau-Amarelo quando fez o convite à Therezinha Casasanta. A aceitação do convite
implicava no uso desses personagens. Logo, podemos concluir que mais que um convite, na
verdade o processo de elaboração do pré-livro surge de uma encomenda editorial bem
específica. Personagens já consagrados da literatura, presentes em obra escrita por uma autora
que era sobrinha de Lucia Casasanta, autora de livros para alfabetização e disseminadora do
método global de contos, poderiam garantir ao projeto do pré-livro muitas chances de
sucesso.
O processo de divulgação da obra não parece ter ocorrido de maneira distinta à sua
encomenda. Segundo Therezinha, os esforços partiram da própria editora, que apresentava o
livro, através da imprensa e distribuía um número específico de exemplares para as escolas. A
segunda estratégia, entretanto, dependia da participação ativa das autoras, que viajavam a
várias cidades mineiras para participarem de reuniões, cujo objetivo era a explicação da forma
de uso do pré-livro. Embora, afirme que achasse tais reuniões desnecessárias, uma vez que o
pré-livro já contava com instruções explícitas de uso, a autora não se recusava a participar,
assim como a co-autora, Maristella Gondim.
Quando questionada sobre a importância da posição do autor para a publicação de uma
obra, Therezinha confirma que esse é sim um fator de grande importância. Apesar de se
mostrar bastante preocupada com a qualidade das obras destinadas a crianças, Therezinha
confirma que em tal campo editorial concentram-se várias pretensões comerciais. Segundo
ela, obras voltadas para o público infantil costumam ter maiores chances de venda, mas
também, maiores gastos com a edição, em função da grande quantidade de cores utilizadas
para impressão. Tais aspectos fazem com que muitos autores novos queiram escrever para tal
público, e as editoras prefiram apostar em autores já consagrados. Em futuros trabalhos
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comparativos, poderemos abordar melhor o perfil (CHARTIER, 2006:105) desta série de
autores mineiros, para evidenciar motivações e circunstâncias que geram a produção de livros
didáticos.
Considerações Finais
A partir do resultado de trabalhos anteriores é possível perceber que as circunstâncias
de publicação de cartilhas de autores mineiros no decorrer do século XX muitas vezes foi
fruto de esforços dos próprios autores e resultado de experimentações bem sucedidas de
práticas de alfabetização, desenvolvidas na prática docente. É o caso da obra Lições para o
ensino completo de leitura, da autora Anna Cintra. No prefácio de sua cartilha encontram-se
depoimentos da autora, de colegas professoras que compartilharam a experimentação de seu
trabalho e de um professor de Pedagogia, que certificam a importância da publicação da obra
para divulgação de um método de leitura que se mostrou eficiente na época. Tais depoimentos
atestam a ausência de pretensões iniciais de publicação da obra por parte da autora, além de
reforçar um estereótipo de exercício do magistério como missão, pelo menos no caso das
mulheres. (FRADE e MACIEL, 2012)
A motivação que deu origem à publicação da obra de Anna Cintra também esteve
presente no processo de produção do livro O barquinho amarelo, escrito pela autora Iêda Dias
da Silva na segunda metade do século XX. Diferente de Anna Cintra, Iêda não produziu seu
livro a partir de experiência própria como professora, e sim, a partir da experimentação de sua
obra realizada por outras professoras, sob sua observação direta. Em entrevista realizada com
a autora para trabalho anterior, a mesma confidenciou sentir-se responsável pela realização de
um trabalho social, a partir do contato que teve com crianças do Brasil todo, durante suas
viagens como formadora de professores. (FRADE e PEDERSOLI, 2012)
É importante destacar que apesar de fazer parte do corpo editorial da editora A
Grafiquinha, Iêda publicou seu livro através de outra editora, a Editora Vigília. O fato da
autora também não ter se aproveitado de sua posição editorial, mais uma vez reforça a ideia
da produção do livro como a realização de uma “missão”, sem objetivos financeiros.
É possível citar ainda uma terceira autora com ideais parecidos. Trata-se de Maria
Serafina de Freitas. O pré-livro O circo do Carequinha, escrito por ela, só foi editado após
dez anos de experimentação com seus alunos. Serafina sim, contou com a influência dos
professores do PABAEE que faziam parte do corpo editorial de A Grafiquinha para a
publicação de seu livro. Entretanto, apesar de seu livro ter se constituído na obra de maior
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importância da editora, circulando nacionalmente, a autora recusou-se a escrever livros de
leitura graduada, reafirmando seu compromisso com a alfabetização. Mais uma demonstração
de que sua publicação também foi a concretização de um ideal. (FRADE e PEDERSOLI,
2011)
Na análise da obra de Therezinha Casasanta observa-se que tais ideais de colaboração
para a alfabetização também justificam a produção do livro. Nesse caso, entretanto, muda o
ponto de partida da produção. Este não surge na prática docente, embora repercuta as
experiências vividas nesse espaço. Surge de um convite da própria editora, provavelmente
permeado por interesses comerciais.
Os resultados indicam que a estratégia de submissão de originais e encaminhamento
de depoimentos de uso, que prevalece em várias obras por nós investigadas, não foi utilizada
pela autora, uma vez que seu livro e sua temática foram encomendados por uma editora, a
Bloch Editores. Em síntese, os recursos mobilizados para a produção de seu pré-livro,
segundo Therezinha Casasanta, têm origem na sua formação realizada em cursos nos Estados
Unidos e no emprego de experiência prática conseguida como professora e formadora que
atuou na escola de experimentação do estado de Minas Gerais. A obra também é fruto de sua
observação sobre os pontos de maior êxito de cada uma das obras quer circularam no período.
Referências bibliográficas
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14
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e circulação de livros (MG/RS/MT – Séc. XIX e XX). Belo Horizonte: UFMG/FAE, 2006.
. Lições para o ensino completo da leitura de Anna Cintra (1919): estudo da
produção de uma professora. In: IX Congresso Luso-brasileiro de História da Educação:
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impresso e nas memórias da autora Maria Serafina de Freitas. In: Anais do VI Congresso
Brasileiro de História da Educação: Invenção, tradição e escritas da História da Educação
no Brasil. Vitória: Editora UFES, 2011.
. O barquinho amarelo: produção e proposta pedagógica de Iêda Dias da Silva, nas
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História da Educação: Rituais, espaços e patrimônios escolares. Lisboa, 2012.
HALLEWELL, L. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: EDUSP, 2005, 2 ed. rev. e
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Casasanta e o método global de contos: uma contribuição à história da alfabetização em
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PAIVA, E. V.; PAIXÃO, L. P.; PEIXOTO, A. C.; PRATES, M. H. O. O PABAEE: a volta
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PAIVA, E. V.; PAIXÃO, L. P. PABAEE (1956-1964): a americanização do ensino elementar
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Fontes consultadas
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. Sítio do Pica-Pau-Amarelo: Pré-livro. Livro do professor. Rio de Janeiro: Bloch
Educação, s/d.
SITE BIBLIOTECA NACIONAL. Disponível em http://www.bn.br/portal/. Acesso em 17 de
janeiro de 2013.
SITE BIBLIOTECA UFMG. Disponível em https://catalogobiblioteca.ufmg.br/. Acesso em
17 de janeiro de 2013.
1
O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – Brasil.
2
Este artigo contou com a valiosa colaboração de Bruna Aparecida de Oliveira, bolsista de iniciação científica
do CNPq.
3
A Fundação Nacional de Material Escolar foi criada em 1956 pelo Governo Federal como uma campanha
nacional de distribuição de material de papelaria para alunos carentes. Posteriormente, passou a produzir livros e
vendê-los a preços subsidiados. (HALLEWELL, 2005:557)
4
O próprio Arnaldo Niskier, diretor da editora Bloch, aproveitando o tema e talvez os direitos autorais, escreve
uma obra didática no campo da matemática, chamada Matemática da Emília.
5
Não foram localizados dados editoriais que permitam verificar este intervalo com precisão, mas se for
considerada a data do volume disponível na Biblioteca UFMG/CEDOC, 1978, verifica-se a passagem de mais de
20 anos depois da sua primeira ida para os Estados Unidos.
6
Não foi possível consultar outras fontes, além do áudio da entrevista, para garantir a grafia correta do nome
citado.
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