UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO RICARDO PEDROSO DOS SANTOS O PAPEL DO SOFTWARE APLUSIX NA TRANSIÇÃO DE EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO PARA EQUAÇÕES DE MANIPULAÇÃO: O CASO DAS EQUAÇÕES QUADRÁTICAS SÃO PAULO 2011 S238o Santos, Ricardo Pedroso dos O papel do software aplusix na transição de equações de avaliação para equações de manipulação: o caso das equações quadráticas/ Ricardo Pedroso dos Santos – São Paulo: [s.n.], 2011. 151 f.;Il.; 30cm. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Universidade Bandeirante de São Paulo, Curso de Educação Matemática. ra ra Orientadora: Profª D . Rosana Nogueira de Lima; Profª D . Siobhan Victoria Healy . 1. Equações quadráticas 2. Três mundos da matemática 3. Corte didático 4. Aplusix 5. Equações de avaliação 6. Equações de manipulação I. Título. CDD: 515.35 RICARDO PEDROSO DOS SANTOS MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA O PAPEL DO SOFTWARE APLUSIX NA TRANSIÇÃO DE EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO PARA EQUAÇÕES DE MANIPULAÇÃO: O CASO DAS EQUAÇÕES QUADRÁTICAS Dissertação apresentada como exigência parcial à Banca Examinadora da Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN, para obtenção do título de Mestre em Educação Matemática, sob a orientação da Profª Dra. Rosana Nogueira de Lima e da Profª Dra. Lulu Healy (Siobhan Victoria Healy) SÃO PAULO 2011 INSERIR PÁGINA COM ASSINATURAS Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocópias ou eletrônicos. Assinatura: ___________________ Local e Data: __________________ Dedico este trabalho a minha esposa, Ana e aos meus filhos, Emily e Pedro por me apoiarem e entenderem meus momentos de dificuldades e acreditarem que eu conseguiria. E a minha mamãe, que infelizmente só pode ver o início dessa jornada, mas acredito que descansa na graça de Deus. Contudo em todos os momentos da minha vida me apoiou para que conseguisse vencer desafios. A eles todo meu amor e carinho. AGRADECIMENTOS A DEUS, pela vida e fé. Meus sinceros agradecimentos às professoras Rosana e Lulu, pela forma dedicada e paciente com que me orientaram, ajudando-me a escolher sempre as melhores opções e sempre estiveram dispostas e prontas a ajudar. Meu carinho e admiração. Aos meus pais Isaquel e Madalena (in memoriam), pela presença em todas as etapas da minha vida, pelo carinho, esforço e apoio em todos os momentos, principalmente os mais difíceis. A todos os professores do programa de pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Bandeirante de São Paulo – UNIBAN que me ensinaram os caminhos e abriram as portas do conhecimento sem medo de compartilhar e ensinar, respeito, dignidade e prazer da docência. As professoras Gisela e Vera, pelas perguntas, sugestões e contribuições que ajudaram a definir minha pesquisa. Aos amigos do programa de pós-graduação que durante todo o período do curso compartilhamos brigas, desafios e alegrias, momentos que guardo no coração. A minha esposa Ana, por seu amor e paciência que me incentivou a não desistir. Ao meu filho Pedro por chegar durante essa jornada e dar mais trabalho, e claro, muito mais alegria. RESUMO O objetivo desta pesquisa foi investigar a contribuição em potencial do software Aplusix para o aprendizado de conceitos algébricos, em particular em relação a situações envolvendo equações lineares e quadráticas. Especificamente, esta pesquisa pretende identificar como alunos, em suas interações com o software, negociam a passagem de resolver equações lineares para encontrar as raízes de equações quadráticas e se eles lidam de maneira diferente com equações que podem ser resolvidas por meio de técnicas de avaliação, comparado àquelas que requerem manipulação algébrica. Para este fim, foi elaborado um experimento de ensino, seguindo os métodos associados ao Design Experiments (Cobb et al, 2003). Participaram desta pesquisa três alunos do 9o ano, que trabalharam com uma série de atividades envolvendo o software Aplusix. Para a elaboração das atividades foi usado o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática, proposto por Tall (2004; 2008), bem como para a análise das interações dos alunos ao tentarem resolver as atividades. Mais especificamente, as atividades foram elaboradas para incluir o que Lima (2007) chama de equações de avaliação e equações de manipulação, e a análise das estratégias de resolução dos participantes, dando atenção aos jáencontrados que mediaram essas interações. A análise dos dados indicou que, de maneira geral, o software Aplusix parece motivar os alunos a tentar utilizar algum tipo de manipulação independente do tipo de equação, mas essas manipulações foram baseadas no uso de técnicas corporificadas, identificadas como corporificações procedimentais, ao invés de serem baseadas em princípios algébricos. Nas atividades, e nas narrativas dos alunos, foi observado que essas técnicas foram usadas, em detrimento dos princípios matemáticos, e que os métodos que estes alunos usaram para resolver equações quadráticas foram caracterizados principalmente por aspectos do mundo corporificado, com pouca ou nenhuma conexão com os mundos simbólico e formal. Palavras-chave: Equações Quadráticas, Três Mundos da Matemática, Corte Didático, Aplusix, Equações de Avaliação, Equações de Manipulação. ABSTRACT The aim of this research was to investigate the potential contribution of the software Aplusix to the learning of algebraic concepts, particularly regarding situations involving linear and quadratic equations. Specifically, it attempts to identify how students, in their interactions with the software, negotiate the passage from solving linear equations to locating the roots of quadratic ones and how they differentially deal with equations that can be resolved through techniques of evaluation as compared to those which require algebraic manipulation. To this end a teaching experiments was devised, following the methods associated with Design Experiments (Cobb et al, 2003). The participants were three students of the 9th grade, who worked upon a series of research activities involving the software Aplusix. The design of the activities was informed by the theoretical framework of the Three Worlds of Mathematics, proposed by Tall (2004; 2008) as was the analysis of the students interactions as they attempted to resolve the activities. More specifically, the activities were elaborated to in included what Lima (2007) delineates as evaluation equation and manipulation equation and analysing the solution strategies of the participants, attention was given to the met-befores that mediating their interactions. The analysis of data indicated that, generally speaking, the software Aplusix seemed to motivate the students to attempt some kind of manipulation regardless of the equation type, but that these manipulations were based on the use of embodied techniques, identified as procedural embodiments, rather than algebraic principles. In the activities, and students narratives, it was observed that mathematical principles were often hidden due to the use of such techniques, and that the methods these students used to solve quadratic equations were characterized mainly by aspects of the embodied world, with little or no connection to symbolic and formal worlds. Keywords: Quadratic Equations, Three Worlds of Mathematics, Didactic Cut, Aplusix, Evaluation Equations, Manipulation Equations ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 – Demonstração da fórmula de Bhaskara ............................................ 22 Figura 2 - Equação quadrática resolvida através de operações inversas ........... 22 Figura 3 - Desenvolvimento Cognitivo pelos Três Mundos da Matemática ........ 23 Figura 4 – Equação linear de avaliação, desfazendo as operações ................... 27 Figura 5 – Equação linear de manipulação, manipulando incógnitas ................. 28 Figura 6 – Equação quadrática de manipulação ................................................. 29 Figura 7 – Equação representada de maneira usual e na forma de árvore ........ 50 Figura 8 – Equação linear resolvida no software Aplusix .................................... 58 Figura 9 - Tela principal do Aplusix ...................................................................... 58 Figura 10 – Atividades em modo treinamento .................................................... 59 Figura 11 - Editor de atividades do Aplusix ........................................................ 60 Figura 12 - Teclado Virtual ................................................................................... 61 Figura 13 - Setas de equivalência do Aplusix ...................................................... 61 Figura 14 – Controle do videocassete ................................................................. 62 Figura 15 – Revendo atividade ............................................................................ 62 Figura 16 – Desenvolvendo atividade ................................................................. 63 Figura 17 - Desenvolvendo atividade 1 ............................................................... 63 Figura 18 - Desenvolvendo atividade 2 .............................................................. 63 Figura 19 - Desenvolvendo atividade 3 ............................................................... 64 Figura 20 - Representação em árvore da equação x²=49 ................................... 65 Figura 21 – Passagem válida, representando equivalência ................................ 72 Figura 22 – Passagem representando erro de equivalência para 3x+8=7x ........ 72 Figura 23 - Passagem válida 3x+8=7x ................................................................ 73 Figura 24 – Erro de equivalência para 2x +5 =6x -7 ........................................... 74 Figura 25- Equivalência para 2x +5 =6x -7 igual 4x=-12 ..................................... 74 Figura 26 - Equação resolvida 2x +5 =6x -7 ....................................................... 76 Figura 27 - Duas passagens k=8 ......................................................................... 77 Figura 28 - Erro de equivalência para 6x =5x ..................................................... 78 Figura 29 – Tentativa de descobrir o valor da incógnita para 6x =5x .................. 79 Figura 30 – Equação com a seta azul de equivalência 1 para 6x =5x ................ 80 Figura 31 – Equação 6x =5x resolvida ................................................................ 82 Figura 32 - Representação em formato de árvore .............................................. 85 Figura 33 - Tentativa de substituir a incógnita para x² = 49 ................................. 87 Figura 34 – Substituindo x por 47 para x² = 49 ................................................... 88 Figura 35 - Equação x² = 49 resolvida ................................................................. 89 Figura 36 – Equação 27=3x² ............................................................................... 91 Figura 37 – Valor 7 e -7 para 27=3x² .................................................................. 92 Figura 38 - Equação 2y² - 242 = 0 ...................................................................... 93 Figura 39 - Duas tentativas de resolução da equação (x-3)²=81 ........................ 94 Figura 40 – Calculando 3² independente da distributiva para (x-3)²=81 ............. 95 Figura 41 - Tentativas de resolução da equação (x-3)²=81 ................................. 95 Figura 42 - Apresenta a passagem feita pelas alunas na equação (x-3)²=81...... 99 Figura 43 – Distributiva feita pelas alunas na equação (x-3)²=81 ....................... 99 Figura 44 - Última passagem realizada pelas alunas na equação (x-3)²=81 ...... 99 Figura 45 – Equação 2y²-242=0 .......................................................................... 100 Figura 46 – Raiz quadrada na equação 2y²-242=0 ............................................. 101 Figura 47 – Equação 2y²-242=0 desenvolvida .................................................... 102 Figura 48 – Equação 27=3x² ............................................................................... 103 Figura 49 – Equação 27=3x² desenvolvida ......................................................... 103 Figura 50 – Equação x²=49 ................................................................................. 104 Figura 51 – Avaliação de valores para equação x²=49 ....................................... 105 Figura 52 – Avaliação de valores para equação x²=49 b .................................... 105 Figura 53 – Avaliação de valores para equação x²=49 c ..................................... 105 Figura 54 – Equação (x-4)²-100=44 .................................................................... 106 Figura 55 – Distributiva na equação (x-4)²-100=44 ............................................. 108 Figura 56 – Erro de distributiva na equação (x-4)²-100=44 ................................. 108 Figura 57 – Distributiva na equação (x-4)²-100=44 sem resposta ...................... 109 Figura 58 – Tentativa de resolução da equação (x-4)²-100=44 ........................... 110 Figura 59 – Tentativa de resolução da equação (x-4)²-100=44 b ........................ 111 Figura 60 – Distributiva na equação (x-3)²=81 .................................................... 111 Figura 61 – Equação (x-3)²=81 resolvida ............................................................ 112 Figura 62. – Equação (x-2)²=0 resolvida ............................................................. 114 Figura 63. – Equação x(x+3) =18 ........................................................................ 115 Figura 64. – Várias tentativas para equação x(x+3) =18 ..................................... 116 Figura 65 – Equação (x+3)² =81 .......................................................................... 117 Figura 66 – Duas respostas equação (x+3)² =81 ................................................ 118 Figura 67 – Distributiva duas respostas equação (x+3)² =81 .............................. 119 Figura 68 – Duas respostas corretas, equação (x+3)² =81 ................................. 119 Figura 69 – Equação (x+3)² =81 resolvida .......................................................... 120 Figura 70 - 3 tentativas de juntar a incógnita x(x + 3) =0 ................................... 120 Figura 71 – Raiz quadrada de zero na equação x(x + 3) =0 ............................... 121 Figura 72 – Equação x(x + 3) =0 resolvida ......................................................... 121 Figura 73 – Equação x²-6x + 9 =0 ....................................................................... 122 Figura 74 – Raiz quadrada de zero na equação x²-6x + 9 =0 ............................. 123 Figura 75 – Testando valores na equação x²-6x + 9 =0 ...................................... 123 Figura 76 – Testando valores na equação x²-6x + 9 =0 b ................................... 124 Figura 77 – Testando valores na equação x²-6x + 9 =0 c .................................... 124 Figura 78 – Equação x²-6x + 9 =0 resolvida ........................................................ 125 Figura 79 – Valores separados da incógnita equação 8x²+6x =0 ........................ 126 Figura 80 – Equação 8x²+6x =0 resolvida ........................................................... 126 Figura 81 – Duas contas equação x² -3² =81 ...................................................... 130 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1 – Familiarização .................................................................................. 67 Quadro 2 – Bloco 2 .............................................................................................. 67 Quadro 3 – Bloco 3 .............................................................................................. 68 Quadro 4 – Equações quadráticas de avaliação e manipulação ........................ 133 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................ 14 CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................ 18 1.1 OS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA ........................................................ 18 1.1.1 O mundo conceitual corporificado ................................................... 19 1.1.2 O mundo “proceitual” simbólico ....................................................... 20 1.1.3 O mundo formal axiomático ............................................................. 21 1.2 CORPORIFICAÇÃO PROCEDIMENTAL ...................................................... 24 1.3 DIFERENTES VISÕES DA ÁLGEBRA .......................................................... 26 1.4 EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO E EQUAÇÕES DE MANIPULAÇÃO .............. 27 1.5 OS JÁ-ENCONTRADOS ............................................................................... 29 CAPÍTULO 2: A RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES: O QUE DIZEM AS PESQUISAS? ........................................................................................... 32 2.1 PESQUISAS SOBRE EQUAÇÕES QUADRÁTICAS .................................... 32 2.2 CORTE DIDÁTICO: O CASO DE EQUAÇÕES LINEARES .......................... 36 2.3 O MODELO DA BALANÇA COM EQUAÇÕES LINEARES........................... 38 2.4 O CORTE DIDÁTICO: CONEXÃO ENTRE OS MUNDOS CORPORIFICADO E SIMBÓLICO .......................................... ........................... 41 2.5 PESQUISAS COM O USO DO SOFTWARE APLUSIX .................................. 45 CAPÍTULO 3: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................ 53 3.1 METODOLOGIA ............................................................................................ 53 3.1.1 Design Experiments ......................................................................... 53 3.1.2 Local ............................................................................................... 56 3.1.3 Sujeitos de nossa pesquisa ............................................................. 56 3.2 O SOFTWARE APLUSIX ............................................................................... 57 3.2.1 A representação da equação em formato de árvore ........................ 64 3.3 SESSÕES DE PESQUISA ............................................................................ 66 3.4 INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS ................................................. 68 3.5 PAPEL DO PROFESSOR-PESQUISADOR .................................................. 68 CAPÍTULO 4: ANÁLISE DE DADOS ......................................................... 70 4.1 SESSÃO 2 .................................................................................................... 70 4.1.1 Trabalho com equações lineares ..................................................... 70 4.1.2 Resoluções das equações lineares ................................................. 83 4.1.3 Estratégia de resolução das equações de avaliação e manipulação............................................................................................... 85 4.1.4 Iniciando o trabalho com equações quadráticas .............................. 85 4.2 SESSÃO 3 .................................................................................................... 90 4.2.1 Resolvendo as atividades de Bloco 3 .............................................. 90 4.2.2 Resolvendo novamente as atividades de Bloco 3 ........................... 99 4.2.3 Finalizando as atividades do Bloco 3 ............................................... 116 4.2.4 Resoluções das equações quadráticas ........................................... 4.2.5 Estratégia de resolução das equações de avaliação 127 e manipulação .............................................................................................. 132 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 136 5.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 136 5.2 VOLTANDO À QUESTÃO DE PESQUISA .................................................... 137 5.3 CONSIDERAÇÕES PARA NOVOS ESTUDOS ............................................ 140 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 141 Anexo A- Equações Lineares .............................................................................. 143 Anexo B- Equações Quadráticas ........................................................................ 144 Anexo C- Carta de Autorização da Escola .......................................................... 145 Anexo D- Termo Livre e Esclarecido .................................................................. 147 Anexo E- Termo Autorização do uso das imagens ............................................. 150 15 INTRODUÇÃO Em minha1 formação escolar, lembro-me de gostar mais de aprender ou resolver exercícios usando a Aritmética do que a Álgebra, porque tive dificuldades com conteúdos que requeriam um pensamento algébrico. Apesar de fazer uso dos processos de resolução da Álgebra, não sabia ao certo o significado deles, resolvia problemas mecanicamente, sem compreensão dos procedimentos usados. Nessa época, sentia enorme dificuldade para resolver uma equação e também de equacionar uma situação problema; a meu ver, uma equação era descobrir o valor de “x”, o qual, muitas vezes, descobria por tentativa e erro. Sabia também que esses problemas algébricos me acompanhariam por muito tempo. Atualmente, exercendo o papel de educador, tenho percebido que alguns alunos apresentam dificuldades semelhantes às que eu tive na aprendizagem de Álgebra. Isso me levou a fazer alguns questionamentos, tais como, “Quais recursos poderiam favorecer a compreensão das equações algébricas?”; “No estudo de equações, os alunos entendem procedimentos e conceitos?”; “Quais as dificuldades de encontrar todas as raízes de equações quadráticas?”. Esses questionamentos incentivaram-me a pesquisar como os alunos trabalham com as equações quadráticas no contexto das novas tecnologias. Freire e Filho (2006) colocam que: “A álgebra é uma área da matemática que desenvolve a capacidade de abstração e generalização (BRASIL, 1998) é uma poderosa ferramenta para resolver problemas (DA ROCHA FALCÃO,1993). Apesar de sua importância, diversos autores apontam para as dificuldades dos alunos ao resolver situações problema envolvendo conteúdos da álgebra como equações, mesmo nas séries terminais do ensino fundamental (CASTROFILHO et al, 2004). Os resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica – SAEB também apontam que alunos da oitava série ainda apresentam baixo desempenho em álgebra (BRASIL, 1998)” (FREIRE e FILHO, 2006, p. 157) 1 Nesta introdução, usaremos a primeira pessoa do singular quando se tratar de minha própria experiência. 16 Muitas pesquisas enfatizam os erros e as dificuldades dos alunos, geralmente considerando as abordagens de ensino no ambiente convencional, desenvolvida em sala de aula usando papel&lápis. Para Freitas (2002), os alunos entram no 1º ano do Ensino Médio sem um conhecimento aprofundado sobre as resoluções de equações lineares e, de acordo com Lima (2007, p.17), “alunos de diversos países cometem os (aparentemente) mesmos erros apresentados por tantas pesquisas”. Além disso, Filloy e Rojano (1989) argumentam a existência de um “corte didático”, uma dificuldade maior de passar de equações lineares com a incógnita em um membro da equação, para aquelas com a incógnita em ambos os membros. Acreditamos que é possível a ocorrência de um corte didático, também, na passagem de equações lineares para equações quadráticas, caracterizando um projeto de pesquisa que envolve a integração de recursos computacionais. Em nosso estudo, discutiremos as dificuldades apresentadas pelos alunos no desenvolvimento das equações quadráticas. Para tanto, resolvemos pesquisar: “Qual o papel do Software Aplusix na transição de equações de avaliação para equação de manipulação?” Buscamos indícios de como as ferramentas disponíveis neste software poderiam ser exploradas para superar as dificuldades encontradas na resolução de equações quadráticas e identificar as formas de resolução utilizadas por alunos que terão o primeiro contato com essas equações. Assim, procuramos investigar o papel do Software Aplusix2 na transição de resolver equações de avaliação para resolver equações de manipulação, concentrando-nos, em particular, nas equações quadráticas. Nosso estudo busca compreender como os alunos que já têm inicialmente a noção ou conhecem procedimentos de como resolver equações lineares tentam resolver equações quadráticas antes de serem introduzidos a procedimentos de resolução, como a fórmula de Bhaskara. Em particular, pretendemos investigar se 2 http://www.aplusix.com “Desenvolvido pelos pesquisadores: J.F. Nicaud, D. Bouhineau e S. Mezerette do Laboratório Leibniz, em Grenoble, França”. 17 esses alunos utilizam seus conhecimentos “já-encontrados3” como, por exemplo, estratégias aritméticas e estratégias para resolver equações lineares, para encontrar as raízes das equações quadráticas. Para isso, utilizaremos o Aplusix, um software desenvolvido com o intuito de ajudar alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio a aprender Álgebra. Em suas características, traz uma gama de exercícios que incluem cálculos numéricos, fatorações, resoluções de equações, de inequações e de sistemas de equações. Além disso, podem ser adicionados novos exercícios ou problemas de enunciados em língua natural. Optamos por esse software porque ele apresenta um ambiente de desenvolvimento das equações similar ao de papel&lápis, mas que permite feedbacks aos alunos em tempo de execução das atividades e também integra algumas ferramentas que usaremos para conduzir as atividades e gravá-las para que, posteriormente, possamos analisá-las. Para essa análise, escolhemos como fundamentação teórica de nossa pesquisa o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004), que será apresentado no Capítulo 1. Além disso, considerando os tópicos principais do nosso estudo, apresentamos as equações de avaliação e as equações de manipulação (LIMA, 2007). Ainda nesse Capítulo, apresentamos os “já-encontrados”, que são experiências anteriores que podem influenciar um novo aprendizado. O Capítulo 2 foi dedicado às pesquisas relacionadas a equações. Neste Capítulo, procuramos mostrar algumas dificuldades associadas à resolução de equações, tanto das lineares como das quadráticas. No Capítulo 3, descrevemos a metodologia Design Experiments, buscando esclarecer e justificar a maneira pela qual foram organizadas nossas sessões de pesquisa. Ainda nesse Capítulo, apresentamos os recursos do software Aplusix que 3 Segundo Lima (2007) já-encontrado refere-se a experiências anteriores que os alunos já possuem antes de um novo aprendizado, que, segundo a autora, podem interferir no aprendizado em questão, seja de forma positiva ou negativa. 18 foram utilizados. No Capítulo 4, apresentamos nossas reflexões sobre os dados coletados durante o desenvolvimento da pesquisa, tendo como base a fundamentação teórica discutida no Capítulo 1. Por fim, apresentaremos as conclusões finais desse trabalho de pesquisa, a respeito da análise dos resultados obtidos, à luz dos fundamentos teóricos, que fizemos no Capítulo 4, relacionando-os com os pressupostos teóricos e metodológicos, buscando responder nossa questão de pesquisa. 19 CAPÍTULO 1: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Na introdução que antecede este capítulo, apresentamos as justificativas do nosso estudo e a trajetória profissional que nos ajudou a escolher o tema da nossa pesquisa, que se fortificou com a possibilidade de associar, a esse tema, as novas tecnologias. Para fundamentar nossas reflexões sobre as interações de alunos com equações quadráticas, buscamos um quadro teórico que servirá para organizar e entender os resultados de pesquisas existentes e para basear as análises dos dados coletados durante nossa pesquisa. Neste capítulo, apresentamos o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática (TALL, 2004; 2008). Em seguida descrevemos as diferentes visões da Álgebra de acordo com Tall e Thomas (2001) e também a classificação de equações em equações de avaliação e equações de manipulação, discutida em Lima (2007). Por fim, apresentamos os já-encontrados, que podem influenciar o desenvolvimento dos alunos durante o trabalho com equações quadráticas. 1.1 OS TRÊS MUNDOS DA MATEMÁTICA David Tall, em suas pesquisas em Educação Matemática, tem se dedicado a compreender o desenvolvimento do pensamento matemático e, durante sua carreira, desenvolveu a concepção da existência de três diferentes Mundos da Matemática (TALL, 2004): o Mundo Conceitual Corporificado, ou mundo corporificado; o Mundo Proceitual Simbólico, ou mundo simbólico; e o Mundo Formal Axiomático, ou mundo formal. Cada um desses mundos possui suas próprias características. Por exemplo, o mundo conceitual corporificado inclui o uso dos sentidos visuais e das relações dos objetos com o mundo físico; o mundo proceitual simbólico faz uso dos símbolos matemáticos que atuam tanto como processos quanto como conceitos; e o mundo 20 formal axiomático considera a Matemática formal, apresentada por meio dos axiomas e das demonstrações. Os Três Mundos da Matemática se relacionam entre si no desenvolvimento do pensamento matemático criando, assim, uma rica variedade de formas de se pensar matematicamente. 1.1.1 O mundo conceitual corporificado O mundo conceitual corporificado envolve as percepções que são feitas sobre os objetos, ou seja, nossas relações com objetos tanto do mundo real quanto objetos mentais, e a maneira pela qual construímos as noções mentais associadas, como percebemos e sentimos esses objetos. O mundo corporificado não envolve somente as percepções sobre objetos físicos, mas também significados e concepções mentais que integram esses objetos. Tais percepções resultam de ações mentais sobre objetos que nos são familiares. A partir disso, pode-se estender essas reflexões para uma experiência mental em um nível mais sofisticado. Por exemplo, podemos representar uma equação por meio de uma balança de dois pratos (LIMA, 2007) e fazer mentalmente manipulações sobre esse objeto. Com a imagem mental da balança, pode-se manipulá-la para resolver a equação. O indivíduo pode considerar cada um dos pratos da balança como um membro da equação e, a fim de resolvê-la, retirar ou acrescentar pesos (valores representados fisicamente) para conseguir descobrir o valor da incógnita. Da mesma forma, pode-se desenhar uma linha no caderno e falar dela como tendo comprimento e largura e mentalmente defini-la como perfeitamente reta e que pode ser estendida infinitamente em qualquer direção (TALL, 2008). De acordo com Lima (2007), O mundo conceitual corporificado coordena percepções e ações que efetuamos, tanto em objetos físicos quanto em objetos mentais. Percebemos propriedades matemáticas nesses diferentes objetos e agimos sobre eles para entender o que elas significam. Criamos idéias a respeito de um conceito matemático a partir de seus aspectos corporificados. Um indivíduo que está fazendo relações entre aspectos presentes nesse mundo 21 pode dar significado corporificado ao conceito matemático relacionado a esses aspectos. (LIMA, 2007, p.74) Neste mundo, utilizam-se experiências com características corporificadas para validar o conhecimento. Por exemplo, visualmente, um indivíduo pode observar se a representação de uma equação como balança está equilibrada; ou se é necessário acrescentar ou retirar algo para que fique em equilíbrio. Neste caso, ele associa um peso com a incógnita da equação, dando a essa incógnita um significado corporificado. Desta maneira, neste mundo, o indivíduo pode realizar ações e operações sem sentir a necessidade de fazer uso de formalismo ou de definições, pois visualizar ou mentalizar as ações lhe parece suficiente para validar suas afirmações e, para ele, não parece necessário justificativa matemática para a ação (LIMA, 2007, p. 76). 1.1.2 O mundo “proceitual” simbólico No mundo “proceitual” simbólico, as ações que efetuamos para calcular ou manipular são feitas com o uso de símbolos. Estes símbolos podem estar presentes no mundo corporificado, porém as ações no mundo simbólico já não podem ser somente intuitivas, é necessário que se faça operações/manipulações com os números ou com os símbolos, mostrando que os processos são válidos (ou não). No mundo simbólico, os símbolos associados a procedimentos matemáticos assumem uma natureza dupla, resultado de uma visão flexível na qual os símbolos podem ser tratados como processo ou como conceito. Para chamar atenção desta natureza, Gray e Tall (1994) os batizam “proceitos”. Por exemplo, entendemos que um procedimento matemático para obter um resultado é chamando de processo: 4+2 (soma). E essa operação é simbolizada e encapsulada como um objeto. Dessa maneira, um processo produz um objeto e, por sua vez, um símbolo é usado para representar tanto esse processo quanto o objeto: 4+2. Nesta forma “os símbolos representam não só os conceitos, mas também as ações exercidas sobre os objetos e o produto dessas ações” (LIMA, 2007, p.57). 22 Essa junção pode ser originada de diferentes procedimentos: 4+2, 2+4, 1+5, 5+1, “proceitos” que produzem o mesmo resultado, o número 6. Nesse resultado está embutido o conceito (adição) do procedimento. O entendimento de que diferentes procedimentos geram o mesmo conceito, e que um conceito pode ser gerado de diferentes procedimentos, é chamado de pensamento “proceitual” (GRAY; TALL, 1994). Gray e Tall (1994) colocam que: Pensamento proceitual é caracterizado pela capacidade de comprimir estágios na manipulação simbólica a ponto de os símbolos serem vistos como objetos que podem ser decompostos e recompostos de maneiras flexíveis (GRAY; TALL, 1994, p.18, tradução nossa) O mundo simbólico não deve ser visto como simplesmente a representação das percepções e ações do mundo corporificado. Esse mundo inclui “situações que não são sempre possíveis de se representar por meio de corporificações” (LIMA, 2007, p. 76), tal como representar, por meio de uma balança, uma equação equivalente a zero, ax+b=0. 1.1.3 O mundo formal axiomático O mundo formal axiomático é baseado em propriedades expressas pela linguagem formal em definições, axiomas, deduções e demonstrações. Diferente dos outros dois mundos, o mundo formal, em sua totalidade, pouco se encontra no ensino fundamental ou médio; suas relações são mais presentes no nível de ensino superior. Neste nível, geralmente, busca-se o conhecimento formal, das demonstrações, das propriedades, de teoremas que compõem outras demonstrações de outros teoremas, dessa forma compondo um sistema axiomático. 23 No ensino médio, podemos encontrar características desse mundo quando alunos se deparam com situações que são expressas com base em definições formais e provas como, por exemplo, a demonstração da fórmula de Bhaskara. ax2 + bx + c = 0 4a2x2 + 4abx + 4ac = 0 4a2x2 + 4abx + 4ac + b2 = b2 4a2x2 + 4abx + b2 = b2 - 4ac (2ax + b) 2 = b2 - 4ac 2ax + b = 2ax = - b consideramos a equação quadrática Inicialmente, multiplicamos os membros da equação por 4a , somamos b² aos dois membros da equação. subtraímos 4ac dos dois membros da equação. obtendo o quadrado perfeito do lado esquerdo da igualdade extraímos a raiz quadrada dos dois lados da igualdade subtraímos b dos dois membros da equação. dividimos os dois membros da equação por 2a com o objetivo de isolar x. Figura 1 – Demonstração da fórmula de Bhaskara Demonstrada a fórmula de Bhaskara, ela poderá ser aplicada para descobrir os valores da incógnita, na resolução de uma equação quadrática. Observamos que a característica do mundo formal não se trata de usar a fórmula, mas de demonstrála, de perceber a sua validade qualquer que seja a equação quadrática. Observamos que há alunos que resolvem equações como 3x² = 27 seguindo o método usado para a demonstração da fórmula de Bhaskara, ou seja executando operações em ambos os membros da equação e fazendo uso de relações do mundo formal: Figura 2 - Equação quadrática resolvida através de operações inversas 24 Na Figura 2 observamos que, ao resolver a equação utilizando, em ambos os membros, operações inversas àquelas efetuadas sobre a incógnita, um indivíduo faz uso de características do mundo formal. Tall (2004) afirma que os Três Mundos da Matemática se relacionam entre si como apresentado na Figura 3. Figura 3 - Desenvolvimento Cognitivo pelos Três Mundos da Matemática Fonte: Tall (2008 apud KOCH, 2011) Observamos, na Figura , que tanto o mundo corporificado quanto o mundo simbólico estão relacionados. O mundo formal apresenta uma forma mais sofisticada do que os outros dois mundos, entre si e também com o mundo formal em termos de desenvolvimento cognitivo, pois suas características exigem a compreensão de características formais da Matemática. Porém, o trabalho no mundo formal pode envolver expressões e significados dos mundos corporificado e simbólico, revelando assim íntima relação entre os três mundos (TALL, 2008). Segundo Tall (2004), indivíduos podem aprender de maneiras diferentes, ou seja, seu desenvolvimento 25 pode percorrer os Três Mundos da Matemática, seguindo caminhos diferentes. Dessa maneira, o aprendizado torna-se único devido a experiências anteriores de cada indivíduo. No caminho do desenvolvimento cognitivo de cada indivíduo podem ocorrer dificuldades que exigem que as idéias anteriores sejam reconsideradas e, apesar dos Três Mundos da Matemática estarem relacionados, os caminhos são diferentes para cada indivíduo e alguns podem ser levados a concepções alternativas e a terem dificuldades de evoluir no aprendizado, desvinculando um mundo do outro. Por exemplo, alunos que relacionam a resolução de equação com o modelo da balança (mundo corporificado) podem vir a ter dificuldades com a resolução de equações como ax+b=04 (mundo simbólico) ou equações com valores negativos. 1.2 CORPORIFICAÇÃO PROCEDIMENTAL Juntamente com os Três Mundos da Matemática, consideramos outros fatores que podem influenciar os trabalhos dos alunos com equações lineares e quadráticas. Um desses fatores foi relatado por Lima (2007). A pesquisadora, ao buscar os significados atribuídos por alunos de 1º e 2º anos do ensino médio a equações, observou que os sujeitos de sua pesquisa faziam algum tipo de manipulação de símbolos ao resolver equações, porém tal manipulação não era fundamentada em significado matemático, mas sim derivada de frases como “passar para o outro lado” (LIMA, 2007, p. 290), mostrando que não existia uma ligação estreita do tipo de manipulação usada por esses alunos com o mundo simbólico. A esse respeito, a pesquisadora afirma que os sujeitos dessa pesquisa dão um significado corporificado à manipulação de símbolos e, apesar dela ter significado para esses alunos, ela se baseia em movimentar um símbolo de um membro para outro da equação e, junto com essa movimentação, esses alunos ainda acrescentam alguns toques de “mágica” que, para eles, existem sem justificativas matemáticas, como, por exemplo, a troca de sinal de um termo quando “passado” para o outro 4 Esse fenômeno será discutido no próximo capítulo 26 membro da equação; a mudança de um coeficiente “para baixo” do que está no outro membro quando este coeficiente está multiplicando um fator ou a incógnita, entre outros. Desta forma, os alunos, quando executam tais manipulações, podem pensar em movimentar fisicamente objetos, não os símbolos matemáticos, sem pensar em relações com princípios matemáticos. Segundo Lima: Esse procedimento e a mágica que o sucede formam uma corporificação procedimental, em que o aluno dá significado corporificado para o procedimento que está usando. (LIMA 2007, p. 290) Lima (2007) coloca que, em sua pesquisa, ao justificar suas resoluções, os alunos fazem uso de falas que remetem a corporificações procedimentais, tanto em equações lineares quanto em quadráticas. Apesar de a utilização da corporificação procedimental poder proporcionar sucesso para os alunos que a usam, devemos considerar que ela não está atrelada aos significados matemáticos na resolução de equações. E tendo em vista os princípios algébricos que estão envolvidos na resolução de equações, essa corporificação impede que o aluno entenda a ligação existente entre os mundos simbólico e formal e os significados simbólicos que estão envolvidos na manipulação simbólica. Assim, como dito que por um lado a corporificação procedimental pode ajudar aos alunos a obter respostas corretas. Por outro, ela mantém oculto os conceitos matemáticos envolvidos na resolução de equações. E segundo a pesquisadora, tais técnicas escondem os princípios matemáticos, deixando que os alunos pensem que tais princípios são mágicos e sem fundamento, pois suas justificativas são “passar para o outro lado e inverter o sinal”, sem entender que essas passagens não são mágicas, mas sim técnicas derivadas de princípios algébricos fundamentados por características do mundo formal (LIMA, 2007, p. 292). 27 1.3 DIFERENTES VISÕES DA ÁLGEBRA Além dos Três Mundos da Matemática e da Corporificação Procedimental, apresentamos as diferentes visões da Álgebra desenvolvidas por Tall e Thomas (2001) que discutem o desenvolvimento cognitivo do significado dos símbolos na Álgebra. Tall e Thomas (2001) pesquisaram com crianças o desenvolvimento da Aritmética até a Álgebra, classificando a Álgebra em três diferentes níveis: Álgebra de avaliação, Álgebra de manipulação e Álgebra axiomática: Na Álgebra de avaliação, as “letras” em expressões algébricas são substituídas por números para a determinação do valor da expressão, por exemplo, substituindo 3 na expressão 4x + 3 e o valor dessa expressão seria 15. Esse tipo de avaliação pode favorecer que alunos entendam a diferença entre “expressões do tipo 3 + 2.x e (3 + 2).x ou equivalência entre (3 + 2).x e 5x ” (LIMA, 2007, p. 21). Nesse sentido, entender os processos envolvidos nessas duas expressões significa, por exemplo, perceber que, ao substituir um valor para x na expressão 3+2.x, o indivíduo deve primeiro realizar a multiplicação e depois a soma, enquanto em (3+2).x, primeiro deve efetuar a soma e depois a multiplicação. Lima (2007) acredita que, se os alunos perceberem essa equivalência, terão maior flexibilidade à medida em que avançarem seus estudos com Álgebra e também poderão entender que diferentes procedimentos podem gerar o mesmo resultado. Na Álgebra de manipulação, as “letras” são mantidas nas expressões, e são efetuadas manipulações algébricas. Assim, para se resolver equações como 5.x + 4 = 2.x + 2 , é necessário efetuar manipulações simbólicas para, depois, chegar a um valor. Esse tipo de pensamento também pode permitir que alunos entendam que, por exemplo, (a + b)² e a² + 2ab + b² são iguais e, a partir da primeira, pode-se chegar à segunda, e vice-versa. 28 Por fim, a Álgebra axiomática diz respeito à Álgebra formal, sistemas de equações, espaços vetoriais, incluindo definições e demonstrações. A partir dessa classificação dos níveis de Álgebra (THOMAS; TALL, 2001), Lima (2007) define uma classificação para equações lineares e para as equações quadráticas, em equações de avaliação e equações de manipulação, que consideramos importante para o nosso estudo. 1.4 EQUAÇÕES DE AVALIAÇÃO E EQUAÇÕES DE MANIPULAÇÃO No caso específico de equações, Lima (2007), em seu estudo, estendeu a classificação sobre os diferentes níveis da álgebra (THOMAS; TALL, 2001), para as equações lineares e quadráticas, classificando-as como equações de avaliação e de manipulação. Equações lineares de avaliação são as equações na forma ax+b=c, com a, b e c reais, e a diferente de zero, em que a incógnita aparece em apenas um dos membros. Por exemplo, a equação 2x + 3 = 5 pode ser resolvida desfazendo cada uma das operações que foram efetuadas sobre a incógnita para chegar ao seu valor. Figura 4 – Equação linear de avaliação, desfazendo as operações 29 2x+3=5 A equação como 2x+3 com resultado igual a 5 2x=5-3 Desfazendo as operações, subtrai-se o valor 3 do resultado 5 2x=2 Divide-se o número 2 por 2 X=2/2 Encontrando o valor da incógnita X=1 Figura 4a – equação linear de avaliação, desfazendo as operações Lima (2007) também estende essa classificação para as equações quadráticas. Assim, equações quadráticas do tipo ax²=b ou a(x+b)²+c=d podem ser classificadas como de avaliação, pois acredita-se que as operações podem ser desfeitas para encontrar um valor para a incógnita, isto é, realizando a operação inversa daquela efetuada na incógnita, a fim de descobrir o valor dessa incógnita, como apresentado no exemplo da Figura , para a equação 3x²=27. Também acreditamos que equações na forma a(x-x1).(x-x2)=0 podem ser consideradas equações de avaliação, já que nenhuma manipulação é necessária para se encontrar suas raízes. Equações lineares de manipulação são equações na forma ax+b=cx+d, com a, b, c e d reais, em que a e c são diferentes de zero, isto é, a incógnita ocorre em ambos os membros da equação, sendo necessário operar ou manipular com ela para se chegar a um resultado, pois a ocorrência da incógnita em ambos os membros impedem que as operações sobre a incógnita sejam desfeitas como apresentado na Figura 4. Por exemplo: 4k – 2 = 3k + 6 Pode-se observar a incógnita em ambos os membros da equação 4k – 2+2 = 3k + 6+2 Efetua-se a mesma operação (adicionar 2) em ambos os membros 4k = 3k + 8 Somam-se os termos (- 2+2) 4k – 3k = 3k – 3k + 8 Efetua-se a mesma operação (subtrair 3k) em ambos os membros k = 8 Somam-se os termos com incógnitas (k), e encontra-se o valor de K Figura 5 – Equação linear de manipulação, manipulando incógnitas 30 Equações quadráticas na forma ax²+bx+c=d são classificadas como equações de manipulação pois, para se encontrar os valores da incógnita, é necessário fazer alguma manipulação simbólica, seja essa manipulação por meio da fórmula, ou quando o indivíduo percebe alguma outra manipulação, por exemplo, quando a equação é composta por um quadrado perfeito, como apresentado na Figura 6. x²+5x+6=0 Pode-se fatorar para resolver essa equação (x+2).(x+3)=0 Percebem-se as raízes da equação, ou elas são descobertar pela manipulação dos termos: (xx1).(x-x2)=0 (em que x1 e x2 são as raízes da equação), como abaixo: 1º Raiz (x + 2).(x + 3) 0 = (x + 3) (x + 3) Para a primeira raiz o aluno divide os membros por (x+3), quando x é diferente de –3 2º Raiz (x + 2).(x + 3) 0 = (x + 2) (x + 2) (x + 2) = 0 (x + 3) = 0 x +2-2 = 0-2 x +3-3 = 0-3 x = -2 x = -3 Para a segunda raiz o aluno divide os membros por (x+2) , quando x é diferente de –2 Figura 6 – Equação quadrática de manipulação Para Lima (2007), equações do tipo a(x-x1).(x-x2)=0 (no qual x1 e x2 são as raízes da equação) são consideradas, a priori, de manipulação, pois podem ser manipuladas como no exemplo acima, para se chegar aos valores da incóginta. Acreditamos que equações desse tipo também podem ser resolvidas como equações quadráticas de avaliação, porque, por exemplo, o aluno ao manipular a equação quadrática x²+5x+6=0 e obtér a forma (x+2).(x+3)=0, pode avaliar os valores das raízes x1 e x2 como (x1 = -2 e x2 =-3). 1.5 OS JÁ-ENCONTRADOS Durante o processo de aprendizagem dos conteúdos matemáticos, um indivíduo enfrenta diferentes dificuldades e tais condições fazem com que o aprendizado gere novas experiências, que são essenciais para o desenvolvimento 31 cognitivo de indivíduos, tornando-se parte do repertório de seu pensamento e de suas ações. Essas experiências podem influenciar o aprendizado de um novo conceito matemático. Ao se deparar com uma situação que se assemelha a uma já vivenciada, um indivíduo pode recorrer a procedimentos ou conhecimentos de experiências anteriores, para aplicar nessa nova situação. O termo “Já-encontrado” é utilizado para descrever uma experiência anterior que pode influenciar o aprendizado de novos conceitos matemáticos de alguma maneira, seja de forma positiva ou negativa. De acordo com Lima (2007) “já-encontrado” é um construto mental que um indivíduo usa em dado momento, baseado em experiências que ele encontrou anteriormente. Eles são parte da imagem de conceito de um indivíduo (LIMA, 2007, p.86). Já-encontrados podem agir de diferentes maneiras no aprendizado. Por exemplo, um aluno pode ter como já-encontrado em Aritmética que “2+6 é igual a 8”. Esse aprendizado pode ser aproveitado quando esse aluno se depara com expressões do tipo “2x+6x”, e obtém a resposta igual a “8x”. Porém, ao iniciar o estudo de equações quadráticas, tal aluno pode se deparar com a situação 2x²+6x e concluir, de maneira incorreta, que a resposta é 8x² ou 8x. No primeiro exemplo, 2x+6x, o “já-encontrado” funcionou de maneira positiva, favorecendo o aprendizado; o conceito de adição usado na aritmética foi válido para esse contexto. Já no segundo exemplo, 2x²+6x, o “já-encontrado” funcionou de maneira negativa, pois não foi válido para essa situação. O mesmo pode acontecer quando o aluno se depara com a expressão 2x+6. Porém, segundo Lima (2007), esse não é um erro aleatório. Como em experiências anteriores, o aprendizado funcionou para 2+6 e 2x+6x, o aluno pode pensar que a adição pode ser usada para todas as situações de adição. Desta forma, um “já-encontrado”, quando funciona de maneira negativa, pode criar uma dificuldade para aprender um novo procedimento ou conceito. 32 Entendemos que os “já-encontrados” podem ser essenciais para o desenvolvimento do indivíduo quando aplicado de maneira positiva. Podemos assim, juntamente com o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática e com a classificação de equações de avaliação e manipulação, utilizá-los para as análises dos dados da nossa pesquisa. Portanto, o quadro teórico apresentado servirá para organizarmos e entendermos as análises dos dados coletados e para entendermos as interações dos alunos com equações quadráticas. Neste capítulo, buscamos as principais ideias da fundamentação teórica a serem usadas no desenvolvimento desse estudo. Inicialmente, descrevemos os Três Mundos da Matemática: o mundo conceitual corporificado, o mundo “proceitual” simbólico e o mundo formal axiomático, falamos das relações entre eles e de suas principais características. Em seguida, apresentamos as diferentes visões da Álgebra, definidas por Tall e Thomas (2001), e, a partir delas, apresentamos as equações de avaliação e as equações de manipulação, definidas por Lima (2007), que são, juntamente com o quadro teórico, o foco das análises do desenvolvimento das atividades realizadas pelos alunos sujeitos desta pesquisa. Apresentamos a corporificação procedimental e finalizamos trazendo nesse Capítulo os “já-encontrados”, que acreditamos poderão ter forte influência no pensamento dos alunos durante o desenvolvimento das atividades. Assim, definidos os fundamentos teóricos que utilizaremos nessa pesquisa, partimos para identificar outras pesquisas que apontam dificuldades na resolução de equações e que poderão nos auxiliar a identificar as dificuldades que encontraremos em nosso estudo. 33 CAPÍTULO 2: A RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES: O QUE DIZEM AS PESQUISAS? Neste capítulo, apresentamos algumas pesquisas que visam investigar a aprendizagem de equações quadráticas ou de temas que relacionam as equações lineares às quadráticas, assim como as pesquisas que abordam as dificuldades associadas à resolução de equações. 2.1. PESQUISAS SOBRE EQUAÇÕES QUADRÁTICAS Um dos poucos trabalhos que localizamos a respeito do estudo de equações quadráticas é o de Vaiyavutjamai e Clements (2006). A pesquisa desenvolveu-se em duas escolas públicas secundárias da Tailândia e contou com a participação de 231 alunos do 9º grau (equivalente ao 1º ano do ensino médio no Brasil). Foi pedido aos estudantes que resolvessem 18 equações quadráticas antes e depois de terem participado de 11 aulas sobre esse tema. Os principais focos dos autores estavam em como e em até que ponto a compreensão dos alunos durante as aulas afetava o desempenho deles sobre a resolução de equações quadráticas. Outro objetivo dessa pesquisa foi explorar o impacto das abordagens tradicionais de ensino de Matemática associadas à resolução de equações quadráticas. Para fazer estas análises, os autores utilizaram fitas de vídeo do Third International Mathematics and Science Study (TIMSS Video Study) gravadas em 1995 e em 1999. As análises revelaram que, na maioria dos países participantes do TIMSS Study, o ensino se traduzia na sequência: (1) revisão / introdução / modelo; (2) exercícios; (3) resumo. Assim, métodos de ensino que seguiam essa sequência eram considerados pelos autores como uma Abordagem de Ensino Tradicional. Suas análises foram classificadas em várias fases. Na fase inicial, com os testes antes das aulas de equações quadráticas, indicaram que os alunos tinham 34 pouca compreensão das equações quadráticas e dos conceitos matemáticos relacionados a elas. Isso estava evidente, pois esses alunos ainda não tinham tido uma instrução de como lidar com essas equações. Em uma fase posterior às 11 aulas sobre equações quadráticas, os testes indicaram uma melhora de compreensão, mas, mesmo assim, o desenvolvimento não foi satisfatório. A média de compreensão foi classificada como uma compreensão instrumental, faltando, para esses alunos, uma compreensão relacional (no sentido de SKEMP, 1976 apud VAIYAVUTJAMAI; CLEMENTS, 2006). As análises feitas apontaram que, embora após as aulas os alunos conseguissem desenvolver melhor os testes, ainda mais de 50% desses alunos tiveram notas inferiores às esperadas. Também, após as 11 aulas de equações quadráticas, identificou-se que, para a maioria dos alunos participantes, ainda era difícil responder as perguntas dos testes e que 70% das respostas dadas nos testes estavam incorretas. Os autores concluíram que muitos desses alunos não possuíam as habilidades algébricas necessárias para lidar com equações quadráticas. Os autores também enfatizam que, entre as dificuldades encontradas, destaca-se que estudantes de diferentes níveis, inclusive universitários, quando confrontados com equações do tipo (x - 3) ⋅ (x - 5) = 0 , procuram primeiro desenvolver a multiplicação dos termos até x²-8x+15=0, para depois tentar aplicar um processo de resolução. E muitos desses estudantes não conseguem perceber que 30x²+28x+6=0 é equivalente a (5x - 3) ⋅ (6x - 2) = 0 . Para os autores tais dificuldades estão associadas à ideia de “sentido de estrutura” e de “diferentes interpretações da mesma estrutura” (HOCH; DREYFUS, 2004 apud VAIYAVUTJAMAI; CLEMENTS, 2006). Além disso, as conclusões dos autores mostraram que uma abordagem de ensino tradicional produziu pouco efeito para o desenvolvimento dos alunos. No nosso caso, quando procuramos pesquisas sobre as equações quadráticas, deparamo-nos com o mesmo problema relatado por Vaiyavutjamai e 35 Clements (2006), que enfatizam a ausência de pesquisas relacionadas ao ensino e à aprendizagem de equações quadráticas. Assim, decidimos destacar algumas das referências utilizadas por eles sobre esse tema, junto com referências de equações lineares, o que para nós, as dificuldades dessas, estão estreitamente ligadas às dificuldades associados às quadráticas. Uma dessas referências foi a tese de Sproule (2002, apud VAIYAVUTJAMAI; CLEMENTS, 2006) que investigou o desempenho dos estudantes ao resolverem diferentes tipos de equações quadráticas. Sua pesquisa contou com alunos do ensino secundário (equivalente ao ensino médio no Brasil) de uma escola da Irlanda do Norte. Suas conclusões indicaram que somente os alunos mais habilidosos operaram em níveis conceituais adequados. Dessa afirmação, entendemos que as dificuldades associadas a essas equações influenciam no sucesso das resoluções da maioria dos alunos. Outro estudo apresentado foi o de Gray e Thomas (2001, apud VAIYAVUTJAMAI; CLEMENTS, 2006), sobre múltiplas representações de equações quadráticas com o uso de calculadoras gráficas. Tal estudo envolveu uma amostra de 25 alunos, com idades entre 14 e 15 anos e os resultados não foram satisfatórios no que diz respeito à evolução das habilidades de resolver equações quadráticas. Na nossa pesquisa, utilizamos uma equação quadrática representada de uma forma diferente5 do que os alunos estão acostumados, para observar se eles empregam as mesmas habilidades utilizadas nas outras equações. Também foi apresentado o estudo de Fujii (2003 apud VAIYAVUTJAMAI; CLEMENTS, 2006), que investigou a compreensão do conceito de variável. Segundo Fujii, estudantes dos Estados Unidos e do Japão acreditavam que, nas equações, o x do primeiro membro não precisava necessariamente representar o mesmo valor que o x do segundo membro. Além disso, muitos alunos acreditavam que, por x e y serem letras diferentes, em uma mesma equação, nunca poderiam ter o mesmo valor, por exemplo, x+y=16. Segundo Vaiyavutjamai e Clements (2006), esse tipo de pensamento, 5 Representação em forma de árvore Trgalová (2009), que será discutida no final do capítulo. 36 apresentado por Fuji, também foi identificado em sua pesquisa, por exemplo, "Alunos ao resolver a equação (x - 3)(x - 5) = 0 ". Consideravam x com valores distintos; 3 para (x-3) e, simultaneamente 5 para (x-5) apresentando como solução final x = { 3, 5} . Os autores apontam que aparentemente a resolução apresentada está correta, mas para esse aluno, a incógnita x assume valores diferentes nos dois conjuntos de parênteses, não percebendo que a incógnita tem o mesmo status, embora apareça em parênteses diferentes na mesma equação. Segundo Vaiyavutjamai e Clements O relatório da Associação de Matemáticos (Mathematical Association, 1962), no Reino Unido, sobre o ensino de álgebra nas escolas salientou que parte do problema é que os alunos que geram soluções para uma equação, muitas vezes não entendem que o único número ou números que "tornam a equação verdadeira" são as soluções. Os alunos que não percebem isso podem ter dificuldades para “verificar" a “solução” ou as “soluções”. (VAIYAVUTJAMAI; CLEMENTS, 2006, p. 51, tradução nossa) E em relação às equações lineares, que acreditamos contribuir para entendermos quais estratégias os alunos reutilizam ao resolver equações quadráticas, os autores destacam que, depois do ensino de resolução de equações lineares, apresentadas na forma ax+b=c, espera-se que os alunos, na Tailândia, aprendam a resolver equações na forma ax+b=cx+d. E, segundo pesquisa realizada no TIMSS, esses alunos não conseguem fazer a passagem de resolução de um tipo de equação (ax+b=c) para outra (ax+b=cx+d). Ao resolverem equações da forma ax+b=cx+d, esses alunos obtiveram apenas 29% de aproveitamento. E, portanto, para os autores, esse tipo de equação constitui um teste decisivo para o alcance do desenvolvimento algébrico do estudante. Vaiyavutjamai e Clements (2006) acreditam que parte do problema com equações do tipo ax+b=cx+d está relacionada ao fato dos alunos acreditarem que o x nos dois membros da equação pode representar valores diferentes. Filloy e Rojano (1989) não concordam, pois acreditam que as dificuldades associadas a esse tipo de equação devem-se à presença de um corte, isto é, uma dificuldade de manipular números para passar para manipular a incógnita. 37 Assim, percebemos que se faz necessário procurar em qual momento alunos apresentam dificuldades em resolver equações lineares. Para isso, recorremos à pesquisa de Filloy e Rojano (1989). 2.2 CORTE DIDÁTICO: O CASO DE EQUAÇÕES LINEARES Filloy e Rojano (1989) observaram, por meio de um estudo histórico, a evolução da passagem do pensamento aritmético para o algébrico. Segundo eles, algumas pesquisas indicam dificuldades na concepção do pensamento algébrico ou na mudança simbólica que envolve essa passagem, que muitas vezes recaem na interpretação de conceitos como: variáveis, noção de igualdade, gráficos, soluções de equações, operações, entre outros. Por exemplo, os autores perceberam que equações como x²+c =2bx e x²= c+2bx, encontradas nos livros didáticos que foram pesquisados, possuíam diferentes estratégias de resolução, mas uma manipulação de termos poderia deixar essas equações com o mesmo nível sintático, ou seja, uma reorganização dos termos deixaria as equações com a mesma aparência e, consequentemente, poderia ser usada a mesma estratégia de resolução. Porém, segundo os pesquisadores, essa reorganização, que parece ser “fácil”, para alunos apresenta um alto grau de dificuldade. De acordo com os autores, as equações lineares podem ser classificadas em dois tipos, “aritméticas” e “não-aritméticas”. Um representativo do primeiro tipo é: ax+b=c, em que a maioria dos procedimentos são realizados no primeiro membro (do lado esquerdo do sinal de igual), operando, geralmente, com números, em aritmética; e o segundo membro indica o resultado que se deseja alcançar. Já o segundo tipo de equações compreende aquelas na forma ax+b=cx+d, em que a incógnita aparece em ambos os membros e torna-se necessário operar com as incógnitas, o que requer do aluno o conhecimento de alguns princípios algébricos. Ao analisar a transição entre equações aritméticas e equações nãoaritméticas, os autores perceberam que ela não ocorre imediatamente, de maneira natural, mas requer dos alunos a aquisição de certos conceitos e de determinadas 38 técnicas de operar com incógnitas. As dificuldades percebidas durante a transição são consideradas rupturas que separam um tipo de equação do outro. Tal ruptura foi chamada pelos pesquisadores de corte didático. Filloy e Rojano (1989) observaram que alunos, quando colocados frente a equações não-aritméticas, procuram resolvê-las baseando-se em seus conhecimentos de aritmética, substituindo valores, com tentativa e erro, sem levar em consideração a hipótese de operar com as incógnitas, o que é, muitas vezes, necessário nesse tipo de equação, para se obter uma solução. Sabendo da existência de um “corte” e com o propósito de estudar as dificuldades apresentadas nessa ruptura, foram propostas, pelos autores, atividades usando modelos concretos. Segundo Filloy e Rojano (1989), o uso desses modelos pode ajudar os alunos em alguns pontos, mas não significa que todo conhecimento algébrico pode ser desenvolvido a partir de modelos como esses. Alunos que aprendem usando modelos concretos, posteriormente podem sentir dificuldades em generalizar o conhecimento adquirido. Para desenvolver as atividades, foram usados dois modelos: o geométrico e o da balança. O modelo geométrico baseia-se em comparação de áreas de retângulos, nos quais o aluno geralmente observa as diferenças entre esses retângulos e executa a operação de completar áreas. Já o modelo da balança se baseia em uma balança de dois pratos, em que o equilíbrio representa a igualdade entre os membros. Em ambos os modelos, foram usadas equações com incógnitas nos dois membros (não-aritméticas) do tipo ax+b=cx+d. À medida que os alunos conseguiam resolver as equações, novas equações com níveis mais altos de dificuldade eram apresentadas a eles. A partir desses modelos, os autores observaram como os alunos reutilizavam as operações realizadas em equações anteriores, analisando os processos de abstração e aplicação a novas equações. Algumas conclusões dos autores em relação à utilização dos modelos concretos foram a perda temporária de operacionalidade para resolver equações 39 aritméticas, ou seja, em equações que os alunos já sabiam resolver. Também foi identificada uma fixação nos modelos, o que, consequentemente, impede a formalização dos conteúdos, além de dificuldades em operar, nos modelos, com números negativos ou com números não inteiros (alunos que tinham habilidades em resolver equações nessas condições, não conseguiam resolver as mesmas equações nos modelos concretos) e erros associados à manipulação e operação dos termos das equações, como por exemplo, tentativa de somar valores de incógnitas com graus diferentes. Assim, parece que, para Filloy e Rojano (1989), a utilização de uma representação concreta para o ensino de equações lineares – os modelos geométrico e da balança – é vista como um modo de aproximar os alunos dos processos algébricos formais e que o corte didático surge durante a transição de equações aritméticas para as equações não-aritméticas, em que alunos deixam de manipular somente com números para manipular também com incógnitas. 2.3 O MODELO DA BALANÇA COM EQUAÇÕES LINEARES Em Vlassis (2002), localizamos uma tentativa para reexaminar as conclusões de Filloy e Rojano (1989). Ela destaca que, durante anos, várias pesquisas foram realizadas com uso de modelos concretos, cujos resultados foram, muitas vezes, conflitantes. Neste cenário, suas reflexões são baseadas em um experimento de ensino sobre o uso de um dos modelos concretos, o da balança. Este experimento foi realizado com 40 alunos de duas classes de oitava série, em 16 seções divididas em duas fases de 8 cada. A primeira com equações do tipo aritméticas e a segunda com equações do tipo não-aritméticas (utilizando a terminologia de Filloy e Rojano, 1989). O objetivo do experimento, usando como base o modelo da balança, foi que os alunos aprendessem a operar com incógnitas e o método formal de resolução de equações, bem como perceber a necessidade de executar a mesma operação nos dois membros da equação. 40 Na primeira fase, foram usadas equações aritméticas. Esta fase serviu para que os alunos pudessem utilizar seus conhecimentos aritméticos, como uma introdução ao experimento. A segunda fase foi organizada em três situações envolvendo equações em que a incógnita ocorre em ambos os membros, com e sem o uso do modelo da balança. No primeiro caso, os alunos tiveram muitas dificuldades e só conseguiram respostas por meio de tentativas e erros. No segundo, os alunos, para resolver essa situação, usaram vários métodos: a) Método não-formalizado: em que o próprio desenho da balança foi utilizado e, à medida que retiravam pesos dos pratos, riscavam o mesmo número de pesos no próprio desenho e faziam o cálculo com esses pesos, procurando manter o equilíbrio; b) Método aritmético: o aluno partia do método não-formalizado, riscando os pesos até que obtivessem uma equação aritmética (variável em apenas um dos membros), escreviam a equação e tentavam resolvê-la; c) Método algébrico: utilizado por três alunos que não usaram o desenho, montaram a equação algebricamente com base na Figura, mas executaram os cálculos na equação. Apesar de não usarem o método totalmente formalizado, apresentaram princípios algébricos. Após terem resolvido as equações, os diferentes métodos usados foram explicados. A partir desse ponto, foi ensinado o método formal para resolução de equações com base na resolução dos alunos que utilizaram o método algébrico. Por fim, na terceira situação, os alunos tinham que resolver equações (inclusive com números negativos), objetivando o processo formal, sem o apoio do modelo concreto. Após a pesquisa, Vlassis (2002) concluiu que todos os alunos, apesar de assimilarem os princípios demonstrados nos métodos, tiveram grande dificuldade em resolver as equações e, nos diferentes níveis, foram detectados erros, tais como dividir os membros pelo coeficiente de x antes de “cancelar” o termo independente; erros devidos à presença de números inteiros negativos ou com a separação do sinal negativo do número; entre outros. Para Vlassis (2002), esses erros podem ser gerados pelo uso do modelo da balança, no qual os alunos utilizam a subtração para cancelar os pesos da balança, ou esses erros podem ser resultantes da incapacidade de alguns em conceber o sinal ligado ao número. Para eles, o que deve ser anulado não é o –5 e sim o 5, desconsiderando o sinal. 41 Após oito meses, a pesquisadora entrevistou cinco alunos que participaram do experimento. Apesar de conseguirem resolver as equações e, aparentemente, o princípio de equivalência ter sido assimilado, ainda havia dificuldades decorrentes. A tendência era de tentar resolver as equações de maneira aritmética. Os números negativos ainda geravam muitas dificuldades e eles ainda recorriam ao modelo da balança para resolver equações. Portanto, para Vlassis (2002), o corte didático não depende da posição da incógnita na equação como definido por Filloy e Rojano (1989), mas sim da possibilidade de conectar as equações a um modelo concreto. Porque, segundo a pesquisadora, equações aritméticas também podem exigir operações com incógnitas, como, por exemplo, em 6x+5–8x=27; ou mesmo equações que tenham somente uma incógnita em que é necessária uma manipulação para se chegar a um resultado, por exemplo, em equações do tipo –x =7 “que requer que ela seja abordada em termos -1x=7, ou por meio de opostos” (VLASSIS, 2002, p. 351). Discordando em alguns pontos da classificação apresentada por Filloy e Rojano (1989), Vlassis (2002) classifica as equações como Equações Aritméticas Concretas, consideradas equações simples que são compostas somente por uma incógnita e com números naturais; Equações Aritméticas Abstratas, cuja incógnita ou equações com números negativos exijam algum tipo de manipulação, por exemplo, -x=7; Equações Pré-Algébricas, baseadas em um modelo em que há incógnitas em ambos os membros, tornando necessária uma manipulação de incógnitas; Equações Algébricas, que são abstraídas de um modelo concreto e só podem ser abordadas no domínio algébrico. Dessa forma, em nossas primeiras observações sobre as dificuldades apresentadas em equações lineares, particularmente sobre o corte didático, notamos que os autores discordam de sua origem e que as classificações defendidas para as equações também apresentam diferenças. Sobre os modelos concretos, tanto Filloy e Rojano (1989) como Vlassis (2002), mostram que são plausíveis para o ensino de equações em alguns aspectos. 42 Entretanto, também apresentam falhas em outros, tais como dificuldades com números negativos e fixação nos modelos. Lima (2007) observa ainda que, em nenhuma das duas pesquisas, os pesquisadores levaram em conta equações do tipo ax+b=0 nos modelos concretos, já que esse tipo de equação não pode ser representado por tais modelos. 2.4 O CORTE DIDÁTICO: CONEXÃO ENTRE OS MUNDOS CORPORIFICADO E SIMBÓLICO Lima e Healy (2010), em seu artigo “Revisitando o Corte Didático em Álgebra: Uma questão de conexão entre os mundos corporificado e simbólico?”, analisaram os possíveis motivos da existência desse corte, não só com equações lineares, mas extendendo a discussão para incluir também as equações quadráticas. A análise usou como base a classificação de equações lineares e as quadráticas em equações de avaliação e equações de manipulação (LIMA, 2007). As equações lineares de avaliação, como já descrito no Capítulo 1, são do tipo ax+b=c (com a, b, c inteiros, e a diferente de zero), cuja incógnita aparece em apenas um dos membros da igualdade e, para resolvê-las, pode-se deduzir o valor da incógnita (avaliar o valor que satisfaça a equação) ou desfazer as operações até que se chegue ao valor dessa incógnita. Embora essa classificação apresente algumas especificidades, podemos compará-la à classificação de equações aritméticas de Filloy e Rojano (1989) e às equações aritméticas concretas e equações aritméticas abstratas definidas por Vlassis (2002). As equações lineares de manipulação, também apresentadas no Capítulo 1, são aquelas do tipo ax+b=cx+d (de coeficientes inteiros e a, c diferentes de zero), cuja incógnita ocorre em ambos os membros, sendo necessário operar com as mesmas para se chegar a um valor. Esse tipo de equação pode ser comparada com a classificação de equações não-aritméticas de Filloy e Rojano (1989) e também com as equações pré-algébricas e algébricas de Vlassis (2002). 43 Para Lima e Healy (2010), nas pesquisas anteriores, as classificações centram-se na posição da incógnita na equação. E, de fato, as equações de avaliação, as equações aritméticas, as equações aritméticas concretas e as aritméticas abstratas têm em comum a posição da incógnita em um único membro “ax+b=c”, enquanto as equações de manipulação, equações não-aritméticas e as equações pré-algébricas e algébricas têm incógnita em ambos os membros “ax+b=cx+d”. Entretanto, a classificação elaborada por Lima (2007) pode ser estendida, também, para as equações quadráticas, mostrando que a posição da incógnita não é a única característica a ser considerada. Além disso, essa classificação abrange outras equações lineares não trabalhadas por Filloy e Rojano (1989) ou Vlassis (2002), tais como, ax+b=0. Esta classificação diferencia-se também pela relação que um indivíduo tem com as incógnitas na equação, ou seja, está vinculada às estratégias que são utilizadas para resolvê-las. A classificação de Lima (2007) é baseada no quadro teórico dos Três Mundos da Matemática, apresentado no Capítulo 1, que concebe a existência de três diferentes, porém interligados, Mundos da Matemática, o mundo conceitual corporificado, o mundo proceitual simbólico e o mundo formal axiomático. Acreditamos, em consenso com as pesquisadoras, que todos os conceitos matemáticos têm ligações com os Três Mundos da Matemática e as equações não são uma excessão. As equações de avaliação estão diretamente ligadas ao mundo corporificado, pois estão relacionadas com o sentido de fazer ou desfazer uma operação. Além disso, o indivíduo pode pensar fisicamente em tirar ou colocar determinada quantidade de alguma coisa. Por outro lado, as equações de manipulação estão ligadas ao mundo proceitual simbólico, na medida em que o aluno precisa lidar com o conhecimento simbólico e, se conseguir perceber isso, pode efetuar ações sobre esses termos de maneira flexível, articulando os procedimentos. Lima e Healy (2010), sob um olhar desse quadro teórico, retomam os 44 trabalhos de Filloy e Rojano (1989) e de Vlassis (2002). Da classificação de Filloy e Rojano (1989), as autoras sugerem que as equações aritméticas estão ligadas ao mundo conceitual corporificado e as equações não-aritméticas ligadas ao mundo simbólico. E em relação a Vlassis (2002), as equações em que os alunos consigam associar a um modelo concreto estão ligadas ao mundo corporificado e as equações em que não há essa possibilidade, como as “equações algébricas”, estão relacionadas ao mundo simbólico. Lima e Healy (2010) conjecturam que, segundo sua classificação, se o corte didático se manifestar, estará localizado na passagem das equações de avaliação para as equações de manipulação, porque, segundo elas, essa passagem envolve a conexões entre dois dos Mundos da Matemática, que estão ligados a esse tipo de equação, o corporificado e o simbólico. Para verificar essa conjectura, as pesquisadoras usaram dados referentes à resolução de equações feitas por 68 alunos de primeiro e segundo anos do ensino médio de duas escolas, uma pública e uma particular do Estado de São Paulo, bem como entrevistas com 20 desses alunos. Para equações lineares, foram analisadas as resoluções das equações 5t - 3 = 8 , 3x-1=3+x e 2m=4m; e para as quadráticas foram analisadas as resoluções das equações a²-2a-3=0, r²-r=2, 3l²-l=0 e m²=9. As autoras observaram que, nas resoluções das equações 5t-3=8 e 3x-1=3+x os dados mostraram que não há uma grande diferença entre o número de respostas corretas. Já a equação 2m=4m (que poderia ser resolvida por avaliação) poucos alunos conseguiram resolver. Segundo as pesquisadoras, isso aparentemente ocorre porque essa equação traz dificuldades conflitantes com o mundo corporificado, pois é muito difícil para os alunos associarem o zero como valor da incógnita. Por exemplo, o aluno se questiona como um número (que pode representar alguma coisa física) multiplicado por 2 pode ter o mesmo valor do que esse mesmo número multiplicado por 4. 45 A análise das atividades mostra que alunos resolveram todas as equações lineares como se elas fossem de manipulação, ou seja, manipulando valores ou incógnitas. Além disso, usaram técnicas desconectadas dos princípios algébricos, que não condizem com o mundo simbólico. A maioria usou técnicas, como por exemplo, “passar um termo para o outro membro da equação e mudar o sinal” (LIMA; HEALY, 2010, p.10). Assim, nas atividades realizadas com esses tipos de equações lineares, o corte didático não é aparente, pois os alunos, mesmo ao resolverem as equações de avaliação, procuraram usar técnicas de manipulação, não distinguindo um tipo de equação da outra (avaliação e manipulação), contrariando, assim, a hipótese de Filloy e Rojano (1989), quanto à existência do corte didático durante um momento de transição entre os dois tipos de equações. Considerando as equações quadráticas, as autoras diagnosticaram que, na resolução da equação m²=9 (considerada como equação de avaliação), somente um aluno obteve as duas raízes e o fez por meio da fórmula de Bhaskara. Os demais, que procuraram respostas por meio de avaliação, só encontraram uma raiz m=3, a raiz positiva, desconsiderando a raiz negativa. Na resolução da equação r²-r=2 (considerada de manipulação), alguns usaram resolução por avaliação, encontrando o valor r=2 para a incógnita. Estes alunos perceberam que a incógnita é um número que satisfaz a equação e, por meio dela, usaram uma estratégia, pensando em um número que poderia substituir a incógnita. Segundo Lima e Healy (2010), esse tipo de estratégia, resolver uma equação considerada de manipulação como se fosse de avaliação, não foi utilizada pelos alunos com as equações lineares. Além disso, a abordagem de avaliação, feita neste caso, não é do mesmo tipo usado com as equações lineares de avaliação (processo de desfazer as operações), uma vez que, para se achar o valor da incógnita, os alunos deduziram, a partir da observação da equação, um valor que, substituindo a incógnita geraria o resultado apresentado no segundo membro. As pesquisadoras afirmam que os alunos que conseguem de alguma maneira fazer uma avaliação das equações quadráticas parecem ter maior sucesso em sua 46 resolução. O fato da maioria só ter obtido a raiz positiva, talvez, seja em razão de pensarem que não é necessário encontrar outras raízes, uma vez que aprenderam em equações lineares a encontrar somente uma raiz. Os alunos que apresentaram algum tipo de método de resolução diferente das usadas por avaliação ou da fórmula de Bhaskara não foram bem-sucedidos. Em alguns casos, mostraram falta de habilidade em lidar com equações quadráticas, tentando transformá-las em equações lineares, excluindo o expoente da incógnita ou mesmo operando com esses expoentes. Assim, nas análises das resoluções das atividades com equações quadráticas, as pesquisadoras observaram que os alunos apresentaram dificuldades e falta de flexibilidade em utilizar os diferentes métodos algébricos de resolução de equações quadráticas. Considerando essa análise, as pesquisadoras não afirmam se o corte didático se manifesta ou não com equações quadráticas, mas que existe uma dificuldade crescente em trabalhar com esse tipo de equações, principalmente com equações quadráticas de manipulação. Entendemos, dessa forma, que é importante que estudemos a aprendizagem de equações quadráticas de avaliação e de manipulação e as dificuldades que possam ser geradas pelos já-encontrados desenvolvidos no aprendizado de equações lineares. Nesse sentido, o foco de nosso estudo será o uso de um software de manipulação algébrica, o Aplusix. Por isso, fizemos também um levantamento de resultados obtidos em pesquisas que também usaram tal software. 2.5 PESQUISAS COM O USO DO SOFTWARE APLUSIX Para continuarmos nosso estudo, apresentaremos algumas pesquisas cujo tema envolve o uso do software Aplusix ou pesquisas que fizeram uso desse software para investigar o ensino e a aprendizagem de conteúdos da Álgebra; entre elas, algumas foram desenvolvidas com alunos do ensino fundamental em diferentes séries, explorando diversos conteúdos. Com o objetivo de aprofundar nossa investigação sobre o software Aplusix destacaremos, principalmente, o que foi 47 diagnosticado com seu uso. Em sua pesquisa, Burigato (2007) teve como objetivo investigar as dificuldades que alunos apresentam para resolver atividades de fatoração. Para isso, ela decidiu observar teoremas-em-ação (VERGNAUD, 1990, apud BURIGATO 2007). Segundo Burigato (2007) teoremas-em-ação: “São os conhecimentos que alunos consideram pertinentes, para tratar uma situação proposta, contudo, em alguns casos eles podem não ser adequados fazendo com que os alunos venham a cometer erros” (p.2) Burigato (2007) aplicou a uma turma de 9º ano do ensino fundamental uma seqüência didática envolvendo fatorações para serem resolvidas no papel&lápis e no software Aplusix, com o objetivo de diagnosticar o uso de teoremas-em-ação. Em suas conclusões, a pesquisadora constatou que muitos alunos têm dificuldades para identificar, colocar em evidência, fatorar, dividir ou multiplicar os termos das expressões por um fator comum. Essa dificuldade ela associa à formação do conceito de fatoração, que também envolve outras dificuldades, como a fatoração de um número inteiro e a utilização da propriedade distributiva da multiplicação. Na fatoração de trinômios quadrados perfeitos e da diferença de quadrados. Foi observado que as dificuldades abrangem desde a multiplicação de monômios até a redução de termos semelhantes, assim como uso de falsos teoremas em ação, por exemplo, x²+2ax+a²=(x+2a)². Além disso, outras dificuldades associadas à utilização desses conceitos, como alunos que não conseguem extrair a raiz quadrada de termos que são quadrados perfeitos. Em relação ao software Aplusix, a pesquisadora destaca que “Apesar do Aplusix nos possibilitar verificar várias resoluções dos alunos, temos apenas uma visão parcial do raciocínio do aluno” (p.127) e, quando comparado o trabalho dos alunos nas atividades desenvolvidas no papel&lápis e no software, foi observado que os alunos mostravam-se mais motivados com o software devido às retroações (feedbacks e a possibilidade de refazer) que ele oferecia. 48 Entre as funcionalidades do software, a pesquisadora destaca a ferramenta videocassete, que foi utilizada para rever o desenvolvimento das atividades pelos alunos e, por meio dela, foi possível ver que, apesar de alunos utilizarem os teoremas-em-ação corretos nas respostas finais, eles tiveram muitas dificuldades e usaram teoremas falsos no desenvolvimento dessas atividades. Com esta ferramenta, percebe-se que os alunos, ao iniciarem as atividades, nem sempre começavam com o teorema correto, mas como o feedback do software acusava erros de equivalência entre as passagens, os alunos conseguiam chegar a teoremas-em-ação corretos. No entanto, quando os alunos utilizavam o software em um modo em que ele não fornecesse esses feedbacks, alguns alunos continuavam utilizando teoremas-em-ação falsos, mostrando, assim, que essa dificuldade persistia. Para a pesquisadora, essa dificuldade pode ter outra origem: além da resistência, ela pode ter origem no fato dos alunos executarem tentativas sem muita reflexão. Burigato (2007) acredita que o software Aplusix, em um ambiente normal de aprendizagem (em atividades cotidianas das aulas de Matemática), pode contribuir para a construção do conhecimento, podendo integrar as atividades com o papel do professor de mediar o desenvolvimento dessas atividades. Gonçalves (2007) apresenta um estudo com oito alunos do 7º ano do ensino fundamental utilizando o software Aplusix, para investigar como esses alunos resolvem situações-problema envolvendo números inteiros e como eles fazem a conversão do enunciado do problema no registro da língua natural para o registro simbólico numérico (DUVAL, 2003, apud GONÇALVES, 2007). Gonçalves (2007) observou que uma das maiores dificuldades apresentadas na resolução das atividades estava nos cálculos das operações de adição e subtração envolvendo números inteiros. Diante do uso do software, o pesquisador ressalta como vantagem o interesse dos alunos em utilizar Aplusix; eles se sentiram motivados a realizarem as atividades e não apresentaram dificuldades no manuseio dos comandos do software. Entre as funcionalidades do software, Gonçalves (2007) destaca a importância da 49 autocorreção (funcionalidade que permite rever e alterar de imediato ou posteriormente todas as passagens das atividades desenvolvidas) nas resoluções dos exercícios, a qual favoreceu maior independência do aluno em relação ao professor. A ferramenta Videocassete também foi usada para analisar o raciocínio dos alunos durante o desenvolvimento das atividades e a ferramenta AplusixEditor proporcionou inserir as atividades no software. Gonçalves (2007) destaca como desvantagem do software a falta de uma ferramenta que permita construir desenhos e representações. Segundo a pesquisadora, uma ferramenta desse tipo poderia ajudar o aluno a expor o seu raciocínio. Também observou a falta de um ambiente em que os alunos pudessem pesquisar, relacionar e comparar teorias junto com as propriedades dos conteúdos que estão sendo desenvolvidos. Para a pesquisadora, isso ajudaria o desenvolvimento das atividades. Em suas conclusões, Gonçalves (2007) ressalta que o software Aplusix possui vantagens e também limitações e cabe ao professor o cuidado para observar essas limitações ao utilizá-lo. O estudo de Rodrigues (2008) investiga a aprendizagem de produtos notáveis por alunos de 8º e 9º ano do ensino fundamental com o software Aplusix, observando se o software pode contribuir para que alunos aprendam a fazer conversões de registro de representações semióticas (DUVAL, 2003, apud RODRIGUES, 2008). Com base nas questões do SARESP 2005 e em livros didáticos analisados, Rodrigues (2008) elaborou atividades com o objetivo de identificar se esses alunos conseguiriam partir de uma representação de produtos notáveis e transformá-la em outra representação. Para isso, a pesquisadora utilizou o software Aplusix como ambiente para o desenvolvimento das atividades. Nas análises do trabalho realizado por três alunos com as atividades, Rodrigues (2008) observou que, nas transformações do registro de linguagem natural para registro algébrico, dois alunos apresentaram uma evolução do 50 entendimento dos conceitos relacionados; nas habilidades de fazer transformações do registro Figural para o registro numérico os três alunos apresentaram uma evolução conceitual e não apresentaram dificuldades. Para a transformação do registro algébrico para registro Figural as respostas dos alunos foram consideradas como satisfatórias. No tratamento de registro algébrico em desenvolver os produtos notáveis, a pesquisadora considerou que houve uma evolução significativa nos resultados desses alunos em relação ao desenvolvimento das expressões que envolvem conceitos de operações algébricas. No tratamento de registro algébrico para fatorar as expressões, verificou-se que houve uma evolução conceitual desses alunos, comparando os pré-testes com os testes finais. Rodrigues (2008) afirma que essas melhoras ocorreram devido às retroações do software Aplusix e os avanços foram possíveis em conjunto com as mediações da pesquisadora. Ela também ressalta que o auxílio do software no desenvolvimento do estudo favoreceu os resultados apresentados sobre a evolução dos alunos, pois observou que os alunos se mostraram mais motivados em função do uso do software. Entre as funcionalidades do software, as atividades foram introduzidas no Aplusix por meio da ferramenta Editor e suas resoluções foram gravadas com a ferramenta Videocassete. Rodrigues (2008) também destaca a necessidade de uma ferramenta para construção de desenhos e que essa ferramenta poderia facilitar o aluno na representação de determinadas atividades, juntamente com a inclusão de uma ferramenta para pesquisa, para que os alunos possam relacionar e buscar informações sobre os conteúdos estudados. Em sua pesquisa, Trgalová (2009) aborda questões sobre o desenvolvimento de conteúdos digitais para o ensino e para a aprendizagem de Matemática e o impacto das representações de expressões algébricas na forma usual e na forma de árvore, com o uso do software Aplusix. Trgalová (2009) afirma que a representação do registro no formato de árvore 51 no software Aplusix foi inserida pela necessidade de ter vários registros diferentes à disposição do usuário, para se representar o mesmo conceito matemático. Além disso, para incluir esse tipo de registro no software, foi levado em consideração a didática, opiniões de cientistas, de pesquisadores em educação matemática e usuários (professores e alunos). Quanto ao impacto das representações e do desenvolvimento de conteúdos digitais, foi elaborado um cenário pedagógico com expressões algébricas. Tal cenário envolveu três turmas de 9º e 10º grau de escolas da França (equivalentes ao 9º ano do ensino fundamental e 1º ano do ensino médio no Brasil). Segundo Trgalová, nesta fase, esses alunos já estão familiarizados com expressões algébricas, no entanto, pesquisas relatam as dificuldades desses alunos na aprendizagem da Álgebra em manipular representações no registro natural, por exemplo, fatorar ou substituir expressões equivalentes. Por essa razão, as atividades desenvolvidas para esse cenário foram focadas nas dificuldades relacionadas ao aspecto estrutural das expressões algébricas. A aplicação das atividades teve o objetivo de ajudar os alunos a compreenderem o aspecto estrutural das expressões, permitindo representá-las de maneira usual e no formato de árvore como apresentado na Figura 7. Figura 7 – Equação representada de maneira usual e na forma de árvore fonte: Trgalová (2009) 52 “A expressão 2x ² +5 (x - 4), em representação usual na janela principal e a segunda visão dessa expressão na forma de uma árvore” (TRGALOVÁ, 2009, p.11). Das turmas em que a experiência foi aplicada, a primeira turma apresentou melhoras, com a contribuição do registro de árvore, nas tarefas de conversão de registros. No entanto, a terceira turma mostrou que a maioria dos alunos utilizou estratégias erradas para converter os registros da forma usual para a representação de árvore ou vice-versa. Segundo Trgalová (2009), essas conclusões necessitam de uma análise mais detalhada, pois, para esses alunos, não haviam informações se foi introduzido o registro de árvore por seus professores. Para compreender esses resultados, outras pesquisas estão sendo desenvolvidas com o software Aplusix e a representação de árvore no projeto ReMath6. A pesquisadora acredita que somente após a análise dessas pesquisas em desenvolvimento do projeto ReMath será possível fornecer uma resposta sobre essas conversões de registro. No entanto, em Trgalová (2009), notou-se que os professores que implementaram esse cenário puderam realizar adaptações do cenário inicial para o contexto de suas aulas e de acordo com as limitações institucionais de suas escolas. Para ela, isso poderia ser uma das razões que explicam os resultados inesperados do experimento com a terceira turma, o professor ter se apropriado do cenário e o fato da representação no formato de árvore não fazer parte dos currículos de Matemática franceses. Com efeito, ficou claro que os alunos não tinham aprendido a usar esse tipo de registro. Assim, a pesquisadora coloca que o contexto institucional deve ser levado em conta na análise e interpretação dos resultados provenientes dessas experimentações. Até o momento, nossa pesquisa preocupou-se em apresentar os teóricos e os principais estudos que ajudaram a fundamentar nosso trabalho, assim como as 6 Representação em Matemática com Media Digital (ReMath), http://remath.cti.gr/. Com parceria das Universidade Joseph Fourier, na França, Universidade Consiglio Nazionale Delle Richerche, Itália, Instituto de Educação de Londres, entre outras. 53 pesquisas relacionadas às equações e ao software Aplusix. A seguir apresentaremos a metodologia selecionada para realizarmos essa pesquisa juntamente com as ferramentas do software utilizadas para a elaboração do estudo. 54 CAPÍTULO 3: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 METODOLOGIA Escolhemos como metodologia para essa pesquisa o Design Experiments, que veio ao encontro das nossas necessidades, ajudando-nos a responder a questão de pesquisa sugerida neste trabalho. Os processos dessa metodologia são iterativos, e envolvem diversas características e múltiplos elementos de diferentes tipos e níveis (COBB et al. 2003), permitindo que o pesquisador reflita sobre suas atividades e ações e, se necessário, reorganize-as, dentro do processo de desenvolvimento da pesquisa. 3.1.1 Design Experiments Segundo Steffe e Thompson (2000), essa metodologia começou a ser usada na Educação Matemática para preencher lacunas nas formas de análise de práticas de pesquisa e práticas de ensino e tentar aproximar as preocupações de ambas. Para Cobb et al (2003), a metodologia de Design Experiments tem seus propósitos voltados à construção e ao desenvolvimento de experimentos que formam uma “engenharia”, para promover a aprendizagem de um determinado conteúdo e, ao mesmo tempo, permitir o desenvolvimento de interpretações teóricas sobre como se dá a aprendizagem deste domínio. Para os autores, tal metodologia compõe-se de testes com sujeitos, revisões e interações que geram novos testes, baseados no anterior e resultante do experimento. Os autores esclarecem que cada ciclo de Design Experiments envolve os pesquisadores no desenvolvimento, na realização e na análise de episódios de 55 ensino. A análise dos dados obtidos é a base para um próximo ciclo. No planejamento de experimentos, a idéia central desta metodologia não é apenas a de confirmação de uma conjectura, mas sim a de testá-la e desenvolver novas conjecturas, sujeitando-as novamente a testes, caracterizando, assim, um ciclo de testes com o fim de melhorar a conjectura inicial. Dessa forma, o pesquisador está interessado no efeito de intervenção, criando um processo iterativo de re-experimentação. Na condução desta iteratividade com os estudantes durante a aplicação do experimento, o professor deve saber como agir e como questionar quando depararse com uma situação inesperada, sendo que a interação com esses estudantes pode interferir na elaboração do próximo passo da pesquisa. Karrer (2006) coloca que: Deste modo, o objetivo principal do professor pesquisador neste tipo de metodologia é estabelecer modelos vivos da matemática dos estudantes, ou seja, criar meios de interação que possam encorajar os estudantes a modificar seus pensamentos atuais. Para isso, os alunos devem ser entendidos como seres humanos capazes de oferecer contribuições independentes. (KARRER, 2006, p.202) Nesta metodologia, professores, estudantes e pesquisadores são todos vistos como colaboradores do processo. As preocupações são com o sujeito durante a aplicação e não só com as atividades. Cobb et al. (2003) identificaram cinco características norteadoras da metodologia Design Experiments. A primeira diz respeito tanto à aprendizagem de cada aluno, de uma sala de aula, de um professor, ou de uma escola ou organização, quanto aos significados que são entendidos para dar suporte a essa aprendizagem. Sua finalidade é desenvolver grupos de teorias do processo de aprendizagem. A segunda característica é que Design Experiments podem ser vistos como “ensaios” para inovação. É uma metodologia altamente intervencionista, que tem como objetivo investigar as possibilidades de melhorias educacionais e conduzir a novas formas de aprendizagem, a fim de estudá-las. 56 Explicando a terceira característica, Cobb et al. (2003) descrevem como Design Experiments visam criar condições para o desenvolvimento de teorias que se confrontam com outras. Assim, eles têm duas faces: a prospectiva e a reflexiva. Na primeira delas, designs são implementados usando como base trajetórias elaboradas a partir de hipóteses sobre o processo de aprendizagem. A ideia é possibilitar caminhos para apropriação de certos conceitos matemáticos. O segundo aspecto refere-se ao refinamento das conjecturas iniciais a partir das realizações dos experimentos em sala de aula. O design ou projeto inicial é uma conjectura sobre os meios para apoiar uma forma particular de aprendizagem que, por sua vez, será testada. A quarta característica refere-se à natureza iterativa de Design Experiments: conforme as conjecturas são geradas e, talvez, refutadas, novas conjecturas são desenvolvidas e submetidas a teste. Essa fase resulta da terceira característica com os aspectos prospectivos e reflexivos juntos e é relativa à forma cíclica de como o design é conduzido. Portanto, essa característica foca-se nos ciclos de revisão e intervenção necessários para o desenvolvimento da pesquisa. Finalmente, a quinta característica de Design Experiments é sua preocupação em desenvolver avanços teóricos; porém, dada sua conexão com a prática, esses avanços são modestos em termos de sua abrangência, ligados diretamente a um objeto particular de aprendizagem. Com esta metodologia em mente, este estudo prevê o design de uma sequência de atividades de ensino que visa contribuir para a aprendizagem relacionada a equações quadráticas e sua resolução. Em particular, as atividades, inicialmente, serão elaboradas a partir da literatura que trata das dificuldades dos alunos, tanto em relação à resolução de equações lineares como quadráticas. A conjectura que guiará o primeiro ciclo de design é que, para desenvolver estratégias flexíveis para resolução de equações, é importante lidar com ambos os tipos de equações de avaliação e de manipulação. Os resultados das pesquisas anteriores sugerem que a passagem de uma para a outra não é uma transição feita espontaneamente para a maioria dos alunos. Assim, pretendemos testar se as ferramentas do software Aplusix podem ter um papel facilitador nesta passagem. 57 3.1.2 Local Para realizar a coleta de dados, escolhemos uma escola localizada no município de Francisco Morato, no Estado de São Paulo. Esta escola funciona em três períodos, manhã, tarde e noite. No período da manhã, atende Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano); no período da tarde, atende Ensino Fundamental II e Ensino Médio; e no período da noite, atende Ensino Médio e educação de jovens e adultos (EJA – Fundamental II). O motivo da escolha dessa escola é porque o professor-pesquisador trabalha nessa unidade e leciona para as turmas consideradas como sujeitos da pesquisa. Dentro do município, esta escola está localizada em um bairro carente de estrutura de lazer e educação. Os alunos que a frequentam são de classe baixa como toda a comunidade que a cerca e, segundo IDESP7 (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo), o desempenho em Matemática dos estudantes dessa escola foi considerado abaixo da média das escolas do Estado de São Paulo. 3.1.3 Sujeitos de nossa pesquisa Em nosso estudo, decidimos focar na aprendizagem de equações quadráticas. Por este motivo, escolhemos para participarem como sujeitos desta pesquisa alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II (com idade entre 13 e 15 anos) da escola pública descrita no item anterior, enfatizando que essa participação foi voluntária. O consentimento deles foi obtido por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, reproduzido no Anexo D. Convidamos, em particular, alunos com conhecimento sobre resolução de equações lineares. Esta escolha se deu para que tenhamos, em nossa pesquisa, condições similares às de Filloy e Rojano (1989) 7 O IDESP é um indicador que avalia o desempenho dos alunos nas séries iniciais (1ª a 4ª séries) e finais (5ª a 8ª séries) do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Para essa avaliação, ele considera os exames do SARESP e o fluxo escolar dos alunos. Além disso, o IDESP estipula metas para serem cumpridas nos anos seguintes, e também serve como sinalizador do desenvolvimento das unidades de ensinos. http://www.educacao.sp.gov.br/ 58 quando perceberam o corte didático em equações lineares, isto é, escolhemos os alunos que sabem resolver equações lineares para que dificuldades em resolvê-las não interfiram no trabalho de encontrarmos as dificuldades em resolver equações quadráticas. Para essa seleção, os alunos responderam um questionário com equações lineares (Anexo A, adaptado de KOCH, 2011). Os alunos selecionados trabalharam em trio, porque acreditamos que, desta maneira, possa existir, entre os alunos, um diálogo que favoreça o desenvolvimento das atividades. Foi escolhido um grupo de 3 alunas que formaram um trio para desenvolverem as atividades propostas no software Aplusix. 3.2 O SOFTWARE APLUSIX Para desenvolvermos as atividades, procuramos escolher um software que apresentasse uma aparência atraente, que fosse de fácil acesso para os alunos e cuja interface não se tornasse um impedimento para a resolução das atividades com equações. Nessa procura de uma ferramenta tecnológica, decidimos pelo uso do Software Aplusix que, a nosso ver, é de fácil utilização e seu ambiente de trabalho não apresenta dificuldades que poderiam tirar o foco do aluno em relação ao desenvolvimento das atividades. Além disso, o aluno pode resolver as atividades de maneira similar à que ele resolve com papel&lápis. Para utilizar o Software Aplusix, o aluno não precisa aprender todas as suas funções para que consiga resolver as atividades de equações. São necessárias somente poucas instruções. Por exemplo, a Figura 8 mostra uma equação linear resolvida, os comandos necessários para se resolver foram basicamente criar novas passagens e utilizar o teclado virtual para digitar os valores e para finalizar o exercício clicar no botão “end of the exercise” na barra de ferramenta. 59 Figura 8 – Equação linear resolvida no software Aplusix. Apesar de termos escolhido o software Aplusix por causa da sua interface, outros fatores ajudaram nessa decisão, tal como, o software ter sido usado em outras pesquisas que têm evidenciado as contribuições das novas tecnologias com os processos de ensino e de aprendizagem, como apresentado no Capítulo 2. O Aplusix8 foi desenvolvido por pesquisadores da equipe DidaTIC, do Laboratório Leibniz, em Grenoble, França em 1988. Atualmente, o Aplusix é distribuído pelo La société ARISTOD9 associada à Universidade Joseph Fourier. Figura 9 - Tela principal do Aplusix. 8 9 http://aplusix.imag.fr http://www.aristod.fr 60 O software Aplusix (Figura 9) foi concebido para ajudar os alunos a aprenderem Álgebra. Ele possui um banco de dados com várias atividades: cálculo numérico, expressões, equações lineares e quadráticas e sistemas de equações; além de trazer algumas ferramentas para que o professor possa administrar o uso do software e utilizá-lo durante suas aulas. Os alunos podem acessar esse banco de dados e também atividades preparadas pelo professor. Essas atividades podem ser salvas e revistas, com recursos de fácil familiarização para os alunos. Neste estudo, optamos por apresentar somente os recursos que foram utilizados em nossa pesquisa, pois o objetivo dessa descrição é uma apresentação do software Aplusix, para compreensão do uso que dele foi feito. Mais detalhes dos recursos do software pode ser conseguido no site do Aplusix. O Aplusix apresenta dois modos principais nos quais podem ser desenvolvidas as atividades: o modo treinamento e o modo teste. Resolvendo as atividades no modo treinamento, o software fornece dois tipos de feedback; ele verifica a exatidão de cada passagem das atividades por meio das setas de equivalência, e, no final das atividades, há possibilidade de verificar a resposta do exercício. A Figura 10 mostra uma equação linear sendo desenvolvida no modo treinamento. Resolvendo no modo teste, o professor pode estipular um tempo para que seja realizada uma sequência de atividades e, neste modo, o Aplusix não fornece nenhum feedback para o aluno. Nesta pesquisa, usamos somente o Aplusix no modo treinamento. Figura 10 – Atividades em modo treinamento. 61 Por meio de uma ferramenta de administração chamada de editor de atividades, o software permite que o professor insira novas atividades ou uma sequência de atividades que podem ser definidas para serem executadas no modo treinamento ou no modo teste, como apresentado na Figura 10. Figura 11 - Editor de atividades do Aplusix. Com o Editor de atividade do Aplusix, (Figura 11) conseguimos inserir a sequência de equações utilizadas em nossa pesquisa, organizando-as em Blocos. O software permite dois tipos de entrada de informações: o teclado virtual e o teclado do computador, sem que seja necessário alterar qualquer conFiguração e pode-se começar com um e terminar com o outro. O teclado virtual aparece na tela principal do Aplusix. Os alunos que participaram de nossa pesquisa preferiram resolver as equações utilizando o teclado virtual ao invés de digitar diretamente no teclado do computador. Alguns recursos do teclado virtual (Figura 12) foram usados pela sua facilidade: por exemplo, os sinais de frações, os expoentes, a raiz quadrada e o sinal de “or” (que significa “ou”), que é usado para definir as raízes em equações quadráticas. Por exemplo, a equação x(x+3)=0, que tem como respostas “x=-3 or x=0”. 62 Figura 12 - Teclado Virtual. Entre as funcionalidades do software, destacamos a interação dos alunos com o feedback e a capacidade de informar aos alunos se os cálculos executados sobre um exercício estão corretos ou não. Entre as passagens de equivalência correta ou incorreta, o Aplusix pode apresentar três situações indicadas por setas. A primeira é quando o aluno executa uma passagem que não contém erros e o software mostra uma seta preta indicando a equivalência entre a passagem que está acima e a nova passagem abaixo (Figura 13a). Uma seta vermelha com um X sobre ela indica que a nova passagem executada pelo aluno não apresenta equivalência com a que está acima, ou seja, contém erros nessa nova passagem em relação à anterior (Figura 13b). Uma terceira seta de equivalência azul com um X sobre ela pode aparecer durante a digitação de uma nova passagem, e indica que, até aquele momento, o aluno está procedendo de maneira correta ou quando o software não reconhece algum símbolo digitado (Figura 13c). Caso ele acerte a passagem, o Aplusix coloca a seta de equivalência, mas caso ele erre o resultado da passagem, o Aplusix coloca a seta vermelha com um X sobre ela, indicando que não há equivalência. A Figura 13 representa os três tipos de setas de equivalência: A seta com duas pontas apresenta equivalência entre as passagens Figura 13a A seta com duas pontas A seta azul com um X vermelha com um X indica um indicando que há possibilidade erro de equivalência entre as de equivalência entre as passagens. Figura 13b passagens. Figura 13c Figura 13 - Setas de equivalência do Aplusix. 63 Destacamos essa funcionalidade porque, em nossas atividades, muitos alunos se basearam nessas setas para desenvolver seu trabalho. Observamos que, em cada passagem, as setas estimulavam os alunos a continuarem ou a se questionarem sobre suas respostas. Outra funcionalidade do software, que acreditamos ser importante para o professor, é a possibilidade de gravar as ações dos alunos durante o desenvolvimento dos exercícios. Esse recurso, chamado de Videocassete, permite que, depois de terminada a atividade, o professor possa acessar o registro da atividade e rever as ações que o aluno efetuou. O videocassete permite que sejam revistas todas as passagens feitas passo a passo, inclusive as passagens que foram apagadas. Com esse recurso, há possibilidade de rever no tempo proporcional ao desenvolvimento da atividade ou de maneira contínua, todos os passos efetuados. A Figura 14 mostra a tela de controle do videocassete. Figura 14 – Controle do videocassete. Por exemplo10, revendo as atividades dos alunos em nossa pesquisa observamos que o Grupo 2 não resolveu o exercício (x - 3)² = 81 , como apresentado na Figura 15. Figura 15 – Revendo atividade. 10 Os dados detalhados serão apresentados no capítulo coleta de dados. 64 Porém, com o recurso do videocassete, observamos que o grupo tentou resolver como apresentado na Figura 16. Figura 16 – Desenvolvendo atividade. O feedback do software apresentou erro, eles, então, apagaram a passagem e tentaram novamente, como apresentado na Figura 17. Figura 17 - Desenvolvendo atividade 1. Novamente, o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência e eles apagaram. Figura 18 - Desenvolvendo atividade 2. Em seguida os alunos tentaram novamente com o sinal negativo. 65 e Figura 19 - Desenvolvendo atividade 3. Como o feedback do software Aplusix continuou acusando erro entre as passagens, eles desistiram, e, talvez por não conseguirem sucesso na resolução do exercício, eles preferiram apagar todas as respostas e deixar como se não tivessem resolvido (Figura 15). Assim, o recurso videocassete torna-se importante tanto para o professor como para o pesquisador, que podem saber que o aluno não deixou simplesmente em branco, mas fez um esforço de resolução e não conseguiu sucesso. 3.2.1 A representação da equação em formato de árvore Um novo recurso inserido no software permite que uma expressão escrita algebricamente seja representada em formato de uma árvore ou uma mistura entre a escrita algébrica e a representação em árvore. Com um clique no botão direito do mouse sobre a equação, podemos escolher qual representação desejamos visualizar. Em qualquer representação, é possível resolver os exercícios, incluindo alternar entre as visualizações. A Figura 20 mostra uma equação representada no formato árvore, e as opções que podemos escolher quando clicado sobre a equação com o botão direito do mouse. 66 Figura 20 - Representação em árvore da equação x²=49. Segundo Trgalová, a representação em árvore foi desenvolvida visando os seguintes pontos: Do ponto de vista epistemológico, as árvores são representações naturais de expressões algébricas. De um ponto de vista didático, a disponibilidade de um novo registro de semiótica a representação permitiria conceber atividades pondo em jogo uma conversão entre os registros (Duval, 1995), o que poderia favorecer a aprendizagem de expressões algébricas, em particular o seu aspecto estrutural De um ponto de vista da ciência da computação, as árvores são objetos fundamentais que servem para definir a maioria das estruturas de dados. Por uma questão de fato, os objetos internos utilizados no Aplusix para representar expressões algébricas e suas propriedades visuais são árvores (TRGALOVÁ, 2009, p. 7) Em nossa atividade com equações quadráticas, decidimos inserir uma equação neste formato para observar se os alunos conseguiriam articular a simbologia e resolver esta equação. 67 3.3 SESSÕES DE PESQUISA As sessões da pesquisa foram organizadas da seguinte forma: (1) Atividades Preliminares: Inicialmente, aplicamos uma atividade (Anexo A) para duas turmas de 9º ano (total de 80 alunos), de maneira que os alunos respondessem as questões sem o uso do computador (no papel). Com essa atividade, procuramos selecionar os alunos que apresentaram maior número de respostas corretas ao resolver equações lineares e também os alunos que justificaram as passagens ao resolverem essas equações. Esta atividade serviu para que pudéssemos selecionar os alunos que formariam o trio para participar da pesquisa. A partir delas, formamos o trio que participou da familiarização e da resolução das atividades no software Aplusix. Como essa atividade teve um caráter de seleção, optamos por não apresentar as análises feitas. (2) Sessão 1: Familiarização: Nesta primeira sessão, os alunos selecionados a partir da atividade preliminar foram apresentados ao software Aplusix. O professor mostrou como utilizar alguns dos recursos para resolver as atividades (Atividades Bloco 1). Para esse primeiro contato com o software, foi elaborada uma atividade de familiarização com os objetivos de explorar o software Aplusix e de observar se os conhecimentos utilizados pelos alunos para representar de diferentes maneiras o mesmo número seria reutilizado para fatorar equações quadráticas, o que poderia facilitar a resolução delas. Como essa atividade teve um caráter de familiarização e não envolveram trabalhos com equação, optamos por não apresentar as interações dos alunos nas análises. 68 Bloco 1 - Familiarização Escreva o número representado de diferentes maneiras a) 25 b) (3*3) c) (-7) * (-7) d) 49 e) 8 * (4+4) Resolva a equação justificando cada passagem f) 5 = 10 + 4w Quadro 1 - Familiarização (3) Sessão 2: O trio de alunos resolveram no Aplusix, no modo aprendizagem, uma sequência de atividades (Atividades Bloco 2 - adaptada de KOCH, 2011), gravadas por meio do recurso vídeo cassete do software, observadas e comentadas por meio do recurso comentário do software. Estas atividades privilegiam equações lineares Bloco 2 Resolva as equações justificando cada passagem. a) 3x + 2 = 8 b) 3x + 8 = 7x c) 4k – 2 = 3k + 6 d) 2x + 5 = 6x – 7 e) 6x = 5x f) 2m=0 g) x² = 49 Quadro 2 – Bloco 2 (4) Sessão 3: O trio de alunos resolveu no Aplusix uma sequência de atividades centrando-se nas equações quadráticas (Atividades Bloco 3 - adaptada de KOCH, 2011). 69 Bloco 3 Resolva as equações justificando cada passagem. a) 27 = 3x² b) 2y² - 242 = 0 c) (x – 4)² -144 =0 d) (x - 3)² = 0 e) x (x + 3) = 0 f) 8x² + 6x = 0 g) x² - 6x + 9 = 0 Quadro 3 – Bloco 3 (5) Sessão 4: Foram feitos ajustes nas Atividades do Bloco 3, baseados nas resoluções dos alunos do Trio. Os alunos do Trio resolveram as atividades modificadas e novamente suas interações foram gravadas usando o recurso vídeocassete. 3.4 INSTRUMENTOS DA COLETA DE DADOS Para realizarmos a aplicação das atividades com os alunos, utilizamos a ferramenta administrativa videocassete do software Aplusix, que nos garantiu a possibilidade de rever todo o desenvolvimento das atividades, inclusive as passagens incorretas que foram desenvolvidas e, posteriormente, modificadas ou apagadas para se chegar a um resultado. Os diálogos, expressões corporais e gestos dos alunos e do professor foram obtidos por meio de gravações em vídeo, realizadas por uma câmera posicionada para os alunos durante o desenvolvimento das atividades. 3.5 PAPEL DO PROFESSOR-PESQUISADOR A primeira função do professor-pesquisador foi elaborar as atividades no 70 software Aplusix. Na primeira sessão, o professor-pesquisador apresentou o software aos alunos, fez uma pequena introdução dos comandos do software, observou se os alunos conseguiriam dar continuidade às atividades e saiu da sala. Com essa atitude de deixar os alunos sozinhos, resolvendo as atividades, esperava-se que em momentos de dúvida eles refletissem e discutissem entre si as alternativas, à procura de solução. Durante o desenvolvimento das atividades, em intervalos de aproximadamente 15 minutos, o professor-pesquisador retornava à sala para ver se os alunos não haviam chegado a um impasse ou se eles tinham dúvidas que impedissem o desenvolvimento das atividades. Nessas situações, o papel do professor-pesquisador foi de questionar as atitudes dos alunos, buscando que percebessem alternativas para continuar o desenvolvimento das atividades. Se necessário, o professor-pesquisador poderia dar sugestões como alternativas. Caso não houvesse tal momento de dúvida, o professor-pesquisador somente observaria e sairia da sala, sem interferir no trabalho dos alunos. 71 CAPÍTULO 4: ANÁLISE DE DADOS Neste capítulo, descrevemos o desenvolvimento das atividades realizadas no software Aplusix, assim como as narrativas e alguns diálogos relevantes no decorrer das atividades. E, a partir desses dados, apresentamos algumas reflexões baseadas na fundamentação teórica. Como descrito no Capítulo 3, não apresentaremos os dados e a análise da Atividade Preliminar e da Sessão 1, que não envolveram equações. Assim, passaremos à apresentação e análise dos dados da Sessão 2. 4.1 SESSÃO 2 Nesta sessão, os alunos trabalharam com uma sequência de atividades envolvendo principalmente equações lineares. Descrevemos o desenvolvimento da resolução do trio. 4.1.1 Trabalho com equações lineares Para compor o trio, Daniele, Débora e Lívia foram selecionadas. O professor preparou um computador em uma sala de aula vazia, para que as alunas pudessem usar e iniciou as atividades Bloco 2 no Aplusix. Avisou as alunas que estaria na sala dos professores e saiu da sala, deixando somente as três alunas. Como elas já haviam feito a familiarização (Sessão 1), já sabiam como usar o computador e o software Aplusix. Assim, a decisão do professor em deixá-las sozinhas foi para não intervir no desenvolvimento das atividades. Como era somente um computador para as três alunas, as mesmas sentaram da seguinte maneira: 72 Débora no meio, Lívia à sua direita e Daniele à sua esquerda. Débora encarregou-se de digitar os comandos (cálculos) no software Aplusix e as outras duas alunas foram falando o que era para ser digitado. • Elas começaram a resolver a equação 3x+8=7x As três discutiram como iniciar a resolução da equação. Débora: 3x... Daniele: Fica 3x+... Débora: Calma, calma, calma... Débora: 3x = ... Lívia: Não, 3x-7x, tem o 7x... Débora: Desculpaaa... Daniele: A Lívia sabe muito mais equações, sabe mais que nós duas juntas. Daniele: Não, Débora! Tira esse sinal de igual daí! Débora: Então vai colocar o quê? Criatura! Daniele: 3x-7x Débora; -7x ou + 7x ? Daniele: Menos, Débora, igual a -8 Lívia sugeriu iniciar com a passagem 3x-7x. As outras alunas aceitaram, mas Débora, ao digitar, teve dúvidas se deveria digitar -7x ou 7x. Daniele e Lívia sugeriram que ela digitasse -7x, mas nenhuma das duas explicou porquê. Na sequência, pediram para completar com o sinal de igual e o número -8, novamente sem justificar a mudança de operação, deixando a equação neste formato: 3x-7x=-8. O feedback fornecido pelo software, com a seta de equivalência, indicou que essa transformação foi válida. Abaixo, a Figura 21 apresenta a passagem realizada pelas alunas. 73 Figura 21 – Passagem válida, representando equivalência. Continuando a resolução da equação, as alunas optaram por calcular o primeiro membro da equação, 3x-7x. Daniele: Agora 3x -7x vai dar 4x Daniele: Se não aparecer o negócio vermelho já ta perfeito. Daniele pediu para Débora digitar o resultado de 3x-7x e obteve como resposta 4x, desconsiderando o sinal negativo. Ao digitar desse jeito, o Aplusix acusou um erro, com a seta de equivalência vermelha com um x. A Figura 22 mostra o erro de equivalência entre a segunda e terceira passagem realizada pelas alunas. Figura 22 – Passagem representando erro de equivalência para 3x+8=7x. Como as alunas já haviam feito a familiarização com o software, elas conheciam as setas de equivalência as quais Daniele se refere no diálogo acima. Suas expectativas estavam focadas nessas setas e quando o Aplusix acusava erro entre as passagens, as alunas procuravam alternativas para resolver o problema. A presença da seta vermelha provocou que Daniele pedisse à Débora que reescrevesse essa passagem colocando 4x e tirando o sinal de negativo do número 8, assim: 4x=8. O feedback do Aplusix indicou que está passagem foi válida. Daniele: Apaga o sinal do 8 [sinal negativo] 74 Observamos que em nenhum momento as alunas deram vestígios de entender o motivo pelo qual o Aplusix validou tal passagem, porque a mudança do sinal de –8 para +8 tornou a sentença verdadeira. Como mostra a Figura 23, o feedback do Aplusix indicou a passagem como válida para a alteração de sinal do número 8. Figura 23 - Passagem válida 3x+8=7x. A partir desse momento, a aluna Daniele assume os procedimentos do que deve ser feito, dizendo para Débora o que deveria escrever. Daniele: Fica x =8/4, x =2, é que 8 dividido por 4 é igual a 2. Após isso, as alunas criaram uma nova passagem e fizeram x=8/4, e na próxima passagem colocaram como resposta x=2. Dessa forma, as alunas conseguiram a resposta da equação. Nesta equação, quando uma alteração não resultou em uma passagem correta, as alunas, sem reflexão aparente, mudam os sinais. Aparentemente elas sabem que a mudança de sinais acarreta uma resposta correta, mas em um sentido de “mágica”, não de lógica. • A próxima equação que elas resolveram foi 2x +5 =6x -7. Débora continuou digitando e Daniele foi ditando os passos de cada passagem: 75 Daniele: 2x -6x = -7 -5 Daniele: E aqui fica 8x = ai soma -12. Nesse ponto o Aplusix acusou um erro de equivalência entre as passagens, como mostra a Figura 24. Figura 24 – Erro de equivalência para 2x +5 =6x -7 As alunas ficaram com dúvida se o número 12 era positivo ou negativo. Depois de algumas tentativas alterando o sinal do número 12 entre positivo e negativo, elas perceberam que o erro estava no primeiro membro, na soma de 2x com –6x. Elas, então, apagaram o valor de 8x e resolveram 2x – 6x, obtendo não o valor correto, -4x, mas o valor de 4x, ficando 4x=-12. O Aplusix continuou mostrando a seta vermelha de equivalência com um x, indicando algum erro, como mostra a Figura 25. Figura 25- Equivalência para 2x +5 =6x -7 igual 4x=-12 Observando a Figura 24, percebemos que, num primeiro momento, as alunas ignoraram a existência de todos os sinais e utilizaram um agrupamento de termos semelhantes com o princípio aditivo e, posteriormente, acrescentaram os sinais. 76 Mantendo o 8x (positivo) e -12. Talvez elas tenham acrescentado o sinal de negativo no número 12 porque esse sinal aparece nos dois números, -7 e -5. Ao perceberem o erro de cálculo de 2x-6x, que consideraram como igual a 8x, corrigiram (Figura 25), mas o cálculo ainda estava incorreto, pois não consideraram o sinal. A partir desse erro, percebemos uma confusão de conceitos em relação às propriedades de números inteiros. Observamos isso por meio da fala da aluna Lívia, que perguntou para as outras alunas se “negativo com negativo não ficaria positivo”. A aluna Daniele respondeu que isso só ocorre na multiplicação. Mas mesmo assim aceitam a sugestão e colocam o número 12 como positivo: “4x =12”. Neste ponto, o feedback do Aplusix indicou que está passagem foi válida e apresentou a seta de equivalência entre as passagens. Destacamos que, embora as alunas tenham dúvidas nos seus cálculos com números inteiros, o erro feito por elas no cálculo do segundo membro da equação compensou o erro efetuado no primeiro membro (nessas passagens, o software não colaborou para que elas percebessem os erros). Assim, aparentemente, os erros passaram despercebidos. Desta forma, sem darem vestígios de entenderem o ocorrido entre as passagens que envolveram essas trocas de sinais, as alunas continuam com a resolução dessa equação e a aluna Daniele ditou os próximos passos: Daniele: X=12/4, que dividido é igual a 3. Daniele: X=3 aí acabou. A Figura 26 mostra o registro da equação resolvida. 77 Figura 26 - Equação resolvida 2x +5 =6x -7 Resolvidos (graças à sorte) os problemas de sinais, as últimas duas passagens foram efetuadas sem dificuldades, com a aluna Lívia fazendo o comentário “Agora tá fácil”. • A próxima equação resolvida por elas foi 4k-2=3k+6. Nesta equação, 4k-2=3k+6, as transformações feitas pelas alunas não resultaram em valores negativos e, talvez por esta razão, a resolução foi construída com mais facilidade (Figura 27). Vale a pena destacar dois comentários feitos pelas alunas. Primeiro, o comentário de Débora sobre o uso da letra K ao invés de x como incógnita. As outras duas alunas dizem instantaneamente para Débora - “finge que o k é o x”. Débora aceita e, ao iniciar a resolução da equação, continua chamando a incógnita de x. O segundo comentário é a discussão que seguiu a avaliação da expressão 4k – 3k. Nesta passagem, Débora encontra como resultado 1k. Daniele fala para ela colocar somente k e obter a resposta de k =8. Mas Débora ainda questiona sobre o número 1 e quer somar com o número 8. As outras alunas dizem para ela que acabou e afirmam “tem conta que é assim”. A aluna aceita (mas com dúvidas) e 78 apaga o novo passo que tinha criado para continuar, finalizando a equação. A Figura 27 mostra duas passagens k=8 pois, na segunda, a aluna Débora pretendia somar o número 8 com o número 1 que ela encontrou no início da equação, resolvendo 4k-3k. Devido ao comentário das outras alunas, Débora removeu a última passagem. Figura 27 - Duas passagens k=8. Observamos que, com a colaboração do software (feedback apresentados), até esse ponto, as alunas tiveram sucesso e conseguiram resolver as equações. Observando suas estratégias, vemos que elas nem sempre entendem o que estão fazendo. E comparando esses procedimentos com os resultados encontrados em outras pesquisas, acreditamos que elas estão aplicando regras que envolvem mudança de símbolos como objetos corporificados, adicionado de um pouco de mágica e que, em certos momentos, essa mágica é validada pelo software Aplusix. Nesse tipo de estratégia, os princípios matemáticos ficaram ocultos. Na pesquisa de Lima (2007) esse tipo de estratégia é chamada de corporificação procedimental, em que os alunos, ao invés de buscarem significados no mundo simbólico, associaram aos símbolos um movimento pertencente ao Mundo Corporificado. O papel do software até o momento foi de validar essas corporificações. De certa maneira o software validou as estratégias utilizadas pelas alunas. Por um lado, isso possibilitou que elas tivessem sucesso ao resolver as equações; por outro lado, impediu que elas tivessem momentos de reflexão sobre o que poderiam fazer ou 79 não para se obter o sucesso como, por exemplo, refletirem sobre os princípios algébricos relacionados a equações. A próxima equação, 6x=5x, dificilmente pode ser resolvida somente com o uso de características do mundo corporificado, pois envolve o zero, que pode ser uma possível dificuldade para se resolver essa equação, como apontado em Lima (2007) e Freitas (2002). • A próxima equação foi 6x =5x As alunas começaram eliminando o sinal de igualdade da equação, fazendo 6x + 5x. Neste ponto, O feedback do Aplusix indicou que está passagem não apresentava equivalência e as alunas não sabiam como proceder para resolver esse erro. A Figura 28 mostra a passagem que as alunas fizeram. Figura 28- Erro de equivalência para 6x =5x . As alunas não conseguiram perceber que eliminaram o sinal de igualdade dos membros da equação. A discussão entre elas girava em torno da seta de equivalência que indicava o erro. Talvez a seta tenha tirado a atenção da resolução da equação, pois elas procuraram de várias maneiras de corrigir o erro. Daniele: Vai dar errado [Referindo-se à seta de equivalência do Aplusix] Débora: 6x+5x Daniele: Se não for assim, não tem outro jeito Débora: A mais fácil e a gente vai quebrar a cabeça Débora: Vamos fazer assim, x = 5/6 [O feedback do Aplusix apresentou erro, elas apagaram e tentaram somar 5+6] Daniele: Coloca 11 (x =11) 80 Durante esse diálogo, elas digitavam o que sugeriam para ver se o software acusava como correta alguma dessas sugestões. E, apesar de, inicialmente, elas terem apagado o sinal de igual da equação, transformando a equação em uma expressão algébrica, em alguns momentos, ao tentarem resolver, elas retomaram o sinal de igualdade; mas, como em todas as passagens o feedback do Aplusix apresentou erro, talvez elas não tenham percebido essa ligação. Durante muitas tentativas feitas pelas alunas, o feedback do software não indicou equivalência entre as passagens e, durante o diálogo, elas repetiam várias vezes a frase – “A mais fácil e a gente tá quebrando a cabeça”. Observamos, pelos diálogos que para essas alunas, pelo fato da equação ter somente dois termos, seria mais fácil resolve-la do que outra equação com mais termos, como, por exemplo: 4k-2=3k+6. A Figura 29 mostra algumas das tentativas das alunas em descobrir o valor da incógnita. Figura 29 – Tentativa de descobrir o valor da incógnita para 6x =5x Entre várias tentativas de encontrar uma equivalência entre as passagens, a aluna Débora digitou (x=6)=5 e o feedback do software acusou erro, mas com a seta azul de equivalência (devido aos sinais que igualdade). Com isso, Débora acredita que essa equação não é para ser resolvida, somente representada pois, no primeiro bloco de familiarização, elas fizeram uma atividade de representar o mesmo valor de números inteiros de diferentes maneiras. 81 Figura 30 – Equação com a seta azul de equivalência para 6x =5x A seta azul, que indica que, até aquele momento, há possibilidade de equivalência entre as passagens, fez com que as alunas, que estavam quase desistindo de tentar resolver a equação, retomassem a discussão. Débora: Olha lá! Ele deu uma idéia! Débora: Mas assim representa... Daniele: Mas não é para representar, é para calcular. A partir disso, elas tentam resolver no caderno, porém insistindo na mesma situação: “6x+5x”. Elas voltam a tentar no software, repetindo a mesma operação, “6x+5x...”. Como não conseguiram, decidem deixar do jeito que o software aceitou parcialmente “(x=6)=5”, como mostra a Figura 30. Neste momento, elas desistiram temporariamente dessa equação, e passaram para a próxima “x²=49”. Após aproximadamente 7 minutos tentando resolver sem sucesso a equação x²=49, elas retornam à equação, e tentam “6x-5x” (sem o sinal de igualdade). Novamente o feedback do software não indicou equivalência entre as passagens. Entre as discussões, podemos observar que elas não pensaram que era necessário permanecer com a igualdade e que o segundo membro seria igual à zero. Podemos observar as dúvidas delas nos diálogos: Daniele: O que eu não me conformo é que eu tô fazendo certo! Por que tá dando errado? Daniele: Tira o sinal de igual daqui [6x=5x] e coloca atrás [6x-5x=]. Débora: Igual a quanto? Lívia: Coloca o igual, agora coloca x = 1 [o feedback do Aplusix apresentou 82 erro de equivalência] Daniele: Coloca a setinha pra baixo [nova passagem do Aplusix] Débora: Não gente! O resultado tem que ficar embaixo, mas tem que dar aqui primeiro, em cima [na linha de cima], para depois dar embaixo. Daniele: Vai coloca embaixo x. Lívia: Mas agora, quem é x? Nesse ponto, a equação está da seguinte maneira: 6x-5x=1, e, após muitas “tentativas e erros” e “chutes”, elas procuram entender o que está gerando o erro, mas acabam desistindo temporariamente dessa equação e tentam fazer outra. Após aproximadamente 5 minutos, elas retornam para essa equação, aparentemente sem saber o que fazer, e tentam descobrir o valor com “chutes”. Débora: Faz alguma coisa com raiz quadrada. Daniele: O que? [Débora não sabe responder] Daniele: Você esta chutando Débora! Não é pra chutar. Débora: Só eu chuto, vocês não? Daniele: Eu tenho certeza que se o 5x tá aqui depois do sinal de igual, ele tem que passar para o primeiro membro. [Referindo-se a 6x=5x para 6x-5x] Daniele: Tenta assim x =6 -5 [O feedback do Aplusix apresenta o erro de equivalência] Débora: Gostou Daniele, você não estava chutando, não? Daniele: Pior que pra mim tô fazendo do jeito certo. Ao perceberem que não conseguiam descobrir como resolver a equação, elas chamam o professor. Quando o professor chega, elas começam resolvendo, a fim de explicar o que fizeram: Daniele: Olha 6x-5x=, ai fica azulzinho. [referindo-se a seta de equivalência do Aplusix] Professor: Se você tira o 5x dali e coloca do outro lado, vai sobrar quem aqui? [explicando na tela do computador] Daniele: O 6! Professor: Por exemplo, você tem 6x de um lado e “joga” o 5x para lá, vai sobrar o que desse lado? [Novamente explicando e fazendo gestos na tela do computador] Daniele: O zero! [O professor confirma acenando com a cabeça.] 83 Neste diálogo, observamos o momento em que o professor faz uma intervenção “Por exemplo, você tem 6x de um lado e joga o 5x...”. O professor optou por usar a mesma linguagem que as alunas estavam utilizando durante o desenvolvimento das atividades, com o objetivo de intervir o mínimo possível nas estratégias de resolução utilizadas pelas alunas, mas colaborar para que elas pudessem avançar. Assim, as alunas conseguiram chegar ao resultado como mostra a Figura 31. Figura 31 – Equação 6x =5x resolvida Observamos que, nesta equação, as alunas não sabiam como resolver e não possuíam nenhuma estratégia para conseguir chegar ao resultado. Notamos também que, durante a resolução, as alunas tentaram resolver esta equação no caderno (papel&lápis), porém chegavam à mesma resposta apresentada no software; “6x+5x” e, talvez pela dificuldade apresentada nesta equação, essa passagem seja mais significativa para elas. E talvez por terem que manipular somente com incógnitas, nesta equação, a dificuldade esteja associada ao corte didático (FILLOY; ROJANO, 1989), pois, na equação seguinte, em que a incógnita ocorre somente no primeiro membro, as alunas conseguiram resolver sem dificuldades. • A próxima equação foi 2m=0 A equação que colocamos na sequência foi 2m=0. Para essa equação, as alunas, aparentemente, não apresentaram dificuldades, apesar do comentário feito durante a gravação – “que não dá pra dividir por zero” – que acreditamos ser referente a m=0/2 e teriam a resposta m=0 pois, em outro momento da gravação, 84 elas comentam em dividir o número 0 pelo número 2, mas isso não ocorre na resolução; elas colocam diretamente m=0 e como o feedback do Aplusix validou como uma passagem correta, elas finalizam a equação e passam para a próxima. 4.1.2 Resoluções das equações lineares Durante a resolução das equações, houve diversas discussões e divergências por parte das alunas, como apresentado; em alguns momentos, as alunas chegaram a impasses, sendo necessária a intervenção do professor para que conseguissem continuar com as resoluções. Muitos desses impasses surgiram por dificuldades associadas às propriedades dos números inteiros e procedimentos matemáticos associados à resolução de equações. • Equações 3x+8=7x, 2x + 5 = 6x – 7 e 4k – 2 = 3k + 6. As alunas resolveram as equações 3x+8=7x e 2x + 5 = 6x – 7 na forma apresentada nas Figuras 23 e 24. Em ambas as equações, as alunas, apresentaram dificuldades relacionadas às regras de sinais dos números inteiros, por exemplo, em 3x-7x deram como resposta 4x (positivo) e em 2x-6x deram como resposta 8x (positivo). Outro tipo de estratégia usada nessas equações foram as “trocas” ou inversão de sinais, para conseguir chegar a equivalências válidas entre as passagens. Na equação 4k–2=3k+6, as alunas conseguiram resolver a passagem 4k-3k e encontrar o valor de 1k, como pode ser visto na Figura 27, não apresentando maiores dificuldades com a regra de sinais. Ao avaliarmos o desenvolvimento dessas equações, observamos que, apesar das alunas utilizarem certo tipo de manipulação para organizar os valores numéricos e os valores com incógnita em lados opostos da equação, suas estratégias são derivadas de “pegar um valor e passar para outro lado”. Aparentemente elas sabem que trocar ou mudar os sinais fazem parte desse processo e quando “passam” um termo e o feedback do software apresenta a seta com erro de equivalência, elas 85 trocam o sinal, de maneira que quando uma coisa não dá certo, invertem a outra e pronto, sem reflexão aparente, uma mágica de mudar o sinal. A mágica de trocar sinais, nestes casos, parece relacionada com as interações dos alunos com números inteiros – assim a ideia de trocar sinais parece ser um já-encontrado relacionado com diferentes atividades, mas sem conexão com princípios algébricos e sem significado no mundo simbólico. Para essas alunas, vemos que entendem que quando os sinais são diferentes (na adição), deve-se fazer a diferença entre eles e quando os sinais são iguais, agrupam-se os valores; mas ao tentarem resolver as equações, elas ignoraram a existência de todos os sinais e utilizaram um agrupamento de termos semelhantes com o princípio aditivo e, posteriormente, acrescentaram os sinais, considerando os sinais como se eles fossem entidades separadas retornando, assim, à “mágica” que pode ser descrita como corporificação procedimental, evidenciando relações com o mundo corporificado. E apesar das alunas utilizarem uma manipulação com os símbolos, elas não dão significado simbólico às equações, apenas às operações com números referentes à aritmética de números inteiros, que têm estreita relação com o mundo corporificado. • Para as equações 6x = 5x e 2m=0 Observamos que a equação 6x = 5x exigiria das alunas um pensamento relacionado ao mundo simbólico, já que ao manipular o termo 5x, as alunas deveriam representar o valor zero no segundo membro da equação, representando a operação 6x-5x =5x-5x. Assim, ao analisarmos a resolução dessa equação, vimos que as alunas manipulam o termo 5x, porém não representaram o valor zero no segundo membro, situação que se assemelha à dificuldade dos alunos em representarem equações do tipo ax+b=0 por meio de uma balança. Tal pensamento de manipulação parece estar relacionado a técnicas corporificadas, cuja manipulação está ligada a “pegar o termo e passar para o outro lado” envolvendo a mágica de troca de sinais. Como elas “tiraram” o valor de um lado e passaram para o outro, não sobraria nenhum valor no seu local. 86 Já para a equação 2m=0, as alunas não apresentaram dificuldades na resolução, porque o zero já estava presente e foi tratado como um objeto de referência que seria dividido pelo número 2, consolidando que os pensamentos utilizados para resolver as equações estão ligados ao mundo corporificado. 4.1.3 Estratégia de resolução das equações de avaliação e manipulação. Para essas equações lineares, observamos que as alunas fizeram algum tipo de manipulação em todas e somente na equação 2m=0, as alunas fizeram a avaliação do resultado, como valor zero. 4.1.4 Iniciando o trabalho com equações quadráticas Em cada um dos blocos de exercícios, acrescentamos uma equação que faz referência ao próximo bloco. No caso deste bloco a equação foi x² = 49. • A próxima equação foi x² = 49 em uma representação em árvore Figura 32 - Representação em formato de árvore. Num primeiro momento, elas olharam para a equação sem saber o que fazer; então iniciaram a resolução por tentativa e erro. 87 Débora: acho que essa era do compasso. [referindo-se à forma da equação] Daniele: Parece que sim Daniele: acho que fica x Débora: não estou entendendo mais nada. [primeira impressão sobre a equação] Daniele: coloca assim 7 e 7 [referindo-se a substituir o x por 7 e o 2 por 7. O feedback do Aplusix acusou que não havia equivalência entre as passagens] Débora: vamos coloca 1 + 1 [novamente substituindo x²] Como as primeiras tentativas de substituir a incógnita deram erradas, elas abandonaram temporariamente a equação e, depois de aproximadamente 5 minutos, tentaram novamente. Em suas discussões, chegam à conclusão que o resultado da equação é 49 e que precisam descobrir um número que dê como resposta o número 49. Dessa forma, elas fizeram várias tentativas para chegar a esse resultado. 2 Daniele: Eu acho que é 7 para dar 49 Débora: Ai vai dar vermelhinho [Referindo-se a seta vermelha, indicando erro de equivalência] Daniele: Tem que dar 49 então coloca 7 elevado ao quadrado, [substituindo a incógnita por 7, novamente insistindo] Daniele: Por que não dá azul? [referindo-se ao sinal de equivalência do Aplusix] Daniele: Eu tava aprendendo a fazer essa conta, como o professor pede pra fazer uma conta que eu não sei? [esses tipos de equações já haviam sido ensinados no formato usual, em sala de aula] Débora: Mas já tentou... Daniele: Não você colocou 7 e 7 [referindo-se à tentativa de substituir x por 7 e 2 por 7] 88 A Figura 33 mostra as tentativas das alunas. Figura 33 - tentativa de substituir a incógnita para x² = 49. Observamos, na Figura 33, que as alunas conseguiram encontrar uma das raízes da equação, mas o software não validou como uma passagem parcialmente correta, o que talvez pudesse ajudá-las a encontrar a segunda raiz. E sem saber o que estava errado na equação, elas decidiram apagar e tentar outros valores como descrito no diálogo abaixo. Débora: Porque aqui o resultado é 49. Débora: Então de 49 tira dois e coloca no lugar do x. [referindo-se a substituir a incógnita por 47, manter o quadrado “2” igual a 49] Débora: Então o x é igual a 47. Porque 47 + 2 é igual a 49 Lívia: Débora e seus chutes Débora: Não é chute porque dá 49! Daniele: Coloca 7*7 Débora: A gente já tentou Daniele: Porque o resultado aqui é 49. Débora: Ai nós erra (sic). [baseando sua resposta na seta vermelha de equivalência do Aplusix] 89 A Figura 34 mostra a tentativa da aluna. Figura 34– substituindo x por 47 para x² = 49 Nesta equação, elas fizeram várias tentativas para resolver. Como não conseguiram, decidiram chamar o professor. Quando o professor chega, novamente elas dizem que na equação mais fácil está dando errado “a gente tá se matando na mais fácil”. O professor pergunta se elas entenderam a equação (o que ela representava). A aluna Daniele responde que tem que ter dois números que a resposta é igual a 49, em seguida ela explica para o professor suas tentativas de inserir o número 7 no lugar da incógnita x. O professor pede para elas apagarem as passagens e escreverem a equação da maneira que estavam acostumadas a encontrar em sala de aula, de maneira usual “x²=49” e pergunta se nesta representação elas conseguem resolver, elas afirmam que sim. O professor sai da sala, deixando que elas continuem a resolver as equações. Novamente elas tentam substituir a incógnita x pelo número 7. Fazendo substituição, o feedback do Aplusix continuava acusando erro de equivalência entre as passagens. As alunas ficaram confusas pois, para elas, somente a raiz positiva resolve a equação, mas o feedback do Aplusix só validaria como correto se 90 houvesse duas raízes. Neste momento, o professor chega e as alunas explicam as tentativas de resolução. A aluna Daniele diz - “Olha pra essa conta aqui, é 7! Porque não tá dando certo?” -. Neste momento, o professor avisou para elas que estavam trabalhando com uma equação quadrática e que possivelmente haveria mais uma raiz. Com essa fala, as alunas percebem que a resposta pode ser x=7 “or” x = -7. Ao fazerem isso, o Aplusix aceita a passagem, colocando a seta de equivalência entre as passagens. A Figura 35 mostra a equação resolvida. Figura 35 - Equação x² = 49 resolvida. Para essa equação, acreditamos que as dificuldades encontradas sobre sua representação no formato de árvore estão associadas às mesmas apresentadas por Trgalová (2009), de que talvez estas alunas não estavam acostumadas com esse tipo de representação. Também acreditamos que a dificuldade em resolver a equação foi acrescida pelo software, quando as alunas descobriram que uma das raízes era o número 7 e o software, ao invés de condicioná-la como uma possível resposta verdadeira, ou uma resposta parcial, acusou como erro de equivalência, fazendo com que as alunas desconsiderassem esse resultado, apagando e tentando refazer várias vezes. 91 4.2 SESSÃO 3 O trio de alunas resolveu no Aplusix, uma sequência de atividades, centrando-se nas equações quadráticas. 4.2.1 Resolvendo as atividades de Bloco 3 Este bloco de equações foi realizado pelas alunas seis dias após o Bloco anterior. Neste período, elas não tiveram contato com o software Aplusix e, para esse encontro, nenhum conhecimento novo sobre a utilização do software foi passado para as alunas. • Neste encontro, a primeira equação a ser resolvida foi 27=3x² As alunas, inicialmente, inverteram os membros da equação, colocando 3x²=27. Feito isso, observamos, em seus diálogos, as tentativas de resolver a equação: Daniele: Tem que descobrir o valor de X Daniele: 9x..., apaga... [a aluna pediu para apagar quando observou que o feedback do software acusava erro de equivalência] Lívia : x² = 27 sobre 3 Daniele: agora fica 27 sobre 3 Lívia: tem que tirar o 3 dali... Débora: 27 sobre 3 Daniele: x² = 9 Durante essas passagens, a aluna Débora, que estava digitando as informações no software, apresentou algumas dificuldades, por exemplo, ao ser dito pela aluna Lívia “x² = 27 sobre 3”, Débora digitou 3x²=27/3. Esses erros geralmente foram corrigidos pelas outras alunas, ou quando o software apresentava a seta vermelha com um X sobre a seta, indicando erro de equivalência. Apesar de um 92 pouco de confusão entre as passagens, as alunas conseguiram chegar até x²=9, como apresentado na Figura 36. Figura 36 – equação 27=3x² Neste ponto, observamos, no diálogo, as discussões que ocorrem envolvendo equações resolvidas no bloco anterior: Débora: Olha, lembra, esse daqui a gente ficou... essa daqui foi igual àquela lá que a gente se matou, se matou, se matou... Daniele: aquela que é 7 ... [Débora confirma a afirmação da Daniele] Daniele: e a gente não apreendeu.. 7x7= 49... [referindo-se a equação no formato de árvore, Figura 35] Débora: será que é ? Daniele e a Lívia: 7² = 49.. Débora: Não... Daniele: ai, você tinha colocado “ou” Débora: é mesmo né... 49...né... Lívia: é.. onde insere o “ou” Débora: 7 x 7 Daniele: Negativo ? “or” era negativo, lembra que a gente colocava positivo e negativo... Débora: então é menos 7 Lívia: Por que vai ser menos 7 ? Daniele: então coloca 7 or – 7 Daniele: ou menos 7 ² 93 Daniele: Não, esse aqui já é positivo, porque não tem sinal, ai você coloca “or”- 7² Débora: deu não... nada a ver [observando o erro de equivalência apresentado no software] As alunas nesta equação tentaram colocar x =7 ou x= -7 sem observar o valor que estava na passagem anterior da resolução x²=9, como mostra a Figura 37. Figura 37 – valor 7 e -7 para 27=3x² A partir do erro de equivalência entre as passagens, houve grande discussão entre as alunas. Inicialmente, elas acreditavam que os valores deveriam ser os mesmos da equação representada em forma de árvore (ver Figura 35). A justificativa da Daniele era a de que deveriam existir duas respostas: Daniele: Pula para próxima, depois a gente tenta. Débora: esqueci como fazer Daniele: eu não esqueci, eu lembro que tem sinal negativo e outro positivo... Após ficarem sem saber como proceder com essa equação, devido ao erro de equivalência, desistiram de tentar encontrar o valor das raízes e foram para a 94 próxima equação. • A próxima equação foi 2y²-242=0 As alunas procederam da mesma maneira até o mesmo ponto da equação anterior e deixaram a equação na forma y²=121, conforme mostra a Figura 38 abaixo. Figura 38 - Equação 2y² - 242 = 0 Ao chegar neste ponto, elas se depararam com a mesma dificuldade apresentada na equação anterior. Assim, não tentaram criar conjecturas para resolvê-la e decidiram passar para a próxima equação. • A próxima equação foi (x-3)²=81 Nesta equação, as alunas fizeram várias tentativas, aplicando a propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição ou a extração da raiz quadrada do segundo membro; nenhuma delas resultando em valores equivalentes à equação inicial e, em cada passagem que o feedback do Aplusix não validava como equivalência, as alunas apagavam e tentavam novamente. Em seus diálogos, ressaltamos os momentos de maiores dificuldades ao desenvolver a equação. 95 Débora: x – 3 = 81...... x ..... x -3 = 1 Lívia: igual 3x sobre 2 negativo.... menos 3x... [o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência entre as passagens] Daniele: coloca 9x... Débora: coloca 9x... 9x²? Daniele: 9x = 81.. Daniele: Coloca 9x ali negativo... , deu vermelho! [ela pediu para alterar o sinal porque o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência] Débora: não deu... vou fazer x-3 =81 Daniele: tira dos parênteses. Lívia: põem vezes... [dizendo para digitar 3*3] Daniele: Pior que não to chutando, porque aqui vai dar 9 porque 3² [apontando para tela do computador] Débora: Então coloca assim X - 3 = 9 Daniele: e o 81 vai colocar onde? Débora: Coloca assim (81) entre parênteses [como mostra a Figura 39] A Figura 39 - Duas tentativas de resolução da equação (x-3)²=81. Em cada uma das tentativas, quando o software acusava erro de equivalência entre as passagens, as alunas apagavam e tentavam novamente (Informações conseguidas por meio da ferramenta administrativa do software chamada videocassete). Em suas falas, observamos que a aluna Daniele tentou várias vezes calcular o valor de 3² resultando em 9 isoladamente dos outros termos, como mostra o trecho do diálogo de alguns dos momentos dessa discussão: Daniele: Essa conta não faz assim, o certo na conta é tirar dos parênteses... tira dos parênteses!! Daniele: coloca assim 3x² Lívia: igual a 81² 96 Débora: Coloca assim 3 x, você já colocou 3 x² . Daniele: tem que dá, porque o 3² dá 9 Lívia: põem 3 x entre parênteses Débora: X – 9 ... 81 Daniele: Não tem que isolar o x ? Isolar o x e passar o quadrado [referindose a passar o expoente 2 para o segundo membro da equação] Débora: Mas se a gente isolar o x igual... Daniele: x = ... 81 Débora: Você não falou para isolar o x ? Daniele: x = 81 + 3² [como mostra a Figura 40] Figura 40 – calculando 3² independente da distributiva para (x-3)²=81. Débora: Não vai dar igual a 9! Daniele: O 81 tem que ter - Tira os parênteses Daniele: apaga isso... Não é melhor perguntar pro professor, senão a gente vai errar, todas que tem parênteses... mas ele não vai responder vai ficar como errada – coloca x + 9 Débora: Uff, cala a boca! [brigando com o computador, porque o software apresentou erro de equivalência entre as passagens] Daniele: é 9x = 81 sempre Lívia: mas a gente já não colocou isso? Daniele: Tenta Débora: 9 ... tem que dividir de todo o jeito A Figura 41 mostra outras tentativas discutidas no diálogo A Figura 41 - tentativas de resolução da equação (x-3)²=81. 97 Após essas várias tentativas, as alunas decidem chamar o professor. Duas alunas saíram para chamar o professor e, neste intervalo de tempo, a aluna Daniele ficou olhando para a equação quando o professor chegou a aluna tinha pensado em uma estratégia para resolver. Ela tentou explicar o que havia pensado: Daniele: Aqui tem que repetir duas vezes esse né... agora que eu lembrei... Débora apaga esse aqui e coloca X – 3 você não ta prestando atenção no que eu to falando [chamando a outra aluna para digitar os comandos no software] O professor, sem a intenção de intervir muito na resolução das atividades, confirmou (acenando com a cabeça) e saiu da sala novamente. Daniele tentou explicar para as outras alunas o que havia pensado e pede para Débora digitar os comandos conforme mostra o diálogo abaixo: Daniele: Agora coloca de novo... vezes, coloca vezes.. [referindo-se (x – 3) * (x – 3)] Daniele: x – 3... Abre parênteses de novo e coloca igualzinho em cima, é o sinal de vezes [dando ênfase ao sinal porque anteriormente elas tinha digitado (x – 3) + (x – 3)] Daniele: = 81 Débora: Não, é mais... não é também [questionando Daniele sobre o sinal que deveria ser colocado dentro do segundo parênteses (x + 3) ] Daniele: Não é menos 3, e igual a 81! E o sinal de igual... é igual a 81? [Débora ao digitar tinha esquecido de inserir o sinal de igual] Débora: Vou colocar agora!... é menos! Daniele: Nossa lembrei.. adorei.... ai caramba [a expressão de satisfação da aluna se refere ao software ter aceito como correta a equivalência entre as passagens] 98 A Figura 42 apresenta a passagem feita pelas alunas A Figura 42 - apresenta a passagem feita pelas alunas na equação (x-3)²=81. Porém para as próximas passagens as alunas não sabiam como resolver, e, para a aluna Daniele, o resultado deveria ser x² + 9 =81. Como mostra o diálogo abaixo. Débora: agora o X = 81 [pensando no próximo passo para resolução da equação] Daniele: Não Débora vai dar errado, tem que resolver esse aqui [apontando para tela do computador] Daniele: ela não ta entendendo [falando para a aluna Lívia sobre as tentativas da aluna Débora] Daniele: é 2x fora dos parênteses +9 = 81 [O feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência entre as passagens] Débora: nada a vê Daniele Daniele: lembrei, assim x vezes x. fica x² e – 3 vezes – 3 fica + 9 igual a 81 Daniele : x² +9 [A aluna tenta várias vezes explicar esse resultado, para ela esta correto assim] Débora: o ideal é pegar um papel e caneta parece que é melhor. Daniele: tinha que dar assim x² +9 =81 e depois dividir 81 por 9, e o 9 é positivo porque menos com menos é mais. [Como mostra a Figura 43] Figura 43 – distributiva feita pelas alunas na equação (x-3)²=81. 99 Elas ficaram discutindo sobre essa equação, mas sem estratégias para resolvê-la, as alunas sempre voltavam à mesma conclusão de x²+9=0. Então decidiram novamente chamar o professor. Quando ele chega, as alunas explicaram o que fizeram até o momento. O professor sugeriu que eliminassem o quadrado antes de chegar nesse ponto. Elas perguntaram como e o professor, fazendo uso das falas das alunas, sugeriu passar o quadrado para o outro lado da equação, a aluna Lívia percebeu a intenção do professor e fala para Débora digitar como raiz quadrada. O professor ao ouvir a resposta de Lívia, sai da sala. Ao fazerem tal passagem o feedback do Aplusix não validou como equivalência, neste momento as alunas se mostraram desmotivadas com o resultado. Nesse momento, consideramos que o software interviu significativamente no desenvolvimento do raciocínio das alunas. A intenção do professor era somente dar meios para que não chegassem a um impasse, oferecendo uma alternativa para que tentassem chegar à solução. Mas acreditamos que as alunas, ao seguirem os passos sugeridos pelo professor, dentro do contexto de que o professor conhece o software e sabe como resolver a equação, tiveram a sensação ou acreditaram que o professor estava ensinando como resolver e, quando o feedback do software apresentou erro de equivalência, não entenderam o que aconteceu. É possível que elas pensem que essa equação seja de um grau de dificuldade mais elevado do que as demais, ou no software as respostas são diferentes das que se encontrem no papel. Neste caso, acreditamos que a dificuldade foi aumentada pelo uso do Aplusix Talvez se o software apresentasse a seta de equivalência azul com um X sobre ela, indicando a possibilidade de se chegar à resposta correta, interpretada assim pelas alunas, poderia ter estimulado que elas continuassem a procura da resposta. Como observado, nas gravações em vídeo, quando o feedback apresentou erro de equivalência entre as passagens as alunas ficam paradas sem saber como proceder para chegar a uma solução, pois, para elas, o professor disse para fazer dessa maneira. Como não deu certo, não houve uma reflexão, elas procuram outras estratégias e tentaram fazer no papel para comparar com o software. 100 Daniele: Pra mim é assim x²-9 =81 [Fala da aluna, lendo o que escreveu no caderno] As atividades foram interrompidas nessa equação, neste último momento, embora as alunas tivessem mais tempo para tentar resolver as equações, pois neste dia, outro professor da Unidade Escolar havia reservado a sala que estávamos utilizando e por desencontro entre professor e direção, não havíamos sido avisados. Assim, foi agendado outro dia para as alunas realizarem novamente esse bloco de atividades. A Figura 44 mostra a última tentativa das alunas. Figura 44 - última passagem realizada pelas alunas na equação (x-3)²=81. 4.2.2 Resolvendo novamente as atividades de Bloco 3 A data agendada para as alunas refazerem os exercícios ocorreu 10 dias após o último episódio relatado e, durante esse período, essas alunas não tiverem contato com o software ou outras orientações do professor sobre como resolver as equações. Para realizar esse bloco de exercícios, ficou decidido que elas deveriam fazer novamente todos os exercícios. • As alunas começaram com a equação 2y²-242=0 O professor iniciou a atividade e Daniele, ao ver a equação, já perguntou ao professor se tinha que passar para o outro lado e dividir. O professor afirma com a cabeça e sai da sala. 101 Nesse ponto, as alunas, principalmente Daniele, sabem desenvolver até a passagem y²=242/2. A resolução basicamente seguiu os passos das resoluções anteriores. A maior parte das estratégias utilizadas foi pelo método de tentativa e erro. No diálogo abaixo, mostramos alguns trechos dessas passagens: Daniele: Débora passa o 242 para o outro lado Daniele: 2y² igual a 0 Débora: Não Daniele eu fiz assim lá na sala, tava menos fica mais 242 -0 [o Aplusix aceitou a passagem] as alunas observam que o Aplusix aceitou a passagem e criam uma nova. Débora: vai ficar 242 Daniele: Tem que tirar a raiz dele. [As alunas criaram uma nova passagem e tentaram a operação 2y² = 242 , tentam fazer a raiz quadrada do número 242 e o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência nessa passagem] A Figura 45 mostra como se encontrava a equação até esse momento Figura 45 – equação 2y²-242=0 Daniele: ta dando errado por causa do 2 [referindo-se ao número 2 que multiplica y². O erro acusado pelo Aplusix nesta passagem levou as alunas a pensarem em uma nova maneira para tentar resolver e fez com que elas percebessem o coeficiente 2] Débora: Daniele, mas o 2 está junto com o y. Lívia: tem que tirar o 2 dali. Débora: tirei e aí? Daniele: tem que tirar o 2 daí , passa pra lá. 102 Débora: o que eu coloco + 2 ou -2 ? Daniele: +2 A aluna Daniele argumenta que, se não tivesse esse 2, ela saberia como resolver. Então Débora perguntou para as outras alunas qual o valor da raiz quadrada de 242. Nesse ponto as alunas começam a discutir como usar a raiz quadrada. Daniele: diz que se não tivesse esse 2 aqui era só fazer a y² igual a raiz quadrada de 242. Lívia: mais esse 2 vai parar onde? Lívia e se fizesse y²=242/2. As alunas decidem fazer a raiz quadrada de 242 dividido por 2, ou seja, segundo seu diálogo o valor que elas encontrassem ao resolverem a raiz de 242 dividiriam por 2. Então a aluna Débora quando digitou a passagem sugerida pela Lívia, acrescentou a raiz quadrada e novamente o feedback do software indicou que não havia equivalência entre as passagens, como mostra a Figura 46 Figura 46 – raiz quadrada na equação 2y²-242=0 A aluna Daniele sugere para retirar a raiz quadrada, o feedback do Aplusix validou a passagem como correta, a aluna Daniele efetuou o cálculo mentalmente encontrando o valor da divisão de 242/2 como 121. Nesse ponto, as alunas discutiram em acrescentar o “or”, mas não sabiam 103 como. Elas argumentaram que, “quando tem raiz quadrada tem uma resposta positiva e uma negativa”, e, apesar de saberem dessa possibilidade de encontrar a raiz quadrada, decidem deixar a equação como apresentado na Figura 47, e partiram para resolução da próxima equação. Figura 47 – equação 2y²-242=0 desenvolvida • A próxima equação foi 27=3x² Ao ver a equação, elas dizem ser fácil e começam a resolver. Primeiramente as alunas inverteram os membros da equação deixando 3x²=27. Em seguida dividiram 27 por 3 e encontraram como resultado x²=9. Nesse ponto, tentaram colocar a raiz quadrada no número 9, o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência entre as passagens, decidiram apagar a última passagem e deixar a equação x²=9. Nos seus diálogos, observamos que Lívia questionou a decisão das amigas ”vai deixar assim? E o quadrado?”. Com esse comentário Daniele sugere colocar “x=9 or -9”, argumentando que nesta equação são duas respostas, porém Débora não aceita e as outras duas alunas tentaram convencê-la dizendo que “o professor disse que sempre que for raiz quadrada vai dar um resultado positivo e um 104 negativo”. A Figura 48 mostra a tentativa sugerida pela aluna. Figura 48 – equação 27=3x² Como o feedback do Aplusix apresentou erro, resolveram parar na última passagem correta da resolução, como mostra a Figura 49 e depois perguntar para o professor. Figura 49 – equação 27=3x² desenvolvida • A próxima equação foi x²=49 Com o objetivo de verificar diferenças ou similaridades entre resolver equações no formato normal e no formato de árvore, acrescentamos a equação x²=49 na forma usual, conhecida pelas alunas. As alunas, ao verem a equação, fizeram a “avaliação do valor da incógnita”, perceberam que a incógnita era um número que deveria resultar em 49. 105 Débora: duas vezes 49 vai ficar 7 vezes 7, fica 7² , Mais não vai dar certo, a deu certo [o feedback do Aplusix validou como correta a equivalência entre as passagens] Daniele: fica x igual raiz quadrada de 49 [O feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência entre as passagens] Lívia: tem que tirar o 2 do x . A aluna Débora retira o expoente 2 do x, mas o Aplusix continuou acusando erro de equivalência entre essas passagens. Daniele falou para as outras alunas que nessa conta tem que dar um resultado positivo e um negativo. Elas comentam sobre uma atividade parecida que fizeram em sala de aula, em que, ao responder o exercício, a professora coloca +/- 5 como respostas. Observamos que a aluna comparou as atividades feitas na sala de aula e no Aplusix durante seu diálogo. Débora: então, mas a gente fez no caderno, mas aqui ta dando errado. Daniele: mas o professor disse que aí a gente tem que colocar um x e outro x. [referindo-se a escrever as respostas da seguinte maneira; x= 7 or x= - 7] Débora novamente apaga as passagens enquanto Daniele falava o que deveria ser digitado na próxima passagem, acrescentando duas respostas, x=7 or x=-7, como mostra a Figura 50. Figura 50 – equação x²=49 Nesta equação destacamos dois momentos; o primeiro quando o feedback do Aplusix não apresentou erro de equivalência na passagem de x²=7². Esperávamos que o software acusasse erro entre as equivalências, porque dessa maneira apresentada os alunos podem acreditar que somente o número 7 é a resposta da 106 equação. Em testes posteriores com esse tipo equação, o Aplusix aceitou a variação como mostra a Figura 51. Figura 51 – avaliação de valores para equação x²=49 Porém não aceitou as seguintes variações como mostra a Figura abaixo Figura 52 – avaliação de valores para equação x²=49 b Nesse caso, em que o Aplusix validou como correto esse tipo de equivalência, nós questionamos: O software também deveria aceitar a raiz quadrada de 49 como equivalente a x²=49? Como mostra a Figura 53 ou Figura 53 – avaliação de valores para equação x²=49 c O segundo momento refere-se à passagem desenvolvida pelas alunas no seguinte passo: sem utilizar a raiz quadrada, conseguiram encontrar os valores das raízes, x=7 or x=-7, talvez por lembrarem da equação com representação em árvore ou por concluírem que o número 7² é igual a 49, e o -7 apareceu na resposta apenas para validar como equivalente à resposta no software, porém sem muito significado 107 para as alunas. • A próxima equação foi (x-4)²-100=44 As alunas, ao verem a equação, argumentam que é igual à que a professora explicou. Posteriormente, observando o vídeo, questionamos as alunas sobre esse comentário e elas falaram que uma professora, ao substituir o professor, passou alguns exercícios que deveriam ser resolvidos por meio de uma fórmula, que entendemos ser a fórmula de Bhaskara, que as alunas chamavam de “fazer o Delta”. Porém, ao tentarem resolver a equação, elas não utilizaram a fórmula de Bhaskara. A resolução do exercício foi desenvolvida da seguinte maneira pelas alunas: Débora: esse aqui é igual a aquela lá que a professora explicou pra nós Daniele: essa tem que aplicar a distributiva, x vezes x , coloca x² Daniele: coloca parênteses (x-4)+ (x-4) Como mostra a Figura 54 Figura 54 – equação (x-4)²-100=44 Como o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência entre as passagens, as alunas ficaram em dúvida sobre como desenvolver a equação. A aluna Lívia sugeriu fazer x² -16 -100=44, mas novamente o feedback do software apresentou erro de equivalência. As alunas discutiram se a professora tinha passado um exercício semelhante a esse e decidiram pegar o caderno para ver. A aluna Débora, ao chegar com o caderno, percebeu que as equações do seu caderno são somente do primeiro grau e que, apesar da professora ter explicado o uso da fórmula de Bhaskara, ela não tinha essas anotações. 108 Daniele: a professora disse para gente aplicar a distributiva. Lívia : se fazer x-4 Daniele : no papel a gente ia fazer assim (x-4)+(x-4) assim vem x vezes x, x² depois 4 vezes 4, 16 fica desse jeito e tinha 4+4 , 8 ficava desse jeito. Como as alunas sentiram dificuldades em continuar com a resolução, decidiram chamar o professor. Quando o professor chega, tentaram explicar o que haviam feito e o professor, entendendo as dificuldades e as dúvidas das alunas em fazer a distributiva, explica como elas poderiam iniciar. Professor: crie uma nova passagem, os valores que estão nos parênteses vocês têm que repetir. Daniele: a gente já fez isso, mas não deu certo Professor: faz então para que eu possa ver Ao refazerem, as alunas colocaram (x-4)+(x-4), o professor pediu para elas trocarem o sinal de adição pelo da multiplicação. Feito isso, ao terminarem de digitar a equação, o Aplusix aceitou como correta a equivalência entre as passagens. O professor explicou, com gestos na tela do computador, que se deve multiplicar todos os termos que estão dentro do primeiro parênteses pelos termos que estão dentro do segundo parênteses. Elas falaram que, a partir desse ponto, já sabiam como continuar a resolução e o professor saiu da sala, deixando as alunas continuarem a resolução do exercício. Ao tentarem fazer a distributiva, as alunas erraram o sinal durante a multiplicação. O feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência entre as passagens. As alunas ficaram nervosas com o erro de equivalência, afirmando umas para as outras que a distributiva estava certa. A Figura 55 mostra a maneira como as alunas aplicaram a distributiva. 109 Figura 55 – distributiva na equação (x-4)²-100=44 As alunas, vendo o erro de equivalência, tentaram modificar a passagem para ver se o software acusava como correta a passagem, Daniele: Ta certo a distributiva, x vezes x , x² , x vezes 4 , 4x. Débora: 4x de novo tira um 4x Daniele: vai dar errado, então tira um 4x [aceitando a sugestão da Débora] Daniele: 4x² [O feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência, como mostra a Figura 56] Figura 56 – erro de distributiva na equação (x-4)²-100=44 A aluna Daniele tentou outra estratégia colocando x²+16. Nesse momento, o professor retornou à sala e perguntou se elas conseguiram e elas falaram que não estava dando certo. 110 Daniele: a gente ta fazendo a distributiva e ainda tá dando errado, apesar de a gente fazer certo, dá errado. O professor pede para elas refazerem a passagem. Ao ver as alunas digitarem “+4x”, o professor pergunta o que elas estavam multiplicando para dar +4x. Elas respondem x vezes 4, o professor pergunta se o x é negativo ou positivo. Ao fazer essa pergunta, as alunas observaram que a incógnita x era positivo e o número 4 era negativo e assim elas conseguem desenvolver a equação como mostra a Figura 57. Figura 57 – distributiva na equação (x-4)²-100=44 sem resposta Durante essas passagens, as alunas não apresentaram maiores dificuldades, porém, ao chegarem a x²-8x=128, não sabiam como resolver, então pararam e decidiram resolver a próxima equação. Quando o professor retornou à sala, elas perguntaram o que deveria ser feito para resolver x²+8x=128. O professor, com foco na investigação, sem a intenção de 111 utilizar a fórmula Bhaskara que causaria uma intervenção que poderia influenciar os próximos exercícios, preferiu dizer para elas que talvez para resolver essa equação fosse mais fácil completar quadrados. Aparentemente, as alunas não entenderam o que o professor quis dizer, discutiram entre si o que fazer com o 8x e decidiram continuar a resolução. Daniele; agora tem que ver o 8x Lívia: põem o 8x do outro lado com menos [referindo-se passar o valor de 8x para o segundo membro] Débora: vai ficar 128 sobre 8 [O feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência entre as passagens] Figura 58 – tentativa de resolução da equação (x-4)²-100=44 Lívia: tenta colocar x³ Daniele: a gente vai tão bem, ai chega uma parte e erra tudo, [ela pensa um pouco e pergunta] e a raiz quadrada? Cadê a raiz quadrada? Débora: a raiz quadrada de 8 é quanto. Daniele: quando o x² passa para raiz quadrada some o quadrado, não some? Elas tentaram encontrar o valor da raiz quadrada de 128, mas novamente o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência entre as passagens. Suas justificativas para não conseguirem chegar ao resultado era devido ao número 8, como mostra a Figura 59. 112 Figura 59 – tentativa de resolução da equação (x-4)²-100=44 b Como a última passagem não resultou em equivalência, as alunas decidiram pedir ajuda ao professor. Ao ver a equação, o professor percebeu que não havia como ajudá-las sem intervir muito nas próximas equações, assim, sugeriu que deixassem essa equação do jeito que estava e tentassem resolver o próximo exercício da sequência. • A próxima equação foi (x-3)²=81 O início desta equação foi desenvolvido antes delas conseguirem fazer a distributiva na equação anterior (Figura 57), assim as primeiras tentativas das alunas foram de resolver como x² -3² =81 e posteriormente x ² − 9 = 81 . Durante essas passagens, o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência; então, pararam e tentaram resolver outra equação. Ao retornarem a esta equação, já tinham conseguido desenvolver a distributiva na equação anterior e aplicaram o mesmo processo nesta, como mostra a Figura 60. Figura 60 – distributiva na equação (x-3)²=81 113 Ao perceberem que essa equação iria ficar no mesmo impasse que a anterior, decidiram pedir a ajuda do professor. Débora: a gente não vai conseguir tirar esse 6x daqui, igual à outra com 8x. Diante disso, o professor, observando que as alunas não conseguiriam encontrar uma estratégia para continuar a resolver a equação, sugeriu que elas apagassem todas as passagens e começassem pelos seguintes passos: Professor: coloca x-3 igual a raiz de 81 [Até esse momento o Aplusix acusava como erro de equivalência] Professor: agora coloca “ou” x-3 = − 81 . O professor perguntou para as alunas se entenderam o que foi feito. Elas confirmaram que sim e falaram que são duas contas, uma com 9 positivo e outra com 9 negativo. O professor falou para elas não esquecerem do valor -3 que estava no outro membro. O professor esperou que as alunas dessem continuidade a equação e saiu da sala. As alunas continuaram a resolver até chegar no resultado como mostra a Figura 61. Figura 61 – equação (x-3)²=81 resolvida 114 Ao conseguirem resolver essa equação, as alunas comentaram que são duas contas, uma com positivo e outra com negativo depois do “ou” e quando o professor retornou, perguntaram se a outra equação [equação anterior (x-4)²-100=44] poderia ser resolvida como a esta, o que o professor confirma com a cabeça que sim. Elas perguntaram se era necessário refazer novamente a equação (x-4)²-100=44 e o professor sugeriu que elas continuassem com as próximas. • A próxima equação foi (x-2)²=0 Nesta equação, como na anterior, as alunas já tinham tentado resolver sem uma estratégia definida. Em síntese, o que foi feito se relacionou com as dificuldades apresentadas na equação (x-3)²=81, em aplicar a distributiva da multiplicação. Nesta equação, as alunas desenvolveram até a representação x² -4=0, e a principal dificuldade, descritas nas falas das alunas, estava relacionada ao sinal dos termos. Após conseguirem resolver a equação anterior com a ajuda do professor, elas seguiram o mesmo raciocínio para esta equação. Daniele: coloca a raiz quadrada de 0, essa é igual a outra, só que em vez de 81 é 0. A aluna Débora, ao digitar a nova passagem, colocou somente uma raiz quadrada igual a 0. O feedback do Aplusix aceitou como correta a passagem, assim Débora criou outra passagem. Daniele, ao ver isso, disse que estava errado e pediu para Débora voltar à anterior para ver onde estava o erro. Débora argumentou que não havia erro, mostrando a seta de equivalência do Aplusix. Nesse momento, observamos que a aluna Daniele não se referia à raiz quadrada do número zero, mas sim a de desenvolver a equação como a anterior, colocando o sinal “or” e desenvolver duas equações. Ao ver que o feedback validou a passagem, Daniele aceitou e deu continuidade à resolução, falando que agora era necessário tirar dos parênteses e resolver, como mostra a Figura 62. 115 Figura 62. – equação (x-2)²=0 resolvida As alunas, ao conseguirem resolver essa equação, sozinhas e sem maiores dificuldades, ficaram mais animadas e decidiram continuar antes de voltar na equação (x-4)²-100=44. Observamos que as alunas, motivadas com a resolução da equação anterior [(x-3)²=81], seguiram o mesmo procedimento. E talvez, se a aluna Débora digitasse segundo as instruções da aluna Daniele, as equações seriam desenvolvidas semelhantemente, com o símbolo “or” e duas equações para encontrar duas raízes. Destacamos a passagem na qual as alunas colocam a raiz quadrada do zero, com o objetivo de eliminar o expoente 2 do primeiro membro. Em nenhum momento elas observaram que o valor da raiz quadrada de 0 resultaria em 0. Acreditamos que ao resolverem dessa maneira, as alunas estão seguindo procedimentos “mecânicos”, efetuando exatamente o que foi feito na equação anterior, sem refletir sobre as passagens, somente observando o feedback do software. Tal pensamento pode ser traduzido como um já-encontrado que está sendo reutilizado, seguindo os passos, relacionados com as corporificações procedimentais. • A próxima equação foi x(x+3) =18 As alunas já tinham tentado resolver esta equação antes que o professor 116 interagisse com elas na equação (x-3)²=81 e, em síntese, conseguiram desenvolver o produto, obtendo x²+3x=18. A partir disso, não tinham uma estratégia para se chegar ao resultado, passando a utilizar “tentativa e erro”, em busca de possíveis equivalências entre as passagens, como mostra a Figura 63. Figura 63. – equação x(x+3) =18 Primeiramente, elas tentaram colocar x²=18/3 e como o feedback do Aplusix apresentou erro, elas tentaram novamente alterando o expoente 2 para 3, justificando que haviam 3x por isso o expoente 3, chegando à Figura 63. Daniele: coloca x³ porque tem 3 x ai. Como não deu certo, fizeram várias tentativas. 117 Figura 64. – várias tentativas para equação x(x+3) =18 Durante as tentativas de resolver o exercício, observamos que as alunas tinham como estratégia separar as incógnitas dos números. Daniele: tem que separar os números das letras Ao retornarem a esta equação, após ter conseguido resolver as equações (x3)²=81 e (x-2)²=0, as alunas viram que essa equação não era igual às anteriores, dificultando a reutilização da estratégia. Constatamos que as alunas ficaram desanimadas, procurando sempre uma resolução a partir de x²+3x=18, tentando encontrar a raiz quadrada de 18 ou dividir o número 18 por 3. Quando o professor retornou à sala, já havia decorrido uma hora e 15 minutos do início das atividades, e as alunas já estavam desmotivadas. O professor decidiu parar as atividades e agendar outra data, para que continuassem com as equações restantes. 4.2.3 Finalizando as atividades do Bloco 3 Essa última fase ocorreu 12 dias após a sessão anterior. Nesta sessão, compareceram duas alunas, Débora machucou o pé e ficou de licença médica, sem poder vir à escola. Como durante todos os blocos anteriores as alunas trabalharam em trio, para essas duas alunas foi perguntado se necessitavam de outra aluna para ajudá-las na resolução dos exercícios e elas decidiram que não. Assim, demos 118 continuidade aos exercícios só com essas duas alunas. O professor iniciou o Bloco 3 de exercícios com todas as equações para que elas pudessem resolvidas, inclusive as que já tinham resolvido anteriormente, porém as alunas poderiam optar em refazer as equações ou fazer somente aquelas equações que ainda não haviam feito. • A primeira equação que as alunas decidiram refazer foi (x-3)²=81 As alunas haviam conseguido resolver essa equação com a ajuda do professor na sessão anterior. Porém ao iniciarem a resolução, começaram com a distributiva, até a passagem x² - 3x - 3x = 81 – 9, como mostra a Figura 65. Figura 65 – equação (x+3)² =81 Observamos, nas falas das alunas que, até este ponto, estavam seguras do que deveria ser feito. As dificuldades enfrentadas na sessão anterior, em aplicar a propriedade distributiva da multiplicação, não apareceram nesta equação; mas, apesar de já terem passado por uma situação semelhante na resolução dos exercícios, as alunas não sabiam o que fazer depois de terem feito a distributiva e tentaram lembrar como tinham resolvido anteriormente. 119 Daniele: Lembra que a gente fez desse jeito e não deu certo? Daniele: o professor disse que tinha desse jeito e do outro. Daniele: era essa mesmo, que a gente fez e deu errado [referindo-se a equação] Daniele: apaga tudo Daniele: aqui vai ficar um positivo e um negativo Lívia: Tem que apagar tudo? Elas apagaram tudo e recomeçaram a equação, primeiramente tentando apresentar duas resposta como mostra a Figura 66. Figura 66 – duas respostas equação (x+3)² =81 Como o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência, tentaram trocar os sinais de dentro dos parênteses, na esperança de conseguirem corrigir a equivalência. A próxima tentativa foi eliminar os parênteses, trocar o sinal do número 81 para negativo. Como nenhuma das alternativas apresentou equivalência, decidiram apagar tudo novamente e tentar fazer pela distributiva, como apresentado na Figura 66. Ao chegar à última passagem da Figura 66, subtraíram 3 de 81 e decidiram encontrar a raiz quadrada do número 72, como mostra a Figura 67. 120 Figura 67 – distributiva, duas respostas equação (x+3)² =81 Ao fazerem isso, as alunas pensaram que, na passagem como mostra a Figura 66, esqueceram de elevar ao quadrado. Novamente apagaram tudo e refizeram as passagens e acrescentaram raiz quadrada ao número 81 e alteraram o sinal dentro do parênteses, como mostra a Figura 68. Figura 68 – duas respostas corretas, equação (x+3)² =81 Como o Aplusix aceitou como correta a equivalência entre os termos, continuaram e conseguiram resolver a equação como mostra a Figura 69. 121 Figura 69 – equação (x+3)² =81 resolvida • A próxima equação foi x(x + 3) =0 Para essa equação, as alunas não apresentaram nenhuma estratégia diferente da de tentativa e erro; desenvolveram o primeiro termo da equação para x² + 3x = 0 e, posteriormente, ficaram testando resultados, como mostra a Figura 70. Figura 70 - 3 tentativas de juntar a incógnita x(x + 3) =0 Após tentarem somar as incógnita x² e 3x e o feedback do Aplusix apresentar erro de equivalência, as alunas tentaram outras maneiras de “juntar” as incógnitas para ter somente uma na equação, mas nenhuma das alternativas resultou em equivalência com a passagem anterior, como visto na Figura 70. E como em outras equações anteriores. A aluna Débora utilizou raiz quadrada, tentou aplicar a raiz quadrada, sem “juntar” os valores da incógnita e o feedback do Aplusix apresentou 122 equivalência entre as passagens, pois 0 (zero) ou a raiz quadrada de 0 (zero) não alteram a equação, como mostra a Figura 71. Figura 71 – raiz quadrada de zero na equação x(x + 3) =0 Para as alunas, toda equação quadrática tem duas raízes, uma positiva e outra negativa. Assim, como a passagem anterior apresentou equivalência, utilizaram esse pensamento de duas raízes e fizeram x+3=0 e x-3=0. O feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência; então, as alunas foram testando alternativas, mudando valores até que a seta de equivalência validasse suas respostas e por sorte, conseguiram descobrir os valores x=0 e x=-3. Após encontrarem a equivalência, as alunas apagaram as passagens anteriores e colocaram as raízes da incógnita como mostra a Figura 72. Figura 72 – equação x(x + 3) =0 resolvida Seus comentários foram “não acredito que era isso”, “Deu certo deixa assim”. Aparentemente, conseguiram chegar a um resultado sem entender os princípios 123 matemáticos envolvidos no exercício. Talvez neste momento o Aplusix facilitou a resolução, mas não o entendimento do conteúdo matemático envolvido. Observamos que as alunas continuam enfatizando o sinal de equivalência entre as passagens e poucas vezes refletem sobre os princípios matemáticos envolvidos • A próxima equação foi x²-6x + 9 =0 A aluna Daniele, ao ver essa equação, disse para Lívia que essa era um quadrado perfeito. Ela ficou olhando para a tela do computador fazendo cálculos (murmurando valores) e depois disse para Lívia que a resposta teria que ser 3 e a outra 0. Apesar da aluna ter uma noção de qual seria o resultado, elas tentaram resolver de várias maneiras como mostra a sequência de Figuras abaixo. Figura 73 – equação x²-6x + 9 =0 Durante a resolução da equação, Daniele afirmou várias vezes que a resposta teria que ser 3 e 0, mas não sabia como resolver. Em todas as passagens apresentadas na Figura 73 o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência, porém em uma das tentativas o Aplusix mostrou a seta azul com um X indicando uma possível equivalência correta, como mostra a Figura 74. 124 Figura 74 – raiz quadrada de zero na equação x²-6x + 9 =0 Ao ver essa seta azul com um X, as alunas falaram que seria desse jeito mas estavam esquecendo alguma coisa. Daniele: Ai eu não disse que uma dá 0 [referindo-se a primeira parte da resposta x²-6x = 0 Lívia: a outra não tem que dar 3, então tira a raiz de 9 que da 3 [referindo-se a segunda parte da resposta 9 Ao pensar assim, as alunas acharam que, para conseguir resolver a equação, bastaria descobrir o valor da raiz de 9 e acertar o sinal no número como positivo ou negativo, como mostra a Figura 75. Figura 75 – testando valores na equação x²-6x + 9 =0 125 Como ainda o Aplusix estava acusando erro de equivalência entre as passagens, mas com a seta azul com um X, as alunas pensaram que o erro continuava nesse ponto. Daniele: Por que fica azul [referindo-se à seta de equivalência] Lívia: Daniele você tem que repetir toda a conta. A aluna escreveu novamente a equação após o sinal de “or” como mostra a Figura 76. Figura 76 – testando valores na equação x²-6x + 9 =0 b Porém o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência com a seta vermelha. Isso fez com que as alunas pensassem que não deveriam reescrever toda a equação. Assim decidiram que era só necessário colocar a incógnita, como mostra a Figura 77. Figura 77 – testando valores na equação x²-6x + 9 =0 c 126 Como novamente o feedback do Aplusix apresentou erro com a seta azul com um X, indicando que a digitação estava parcialmente correta, as alunas acreditaram que a resposta estava em descobrir a raiz quadrada de 9. Decidiram colocar primeiro a resposta da raiz quadrada de 9 como 3 e depois colocar a resposta do 0. Ao digitar, as alunas tentaram colocar os valores -3 e 0, mas o feedback do Aplusix apresentou erro na seta de equivalência, então, tentaram -3 e 3 e novamente apresentou erro e decidiram colocar primeiro o valor de x = 3 e o feedback do Aplusix validou como correta a resposta. Como mostra a Figura 78. Figura 78 – equação x²-6x + 9 =0 resolvida Como o feedback do software validou como correta a resposta, as alunas não questionaram e foram para a próxima equação. Nesse momento, o professor chegou e perguntou se estava tudo bem; as alunas o chamaram para ver a resolução da equação x(x+3)=18. O professor, percebendo que essa equação talvez fosse mais fácil de resolver pela fórmula de Bhaskara, pediu para as alunas pularem essa e irem para a próxima equação, 8x²+6x =0. Vendo que as alunas tentaram resolver como mostra a Figura 79, separando valores da incógnita, o professor decidiu intervir porque não sabia quanto tempo elas perderiam para tentar resolver essa equação, e com a preocupação de que ficassem sem alternativas para resolver os exercícios seguintes. 127 Figura 79 –valores separado da incógnita equação 8x²+6x =0 O professor sugere que elas dividam toda a equação por x (colocando em evidência) e diz que após isso, elas terão duas respostas, porque elas podem passar tudo dividindo 0 (explicando fazendo gestos na tela do computador) e depois acrescentar o “or” e repetir o processo. Daniele: tem que dividir isso aqui [referindo-se a segunda resposta da equação, 8x=-6] Daniele: depois é só colocar a resposta. O professor confirma com a cabeça e fica observando o desenvolvimento do exercício. Como mostra a Figura 80. Figura 80 – equação 8x²+6x =0 resolvida 128 Ao tentar finalizar o exercício, o feedback do Aplusix apresentou um erro indicando que o exercício ainda não estava terminado. Como o professor estava presente pediu para as alunas simplificarem a resposta -6/8 e salvarem novamente, assim o feedback do software validou a resposta como correta. Ao concluir a resolução desta equação, as alunas terminaram a sequência de exercícios e decidiram não retomar a equação x(x+3)=18, finalizando, assim, a sequência de atividades propostas. 4.2.4 Resoluções das equações quadráticas Para as equações quadráticas, decidimos seguir o modelo apresentado para as lineares, ou seja, procuramos organizá-las em blocos, de modo que as resoluções fossem semelhantes para as equações, em estratégias, procedimentos ou falas dos alunos ao resolver essas equações. Assim como nas equações lineares, houve diversas discussões e divergências por parte dos alunos, como apresentado anteriormente, porém aparentemente com maiores dificuldades para encontrar as raízes das equações. Em alguns momentos, os alunos chegavam a impasses, sendo necessária a intervenção do professor, que muitas vezes fez uso das falas dos próprios alunos para possibilitar avanços. Muitos desses impasses surgiram por dificuldades associadas à propriedade distributiva dos números inteiros e procedimentos matemáticos associados à resolução de equações quadráticas. Algumas equações foram resolvidas, aparentemente, “por auxílio do software Aplusix”, outras, por tentativas e erro, em que foram adotadas técnicas desconectadas dos princípios matemáticos, provavelmente por esse tipo de equação exigir uma ligação maior com o mundo simbólico. 129 • Para a equação x²=49 em formato de árvore, x²=49 na forma usual e 27= 3x². Observamos na equação quadrática x²=49 que as alunas fizeram uma avaliação do valor da incógnita, porém admitindo somente um valor para as raízes. As alunas tentaram substituir esse valor (7) na equação, contudo o software recusou o valor (como descrito anteriormente, esperávamos uma resposta condicional). Isto dificultou a resolução do exercício, fazendo com que elas pedissem auxílio para o professor. Além dessa dificuldade, destacamos a representação em formato de árvore, que acreditamos ter sido o primeiro contato das alunas com esse tipo de representação, pois essa não é cobrada, assim no ensino fundamental no Brasil, como apresentado na pesquisa de Trgalová (2009). Esperávamos que as alunas identificassem a equação e fizessem uma mudança de registro, caracterizando um pensamento ligado ao mundo formal; porém, durante os diálogos, identificamos um pensamento ligado ao mundo corporificado e não podemos afirmar, como na pesquisa de Gray e Thomas (2001)11, que a representação da equação quadrática apresentou um resultado insatisfatório a respeito das habilidades de resolver equações quadráticas. Para a equação x²=49 na forma usual, conhecida pelas alunas, vemos que elas avaliaram o valor de uma das raízes e, como o feedback do software apresentava erro de equivalência, elas fizeram uma reflexão comparando com atividade parecida que fizeram em sala de aula, em que, ao responder o exercício, a professora colocou +/- 5 como resposta. Acreditamos que, para essas alunas, a resposta +/- 5 não representa os valores +5 e -5 e sim uma resposta com dois sinais em que o valor 5 não estava conectado. Ao utilizarem o software, talvez a condição de duas raízes separadas traga mais significado, “x=7 or x= -7”; porém, ao resolverem a equação, identificamos a seguinte passagem válida como equivalente: x²=49 para x²=7², esperávamos que tal passagem resultasse erro de equivalência como em outras passagens como x²=49 para x = 49 . Também observamos que as 11 Ver capítulo 2: A resolução de equações: O que dissem as pesquisas? 130 alunas não utilizaram a estratégia de raiz quadrada, como utilizada em outras equações, transformando o expoente 2 da incógnita em raiz quadrada do outro membro. As alunas, a partir da resposta apresentada x²=7² concluíram que x=7 or x = −7 . Talvez tal resposta seja resultado de reflexões sobre a equação em formato de árvore. As estratégias utilizadas para a resolução da equação x² = 49, reutilizadas para resolver 27 = 3x² até determinado momento, em que as alunas se depararam com uma reflexão sobre a equação x² = 49, utilizaram as respostas dessa equação como resultado da equação 27 = 3x². Aparentemente envolvendo um já-encontrado relacionado com a estratégia de resolução, em que ao chegar a determinada situação resultaria na resposta x=7 or x = -7 sem reflexões sobre os valores. Acreditamos que isso pode ser um corporificação procedimental que surgiu quando as alunas desenvolveram a primeira equação x²=49 em formato de árvore. • Para a equação 2y² - 242 = 0 Observamos que as alunas reutilizaram o procedimento usado na equação 27=3x², mas até a passagem y²=121 acreditamos que as alunas utilizaram os conhecimentos usados nas equações lineares e, quando precisaram, dos conhecimentos relacionados às quadráticas. • Para a equação (x - 3)² = 81 Nessa equação, as alunas fizeram várias tentativas, a maioria aplicando a propriedade distributiva da multiplicação em desenvolverem suas tentativas, resultavam em relação à x² - 3² = 81 adição; mas, ao e posteriormente x ² − 9 = 81 . Durante essas passagens, o feedback do Aplusix apresentou erro de equivalência e somente com a ajuda do professor conseguiram fazer a distributiva, porém, para resolver a equação, não utilizaram esse procedimento e novamente com a intervenção do professor resolveram a equação encontrando duas raízes x=12 or x = -6. Para elas, foi perguntado se entenderam tais passagens e a resposta obtida foi que “existem duas contas”. Após um período de 12 dias, as alunas 131 refizeram esta equação; inicialmente, seguiram a mesma estratégia anterior, de desenvolver com a propriedade distributiva. Observamos que, até a passagem x ² − 3 x − 3 x + 9 = 81 , elas estavam seguras do que deveria ser feito, mas depois as alunas não sabiam como deveria ser resolvido, então elas fizeram uma reflexão sobre a estratégia e decidiram apagar e refazer como haviam feito anteriormente, com a estratégia de “duas contas” na Figura 81. Figura 81 – duas contas equação x² -3² =81 Como o feedback do software apresentou erro de equivalência, as alunas refletiram sobre a equação e posteriormente conseguiram resolver. Destacamos dessas resoluções feitas que; aparentemente, ao ver uma equação, as alunas a tratam como uma conta e procuram desenvolver para chegar a um resultado. Acreditamos que tal procedimento, que também foi apresentado por Vaiyavutjamai e Clements (2006)12, mostra que procuram desenvolver a equação antes de aplicar qualquer estratégia, o que pode ser um já-encontrado derivado de estratégias relacionadas às operações aritméticas e que estão relacionadas com o mundo corporificado. Se inicialmente as alunas percebessem a relação da equação (x - 3)² = 81 com as raízes (x - 3) = 81 e (x - 3) = - 81 , isso poderia ser um indício de que estão relacionando a equação com o mundo simbólico, pois estariam manipulando símbolos que inicialmente estavam “comprimidos” em uma equação de maneira separada; mas isto não ocorreu. As alunas trataram as equações com estratégias que aprenderam anteriormente, sem observar a estrutura da equação. 12 Ver capítulo 2 132 • Para a equação (x-2)²=0 , x(x + 3) =0 e x²-6x + 9 =0 e 8x²+6x =0 Na equação ( x − 2)² = 0 as alunas, inicialmente, aplicaram a distributiva de maneira incorreta resultando na equação x ² − 4 = 0 . A mesma estratégia ocorreu com a equação x( x + 3) = 0 . Porém, em nenhum dos casos as alunas conseguiram obter sucesso. Após essas tentativas, as alunas utilizaram a mesma estratégia aplicada na equação (x - 3)² = 81 incluindo a passagem com raiz quadrada. Na equação ( x − 2)² = 0 as alunas transformaram o expoente 2 em raiz quadrada do valor 0 e na equação x( x + 3) = 0 , mesmo não tendo o expoente, as alunas fizeram uma passagem com raiz quadrada do valor 0. Acreditamos que as estratégias utilizadas para as equações são corporificações procedimentais, pois em nenhum momento observamos a reflexão das alunas sobre o valor da raiz quadrada de 0 ou se era necessário fazer essa raiz. Em ambos os casos as alunas conseguiram chegar ao resultado, porém de maneira mecânica, aparentemente sem reflexão sobre os conceitos matemáticos envolvidos. Na equação x² - 6x + 9 = 0 , a aluna Daniele conseguiu reconhecer como um quadrado perfeito e identificou os números 0 e 3 como raízes da equação. Contudo, a estratégia inicial para resolver a equação foi “passar” o número 9 para o outro membro e encontrar o valor da raiz quadrada. Em nenhum momento as alunas pensaram em fatorar a equação para chegar a (x - 3) ⋅ (x - 3) = 0 , e encontrar as raízes. Acreditamos que as técnicas usadas estão relacionadas a isolar a incógnita para descobrir o valor, como usado em equações lineares e que a passagem “descobrir a raiz quadrada” esteja associada a procedimentos mecânicos. Como elas a usaram em outras equações e foram bem sucedidas, procuram empregar o mesmo procedimento para todas as equações, como visto nas equações em que procuram descobrir a raiz quadrada do valor 0. Na equação 8x² + 6x = 0 , as alunas tentaram resolver separando valores da incógnita com o objetivo de isolar os termos com a incógnita para descobrir seu valor. As alunas só conseguiram resolver a equação com a intervenção do professor, que pediu para elas colocarem x em evidência. Assim, as alunas conseguiram resolver seguindo o mesmo procedimento utilizado em outras equações com a 133 estratégia de “duas contas”. Nessas duas últimas equações, esperávamos que as alunas utilizassem a fatoração para chegar ao resultado, o que indicaria uma ligação com o mundo simbólico, mas aparentemente a fatoração não é vista como meio de resolução. Os procedimentos utilizados parecem estar mais ligados com a resolução de equações lineares, dando mais atenção em desfazer as operações sobre a incógnita, na maioria das vezes isolando a incógnita, do que em fatorar. O fato de encontrar a raiz quadrada de um número chamou-nos bastante atenção, porque as alunas usaram em várias passagens, inclusive com o valor 0, sem uma reflexão. Elas pareciam usar a raiz quadrada como uma técnica ligada ao expoente 2 da incógnita, porém observamos que muitas vezes elas aplicavam a raiz quadrada, mas não eliminavam o expoente 2 do outro membro. Neste caso, acreditamos que a maioria das vezes as alunas sabiam que a passagem raiz quadrada está relacionado à resolução de equações quadráticas e a utilizavam esperando que o feedback do software Aplusix validasse como correta a passagem. 4.2.5 Estratégia de resolução das equações de avaliação e manipulação. Considerando as equações quadráticas apresentadas, montamos um quadro destacando em quais as alunas fizeram algum tipo de manipulação ou de avaliação. 134 Equação Avaliação Manipulação x² = 49 em forma de Sim, conseguiram encontra uma das árvore raízes x² = 49 Sim, de maneira correta Sim, de maneira incorreta 27 = 3x² Sim com valores errados para incógnita Sim, até chegar na passagem x²=9 Sim, mas não descobriram as 2y² - 242 = 0 raízes da equação Sim, (x - 3)² = 81 mas inicialmente descobriram equação, as raízes somente com não da a intervenção do professor Sim, mas não descobriram as x(x - 3) = 18 raízes da equação Sim, mas não descobriram as (x - 4)² - 144 = 0 raízes da equação Sim, mas não descobriram as (x - 4)² - 100 = 44 raízes da equação Sim, (x - 2)² = 0 conseguiram resolver corretamente x(x + 3) = 0 Sim, testando valores Sim, tentando eliminar o expoente da incógnita x² - 6x + 9 = 0 Sim, a aluna conseguiu avaliar duas raízes, 0 e 3, porém somente 3 é correta Sim, 8x² + 6x = 0 mas inicialmente descobriram equação, as raízes somente com não da a intervenção do professor Quadro 4 – Equações quadráticas de avaliação e manipulação Ao analisarmos as equações quadráticas, vimos que, na maioria, as alunas fizeram algum tipo de manipulação, Contudo, essa manipulação era derivada de técnicas desconectadas dos princípios matemáticos e também por técnicas usadas para resolver equações lineares dificultando, assim, que as alunas, que aparentemente têm maior relação com o mundo corporificado, estabelecessem relação com o mundo simbólico. 135 Aparentemente elas têm maior conhecimento para resolver as equações lineares e utilizam estratégias de “passar para o outro lado” para encontrar o valor da incógnita. Como as equações quadráticas foram aplicadas após as lineares, essas estratégias refletiram na resolução das equações quadráticas, fazendo com que as alunas pensassem em aplicar uma manipulação, sem refletir sobre a equação que esta sendo resolvida. Neste capítulo, buscamos identificar e compreender a resolução das atividades associadas aos Três Mundos da Matemática. Nas análises, usamos as falas dos alunos, os gestos e a resolução dos exercícios, que se manifestaram durante as atividades junto com papel do software Aplusix, que pode ter ajudado ou dificultado, na construção de significados matemáticos sobre o tema equações. Procuramos, também, observar os já-encontrados observados durante a coleta de dados e percebemos que os alunos, a maioria das vezes, não têm estratégias para conseguir resolver as equações. Observamos que, mesmo conseguindo resolver uma equação com sucesso, a estratégia utilizada nem sempre é reutilizada em uma próxima equação e quando conseguem aplicar uma estratégia e se deparam com um erro, tentam desfazer todas as passagens anteriores ou ficam com foco no erro, como em (x-3)² = x²+9 e repetindo-o várias vezes. Acreditamos que esse tipo de erro é um “já-encontrado”, em que os alunos estão desenvolvendo os termos separadamente, por exemplo, (x)² = x.x = x² como (-3)² = (-3).(-3) = 9 e posteriormente juntando os resultados como x²+9 como visto nos exercícios. Observamos que, apesar das alunas encontrarem em algumas equações quadráticas duas raízes, uma positiva e uma negativa, a raiz negativa parece não ter significado para essas alunas, pois em nenhum momento as observamos avaliarem uma equação com uma possível raiz negativa ou relacionarem a resolução ao valor negativo encontrado. Talvez nas equações quadráticas as respostas negativas só foram apresentadas por exigência do software, como condição para validar como correta a resolução. 136 Acreditamos que o uso dessas estratégias desconectadas dos princípios algébricos parecem estar ligados à corporificação procedimental. Nas Considerações Finais, retomamos a questão norteadora da nossa pesquisa, com o objetivo de respondê-la com base nos resultados obtidos nas análises e nas características da fundamentação utilizada. 137 CONSIDERAÇÕES FINAIS 5.1 INTRODUÇÃO O objetivo desta pesquisa foi investigar as dificuldades envolvendo a passagem de resolução de equações quadráticas de avaliação para as equações quadráticas de manipulação; especificamente, qual o papel do software Aplusix nessa transição. Nosso olhar voltou-se para a análise de como alunos de 9º ano do ensino fundamental desenvolvem equações quadráticas, antes de aprenderem a utilizar a fórmula de Bhaskara. Para isso, utilizamos o software Aplusix como ambiente para que esses alunos desenvolvessem as atividades propostas. Para nos guiar em nossas análises, buscamos como fundamentação o quadro teórico dos Três Mundos da Matemática, proposto por Tall (2004; 2008) que conjectura a existência de três diferentes mundos da Matemática, e adotamos as diferentes visões da Álgebra propostas por Tall e Thomas (2001), e a classificação de equações em equações de avaliação, equações de manipulação e os jáencontrados discutidos por Lima (2007). Junto com esse quadro teórico, que serviu para organizar e entender os resultados de pesquisas existentes, também destacamos pesquisas que apresentam as dificuldades relacionadas às equações quadráticas e também às equações lineares que, para nós, têm relação direta com muitas das dificuldades encontradas nas quadráticas. Relatamos, também, pesquisas que utilizaram o software Aplusix como ambiente para desenvolvimento de atividades e pesquisa. A metodologia escolhida para a aplicação das atividades e a coleta de dados foi o Design Experiment (COBB et al, 2003), que tem seus propósitos voltados à construção e ao desenvolvimento de experimentos que formem uma “engenharia”, pois permitem promover a aprendizagem de um determinado conteúdo e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de interpretações teóricas sobre como se dá a aprendizagem deste domínio, o que envolve diversas características e múltiplos 138 elementos de diferentes tipos e níveis: sujeitos, pesquisadores, atividades e o ambiente em que a pesquisa foi realizada. O experimento foi desenvolvido com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental II (com idade entre 13 e 15 anos) de uma escola pública, em particular alunos com conhecimento sobre resolução de equações lineares. Para a seleção dos sujeitos da pesquisa, esses alunos foram convidados, voluntariamente, a responder um questionário com equações lineares (Anexo A, adaptado de KOCH, 2011) dos quais selecionamos um trio de alunos que foram convidados a resolver equações lineares e quadráticas, usando os recursos do software Aplusix. 5.2 VOLTANDO À QUESTÃO DE PESQUISA Nossa proposta de trabalho foi aplicar atividades envolvendo equações lineares e quadráticas para serem desenvolvidas com a ajuda do software Aplusix. Com isso, procuramos observar as estratégias utilizadas e as dificuldades encontradas, tanto na resolução dessas atividades, quanto no uso do software, assim como os benefícios que o software pudesse proporcionar para o desenvolvimento dessas atividades. A partir disso, por meio das narrativas dos alunos, obtidas pelas gravações realizadas, e dos protocolos obtidos com o desenvolvimento das atividades no software, conseguimos subsídios para responder nossa questão de pesquisa: “Qual o papel do Software Aplusix na transição de equações de avaliação para equações de manipulação?” A partir da interação das alunas durante a realização das atividades, pudemos perceber que elas fizeram algum tipo de manipulação simbólica em várias equações, 139 inclusive nas equações quadráticas consideradas de avaliação. Pudemos observar que, aparentemente, com o objetivo de resolvê-las, as alunas acabaram manipulando os valores por meio de técnicas corporificadas. Acreditamos que o software Aplusix teve um papel de influenciar esse tipo de manipulação e, muitas vezes, não permitiu que as alunas avaliassem os valores das raízes, principalmente nas situações em que descobriram somente uma das raízes, pois o software não a validou como uma resposta parcial e sim como incorreta, fazendo com que as alunas apagassem sua resposta, acreditando que ela estava errada. Além disso, em muitos momentos, identificamos passagens em que o software pouco contribuiu, permitindo que as alunas fizessem passagens como um “toque de mágica”, sem relação com princípios matemáticos. Às vezes, essa mágica surgiu por parte das alunas, outras porque o software mascarou algumas passagens. Acreditamos, também que, para esse tipo de análise, envolvendo a passagem de equações de avaliação para equações de manipulação, o feedback do software pouco ajudou a identificar possíveis erros relacionados à manipulação. Em relação à utilização do software Aplusix, consideramos que nos ajudou a realizar essa pesquisa e que sua interface (mesmo utilizando a versão em inglês) não apresentou dificuldades para nossos alunos, pois a maioria dos feedbacks fornecidos pelo software é apresentada por meio de símbolos ao invés de mensagens de texto. Fizemos uso da ferramenta Editor, que nos permitiu inserir as atividades e reorganizá-las durante o desenvolvimento da pesquisa. A ferramenta videocassete possibilitou-nos ver o desenvolvimento das atividades feitas pelos alunos e, em muitos casos, “entender” o raciocínio dos alunos. Destacamos que essas duas ferramentas (Editor e Videocassete) foram essenciais para o desenvolvimento de nossa pesquisa, e acreditamos que são ótimos acessórios tanto para o professor como para o pesquisador, pois a possibilidade de rever as atividades desenvolvidas pelos alunos permite analisar avanços ou impasses. Em relação ao desenvolvimento cognitivo das alunas, o software Aplusix pouco ajudou. Na maior parte das atividades, o software reforçou o pensamento 140 corporificado, como apresentado no Capítulo 4, em que as alunas, por sorte, conseguiram chegar a respostas corretas. Além de procedimentos em que as alunas utilizaram falas como “passar para outro lado e trocar o sinal” e executaram dessa maneira no software. Acreditamos que, neste caso, o Aplusix não apresentou nenhuma informação ou questionamento para validar o pensamento formal do aluno, que deveria entender que os termos são acrescentados em ambos os membros da equação, se queremos executar uma operação inversa. Deixamos como sugestão, para que o software seja utilizado no o ensino de equações que, em seu banco de dados, haja uma organização por série de escolaridade e, ao serem selecionadas as primeiras séries do ensino fundamental (nas quais são fundamentados os primeiros conceitos algébricos), para se resolver equações, sejam obrigatórias executar a operação em ambos os membros da equação. Por exemplo, na equação 3x+4=16 o aluno deveria, inicialmente, subtrair 4 em ambos os membros 3x+4-4=16-4, e ao resolver essa passagem, o aluno deveria dividir ambos os membros pelo número 3, 3x/3 = 12/3 obtendo o resultado de x =4. Outra sugestão seria que o conteúdo de equações selecionado fosse formal, por meio de ferramentas que permitissem ao professor escolher que tipo de resolução os alunos podem seguir, além de poder acrescentar uma opção que seja obrigatório o aluno verificar a solução correta da equação, antes de concluir o exercício. Nesta versão do Aplusix, sentimos falta de uma ferramenta que pudesse ser usada pelos alunos como ajuda sobre o conteúdo, uma ferramenta de pesquisa, como sugerida por Burigato (2007) e Rodrigues (2008), talvez ajudasse os alunos em momentos de dúvidas e impasses, na resolução de equações. Sentimos também falta de uma ferramenta que chamaremos de “rascunho” porque, durante nossa pesquisa, observamos que as alunas recorriam ao uso de papel&lápis para expressar seu raciocínio uma para a outra, em momento de discussão. Se o software tivesse essa ferramenta “rascunho”, que seria um espaço acionado durante a resolução das atividades, poderia ser útil para as alunas e para o professor/pesquisador, pois seria mais um registro gravado e anexado à atividade que está sendo resolvida. 141 5.3 CONSIDERAÇÕES PARA NOVOS ESTUDOS Durante o desenvolvimento deste trabalho, deparamos-nos com outras perguntas que exigiriam mais tempo e uma continuidade para que pudessem ser respondidas. Assim, deixamos como sugestão de pesquisa situações que envolvem o ensino e a aprendizagem de equações quadráticas por meio de um ambiente informatizado. Seria interessante investigar se esses resultados se repetiriam com alunos que já aprenderam todas as estratégias de resolução de equações quadráticas, incluindo a fórmula de Bhaskara; e se esses resultados se repetiriam com alunos que resolvessem somente equações quadráticas tanto no papel&lápis quanto no software; e dentro do quadro teórico dos Três Mundos da Matemática, se os alunos do ensino médio desenvolvem equações com estratégias similares aos alunos do ensino fundamental. Também no desenvolvimento dessa pesquisa deparamos-nos com a situação em que a aluna conseguiu reconhecer a equação como um quadrado perfeito ( x² - 6x + 9 = 0 ) e a estratégia inicial para se resolver a equação foi “passar” o número 9 para o outro membro e encontrar o valor da raiz quadrada. Em nenhum momento a aluna pensou em fatorar a equação para chegar a (x - 3) ⋅ (x - 3) = 0 , e para encontrar as raízes. Assim acreditamos ser interessante uma pesquisa relacionada à resolução de equações quadráticas a partir da fatoração. Outra sugestão que deixamos é a aplicação das atividades em modo “teste” (sem o feedback do software) podendo ser parte de uma nova sessão de pesquisa, com o objetivo de comparar os resultados com dessa pesquisa. Finalizando esse trabalho, esperamos que essa pesquisa contribua para o desenvolvimento do software Aplusix e incentive outros trabalhos relacionados às equações quadráticas de avaliação e de manipulação. 142 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BURIGATO, S. M. M. da S. Estudo de dificuldades na aprendizagem na fatoração nos ambientes: Papel e lápis e no software Aplusix. Dissertação de Mestrado. UFMS/ MS, 2007. COBB, P.; CONFREY, J.; DISESSA, A; LEHRER, R.; SCHAUBLE, L. Design Experiments in education research. 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(x-7) = 0 s) ( k+ 32) . (k-7) =9 t) 3x + 2 = 8 u) 3x + 8 = 7x 147 Anexo C - Carta de Autorização da Escola CARTA DE AUTORIZAÇÃO DA ESCOLA Prezado Senhor Diretor da E. E. Jardim das Rosas. Queremos convidar os alunos de duas 8as séries a participarem de um estudo sobre a aprendizagem de Matemática. Tal estudo faz parte de nossa Dissertação de Mestrado, que está ligada à linha de pesquisa Tecnologias Digitais e Educação Matemática, da Universidade Bandeirante de São Paulo–UNIBAN-SP. Nosso objetivo é investigar o papel do Software Aplusix na transição de equações de avaliação para equações de manipulação, concentrando-nos, em particular, nas equações quadráticas. O estudo ocorrerá durante o 2º semestre letivo de 2010. Faremos entrevistas, fora do horário de aula, com alunos selecionados, que serão realizadas com duplas de alunos, com algumas perguntas objetivas. Estas entrevistas serão gravadas, acompanhadas por um observador neutro e, eventualmente, filmadas, para esclarecimento posterior de alguma resposta apresentada. Consideramos a colaboração desses alunos muito importante, para que possamos estudar e avaliar abordagens diferentes, que permitam aprimorar o ensino e a aprendizagem de equações quadráticas. As entrevistas poderão ser áudiogravadas e filmadas, mas as gravações e as imagens somente serão utilizadas por nós como forma de análise dos resultados obtidos. Caso façamos qualquer apresentação pública de nosso trabalho, em nenhum momento será possível identificar a escola ou o participante. Os alunos não são obrigados a participar e podem desistir a qualquer momento ao longo do estudo. Os menores de idade deverão trazer o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelo pai ou responsável. Não deve haver preocupação de sua parte com relação a possíveis dificuldades com os tópicos pesquisados. O objetivo da pesquisa é o de discuti-los e observar como o aluno os associa os conhecimentos já conhecidos. Os resultados obtidos não afetarão notas ou conceitos nem da escola e nem do participante. A participação deve, inclusive, caracterizar-se como mais uma forma de aprendizagem. Como pesquisador responsável por este estudo, prometemos guardar e manter em segredo todos os dados pessoais e acrescentamos que as informações 148 obtidas só serão publicadas de maneira global, seja em eventos científicos nacionais e internacionais, seja em revistas científicas da área, sem que seja possível qualquer reconhecimento tanto da escola como do aluno participante. Acredito ser viável e interessante que, ao final da pesquisa, eu retorne à escola para divulgar os resultados. Se estiver claro para o senhor, pedimos que assine conosco este documento, autorizando a pesquisa nessa Escola. Caso tenha alguma dúvida, ficamos à disposição: Ricardo Pedroso dos Santos, telefone (11)4489-0578, e-mail [email protected] aluno do Mestrado Acadêmico em Educação Matemática da UNIBAN-SP, orientando da Profa Dra Rosana Nogueira de Lima, e-mail [email protected] e Profª Dra. Lulu Healy, e-mail [email protected] __________________________ Ricardo Pedroso dos Santos ___________________ Diretor da Escola 149 Anexo D - Termo Livre e Esclarecido TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título do Projeto: O papel do Software Aplusix na transição de equações de avaliação para equações de manipulação: o caso das equações quadráticas Pesquisador: Ricardo Pedroso dos Santos sob a orientação da Profª Dra. Rosana Nogueira de Lima e Profª Dra. Lulu Healy. Instituição a que pertence os Orientadores: Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) Telefones para contato: (11) 2972-9008 - (11) 2972-9025 As informações a seguir estão sendo fornecidas para sua participação neste estudo, o qual tem como objetivo analisar a passagem de equações lineares para equações quadráticas e aprendizagem desse tipo de equações com a possibilidade de uso de um ambiente computacional (software Aplusix) pode influenciar no ensino e na aprendizagem do conceito de equações quadráticas, bem como o impacto delas na motivação e na atitude desses alunos perante a Matemática, perante a utilização desse ambiente. Os dados do projeto serão obtidos por meio de atividades desenvolvidas no software, as quais envolvem atividades com equações. O material coletado durante o projeto, as atividades realizadas, as gravações de áudio e vídeo, as transcrições e os registros escritos, serão de uso exclusivo do grupo de pesquisa, e servirão como base para procurar entender melhor a relação entre os processos de aprendizagem e o dinamismo proporcionado pelo software. Os participantes terão seus nomes trocados por pseudônimos, preservando a identidade dos sujeitos. Menção às instituições onde as entrevistas serão realizadas será feita somente mediante a autorização das mesmas. O cronograma das atividades será organizado de modo que não prejudique outras atividades escolares, sendo realizadas de acordo com o cronograma de cada turma. Assim, esperamos que sua participação resulte em avanços de conhecimentos, sendo positivo não 150 apenas para os participantes como, também, para a comunidade que eles pertencem. Os resultados dessa pesquisa poderão ser utilizados pelos pesquisadores em publicações em periódicos, livros, eventos científicos, cursos e outras divulgações acadêmico-científicas. A veiculação de imagem dos sujeitos em divulgações científicas só será realizada com consentimento dos envolvidos. Em qualquer etapa do estudo, o sujeito participante da pesquisa terá acesso aos responsáveis pela pesquisa. Para eventuais dúvidas ou esclarecimentos sobre os procedimentos ou a ética da pesquisa entre em contato com a pesquisadora responsável na UNIBAN – Campus de Marte, sito à Av. Braz Leme, 3.029 - São Paulo - SP, telefones (11) 2972-9008 - (11) 2972-9025 A qualquer participante é garantida a liberdade da retirada de seu consentimento para participação da pesquisa, quando lhe convier. Não há despesas pessoais para o participante em qualquer fase do estudo, assim como não há compensação financeira relacionada à sua participação. 151 Eu,___________________________________,RG nº _______________________, responsável legal por ____________________________________, RG nº _____________________ declaro estar suficientemente informado a respeito das informações que li acima, ou que foram lidas para mim, a respeito do projeto O papel do Software Aplusix na transição de equações de avaliação para equações de manipulação: o caso das equações quadráticas. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos, as garantias de confidencialidade e autorizo a veiculação dos resultados para os usos mencionados. Está claro também que minha participação é isenta de qualquer tipo de despesas. Assim sendo, concordo em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo para mim e sem prejuízo para a continuidade da pesquisa em andamento. São Paulo, _____ de ____________ de _______ Assinatura do sujeito de pesquisa/representante legal Assinatura da pesquisador responsável Assinatura da testemunha Assinatura da testemunha Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste sujeito de pesquisa ou representante legal para a participação neste estudo. Assinatura do responsável pelo estudo Data ____/_____/_____ 152 AUTORIZAÇÃO DO USO DAS IMAGENS Declaro meu consentimento para a veiculação de minha imagem para fins de divulgação científica, nas condições do TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO, que li acima, ou que foram lidas para mim, a respeito do projeto O papel do Software Aplusix na transição de equações de avaliação para equações de manipulação: o caso das equações quadráticas. São Paulo, _____ de ____________ de _______ Assinatura do sujeito de pesquisa/representante legal Assinatura da pesquisador responsável Assinatura da testemunha Assinatura da testemunha