D - Torção Pura 4.0 – TORÇÃO PURA 4.1 – MOMENTO DE TORÇÃO – TORQUE Quando uma barra reta é submetida, exclusivamente, a um momento em torno do eixo da barra, diz-se que estará submetida a um momento torçor (ou torque). É o caso comum dos eixos que transmitem potência de motores para máquinas utilizadoras. A Fig. 4.1.1 representa um eixo de transmissão acionando um utilizador (bomba) através de um “torque motor”. Ao ser acionado, o movimento de rotação é acelerado até que o torque resistente (crescente com o aumento da velocidade de rotação) iguala o torque motor, permanecendo, então, o eixo em rotação constante e torcido por um torque uniforme entre suas extremidades. Torque Resistente ω ω Utilizador Torque Motor Motor Fig. 4.1.1 – Eixo submetido a Torque constante ao longo de sua extensão, entre os flanges do motor e do utilizador, após ser alcançada a velocidade em regime permanente de rotação. A potência P transmitida está relacionada com o torque T e a rotação ω através da relação: P = δW/δt = 2F. r δθ / δt = T . ω; portanto, T = P/ω............(4.1.1) F r δθ F Exemplo 4.1.1 – Um motor de 60 CV (1 CV = 736 w) aciona um utilizador através de um eixo com 4.000 rpm. Calcule o torque aplicado ao eixo. Solução: P = 60 x 736 = 44,16 kW; ω = 4000 x 2π / 60 =418,9 rad/s. T =105,4 m.N (Resp.) 9 D - Torção Pura 4.2 – EIXOS DE SEÇÃO CIRCULAR E MATERIAL ELÁSTICO. O caso mais simples a ser analisado, e de grande importância, por sua vasta aplicação nos equipamentos mecânicos, se refere aos eixos de transmissão de potência de máquinas, fabricados em material elástico, torneados de forma a que sua seção transversal seja de forma circular (no caso dos eixos maciços) ou em forma de coroa de círculo (eixos vazados). Pela simetria circunferencial envolvida, tanto sob o aspecto geométrico como quanto ao carregamento, podemos afirmar que as tensões tangenciais despertadas nos diversos pontos da seção transversal serão função apenas da distância r do ponto em relação ao centro do eixo, onde a tensão deverá ser nula. Admitindo que a deformação por torção do eixo provoque a rotação de uma seção em relação à contígua (e que um certo diâmetro, após girar, permaneça reto, mantendo-se como um diâmetro), podemos afirmar que as deformações por distorção (γ) variarão linearmente em função da distância ao centro (r), e, admitindo ainda, tratar-se de um material elástico, para o qual as tensões τ são proporcionais às distorções γ, podemos presumir que as tensões tangenciais τ irão variar linearmente com r, e escrever: δL τMax T τ r γ dr r δθ (b) (a) Fig. 4.2.1 – Torção pura de eixos de seção circular; (a) tensões tangenciais ao longo da seção transversal; (b) deformações por distorção das fibras longitudinais e por rotação da seção transversal. τ = k r...........................................(4.2.1) Como o torque T é a resultante dos momentos das forças tangenciais atuantes na seção, em relação a seu centro, podemos escrever: D/2 T = ∫0 τ 2π r dr x r. Considerando a relação linear (4.2.1) teremos: D/2 T = ∫0 k 2π r3 dr = k [2π r4/4]0D/2 = k π D4/32, de onde tiramos: k = T / (π D4/32). 10 D - Torção Pura Convém observar que o termo π D4/32 vem a ser o “momento de inércia polar” (Jp) da área da seção em relação a seu centro. Levando em (4.2.1) teremos: τ = (T/Jp) r = [T / (π D4/32)] r. ............................................(4.2.2) A máxima tensão ocorrerá ao longo da borda externa do eixo, onde r = D/2, e. τMax = 16 T / π D3......................................................……....(4.2.3) que pode ser reescrita como: τMax = T / Wt sendo Wt o denominado módulo de resistência à torção do eixo, valendo Wt = πD3/16 ≈ 0,2D3 Exemplo 4.2.1 – Para o eixo focalizado no exemplo 4.1.1, determine o valor admissível para seu diâmetro, adotando um valor máximo para a tensão tangencial que não ultrapasse 60 MPa. Solução: utilizando a equação 4.2.3, teremos: (Dmin)3 =(16 x 105,4) / π x 60 x 106 = 8,947 x 10-6 m3 e D = 20,8 mm (Resp.) Interessante realçar que a parte central de um eixo maciço (onde as tensões são baixas) pouca contribuição terá com respeito ao momento de inércia polar, fazendo com que a tensão máxima seja diminuída no caso dos eixos vazados (largamente utilizados na indústria aeronáutica, onde a questão de pesos é crucial). τmax Para os eixos vazados teremos: Jp = (π/32)(D4 – d4), que levada em (4.4) dá: τmax = 16 T / π D3 (1 - η4) ............(4.2.4) D d sendo η= d/D. Fig. 4.2.2 – Tensões nos eixos de material elástico e seção circular torcidos γ δL Quanto às deformações entre duas seções contíguas, separadas de δL, podemos estabelecer a seguinte relação entre a distorção sofrida por uma fibra longitudinal distante r do centro e a deformação angular δθ entre as seções: δθ r T R Fig. 4.2.3 – Deformações nos eixos de material elástico e seção circular torcidos 11 D - Torção Pura r δθ = γ δL δ ............................................ (4.2.5) Levando em conta a hipótese de ser elástico o material (τ = G γ), teremos: r dθ = (τ/G) dL ...................................(4.2.6) Considerando (4.2.2) (τ/r = T/Jp) obtemos: dθ = Τ dL / G Jp ......(4.2.7) No caso de um eixo de diâmetro e material uniformes ao longo de sua extensão L0, a integração de (4.2.7), de L=0 a L=L0 nos fornece: γ δθ = T L0 / G Jp ........(4.2.8) (observe a semelhança entre as equações 4.2.8, 1.6.8 e 3.1.1), sendo: Jp = π (D4 – d4)32 ≈ 0,1 (D4 – d4) δθ T1 = 30kN.m A B Exemplo 4.2.2 – Para o eixo esquematizado pede-se determinar: a) a máxima tensão tangencial; b) o ângulo de torção entre as seções A e D. Obs.: o trecho maciço BC se encaixa no trecho vazado AB, sendo fixado por um pino transversal em B. Dados: Gaço = 80 GPa; GLatao = 39 GPa. Latão Vazado D=150;d=100 T1 = 5kN.m 400 D 600 BA- onde η = 100/150 = 0,6667, teremos: τmax = 16x20x103/π(1 − η4)(0,150)3 = 37,6 MPa Portanto: Resp. (a) C Aço Maciço D=100 mm Solução: o diagrama de torques ao longo do eixo permite obter os valores assinalados na figura ao lado: trecho DC: T = 5kN.m; trecho CB: T = 10kNm; trecho BA: T = 15 kNm. Portanto, as tensões máximas calculadas por (4.2.3) atingirão os valores: CD- τmax = 16x5x103/π(0,080)3 = 49,7MPa BC- τmax = 16x10x103/π(0,100)3 = 50,9 MPa τmax = 50,9 MPa (trecho BC). Quanto às deformações teremos: 12 T1 T1 = 15kN.m 20kN.m Aço Maciço D=80 mm 500 mm T 5kN.m 10kN.m D - Torção Pura δθDA = δθDC + δθCB + δθBA (soma algébrica), sendo δθ = T L / G Jp ⇒ δθDC = [5x103 x 0,500] / [(80x109)(π)(0,080)4/32] = 0,007771 rad () δθCB = [10x103 x 0,600] / [(80x109)(π)(0,100)4/32] = 0,007639 rad () δθBA = [20x103 x 0,400] / [(39x109)(π)(0,1504 – 0,1004)/32] = 0,005143 rad (). Portanto: δθDA = 0,007771 – 0,007639 + 0,005143 = 0,005275 = 0,30º (Resp. b) 3 192 dentes Exemplo 4.2.3 - A caixa redutora (dupla redução) esquematizada na figura transmite uma potência de 200 CV, a 3600 rpm, reduzindo a rotação na saída para 100 rpm. Pede-se dimensionar o eixo intermediário (aço - G = 80GPa e τadm = 60 MPa). Considerar ainda como deformação limite o valor δθ /L = 2,5º /m. 32 dentes Eixo intermediário R = 180mm 4 2 1 R= 30mm 200 CV 3600 rpm Solução – O eixo que aciona o pinhão (1) de entrada da caixa estará submetido a um torque T1 = 200 x 736 / (3600x2π/60) = 390,5 N.m; a componente tangencial da força de contato entre os dentes do pinhão e da engrenagem (coroa – 2) valerá F12 = 390,5/0,030 = 13,02kN. Portanto o torque aplicado ao eixo intermediário pela coroa 2 valerá T2 = 13,02 x 0,180 = 2.343 N.m (os torques variam na razão inversa das velocidades e proporcionalmente aos raios, diâmetros e nº de dentes das engrenagens). Admitindo desprezíveis as perdas por atrito (hipótese conservativa para o cálculo dos esforços nas diversas partes do mecanismo) concluímos que o eixo intermediário estará submetido a um torque T2 = T3 = 2,343 kN.m. Tratando-se de um eixo maciço e, levando em conta (4.2.3), podemos escrever, atendendo ao critério de resistência estabelecido: τMax = 16 T / π D3 ; 60 x 106 = 16 x 2,243 x 103 / π (D)3 e D = 57,5 mm Considerando o critério de rigidez admitido teremos, levando em conta (4.2.8): δθ / L0 = T / G Jp; (2,5 / 57,3 *) = 2,243 x 103 / (80 x 109)(π D4/32) e D = 50,6 mm. Portanto teremos: D = 58 mm (resposta) (valor que atende aos dois critérios) * o ângulo deve ser expresso em radianos (1 rad = 57,3º) D = 18mm D = 20mm R ω Exercício proposto: O motor M, de 3,5 CV, aciona o compressor C através do sistema de correias planas mostrado.Desprezando as perdas e considerando tão-somente as tensões devido à torção nos eixos das polias (de raios R = 120mm e r = 30mm), pede-se determinar a velocidade de rotação limite para o motor ( ω − especificando se máxima ou mínima) de maneira a que a tensão tangencial nos eixos não ultrapasse o valor: τ = 70,0 MPa. r C M 13 D - Torção Pura 4.3 – PROBLEMAS ESTATICAMENTE INDETERMINADOS. O conhecimento das deformações por distorção angular dos eixos torcidos permite a solução de problemas hiperestáticos, bastando utilizar, em complemento às equações de equilíbrio dos torques, as equações de compatibilidade de deformações. G2 ; D2 T No exemplo da figura ao lado, o eixo escalonado é bi-engastado, estando submetido ao toque T. A B C L1 L2 G1 ; D1 A análise do diagrama de torques permite escrever, pelas condições de equilíbrio: T1 + T1 T T2 T2 = T .....................(1) A compatibilidade de deformações (o ângulo de torção da seção B em relação ao engaste A é igual em relação ao engaste C) permite escrever: T1 T1 L1 / G1 JP1 = T2 L2 / G2 JP2...(2) (sistema de 2 equações que nos permite obter o valor das duas incógnitas T1 e T2) T2 Fig. 4.3.1 – Eixo bi-engastado e torcido. Cordões de Solda Exemplo 4.3.1 – Os eixos esquematizados são fabricados em aço (G = 80 GPa). Pede-se calcular: a) a máxima tensão tangencial; b) o ângulo de giro da extremidade livre A em relação ao chassis CF. F C D = 20 E D = 20 TC 600 RB = 40 B 700 mm D = 25 A Solução: No trecho AB (isostático) a tensão máxima valerá; RE = 120 τmax = 16 x 100 / π x (0,025)3=32,6MPa O ângulo de giro entre as seções T= A e B valerá: 100 N.m δΘ = 32 x 100 x 0,7 / 80 x 109 x π x AB (0,025)4 = 0,02282 rad = 1,31º O torque aplicado ao trecho BC é estaticamente indeterminado, valendo: TBC = 100 – FEB x 0,040, onde FEB é a componente tangencial da força entre os dentes das engrenagens B e E. FEB T= 100 N.m 14 D - Torção Pura A compatibilidade de deslocamentos angulares das engrenagens, devido às deformações dos respectivos eixos, permite escrever: RB δθΒ = RE δθΕ, ou seja: RB (TB LB / G JPB ) = RE (TE LE / G JPE), e 0,040 x (100 – FBEx 0,040) x 0,600 / G (π/32) (0,020)4 = = 0,120 x (FBE x 0,120) x 0,600 / G (π/32) (0,020)4. Obtem-se FBE = 250 N. Portanto: TC = 100 – 250 x 0,040 = 90 N.m e TE = 250 x 0,120 = 30 N.m O ângulo de giro da engrenagem E (devido à torçao do eixo FE) valerá: δθΕ = 30,0 x 0,600 / 80 x 109 (π/32)(0,020)4 = 0,01432 rad = 0,82º. O giro da engrenagem B a ela acoplada valerá: 0,82 x (120/40) = 2,46°, que somado ao ângulo de torção do eixo BA fornece: δθAC = 3,77º (Resp.b) A tensão máxima no eixo EF valerá: τ= 16 x 30 / π (0,020)3= 19,1 MPa. Portanto: a máxima tensão tangencial nos eixos ocorrerá em AB, com o valor já calculado τmax =32,6 MPa (Resp. a) Exercício Proposto: O eixo encamisado representado na figura é atacado por um torque T através de uma cavilha diametral que atravessa a parte maciça e a camisa. As outras extremidades (do eixo e da camisa) estão solidamente engastadas. Pede-se determinar o percentual do torque T que será absorvido pela camisa. T Dados: CAMISA – Bronze - G = 39 GPa Dexterno = 400 mm Dinterno = 340 mm EIXO – (maciço) Aço G = 80 GPa D = 338 mm. 4.4 – MATERIAL ELASTO-PLÁSTICO Comumente utilizados na construção mecânica, os materiais dúteis (como os aços de baixo teor de carbono), quando ensaiados, comportam-se inicialmente de maneira elástica (além de manter relação linear entre tensão e deformação) para em seguida sofrer a plastificação e escoar, mantendo praticamente constante a tensão enquanto a deformação prossegue crescente até a ruína. τ Um modelo matemático que se ajusta a tal comportamento seria o dado pelas equações: τescoamento τ = G γ ............. para γ ≤ γescoamento τ = τescoamento ..... para γ ≥ γescoamento γescoamento Fig. 4.4.1 – Material elasto-plástico. γ 15 D - Torção Pura A análise da distribuição de tensões e deformações na torção de eixos fabricados com tal tipo de material nos leva a concluir que, submetido a um torque crescente (T1 ↑ T2 ↑ T3 ↑ T4 ), a plastificação ocorrerá inicialmente na periferia (T2). τesc τesc τesc Prosseguindo a crescer o torque τ (T3), a tensão máxima se manterá estacionária no valor τesc. , causando a plastificação das camadas interiores, que ficam divididas numa região central (núcleo elástico) onde a tensão T1 T4 T2 T3 varia linearmente de zero no centro a τesc. , e um anel plastiFig. 4.4.2 – Núcleo elástico – Coroa plastificada ficado, onde a tensão será constante (τesc.), até ocorrer a plastificação total (T4), após o que, um aumento do torque provocaria deformações crescentes até a ruína (já que as tensões teriam atingido seu limite máximo). A determinação do raio do núcleo elástico (re) é feita utilizando a equação que dá o valor do torque na seção como o somatório dos momentos das forças elementares atuantes em seus diversos pontos, a saber: T D/2 τ T= dr r re Fig.4.4.3 – Raio do núcleo elástico. ∫0 re D τ dA . r = (D/2) = ∫0 (k r) dA . r + ∫re τe dA . r ; Fazendo dA = 2π r dr (onde é constante a tensão τ), obtem-se: T = [k 2π r4/4]ore + [2π r3 / 3]reD/2 . Considerando que, no limite do núcleo elástico (r = re), onde ainda se pode escrever que τ = k r, com τ = τe , tem-se: k = τe / re, e T = [τe π re3/2] + (2π / 3)(D3/8 – re3) . Explicitando o raio do núcleo elástico obtemos: re3 = (D3 / 2) – 6T/π τe …. (4.4.1) O ato de “torcer” um eixo circular implica em fazer girar de um ângulo δθ uma dada seção em relação a outra contígua, distante de dL, independentemente da distribuição das tensões, o que nos permite continuar escrevendo, como em (4.2.5): r dθ = γ dL , para qualquer r, inclusive na interface entre o núcleo elástico e a coroa plastificada, onde τe = G γe, o que leva a dθ = τe dL / G re, que, integrada de 0 a L nos dá: δθ = τe L / G re ............................................. (4.4.2) que ocupa o lugar da equação (4.2.8), no caso de eixos plastificados. 16 γ dL θ r dθ Fig. 4.4.4 - Deformações D - Torção Pura Exemplo 4.4.1 – Dois eixos maciços (AB e CD) fabricados com material elastoplástico para o qual G = 80 GPa e τescoamento = 95 MPa, são interligados através das engrenagens mostradas e torcidos pela alavanca DE através da ação da força P. Determinar: a) o valor admissível (máximo) para a força P, sem que haja a plastificação dos eixos; b) o ângulo de giro da alavanca DE para o caso de P = 300 N. c) as tensões residuais após a força de 300 N ser diminuída até se anular. A 900 P D 25D 600 B 400 E 20d C R=60 Obs.: admitir a força P sempre perpendicular ao braço de alavanca DE. r =20 Solução: (a) o torque no eixo CD vale 0,400 P, ocorrendo uma força entre os dentes das engrenagens cuja componente tangencial vale 0,400 P / 0,020 = 20 P, que, por sua vez, provoca um torque no eixo BA de valor 20 P x 0,060 = 1,2 P. Sob a ação desses torques e admitindo que ocorresse o início da plastificação nos eixos (τmáximo = τescoamento = 95 MPa), levando em conta a eq. 4.2.3, teremos: τMax = 16 T / π D3 ….. 95 x 106 = 16 x 0,400 P / π (0,020)3 e P = 373,1 N (eixo CD) 95 x 106 = 16 x 1,200 P / π (0,025)3 e P = 242,9 N (eixo AB) Portanto, o máximo valor de P será 242,9N, que provocaria o início de plastificação no eixo AB, permanecendo o eixo CD no regime elástico. (Resp. a: Pmáx = 243 N) (b) no caso em que P = 300N, verifica-se, do cálculo anterior, que o eixo CD permanecerá na fase elástica enquanto o eixo AB sofrerá plastificação. O torque no eixo CD valerá 0,400 x 300 = 120 Nm enquanto no eixo AB será (60/20)x120 = 360 Nm. O raio do núcleo elástico em AB será (da eq. 4.4.1): 3 re = (D3 / 2) – 6T/π τe = (0,025)3/2 – 6 x 360 /π x 95 x 10 6 ; re = 0,00832m = 8,32mm. O ângulo de torção do eixo AB (que corresponde ao ângulo de giro da engrenagem B) será (de 4.4.2): δθ = τe L / G re = 95 x 106 x 0,900 / 80 x 109 x 0,00832 = 0,1285 rad. Para tal giro da engrenagem B (coroa) corresponderá um giro da engrenagem C (pinhão) de valor δθC = (60/20) δθB = 3 x 0,052595 = 0,3856 rad. A torção do eixo CD se dará na fase elástica, sendo (de 4.2.8): δθCD = Τ L / G JP = 120 x 0,600 / 80 x 109 x (π/32)(0,020)4 = 0,05730 rad. O ângulo de giro da alavanca DE será: δθDE = δθC + δθCD = 0,3856 + 0,05730 = 0,4429 rad = 25,4º (Resp. b) Caso a força P fosse aliviada até “zerar”, a força entre os dentes das engrenagens cairia a zero, porém o eixo AB (que sofrera a plastificação parcial) ficará com tensões residuais decorrentes das deformações permanentes que ficarão presentes na coroa plastificada. τ O cálculo dessas tensões será feito levando τescoamento em conta que, ao ser descarregado um material que sofreu plastificação, as tensões e deformações diminuem elasticamente (mantendo a mesma relação γ proporcional – com idêntico valor para o módulo de elasticidade transversal, inclusive quando invertidos os sentidos das tensões e distorções). 17 D - Torção Pura Utilizaremos o princípio da superposição, admitindo que a ação de aliviar os esforços seria equivalente a aplicar um torque em sentido contrário e de mesmo valor que o torque ativo que provocou a plastificação, sendo que as tensões provocadas por tal torque fictício satisfazem a lei de Hooke (regime elástico). τesc. T -T re τ* T=0 + = = τ** (τre)* (τmáx)** Fig. 4.4.4 – Tensões residuais em eixos circulares de material elasto-plástico Calculada a tensão máxima que ocorreria, supondo aplicado o torque em sentido oposto e admitindo que o material trabalhasse na fase elástica, obteríamos (de 4.2.3): (τMax)** = 16 T / π D3, como também a tensão no limite do núcleo elástico: (τre)* = (2re /D) 16 T / π D3 . Assim, os valores extremos das tensões residuais seriam calculados como: τ∗∗ = (τMax)** - (τesc) τ∗ = (τesc) - (τre)* Para o caso apreciado no exemplo 4.4.1, a tensão extrema que tal torque equilibrante produziria na borda do eixo se trabalhasse elasticamente seria: (τMax)** = 16 x 360 / π (0,025)3 = 117,3 MPa, enquanto na interface do núcleo elástico com a coroa plastificada teria o valor: (τre)* = (2x8,316/60,00) x 117,3 = 78,04 Mpa. Portanto, as tensões residuais presentes no eixo descarregado, após a sua plastificação seriam: τ∗∗ = (τMax)** - (τesc) = 117,3 – 95 = 22,3 MPa τ∗ = (τesc) - (τre)* = 95 – 78,04 = 17,0 MPa (Resp. C) O ângulo de torção residual do eixo poderá ser calculado computando: δθ* = TL/GJp = 360x0,900/80x109x(π/32)(0,025)4 = 0,1056 rad δθ(residual) = 0,1285 - 0,1056 = 0,0229 rad = 1,3° Caso a força P fosse novamente aplicada, as tensões despertadas seriam acrescidas às tensões residuais calculadas, provocadas pela plastificação. >>>>>>>>>>>>>>>>>>><<<<<<<<<<<<<<<<<< 18 D - Torção Pura 4.5 – MOLAS HELICOIDAIS DE PEQUENO PASSO. Uma aplicação do estudo da torção de barras de seção circular, com certa utilidade na engenharia mecânica, se encontra no dimensionamento de molas helicoidais de pequeno passo, normalmente utilizadas sob tração, em peças de pequeno porte. Conforme se verifica da análise das forças atuando no corpo livre assinalado na figura 4.5.1 (b) abaixo, o vetor momento equilibrante do binário formado pelo par de forças F tem sua direção perpendicular ao plano da figura, portanto, praticamente na direção do eixo do arame (momento de torção T), já que se trata, por hipótese, de uma mola de pequeno passo (tornando desprezível a componente deste momento, atuando como momento fletor). O equilíbrio de momentos aplicados à parte destacada na figura 4.4.1(b) permite escrever: F x R = T. Portanto, no cômputo da tensão máxima de cisalhamento devido à torção do arame, teremos: F τmax = 16 F R / π d3 d T F (b) No cômputo das deformações devido à torção do arame ao longo de seu comprimento (que se manifesta de forma global através da elongação da mola δx), utilizaremos o teorema da energia, escrevendo que o trabalho W realizado pela força, crescendo de zero até seu valor final F, deslocando seu ponto de aplicação de δx será armazenado na mola sob a forma de energia elástica por distorção Ud: d/2 W = ½ F δx = Ud = ∫ ud dV, sendo ud = ½ τ2 / G a energia específica de distorção, por unidade de volume V (equação 1.8.2). Considerando o volume dV assinalado na figura ao lado (dV = 2π r dr ds), onde a tensão tangencial é uniforme ( eq. 4.2.2 ), teremos: R (a) δx ds s τ (como se verá mais adiante, esta tensão deverá ser acrescida do valor (16/3)F/πd2, correspondente ao corte simples da seção, 4/3 Q/A). r dV dr s =2πRn T Ud (c) ∫ r = d/2 ∫0 = s=0 (1/2G)(FR/Jp)2 r2 2π r dr ds 2πRn Ud Fig. 4.5.1 – Mola helicoidal de pequeno passo sob tração. Raio de enrolamento: R; diâmetro do arame: d;( R >>d); nº de espiras: n. ∫ = 0 d/2 2 (1/2G) (FR/Jp) ds ∫0 r2 2π r dr =1/2 P δx Jp 19 D - Torção Pura Levando em conta que Jp = π d4 / 32, e feitas as simplificações obteremos: δx = 64 n R3 F / G d4 que, reescrita na forma tradicional da Lei de Hooke F=Kx se torna: F = { G d4 / 64 n R3 } δx ........................................... (4.5.1) Exemplo 4.5.1 – Deseja-se dimensionar a Kmola mola de acionamento de um punção utilizado para furar papel, dispondo-se de um arame de aço especial (G = 80 GPa e τadm = 32 MPa) com diâmetro de 3 mm. Pede-se determinar o raio R em que deve ser enrolada a mola e o número de espiras n, considerando-se que a máxima força F a ser aplicada não ultrapasse 15 N, para um curso do punção de, no máximo, 17 mm. Solução: Para a força e tensão máximas admitidas, teremos: 32 x 106 = 16 x 15 x R / π (3)3 x (10-3)3 Rmax = 11,3 mm. d Utilizando a equação 4.5.1 obtemos: 15 = {80x109 x 34x10-12 / 64n 0,01133} 0,017 n = 79,5 espiras. Adotando valores inteiros: n = 80 espiras e R = 11 mm, obteremos, para F = 15 N ⇒ τmax = 31,1 MPa e δx = 15,8 mm δx R A mola (fechada, em repouso) teria um comprimento total de 80 x 3 = 240mm, que somado a seu curso de 15,8 mm totalizaria um comprimento de 255,8 mm, quando estendida (o que poderá ser considerado impróprio para a geometria da peça, indicando outra solução, com outro R, e outro n, ou até outro arame com novo d). Obs.: o pequeno passo da mola (avanço de 3 mm somado à elongação por espira, 15,8/80 = 0,2mm, num percurso para uma volta do arame de valor 2π (11) = 69,1 mm mostra que a suposição de ser desprezível a flexão e´ cabível no caso. F 11 3 20 D - Torção Pura 4.6 – BARRAS DE SEÇÃO RETANGULAR. OUTRAS FORMAS DE SEÇÃO. ANALOGIA DA MEMBRANA. As tensões tangenciais despertadas pela torção de uma barra de seção retangular se distribuem no plano da seção transversal de uma forma mais complexa, quando comparada à distribuição das tensões no caso da torção de eixos de seção circular, não se podendo acolher a hipótese de que a seção se mantém plana, depois de torcida a peça. A simetria da figura apenas permite presumir que, no centro da seção (eixo da barra), a tensão será nula. Nas quinas da barra (pontos mais afastados do centro), ao contrário do que se poderia inicialmente presumir, quanto a serem elevadas as tensões, serão elas também nulas. Realmente: a condição de simetria do tensor das tensões, estabelecida em 1.5, nos permite escrever que, para essas quinas (pertencentes ao contorno livre da barra, onde as tensões serão nulas), teremos, necessariamente, que no plano da seção, também serão nulas as tensões (τyx = τxy = τzx = τxz = 0), nos quatro cantos da barra. τ=0 A Resistência dos Materiais Elementar não dispõe de um método simples para avaliar as tensões em seções maciças de formato diferente da circular. Através da Teoria da Elasticidade, utilizando equações mais complexas, obtem-se, para o cálculo da tensão de cisalhamento máxima, ocorrente nos pontos médios do lado maior de uma seção retangular, o valor: τ=0 τMax = T / α h b2 .........................(4.6.1) T Para o ângulo de torção da barra, a teoria aponta: δθ = T L / β G h b3 ...................(4.6.2) τMax h τMax b Fig.4.6.1 – Torção de barras de seção retangular. (h/b) α = -------------------3(h/b) + 1,8 Tabela III h/b α β sendo os valores de α e β dados na Tabela III abaixo ou por fórmulas empíricas como a apresentada a seguir: 1,0 1,5 0,208 0,231 0,1406 0,1958 2,0 0,246 0,229 2,5 0,258 0,249 3,0 0,267 0,263 5,0 0,291 0,291 10,0 0,312 0,312 ∞ 0,333 0,333 As equações obtidas através da Teoria da Elasticidade, utilizadas para a determinação das tensões tangenciais nos pontos de uma dada seção de formato qualquer, em uma barra torcida, observa-se, são idênticas às equações utilizadas na solução de um outro problema totalmente distinto, qual seja, o da determinação do formato assumido pela superfície de uma membrana elástica e homogênea, cujas bordas fossem presas a uma moldura rígida, com um formato qualquer, quando submetida a uma diferença de pressão entre suas faces, estufando. Enquanto nas equações para solução do problema da torção aparecem as variáveis “tensão” e “torque”, nas equações idênticas para solução do problema da membrana deformada aparecem as variáveis “inclinação da membrana” e “diferença de pressão entre as faces”. 21 D - Torção Pura (a) Canto vivo (b) R h R b (c) Fig . 4.6.2 – Analogia da membrana. Tensões na torção. 22 No caso da seção retangular, a analogia da membrana nos permite avaliar, sob o aspecto qualitativo, que sendo nula a inclinação da tangente à superfície da membrana estufada nos seus quatro cantos e no centro, a tensão tangencial nos pontos equivalentes será nula. Da mesma forma, não é difícil perceber que a inclinação da tangente à superfície da membrana estufada nos pontos médios dos limites de maior extensão será maior (ver figura) que a inclinação correspondente aos pontos médios dos lados menores. A analogia permitiria, portanto, prever que a tensão máxima na torção ocorrerá no ponto médio do lado maior do retângulo. Muitas outras evidências também podem ser extraídas da analogia da membrana, como por exemplo a ocorrência de tensões muito elevadas na torção de barras que tenham seção transversal com cantos vivos reentrantes (Fig. 4.6.2 – b ) sendo necessária a adoção de raios de adoçamento para eliminar a concentração de tensões nestes locais. Pode-se também concluir que, para barras chatas torcidas, a tensão máxima independe do formato da seção, dependendo apenas da relação h/b, desde que promovidos raios de adoçamento nos cantos vivos reentrantes existentes. D - Torção Pura Exemplo 4.6.1 – Para a peça composta mostrada na figura (em aço – G = 80 GPa), pede-se determinar a máxima tensão tangencial e o ângulo de giro da aresta da extremidade em relação ao engaste. Solução: O torque ao longo da peça valerá: T = 5000 x 0,100 = 500 N m. Para a parte tubular teremos:η = 90/100 = 0,9 e: τmax = 16 x 500 /π(1 – 0,94)(0,1)3 = 7,40 MPa δθ = 500x0,4 / 80x109x(1 – 0,94)(π/32)0,14 = 5 mm = 0,042º. 400 5 kN 20 500 δθ 100 Para a barra chata teremos: h/b = 100/20 =5 e α = β = 0,291 . Portanto: τmax =500 / 0,291 x 0,100 x x 0,0202 = 43,0 MPa 500x0,5 δθ = 0,291x80x109x0,1x0,023 δθ = 0,77º 5 kN Exemplo 4.6.2 – Para a peça mostrada, submetida ao torque T, determine, considerando os trechos de seção circular e de seção quadrada, as relações entre (a) as máximas tensões tangenciais e (b) entre os ângulos de torção por metro de comprimento. a Solução: τmax = 16T /π a3= 5,093 T / a3 τmax = T / 0,208 a3= 4,808 T / a3 b (a) (τmax)circular / (τmax)quadrada= 1,059 δθ = 32Tb /Gπa4=10,19 Tb /Ga4 a b δθ =Tb /0,1406Ga4=7,112Tb /Ga4 T 23 (b) (δθ )circular /(δθ )quadrada = 1,43 D - Torção Pura 100 Exemplo 4.6.3 - O perfil “I” esquematizado é montado através da união de duas barras chatas de aço, de 100 x 20 mm2 (“mesas”) soldadas a outra barra chata, também de aço, de 150 x 15 mm2 (“alma”), sendo submetido a um torque T = 1,00 kN.m em sua extensão de 450 mm. Pede-se determinar: a) a máxima tensão tangencial no perfil, e b) o ângulo de torção do perfil . 450 mm Solução: Inicialmente deve-se reconhecer que se trata de um problema estaticamente indeterminado, podendo-se, tão-somente, admitir que o torque T total será distribuído pelas duas mesas (Tm em cada) e pela alma (Ta), de forma a que: 20 100 T = 2 (Tm) + (Ta)..............(1) A compatibilidade de deformações nos permite escrever: δθalma = δθmesa ; 15 150 T = 1,00 kN.m TaL /0,312Gx150x153 = TmL /0,291Gx100x203 Ta = 0,6785 Tm ...............(2) Levando em (1) obtem-se: T = 2 Tm + 0,6785 Tm Tm = 0,3733 T e Ta = 0,2533 T Tm = 373,3 N.m e Ta = 253,3 N.m τalma = 253,3 / 0,312x0,150x0,0152=24,0 MPa τmesas = 373,3 / 0,291x0,100x0.0202=32,1MPa δθ = 373,3x0,450 / 0,291x80x109x0,100x0,0203= 20 100 =253,3x0,450 / 0,312x80x109x0,150x0,0153 δθ = 0,52º 4.7 – DUTOS DE PAREDE FINA. A determinação das tensões e deformações em barras de seção transversal diferente da circular, como vimos, recai na solução de equações complexas. No entanto, para o caso especial de barras vazadas, constituídas de chapas de parede fina, montadas na forma de dutos, pode-se conseguir uma solução utilizando-se uma teoria matemática bem mais simples. Tal estudo tem aplicação, com boa aproximação, para o caso de dutos de ventilação, fuselagem de aviões, casco de navios, e outros, quando submetidos à torção. Fig.4.7.1 – Torção de dutos de parede fina. Casco de navios. Fuselagens de aviões. 24 D - Torção Pura O fato de a tensão tangencial necessariamente ter a direção tangente ao contorno, tanto externo, como interno, no caso das barras de parede fina nos leva a admitir que o seu valor se distribui uniformemente ao longo da espessura da parede. O torque T na seção será obtido (Fig. 4.7.2 a) pela integral curvilínea fechada (Fig. 4.7.2 b): τ T= ∫ τ e ds ρ sen β .......... (4.7.1) Uma simplificação importante tornará exeqüível a realização de tal integração sem maiores dificuldades, qual seja, a da invariância do produto (chamado fluxo cisalhante) τ x e ao longo do perímetro da seção do duto (ver nota abaixo). Realmente: a análise do equilíbrio de esforços atuantes no elemento assinalado na figura 4.7.2 (c), segundo o eixo x do duto, nos permite escrever: T (a) τ τ1 e1 dx = τ2 e2 dx., ds β que, levada em 4.14, fornece: ρ β e T= τe ds (b) ds sen β ρ. Observando, na fig. 4.7.2(b), que ½ ds sen β ρ vem a ser a área do triângulo assinalado ao lado, pode-se concluir que a integral ρ e1 @ e2 τ1 ∫ ∫ ds sen β ρ = 2 @ τ2 computa o dobro da área @ limitada pela linha média da espessura da parede do duto. Podemos finalmente escrever: dx τ = T / 2 e @ ............................ (4.7.2). (c) x Fig. 4.7.2 – Tensões em dutos de parede fina torcidos. Nota: a invariância do produto τ xe (fluxo cisalhante) indica uma interessante analogia com a equação da continuidade para o escoamento de fluidos incompressíveis, quanto à vazão Q = V x A (a velocidade cresce quando a área da canalização diminui, da mesma forma que a tensão tangencial será maior nos trechos de menor espessura do duto, como se as tensões “escoassem” ao longo da parede). 25 D - Torção Pura Quanto às deformações, mais uma vez, utilizaremos os conceitos de energia para determinação do ângulo δθ de torção do duto em função do torque T que lhe é aplicado (o trabalho realizado pelo torque será armazenado sob a forma de energia potencial elástica no duto torcido). ds W = ½ T δθ = Ud = ∫ ud dV, sendo ud = ½ τ2 / G a energia específica de distorção, por unidade de volume V (equação 1.8.2). Considerando o volume dV assinalado na figura ao lado (dV = e dx ds), onde a tensão tangencial é dada por 4.7.2, podemos escrever: L e s 2 Ud = ∫ ud dV = ∫ ( ½ τ / G)dV = dV δθ x =∫ ∫ (1/2G)[T/2e@]2 (e ds dx). Na primeira integração,ao longo de s, teremos como constantes G, T, @ e dx, permitindo escrever: dx 2 Ud = ∫(1/2G)[T/2@] dx ∫ ds/e). No caso de um duto de seção e material uniformes, submetido a um torque constante ao longo de sua extensão, a segunda integração nos leva a: T Ud = (1/2G)[T/2@]2 L ∫ ds/e)= ½ T δθ Fig.4.7.3 – Deformação de dutos de parede fina torcidos. Teremos portanto: δθ = [(Τ L) / 4 G @2] ∫ ds/e .................................. (4.7.3) No caso simples de dutos com espessura de parede uniforme (e constante), a integral curvilínea se converte na relação adimensional perímetro/espessura da seção. No caso comum de dutos formados pela união de chapas, de espessuras distintas, mas que se mantêm uniformes na extensão de cada chapa, a integral se converte em um somatório, podendo ser reescrita sob a forma: b1 δθ = [(Τ L) / 4 G @2] Σ si /ei ................ (4.7.4) e1 b2 b2 e2 e2 e3 b3 (é o que ocorre, por exemplo, no casco de uma embarcação, cujo chapeamento do convés tem espessura diferente das chapas do costado e do fundo), ficando no caso: ∫ ds/e = b1/e1 + 2b2/e2 + b3/e3.. Fig. 4.7.4 –Seção transversal do casco resistente de uma embarcação 26 D - Torção Pura Exemplo 4.7.1 – Mostrar que, no cálculo das tensões e deformações de um duto de parede fina de seção circular, os resultados são convergentes para ambas as teorias estudadas (em 4.6 e em 4.2). Realmente: para um duto circular de diâmetro d e espessura de parede e, teremos: Jp = (π d e) (d/2)2 = π e d3 / 4, portanto, de (4. 2.2): τ = (T/Jp)(d/2) = 2T / π e d2. e Por outro lado, de 4.6.2 obtemos, com @ = π d2 /4: τ = (T / 2 e @) = 2T / π e d2. d/2 Da mesma forma, de 4. 2.8 e 4. 6.4, obteremos, sucessivamente: δθ = T L / G Jp = 4 T L / G π e d3 = [T L / 4 G @2] πd/e 2 mm Exemplo 4.7.2 – A seção transversal da fuselagem de um avião, próxima à cauda, construída em alumínio (G =28 GPa), tem as dimensões mostradas na figura. Adotando os valores admissíveis para a tensão tangencial τ = 90 MPa e para a deformação por torção como sendo 1º / m de comprimento, pede-se determinar o máximo torque T a que a fuselagem pode ser submetida. Solução: Para a seção temos @ = 0,9 x 0,8 + 2π 0,45 2/ 2 2 @ = 1,356 m (nota: utilizando as dimensões internas do R=450 900 800 2,5 mm duto, obtemos um valor inferior para @,, a favor da segurança para o cálculo das tensões e deformações). 2,5 mm De 4.6.2 ⇒ τmax = 90x106= T / 2x0,002x1,356 e Tmax = 488 kN.m. De 4.6.4 ⇒ δθ/L = 1 / 57,3 = [T /4x28x109x(1,356)2] x x [( π x 450/2) + 2 x (800/2,5) + ( π x 450/3); R=450 3 mm e Tmax = 1977 kN.m. Portanto = Resp.: Tmax = 488 kN.m. Problema proposto: dispondo-se de uma chapa (a) de comprimento L, largura b e espessura e, deseja-se confeccionar um duto dobrando a chapa, com costura nas bordas. Para as opções (b) e (c) assinaladas pede-se determinar as relações entre as tensões máximas e os ângulos de torção, para um dado torque T aplicado. costuras L e b (a) (b) 27 (c) D - Torção Pura 240 240 Exemplo 4.7.3 12,5 kN 480 100 12,5 kN 100 R = 50 2 2,00 metros 200 R = 50 O duto de alumínio (G = 28 GPa), de 2,0 m de comprimento, é engastado por meio de quatro parafusos de diâmetro 10mm, simetricamente dispostos no flange de conexão, e submetido ao par de forças indicado. As dimensões da seção transversal do duto são mostradas na figura. Pede-se calcular: a) a máxima tensão tangencial na parede do duto; b) o ângulo de torção (em graus) da extremidade do duto em relação ao flange fixo; c) a tensão tangencial média nos parafusos de fixação do duto @ = 200 x 98 + π x 492 = 27.143 mm2 --- T = 12,5 x 480 = 6000 mN. a) τ = T / 2 @ e = 6000 / 2 x 27.143 x 10 –6 x 0,002 = 55,26 x 106 --- τ = 55,3 MPa (1,0p) b) δθ = (T L / 4 G @2) (P/e) = [6000 x 2 / 4 x 28 x 109 x (27143 x 10-6)2] x [(2x200 + 2xπ x 49)/2] = 0,05147 rad = 2,95º (1,0p) c) T = F1 x 0,200 + F2 x 0,480 = 6000 mN; considerando indeformável a chapa/flange: F1 / 100 = F2 / 240 ----- F2 = 2,4 F1 e F1 = 4,438 kN; F2 = 10,65 kN τ1 = 4438 / (π/4)(0,010)2 = 56,5 MPa τ2 = 10650 / (π/4)(0,010)2 = 136 MPa (1,5p) F1 F1 100 F2 100 F2 F1 240 240 28