Aumento da Selic deverá prosseguir, mas
poderá não ser tão drástico
SAMPAIO, Fernando. “Aumento da Selic deverá prosseguir, mas poderá não ser tão
drástico”. Folha de São Paulo, São Paulo, 10 de junho de 2010.
A decisão do BC de elevar os juros para 10,25% ao ano confirmou a previsão quase
unânime dos profissionais que se dedicam ao ofício de antecipar os passos da
autoridade monetária. Ante a velocidade com que a demanda doméstica vinha
crescendo (atestada pelos dados do PIB do 1º trimestre), as surpresas adversas na
inflação dos primeiros meses do ano e, sobretudo, a piora das expectativas de
inflação, não restava dúvida sobre como o BC tenderia a reagir. Mas, observando o
passado recente e as perspectivas de evolução desses elementos acima citados,
vislumbra-se algum alívio das pressões inflacionárias à frente. Pelo lado da inflação
corrente, já em maio houve desaceleração do IPCA, associada em parte à "devolução"
de fortes altas que os preços dos alimentos e do etanol tiveram no início do ano. E
esperam-se taxas mensais mais moderadas pelo menos até outubro. Quanto à
demanda doméstica, há que lembrar que, ao encerrar-se o 1º trimestre, terminou a
vigência das reduções de imposto que estimulavam a compra de automóveis e
eletrodomésticos. A LCA estima que o ritmo de alta da demanda doméstica -que foi de
2,4% no 1º trimestre sobre o 4º trimestre de 2009 (ou de 9,9% em termos
anualizados)- esteja recuando, neste 2º trimestre, para 1,5% (ou 6,2% ao ano). Outro
fator que "engordou" o PIB nos dois últimos trimestres -alta expressiva e deliberada
dos estoques das empresas- também dá mostras de perder fôlego. Na indústria
automobilística, por exemplo, no final de maio os estoques correspondiam a 34 dias de
vendas, nível excessivo ante o recuo do apetite do consumidor e que, portanto,
prenuncia redução da produção desse setor. Já as expectativas de inflação acabam de
interromper uma trajetória de deterioração que durava 18 semanas. Por fim, a
aceleração do investimento (que subiu 7,4% no 1º trimestre ante o 4º trimestre de
2009, um ritmo de impressionantes 33,1% ao ano) indica ampliação da capacidade
produtiva que, estimamos, habilita a economia a crescer de 4,5% a 5% ao ano -ou
1,2% por trimestre- sem pressionar a inflação. Esses elementos não parecem
suficientes para levar o BC a, tão cedo, interromper a alta da Selic. Mas poderão
desmentir os prognósticos, cada vez mais comuns, de que a taxa vá subir para muito
além de 12% ao ano.
Fernando Sampaio, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.
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