Comércio ambulante: legalizar o caos? Era só o que faltava. A Câmara Municipal, no dia 19 de maio, incluiu um artigo na Lei nº 3.573/90, que permite o comércio ambulante nos cruzamentos sinalizados com semáforos. Com a lei, aprovada somente por causa do silêncio do Prefeito Elói Pietá em relação ao comunicado de rejeição, a cidade verá aumentar o caos vivido todos os dias pelos motoristas e pedestres. Sem considerar que a opinião das entidades, empresários e cidadãos não foi consultada. Enquanto que, em São Paulo, a Lei nº 12.318 proíbe a prestação de serviços e venda de mercadorias em semáforos, aqui no município acontece o contrário. Um dos problemas que a tentativa de disciplinar o trânsito nas esquinas poderá trazer é a chegada de muitos ambulantes de outras cidades. Para poder disputar espaço e se instalar com barracas próximo ao meio-fio cada vendedor terá de obter uma licença junto a Secretaria de Indústria, Comércio e Abastecimento (Sica). A Secretaria irá determinar a lista dos produtos que poderão ser comercializados, o horário de trabalho, o número de ambulantes em cada cruzamento, além do uniforme e da identificação. O direito de não ser incomodado no trânsito Na vida agitada das grandes cidades, o tempo gasto no trânsito é um dos momentos mais estressantes do dia. A vontade de chegar rápido para cumprir os compromissos aumenta a ansiedade dos motoristas. Em Guarulhos não é diferente. Suas ruas e avenidas estreitas, o excesso de ônibus, peruas e veículos particulares nas regiões centrais, associados à falta de investimentos no sistema viário, transformam o trânsito em uma verdadeira fonte de nervosismo. Não é só a falta de estrutura urbana que incomoda o motorista. Ao ter de parar seu carro nos cruzamentos mais movimentados, é comum ser abordado por “flanelinhas”, distribuidores de folhetos com propaganda de imóveis, jornais, “vendedores” de balas, chocolates, chicletes, acessórios para celulares, máquinas fotográficas e outros produtos, sem esquecer os voluntários que organizam “pedágios” com faixas de campanha para instituições “filantrópicas”. E mais: a partir de agora até o mês de outubro o espaço será dividido com a distribuição de propagandas políticas. É claro que todos tentam fazer desses cruzamentos importantes “pontos comerciais” para buscar algum rendimento, enfrentando o frio ou o sol, para sobreviver ao desemprego. Mas, o que essa abordagem transmite ao motorista? Ele já anda com os vidros do carro fechados com medo de assaltos e, ao parar no semáforo, vê uma fila de pessoas explorando um ponto comercial que oferece de tudo. Como poderá saber se entre eles não há um assaltante? Como não abrir o coração e colaborar com algumas moedas para quem está ali no frio, se de- clarando desempregado, com família e filhos? Basta observar esses cruzamentos por alguns minutos e verificar o constrangimento, o medo e a revolta no rosto das pessoas. O que fazer? É para resolver esse tipo de problema que a sociedade se organizou e criou uma instituição chamada governo. Nós, cidadãos, contratamos o governo para dar dignidade, qualidade de vida e para zelar pelo bem comum da sociedade. Fazemos isso pagando os impostos recolhidos pelo governo e aplicados de acordo com a vontade popular por meio de políticas públicas. No caso dos cruzamentos, cabe ao governo municipal agir criando condições para tirar as pessoas desses locais, encaminhá-las para programas sociais e de geração de renda, freqüentemente anunciados. Por outro lado, cabe lembrar que o motorista também é cidadão e tem o direito de não ser importunado e de sofrer constrangimentos no trânsito. Por isso, o Código de Trânsito Brasileiro prevê em seus artigos 195, 245 e 254 a proibição aos pedestres de transitarem pelas pistas de rolamento, que além de ilegal, evita acidentes e dá mais segurança a todos. É obrigação do governo municipal fazer cumprir esta lei por meio da autoridade de trânsito que, em Guarulhos, é exercida pelos Guardas Civis Municipais e pela Polícia Militar. Esse é mais um poder que as autoridades já possuem e que pode ser exercido hoje, sem custo algum, prevenindo acidentes, dando mais segurança aos motoristas e mostrando ao povo que não estão nos cruzamentos só para multar. Wilson José Lourenço Junior Vice-presidente de Serviços da ACE