ANÁLISE CRÍTICA DO LIVRO
Ser Professor é cuidar que o aluno aprenda
Referência: DEMO, Pedro. Ser professor é cuidar que o aluno aprenda. Porto Alegre:
Mediação, 2009.
Não sabemos reproduzir a história, ao contarmos uma história, o fazemos na
condição de sujeitos, não de objetos. Interpretamos ao nosso modo, colocando dentro
dela nosso próprio olhar. O aluno aprende se reconstruir conhecimento e não copiá-lo ou
memorizá-lo.
Não fazemos a história que bem queremos, mas aquela possível biológica e
socialmente pode fazer história própria, dependendo da capacidade de aprender.
Aprendizagem implica a forja de sujeitos capazes de história própria, seres
dependentes que são capazes de reconstruir sua independência relativa.
Conhecimento e aprendizagem não são sinônimos, mas são correlatos em vasta
extensão e intensidade e inclui dimensões da subjetividade, afetividade, emoção.
Não existe conhecimento sem sujeito cognitivo, cultural e biologicamente plantado.
Toda teoria é uma reconstrução da realidade e, como toda reconstrução humana,
falível, provisória.
Conhecimento não se reduz a procedimentos ideológicos, porque para conhecer a
realidade, confrontar-se com ela, embora sempre também a deturpemos no processo
interpretativo, o objetivo maior é captar a realidade da maneira mais fidedigna possível.
Conhecimento não é feito para ser guardado, mas para ser dissipado, sempre
refeito, desconstruído e reconstruído e é um processo de construção. Conhecimento
repassado é apenas informação e gera informação.
Aprender e conhecer não são processos reprodutivos, o ser vivo não pode ser
instruído, mas educado.
O aluno que pesquisa não só aprende melhor a reconstruir conhecimento, como
arquiteta sua autonomia no sentido da cidadania ativa cientificamente bem fundamentada.
"##$%& !
'(# &!''' )
* +, -#'&.!#" '
!
+
/
!
0
1
Preocupação em não reproduzir a realidade ou as teorias, mas reconstruí-las, não
nos interessa a memorização de conteúdos até que ponto nossos alunos sabem pensar,
constroem sua autonomia, conseguem pesquisar e elaborar exercita o questionamento,
argumento, fundamentação.
O professor acaba monitorando a memorização de conteúdos nas provas porque
está preso a este procedimento, desde sua formação original. Se quisermos averiguar até
que ponto os alunos progridem no saber pensar, não basta só repensar a avaliação, é
fundamental repensar a escola.
Uma coisa é avançar porque se aprende, outra é ser simplesmente empurrado,
lavando as mãos. Progressão automática instala-se porque é cômoda para todos, escola,
professores e alunos, sem falar nos pais que querem seus filhos aprovados no final do
ano. Inclusão social de hoje em dia está na aprendizagem efetiva, não em fazer de conta.
Cuidar do aluno significa cuidar que aprenda, não apenas que passe de ano.
Os seres humanos não vêm ao mundo como folha branca na qual se pode
escrever qualquer história, nem são entidades predeterminadas, que não permitissem
desenvolver graus de liberdade. Somos dotados de certo equipamento biológico e físico,
além do entorno social, cultural e histórico, o que significa duplo contexto: não podemos
tudo, mas podemos muito.
O professor precisa correr atrás de cada aluno, dedicando-lhe atenção especial,
diferenciada. Não pode continuar em sala de aula fazendo a mesma coisa para todos,
como é o caso da aula rasa. Precisa saber das diferenças, dificuldades para poder
resgatar a chance de cada um.
A escola precisa oferecer oportunidades diferenciadas para os alunos que delas
carecem inclusive ofertas fora do tempo curricular. Educação é fundamental para a
produtividade. Nas escolas públicas reina o ambiente de decadência visível, saber pensar
para produzir mais e melhor.
Para a qualidade da democracia seria urgente resgatar a escola pública, porque é
aí que se trava a batalha da exclusão em 1º lugar. Não se pode ficar apenas com o
“olhômetro”, por mais que o professor tenha experiência, já que, neste caso, não se trata
de experiência, mas de repetência.
Complexidade e politicidade da autonomia humana: autonomia supõe impor-se,
pelo menos no sentido de não permitir que nos façam de massa de manobra, impor-se,
#
"##$%& !
'(# &!''' )
* +, -#'&.!#" '
!
+
/
!
0
1
porém, não esgota a noção de autonomia, porque ainda mais fundamental é a capacidade
de colaborar, cooperar conviver. Convencer sem vencer.
O crescimento de cada aluno, no seu ritmo e contexto pode ser mais fundamental
do que a comparação com outros colegas.
Ser inteligente é saber ver além do superficial divisar o que está oculto, entender o
que não se diz ou quer dizer, surpreender os silêncios e reticências, vasculhar contextos
amplos e contraditórios, sacar lógica da falta de lógica ou falta de lógica na lógica.
Educar é antes de tudo formar para a vida, e é isto que precisamos avaliar para
melhor promover.
Avaliar sempre implica comparar, contrastar, classificar. Na acumulação de
conteúdos esquece-se o mais relevante é o qualitativo, ou seja, em vez de apenas
memorizar conteúdos, saber interpretar, reconstruir.
Comunicar é diferente de influenciar, mas socialmente comparecem entrelaçados
na mesma dinâmica complexa não linear. Perceber diferenças entre os alunos não é
apenas importante é exigência da multiculturalidade. Cidadania busca organizar-se para
reordenar a sociedade para com o bem comum.
O bom educador é quem influência o aluno de tal modo que o aluno não se deixe
influenciar – “Freire”.
Quem sabe pensar não se atrela, quer espaço próprio, exige história própria.
Avaliar está implícito tanto nas pretensões de igualdade quanto de diferenças. A
classificação tem dupla face – uma é aquela que os educadores condenam com razão,
por ser excludente, outra faz parte do negócio. Do ponto de vista pedagógico é crucial
lutar sempre contra laivos classificatórios, porque são profundamente deseducativos.
A democracia não promete acabar com o poder, mas pretende democratizá-lo.
Para avaliar o professor não pode utilizar “olhômetro”, porque o mundo do conhecimento
e do profissionalismo não se constrói á base do “chute”. A nota pode ser idéia
aproximada, expressa em número, da situação do aluno e em particular do que há por
fazer.
O problema não é a nota, mas a cabeça do professor, que deve saber envolver a
nota em contexto pedagógico includente. Estamos habituados a conceber a nota como
mensuração, por vezes direta, do domínio de conteúdos ou da mera memorização. Quem
nota maior sabe mais, este estereótipo precisa ser superado. A nota que interessa não é
2
"##$%& !
'(# &!''' )
* +, -#'&.!#" '
!
+
/
!
0
1
aquela que mede conteúdos, mas aquela que, mesmo sendo um número é chamada a
referenciar o saber pensar.
Do ponto de vista educacional, toda a avaliação é:
• Sempre injusta;
• Sempre incômoda;
• Sempre incompleta;
• Sempre ideológica;
• Facilmente autoritária;
• Facilmente excludente;
• Facilmente humilhante;
• Facilmente insidiosa.
A crítica naturalmente negativa serve para diagnosticar os problemas e apontar
soluções, indicar gargalos para ser superado, revelar desafios a serem enfrentados. É
importante oferecer aulas prazerosas, evitar o cansaço desnecessário, envolver os
alunos.
A busca de autonomia não implica o individualismo, mas principalmente a
capacidade emancipatória igualitária (Demo 2002a). Professor não é dispensável, a não
ser o professor reprodutivo, que só dá aulas reprodutivas. A mídia faz melhor, é
importante que se promova a aprendizagem coletiva, em grupo, cooperativa, sempre mais
complexa e desafiadora que a individual.
É comum o apelo de estudantes que querem trabalhar em grupo, não por razões
de qualidade da aprendizagem, mas porque um faz e os outros olham. É essencial
aprender a trabalhar juntos, o que implica que cada membro do grupo precisa apresentar
contribuição individual elaborada. O trabalho coletivo é muito complicado, não só porque é
difícil orquestrar muitas mãos, mas porque cada membro do grupo precisa funcionar
adequadamente, para compor originalidade individual com exigência coletiva de
cooperação. O projeto coletivo só pode ser a orquestração das contribuições individuais,
não dos vazios individuais. Para salvar a escola pública é crucial que os alunos nela
aprendam bem.
A avaliação é vendida como objetiva, e por isso tanto menos discutível. Na verdade
é a mais discutível de todas, já em sentido pejorativo.
A avaliação:
(
"##$%& !
'(# &!''' )
* +, -#'&.!#" '
!
+
/
!
0
1
1. Reporta-se ao instrucionismo porque é exarada sobre a memorização de
conteúdos estereotipados em algumas alternativas reducionistas;
2. Evita o saber pensar, porque não promove pesquisa e elaboração própria,
habilidade de argumentar, questionar;
3. Supõe ambiente muito estereotipado, a prova é feita em local fechado, vigiado,
com tempo marcado, usando apenas a memória do aluno;
4. Pode surpreender o aluno em dia ruim, em particular em dia de memória mais
volátil, o que pode levar a reprovação, não porque não sabia, mas porque não se
lembrou;
5. Como a prova vem pronta, implica ato autoritário do professor que decide tudo
sozinho, sem deixar para o aluno qualquer reação, a não ser aceitar passivamente
um jogo fechado;
6. Prolifera a cola, em geral única coisa criativa na prova;
7. Reflete o “currículo extensivo” aquele horizontalizado e marcado pelo repasse
pesado de conteúdos, cabendo aos alunos ouvir, anotar e devolver na prova, em
claro contexto de “entupimento” dos alunos.
Se o aluno pesquisa e elabora toda semana, chega ao fim do mês com farto
material próprio, o que substituí facilmente a prova. O aluno aprender a pesquisar, no
sentido de iniciar-se na construção própria de conhecimento, ele também cultiva sua
cidadania, à medida que a autonomia emancipatória começa a aparecer. Esta
habilidade formal e política podem ser visualizadas, em termos de avaliação, jamais
pela prova ou coisas parecidas, mas pela produção própria, condensada em relatórios
de campo, formatação de instrumentos de coleta e manejo de dados, relatório de
dados, estudo sistemático do quadro teórico de referência, momentos de prestação de
contas.
O verdadeiro “milagre” do professor é conseguir que seu aluno saiba pensar, tornese cidadão autônomo, cresça em seu processo emancipatório, aprende a confrontarse com a realidade, desconstrua e reconstrua conhecimento.
O foco da avaliação precisa ser retirado da prova. Avalia-se para garantir o direito
de aprender. Tudo que existe em sala de aula não passa de “material de pesquisa”,
que deve ser conduzido pelo aluno na condição de sujeito e não de objeto.
.
"##$%& !
'(# &!''' )
* +, -#'&.!#" '
!
+
/
!
0
1
A apostila não pode ser tudo que o aluno tem a aprender, mas é apenas referência
de pesquisa. O aluno não vem para a escola escutar aula, vem para reconstruir
conhecimento e arquitetar sua cidadania integral (corporal, emocional e espiritual).
O desafio do professor é de provocação, orientação, instigação, sobretudo de
“cuidado”. Em vez de abjurar a avaliação, seria o caso aprimorar sistematicamente a
habilidade avaliativa, sob todos os ângulos: saber observar o aluno como um todo;
desenvolver a mirada penetrante do professor que sabe ler a alma do aluno; usar a
maneira inteligente todos os instrumentos disponíveis de avaliação quantitativa e
qualitativa; participar como parceiro mais velho do ambiente da aprendizagem, agindo
não como instrutor, mas como educador; ganhar a confiança dos alunos, a ponto de o
relacionamento reverter-se em autonomia deles, não de tutela; provocar ambiente de
trabalho produtivo, sem perder o sentido lúdico e do envolvimento, estudar com afinco
as dificuldades de aprendizagem, saber motivar, desafiar os alunos, estudar sempre
para poder oferecer aos alunos o que há de melhor e mais avançado no
conhecimento.
É sempre uma boa idéia começar o semestre ou o ano com uma semana de
avaliação, para podermos ter clareza sobre a condição de cada aluno. Os alunos
precisam perceber, com a maior clareza possível, que se trata de cuidar de sua
aprendizagem, não de estigmatizá-los e humilhar.
Na 1º série teria que estar o professor mais bem formado e mais bem pago. É
ingente a tarefa deste professor. Dificilmente haveria profissão mais estratégica.
ANÁLISE CRÍTICA
O autor desenvolveu o tema com argumento, propriedade fundamentada em
leituras pertinentes ao assunto.
O professor deve transformar o conhecimento em aprendizagem construindo
e reconstruindo e não reproduzindo conhecimento.
Em seu livro cita que os seres humanos são capazes de fazer sua própria história
fundamentada em aprender com dinamismo e apropriação do conhecimento. Para
aprender é necessário interpretar a realidade do modo mais fiel possível; aprender não
significa reproduzir informações e sim produzi-las.
&
"##$%& !
'(# &!''' )
* +, -#'&.!#" '
!
+
/
!
0
1
Numa aprendizagem efetiva utiliza-se a metodologia científica, ou seja,
desenvolver temas através de pesquisas. A metodologia científica faz com que o aluno
construa e reconstrua o conhecimento, pratique a cidadania com autonomia e
fundamentação.
Os professores não foram preparados para trabalhar com o desenvolvimento dos
alunos e sim com a memorização dos conteúdos. É preciso que haja uma
transformação no processo de aprendizagem, onde os professores desenvolvam um
trabalho diferenciado para cada aluno, pois não são iguais e suas histórias são
variadas.
Os alunos devem ser preparados para pensar criticamente e ter autonomia para
reconstruir sua própria história. A avaliação deverá extrair o melhor do aluno e
professor caminhando para a apropriação da aprendizagem visando a evolução do ser
humano.
No livro o autor abomina as conseqüências da avaliação, porém se a avaliação for
utilizada estrategicamente, tanto o aluno quanto o professor terão resultados
satisfatórios e eficazes de uma efetiva aprendizagem. O professor não deve ficar
limitado somente a um tipo de avaliação, pois restringe o conhecimento e a
aprendizagem.
Em minha opinião o autor foi assertivo na maioria das suas colocações, ficou claro
que o processo de aprendizagem deve ser reconstruído e trabalhado para resultar em
conhecimento positivo e evolutivo na vida das pessoas. A questão da avaliação foi
muito radical e pontual, não citando os exemplos satisfatórios que decorrem dos
variados tipos de avaliação, onde os critérios são bem claros e definidos.
Simone Balsamo é Coordenadora de Atividades
Pedagógicas da Escola SENAI
“Oscar Rodrigues
Alves”, possui o Curso Técnico em Cerâmica no
SENAI, Graduação em Química e Física na Fundação
Santo
André,
Complementação
Pedagógica
na
UNIABC e Pós-graduação em Psicopedagogia na
PUC-Campinas.
%
"##$%& !
'(# &!''' )
* +, -#'&.!#" '
!
+
/
!
0
1
Download

ANÁLISE CRÍTICA DO LIVRO