Doenças Conheça o HPV e saiba como não ser vítima dele Uma das manifestações do vírus HPV (papilomavírus humano) é o câncer Getty Images de colo uterino, uma das doenças que mais preocupam as mulheres e que corresponde a 24% dos cânceres femininos. Atualmente, existem mais de 200 tipos de HPV conhecidos, embora nem todos estejam relacionados a tumores malignos - alguns causam verrugas genitais, por exemplo. » Quase 60% das mulheres não sabem que idade eleva risco de câncer » Você já teve algum problema relacionado ao HPV? Comente sua experiência » Chat: tecle sobre o assunto De acordo com Fábio Franco, presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Universitário, em São Paulo, de 75% a 80% das pessoas sexualmente ativas terão o HPV antes dos 50 anos, mas somente 10% delas irão manifestar alguma doença. "O comportamento biológico do vírus é totalmente imprevisível, não se sabe se vai haver manifestação, ou como será essa manifestação", explica. "Depende muito da característica e tipo do vírus, e também de como o sistema imunológico do indivíduo vai reagir." "A mulher que não manifestar o HPV pode eliminá-lo naturalmente num período de 8 a 12 meses. Das que possuem o vírus, menos de 10% vai desenvolver o câncer de colo de útero", completa a ginecologista Elza Minoria das mulheres com HPV Mieko Fukazawa, do Hospital A.C. Camargo. Mesmo assim, é necessário desenvolvem câncer do colo uterino, fazer exames periodicamente para prevenir a evolução da doença. mas é necessário fazer exames periódicos Transmissão A principal forma de transmissão do papilomavírus humano é pelo contato sexual. Apenas o contato genital já é suficiente, não precisa nem ter troca de fluidos, como no caso de outros agentes. A transmissão pode ser vaginal ou anal. A gestante infectada também pode transmitir o vírus para o feto na hora do parto. Prevenção É importante ressaltar que não há uma maneira 100% eficaz de prevenir a contração do vírus HPV. O que os médicos recomendam é sempre o uso da camisinha, que diminui as chances de adquirir o vírus. "Ela impede a infecção no colo do útero e na vagina, mas não protege a vulva", alerta Elza. Outra medida preventiva seria reduzir o número de parceiros sexuais. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), existe no mercado americano uma vacina quadrivalente, ou seja, que previne contra quatro tipos de vírus: os tipos chamados 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais; e os 16 e 18, de alto risco de câncer do colo uterino e presentes em 70% dos casos. É preciso tomar a Gardasil, como é chamada, antes de contrair o vírus, senão sua eficácia é anulada. "A vacina é altamente eficiente", garante Franco, "mas até agora não se sabe por quanto tempo dura o seu efeito". Sabe-se que a vacina protege por cinco anos pelo menos, mas testes ainda estão sendo realizados para se ter uma precisão maior. O infectologista cita uma segunda vacina, chamada Cervarix, que é utilizada na Austrália para os tipos 16 e 18, mas ainda não é comercializada mundialmente. A vacina faz o organismo produzir anticorpos contra esses quatro tipos específicos do papilomavírus humano deixando-o imune ao vírus, se infectado posteriormente. São necessárias três doses para o Gardasil surtir efeito: uma no primeiro mês, outra depois de 2 meses, e outra no sexto mês. O custo é de aproximadamente R$ 390 por dose, e é aconselhado apenas para mulheres na faixa dos 16 aos 23 anos. Ele está disponível em algumas clínicas de vacinação do Brasil. Franco também lembra a importância dos exames preventivos para detectar a infecção em um estágio ainda inicial, como o papanicolau, que detecta presenças de células com alterações que podem sugerir um câncer. Outro método é o teste por hibridização ou de biologia molecular, que consiste em colher material local e detectar se há presença de DNA de vírus agressivos. E como a manifestação de doenças depende do sistema imunológico do indivíduo, Elza afirma que uma dieta equilibrada e a prática de atividades físicas ajudam o organismo a melhor se defender. No caso dos homens, uma visita ao urologista é altamente recomendada para exames de peniscopia (visualização do pênis por uma lente de aumento) e o teste de biologia molecular. Tratamentos Se mesmo tomando todos esses cuidados a mulher contrai o HPV - o Inca cita que aproximadamente 25% das mulheres brasileiras estejam infectadas pelo vírus -, há algumas formas de tratar as doenças, caso se manifestem. No caso dos cânceres, pode-se optar pela cauterização química, a retirada da lesão (exerese) ou o tratamento a laser, além da quimioterapia, dependendo do estágio em que o problema for detectado. A ginecologista Elza Fukazawa explica que o laser e a cauterização são indicados para lesões na vulva e na vagina. Já para o colo do útero, em alguns casos é melhor a conização (retirada de parte do colo). Para as verrugas genitais, ou condilomas, Elza enumera diversas técnicas possíveis. "Haver muitas modalidades indica que nenhuma é muito eficiente. Vai depender mais da habilidade do médico e das dimensões da verruga", sugere. É possível fazer tratamento a laser, eletrocoagulação, retirada cirúrgica da área afetada, uso de medicamentos aplicados no local e até a crioterapia (baseada no resfriamento da lesão). HPV e doenças Os papilomavírus humanos podem causar diversas complicações. A mais grave delas é o câncer de colo uterino, mas há também o câncer anorretal e no pênis (esse último tem índice de incidência muito pequeno). Outros problemas comuns são as verrugas ou condilomas. As verrugas genitais são popularmente chamadas de "crista de galo". Algumas lesões de pele, laringe e esôfago também já foram constatadas, mas são muito raras. Os cânceres progridem lentamente, levando de meses a anos, por isso os exames dão a chance de detectá-los e tratá-los ainda em um estágio inicial, com mais chances de recuperação. Aliás, por não serem visíveis a olho nu, é necessário um exame ginecológico com microscopia para identificá-los. Quando em um estágio avançado, pode causar sangramento e dor e é praticamente incurável, segundo Franco. O câncer anorretal, decorrente principalmente do contágio do HPV pela penetração anal, pode ser identificado por exames retais anuais e exames locais com microscopia. Seus sintomas são dores, desconforto local e sangramento. Alguns fatores que favorecem a evolução de cânceres por causa do HPV são: número elevado de gestações, uso de contraceptivos orais, tabagismo, infecção pelo HIV (que resulta em um fragilizado sistema imunológico) e outras doenças sexualmente transmissíveis, como herpes e clamídia. Os tipos de HPV mais propensos a evoluírem para câncer são os 16, 18, 31, 33, 45, 58 e outros considerados de alto risco, ou seja, que têm probabilidade maior de persistir e estar associados a lesões pré-cancerígenas. As verrugas, por sua vez, podem aparecer na vulva exterior, vagina, reto, pênis, colo do útero e ânus, mas geralmente não evoluem para outras complicações maiores Serviço: Hospital Universitário da USP www.hu.usp.br Hospital A.C. Camargo www.accamargo.org.br Instituto Nacional de Câncer www.inca.gov.br