CONTROLO DO TREINO DA RESISTÊNCIA O TESTE DA VELOCIDADE AERÓBIA MÁXIMA A avaliação e controlo é algo fundamental no processo de treino. Saber se o atleta está ou não a caminhar no caminho que pretendemos, só é possível a partir da análise das respostas que o mesmo dá, quer em treino quer em competição. As respostas que o atleta fornece em competição são geralmente a melhor forma para avaliar o trabalho desenvolvido. No entanto, em treino, um teste que permita avaliar e prescrever o trabalho a realizar pode tornar-se muito mais útil. Um dos testes de fácil aplicação e que permite prescrever o trabalho de resistência a desenvolver para qualquer intensidade, é o teste da Velocidade Aeróbia Máxima. Para que se possa perceber o teste devemos, primeiro ter a noção das diferentes zonas de treino ou intensidades de trabalho para desenvolvimento da Resistência. Assim, ainda que a intensidade possa ser definida em função da Velocidade de deslocamento, da Frequência Cardíaca por minuto, ou ainda mediante escalas de valores empíricos subjectivos, considerando os valores de lactato e o sistema energético solicitado, Verdugo, M. (1997) define as seguintes zonas de intensidade: 1. Zona aeróbia regenerativa ( até 1.5mmol/l de lactato no sangue) 2. Zona de transição aeróbico-anaeróbica (entre 1.5 e 4 mmol/l; estabelecem-se aqui 3 subníveis: 2.1. Aeróbio 1 (entre 1.5 -2.5 mmol/l) 2.2. Aeróbio 2 (entre 2.5 -3.0 mmol/l) 2.3. Aeróbio 3 (entre 3.5 -4.0 mmol/l) 3. Zona mista (entre 4 e 7-8mmol/l e entre o limiar anaeróbio - LA e o VO2máximo ou Potência aeróbia máxima; pode corresponder à velocidade aeróbia máxima VAM). Nesta zona trabalham o metabolismo aeróbio e anaeróbio láctico. 4. Zona láctica - Acima do VO2máx. (entre 7-8 mmol/l e 22 ou as possibilidades que o indivíduo tiver). Estabelecem-se aqui 2 subníveis: 4.1. Láctico 1 (entre 7-8 e 12-13mmol/l) 4.2. Láctico 1 (entre 12-13 e +20 mmol/l) 5. Zona aláctica - para exercícios de intensidades máximas com recurso ao sistema energético ATP-CP. Para que se possam perceber estes níveis de intensidade, em termos de corridas corresponderiam a ritmos e intensidades empregues nas seguintes provas: zona 1 2 3 4 5 Ritmo empregue Maratona 5 000 a 1/2 maratona 1500m a 5 000m 400 e 800m 100m Após esta definição, vejamos como efectuamos o cálculo da Velocidade aeróbia máxima. Teste de Velocidade Progressiva para cálculo da Velocidade Aeróbia Máxima - VAM (Verdugo, 1997) Este teste tem por objectivo principal obter a VAM. Uma vez obtido este dado é possível estabelecer de forma muito aproximada os diferentes níveis de intensidade mediante obtenção de percentagens por baixo ou por cima deste. Está baseado na correspondência linear entre a FC e a velocidade de deslocamento mediante prestações aeróbias (Lacour 1987 citado por Verdugo1997). Após um breve aquecimento faz-se correr o atleta, numa pista de 400m, a velocidades preestabelecidas e constantes, para cada patamar, até ao momento em que não possa continuar a incrementar a velocidade. Vamo-nos basear no 1º estádio em que alcança a sua FC máxima, para obter os diferentes níveis em função das percentagens deste parâmetro. Em cada um dos estádios apontaremos a FC valendo-nos do cardiofrequencimetro, de preferência os que gravam os dados. Para ajudar o atleta a correr a velocidades determinadas e de forma regular, são de grande ajuda as referências intermédias, pelo que é interessante colocar sinais em cada 50m e fazer coincidir a sua passagem por estes com um sinal auditivo 200 250 150 Circuito para Teste V. Progressiva 100 50 300 350 400 predeterminado (apitando quando coincidam os tempos parciais para os quais o desportista deve passar na referência correspondente). Na realização deste teste de forma contínua (anotando os dados no final), Verdugo propõe 3 tabelas com tempos de passagem nas referências referidas. Para realização de cada tabela é tomado em consideração o nível dos atletas. Vejamos o exemplo de uma dessas tabelas: Volta Tempo 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª Refer. Refer. Refer. Refer. Refer. Refer. Refer. Refer. 01:45 00:13.1 00:26.3 00:39.4 00:52.5 01:05.6 01:18.7 01:31.9 01:45.0 01:40 01:57.5 02:10.0 02:22.5 02:35.0 02:47.5 03:00.0 03:12.5 03:25.0 01:35 03:36.9 03:48.8 04:00.6 04:12.5 04:24.4 04:36.3 04:48.1 05:00.0 01:30 05:11.3 05:22.5 05:33.8 05:45.0 05:56.3 06:07.5 06:18.8 06:30.0 01:25 06:40.6 06:51.2 07:01.9 07:12.5 07:23.1 07:33.7 07:44.4 07:55.0 01:20 08:05.0 08:15.0 08:25.0 08:35.0 08:45.0 08:55.0 09:05.0 09:15.0 01:16 09:24.5 09:34.0 09:43.5 09:53.0 10:02.5 10:12.0 10:21.5 10:31.0 01:12 10:40.0 10:49.0 10:58.0 11:07.0 11:16.0 11:25.0 11:34.0 11:43.0 01:10 11:51.7 12:00.5 12:09.3 12:18.0 12:26.8 12:35.5 12:44.3 12:53.0 01:08 13:01.5 13:10.0 13:18.5 13:27.0 13:35.5 13:44.0 13:52.5 14:01.0 01:06 14:09.2 14:17.5 14:25.7 14:34.0 14:42.2 14:50.5 14:58.7 15:07.0 01:04 15:15.0 15:23.0 15:31.0 15:39.0 15:47.0 15:55.0 16:03.0 16:11.0 01:02 16:18.7 16:26.5 16:34.2 16:42.0 16:49.7 16:57.5 17:05.2 17:13.0 01:00 17:20.5 17:28.0 17:35.5 17:43.0 17:50.5 17:58.0 18:05.5 18:13.0 00:58 18:20.2 18:27.5 18:34.7 18:42.0 18:49.2 18:56.5 19:03.7 19:11.0 00:56 19:18.0 19:25.0 19:32.0 19:39.0 19:46.0 19:53.0 20:00.0 20:07.0 00:54 20:13.7 20:20.5 20:27.2 20:34.0 20:40.7 20:47.5 20:54.2 21:01.0 00:52 21:07.5 21:14.0 21:20.5 21:27.0 21:33.5 21:40.0 21:46.5 21:53.0 00:50 21:59.2 22:05.5 22:11.7 22:18.0 22:24.2 22:30.5 22:36.7 22:43.0 00:48 22:49.0 22:55.0 23:01.0 23:07.0 23:13.0 23:19.0 23:25.0 23:31.0 Tabela dos tempos parciais para o Teste de velocidade Progressiva (contínuo). Patamares de 400m com referências cada 50m. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Após a saída do atleta, coloca-se o cronómetro a funcionar, o atleta pulsa o relógio do cardifrequêncimetro cada vez que passa pela meta (400m), a fim de deixar gravados os valores de FC e tempos correspondentes a cada patamar (volta). O comportamento do atleta (evolução da FC) deverá ser o seguinte: Teste de Velocidade Progressiva Fc (p/min.) 190 170 150 130 110 90 70 00:00 02:00 04:00 06:00 08:00 10:00 12:00 14:00 16:00 Tempo (min.) Evolução da FC ao longo do teste progressivo de corrida (os registos de cada patamar podem ser verificados em anexo) Todos os pontos originam uma linha ascendente até à FC máxima. Mesmo que o atleta siga aumentando o ritmo, se a FC estabilizar e não aumentar mais, este momento é onde se obtém a velocidade aeróbia máxima (VAM) (Lacour 1989 citado por Verdugo 1997). Uma vez obtido este dado (VAM), como nos sugere o professor Verdugo, é uma questão de calcular os tantos por cento para que se possam estabelecer os níveis de intensidade de treino. Assim sendo, os valores a considerar para os diferentes níveis são os seguintes (valores adaptados a cada atleta, modificado a partir de Verdugo 1997): Aeróbio extensivo = 65% da VAM (obtém-se pela formula Aer1=VAMx0,65) Aeróbio médio = 75% da VAM (obtém-se pela formula Aer2=VAMx0,75) Aeróbio intensivo = 85% da VAM (obtém-se pela formula Aer3=VAMx0,85) Misto = 100% da VAM (obtém-se pela formula Misto=VAM) Láctico extensivo = 115% da VAM (obtém-se pela formula Láctico 1=VAMx1,15) Láctico intensivo = 130% da VAM (obtém-se pela formula Láctico 2=VAMx1,30) Desta forma, para um atleta que conseguiu realizar 10 voltas no teste, tendo obtido uma FC de 191ppm, teremos os seguintes ritmos de trabalho por Km e respectivas FC (valores orientadores): Aeróbio 1 até 65% da VAM - Ritmo entre 4.25 e 4.30/Km e FC abaixo de 145 Aeróbio 2 entre 70 e 75% da VAM - Ritmo entre 3.50 e 4.00/Km e FC entre 150 e 165 Aeróbio 3 entre 75 e 85% da VAM - Ritmo entre 3.20 e 3.45/Km e FC entre 165 e 175 Misto entre 85 e 100% da VAM - Ritmo entre 2.50 e 3.20/Km e FC entre 175 e 192 Láctico extensivo entre 100 e 115% - Ritmo entre 2.30 e 2.50/Km a FC não intervém Láctico intensivo ritmo a definir consoante os objectivos Artigo publicado na revista O Atletismo em Rio Maior Miguel, P. (2002) Controlo do Treino da Resistência – O Teste da Velocidade Aeróbia Máxima. O Atletismo em Rio Maior, 4, Mar/Abr., 12-17.