Martins MJQA, Pecinalli NR, Sixel PJ
Artigos de
Pesquisa
CÁLCULOS
DE GOTEJAMENTO:
VALID
ADE DAS FÓRMULAS E
ALIDADE
COMP
ARAÇÃO ENTRE EQUIPOS
COMPARAÇÃO
DRIPPING CALCULA
TIONS:
ALCULATIONS
VALIDITY OF FORMULAS
AND COMP
ARISON
AMONG
FL
USHING TUBES
COMPARISON
FLUSHING
Maria José Queiroz Alvarenga Martins*
Ney Roner Pecinalli, MS**
Paulo José Sixel, MS***
RESUMO: Para calcular a velocidade de uma infusão venosa usando-se equipos, a fórmula mais
utilizada pela enfermagem considera que em 1 ml existem 20 gotas, mas existem referências que trazem
uma fórmula considerando que em 1 ml existem apenas 15 gotas. Este trabalho teve como objetivo
principal confrontar essas duas fórmulas quanto à validade de seus resultados e comparar, através de
medidores de precisão, a equivalência do número de gotas por mililitro entre os principais equipos
usados na cidade do Rio de Janeiro. Foi realizado, em 2002, levantamento bibliográfico para estabelecimento de fundamentação envolvendo tais fórmulas. Em seguida, foram analisadas oito unidades de cada
uma das 10 marcas mais usadas no município com relação ao número de gotas/ml e estes dados tratados
estatisticamente. Os resultados obtidos revelaram uma diferença de até 37% entre as marcas, de 1 ml =
14,62 ± 2,2 gotas até 1 ml = 23,2 ± 1,5 gotas.
Palavras-chave: Cálculo de gotejamento; equipo de infusão; fórmula de gotejamento; infusão venosa.
ABSTRACT
ABSTRACT: In the administration of intravenous solutions, exact dosages should be managed. To
calculate the infusion speed using flushing tubes, the nursing most frequently used formula considers that
in one ml exist 20 drops. However, there are some references that bring a formula considering that in one
ml exist only 15 drops. The main goal of this work has been to confront these two formulas regarding to
the validity of their results, and to compare, by the use of precision meters, the number of drops/ml among
the flushing tubes most commonly used in the city of Rio de Janeiro. In 2002, a bibliographic research
about the theoretical basis of such formulas was accomplished. Subsequently, eight units of each one of
the ten brands most used in the city were analyzed with regard to the number of drops/ml, and the
resulting data were submitted to statistical treatment. The results revealed a difference of up to 37%
among the brands, with a variation from 14.62 ± 2.2 to 23.2 ± 1.5 drops/ml.
Keywords: Dripping formula; dripping calculation; intravenous infusion; flushing tubes.
I NTRODUÇÃO
A expectativa média de vida de um ser
humano é influenciada por vários fatores
endógenos e exógenos, pois, de um lado, existem
aqueles que a reduzem e, de outro, aqueles que a
aumentam. Observa-se claramente que o aumento da expectativa de vida de uma população está
diretamente relacionado com a qualidade de vida
da mesma1. Na tentativa de melhorar tal quali-
dade, o combate às patologias apresenta diversas
medidas terapêuticas, e entre elas podemos ressaltar o uso dos farmacos que, quando corretamente utilizados, funcionam como ferramentas
muitas vezes insubstituíveis no tratamento, prevenção, cura e diagnóstico de patologias2 .
No século XVII, Cristopher Wren, utilizando uma pena ôca de ave, introduziu ópio em um
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Validade das fórmulas de gotejamento
vaso venoso de um cão, levando a efeitos imediatos 3. . A partir de então, com a evolução
tecnológica, esta técnica também evoluiu, vindo
a ser importante recurso terapêutico, muitas vezes imprescindível na garantia de vida do paciente. Apesar da criação de muitos dispositivos, à
filosofia de injetar medicamentos diretamente no
meio interno foi mantida.
A terapia intravenosa em vasos venosos periféricos faz parte da assistência ao paciente e fica
sob os cuidados da enfermagem, inclusive quanto à decisão sobre a escolha de locais e tipos de
equipamentos a serem utilizados. A administração de medicamentos, legalmente outorgada ao
profissional de enfermagem e aos membros de sua
equipe sob sua supervisão, é uma das suas atribuições de maior responsabilidade4. Desse modo,
a competência técnico-científica do enfermeiro
nessa atribuição é cada vez mais exigida.
As maiores inovações nos equipos de infusão venosa estão relacionadas às características ser descartável e ter maior precisão na regulagem
do fluxo da solução a ser infundida, pontos importantes na terapia de drogas e eletrólitos. Os
equipos mais simples, existentes ainda hoje, dispondo de câmara dispensadora de gotas, calibradas para 20 ou 40 gotas por mililitro, foram de
grande importância na história dos procedimentos terapêuticos. Posteriormente, foram desenvolvidos equipos especiais para administração de soluções que exigem rigoroso controle do fluxo de
infusão. Esses equipos, diferindo do equipo simples por liberar a solução em microgotas, possibilitam um fluxo constante com acréscimo mínimo
de fluido no organismo, e têm grande aplicação
em pediatria e em pacientes com a restrição de
líquidos.
O advento dos controladores eletrônicos de
fluxo e as atuais bombas de infusão, providas de
sinalizadores tipo alarme que monitoram a terapia
intravenosa detectando eventuais falhas, foram particularmente importantes dentro deste contexto.
Considerando que a enfermagem trabalha
com dosagens precisas, a alteração do volume infundido pode influenciar a biodisponibilidade e a
latência de um farmaco e até mesmo a volemia
do paciente. Para calcular a velocidade de infusão usando-se equipos, é importante saber que
esta depende do diâmetro do conta-gotas do equipo. Assim, quando os equipos apresentam diâmetros diferentes no conta-gotas, a quantidade de
gotas para formar um mililitro também será.
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Para infundir uma solução por via venosa, a
fórmula mais utilizada pela enfermagem para calcular o número de gotas é:
Esta fórmula considera que no volume de 1
ml existem 20 gotas, e doravante será chamada
fórmula-A. Esta é ensinada ao estudante de enfermagem na graduação, aceita em concursos com
apoio em diversos autores5,6,7,8.
Nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática.9 Assim, na condição de acadêmica de enfermagem, foi observado que ao aplicar a fórmula-A corretamente e analisar atentamente a infusão, em muitas vezes a administração
do volume total não ocorria no tempo esperado.
Vale registrar que, cursar a disciplina de
Farmacologia-V, foi utilizada apostila que apresentava duas fórmulas para calcular o
gotejamento, a já citada fórmula-A e a fórmulaB, apresentada a seguir, que pressupõe a existência de 15 gotas em 1 ml.
Esta, apesar de pouco conhecida pela enfermagem, também é indicada como padrão de cálculo de infusão por outros autores10,11,12.
Constatou-se, então, a existência destas
duas fórmulas que, por serem diferentes, quando aplicadas em situações semelhantes, produzem resultados também diferentes. Em um exemplo, considerando a infusão de 500 ml em 24
horas, o número de gotas a ser infundido ao usar
a fórmula-A será @ 6,9 gotas, e usando-se a fórmula-B será @ 5,2 gotas.
Outros autores aconselham que, para calcular a velocidade do fluxo de infusão, deve-se
verificar o número de gotas por ml impresso no
equipo, o qual varia de acordo com os dispositivos comercializados13,14,15.
Frente às diferenças de equipos e ao fato de
que cada autor cita apenas uma fórmula como
padrão, tornaram-se necessários estudos comparando essas fórmulas, confrontando seus resultados às referências e também uma análise dos
Martins MJQA, Pecinalli NR, Sixel PJ
equipos mais utilizados para a verificação do número de gotas que dispensam e equivalem a 1 ml.
Os objetos desta pesquisa foram: fórmulas para
cálculo de gotejamento; equipos: graduados em
gotas/ml.
O objetivo geral deste estudo é : confrontar,
as duas fórmulas para cálculo de gotejamento das
infusões venosas. São objetivos específicos: comparar, através de medidores de precisão, a equivalência do número de gotas por ml entre os principais equipos usados no Rio de Janeiro; e
correlacionar os resultados obtidos com os equipos
à fórmula-A e à fórmula-B.
METODOLOGIA
Inicialmente, foi realizado levantamen-
to bibliográfico para estabelecimento da fundamentação envolvendo as fórmulas para
gotejamento de soluções em infusão venosa. As
duas principais fórmulas foram confrontadas estabelecendo-se as diferenças obtidas com o resultado da aplicação de ambas, tendo como padrão o cálculo para a infusão de 1 ml de solução e
o número de gotas em um minuto.
Em uma segunda etapa, foram adquiridos nos
meses de maio e junho de 2002, nas principais
distribuidoras de material hospitalar da cidade do
Rio de Janeiro, os equipos de dez fabricantes diferentes utilizados pela maioria dos hospitais. Por
exigência da técnica estatística, foram adquiridas oito unidades de cada fabricante, totalizando
80 equipos. A seguir, no Laboratório de
Etnofarmacologia e Produtos Naturais do Instituto Biomédico da Universidade Federal
Fluminense foi realizada medição através de câmara de precisão para determinar, em cada equipo, quantas gotas equivaliam a um mililitro. Os
resultados obtidos foram analisados estatisticamente através de análise simples de variância
(ANOVA) paramétrica por Student-NewmanKeuls, sendo apresentados em Média ± Erro Padrão e considerados significativos aqueles onde P
< 0.05, e depois confrontados às duas fórmulas.
APRESENT
AÇÃO
PRESENTAÇÃO
RESUL
TADOS
ESULT
E
DISCUSSÃO
DOS
No confronto entre a fórmula-A, que con-
sidera que no volume de 1 ml existem 20 gotas
citada por diversos autores6,7,8, e a fórmula-B, que
considera a existência de 15 gotas no volume de
1 ml, sendo também indicada como padrão de cálculo de infusão10,11,12, foram obtidos resultados diferentes.
Ao usar um volume hipotético qualquer, e
fixar o número de gotas/min, foi demonstrado que,
usando a fórmula-A, o mesmo foi infundido em
média 25% mais lentamente que quando se utilizou a fórmula-B (fig. 1). Já quando se fixou um
determinado gotejamento em um período de tempo hipotético, o volume infundido utilizando-se
a fórmula-A foi aproximadamente 25% menor que
o volume infundido utilizando a fórmula-B (fig.2).
Essas diferenças de 25% podem ser nocivas,
levando a efeitos indesejáveis como aumento da
pressão arterial, da pressão venosa e edema pulmonar, principalmente em bebês e pacientes idosos com insuficiência cardíaca ou renal. Além da
sobrecarga circulatória, também pode ocorrer a
sobrecarga medicamentosa, levando a concentrações tóxicas da droga no organismo.
Quando a infusão ocorre muito lentamente
ou quando esta termina antes do tempo determinado, a concentração plasmática da droga dimi-
Figura 1: Comparação entre as fórmulas A e B, com utilização de volume e
gotejamento hipotéticos fixos (1000 ml a 10 gotas/min). Niterói - 2002
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Validade das fórmulas de gotejamento
FIGURA 2: Comparação entre as fórmulas A e B, com utilização de tempo e
gotejamento hipotéticos fixos (24 h a 10 gotas/min). Niterói - 2002
nui, não obtendo o efeito terapêutico desejado e
prejudicando o tratamento, principalmente em
casos de antibioticoterapia onde o agente que se
quer combater desenvolve resistência ao antibiótico utilizado.
Entre as 10 marcas de equipos adquiridos,
apenas duas apresentavam impresso em sua embalagem o número de gotas que equivalem a um
ml, estes consideraram que 20 gotas equivaleriam a 1 ml ± 0,1ml.
Considerando autores que aconselham que,
para calcular a velocidade do fluxo de infusão,
deve-se verificar o número de gotas por ml impresso no equipo13,14,15, podemos afirmar que esta
prática não vai ser possível, já que a maior parte
dos equipos comercializados não traz impressa tal
informação.
Outro fator relevante é a margem de erro
aceita pelos dois fabricantes que informaram a
equivalência gotas/ml. Sendo tal margem de 10
%, o que em um paciente que receba em 24 h por
exemplo 2000 ml, pode significar 200 ml para mais
ou para menos, volume este que não pode ser considerado pequeno.
Na figura-3, podemos observar que a diferença entre a marca em que 1 ml equivale a um
menor número de gotas (14,62) e a marca em que
equivale a um maior número de gotas (23,2) foi
de aproximadamente 37 %.
Quando comparados à fórmula-A, foi observado que cinco das dez marcas apresentaram
diferença significativa entre o número de gotas
que realmente equivaliam a 1 ml e ao número
de gotas considerado pela fórmula-A (1 ml=20
FIGURA 3:
3 Comparação entre equipos de dez fabricantes diferentes, barras obtidas da média entre oito
equipos de cada fabricante. Niterói,2002.
* Diferença significativa (P < 0,05) quando comparada à fórmula-A.
X Diferença significativa (P < 0,05) quando comparada à fórmula-B.
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gotas). Já ao serem comparados com a fórmula-B,
que considera 1 ml com 15 gotas, sete das marcas
testadas apresentaram diferença significativa.
Ficou constatado que existe no mínimo 50
% de risco de erro quando é aplicada qualquer
uma das fórmulas de gotejamento, sem conhecimento da equivalência do número de gotas/ml
naquele equipo usado, já que a maioria das embalagens não traz impressa tal informação.
Foi evidenciado também que a margem de
erro entre equipos de um mesmo fabricante em
alguns casos foi muito alta, revelando um baixo
controle de qualidade desses produtos.
C ONCLUSÕES
Após a realização do trabalho e análise
dos resultados podemos concluir que:
As fórmulas apresentam cerca de 25 % de diferença, podendo levar a riscos para os pacientes.
Os equipos de marcas diferentes apresentam
uma variação de 14,62 a 23,2 na equivalência gotas/ml.
É imprescindível que médicos e enfermeiros
conheçam as duas fórmulas e não apenas uma delas, e que, nas universidades, estudantes dos respectivos cursos recebam orientação sobre sua existência.
Os fabricantes devem informar na embalagem de cada equipo a equivalência gotas/ml, e
também devem investir em mais qualidade para
diminuir a margem de erro entre equipos de uma
mesma marca.
Recomenda-se a padronização dos conta-gotas dos equipos, para que uma gota tenha sempre
o mesmo volume. Sendo este volume padronizado, poderíamos estabelecer a melhor fórmula para
cálculo de gotejamento, pois quando se administra medicamentos por via venosa contínua não se
pode admitir falhas grosseiras, espera-se precisão
de dosagem para a eficácia terapêutica e a segurança do cliente.
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R Enferm UERJ 2003; 11:133-8.
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Validade das fórmulas de gotejamento
CÁLCULOS
DE
GOTEO:
VALIDEZ DE LAS FÓRMULAS Y COMP
ARA
CIÓN ENTRE EQUIPOS
COMPARA
ARACIÓN
RESUMEN: Para calcular la velocidad de una infusión intravenosa usándose equipos, la fórmula más
usado por la enfermería considera que en 1 ml existen 20 gotas, pero hay referencias que presentan una
fórmula considerando que en 1 ml existen sólo 15 gotas. Este trabajo ha tenido como principal objetivo,
confrontar esas dos fórmulas cuanto a la validez de sus resultados y comparar a través de medidores de
precisión, la equivalencia del número de gotas por mililitro entre los principales equipos utilizados en la
ciudad de Río de Janeiro - Brasil. Fue cumplido, en 2002, inventario bibliográfico para establecimiento
de una base involucrando tales fórmulas. En seguida, fueron analisadas ocho unidades de cada una de
las 10 marcas más empleadas en el municipio respecto al número de gotas/ml, y estes datos fueron
tratados estadísticamente. Los resultados obtenidos revelaron una diferencia significativa de 37% entre
las marcas, de 1ml = 14,62 ± 2.2 hasta 1ml = 23.2 ±1.5 gotas.
Palabras clave: Cálculo de goteo; equipo de infusión, fórmula de goteo; infusión intravenosa.
Recebido em: 31.01.2003
Aprovado em: 10.07.2003
Notas
*
Acadêmica do 9o período de Enfermagem da EEAAC-UFF E-mail:[email protected]
Prof. de Farmacologia do Departamento de Fisiologia e Farmacologia do Instituto Biomédico da UFF. Enfermeiro pela UFF-1988 Email:[email protected]
***
Prof. Adjunto de Farmacologia do Departamento de Fisiologia e Farmacologia do Instituto Biomédico da UFF. FarmacêuticoBioquímico, UFF,1972; CRF-7no 976.
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