TEXTO FINAL – 1ª ETAPA
Plenária dos Grupos PPP - maio/2013
MUNDO DO TRABALHO: PRODUÇÃO, CONSUMO E SUSTENTABILIDADE
Viver para trabalhar ou trabalhar para viver
Desde cedo, muitas vezes logo no início da infância, já se faz a pergunta: “o que você vai ser
quando crescer?” Normalmente a resposta é o nome de alguma atividade econômica... Dificilmente uma
criança responde de modo subjetivo, como por exemplo: feliz, responsável, brigão, questionador, bom
filho, eleitor consciente etc...
O trabalho representa um significativo valor na sociedade da qual fazemos parte. Pode (e deve) ser
objeto de realização pessoal e ao mesmo tempo, é certamente, para a grande maioria da população, meio
de vida. "Emprego é fonte de renda. Trabalho é fonte de vida", adianta o filósofo e escritor Mário Sergio
Cortella.
A partir do momento em que o indivíduo ingressa no mundo do trabalho, dedica cada vez mais de
seu tempo a ele, mesmo que não diretamente trabalhando, mas mantendo-se em permanente formação. A
formação parece nunca ter fim: novas tecnologias, novos conceitos e metodologias, novos mercados e,
portanto, novos idiomas a serem aprendidos. Um sem fim de demandas.
Com o avanço das tecnologias, mesmo fora do ambiente e do horário de trabalho, inúmeros
trabalhadores mostram-se disponíveis em tempo integral. Através dos e-mails e mais recentemente, das
redes sociais, muitos não se desconectam do trabalho. A linha que divide o trabalho e a vida pessoal do
trabalhador não é mais muito definida. Quem consegue passar o final de semana inteiro sem checar o que
acontece na rede?
A consequência disso pode ser, ao longo do tempo, o declínio da saúde física, mental e/ou
psicológica. Fica o questionamento: vive-se para trabalhar, ou trabalha-se para viver? Esta resposta é
individual. E para garantirmos, ou ao menos tentarmos garantir, a nossa saúde integral, devemos refazer
essa pergunta a nós mesmos com alguma frequência.
E por que se trabalha tanto?
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Para conseguir mais acesso ao consumo?
Para garantir, individualmente, melhor qualidade de vida?
Para, em conjunto, aprimorarmos os meios de produção?
Por que há poucos que podem realizar o trabalho que nos dispusemos a fazer?
Por que é o meio mais eficaz de construirmos relações que nos tragam satisfação e
enriquecimento pessoal?
Ainda que todo mundo trabalhe muito, eu não posso ser diferente?
Diversas outras perguntas podem ser elaboradas. E, também diversas podem ser as respostas.
Segue-se em permanente questionamento...
“Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.” Como nos ensinou Mahatma
Gandhi.
Progresso x Sustentabilidade
É interessante a discussão sobre o chamado “progresso”, pois acabamos reproduzindo sem
perceber um discurso sobre o qual pouco refletimos de fato. O que é considerado progresso na nossa
cultura? Nosso entendimento costuma estar relacionado à prosperidade econômica, conceito que ganhou
força a partir do século XVIII, na Revolução Industrial, mudando radicalmente a forma como se produz e
se consome, as relações sociais, intensificando a ideia de que a acumulação é parte fundamental da
prosperidade, e consolidando a noção que temos hoje de que é preciso garantir o progresso – nesses
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termos – para se alcançar o sucesso. Baseados nesta linha de pensamento, os países miram suas metas
de progresso, buscando o crescimento econômico a qualquer custo para garantir a geração de empregos,
a expansão do consumo e ainda apresentando o discurso de redução da pobreza e das desigualdades
sociais.
O consumo tornou-se, desde o final do século XX, uma questão cultural fundamental para as relações de
identidade e diferença na sociedade contemporânea. A publicidade, que incentiva o consumo, pode ser
uma doce e encantadora cilada para quem ainda não alcançou determinado nível de consciência crítica.
Na publicidade só é mostrado o lado bom do consumo, produzindo uma verdadeira sociedade do sonho,
na qual todas as relações sociais são perfeitas e utópicas. O discurso publicitário também vem se
modificando: se, há uns anos, as crianças e os jovens eram ignorados, hoje eles são os alvos preferidos
das propagandas.
O desenvolvimento econômico ancorado na relação entre consumo, produção e crescimento, tal
qual a conhecemos – apesar de, em diversos países em desenvolvimento, estar garantindo a ascensão
econômica de segmentos da população – não tem sido capaz de gerar o progresso que erradicaria a
pobreza no mundo. Além disso, trata a galinha dos ovos de ouro – o meio ambiente – com pouca
racionalidade, como se as fontes de recursos naturais que proveem as matérias primas para a geração de
riquezas fossem inesgotáveis. A verdade nua e crua é que não são, e na maioria das vezes, a extração
destes recursos gera impactos no meio ambiente que provocam alterações no clima que geram eventos
extremos cada vez mais frequentes. A comunidade científica mundial sabe e afirma que os impactos das
mudanças climáticas são mais fortes exatamente sobre os pobres dos países mais pobres, cuja
capacidade econômica e tecnológica de mitigar os efeitos nocivos dessas mudanças é menor. Este é um
exemplo de como o padrão atual de progresso gera mais desigualdade social. Há hoje quase um bilhão de
pessoas deixadas para trás, vivendo na pobreza extrema, sobretudo nos países mais pobres, que, uma
vez que sobem mais um degrau na escala social, aspiram ao padrão de consumo dos mais ricos. O
modelo se mostra, portanto, insustentável, na medida em que, ao invés de romper com este ciclo e
promover a inclusão, perpetua a exclusão e torna-se obstáculo do objetivo real de erradicação da pobreza
e redução das desigualdades.
Mas quer dizer então que progresso e sustentabilidade estão em posições antagônicas? Se
entendermos o progresso como o resultado de um processo de transformação que não renega a
importância do crescimento econômico, da geração de riquezas e da necessidade de geração de
empregos, mas propõe outras formas de se atingir os objetivos, progresso e sustentabilidade podem estar
em alinhamento.
A sustentabilidade ainda é para a maioria das pessoas algo relacionado principalmente à
preservação do meio ambiente, mas, na verdade, vai muito além. Tem a ver com a forma como
estabelecemos nossos relacionamentos: pessoas físicas, empresas, instituições de todo tipo e governos
em relacionamentos entre si e com o meio ambiente. Aí estão incluídas as formas como fazemos frente à
exploração dos recursos naturais e das pessoas; como, no papel de executivos de empresas,
governantes, profissionais liberais, assalariados, formadores de opinião, pais e etc, pensamos e agimos
pois o “agir” da sustentabilidade está estreitamente relacionado com a ética nos relacionamentos.
O discurso de muitos pensadores contemporâneos segue no sentido de que chegamos a um estágio de
crise do modelo civilizatório em que a sustentabilidade não se dará sem que haja uma revisão dos valores
que orientam a sociedade. Precisamos então seguir no caminho – que já vem sendo trilhado – de
transformação de valores. E novos valores, para se consolidarem, precisam de exemplos.
A partir disto e refletindo sobre as relações de consumo algumas questões imperam:
•
Quais são as consequências do consumo a médio e longo prazo?
•
“Eu preciso comprar isto?”: uma compra consciente deve ser uma compra planejada.
•
Até quando a natureza terá capacidade de renovação para produzir matéria-prima?
•
Para onde vão as mercadorias que são descartadas?
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Consumismo X Consumo Consciente
A Terra tem 4,6 bilhões de anos. Se a Terra tivesse 46 anos, os humanos estariam aqui há 17
horas e a revolução industrial teria começado há 1 minuto. Neste minuto, metade das florestas foram
devastadas. (Greenpeace, 2013)
Sabe-se que algo em torno de 25% da produção de alimentos no mundo nunca chega ao estômago
humano, por desperdício. Isto representa 1 bilhão de toneladas de alimentos por ano.
Associado ao desperdício da comida propriamente dito há ainda um desperdício de terra, de água
e recursos energéticos que são usados na produção, processamento e distribuição deste alimento.
A sociedade contemporânea é marcada, entre outras contradições, por ser um mundo de
abundância de mercadorias para uns e, simultaneamente, um mundo de escassez para outros. Tanto o
excesso quanto a carência material tornam-se uma ameaça social. Nessa perspectiva, a cultura
consumista é extremamente individualista: valores como respeito, autonomia e solidariedade são
desqualificados e ficam fora desse mundo de abundância.
O que se vê hoje na nossa sociedade é a ganância e a inveja funcionando em conjunto, fazendo
com que as pessoas queiram ter no mínimo o que o outro tem, ou se possível mais que o outro, para
poder haver uma demonstração de poder e superioridade.
Os filhos refletem muito do que os pais são. Sem dúvida, o homem almeja um padrão de vida com
conforto e segurança, e para isto é preciso recursos. E nós ensinamos a nossos filhos que o importante é
estudar, para poder ter um bom emprego, para poder ter boas coisas e viajar mundo afora. Mas nesta
busca por boas coisas, muitas vezes perdemos a mão, passamos do limite, e começamos a valorizar
coisas que não são realmente necessárias, nem para o conforto, nem para a segurança. Todos já devem
ter visto a aflição que acomete algumas pessoas quando veem que foi lançado um celular mais moderno
que o que elas têm, com umas três características novas, que efetivamente elas nunca sentiram falta
antes, até descobrir que aquilo passou a estar disponível. É muito provável que os filhos destas pessoas
adquiram também este tipo de comportamento, e mais, que também estimulem outras crianças a seguir
este padrão.
E agora, o que fazer?
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