Outubro de 2012 - Proposta para: Desafios da Primeira Infância: Proposta na Agenda Municipal_2 _Argumento Existe consenso entre especialistas de que os primeiros anos de vida são um período crucial nas dimensões física, emocional e intelectual das crianças com efeitos permanentes no desenvolvimento das habilidades, dos processos cognitivos e da socialização futura. Ainda que deficiências dos primeiros anos possam ser em parte compensadas em anos posteriores, pesquisas mostram que estas correções e remediações são mais caras do que o custo de intervenções precoces, e de resultados muito mais incertos. De fato, ao longo de todo o século XX, estudos provenientes das mais diversas áreas mostram que a primeira infância é decisiva na formação do adolescente e do adulto. Impactos sobre a inserção no mercado de trabalho, produtividade, no estoque de capital humano, diminuição da violência e criminalidade foram amplamente documentados e mensurados. Estudo recente do BID mostrou que – em média, na América Latina - cada dólar investido nesta fase da vida gera uma economia de 7 dólares na assistência social, manutenção do sistema prisional, repetência e evasão escolar nas fases posteriores da adolescência. 1 Esta questão já é conhecida e tem sido objeto de atenção na área da saúde há anos, tanto do ponto de vista de eventuais carências alimentares, quanto do ponto de vista emocional, que ocorre em famílias disfuncionais ou em situação de risco. Mais recentemente, a atenção tem se voltado para os temas de desenvolvimento intelectual, que tem justificado a grande expansão dos investimentos públicos em creches e pré-escolas. As creches também atendem às necessidades das mães que 1 “Early Childhood Stimulation Interventions in Developing Countries: a comprehensive literature review”, Helen Baker-Hennigham e Florencia Lopes Boo (BID, 20120). Desafios da Primeira Infância: Proposta na Agenda Municipal_3 precisam trabalhar, mas precisam ter um padrão de qualidade que compense a perda que significa para a criança o afastamento dos pais. Políticas alternativas têm sido experimentadas para apoiar famílias a trabalhar com o desenvolvimento intelectual das crianças, sem necessariamente colocá-las em instituições escolares, mobilizando setores da área da saúde, da educação e organizações sociais de diferentes tipos. Dessa forma, dada à importância dos primeiros anos de vida no desenvolvimento físico e intelectual dos futuros adultos, o tema da primeira infância se insere no plano mais abrangente do debate sobre igualdade de oportunidades. Logo, faz-se primordial discutir os desafios e melhores práticas das políticas públicas na área da primeira infância de forma a ajudar na formulação de programas mais eficientes e que beneficiem as famílias mais vulneráveis. _Primeira Infância no contexto nacional Os desafios da primeira infância no país são muitos. A miríade de temas que precisam ser enfrentados possuem três fontes relevantes: a) Heterogeneidade espacial e regional: A provisão dos serviços – em termos de, por exemplo, a cobertura da pré-escola (ver Tabela), qualidade do atendimento, disponibilidade e qualificação dos recursos humanos, entre outros – encontra-se em patamares muito distintos nas 27 Unidades da Federação. Além do mais, as condições são muito diferentes em municípios de menor porte ou em municípios ainda menos urbanizados. b) Multidimensionalidade do desenvolvimento infantil: O cuidado da primeira infância vai além dos aspectos cognitivos e temas relacionados à educação. Desenvolvimento físico e nutricional, aspectos psicossociais, interação com Desafios da Primeira Infância: Proposta na Agenda Municipal_4 fatores ambientais e contextos familiares exigem uma visão integral em termos de metodologias a serem utilizadas no atendimento. c) Governança e inter-setorialidade: Esta visão multidimensional do desenvolvimento na primeira infância exige uma articulação setorial horizontal. Mais do que isso, para superar o conjunto de desafios é preciso construir uma rede de atores com o objetivo de garantir capilaridade no atendimento e a prevalência da qualidade do serviço. Desafios da Primeira Infância: Proposta na Agenda Municipal_5 Taxa de frequencia a escola entre crianças de 4-6 anos (%) Evolução recente Universos Projeção para 2015 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Taxa de crescimento anual Brasil 70,6 72,0 76,1 77,6 79,8 81,3 2,9% 89,8 Norte 58,1 60,2 64,4 68,3 72,7 73,5 4,8% 86,4 Rondônia 45,1 47,0 52,6 54,0 56,8 62,3 6,7% 79,3 Acre Amazonas 56,2 53,4 52,1 57,5 54,8 62,0 63,5 70,7 64,4 74,1 64,3 68,5 2,7% 5,1% 73,1 82,5 Roraima 64,0 73,0 82,7 82,3 84,2 80,9 4,8% 92,3 Pará 64,0 64,2 66,9 70,9 75,9 78,6 4,2% 89,8 Amapá 54,1 53,8 59,5 60,5 69,1 65,4 57,2 68,1 68,3 69,6 67,6 72,0 4,6% 6,0% 80,6 87,0 Tocantins 75,7 77,6 80,4 82,7 84,7 85,9 2,5% 93,1 Maranhão 75,8 74,4 78,0 83,1 85,8 88,4 3,1% 95,7 Piauí Ceará 76,9 82,8 77,9 86,6 78,9 88,4 78,9 90,2 90,3 91,4 92,8 93,0 3,8% 2,3% 98,5 97,8 Rio Grande do Norte 84,7 80,8 87,5 86,9 86,2 86,4 0,4% 88,2 Paraíba 74,4 82,4 80,9 86,2 86,1 85,2 2,8% 92,9 Pernambuco 73,0 74,8 80,0 80,7 82,0 81,8 2,3% 89,2 Alagoas 68,6 68,2 69,3 73,7 70,9 75,8 2,0% 82,8 Sergipe 77,6 78,1 84,6 84,4 83,2 84,4 1,7% 90,2 Bahia 72,8 74,9 76,0 75,9 78,1 80,9 79,9 81,6 84,4 83,1 84,4 84,9 3,0% 2,5% 92,6 92,3 Minas Gerais 71,7 69,8 74,2 76,0 79,3 80,9 2,4% 88,7 Espírito Santo 70,4 71,8 80,1 80,2 82,5 83,7 3,5% 92,8 Rio de Janeiro 80,5 74,9 79,5 78,0 84,3 83,2 80,6 85,3 85,2 84,4 83,8 87,4 0,8% 3,1% 87,2 95,0 Nordeste Sudeste São Paulo 60,2 62,2 66,5 67,8 69,1 71,0 3,3% 81,3 Paraná 63,3 66,0 67,4 72,8 72,0 73,6 3,1% 83,2 Santa Catarina 70,1 51,5 76,5 50,4 83,6 57,4 77,9 56,8 78,0 61,0 79,7 63,2 2,6% 4,2% 87,9 75,4 Sul Rio Grande do Sul 61,7 62,8 67,0 66,2 71,9 73,7 3,6% 84,5 Mato Grosso do Sul 57,0 64,7 64,2 67,6 74,8 76,3 6,0% 90,4 Mato Grosso Goiás 59,3 60,7 60,6 58,6 66,7 64,6 59,8 64,1 63,4 71,0 73,0 69,4 4,3% 2,7% 85,1 78,3 Distrito Federal 71,1 73,3 75,9 77,1 82,5 83,0 3,2% 91,8 Centro-Oeste Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2004 a 2009. No Brasil, o âmbito federativo predominante do atendimento à primeira infância é o município. Em janeiro de 2013, decorrentes das eleições municipais a serem realizadas em outubro deste ano, novas administrações serão empossadas. Apesar do reconhecimento da relevância do tema, ainda é preciso construir uma agenda pública nacional e dinamizar uma reflexão sobre os caminhos da primeira infância no Brasil. Desafios da Primeira Infância: Proposta na Agenda Municipal_6 Assim, este documento coloca-se como objetivo promover a reflexão de especialistas e atores pertinentes com vistas à elaboração de um policy paper sobre o tema. Uma agenda de reflexão deve incluir: 1. Aumento da cobertura dos serviços, com particular atenção às crianças com deficiências; 2. Abordagem sistemática e integrada das políticas de cuidado e educação na primeira infância; 3. Enfoque participativo de melhoria da qualidade dos serviços; 4. Investimentos públicos substantivos em serviços, recursos humanos e infraestrutura física; 5. Treinamento e condições de trabalho apropriadas para as equipes profissionais; 6. Parcerias entre o sistema educacional e as outras áreas envolvidas, o papel do setor privado e a articulação entre os níveis de governo; 7. Construção de uma agenda de longo prazo; 8. Eficiência nos gastos. A relação entre customização de serviços e orçamento de programas para a primeira infância em secretarias municipais; 9. Concepção de políticas públicas específicas para crianças em situação de vulnerabilidade; 10. Replicabilidade de experiências e políticas inovadoras já aplicadas em alguns municípios brasileiros. Desafios da Primeira Infância: Proposta na Agenda Municipal_7 _Metodologia Serão organizadas quatro oficinas de trabalho que serão compostas por uma equipe multidisciplinar, incluindo: economistas, sociólogos e cientistas políticos, em cada um dos temas acima selecionados. A agregação dos temas nas quatro oficinas será discutida com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. As oficinas serão constituídas por: um moderador, um comentarista, quatro especialistas debatedores em cada oficina, além da figura do relator que será composta pelo coordenador do projeto e um pesquisador sênior, ambos do IETS. Os relatores são os responsáveis por elaborar a versão final do policy paper. O moderador elaborará um artigo disparador a ser distribuído, dias antes de cada reunião. Este documento servirá como ponto de partida para a análise em cada uma das oficinas, cuja estimativa de tempo para discussão é de até oito horas. O moderador irá sintetizar as discussões que serão criticadas pelo comentarista. O produto final desta fase é um documento com proposições de políticas para o tema discutido. Ao final das quatro oficinas as proposições serão consolidadas em um documento final pelos relatores do projeto. _Objetivo Elaborar um policy paper com proposição de políticas públicas para a primeira infância de forma a construir uma agenda de longo prazo no âmbito dos municípios brasileiros. _Produto 1. Um policy paper com propostas de politicas públicas para a primeira infância; Desafios da Primeira Infância: Proposta na Agenda Municipal_8 2. Um workshop com a participação dos principais atores envolvidos no projeto além de jornalistas especializados no tema da primeira infância;