CERIMÓNIA DO 3º ANIVERSÁRIO DO NÚCLEO DE PINHAL NOVO DA LIGA DOS COMBATENTES EM QUINTA DO ANJO 23Maio2015 Exmo. Sr. Vice-presidente da Liga dos Combatentes, Major General Fernando Aguda Ilustres Convidados Minhas Senhoras e meus Senhores Caros Combatentes Reunimos hoje neste local como mostra de respeito e gratidão, descerrando um memorial evocando o esforço de um Combatente do nosso Concelho, no conflito bélico da 1ª Guerra Mundial. Cumprindo-me a mim a incumbência, de proferir o discurso da praxe, devo antes de tudo confessar, que quaisquer encarecidas, ardentes, sinceras e afetuosas palavras, que possam hoje aqui ser manifestadas, nunca corresponderam, de forma alguma, à grandeza dos atos cometidos por este Herói. Este Combatente embarcou para França em 25 de Julho de 1917, tendo vindo a ser ferido em campanha por intoxicação de gazes em 06 de Janeiro de 1918. Com profundas lesões físicas e quase cego, quis ser o espelho das gentes deste concelho de Palmela e não abandonou a sua trincheira. Resistiu e continuou a combater pela causa da sua terra e das suas gentes, tendo vindo a falecer no dia 14 de Março de 1918 com ferimentos na cabeça. Os seus restos mortais encontram-se no Cemitério dos Portugueses de Richebourg L’Avoué, em França, no Coval 23 da fila 2 do talhão A. É difícil, encontrar predicados literários para descrever tão ilustre Herói e só movidos por um profundo sentimento de orgulho, gratidão e forte consciência do dever, acertamos a missão desta humilde homenagem. Este excelso Combatente da Quinta do Anjo, que tão bem incarnou as virtudes da raça Portuguesa, jurou defender os valores da sua Pátria e de facto, por ser essa a missão que lhe deram, em virtude do seu posto e do lugar que foi desempenhar, caiu morto em terras longínquas da sua aldeia natal. A sua humildade foi duramente posta a prova, sucumbiu, mas certamente consolado por que cumpriu o seu dever. Pelo seu esforço e entrega este Combatente imortalizou o nome da Quinta do Anjo e do Concelho de Palmela. Assim, também nós lhe devemos a imortalidade do seu nome. Reparai, que hoje, passados 97 anos da sua morte, ele está novamente aqui a dignificar todas as gentes desta Freguesia e do Concelho. Valiosos préstimos, e a muito, já lhe são reconhecidos por aqueles que no louvável lavor de procurar, foram reunindo dados precisos que o tempo ameaçava apagar. Quero hoje confessar, que quando me abalancei e meti ombros na pesquisa da história do Combatente Pedro Frescata, nunca pensei que ele poderia vir a ser a autoridade do passado dos Combatentes deste concelho. Após iniciado o meu modesto trabalho de estudo, gentil e generosamente auxiliado e amparado por membros da família, aqui presentes, foi-se-me afigurando a dimensão da sua importância. Mantido propositadamente em sigilo, para hoje e aqui, junto ao seu memorial, poder transmitir, a todos vós, que o Pedro é digno e merecedor de ser conhecido como o Sentinela da Paz do Concelho de Palmela e ser tornado num baluarte da honra das nossas gentes, pelo seu inigualável tesouro, que é a sua história. Pelos seus antepassados diretos, nas suas veias corriam sangue de muitas e ilustres famílias do nosso concelho, dos Lima, dos Xavieres, dos veríssimo e muitas outras, podendo mesmo ser dito que grande parte dos habitantes da freguesia da Quinta do Anjo e do concelho são familiares deste Herói. Mas a sua história e ascendência não ficam por aqui, os seus antepassados têm uma ligação histórica riquíssima a vários feitos militares Portugueses. Os seus elos históricos e ascendência remontam a Rui Gonçalves Pereira, o fidalgo do Séc. XIV, companheiro dedicado de Mestre de Avis, mais tarde D. João I. Foi Rui Pereira, que por incumbência de D. João I, preparou a armada de 17 navios e galês que entrou no Tejo transportando mantimentos para a população de Lisboa, aquando da guerra com castelã e o cerco de Lisboa. Foi nesta batalha de 18 Julho 1384, no rio Tejo, que perdeu a vida Rui Pereira. A sua ligação múltipla de ascendência a Rui Pereira passa por Inês Afonso de Moura de quem descende de vários ramos do seu passado genealógico. Ela era filha de D. Luís de Moura e de Ana Afonso, casada com Jerónimo Afonso Baticela (Comendador da Ordem de Cristo). Mas há mais, à muitas mais ligações que justificam de todos nós o perpetuar da sua memória. Este Rui Gonçalves Pereira, que eu anteriormente referi, era tio de D. Nuno Alvares Pereira, aquele que é hoje o Patrono da Liga dos Combatentes, São Nuno de Santa Maria (O Santo Condestável). Reparai agora, o grau de importância que lhe devemos. Muitos concelhos da nossa Nação têm laços históricos de proximidade com a Liga dos Combatentes, mas nenhum tão profundos como Palmela. Foi aqui que nasceu um Combatente, caído na Grande Guerra, descendente do Patrono da Liga dos Combatentes e que tal como os seus antepassados militares perdeu a vida ao serviço da Pátria. Caros presentes Neste agradável espaço em que nos encontramos, foi pela louvável Câmara Municipal de Palmela atribuído o topónimo de Parque da Costa Frescata. O Núcleo de Pinhal Novo da Liga dos Combatentes edificou este memorial. De ora em diante voltaremos anualmente a este local no dia 11 de Novembro, (dia que foi assinado o tratado de paz que pós fim a Guerra que nos levou o Pedro), para realizarmos o encontro dos Combatentes do Concelho. Não faltaremos, estaremos aqui, para murmurar ao nosso Camarada o Sentinela da Paz do Concelho de Palmela, Pedro da Costa Frescata, que o seu esforço viverá e que mercê de todos, não morrerá. Exmo. Sr. Vice-Presidente da Liga dos Combatentes, Major General Fernando Aguda Dá-nos V. Ex.ª a honra de presidir à esta cerimónia, sendo de grande regozijo para todos os Combatentes do Concelho de Palmela, a vossa ilustre presença. Quis o destino, que os primeiros anos de vida do Núcleo do nosso concelho se cruzassem com a bondade íntima que orienta os seus atos e a justeza de procedimento que preside as suas intenções. À V.Exª foi confiado um cargo de elevada responsabilidade. Na difícil e melindrosa missão de olhar pelos locais de repouso dos heróis Portugueses em redor do mundo, tem sido com as suas peregrinas qualidades um zelador quer da honra e dignidade dos Combatentes, quer do prestígio de Portugal. A sua indiscutível superioridade é a garantia das novas gerações de que a história dos nossos dias não envergonhará o passado, é um chefe Militar que sabe impor-se à admiração de todos, não só pela sua Nobreza de Carácter, mas também porque a si se deve o engrandecimento da nossa Pátria e o respeito que sabe impor em todos os locais do mundo onde se encontra sepultado um Soldado de Portugal. O retrato da sua obra, e que honra as páginas da nossa história, já é conhecido das novas gerações e não cairá em terra vã, porque as novas gerações já têm a consciência iluminada e reconhecem a necessária continuidade dos valores da nossa Liga. A nossa Liga, que após anos de labuta em prol de uma causa que os céticos consideravam falida, é hoje um organismo de células atualizadas e rejuvenescidas, um organismo que jamais envelhecerá. Meu General, Eu que conheço pessoalmente, as suas qualidades morais e profissionais e que sei e sinto quantos favores os Combatentes deste concelho lhe devem, atraiçoaria os meus dotes de lealdade e gratidão se deixasse de patentear, neste momento, o testemunho da nossa gratidão e amizade por tão excelente Amigo. Por toda a colaboração prestada, por si em particular, e pela Direção Central da Liga em geral, julgo-me no dever, de hoje aqui apresentar em nome de todos os Combatentes do Concelho de Palmela, o nosso mais profundo sentimento de gratidão, aliado ao compromisso pessoal de dar continuidade ao objeto da Liga, em qualquer lugar, com a mesma audácia, dedicação e espírito que caracteriza tão excelsa figura de V.Exª. Ilustres convidados Foi com enorme satisfação que recebi a confirmação da vossa presença nesta cerimónia em homenagem a um herói da freguesia da Quinta do Anjo, e que sendo mais, não deixa de ser, uma parte da história do nosso Concelho. Vão já decorridos 97 longos anos sobre tão memorável data, em que os nossos Combatentes, na gélida planície da flandres, mostraram, ante a força esmagadora dos nossos contrários, o valor da raça Portuguesa. Vão já decorridos 41 anos do final de um conflito que levou os nossos combatentes à defesa da integridade nacional. Assistimos hoje, a novos compatriotas combatentes em missões mundiais ao abrigo de tratados internacionais. Estes nossos Amigos, Familiares, que marcharam e marcham para estas guerras para a qual não contribuíram, chegaram e continuam a chegar, mortos e estropiados, almas transitas de dor e angústia. Se recordar é viver, a recordação deveria servir unicamente para recordarmos os nossos heróis vivendo momentos de saudade. Mas infelizmente, neste mundo de loucura fazem hoje despertar novas chacinas, tragédias e novos caudais de inocentes. A história tem ensinamentos valiosos que devem ser, sem dúvida, utilizados como alavancas do progresso. A história dos Combatentes, em todos os meios, desempenha uma função útil e impõe-se como uma necessidade imperiosa. Desde o âmbito cultural ao solidário, em toda a sua extensão e dentro de cada atividade, não só é necessária, como meio de divulgação de valores, mas também utilíssima como elemento de iniciativa séria e edificante. A sua combinação combina, muitas vezes, conhecimentos especiais que abrem caminho a novas conceções, que aperfeiçoam e consolidam culturas e competências. Os Núcleos da Liga dos Combatentes, espalhados por Portugal e pelo mundo, têm atualmente atribuições confiadas de arriscadas responsabilidades, que exigem das Direções dos mesmos, competências apreciáveis. O cumprimento integral das missões Patrióticas e solidárias, exige atualmente muito tato, elemento inteiramente indispensável a quem cabe a função de albergar tão importantes missões. O Núcleo de Pinhal Novo, animados por uma forte vontade, em preencher a enorme lacuna que existia no Concelho de Palmela, tem vindo, nos três anos da sua existência a realizar uma obra clara, construtiva e de absoluta necessidade, que muito tem vindo a estimular faculdades e inteligências. Muitas vezes por maior cuidado e atenção que qualquer homem tenha nas suas ações, é quase impossível que todas sejam perfeitas, porque a obrigação moral o desvia da perfeição encaminhando-o para o que alguns julgam exercícios de vícios ou maus costumes. Estes que assim pensam, não compreendem o esforço e utilidade destas iniciativas, ou porque não estão capacitados ou porque estão olvidados e nelas não reveem ambições justificáveis de interesse coletivo. Ao longo destes três anos de existência, os sócios deste Núcleo, têm demonstrado um excelente espírito de disciplina e vontade de bem servir. Talvez porque há uma justiça imanente, todos têm a sua hora de expiação. No Concelho de Palmela, e até há pouco tempo, os Combatentes eram figuras de secundário relevo, hoje, merecem a glorificação e merecem lugar na história Pátria. Há tempos, ao falar com um amigo, ele afirmava ter ouvido de um estadista que os Combatentes Portugueses vivem hoje no crepúsculo da sua história. Não, não vivemos no crepúsculo da nossa história, orgulhamo-nos é de ter muitos séculos de provas irrefutáveis, vincadas com sacrifício e muito sangue Combatente, somos sentimentalistas é certo mas é isto que expressa bem o nosso grau de cultura e civilidade. Devemos todos confiar nos Combatentes que temos, e ter sempre presente que o Combatente é o mais alto valor que em si concentra a luz da liberdade. Diplomatas, Políticos e Cidadãos, todos falam em liberdade, mas aquele que assegura e firma com o seu sangue, esses direitos, é o Combatente, sempre o Combatente. Mas é necessário conduzi-los com mestria, paciência, inteligência e sobretudo independência. Os Combatentes possuem uma consciência intangível, impossível de dominar por qualquer força. A sua consciência é um campo sagrado que só poderá ser conquistado com atos e ideias nobres. É por esta razão que se deve sempre evitar, a todo o custo o seu sacrifício e desonra e todos nos devemos empenhar para que o seu esforço seja premiado e figurem no merecido lugar da história Pátria. Os Combatentes são leais e verdadeiros amigos. A verdadeira amizade consiste em procurar para o seu amigo aquela felicidade que para si deseja, porque a que somente se funda num simples desejo sem eficácia é uma amizade estéril e de pouca consequência. Os que se alegram com as felicidades dos outros ou sentem a desgraça do seu amigo são os verdadeiros amigos. Porem, os que desejam para os outros os mesmos interesses que para si próprios, são os melhores e devem ser os mais estimados. Não é vendo exausto e mergulhado no abismo, que o auxílio de pessoa amiga se torna mais agradecido, enquanto se pode reagir é que se deve empregar toda a nossa energia. É certo que todo o homem, a proporção do seu estado, pratica ações virtuosas, mas se por omissão deixa de as executar, pode o seu amigo fazer-lhas ver. Nenhum homem deve desprezar as advertências que lhe fizerem em utilidade própria e muito menos daqueles cuja bondade sincera os constitui incapazes de prejudicar os outros. Podeis todos ter a certeza que nenhum combatente se deixará de sacrificar pela honra e brio da sua Pátria e do seu amigo e estarão sempre empenhados na sua glorificação. Caros Convidados, Os Combatentes do Concelho sabem, que muitos dos que aqui estais hoje, tendes estado sempre sensíveis aos apelos por nós sugeridos, e também têm conhecimento das dificuldades por vós encontradas, confiamos na vossa determinação e aguardaremos melhores oportunidades. Quero assim, e para tranquilidade de todas as almas, manifestar o nosso profundo agradecimento por todos os auxílios que nos têm prestado e sobretudo pela vossa amizade. Camaradas Combatentes A vós quero dirigir umas palavras em nome da Direção do nosso Núcleo. Nunca na nossa vida tivemos qualquer ponta de vaidade, mas hoje somos forçados a confessar que nos sentimos orgulhosos pelo trabalho até hoje realizado no nosso Concelho. Cumprimos o melhor que nos foi possível fazer, abraçamos com alma e coração as funções que nos foram confiadas, não só para corresponder à confiança como também para contribuir com o melhor do nosso esforço à honra de todos vós. Quero recordar-vos hoje, que um dia jurastes que no dia em que a Pátria necessitasse dos vossos serviços acorreríeis por ela com vontade, inteligência e até a vida. Pois assim o fizestes, fostes escravos do dever e do sacrifício e por tereis desempenhado a missão, vos é hoje permitido declarar sem medo, com orgulho e honra vossa, sereis merecedores de respeito, gratidão e homenagem. Sois merecedores de ver satisfeitas as vossas justas aspirações, que sendo tão poucas, devem ser devidamente amparadas. Nunca vos esqueceis disto. Minhas Senhoras e meus Senhores Os Combatentes pertencem a uma indústria de sacrifícios sem limites, eles são a imagem de todos nós nas horas difíceis. Bem hajam, pois, os ilustres Combatentes, que se prontificam a auxiliar a sua Nação e que mesmo depois de mortos continuam a servir as causas da Pátria Portuguesa. Antes de terminar, quero agradecer a vossa presença neste ato de elevado sentido, cuja realização é a afirmação do nosso brio, da nossa Camaradagem e sobretudo cimenta todas as gentes do nosso Concelho, nesta romagem de saudade. Obrigado a todos! O Presidente do Núcleo da Liga dos Combatentes de Pinhal Novo António José Isaías SajInfRes