ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO PARQUE CEDRAL
DAIANA FABIANI DE OLIVEIRA (FACULDADE DE CIENCIAS E TECNOLOGIA/UNESP
PRESIDENTE PRUDENTE).
Resumo
Nosso trabalho em Educação de Jovens e Adultos é realizado desde julho de 2008,
em parceria com a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, localizada no
Parque Cedral, um bairro periférico da cidade de Presidente Prudente–SP. A maioria
dos adultos que retornam à escolarização foi excluída do sistema regular de ensino
quando jovem por diversos motivos, por isso se surpreende com uma educação
totalmente voltada para eles, pois sua concepção de escola se baseia na que
tiveram sem obter sucesso. O método que utilizamos é baseado na pesquisa–ação,
onde se é possível conhecer os sujeitos não só através da observação e sim da
integração. Escolhemos a pesquisa qualitativa porque é a metodologia que tem o
ambiente natural como sua fonte de dados e o pesquisador como principal
instrumento. Essa aproximação na horizontalidade Educador–Educando é
característica da Educação Popular, idealizada por Paulo Freire, que tem como
ponto de partida a realidade do oprimido e se torna um agente importante nos
processos de libertação do indivíduo e da sociedade. Neste trabalho procuramos
conhecer os sujeitos da EJA, suas expectativas e idealizações sobre os problemas
que aflingem nossa sociedade e quais seriam as soluções para tais problemas. Este
trabalho está trazendo frutos, pois tivemos a aprovação de nossos educandos na
prova do governo federal o ENCCEJA.
Palavras-chave:
EJA, Pesquisa–Ação, Escolarização.
Nosso trabalho em Alfabetização de Jovens e Adultos no Parque Cedral é realizado
desde julho de 2008, com a parceria da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, localizada no Parque Cedral, um bairro periférico da cidade de Presidente
Prudente-S.P e juntamente com o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação
Popular – GEPEP, da FCT/UNESP, orientado pela Profª Drª. Maria Peregrina de
Fátima Rotta Furlanetti. O nosso grupo de pesquisa trabalha com o Programa de
Educação de Jovens e Adultos - PEJA, este programa existe na Pró-reitoria de
extensão - PROEX da Universidade Estadual Paulista, FCT/UNESP, desde 2001 tem
como objetivo alfabetizar, escolarizar jovens e adultos e formar educadores
populares, com uma perspectiva de incluir o “sujeito analfabeto” nesta sociedade
discriminatória.
O nosso trabalho, além de contribuir para a construção da leitura e escrita, é
também refletir sobre os problemas que afligem nossa sociedade. É através do
diálogo que buscamos refletir as atitudes, as palavras, a escrita para que juntos
possamos construir sujeitos conscientizados, críticos e emancipados na busca de
uma autonomia que lhe foi tirada por diversos motivos durante sua vida.
Conforme Furlanetti (FURLANETTI, 2009), as pessoas jovens e adultas são
pessoas que procuram a escola para aprender a ler e escrever por várias
razões, entretanto muitas não percebem que não tiveram oportunidade por
razões sociais, políticas e culturais. Elas estão sempre buscando as razões
por serem pobres, porque o pai não deixou estudar, porque era longe a
escola, mas em nenhum depoimento encontramos a resposta crítica de que
a educação é um direito inalienável, que além de estar presente na
constituição, é um dever social, pois é um produto da exploração econômica
e do desenvolvimento industrial e conseqüentemente da falta de políticas
públicas de intervenção (p.18).
A maioria dos adultos que retornam à escolarização foi excluída do sistema regular
de ensino quando jovem por diversos motivos, por isso se surpreende com uma
educação totalmente voltada para eles, pois sua concepção de escola se baseia na
que tiveram sem obter sucesso.
Para a realização do projeto, antes do início das aulas fazemos a divulgação do
PEJA através de cartazes espalhados pelo bairro e nas missas da paróquia. As
inscrições foram feitas durante a semana e nas missas de sábado e domingo. Neste
ano de 2009, tivemos aproximadamente quarenta inscrições e a quantidade de
pessoas que não concluíram o primeiro e segundo ciclo do ensino fundamental foi
significativo, por isso separamos duas salas em turmas de alfabetização (1º a 4º
série) e outra do segundo ciclo do ensino fundamental (5ª. a 8ª. série). Temos
aproximadamente 30 educandos, sendo 3 homens e 27 mulheres, de idades entre
28 a 72 anos. As aulas são realizadas quatro vezes por semana no período noturno
e ministradas por sete estagiários a maioria do curso de pedagogia.
Os nossos objetivos pedagógicos são: refletir sobre o alfabetizar na perspectiva de
Paulo Freire e Escolarizar Jovens e Adultos na sala de aula do Parque Cedral;
proporcionar uma reflexão sobre o processo de Alfabetização de Jovens e Adultos e
quais são os desafios da Educação Popular; esclarecer as diversas maneiras de
ministrar uma aula de qualidade, onde o cotidiano dos educandos é a base dos
conteúdos.
A metodologia para a pesquisa que utilizamos é baseado na pesquisa-ação, onde se
é possível conhecer os sujeitos não só através da observação e sim da integração.
Escolhemos a pesquisa qualitativa porque é a metodologia que tem o ambiente
natural como sua fonte de dados e o pesquisador como principal instrumento. Essa
aproximação na horizontalidade Educador-Educando é característica da Educação
Popular, idealizada por Paulo Freire, que tem como ponto de partida a realidade do
oprimido, e se torna um agente importante nos processos de libertação do
indivíduo e da sociedade.
Segundo Paulo Freire o diálogo é a base para relação educador-educando no
processo e desenvolvimento da aprendizagem de ambos, mas para que isso ocorra
Freire faz uma pergunta muito pertinente sobre o diálogo, “Como posso dialogar, se
alieno a ignorância, isto é, se a vejo sempre no outro, nunca em mim?” (FREIRE,
1987: 80).
Os conteúdos das atividades pedagógicas são gerados através de muito diálogo
relacionando-os com o cotidiano dos educandos, de onde são “tirados” os Temas
Geradores para que assim possam ter uma relação mais clara dos conteúdos com
os seus próprios conhecimentos.
Para Freire, “o conceito de tema gerador não é uma criação arbitrária, ou uma
hipótese de trabalho que deva ser comprovada...Investigar o tema gerador é
investigar, repitamos, o pensar dos homens referido à realidade, é investigar seu
atuar sobre a realidade, que é a sua práxis” (FREIRE, 1987: 88 e 98).
Utilizamos o mapa conceitual que é construído, também no diálogo na sala de aula,
constando todos os conceitos pertinentes com o Tema Gerador, que serão
desenvolvidos durante o semestre, por exemplo, escolhemos o tema gerador
“Minha História”: em Matemática desenvolvemos os conceitos de números que
estão em nosso dia-a-dia, em nossas casas, nas ruas, nas cartas que recebemos,
nos documentos pessoais, entretanto, a discussão dialógica gira em torno do
porque temos tantos números em nossa vida e enquanto discutimos a linguagem
escrita irá sendo construída por eles. Em Geografia trabalhamos com as cidades e
estados onde nasceram e atualmente moram, as cidades principais, suas capitais e
principalmente o desenvolvimento econômico e social, mas não deixamos de
dialogar e construir textos sobre o porque que vieram para outro estado; e
aproveitamos também a distância entre elas para re-conhecer os números e suas
medidas e a sua importância; a História é trabalhada junto com as histórias de vida
nomeando o tempo de cada um sua idade e os acontecimentos nas décadas em que
nasceram e relacionando com a economia do estado e suas principais atividades
sociais da época; em Ciências foi necessário estudar o corpo humano, vida
saudável, boa alimentação fazendo um paralelo com a Educação Física, como a
importância da prática de esportes para a saúde, por fim em Língua Portuguesa é
desenvolvida em todas as outras disciplinas, entretanto a leitura e a escrita são
acompanhadas com diversos tipos de textos, informativos, descritivos, narrativos,
dissertativos e publicitários, são textos que estão em nosso cotidiano. Fazendo isso
possibilitamos a interdisciplinaridade dos conteúdos pedagógicos.
A nossa tarefa é propor aos educandos dimensões significativas e
problematizadoras, o uso do tema gerador amplia os conhecimentos dos
educandos, gerando uma compreensão crítica de totalidade e de especificidade dos
conteúdos ou assuntos trabalhados em sala de aula. “Se problematizar nos leva à
compreensão da realidade, a problematização inicia-se quando quebramos o
silêncio através das perguntas” (FURLANETTI, 2009).
De acordo com Freire (FREIRE, 1987), enquanto na prática “bancária” da
educação, antidialógica por essência, por isto, não comunicativa, o educador
deposita no educando o conteúdo programático da educação, que ele
mesmo elabora ou elaboram para ele, na prática problematizadora, dialógica
por excelência, este conteúdo, que jamais é “depositado”, se organiza e se
constitui na visão do mundo dos educandos, em que se encontram seus
temas geradores (p.102).
Este trabalho está trazendo resultados, pois em 2008 alguns dos educandos que
fizeram a prova do governo federal foram aprovados nas disciplinas do ensino
fundamental, esta prova é o Exame Nacional para Certificação de Competência de
Jovens e Adultos (ENCCEJA). Destaco que tais educandos já estavam alfabetizados,
pois a turma do ano passado estavam em níveis de aprendizado diferentes, por isso
somente seis educandos fizeram a inscrição para a prova e cinco foram realizá-la e
duas passaram em todas as disciplinas e três passaram nas disciplinas que
escolheram para fazer. Com a divulgação desse resultado positivo da prova houve
um aumento significativo dos educandos na procura por escolarização, percebemos
também uma melhora da auto-estima dos educandos e mudanças na perspectiva
de vida, muitos estão pensando em prestar concursos, vestibulares e
principalmente a certificação do ensino fundamental.
De acordo com Furlanetti (FURLANETTI, 2009), queremos mostrar que as
necessidades de se aprender a ler e a escrever inicialmente dos nossos
educandos estão situadas dentro das necessidades mais imediatas, do uso
mais prático do conhecimento, que sua condição de leitor e escritor lhe
permite. Entretanto, não podemos pensar que isso bastará para que nossos
educandos sejam leitores e escritores, se faz necessário desenvolver
atividades que desenvolvam as suas habilidades de leitores e escritores para
que sejam desafiados a buscar informações para melhor compreensão do
mundo (p.22).
Considero nosso trabalho enquanto bolsista muito importante para a formação de
futuros educadores/as, pois aprendemos na prática a realidade da educação
brasileira que muitas vezes não são mostradas. Os alfabetizandos superaram
muitos obstáculos na vida e hoje querem superar mais um, que é deixar de serem
descriminados pelo simples fato de não saberem ler e escrever, esta conquista está
sendo proporcionada através da educação popular. É muito gratificante ampliar os
conhecimentos e experiências entre educador-educando, pois de acordo com alguns
relatos dos educandos/as nós estamos fazendo uma grande diferença em suas
vidas e dizemos o mesmo a eles.
Segundo Freire (FREIRE, 2000), não importa se o projeto é de alfabetização
de adultos, se de educação sanitária, se de cooperativismo, se de
evangelização, a prática educativa será tão mais eficaz quanto,
possibilitando aos educandos o acesso a conhecimentos fundamentais ao
campo em que se formam os desafie a construir uma compreensão crítica de
sua presença no mundo (p.92).
Referências Bibliográficas:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignação. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 19º.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FURLANETTI, Maria Peregrina de Fátima Rotta. Compartilhando Experiências.
Bauru,SP: Canal6, 2009.
FURLANETTI, Maria Peregrina de Fátima Rotta. Formação de Professores
Alfabetizadores de Jovens e Adultos: O educador popular. São Paulo: UNESP, 2001.
Dissertação (Doutorado em Educação Brasileira), Faculdade de Ciências e Filosofia
de Marília, Universidade Estadual Paulista, 2001.
Download

alfabetização de jovens e adultos no parque cedral daiana fabiani