ISSN 0034-7280 Versão impressa Publicação bimestral Vol. 74 - nº 3 - Maio/Junho 2015 REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA MAI/JUN 2015 VOLUME 74 NÚMERO 3 P. 127-196 100 w Perfil epidemiológico de pacientes com glaucoma congênito 95 75 w Benign concentric annular macular dystrophy w Evaluation of retinal nerve fiber layer in optic disc drusen w Intra-ocular lenses and clinical treatment in pediatric catarat capa-MAIO-JUNHO-15 quinta-feira, 9 de abril de 2015 18:49:51 25 5 0 127 ISSN 0034-7280 Revista Brasileira de (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Sociedade Brasileira de Oftalmologia Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior www.sboportal.org.br Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 74, n. 3, p. 127-196, Mai./Jun. 2015 Editor Chefe André Luis Freire Portes (RJ) Editor Executivo Arlindo José Freire Portes (RJ) Co-editores André Luiz Land Curi (RJ) Bruno Machado Fontes (RJ) Carlos Eduardo Leite Arieta (SP) Hamilton Moreira (PR) Liana Maria Vieira de Oliveira Ventura (PE) Marcony R. Santhiago (RJ) Mario Martins dos Santos Motta (RJ) Maurício Maia (SP) Newton Kara-Junior (SP) Niro Kasahara (SP) Renato Ambrósio Jr. (RJ) Rodrigo Jorge (SP) Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira (PE) Silvana Artioli Schellini (SP) Walton Nosé (SP) Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia - EUA Christopher Rapuano - Phyladelphia - EUA Curt Hartleben Martkin - Colina Roma - México Daniel Grigera - Olivos - Argentina Deepinder Kauer Dhaliwal - Pittsburg - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Felix Gil Carrasco - México – México Fernando Arevalo - Riyadh - Arábia Saudita Francisco Rodríguez Alvira – Bogotá - Colombia Howard Fine - Eugene - EUA Jean Jacques De Laey - Ghent - Bélgica Kevin M. Miller - Califórnia - EUA Lawrence P. Chong - Califórnia - EUA Lihteh Wu – San José - Costa Rica Liliana Werner - Utah - EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal - Canadá Pablo Cibils - Assunção - Paraguai Patricia Mitiko Santello Akaishi – Arábia Saudita Peter Laibson - Phyladelphia - EUA Steve Arshinoff - Toronto - Canadá Corpo Editorial Nacional Abelardo de Souza Couto - Rio de Janeiro- RJ Abrahão da Rocha Lucena - Fortaleza - CE Alexandre Augusto Cabral de Mello Ventura - Recife - PE Alexandre H. Principe de Oliveira – Salvador – BA Alexandre Seminoti Marcon – Porto Alegre - RS Ana Carolina Cabreira Vieira – Rio de Janeiro – RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP André Correa de Oliveira Romano – Americana - SP André Curi - Rio de Janeiro - RJ André Luis Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ André Marcio Vieira Messias – Ribeirão Preto – SP Andrea Kara José Senra - São Paulo – SP Antonio Marcelo Barbante Casella - Londrina - PR Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Beatriz de Abreu Fiuza Gomes – Rio de Janeiro - RJ Bruna Vieira Ventura - Recife - PE Bruno Diniz – Goiânia - GO RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd http://www.capes.gov.br 127 Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Gabriel Figueiredo - São José do Rio Preto - SP Carlos Ramos de Souza Dias- São Paulo- SP Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Cristiano Caixeta Umbelino - São Paulo - SP Daniel Lavinsky – Porto Alegre - RS David Leonardo Cruvinel Isaac – Goiania - GO Diego Tebaldi Q. Barbosa - São Paulo - SP Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belém- PA Eduardo Buchele Rodrigues – Florianópolis - SC Eduardo Cunha de Souza – São Paulo - SP Eduardo Damasceno - Rio de Janeiro - RJ Eduardo Dib – Rio de Janeiro - RJ Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Eliezer Benchimol - Rio de Janeiro - RJ Enzo Augusto Medeiros Fulco – Jundiaí - SP Eugenio Santana de Figueiredo – Juazeiro do Norte - CE Fábio Marquez Vaz – Ondina – BA Felipe Almeida - Ribeirão Preto - SP Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte- MG Fernando Marcondes Penha - Florianópolis - SC Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Fernando Roberte Zanetti – Vitória - ES Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa - Recife - PE Frederico Valadares de Souza Pena – Rio de Janeiro - RJ Frederico Guerra - Niterói - RJ Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Harley Biccas - Ribeirão Preto - SP Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Hélcio Bessa - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Heloisa Helena Abil Russ – Curitiba – PR Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS Iuuki Takasaka – Santa Isabel - SP Ivan Maynart Tavares - São Paulo - SP Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS Jair Giampani Junior – Cuiabá - MT Jeffersons Augusto Santana Ribeiro - Ribeirão Preto - SP João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira – Florianópolis – SC João Marcelo de Almeida G. Lyra - Maceió - AL João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Jorge Carlos Pessoa Rocha – Salvador – BA JorgeAlberto de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ José Augusto Cardillo – Araraquara – SP José Beniz Neto - Goiania - GO José Ricardo Carvalho L. Rehder- São Paulo- SP Laurentino Biccas Neto- Vitória- ES Leonardo Akaishi - Brasília - DF Leonardo Provetti Cunha - SP Leticia Paccola - Ribeirão Preto - SP Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Alberto Molina - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Hatanaka – São Paulo – SP Marcelo Netto - São Paulo - SP Marcelo Palis Ventura- Niterói- RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Bonini Filho - Campo Grande - MS Marco Antonio Guarino Tanure - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirão Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Maria Vitória Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Mário Genilhu Bomfim Pereira - Rio de Janeiro - RJ Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Mário Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Marlon Moraes Ibrahim – Franca - SP Mauricio Abujamra Nascimento – Campinas - SP Maurício Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Maurício Dela Paolera - São Paulo - SP Miguel Ângelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- São Paulo- SP Moyses Eduardo Zadjdenweber - Rio de Janeiro - RJ Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Nelson Alexandre Sabrosa - Rio de Janeiro – RJ Newton Kara-José - São Paulo - SP Newton Leitão de Andrade – Fortaleza – CE Núbia Vanessa dos Anjos Lima Henrique de Faria - Brasília-DF Octaviano Magalhães Júnior - Atibaia - SP Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Otacílio de Oliveira Maia Júnior – Salvador - BA Patrick Frensel de Moraes Tzelikis – Brasília – DF Paulo Augusto de Arruda Mello Filho – São Paulo – SP Paulo Augusto de Arruda Mello- São Paulo- SP Paulo Schor - São Paulo - SP Pedro Carlos Carricondo – São Paulo – SP Pedro Duraes Serracarbassa – São Paulo – SP Priscilla de Almeida Jorge – Recife – PE Rafael Ernane Almeida Andrade - Itabuna – BA Raul N. G. Vianna - Niterói - RJ Remo Susanna Jr.- São Paulo- SP Renata Rezende - Rio de Janeiro - RJ Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niterói- RJ Richard Yudi Hida – São Paulo – SP Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Roberto Pinto Coelho – Ribeirão Preto – SP Rodrigo França de Espíndola – São Paulo – SP Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rogerio de Almeida Torres - Curitiba - PR Rubens Belfort Neto – São Paulo – SP Rubens Camargo Siqueira- São José do Rio Preto- SP Sebastião Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sérgio Henrique S. Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Sérgio Kwitko - Porto Alegre - RS Sérgio Luis Gianotti Pimentel – São Paulo – SP Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- São Paulo - SP Suzana Matayoshi - São Paulo - SP Tânia Mara Cunha Schaefer – Curitiba – PR Vitor Cerqueira - Rio de Janeiro - RJ Walter Yukihiko Takahashi – São Paulo – SP Walton Nose- São Paulo- SP Wener Passarinho Cella - Plano Piloto - DF Wesley Ribeiro Campos- Passos- MG Yoshifumi Yamane- Rio de Janeiro- RJ 7/4/2015, 17:12 Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras - CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição:Bimestral Secretaria: Marcelo Diniz Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz [email protected] Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$420,00 ou US$280,00 Impressão: Gráfica Stamppa Associada a ABEC - Associação Brasileira de Editores Científicos 128 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2015-2016 Presidente: João Alberto Holanda de Freitas (SP) Vice-presidentes: Armando Stefano Crema (RJ) Durval Moraes de Carvalho Jr. (SP) Francisco de Assis Cordeiro Barbosa (PE) Miguel Hage Amaro (PA) Sérgio Kwitko (RS) Secretário Geral: Arlindo José Freire Portes (RJ) 1º Secretário: Oswaldo Ferreira Moura Brasil (RJ) 2º Secretário: Jorge Carlos Pessoa Rocha (BA) Tesoureiro: Mário Martins dos Santos Motta (RJ) Diretor de Cursos: Gustavo Amorim Novais (RJ) Diretor de Publicações: André Luis Freire Portes (RJ) Diretor de Biblioteca: Evandro Gonçalves de Lucena Junior (RJ) Conselho Consultivo: Carlos Alexandre de Amorim Garcia (RN) Eduardo Henrique Morizot Leite (RJ) Marco Antonio Rey de Faria (RN) Conselho Fiscal: Efetivos: Jacqueline Coblentz (RJ) Marcelo Lima de Arruda (RJ) Ricardo Lima de Almeida Neves (RJ) Suplentes: Arnaldo Pacheco Cialdini (GO) Helcio José Fortuna Bessa (RJ) Silvana Maria Pereira Vianello (MG) SOCIEDADES FILIADAS À SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Ari de Souza Pena Associação Maranhense de Oftalmologia Presidente: Romero Henrique Carvalho Bertand Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Jair Giampani Junior Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Alvio Isao Shiguematsu Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Otavio Siqueira Bisneto Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Cleiton Cassio Bach Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Elson Yamasato Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Mário Jorge Santos Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Ronald Fonseca Cavalcanti Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Carlos Gabriel de Figueiredo Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Guilherme Herzog Neto Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Carlos Gabriel de Figueiredo Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Leila Sueli Gouveia José Sociedade Brasileira Glaucoma Presidente: Francisco Eduardo Lopes Lima RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 128 Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Cesar Ronaldo Vieira Gomes Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Ramon Coral Ghanem Sociedade Cearense de Oftalmologia Presidente: Newton Andrade Júnior Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: José Eduardo Simarro Rios Sociedade Norte-Nordeste de Oftalmologia Presidente: Carlos Alexandre de Amorim Garcia Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Leonardo Bivar Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: André Hasler Príncipe de Oliveira Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Alexandre Augusto Cabral de Mello Ventura Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Nelson Roberto Salustino Galvão Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Afonso Reichel Pereira Sociedade de Oftalmologia do Sul de Minas Presidente: Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Lauro José Barata de Lima Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Saulo Zanony Lemos Neiva Sociedade Piauiense de Oftalmologia Maria de Lourdes Cristina Alcântara Paz Carvalho do Nascimento Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Carlos Barreto Barbosa Jr. 7/4/2015, 17:12 129 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior www.sboportal.org.br http://www.capes.gov.br Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 74, n. 3, p. 127-196, Mai./Jun. 2015 Sumário - Contents Editorial 131 Qualidade de vida e Glaucoma Quality of life and glaucoma Ricardo Augusto Paletta Guedes Artigos originais 133 Perfil epidemiológico de pacientes com glaucoma congênito atendidos no Hospital Regional de São José Epidemiological profile of patients with congenital glaucoma treated in the Hospital Regional de São José 138 Prevalência de endoftalmite em um hospital universitário Endophthalmitis prevalence in an university hospital 141 Comparação de acuidade visual final: cirurgias de catarata com intercorrências versus sem intercorrências Comparison of final visual acuity: cataract surgery with intraoperative complications versus non intraoperative complications Deyse Bianca Campos Brink, Marília Bastos Quirino Brasil, Günther Bernardes Brink Letícia Maria Coelho,Thaís Martins de Souza, Marco Antônio Guarino Tanure Patrícia Mencaroni Kange, Marcela Costa Cruz, Daniel Martin, Fabio Hara, Renata Magrino Pereira, André Berger Emiliano da Silva 152 Avaliação da função lacrimal, da superfície ocular e do filme lacrimal em pacientes soropositivos para o HIV Evaluation of tear film function, ocular surface and tear film in HIV-seropositive patients Carolina Ramos Mosena, Marcus Vinicius Vieira Pinheiro, Paula Azevedo Alhadeff, Thyarles Tomich Neiva, Sérgio Felberg RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 129 7/4/2015, 17:12 130 160 Variação da pressão intraocular no exercício resistido realizado em duas diferentes posições Variation of intra ocular pressure in resistance exercise performed in two different positions Alex Sander Soares, André Athanazio Caldara, Lucas Ruiz Storti, Luis Felipe Milano Teixeira, João Guilherme Torniziello Terzariol, Marcelo Conte 164 Dificuldades no cotidiano dos pacientes com glaucoma avançado - avaliação objetiva com registro em vídeo Difficulties of daily tasks in advanced glaucoma patients - a videotaped evaluation Ana Isabel Martinho Miguel, Cristina Fonseca, Nuno Oliveira, Filipe Henriques, João Filipe Silva Relato de Casos 171 Trombose do seio dural em idade pediátrica Dural sinus thrombosis in pediatric age 175 Evaluation of retinal nerve fiber layer thickness in a patient with bilateral optic disc drusen Avaliação da espessura da camada de fibras nervosas da retina em um paciente com drusas do disco óptico bilateralmente 178 Coriorretinite esclopetária Chorioretinitis sclopetaria Filipe Mira Ferreira, Bruno Lourenço Costa, António Mendes, Catarina Paiva, António Roque Loureiro Alime Gunes, Seden Demirci, Serpil Demirci, Hasan Rifat Koyuncu Isaac Carvalho de Oliveira Ramos , Diogo Carvalho Macedo dos Santos, Itamar Soares, Vitor Cerqueira 183 Benign concentric annular macular dystrophy Distrofia macular anular concêntrica benigna Luísa Salles de Moura Mendonça, Luciana Castro Lavigne, Luis Fernando Oliveira Borges Chaves, José Maurício Botto de Barros Garcia, David Leonardo Cruvinel Isaac, Marcos Ávila 186 Distrofia policromática posterior da córnea Posterior polychromatic corneal dystrophy Letícia Maria Coelho, Guilherme Kfoury Muinhos, Marco Antônio Guarino Tanure, Homero Gusmão de Almeida, Reinaldo de Oliveira Sieiro Artigo de Atualização 189 Intraocular lenses and clinical treatment in paediatric cataract Lentes intraoculares e tratamento clínico na catarata pediátrica Camila Ribeiro Koch Pena , Priscilla Almeida Jorge, Newton Kara-Junior Instruções aos autores 194 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd Normas para publicação de artigos na RBO 130 7/4/2015, 17:12 EDITORIAL 131 Qualidade de vida e glaucoma Quality of life and glaucoma O Glaucoma é a principal causa de cegueira irreversível no mundo(1). O principal e mais desafiador objetivo do tratamento do glaucoma é manter a qualidade de vida (QDV) dos pacientes a um custo aceitável(2). QDV é um conceito complexo e multidimensional, que inclui o estado de saúde do indivíduo, o bem-estar físico e psicológico, assim como uma boa capacidade de desempenho social e cognitivo(3). Na área da medicina, a QDV está relacionada a diversas dimensões, desde a preocupação do indivíduo com a doença e suas consequências, passando pelo transtorno funcional causado pela doença, até os efeitos indesejáveis dos tratamentos(2). Os indivíduos diagnosticados com glaucoma podem ter sua QDV prejudicada por diversas razões: perda da função visual; dificuldade na rotina diária do tratamento; efeitos colaterais e custo do tratamento; preocupação, ansiedade e medo ligados ao diagnóstico de uma doença crônica, que ameaça sua visão(2). De uma maneira geral, há evidências na literatura que quanto mais avançado o glaucoma, pior a QDV(4-5). No entanto, esta pode estar prejudicada mesmo em estágios iniciais da doença, como observado no Los Angeles Latinos Eye Study (LALES)(5). A perda da função visual é o principal determinante para uma pior QDV no glaucoma e pode comprometer as atividades diárias dos pacientes como ler, dirigir, andar, julgar distâncias e ver objetos que se aproximam pelo lado(4). Os efeitos psicológicos (medo da cegueira e afastamento social) do glaucoma no indivíduo também não são negligenciáveis e tendem a aumentar com o avanço da doença(4). O próprio tratamento pode ter um impacto importante na QDV(4). As medicações antiglaucomatosas podem influenciar a qualidade de vida de diferentes maneiras: o uso diário das medicações relembra ao paciente de sua condição de portador de uma doença incurável; os colírios podem ser caros e difíceis de aplicar; os efeitos colaterais locais e sistêmicos, podem afetar sua visão e saúde geral; o esquema das doses, que pode interferir no seu cotidiano deixando os pacientes ansiosos (se estão usando corretamente as medicações)(6). Já se demonstrou que quanto maior o número e a prevalência dos efeitos colaterais das medicações, pior a qualidade e vida(7); quanto maior o regime de gotas, pior a qualidade de vida(8-9); quanto mais caro o tratamento, pior a qualidade e vida(8-10). Poucos estudos compararam os diferentes tratamentos utilizando como resultado a QDV dos pacientes. A QDV, quando utilizada como desfecho do estudo, é a forma ideal para a avaliação de um tratamento, pois esta é a medida de desfecho mais importante sob o ponto de vista do paciente. Para o estudo da QDV como desfecho, podemos utilizar o método quantitativo (uso de instrumentos específicos para tal, como os questionários validados) e o método qualitativo (entrevistas abertas, grupos focais etc.). A QDV, em geral, pode ser difícil de ser quantificada. Nesta tentativa, diferentes instrumentos ou métodos foram desenvolvidos e validados. Alguns exemplos são: Visual Function Questionnaire, desenvolvido pelo National Eye Institute, nos EUA (NEIVFQ); Glaucoma Symptom Scale (GSS), Glaucoma Quality of Life – 25 (GQL-25) e Symptom Impact Glaucoma Score (SIG). Uma revisão da Cochrane identificou somente 1 estudo controlado randomizado que compara diretamente diferentes tipos de tratamento para glaucoma (medicamentoso versus cirurgia), tendo como um dos desfechos a QDV: o Collaborative Initial Glaucoma Treatment Study (CIGTS)(11-12). Este estudo avaliou 607 pacientes recém-diagnosticados com glaucoma, os quais foram randomizados para tratamento clínico ou trabeculectomia. A QDV foi avaliada através de 3 questionários, que duravam aproximadamente 48 minutos para serem respondidos pelos pacientes(12). Os resultados mostraram que os pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico apresentavam escores mais baixos de QDV na fase inicial do tratamento (relacionada principalmente ao desconforto local da cirurgia). Esta diferença desaparecia ao longo do tempo. Outro achado importante foi que a QDV em ambos os grupos era pior logo após o diagnóstico e que os escores mostram uma tendência de melhora com o tempo, mostrando que os pacientes tendem a se acostumar com a doença e seus sintomas(12). Em outro estudo avaliaram a QDV diretamente; Guedes et al. avaliaram 225 pacientes entrevistados através da versão brasileira do NEI-VFQ. Neste estudo transversal, os pacientes foram divididos em 3 grupos, grupo 1 (pacientes em tratamento clínico exclusivo sem nunca terem passado por nenhuma cirurgia filtrante); grupo 2 (pacientes operados não usando nenhuma medicação antiglaucomatosa) e grupo 3 (pacientes operados, mas que necessitaram retornar ao uso de medicação antiglaucomatosa)(13). Os grupos eram homogêneos quanto às seguintes variáveis: idade, sexo, raça, escolaridade e tipo de glaucoma. Quando controlados pelo estágio de glaucoma (inicial, moderado e avançado), não houve diferença entre os escores dos pacientes submetidos a tratamento cirúrgico ou àqueles em tratamento clínico, exceto para os glaucomas iniciais. Os resultados mostraram que pacientes que foram submetidos à cirurgia filtrante em estágio inicial de glaucoma, tiveram um score mais baixo de QDV quando comparados com pacientes em uso crônico de colírios(13). Esta diferença não foi observada nos glaucomas moderados ou avançados e estava relacionada principalmente à dimensão psicológica. Outro estudo do mesmo grupo (Guedes et al.) avaliaram a QDV em portadores de glaucoma sob tratamento clínico em uso de diferentes prostaglandinas (Bimatoprosta, Latanoprosta e Travoprosta)(14). Neste estudo, 213 pacientes foram avaliados através de questionário validado para a população brasileira. Os resultados mostraram que a Travoprosta tinha resultados de QDV similares à Latanoprosta. Entre as 3 prostaglandinas, a Bimatoprosta foi a que mostrou ter menor score de QDV(14), apesar do fato já ter sido demonstrado em outros estudos, que mostram que ela é a prostaglandina que reduz mais a pressão intraocular e é a droga mais custo-efetiva(15-17). Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 131-2 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 131 7/4/2015, 17:12 132 Guedes RAP A pesquisa com metodologia qualitativa visa captar aspectos relacionados à doença que seriam muito difíceis de serem observados através de estudos quantitativos da QDV. Na literatura médica são praticamente inexistentes estudos de pesquisa com abordagem qualitativa, que tentam elucidar as crenças e os valores atribuídos pelos pacientes portadores de glaucoma ao tipo de tratamento proposto pelo médico (clínico ou cirúrgico). Um estudo através do método qualitativo foi realizado por Vieira et al. visando buscar as diferentes perspectivas dos pacientes a respeito do glaucoma e seu tratamento(18). Foram realizados 2 grupos focais, onde as entrevistas eram realizadas em grupo e gravadas em mídia digital (grupo 1: pacientes em tratamento clínico exclusivo em estágio avançado de glaucoma e grupo 2: pacientes operados em ambos os olhos há pelo menos 1 ano, sem nenhuma medicação, também em estágio avançado de glaucoma)(18). Os resultados mostraram que o glaucoma desperta nos pacientes um profundo medo e preocupação não somente com a perda da visão, mas também com o impacto da doença e do seu tratamento no dia a dia (quedas, custo, utilização dos colírios em horários pré-determinados, efeitos colaterais etc.)(18). Ambos os grupos apresentaram o mesmo nível de preocupação com a doença e com a cegueira. O custo e os efeitos colaterais do tratamento foram os fatores negativos mais relevantes levantados pelos pacientes(18). Os pacientes do grupo cirúrgico foram unânimes em preferir a cirurgia em relação ao uso crônico de colírios. Pacientes operados de glaucoma parecem apresentar menor impacto no seu cotidiano, mas a preocupação com a doença persiste(18). A confiança no médico e na correta indicação do tratamento, seja ele clínico ou cirúrgico, é fator preponderante para uma maior tranquilidade e, consequentemente, uma melhor QDV, reforçando a necessidade de uma boa relação médico-paciente(18). O estudo do impacto do glaucoma e de seu tratamento na QDV dos pacientes é de fundamental importância, pois a QDV é o objetivo final de qualquer terapia antiglaucomatosa, mas também é o desfecho mais relevante do ponto de vista do paciente. Mais estudos são necessários para podermos lidar melhor com a diminuição da QDV nos pacientes portadores de glaucoma. Mas, desde já temos que ter em mente que: • o glaucoma tem um impacto grande na QDV; • o tipo de tratamento pode interferir em uma melhor ou pior QDV; • o médico tem um papel fundamental na manutenção e na melhoria da QDV, através do tratamento adequado e personalizado, lembrando que uma das maneiras de tentar aliviar o peso da doença é estabelecer uma boa relação médico-paciente. Ricardo Augusto Paletta Guedes Pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); mestrado em Saúde Coletiva (UFJF), doutorado em Saúde (UFJF), especialista em Glaucoma pelo Centre Hospitalier National d’Ophthalmologie des Quinze-Vingts (Universidade de Paris, França) R EFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. Resnikoff S, Pascolini D, Etya’ale D, Kocur I, Pararajasegaram R, Pokharel GP et al. Global data on visual impairment in the year 2002. Bull World Health Organ. 2004; 82:844-851. European Glaucoma Society. Terminology and Guidelines for Glaucoma, 2nd ed. Savona, Italy: Ed Dogma; 2003. Zanlonghi X, Arnould B, Bechotille A, Baudouin C, Bron A, Denis P et al. Glaucoma and quality of life. J Fr Ophthalmol. 2003; 26 (HS 2): 2S39-44. McKean-Cowdin R, Varma R, Wu J, Hays RD, Azen SP, Los Angeles Latino Eye Study Group. Severity of visual field loss and helathrelated quality of life. Am J Ophthalmol 2007; 143(6): 1013-23. Sckalicky S, Goldberg I. Quality of life in glaucoma patients. US Ophthalmic Review. 2013; 6(1): 6-9. Emerick GT. Quality of life and glaucoma medications. Do our prescriptions make a difference? Glaucoma Today. 2005; 5:38-39. Nordmann JP, Auzannaeu N, Ricard S, Berdeaux G. Vision realated quality of life and topical glaucoma treatment side effects. Health Qual Life Outcomes. 2003;10:1-75. Tsai J. A comprehensive perspective on patient adherence to topical glaucoma therapy. Ophthalmology 2009; 116: S30-6. Hong S, Kang SY, Yoon JU, Kang U, Seong GJ, Kim CY. Drug atitude and adherence to anti-glaucoma medication. Yonsei Med J. 2010; 51(2):261-9. Silva LMS, Vanconcellos JPC, Temporini ER, Costa VP, Kara-José N. Tratamento clinico do glaucoma em um hospital universitário: custo mensal e impacto na renda familiar. Arq Bras Oftalmol. 2002; 65:299-303. Burr J, Azuara-Blanco A, Avenell A. Medical versus surgical interven tions for open-angle glaucoma (Cochrane Review). The Cochrane Library, Issue 4, 2007. Feiner L, Piltz-Seymour JR, Collaborative Initial Glaucoma Treatment Study Group. Collaborative initial glaucoma treatment study: a summary of results to date. Curr Opin Ophthalmol. 2003; 14:106-111. Paletta Guedes RA, Paletta Guedes VM, Freitas SM, Chaoubah A. Quality of Life of Medically Versus Surgically Treated Glaucoma Patients. J Glaucoma. 2012; March 7(Epub ahead of print). Guedes RA, Guedes VM, Freitas SM, Chaoubah A. Quality of Life of Glaucoma under medical therapy with different prostaglandins. Clinical Ophthalmol. 2012;6:1749-53. Aptel F, Cucherat M, Denis P. Efficacy and tolerability of prostaglandina analogs: a meta-analysis of randomized controlled clinical trials. J Glaucoma. 2008, 17:667-673. Noecker RJ, Walt JG. Cost-effectiveness of monotherapy treatment of glaucoma and ocular hypertension with the lipid class of medications. Am J Ophthalmol. 2006; 141: S15-S21. Guedes RPA, Guedes VMP, Chaoubah A. Custo-efetividade dos análogos de prostaglandinas no Brasil. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67:281-6. Vieira AA, Guedes, RA, Vieira RC, Guedes, VM. Percepção dos pacientes portadores de glaucoma sobre sua doença e os diferentes tipos de tratamento (clinico versus cirúrgico). Rev Bras Oftalmol (em submissão). Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 131-2 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 132 7/4/2015, 17:12 ARTIGO ORIGINAL 133 Perfil epidemiológico dos pacientes com glaucoma congênito atendidos no Hospital Regional de São José Epidemiological profile of patients with congenital glaucoma treated in the Hospital Regional de São José Deyse Bianca Campos Brink1, Marília Bastos Quirino Brasil1, Günther Bernardes Brink1 R ESUMO Objetivo: Delinear um perfil epidemiológico de pacientes com glaucoma congênito atendidos no serviço de Oftalmologia do Hospital Regional de São José, bem como a evolução destes pacientes com os tratamentos empregados. Métodos: Foi realizado um estudo longitudinal, retrospectivo, descritivo que avaliou 32 pacientes com glaucoma congênito atendidos em ambulatório, desde a primeira consulta quando ingressaram no serviço e consultaram pelo menos duas vezes no período de 1º de março de 2009 até 1º de fevereiro de 2011. Resultados: Houve predominância do sexo feminino (59,37%). Com relação à lateralidade, ambos os olhos foram acometidos em 91% dos casos. A maioria dos pacientes (78,12%) apresentava glaucoma congênito primário. Oitenta e cinco cirurgias foram realizadas para o glaucoma congênito, destes 63,52% foram submetidos à trabeculotomia. A pressão intraocular aferida na primeira e na última consulta diminuiu em 85,93% dos 64 olhos, já em relação à pressão intraocular média houve uma diminuição de 82,81% em relação ao valor na primeira consulta. Ao realizar a comparação do diâmetro corneano horizontal da primeira consulta em relação à última, bem como da primeira consulta em relação à média das aferições de todas as consultas, em 25,42% ocorreu aumento. Conclusão: Nos pacientes com glaucoma congênito, houve predomínio do acometimento bilateral e do sexo feminino. A maioria dos pacientes apresentou diminuição da pressão intraocular na última consulta em relação à primeira e em poucos pacientes houve um aumento do diâmetro corneano horizontal. Descritores: Glaucoma/congênito; Glaucoma/epidemiologia; Trabeculectomia; Hidroftalmia; Pressão intraocular ABSTRACT Objective: To outline an epidemiological profile of patients with congenital glaucoma treated in the ophthalmology service, as well as the evolution of these patients with the treatment adopted. Methods: A longitudinal, retrospective, descriptive study was undertaken in order to evaluate 32 patients with congenital glaucoma treated in the clinic, from the first consultation in which they entered the service and who attended the clinic at least two times in the period from march 1st, 2009 to february 1st, 2011. Results: There was a predominance of female patients (59.37%). In relation to the lateralization, both eyes were affected in 91% of the cases. Most patients (78.12%) presented primary congenital glaucoma. Eighty-five surgeries were performed for congenital glaucoma, 63.52% of them were submitted to trabeculotomy. The intraocular pressure measured in the first and in the last consultation diminished in 85.93% of the 64 eyes, and in relation to the mean intraocular pressure there was a decrease of 82.81% in relation to the value of the first consultation. When making the comparison of the horizontal corneal diameter of the first consultation in relation to the last one, as well as of the first consultation in relation to the average of the measurements of all consultations, in 25.42% there was an increase. Conclusion: In the patients with congenital glaucoma, there was a predominance of bilateral involvement and of female patients. Most patients presented a decrease of intraocular pressure in the last consultation in relation to the first one, and in a few patients there was an increase of horizontal corneal diameter. Keywords: Glaucoma/congenital; Glaucoma/epidemiology; Trabeculectomy; Hydrophthalmos; Intraocular pressure 1 Hospital Regional de São José Dr. Homero de Miranda Gomes (HRSJ-HMG) – São José (SC), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 12/05/2013 - Aceito para publicação em 07/10/2013 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 133-7 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 133 7/4/2015, 17:12 134 Brink DBC, Brasil MBQ, Brink GB INTRODUÇÃO O glaucoma congênito é uma enfermidade com manifestação bilateral em 75% dos casos (1,2), de evolução assimétrica, que atinge com maior frequência o sexo masculino(1). A maioria dos casos é de ocorrência esporádica. Em aproximadamente 10% dos casos acredita-se que o padrão de herança é autossômico recessiva(1). Os glaucomas congênitos podem ser separados em três grupos(1,3-6). O primeiro é composto de glaucomas congênitos isolados, em que o desenvolvimento anormal do ângulo da câmara anterior leva a uma obstrução do fluxo aquoso sem uma associação consistente com o desenvolvimento de outras anormalidades oculares ou sistêmicas. O segundo engloba o glaucoma do desenvolvimento associado a alguma anomalia, na qual uma anormalidade de desenvolvimento é responsável pelo glaucoma, mas alterações adicionais oculares e sistêmicas estão presentes. O terceiro grupo engloba os glaucomas adquiridos na infância (glaucoma secundário) em que o mecanismo de obstrução do fluxo é adquirido devido a outros eventos como inflamações, e não por uma alteração de desenvolvimento do ângulo(1). O glaucoma congênito primário (GCP) é uma enfermidade rara, apresenta uma incidência geral de 1 para cada 10.000 nascimentos(1,5,6), podendo variar entre populações e continentes. Devido à consanguinidade o GCP é mais frequente em populações isoladas, como na Arábia Saudita (1:2.500)(2,6), entre ciganos da Eslováquia (1:1.250)(6) e entre habitantes de Andhra Pradesh, na Índia (1:3.300)(6). O tratamento do glaucoma congênito é essencialmente cirúrgico(1,2,5-12). A goniotomia é o procedimento de escolha sempre que o grau de transparência da córnea permita realizá-la(1,5,6). A trabeculotomia, por sua vez, é indicada quando a visão do seio camerular está prejudicada(1,5,6). Alternativas cirúrgicas são a trabeculectomia com a aplicação de mitomicina C, dispositivos artificiais de drenagem do humor aquoso e procedimentos ciclodestrutivos(1,5,13). O acompanhamento do paciente com glaucoma congênito deve incluir além da aferição da pressão intraocular, medida seriada do diâmetro corneano(1,2,5,7,8,14-16), ecobiometria(1,5,7,10,14) e a avaliação dos sinais e sintomas. A diminuição da pressão intraocular diminui o edema corneano e consequentemente os sintomas relacionados a ele. O objetivo deste trabalho é delinear um perfil epidemiológico de pacientes com glaucoma congênito atendidos no serviço de Oftalmologia do Hospital Regional de São José, considerado serviço de referência em Santa Catarina, bem como a evolução destes pacientes com os tratamentos empregados. MÉTODOS Foi realizado um estudo longitudinal, retrospectivo, descritivo que avaliou 32 pacientes com diagnóstico de glaucoma congênito atendidos no ambulatório de glaucoma do Hospital Regional de São José (HSRJ) desde a primeira consulta em que ingressaram no serviço e que consultaram pelo menos duas vezes no período de 1º de março de 2009 até 1º de fevereiro de 2011. Os dados avaliados foram sexo, olho acometido, história familiar, idade na última consulta, idade quando teve o diagnóstico de glaucoma congênito, quem suspeitou de que havia algu- ma alteração ocular na criança e orientou procurar uma consulta especializada, região de procedência de Santa Catarina, sintomas e sinais presentes na primeira consulta, exame de fundo de olho, mensuração do comprimento axial ocular por ultrassonografia tipo A, alterações oculares e sistêmicas associadas e tipo de tratamento. Também foram avaliados a medida do diâmetro corneano horizontal e da pressão intraocular em todas as consultas. Estes dados foram lançados no Microsoft Office Excel 2007 para o cálculo das porcentagens. Foi considerado, na avaliação da pressão intraocular e do diâmetro corneano horizontal o valor na primeira e na última consulta, bem como o valor médio em todas as consultas realizadas. A aferição do diâmetro corneano horizontal foi realizada com compasso e da pressão intraocular com o tonômetro de Perkins. No que se refere à idade do diagnóstico de glaucoma congênito os pacientes foram divididos em sete faixas etárias diferentes: 1) 0 a 9 dias; 2) 10 dias até 1 mês; 3) >1 mês até 3 meses; 4) >3 até 6 meses; 5) >6 meses até 1 ano; 6) >1 ano até 3 anos; 7) >3 anos. Em relação à idade na última consulta os pacientes foram divididos em nove faixas etárias: 1) 6 meses até um ano; 2) >1 ano até 2 anos; 3) >2 até 3 anos; 4) >3 até 5 anos; 5) >5 até 7 anos; 6) >7 até 9 anos; 7) >9 até 12 anos; 8) >12 até 16 anos; 9) >16 anos. A região de procedência em Santa Catarina foi classificada em oito regiões seguindo a classificação geográfica: litoral, nordeste, vale do Itajaí, Planalto Norte, Planalto Serrano, sul, meioOeste e Oeste. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Regional de São José Dr. Homero de Miranda Gomes por meio do protocolo CEP n. 02-11. R ESULTADOS Em um total de 32 pacientes com glaucoma congênito, 19 eram do gênero feminino (59,37%) e 13 eram do gênero masculino (40,62%). A média da idade na última consulta foi de 7,06 anos, com seus extremos variando de 7 meses a 32 anos (tabela 1). No que concerne à história familiar apenas 16% dos pacientes apresentavam outros casos de glaucoma congênito na família e em nenhum dos casos os pais eram consanguíneos. Em 80% dos pacientes em que a história familiar era positiva o diagnóstico era glaucoma congênito primário. Em relação à lateralidade, 29 pacientes (91%) apresentaram glaucoma em ambos os olhos e 3 (9%) apresentaram glaucoma unilateral. Os municípios da região sul foram informados da procedência de sete (22%) pacientes. O grupo que compreende o litoral catarinense como origem totalizou seis (19%) casos. Em menor número a procedência foi relatada como dos municípios do Vale Figura 1. Distribuição de 32 pacientes, segundo a procedência Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 133-7 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 134 7/4/2015, 17:12 Perfil epidemiológico dos pacientes com glaucoma congênito atendidos no Hospital Regional de São José do Itajaí em dois (6%) casos. Nenhum dos pacientes da amostra era procedente de cidades do Planalto Norte (figura 1). No que se refere à idade do diagnóstico de glaucoma congênito observou-se que o grupo (0 a 9 dias) foi responsável por 10 (31,25%) casos (figura 2). 135 valores esperados no intervalo de confiança(1) esta porcentagem subia para 76,66%. Ao considerarmos apenas o valor pontual esperado para a idade do paciente em meses sem considerar o intervalo normal em 80% o DAP estava acima do esperado (figura 4). Em 4 olhos a mensuração do comprimento axial ocular por ultrassonografia tipo A não foi realizada (paciente 3 em ambos os olhos, pacientes 15 e 20 no olho esquerdo). Figura 2. Distribuição dos 32 pacientes segundo a idade quando tiveram o diagnóstico de glaucoma congênito A pessoa que suspeitou de alguma alteração ocular na criança e procurou atendimento especializado foi a mãe destes pacientes em 60% dos casos, o pediatra foi responsável por 25% das suspeições e os avós por 6%. O sintoma que predominou na primeira consulta foi a fotofobia (65,62%), seguido pela epífora com 13 (40,62%) casos. Com relação aos sinais na primeira consulta 56,25% dos casos apresentavam opacidade corneana e 81,25% aumento das dimensões oculares. A maioria dos pacientes (78,12%) apresentava glaucoma congênito primário, 6,25% apresentavam alterações oculares associadas e 15,62% alterações sistêmicas (tabela 1). Figura 3. Tempo de acompanhamento de cada paciente desde a primeira consulta até a última em meses Tabela 1 Distribuição dos 32 pacientes em relação ao sexo, idade na última consulta e a classificação do glaucoma congênito Número % 19 13 59,37 40,62 Sexo: Feminino Masculino Idade na última consulta 6 meses até um ano > 1 ano até 2 anos > 2 até 3 anos > 3 até 5 anos > 5 até 7 anos > 7 até 9 anos > 9 até 12 anos >12 até 16 anos >16 anos Classificação do glaucoma congênito Glaucoma congênito primário Glaucoma associado a anomalias congênitas Glaucomas adquiridos na infância 2 4 4 6 3 3 2 5 3 25 7 0 6 13 13 19 9 9 6 16 9 78,12 21,88 0 O tempo médio de acompanhamento dos pacientes no serviço de glaucoma desde a primeira consulta em que ingressaram no serviço até a última foi de 41,5 meses, com seus extremos variando de 2 meses a 173 meses (figura 3). O exame de fundoscopia foi impossível devido à opacidade de meios, na primeira consulta, em 48,43% dos 64 olhos avaliados. O diâmetro ântero-posterior (DAP) em 65% dos casos estava acima do esperado para a idade (meses) do paciente em relação aos valores esperados na linha de previsão(1), já em relação aos Figura 4:.Distribuição de 64 olhos de 32 pacientes que foram atendidos no HRSJ-HMG, segundo o diâmetro ântero-posterior (DAP) (em mm) do olho direito e do olho esquerdo comparando com o DAP esperado para a idade em meses, com o valor esperado no intervalo de confiança de 95%(1) e com o valor esperado da linha de previsão(1) Oitenta e cinco cirurgias foram realizadas para o glaucoma congênito, destas 63,52% foram trabeculotomia, 20% trabeculectomia + mitomicina C, 8,23% implante de tubo de Molteno, 7,05% trabeculotomia associada à trabeculectomia + mitomicina C, 1,17% implante de válvula de Ahmed. Em três pacientes (9,37%) não foi necessária a intervenção cirúrgica pois já haviam sido operados em outro serviço e apresentavam quadro estável (figura 5). Na última consulta, 43,75% dos 64 olhos avaliados não estavam em uso de colírios para controle da pres- Figura 5. Distribuição dos 32 pacientes segundo o número de cirurgias realizadas para glaucoma congênito Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 133-7 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 135 7/4/2015, 17:12 136 Brink DBC, Brasil MBQ, Brink GB to. Destes em apenas 2 (13,33%) a PIO média aumentou em relação à aferição da PIO na primeira consulta. D ISCUSSÃO Figura 6: Distribuição dos 32 pacientes segundo o número de colírios hipotensores em uso na última consulta são intraocular, 20,31% estavam em uso de apenas um colírio, 21,87% estavam em uso de dois colírios (figura 6). A pressão intraocular aferida na primeira e na última consulta diminuiu em 85,93% dos 64 olhos, já em relação à pressão intraocular média houve uma diminuição de 82,81% em relação ao valor na primeira consulta. Em 15,62% dos olhos aumentou o valor da PIO ao comparar a medida na primeira consulta em relação à média de todas as aferições, isso ocorreu em 10,93% ao comparar apenas a PIO na primeira consulta e na última (figura 7). Figura 7. Distribuição de 64 olhos de 32 pacientes, segundo a PIO do olho direito e do olho esquerdo na primeira consulta e na última em número (mmHg), bem como a pressão intraocular média de todas as consultas realizadas O diâmetro corneano horizontal pode ser comparado em 59 olhos, pois em 5 olhos não houve uma aferição adequada. Destes cinco olhos em que não foi realizada a medida do diâmetro corneano, quatro apresentavam Phthisis bulbi (pacientes 15 e 20 no olho esquerdo e pacientes 24 e 28 no olho direito), e por este motivo não foi realizada a medida de forma seriada. A Phthisis bulbi em um paciente aconteceu após a cirurgia, dois pacientes foi secundária à trauma e um já apresentava o quadro quando iniciou o acompanhamento no serviço. O diâmetro corneano horizontal em 52,54%, ou seja, em 31 olhos manteve o mesmo valor em todas as consultas. Ao realizar a comparação do diâmetro corneano horizontal da primeira consulta em relação à última, bem como da primeira consulta em relação à média das aferições de todas as consultas em 25,42% ocorreu aumento (figura 8). Totalizaram, portanto, 15 olhos que apresentaram aumento do diâmetro corneano horizontal durante o acompanhamen- Figura 8. Distribuição de 64 olhos de 32 pacientes, segundo o diâmetro corneano horizontal do olho direito e do olho esquerdo na primeira consulta e na última em número (mm), bem como a média da aferição do diâmetro corneano horizontal de todas as consultas realizadas O glaucoma congênito primário ocorre aproximadamente em 1 a cada 10.000 nascimentos(1,5,6). Neste estudo 78,12% dos pacientes apresentavam glaucoma congênito primário. Houve uma predominância do sexo feminino e do acometimento bilateral no presente estudo. A literatura demonstrou uma preponderância do sexo masculino(1,5,17) e uma prevalência de bilateralidade entre 65% a 80% dos casos(1,2,5,17,18). No entanto, no Japão o sexo feminino é o mais afetado, com razão de meninas para meninos de 3:2(6). Não existem dados disponíveis sobre a epidemiologia do glaucoma congênito na população brasileira(6). A região de procedência foi incluída na pesquisa com a finalidade de tentar delinear a epidemiologia, mesmo com limitações e restrita aos pacientes atendidos no SUS, em Santa Catarina. Nenhum dos pacientes da amostra era procedente de cidades do Planalto Norte, que apresenta divisa com o estado do Paraná, existindo a possibilidade de as mesmas estarem sendo referenciadas para o estado vizinho. A evolução do glaucoma congênito é predominantemente assimétrica(1), portanto faz-se sempre obrigatório o exame comparativo entre os olhos. Neste estudo 61 olhos apresentavam glaucoma congênito, mas o acompanhamento foi realizado em 64 olhos. Os pacientes 27 e 31 apresentavam glaucoma congênito apenas no olho direito e o paciente 26 apenas no esquerdo. No que concerne à história familiar, 84% dos pacientes com glaucoma congênito não apresentavam antecedentes da doença na família. Entretanto, independente de história familiar, os pais de crianças que apresentam glaucoma congênito primário devem estar cientes do risco de transmitir esta característica aos outros filhos, mesmo sendo este risco pequeno (assumindo-se a herança autossômica recessiva)(1,6). Todos os irmãos de qualquer criança com glaucoma congênito primário devem, portanto, ser analisados cuidadosamente para excluir esta doença. O início do quadro clínico da doença se manifesta no primeiro ano de vida em mais de 80% dos casos, dos quais 25% são diagnosticados no período neonatal e 60% nos primeiros 6 meses de vida(6,17). No estudo do perfil de pacientes com glaucoma congênito, a maioria dos pacientes teve o diagnóstico antes dos 10 dias após o nascimento (31,25%) e apenas 21,86% dos casos tiveram o diagnóstico após os 6 meses, ou seja, conforme descrito na literatura. Competem aos pediatras o diagnóstico e tratamento das afecções oculares mais simples, bem como o encaminhamento para o exame oftalmológico especializado quando for necessário. Neste estudo, o pediatra foi responsável por 25% das suspeições. Uma pesquisa realizada em Porto Alegre acerca do conhecimento dos pediatras das afecções oculares na criança(19) demonstrou que 52% não sabiam que a tríade sintomática do glaucoma congênito é fotofobia, epífora e blefaroespasmo. Nos glaucomas que aparecem depois de um ano de idade, é difícil que haja fotofobia(1). Quatro pacientes (12,5%) tiveram o diagnóstico após 1 ano de idade, destes 50% apresentavam fotofobia no momento do diagnóstico. Quando o processo glaucomatoso se instala nos primeiros 3 anos de vida, devido às características das fibras colágenas oculares dessa idade, as dimensões do globo ocular tendem a aumentar(1). Nas crianças com mais de 3 anos o segmento anterior não mostra sinais de aumento das dimensões, o que torna mais difícil o diagnóstico de glaucoma(1). Três pacientes (9,37%) foram diagnosticados após os 3 anos de idade, destes apenas um apresentava aumento das dimensões oculares. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 133-7 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 136 7/4/2015, 17:12 Perfil epidemiológico dos pacientes com glaucoma congênito atendidos no Hospital Regional de São José O diâmetro horizontal da córnea de um recém-nascido normal varia de 10 a 10,5mm e alcança valores de 11 a 12mm com 1 ano de vida(1), sendo considerado um parâmetro para o acompanhamento de crianças com glaucoma congênito(1,5,14,19). Kiskis et al., ao estudarem 31 olhos de 17 crianças portadoras de glaucoma congênito primário concluíram que o diâmetro corneal é o parâmetro mais sensível (97%) e não requer equipamento dispendioso(20). No HRSJ é o parâmetro utilizado para o acompanhamento de pacientes com glaucoma congênito juntamente com a aferição da pressão intraocular. A mensuração do comprimento axial ocular por ultrassonografia tipo A é um exame que auxilia no diagnóstico e seguimento do glaucoma congênito (1,5,7,10,14,17), no entanto, não é um parâmetro utilizado para seguimento no HRSJ em todos os pacientes devido a não disponibilidade do mesmo durante o exame sob sedação realizado em centro cirúrgico. Para utilizar o diâmetro ântero-posterior (DAP) como meio propedêutico, na infância, é necessário conhecer as dimensões do olho normal nessa faixa etária(1). No presente estudo, esta comparação foi realizada por meio de tabela existente na referência (1), sendo efetuada a correlação entre o DAP (em mm) e a idade (meses) em olhos normais e nos pacientes do estudo, levando em consideração o valor médio, bem como os valores encontrados no intervalo de confiança de 95%(1) e os valores existentes na linha de previsão(1). De modo geral o tratamento do glaucoma congênito é cirúrgico(1,2,5-7,9,11-13,17,18) sendo o tratamento clínico utilizado apenas como coadjuvante(1,5,17). A primeira escolha para o tratamento clínico são os colírios de betabloqueadores e inibidores da anidrase carbônica(5,17), sendo contraindicados os colírios alfa agonistas(1,17). Quando existe a necessidade de tratamento clínico associado, há preferência pelos colírios de betabloqueadores e inibidores tópicos da anidrase carbônica. A goniotomia é o procedimento de escolha em alguns serviços, no entanto necessita de transparência da córnea e uma lente gonioscópica de observação direta. No estudo aqui apresentado este procedimento não foi realizado em nenhum dos pacientes. A literatura descreve que os resultados da goniotomia são muito similares aos da trabeculotomia, com taxa de sucesso em torno de 90%(1,18). No serviço de glaucoma a trabeculotomia é o procedimento adotado em pacientes com glaucoma congênito primário. A vantagem deste procedimento é que independe da transparência de meios para ser realizado. Por outro lado, para a realização da trabeculotomia, ao contrário da goniotomia, há necessidade de manipulação conjuntival, originando uma fibrose cicatricial (1,17,18). Um paciente (24) apresentou Phthisis bulbi após cirurgia realizada no HRSJ, uma complicação grave que acarreta problemas funcionais e estéticos. Este paciente já havia sido submetido a sete cirurgias no olho que evoluiu para Phthisis bulbi, apresentando difícil controle da doença apesar da terapêutica instituída. As crianças portadoras de glaucoma congênito cujos olhos atingem dimensões buftálmicas ficam expostas a traumatismos contusos, que podem levar à ruptura do globo ocular, tendo como evolução final a atrofia do bulbo ocular(1). Dois pacientes evoluíram para Phthisis bulbi após trauma. C ONCLUSÃO Nos pacientes com glaucoma congênito houve predomínio do acometimento bilateral e do sexo feminino. A maioria dos 137 pacientes apresentou uma diminuição da pressão intraocular na última consulta em relação à primeira e em poucos pacientes houve aumento do diâmetro corneano horizontal. R EFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. Dias JF, Almeida HG, Prata Junior AP. Glaucoma. 4a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2010. Elder MJ. Congenital glaucoma in the West Bank and Gaza Strip. Br J Ophthalmol. 1993;77(7):413-6. Dickens CJ, Hoskins Jr HD. Epidemiology and pathophysiology of congenital glaucoma. In: Ritch R, Shields MB, Krupin T. (editors). The glaucomas. 2a ed. St. Louis: Mosby; 1996. Lopes Filho JG, Betinjane AJ, Carvalho CA. [Automated perimetry in patients with primary congenital glaucoma]. Arq Bras Oftalmol. 2007;70(1):37-40. Portuguese. Shields MB, Allingham RR, Damji KF, Freedman S, Moroi S, Shafranov G. Shields Tratado de Glaucoma. 5a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2008. Paolera MD. Avaliação do gene CYP1B1 em pacientes com glaucoma congênito primário [tese]. São Paulo: Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; 2008. Alsheikheh A, Klink J, Klink T, Steffen H, Grehn F. Long-term results of surgery in childhood glaucoma. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2007;245(2):195-203. Cohen R, Almeida GV, Mandia Júnior C. [Congenital glaucoma: relationship among age, stage of evolution and surgical results]. Arq Bras Oftalmol. 1988;51(3):113-5. Portuguese. Cronemberger S, Santos DV, Ramos LF, Oliveira AC, Maestrini HA, Calixto N. [Trabeculectomy with mitomycin C in patients with refractory congenital glaucoma]. Arq Bras Oftalmol. 2004;67(3):475-9. Portuguese. Dietlein TS, Jacobi PC, Krieglstein GK. Prognosis of primary ab externo surgery for primary congenital glaucoma. Br J Ophthalmol. 1999;83(3):317-22. Fulcher T, Chan J, Lanigan B, Bowell R, O’Keefe M. Long-term follow up of primary trabeculectomy for infantile glaucoma. Br J Ophthalmol. 1996;80(6):499-502. Passos AF, Kiefer K, Amador RC. [Results of trabeculotomytrabeculectomy in not elderly patients]. Rev Bras Oftalmol. 2009;68(4):223-30. Portuguese. Chen TC, Bhatia LS, Walton DS. Ahmed valve surgery for refractory pediatric glaucoma: a report of 52 eyes. J Pediatr Ophthalmol Strabismus. 2005;42(5):274-83; quiz 304-5. Betinjane AJ, Carvalho, CA. [Significance of the corneal diameter and the axial length of the eye in the evaluation of congenital glaucoma]. Rev Bras Oftalmol. 1994;53(1):35-9. Portuguese. Freitas S, Domingues MF, Cotta JS, Reis FF. Glaucoma congênito: estudo retrospectivo. Acta Oftalmol. 2003;13:23-6. Morin JD, Coughlin WR. Corneal changes in primary congenital glaucoma. Trans Am Ophthalmol Soc. 1980;78:123-31. Shaarawy TM, Sherwood MB, Hitchings RA, Crowston JG. Glaucoma: medical diagnosis e therapy. United Kingdom: Elsevier; 2009. Meirelles SH, Liporaci SD, Bloise RR, Ávila EG. Resultados em longo prazo da trabeculotomia no tratamento do glaucoma congênito primário. Rev Bras Oftalmol. 2004;63(5-6):326-33. Manica MB, Côrrea ZM, Marcon IM, Telichevesky N, Loch LF. What do pediatricians know about children’s eye diseases? Arq Bras Oftalmol. 2003;66(4):489-92. Portuguese. Kiskis AA, Markowitz SN, Morin JD. Corneal diameter and axial length in congenital glaucoma. Can J Ophthalmol. 1985;20(3):93-7. Autor correspondente: Deyse Bianca Campos Brink Rua Maria Helena Kretzer, nº 707 - sala 204 – Praia Comprida CEP 88103-670 – São José (SC), Brasil Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 133-7 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 137 7/4/2015, 17:12 A 138 RTIGO ORIGINAL Prevalência de endoftalmite em um hospital universitário Endophthalmitis prevalence in an university hospital Letícia Maria Coelho1, Thaís Martins de Souza1, Marco Antônio Guarino Tanure1 R ESUMO Objetivo: Estudo da prevalência de endoftalmite em um hospital universitário, avaliando características epidemiológicas, tempo de sintomas, tratamento realizado e evolução clínica. Métodos: Avaliação retrospectiva dos prontuários de pacientes com diagnóstico de endoftalmite, no período de janeiro de 2009 a junho de 2011, quanto às características epidemiológicas do paciente, causa da endoftalmite, tempo de início dos sintomas, tratamento prévio, tempo de internação, tratamento realizado, resultados de culturas, evolução clínica e acuidade visual final. Resultados: Sessenta e oito pacientes, sendo 44 mulheres e 24 homens, com idade média de 56,99 anos, foram avaliados. A maioria foi referenciada de outro serviço (27,94%), já tinha sido submetida a algum tratamento clínico e/ou cirúrgico (45,59%) e possuía alguma comorbidade (60,29%) que decorreu de trauma (35,29%) ou pós-cirurgia (22,06%). O tempo médio de início dos sintomas foi de 5,76 dias e o de internação de 12,40 dias. A acuidade visual inicial e a final foram para ambas igual ou pior que percepção luminosa em 64,71% dos casos. A maior parte dos pacientes (58,82%) foi submetida apenas a tratamento clínico e, em 69,12% dos casos, a cultura foi negativa ou não foi realizada. Conclusão: A endoftalmite é uma das complicações mais graves e de pior resultado funcional entre as afecções oftalmológicas. Seu diagnóstico rápido e correto é fundamental para um tratamento adequado e precoce, a fim de melhorar o prognóstico visual do paciente, garantindo sua qualidade de vida e posterior inserção socioeconômica. Descritores: Endoftalmite; Infecções oculares; Epidemiologia; Prevenção e controle; Transtornos da visão ABSTRACT Purpose: To study endophthalmitis prevalence in an university hospital, assessing its epidemiological characteristics, symptoms onset, treatment and clinical outcome. Methods: We retrospectively reviewed medical records of patients diagnosed with endophthalmitis, from january 2009 to june 2011, identifying patient epidemiological characteristics, endophthalmitis cause, onset of symptoms time, previous treatment, hospital stay, treatment, culture results, clinical outcome and final visual acuity. Results: Sixty-eight patients, 44 women and 24 men, with a mean age of 56,99 years, were evaluated. Most were referred from other services (27,94%), had already undergone to any medical treatment and/or surgery (45,59%), presented some comorbidity (60,29%) and resulted from trauma (35,29%) or post-surgery (22,06%). The average duration of onset of symptoms was 5,76 days and of hospitalization was 12,40 days. Initial and final visual acuity were both equal to or worse than light perception in 64,71% of cases. Most of patients (58,82%) undergone to clinical treatment only and 69,12% of cases presented no results in culture. Conclusion: Endophthalmitis is one of the most serious and worst functional outcome between ophthalmologic disorders. Its rapid and accurate diagnosis is essential for appropriate and early treatment, in order to improve patient visual prognosis, ensuring better quality of life and socioeconomic reintegration. Keywords: Endophthalmitis; Eye Infections; Epidemiology; Prevention and Control; Vision Disorders 1 Hospital São Geraldo – Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (MG), Brasil. Estudo realizado no Hospital São Geraldo – Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (MG), Brasil Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 03/05/2014 - Aceito para publicação em 08/06/2014 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 138-40 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 138 7/4/2015, 17:12 Prevalência de endoftalmite em um hospital universitário INTRODUÇÃO A endoftalmite é uma inflamação dos tecidos intraoculares(1) e constitui uma das complicações mais graves e de pior resultado funcional entre as afecções oftalmológicas(2). Embora seja uma condição mais rara, é potencialmente destrutiva, pois gera dano irreversível à delicada camada fotorreceptora da retina e, mesmo com a intervenção apropriada, resulta em perda parcial ou total da visão, ou mesmo do olho, em poucos dias(3). Pode ser classificada em pós-operatória (aguda, crônica ou de apresentação tardia), pós-traumática ou endógena(4). A etiopatogenia, a apresentação clínica e a evolução são variáveis dependendo do tipo de endoftalmite e do micro-organismo causador. De um modo geral, o paciente apresenta diminuição da visão, dor e sinais inflamatórios do segmento anterior e/ou posterior do olho, associados à história de cirurgia, trauma ou doenças sistêmicas debilitantes, como diabetes, neoplasias ou imunossupressão(5). Como é uma condição devastadora(6), o diagnóstico rápido e correto é fundamental para um tratamento adequado e precoce, que, inicialmente, é estabelecido de forma empírica, até o resultado das culturas e as adequações necessárias(2). O presente estudo buscou estudar a prevalência de endoftalmites em um hospital universitário, avaliando as características epidemiológicas dos pacientes, o tempo de início dos sintomas, o tratamento realizado e a evolução clínica, comparando a acuidade visual final à acuidade visual presente na admissão. 139 A tabulação dos dados obtidos foi feita pelo programa Excell e, a análise estatística pelo programa estatístico SSPS 13.0 for Windows. Para verificar se havia relação do tempo de início dos sintomas, da idade, da acuidade visual inicial e do tempo de internação hospitalar com a acuidade visual final foi empregado o teste de correlação de Spearman. Para comparar a acuidade visual final entre os diferentes grupos de pacientes, separados por cultura, causa, tratamento prévio, presença de comorbidades e tratamento realizado com o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis. R ESULTADOS Sessenta e oito pacientes, dos quais 44 eram do sexo masculino e 24 do feminino, com uma média de idade de 56,99 anos (788 anos). Quanto à procedência, 14,71% já eram pacientes do hospital, 27,94% foram encaminhados de outro serviço e 22,06% buscaram o serviço de saúde por conta própria. De todos os pacientes, 42,65% já tinham sido submetidos a algum tipo de tratamento clínico e 2,94% a algum tratamento cirúrgico. Quanto à presença de comorbidades, 29,41% dos pacientes tinham alguma doença sistêmica, 22,06% algum acometimento ocular e 8,82%, algum tipo de imunodeficiência. Quanto à provável etiologia, 10,29% resultaram de blebite, 19,12% pós-facectomia, 2,94% pósceratoplastia penetrante, 35,29% pós-trauma, 14,71% pós-ceratite, 1,47% após retirada de pontos, 11,76% foram considerados endógena e, em 4,41% a causa não foi identificada (figura 1). MÉTODOS O presente trabalho constituiu um estudo observacional descritivo do universo de todos os pacientes admitidos no Hospital São Geraldo – Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, com diagnóstico de endoftalmite, no período de janeiro de 2009 a junho de 2011. Foram analisados os livros de registros do bloco cirúrgico a fim de detectar todos os pacientes que receberam o diagnóstico de endoftalmite, a data e o procedimento realizado. A partir dessa informação e do número de registro, foi avaliado o prontuário médico de cada um. Foram estudadas as características epidemiológicas de cada paciente, como idade, gênero, profissão, procedência e presença de comorbidades. Foram avaliados a causa da endoftalmite, o tempo de início dos sintomas até a procura pelo serviço de saúde, a história de tratamento prévio e a acuidade visual na admissão hospitalar. Foram considerados, então, o tempo de internação hospitalar, o tratamento realizado, os resultados de culturas microbiológicas realizadas e a evolução clínica do paciente e sua acuidade visual final na alta hospitalar. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (CAAE: 0534.0.203.000 -11) e aos responsáveis pela instituição onde foi realizada a pesquisa que responderam ao termo de consentimento para realização do presente trabalho. Tratando-se de um estudo epidemiológico, os pacientes não foram identificados e foi facultada à instituição onde a pesquisa foi realizada a desistência ou não de participar da mesma. Foram observados todos os dispositivos de Ética em Pesquisa, conforme a resolução 196/96. Figura 1. Distribuição dos pacientes (%) de acordo com a provável causa da endoftalmite O tempo médio de início dos sintomas foi de 5,76 dias (1-30 dias) e o tempo médio de internação de 12,40 dias (2-35 dias). Quanto à acuidade visual (AV) inicial, 26,47% dos pacientes não apresentavam percepção luminosa (PL), 38,24% apresentavam PL, 30,88% apresentavam AV menor ou igual a 20/400 e, apenas 4,41%AV melhor que 20/400. Já quanto à AV final, 39,71% dos pacientes não apresentavam PL, 25,00% apresentavam PL, 29,41% apresentavam AV menor ou igual a 20/400 e apenas 5,88% acuidade melhor que 20/400 (figura 2). De todos os pacientes, 58,82% foram submetidos apenas a tratamento clínico, 19,12% a algum tipo de tratamento cirúrgico e 22,06% evoluíram para evisceração. Quanto ao resultado microbiológico, em 19,12% dos casos foram identificadas bactérias gram-positivas e em 5,88% as gram-negativas. Em 1,47% deles, o crescimento foi misto e em 4,41% cresceram fungos. Em 69,12% dos casos, a cultura foi negativa ou não realizada. Não foi encontrada relação entre a AV final e o tempo para procurar o serviço de saúde, e entre a AV final e o tempo de internação. Houve correlação positiva fraca entre a idade do paciente e a AV Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 138-40 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 139 7/4/2015, 17:12 140 Coelho LM, Souza TM, Tanure MAG final e correlação positiva substancial entre a AV inicial e a AV final. Não houve diferença significativa da acuidade visual final entre os diferentes grupos de pacientes, separados por cultura, causa, tratamento prévio, presença de comorbidades e tratamento realizado. número de pacientes incluídos nessa amostra. Isso chama a atenção para a necessidade da realização de novos estudos e, também, do melhor preenchimento dos prontuários médicos. C ONCLUSÃO Por se tratar de uma afecção grave, a orientação do paciente quanto aos principais sinais e sintomas de endoftalmite, seu diagnóstico precoce e a conduta médica apropriada são fundamentais para melhorar o prognóstico visual do paciente, garantindo sua qualidade de vida e posterior inserção socioeconômica. R EFERÊNCIAS 1. Figura 2. Distribuição dos pacientes (%) de acordo com a acuidade visual inicial e final D ISCUSSÃO De acordo com outros estudos(2,7,8), constatou-se predominância do gênero masculino entre os pacientes, o que pode ter decorrido do grande número de casos de endoftalmite pós-trauma, geralmente predispostos pelo tipo de ocupação econômica do paciente, mais comum entre os homens. Quanto à causa, as infecções pós-trauma foram mais frequentes aquelas após cirurgia, diferindo da maior parte da literatura(3,9,10). Isso pode ter decorrido do grande número de casos referenciados do interior do estado, especialmente da zona rural, relacionados a traumas graves, que necessitam de atendimento em hospitais mais especializados que o nosso. Em outro trabalho(2) houve grande demora na procura pelo sistema de saúde, o que pode ter decorrido de má informação do paciente e da referência de outros serviços mais distantes. Isso pode justificar, também, o grande número de pacientes que já tinham sido submetidos a algum tipo de tratamento, clínico ou cirúrgico, o que por sua vez, pode explicar o grande número de pacientes que não tiveram material colhido para cultura ao chegar ao nosso serviço ou que apresentaram resultado de cultura negativo. Dentre as culturas positivas houve predominância de microorganismos gram-positivos, como em outros estudos(1,2,4,6). O retardo no diagnóstico e no tratamento apropriado também pode justificar o longo tempo de internação e o pobre resultado visual encontrado em nosso estudo. O grande número de casos de infecção pós-operatória observado pode ter decorrido de cirurgias mais complicadas, devido à curva de aprendizado de cirurgiões em um hospital-escola, bem como inadequado preparo pré-operatório dos pacientes, uma vez que os mesmos foram referenciados, na maioria das vezes, de outros serviços. A fim de reduzir esse número, é fundamental identificar e controlar os fatores de risco pré-operatórios, instituir antibioticoterapia profilática adequada e manter apropriado acompanhamento pós-operatório. No ato cirúrgico, o cuidado com a integridade da incisão, impedindo influxo de microorganismos, é um fator crucial na prevenção de endoftalmites(11). A falta de correlação entre as variáveis (baixa significância estatística encontrada) provavelmente decorreu do pequeno Bispo PJ, Höfling-Lima AL, Pignatari AC. [Molecular biology applied to thelaboratory diagnosis of bacterial endophthalmitis]. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(5):734-40. Review. Portuguese. 2. Schirmbeck T, Romão E, Rodrigues ML, Figueiredo JF. [Endophthalmitis: an analysis of 58 cases]. Arq Bras Oftalmol. 2000;63(1):39-44. Portuguese. 3. Bispo PJ, Melo GB, d’Azevedo PA, Hõfling-Lima AL, Yu MC, Pignatari AC. [Culture proven bacterial endophthalmitis: a 6year review].Arq Bras Oftalmol. 2008;71(5):617-22. Portuguese. 4. Kresloff MS, Castellarin AA, Zarbin MA. Endophthalmitis. Surv Ophthalmol. 1998;43(3):193-224. Review. 5. Adan CB, Blay D, Yu MC, Freitas D, Allemann N. [Ultrasound findings in clinical suspected of endophthalmitis]. Arq Bras Oftalmol. 2001;64(5):423-8. Portuguese. 6. Melo GB, Bispo PJ, Regatieri CV, Yu MC, Pignatari AC, HöflingLima AL.Incidence of endophthalmitis after cataract surgery (2002-2008) at a Brazilianuniversity-hospital. Arq Bras Oftalmol. 2010;73(6):505-7. Portuguese. 7. Norregaard JC, Thoning H, Bernth-Petersen P, Andersen TF, Javitt JC, Anderson GF. Risk of endophthalmitis after cataract extraction: results from theInternational Cataract Surgery Outcomes study. Br J Ophthalmol. 1997;81(2):102-6. 8. Duch-Samper AM, Menezo JL, Hurtado-Sarrió M. Endophthalmitis followingpenetrating eye injuries. Acta Ophthalmol Scand. 1997;75(1):104-6. 9. Bohigian GM, Olk RJ. Factors associated with a poor visual result inendophthalmitis. Am J Ophthalmol. 1986;101(3):332-41. 10. Chaib AR, Freitas D, Scarpi MJ, Guidugli T. [Laboratory findings in endophthalmitis]. Arq Bras Oftalmol. 1997;60(3):250-7. Portuguese. 11. KashiwabuchiI FK, Khan YA, Rodrigues Jr MW, Wang J, McDonnell PJ, Daoud YJ. [Efficacy of three different methods for side port incision wound sealing]. Rev Bras Oftalmol. 2013;72(6):379-82. Portuguese. Autor correspondente: Letícia Maria Coelho Av. Alfredo Balena, nº 190 – Sala 3005 – Bairro Santa Efigênia CEP 30130-100 – Belo Horizonte (MG), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 138-40 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 140 7/4/2015, 17:12 ARTIGO ORIGINAL 141 Comparação de acuidade visual final: cirurgias de catarata com intercorrências versus sem intercorrências Comparison of final visual acuity: cataract surgery with intraoperative complications versus non intraoperative complications Patrícia Mencaroni Kange1, Marcela Costa Cruz1; Daniel Martin1, Fabio Hara1, Renata Magrino Pereira1, André Berger Emiliano da Silva2 R ESUMO Objetivo: Comparar a acuidade visual (AV) final dos pacientes submetidos à cirurgia de catarata com e sem complicações intraoperatórias e possíveis fatores que contribuíram para o resultado ao final do pós-operatório. Métodos: Análise dos prontuários de 179 pacientes, retrospectivo, longitudinal, operados de fevereiro a julho de 2013 no Instituto Dr. Suel Abujamra, pela técnica de facoemulsificação (FACO), divididos em dois grupos: com e sem complicações intraoperatórias. Os dados obtidos foram analisados pelos métodos teste-t para duas amostras ou Análise de Variância (ANOVA). Os critérios de exclusão foram pacientes com cirurgia ocular prévia, retinopatia diabética proliferativa ou não proliferativa grave, outras retinopatias, escavação do disco óptico igual ou maior que 0,7x0,7 ou uso de mais de dois hipotensores oculares, olho único, catarata secundária à uveíte, traumática ou congênita. Resultados: Dos 179 pacientes, 37 (20,7%) tiveram complicações intraoperatórias e 142 (79,3%) não tiveram complicações intraoperatórias. A média da idade dos pacientes foi de 70,33 anos. O olho direito foi o operado em 49,7% dos casos, e o olho esquerdo em 50,3%. O diabetes mellitus estava presente em 29,05% dos casos, sendo 29,73% de pacientes com complicação e 28,87% sem complicações. Do total, 77,65% atingiram uma AV final 20/40 ou melhor, sendo que nos pacientes com complicação a média para esta AV foi de 59,46% e no grupo sem complicações foi de 82,40%. A principal complicação foi ruptura de cápsula posterior. Conclusão: Após toda a análise, verificamos que os fatores que implicaram com significância estatística em menor AV final foram as complicações intraoperatórias e a idade dos pacientes. Descritores: Cristalino; Catarata; Extração de catarata; Procedimentos cirúrgicos oftalmológicos; Facoemulsificação; Acuidade visual ABSTRACT Objective: Compare visual acuity (VA) of patients after cataract surgery with and without intraoperative complications regarding possible factors that contributed to the outcome on postoperative follow-up. Methods: Longitudinal, retrospective study that evaluated 179 medical records of patients who underwent cataract surgery under the technique Phacoemulsification (PHACO) in the Suel Abujamra Institute from february to july 2013. Patients were divided into two groups concerning presence or absence of intraoperative complications. Data were analyzed using t-test methods for two samples or (ANOVA) Analysis of Variance. Exclusion criteria were: patients with previous ocular surgery, retinopathy related to diabetes, either proliferative or severe non proliferative, other retinopathies, optic disc cup equal to or greater than 0,7x0,7, use of more than two ocular hypotensive medications, only one eye, cataract due to uveitis, trauma or congenital. Results: 37 (20.7%) patients had intraoperative complications and 142 (79.3%) had not. Average age of patients was 70.33 years. There were 49.7% surgeries of the right eye and 50.3% of the left eye. There were 29.05% diabetic patients, of which 29.73% had intraoperative complications and 28.87% had not. From the 179 patients, 77.65% reached a final VA of 20/40 or better, considering that patients with intraoperative complications reached a VA of about 59.46% and patients without intraoperative complications of about 82.40%. The main complication was posterior capsular tear. Conclusion: After entire evaluation, we realized that factors that influenced lower final VA, with statistical significance, were intraoperative complications and patient age. Keywords: Crystalline; Cataract; Cataract extraction; Eye surgical procedures; Phacoemulsification; Visual acuity 1 2 Residência em Oftalmologia, Instituto Dr. Suel Abujamra – São Paulo (SP), Brasil; Residência em Oftalmologia da Universidade Santo Amaro (UNISA) – São Paulo (SP), Brasil. Instituto Dr. Suel Abujamra, São Paulo, SP, Brasil Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 14/10/2014 - Aceito para publicação em 05/01/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 141 7/4/2015, 17:12 142 Kange PM, Cruz MC, Martin D, Hara F, Pereira RM, Silva ABE INTRODUÇÃO A catarata é a maior causa de cegueira reversível nos países em desenvolvimento. Uma estimativa da OMS em 2010 apontava que há quase 18 milhões de pessoas cegas bilateralmente no mundo por catarata, o que representa quase metade das causas de cegueira devido a doenças oculares. A proporção de cegueira devido à catarata em relação a todas outras doenças oculares varia de 5% na Europa Ocidental, América do Norte e nos países mais desenvolvidos da região Oeste do Pacífico, a 50% ou mais em regiões mais pobres(1). Pode ser de etiologia senil, congênita, traumática ou secundária. O aumento gradual da expectativa de vida em nosso país provocou consequente aumento da prevalência dessa enfermidade nas últimas décadas(1). Apesar de crenças populares, a maioria da populaçao acredita que a cirurgia de catarata seja um tratamento definitivo para a restauração da visão(2,3), possibilitando dessa maneira melhora na qualidade de vida e reinserção no mercado de trabalho(4). A extração de catarata é a cirurgia mais comumente realizada nos EUA com 1,7 milhão de cirurgias feitas anualmente, sendo a facoemulsificação (FACO) a técnica de escolha(5). Estudos realizados em todo o mundo nos últimos 20 anos têm demonstrado que a facoemulsificação é um procedimento seguro e efetivo para tratar os pacientes com cataratas brandas a avançadas(6,7). Uma complicação temida durante a cirurgia de catarata é a perda da barreira entre o segmento anterior e o vítreo, podendo ser por ruptura da cápsula posterior (RCP) ou desinserção zonular(8), porém outras complicações intraoperatórias podem se somar, como prolapso vítreo, perda vítrea e núcleo no vítreo, que continuam sendo eventos adversos significantes na cirurgia de catarata(9), diminuindo a probabilidade de se atingir uma boa acuidade visual final no pós-operatório(8,9). A ruptura da cápsula posterior é a complicação intraoperatória mais comum durante a fase de aprendizado do oftamologista(9), apesar de potencialmente séria na cirurgia de catarata pode ainda estar associada à perda vítrea, baixa acuidade visual, descolamento de retina, endoftalmite, entre outras(7,9). Na literatura limitada a estudos com mais de 1000 cirurgias apresentam uma taxa de RCP de 1,9% a 5,2% e perda vítrea entre 1,1% e 5,0% (8) . Outros fatores de risco são as complicações intraoperatórias já descritas em outros estudos que incluem a idade avançada(9) e patologia ocular prévia(7,10). Desta forma, o presente estudo objetivou comparar a acuidade visual final dos pacientes submetidos à cirurgia de catarata pela técnica de facoemulsificação separando-os em dois grupos: com complicações e sem complicações intraoperatórias, avaliando possíveis fatores que influenciaram na acuidade visual final ao término do período de pós-operatório. MÉTODOS Estudo realizado no serviço de residência médica de oftalmologia do Instituto Dr. Suel Abujamra, retrospectivo, longitudinal, analisou prontuários de 179 pacientes submetidos à cirurgia de catarata pelos residentes do segundo e terceiro ano, entre os meses de fevereiro a julho de 2013, pela técnica de facoemulsificação (FACO). Os pacientes foram divididos em 2 grupos, o primeiro grupo de pacientes com complicações intraoperatórias e o segundo sem complicações intraoperatórias. A principal avaliação foi a evolução da acuidade visual e a presença ou ausência de complicação intraoperatória. Outras variáveis analisadas foram idade, presença de diabetes mellitus, ano da residência médica do cirurgião e tipo de aparelho utilizado para procedimento (Legacy®Surgical Series 20000 Legacy-STTL; Alcon Laboratories, California - USA, Universal®- Alcon – Universal II; Alcon Laboratories, California - USA e Vizual®- Vizual - American Optisurgical Inc; Lake Forest, California – USA). Deve ser considerado que o residente era supervisionado por cirurgião experiente (preceptor), presente na sala de cirurgia e sempre disponível para qualquer tipo de intercorrência. No caso de complicações intraoperatórias, o preceptor assumia a cirurgia e lidava com a complicação da melhor forma possível. Como critérios de inclusão no estudo foram aceitos pacientes com catarata apresentando acuidade visual pré-operatória corrigida pior que 20/60, e de exclusão os pacientes com cirurgias intraoculares prévias, retinopatia diabética proliferativa ou não-proliferativa grave, retinopatia hipertensiva grave e outras retinopatias, escavação do disco óptico igual ou maior que 0,7x0,7 ou uso de 2 ou mais hipotensores oculares, olho único, catarata secundária à uveíte, traumática ou congênita, além de complicações pós-operatórias, como os casos de ressutura e edema corneano. As medidas da acuidade visual foram feitas segunda a escala de Snellen, com valores de 20/20 a 20/400, incluindo-se o paciente conta dedos (CD), percepção de movimentos de mão (PMM) e percepção luminosa (PL). Classificamos as medidas em uma escala de números e considerou-se a evolução quantas linhas na escala de Snellen o indivíduo mudou, por exemplo: • • • Se antes da cirurgia a acuidade visual 20/100 e depois da cirurgia ficou em 20/80 o paciente ganhou 1 ponto de melhora (evolução = +1); Se antes da cirurgia a acuidade visual 20/100 e depois da cirurgia ficou em 20/20 o paciente ganhou 8 ponto de melhora (evolução = +8); Se antes da cirurgia a acuidade visual era 20/60 e depois da cirurgia ficou em 20/200 o paciente ganhou 6 ponto de piora (evolução = -6). Na análise, utilizamos principalmente o teste t para duas amostras ou Análise de Variância (ANOVA) a fim de comparar as médias das evoluções (nos testes verificamos as hipóteses estatísticas para o uso com segurança e as mesmas foram atendidas). Para a comparação entre os percentuais usamos o teste nas duas proporções. R ESULTADOS Dos 179 pacientes analisados no período, 37 tiveram complicações intraoperatórias (20,7%) e 142 não tiveram complicações intraoperatórias (79,3%), conforme apresentados no gráfico 1. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 142 7/4/2015, 17:12 Comparação de acuidade visual final: cirurgias de catarata com intercorrências versus sem intercorrências 143 A idade média dos pacientes foi de 70,33 anos. O olho direito foi o operado em 49,7% dos casos, e o olho esquerdo em 50,3%. O diabetes mellitus esteve presente em 29,05% dos casos, 29,73% eram do grupo de pacientes com complicações e 28,87% do grupo de pacientes sem complicações. Do total de pacientes, 77,65% atingiram uma acuidade visual final 20/40 ou melhor, sendo que dos pacientes com complicações a média para esta acuidade visual foi de 59,46% e no grupo sem complicações foi em 82,40% dos pacientes. A principal complicação foi ruptura da capsula posterior. Os pacientes foram acompanhados por um período médio de 61 dias, sendo 66 dias no grupo com complicações e 57 dias no grupo sem complicações. Na tabela 1 e no gráfico 2 apresentamos a acuidade visual dos pacientes. Gráfico 1 Distribuição percentual dos pacientes Tabela 1 Distribuição geral da acuidade visual pré e pós-operatório Acuidade visual pós operatorio 2 2 2 2 2 2 0 0 0 0 0 0 2 2 2 2 2 2 2 2 / / / / / / 0 0 0 0 0 0 0 0 4 2 1 1 1 1 / / / / / / / / Acuidade visual pré-operatório P M C 0 0 6 3 2 0 8 6 5 4 3 3 2 2 L M D 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 5 0 P 1 PL PMM CD 1 1 1 1 1 20/400 20/200 1 1 1 1 2 5 2 3 2 1 1 3 4 16 7 1 29 19 11 8 58 1 2 3 1 1 4 4 5 6 20/130 1 20/100 1 20/80 1 4 3 4 20/160 20/120 2 1 2 1 5 4 1 2 6 2 20/60 1 2 Total 2 1 4 8 7 7 40 6 5 1 16 1 6 2 20/50 0 20/40 0 20/33 0 20/30 0 20/25 0 20/20 0 Total 2 0 1 0 3 0 1 0 9 6 9 10 11 22 47 36 22 179 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 143 7/4/2015, 17:12 144 Kange PM, Cruz MC, Martin D, Hara F, Pereira RM, Silva ABE Gráfico 2 Distribuição geral da acuidade visual pré e pós-operatório Nota-se que a grande maioria dos pacientes apresentou melhora. Isso pode ser melhor observado nos gráficos 3 e 4, onde apresenta-se a evolução de cada paciente e também a evolução na média geral. Gráfico 3 Evolução individual dos pacientes Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 144 7/4/2015, 17:12 Comparação de acuidade visual final: cirurgias de catarata com intercorrências versus sem intercorrências 145 Gráfico 4 Evolução média dos pacientes Comparando a acuidade visual entre os pacientes com intercorrências e sem intercorrências intraoperatórias, observamos que nas médias das evoluções houve diferença significativa entre os dois grupos (gráfico 5). No gráfico 6, temos a distribuição das evoluções da acuidade visual para os pacientes com intercorrências e sem intercorrências. Nota-se que os pacientes com complicações apresentam uma maior variabilidade de resultados. Gráfico 5 Evolução média dos pacientes – complicações x sem complicações Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 145 7/4/2015, 17:12 146 Kange PM, Cruz MC, Martin D, Hara F, Pereira RM, Silva ABE Gráfico 6 Distribuição percentual dos escores de evolução – complicações x não complicações Avaliando os pacientes do grupo com diabetes mellitus, percebe-se que a evolução da acuidade visual nos pacientes com diabetes e sem diabetes foi bastante similar, porém o grupo sem diabetes apresenta uma evolução média ligeiramente maior, porém não há diferença significativa entre as evoluções médias (gráficos 7 e 8). Gráfico 7 Distribuição percentual dos escores de evolução – diabetes Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 146 7/4/2015, 17:12 Comparação de acuidade visual final: cirurgias de catarata com intercorrências versus sem intercorrências 147 Gráfico 8 Evolução média dos pacientes – diabetes Considerando o grupo dos residentes, do segundo e terceiro ano de residência médica, percebe-se que a evolução da acuidade visual nos dois grupos (grupo R2 e grupo R3) foi bastante similar, não havendo diferença significativa entre as evoluções médias (Gráfico 9). Gráfico 9 Distribuição percentual dos escores de evolução – residente Analisando a evolução da acuidade visual separadamente pelo tipo de aparelho utilizado para o procedimento (Legacy®, Universal® e Vizual®) percebe-se que a evolução média com os três aparelhos foi bastante similar, tendo o Legacy® uma evolução média ligeiramente maior e com nenhum paciente tendo piora da acuidade visual. As pioras aconteceram todas no Vizual® (gráfico 10). Com os testes estatísticos, concluímos não haver diferença significativa entre as variabilidades e as evoluções médias dos grupos. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 147 7/4/2015, 17:12 148 Kange PM, Cruz MC, Martin D, Hara F, Pereira RM, Silva ABE Gráfico 10 Distribuição percentual dos escores de evolução – aparelho A idade é um fator de variável contínua e na tabela nota-se uma tendência à diminuição da acuidade visual proporcional ao incremento da idade. No gráfico 11 apresentamos a dispersão entre as duas medidas e notamos uma certa diminuição na evolução conforme aumenta a idade, mas também uma grande dispersão nos resultados. Gráfico 11 Gráfico de dispersão entre idade e evolução da acuidade visual Todas esses resultados acima foram apresentados através de análise individual dos fatores comparados com a acuidade visual, mas a partir de agora realizamos a análise comparativa dos fatores e acuidade visual. O diabetes mellitus como causa de pior evolução, comparando-se os grupos foi baixa, ou seja, a diferença entre as evoluções entre ter ou não diabetes é aproximadamente a mesma nos dois grupos. Observamos que as retas estão próximas de paralelas no gráfico 12, indicando irrelevância estatística. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 148 7/4/2015, 17:12 Comparação de acuidade visual final: cirurgias de catarata com intercorrências versus sem intercorrências 149 Gráfico 12 Evolução média dos pacientes – diabetes Quando se compara os escores entre os anos de cada residente, as médias foram semelhantes quando não houve complicações, porém houve diferença quando houve complicações, com os residentes do terceiro ano (R3) com uma menor evolução média do que os residente do segundo ano (R2) (Gráfico 13). Gráfico 13 Evolução média dos pacientes – residentes Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 149 7/4/2015, 17:12 150 Kange PM, Cruz MC, Martin D, Hara F, Pereira RM, Silva ABE Com relação a interação entre os grupos e os aparelhos utilizados, percebemos que o grupo do aparelho Legacy® com complicações apresentaram uma média de evolução menor que os demais. A informação mais importante para a nossa análise é o nível descritivo da interação Complicação /Aparelhos®, o qual foi de 0,397, indicando não haver interação significativa, ou seja, a diferença entre as evoluções da acuidade visual e os três aparelhos pode ser considerada a mesma nos dois grupos (tabela 2). Tabela 2 ANOVA para a evolução dos escores complicação e aparelhos Fonte Graus de liberdade Soma de quadrados Quadrados médios Estatística F Nível descritivo Complicação Aparelhos Complicação/ Aparelhos Resíduo 1 2 102,89 33,41 102,89 16,70 8,18 1,33 0,005 0,268 2 173 23,40 2.176,64 11,70 12,58 0,93 0,397 Total 178 2.402,18 Quanto ao fator idade a fim de verificar se a relação era diferente entre os grupos, realizamos uma análise de regressão e obtivemos o resultado apresentado na tabela 3, pela qual concluímos que a complicação não afeta significativamente a relação entre evolução e idade (p-value = 0,058 para a interação Idade / Complicação). Tabela 3 ANOVA para regressão entre a evolução dos escores e idade considerando as complicações Fonte Graus de liberdade Soma de quadrados Quadrados médios Estatística F Nível descritivo 128,97 25,94 42,21 11,62 11,10 2,23 3,63 0,001 0,137 0,058 Idade Complicação Idade / Complicação Resíduo 1 1 1 175 128,97 25,94 42,21 2.033,66 Total 178 2.402,18 D ISCUSSÃO A taxa de complicação intraoperatória no atual estudo foi de 20,7%, sendo a grande maioria devido à ruptura da cápsula posterior. Comparado a trabalhos da literatura nos quais foram encontrados taxas de ruptura da cápsula posterior por volta de 1,9 a 5,2%(8), podemos considerar como alta a taxa de complicação, mesmo se comparada com estudos de procedimentos realizados somente por médicos residentes(6,11). Entretanto, a grande maioria dos pacientes apresentaram melhora da acuidade visual, independentemente das complicações. Verificando isoladamente as variáveis analisadas, os fatores que implicaram com significância estatística em uma pior acuidade visual final foram as complicações intraoperatórias e a idade dos pacientes, não havendo outra variável estudada com significância estatística. O fato de os pacientes terem diabetes mellitus, o aparelho utilizado para o procedimento e o ano da residência em oftalmologia, isoladamente, não tiveram significado estatístico. Esse achado é consistente com a maioria dos trabalhos da literatura, os quais demonstram que complicações intraoperatórias estão mais relacionadas a uma pior acuidade visual final(8, 9). A idade também já foi demonstrada em outros trabalhos como sendo um fator de risco relacionado a uma pior acuidade visual final, isto porque a visão em pessoas mais idosas declina normalmente com a idade, principalmente após os 70 anos, mesmo sem achados patológicos(12). Ao realizarmos a comparação por grupos, sem e com complicações, além do fato já apresentado de que o grupo com complicações apresenta acuidade visual final pior do que o grupo sem complicações, percebemos que o fator com influência no grupo com complicações é o residente cirurgião. Apesar de isoladamente não haver significância estatística, conforme já encontrado em outros estudos(9,11), comparando a acuidade visual final no grupo com complicações, os R3 apresentaram uma evolução pior do que os R2. Esse resultado possivelmente se deve ao fato de que em nosso serviço em geral os R3 realizam as cirurgias sozinhos, sendo instruídos somente durante as intercorrências, porém tentando resolvêlas, enquanto os R2 em fase de aprendizagem estão sempre acompanhados do preceptor. Outra possível explicação baseia-se no atual método de ensino da facoemulsificação, que necessita de uma carga teórica específica para o uso do facoemulsificador a fim de melhorar a performance e segurança da técnica cirúrgica. Provavelmente o residente do segundo ano tenha mais condições de estudar a parte teórica do que os residentes do terceiro ano, já que o foco é efetivamente realizar cirurgias(13). A curva de aprendizado de residentes para a técnica de facoemulsificação tem sido descrita com diminuição das taxas de perda vítrea, com o ganho de experiência do cirurgião(9),, devendo dessa maneira o residente que vai iniciar o aprendizado da facoemulsificação ter preceptor experiente ao lado para minimizar os riscos de complicações(6). As demais variáveis não apresentaram significância estatística na comparação entre os dois grupos. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 150 7/4/2015, 17:12 Comparação de acuidade visual final: cirurgias de catarata com intercorrências versus sem intercorrências Apesar de não ter significância estatística, o fato de ter-se maior quantidade de complicações nos aparelho Vizual®, provavelmente se deve ao fato de que o serviço conta com 2 unidades desse aparelho, realizando, portanto maior número total de cirurgias nos mesmos. CONCLUSÃO Apesar da alta taxa de complicações encontrada no atual estudo, a grande maioria dos pacientes apresentaram acuidade visual final melhor que a pré-operatória. Entretanto, as complicações intraoperatórias e a idade avançada dos pacientes foram responsáveis por uma acuidade visual final menor do que a esperada na cirurgia de catarata. Nos pacientes com complicações intraoperatórias, a experiência do médico residente foi fator significativo para um resultado pior do que o esperado. Dessa maneira é inquestionável que a curva de aprendizagem por parte do residente na atual técnica de escolha, a facoemulsificação é o principal obstáculo a ser superado a fim de evitar a baixa acuidade visual nos pacientes operados, assim como a detecção e intervenção no pré-operatório de possíveis fatores de riscos. R EFERÊNCIAS 1 2 3 4 Carlos Eduardo Leite Arieta, Marco Antônio Rey de Faria. Série Oftalmologia Brasileira – Cristalino e Catarata. 3º ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2013 – 2014. Edméa Rita Temporini, Newton Kara Júnior, Newton Kara José, Nilo Holzchuh. Popular beliefs regarding the treatment of senile cataract. Rev Saúde Pública. 2002; 36(3):343-9. Newton Kara Júnior, Edméa Rita Temporini, Newton Kara José. Cataract surgery: expectations of patients assisted during a community Project in São Paulo, State of São Paulo, Brazil. Rev Hosp Clin Fac Med Sao Paulo. 2001;56(6):163-8. Newton Kara Júnior, Marcony Rodrigues Santhiago, Tais Renata Ribeiro Parede, Rodrigo França Espindola, Maysa Godoy Gomes Mazurek, Renato Germano, Newton Kara Jose. Influência da correção cirúrgica da catarata na percepção laborativa. Arq. Bras. Oftalmol. 2010;73(6):491-3. 5 6 7 8 9 10 11 12 13 151 Christakis PG, Braga-Mele RM. Intraoperative performance and postoperative outcome comparison of longitudinal, torsional, and transversal phacoemulsification machines. J Cataract Refract Surg. 2012; 38(2):234-41. Ana Catarina Delgado de Souza, Alexandre Ventura, Catarina Ventura, João Eudes Tavares, Carlos Teixeira Brandt. One year learning curve in 160 facoemulsifications performed by a third year resident. Rev Bras Oftalmol. 2005; 64(3):156-61. Chan FM, Mathur R, Ku JJ, Chen C, Chan SP, Yong VS, et al. Shortterm outcomes in eyes with posterior capsule rupture during cataract surgery. J Cataract Refract Surg. 2003; 29(3):537-41. Lundström M, Behndig A, Kugelberg M, Montan P, Stenevi U, Thorburn W. Decreasing rate of capsule complications in cataract surgery: eight-year study of incidence, risk factors, and data validity by the Swedish National Cataract Register. J Cataract Refract Surg. 2011; 37(10):1762-7. Blomquist PH, Morales ME, Tong L, Ahn C. Risk factors for vitreous complications in resident-performed phacoemulsification surgery. J Cataract Refract Surg. 2012; 38(2):208-14. Blomquist PH, Rugwani RM. Visual outcomes after vitreous loss during cataract surgery performed by residents. J Cataract Refract Surg. 2002; 28(5):847-52 Jackson Barreto Junior, Helio Primiano Junior, Rodrigo França de Espíndola, Renato Antunes Schiave Germano, Newton KaraJunior. Cirurgia de catarata realizada por residentes: avaliação dos riscos. Rev Bras Oftalmol. 2010; 69(5):301-5 Lundström M, Barry P, Henry Y, Rosen P, Stenevi U. Visual outcome of cataract surgery: study from the European Registry of Quality Outcomes for Cataract and Refractive Surgery. J Cataract Refract Surg. 2013; 39(5):673-9. Newton Kara Junior. A situação do ensino da facoemulsificação no Brasil. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(5):275-77. Autor correspondente: Patrícia Mencaroni Kange Rua Tamandaré, nº 693 – 9º andar – Aclimação CEP 01525-001 – São Paulo (SP), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 141-51 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 151 7/4/2015, 17:12 A 152 RTIGO ORIGINAL Avaliação da função lacrimal, da superfície ocular e do filme lacrimal em pacientes soropositivos para o HIV Evaluation of tear film function, ocular surface and tear film in HIV-seropositive patients Carolina Ramos Mosena1, Marcus Vinicius Vieira Pinheiro1, Paula Azevedo Alhadeff 2, Thyarles Tomich Neiva3, Sérgio Felberg1 R ESUMO Objetivo: Avaliar a função lacrimal, a superfície ocular e o filme lacrimal de pacientes com sorologia positiva para o vírus HIV. Métodos: Estudo observacional, transversal, quantitativo e analítico, realizado entre junho e outubro de 2011, no Departamento de Oftalmologia do Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira”, com 32 pacientes no total, sendo 16 soropositivos para o HIV e 16 soronegativos. Resultados: Não houve diferença estatística significante na média de idade entre os grupos estudados (p = 0,083). O padrão do teste de cristalização da lágrima foi estatisticamente diferente no grupo de pacientes HIV (com predomínio dos padrões III e IV) em relação ao grupo controle (no qual predominaram os padrões I e II), tanto no olho direito como no esquerdo (p = 0,019 e p < 0,001, respectivamente). As demais variáveis estudadas não mostraram-se estatisticamente relevantes entre os grupos. Conclusão: Os pacientes soropositivos para o HIV não apresentaram alterações da função lacrimal e da superfície ocular, porém amostras de lágrimas evidenciaram diferenças consideradas estatisticamente significantes nos padrões dos testes de cristalização do filme lacrimal, quando comparadas com amostras obtidas de pacientes controles. Descritores: Ceratoconjuntivite seca; HIV; Olho seco ABSTRACT Objective: Evaluate tear function, tear film and ocular surface in patients with positive serology for HIV. Methods: Observational, crosssectional, quantitative and analytical study, performed between june and october 2011, in the HSPE-FMO, SP, Ophthalmology Department, including 32 patients. Sixteen were HIV-positive patients and 16 HIV-negative. Results: There was no significant statistical difference in the middle age between both groups (p=0.083). The ferning test was statistically different in HIV group (with predominance of III and IV) compared to the control group (in which predominated the patterns I and II), both in the right and the left eye (p = 0.019 and p=0.001, respectively). Other parameters were not statistically significant between the groups. Conclusion: HIV-positive patients had no changes in lacrimal function and ocular surface, however, samples of tears showed differences considered statistically significant in the crystallization test, compared with samples obtained from controls. Keywords: keratoconjunctivitis sicca; HIV; Dry eye 1,2,3 Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira” (HSPE-FMO) – (SP), Brasil. Trabalho realizado no Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira” (HSPE-FMO) – (SP), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 25/08/2014 - Aceito para publicação em 07/10/2014 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 152-9 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 152 7/4/2015, 17:12 Avaliação da função lacrimal, da superfície ocular e do filme lacrimal em pacientes soropositivos para o HIV INTRODUÇÃO A síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) foi reconhecida inicialmente nos Estados Unidos na década de oitenta, e admite-se que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) seja originário de primatas da África(1,2). A transmissão do retrovírus para o homem pode ter ocorrido por mordidas, escoriações ou qualquer contato com o sangue desses animais. Contudo, a pandemia da AIDS acompanhou a utilização, em larga escala, de primatas em experimentação biológica, inclusive xenotransplantes(3). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que haja 33,3 milhões de pessoas contaminadas com o vírus HIV no mundo, sendo que no Brasil mais de 590 mil casos foram identificados de 1980, época da descoberta do vírus HIV, até junho de 2010(4). A classificação sistemática para definição de AIDS foi proposta em 1982 pelo Centers for Disease Control (CDC), revisada em 1997. Atualmente, a classificação baseia-se na quantificação de linfócitos T CD4+, já que a queda nos níveis destes linfócitos é uma das principais características da doença(5,6). Quanto às alterações oculares do segmento anterior na AIDS, antes da era da terapia antirretroviral combinada (HAART), eram frequentes o sarcoma de Kaposi, o linfoma de Burkitt, a microvasculopatia conjuntival, as conjuntivites não específicas, a ceratoconjuntivite seca e as iridociclites. As principais alterações do segmento posterior eram os exsudatos algodonosos, a retinite por citomegalovírus, herpes simples e varicela zoster, HIV, toxoplasmose, retinite sifilítica e as endoftalmites infecciosas(7,8). Entre as doenças oculares externas, diversos estudos em pacientes com sorologia positiva para HIV relatam uma importante prevalência de olho seco entre os pacientes com AIDS, em período anterior ao HAART(9,10). A síndrome do olho seco se refere a uma doença da superfície ocular com diversas etiologias que frequentemente coexistem. A prevalência precisa da síndrome do olho seco em uma determinada população é difícil de ser estabelecida precisamente pela falta de critérios diagnósticos concisos e pela subjetividade dos sintomas. Para tornar seu diagnóstico mais objetivo, são estabelecidos testes clínicos, como avaliação do tempo de ruptura do filme lacrimal (TRFL), coloração da superfície com corantes vitais (fluoresceína, rosa bengala e lisamina verde), teste de Schirmer e teste de cristalização da lágrima (ferning test). Outros testes utilizados, tais como osmolaridade do filme lacrimal, medida da concentração de proteínas no filme, interferometria e evaporimetria, são pouco úteis na prática diária, devido à baixa praticidade e alto custo de execução. Em 2007, foram publicados os resultados do International Dry Eye Workshop (DEWS)(11), em que o olho seco foi definido como uma doença multifatorial da lágrima e da superfície ocular, resultando em desconforto, turvação visual e instabilidade do filme lacrimal, com dano potencial à superfície ocular e associado ao aumento da osmolaridade da lágrima e à inflamação da superfície ocular. A etiologia do olho seco associada ao vírus HIV ainda não está bem estabelecida, mas a redução lacrimal pode estar associada à infiltração linfocítica e eventual destruição dos ácinos e ductos da glândula lacrimal, constituindo um quadro de síndrome de Sjögren-like, não apenas pelo aspecto clínico, como também pelo histopatológico(12). A prevalência do olho seco em pacien- 153 tes infectados pelo HIV em estudos prévios variou de 7,79% a 38,8% e a sintomatologia do olho seco tem um impacto relevante na qualidade de vida destes pacientes(13-17). Logo no início da epidemia do HIV, casos de SJ foram notificados como secundários à infecção (18) . Entretanto, poucos anos após, a síndrome sicca associada ao HIV foi definida como uma entidade clínica que recebeu o nome de síndrome da linfocitose infiltrativa difusa (SLID). Presente em 0,85 a 3% dos pacientes soropositivos, a SLID é caracterizada por infiltração linfocítica em vários órgãos e linfocitose periférica às custas de CD8+, clinicamente manifestada como síndrome sicca e aumento de parótida, simulando assim um quadro semelhante à síndrome de Sjögren (Sjögren-like). A redução lacrimal pode estar associada a esta infiltração linfocítica e eventual destruição dos ácinos e ductos da glândula lacrimal(18). Na SJ a infiltração linfocítica é por CD4+ e os testes sorológicos (anti-RO e anti-LA) são positivos(19, 20). MÉTODOS Trata-se de estudo observacional, transversal, quantitativo e analítico, realizado entre junho e outubro de 2011, nas dependências do Departamento de Oftalmologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. O protocolo do trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da instituição sob o número 079/11. Foram definidos dois grupos denominados “grupo de estudo” e “grupo controle”. Grupo de estudo Critérios de inclusão: sorologia positiva para o vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), maioridade legal e assinatura do termo de consentimento. Critérios de exclusão: sorologia positiva para vírus da hepatite B ou C, uso de medicação ocular ou lentes de contato nos sete dias anteriores à avaliação, portadores de doenças oculares previamente diagnosticadas que comprometam a produção ou drenagem lacrimal (síndrome de Sjögren, síndrome de StevensJohnson, penfigóide ocular, queimadura química ocular, tracoma, paralisia facial periférica), uso contínuo de medicamentos com efeito anticolinérgico, gestantes e lactantes. Grupo controle Critérios de inclusão: sorologia negativa para o vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), maioridade legal e assinatura do termo de consentimento. Critérios de exclusão: sorologia positiva para vírus da hepatite B ou C, uso de medicação ocular ou lentes de contato nos sete dias anteriores à avaliação, portadores de doenças oculares previamente diagnosticadas que comprometam a produção ou drenagem lacrimal (síndrome de Sjögren, síndrome de StevensJohnson, penfigóide ocular, queimadura química ocular, tracoma, paralisia facial periférica), uso contínuo de medicamentos com efeito anticolinérgico, gestantes e lactantes. Foram selecionados, de acordo com os critérios propostos, 16 pacientes portadores de HIV e 16 pacientes sem infecção pelo vírus. No grupo de estudo, 5 pacientes eram do sexo masculino e 11 do sexo feminino. A média de idade foi 44,94 anos (± 10,33). No grupo controle, 5 pacientes eram do sexo masculino e 11 do sexo feminino e a média de idade foi 55,50 anos (± 20,81). As Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 152-9 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 153 7/4/2015, 17:12 154 Mosena CR, Pinheiro MVV, Alhadeff PA, Neiva TT, Felberg S tabelas 1 e 2 que resumem os dados, demonstram não haver diferenças estatisticamente significantes entre os grupos tanto com relação à idade (p=0,083) quanto ao sexo (p>0,999), respectivamente. A tabela 3 resume os dados dos pacientes do grupo de estudo, incluindo o tempo de infecção pelo HIV. Sequência dos exames teste de cristalização do filme lacrimal; logo após foi realizada a observação do tempo de ruptura do filme lacrimal e feita avaliação da córnea com corante de fluoresceína a 1%. Após no mínimo trinta minutos da execução do exame anterior, foi realizado o Teste de Schirmer I. Na sequência, novamente a superfície ocular foi estudada, porém, desta vez, utilizando-se o corante Não encontramos, ao consultar a literatura pertinente, consenso com relação à sequência ideal para a realização dos testes de olho seco, de maneira que a proposta nesse estudo foi idealizada de modo a evitar ao máximo que a realização de um teste influenciasse na performance do teste seguinte. Tanto os pacientes do grupo de estudo como os do grupo controle foram submetidos à mesma sequência de avaliação. Inicialmente foi apresentando um questionário padronizado sobre o tempo de duração conhecido da infecção e a provável forma de contágio, bem como sobre a terapia antiretroviral em uso, quando presente. Após a obtenção dessas informações, os parâmetros estudados e o intervalo entre cada exame realizado estão descritos a seguir: Tabela 1 Avaliação dos grupos quanto ao sexo Grupo Variável Controle n % HIV+ n % Total N % Sexo Feminino Masculino 11 5 11 5 22 10 Total 16 100 Valor de p >0,999# 68,8 31,3 16 68,8 31,3 100 32 68,8 31,3 100 Tabela 2 Avaliação dos grupos quanto à idade Variável Idade (anos) Grupo Média DP Mediana Mínimo Máximo N Valor de p Controle HIV+ 55,50 44,94 20,81 10,33 55,5 44 18 18 85 72 16 16 0,083 de rosa bengala 1%. Finalmente, após pelo enos trinta minutos do exame anterior, a sensibilidade das córneas foi aferida com estesiômetro de Cochet-Bonet. Tabela 3 Dados do grupo de estudo (HIV+) Paciente 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Sexo Idade Δt Infecção F M F M M M F M F F F F F F F F 46 41 44 43 41 51 50 50 45 72 43 42 44 18 43 46 132 7 96 96 120 168 168 24 156 228 144 108 168 84 84 168 Legenda: F = feminino; M= masculino; Idade = em anos; Δt infecção = em meses Inicialmente foi aplicado o questionário “olho seco-específico”: Ocular Surface Disease Index ® (OSDI); imediatamente após, foi coletada amostra de lágrima para realização do Local dos exames A aplicação dos questionários, medidas do tempo de ruptura do filme lacrimal, coloração da superfície ocular com corante de fluoresceína a 1%, teste de Schirmer I, coloração da superfície ocular com corante de rosa bengala 1%, estesiometria e a coleta de amostras de lágrima foram realizadas na mesma sala do Ambulatório de Córnea e Doenças Externas do Departamento de Oftalmologia do IAMSPE, com portas e janelas fechadas. Nos horários das coletas, temperatura e umidade relativa do ar dentro da sala foram registradas com termohigrômetro digital (Barigo ®, Barometerfabrik, VillingenSchwenningen, Alemanha). O aparelho registra, em um período determinado de tempo, a temperatura mínima e máxima, assim como a umidade relativa do ar mínima e máxima. A tabela 4 apresenta o resumo das medidas registradas nos dias em que os pacientes foram avaliados. Descrição dos parâmetros • Questionário OSDI Todos os pacientes foram submetidos ao questionário olho seco-específico “Ocular Surface Disease Index” (OSDI ®, Allergan, Irvine, Califórnia, EUA), composto de doze perguntas Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 152-9 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 154 7/4/2015, 17:12 Avaliação da função lacrimal, da superfície ocular e do filme lacrimal em pacientes soropositivos para o HIV Tabela 4 o Registro dos valores da temperatura ( C) e umidade relativa do ar (%) T. míno C Mínimo Máximo Média DP 20,7 23,2 22,05 0,96 T. máxo C 21,9 25,8 23,8 1,54 U.R. mín % U.R.máx % 43 68 53,5 7,81 49 73 60,6 7,52 Legenda: T = temperatura; U.R. = umidade relativa do ar; mín. = mínima; máx. = máxima; DP = desvio padrão feitas pelo pesquisador aos entrevistados. Para respondê-las, deveriam considerar os sete dias que antecederam a entrevista. As questões cobrem três áreas: sintomas oculares, possíveis estímulos ambientais causadores de desconforto ocular e finalmente, as limitações nas atividades diárias dos pacientes em função do quadro clínico ocular. Nesse questionário, para mensuração da intensidade das respostas fornecidas, os pacientes referem para cada pergunta, resposta numa escala que varia de 0 a 4 pontos, sendo 0 comprometimento mínimo e 4 comprometimento máximo. Ao final, um escore global é gerado, levando-se em consideração tanto os índices fornecidos em cada uma das respostas como o número total de perguntas que puderam ser respondidas. Esse escore varia de 0 a 100, sendo 0 ausência de desconforto ocular e 100, desconforto ocular máximo. O questionário foi aplicado aos pacientes em todas as fases sempre pelo mesmo pesquisador (CM). • Teste de cristalização do filme lacrimal Nessa forma de avaliação, também conhecida como ferning test ou ainda “teste da samambaia”, os pacientes foram acomodados da forma convencional na lâmpada de fenda e com tubo de vidro capilar não-heparinizado, amostra de lágrima foi coletada do fundo de saco do olho direito. Uma gota com diâmetro que variou entre dois e três milímetros foi depositada na superfície de uma lâmina de vidro limpa, no centro de um círculo marcado previamente com caneta azul ou vermelha. A lágrima foi deixada secar em temperatura ambiente por cerca de dez minutos antes de armazenada em caixa apropriada para seu transporte. A observação das lâminas foi feita posteriormente, com auxílio de microscópio óptico comum, Zeiss Axistar, com o qual foram obtidas fotografias digitais do local correspondente à gota de lágrima seca, com câmera acoplada ao microscópio (Sony Cybershot® modelo DSC-W120), em aumentos de 5, 10 e 40 vezes e resolução de 3 megapixels. A coleta do material e a realização das fotos foram feitas pelo mesmo pesquisador (CM). As fotografias obtidas foram examinadas em momento separado e de forma independente por outro pesquisador com experiência prévia na leitura do teste (SF). Para a classificação, os achados do teste de cristalização do filme lacrimal foram caracterizados em quatro padrões, de acordo com o modelo proposto por Rolando, sendo considerados normais os padrões I e II e anormais os padrões III e IV(21). • Tempo de ruptura do filme lacrimal (TRFL) O exame foi realizado com lâmpada de fenda e iluminação da luz azul de cobalto. Uma gota de fluoresceína 1% foi instilada no fundo de saco inferior de ambos os olhos dos pacientes. Os pacientes foram solicitados a piscar algumas vezes e em seguida 155 interromper o pestanejar, quando o cronômetro era imediatamente acionado. Foi observado o tempo de aparecimento do primeiro ponto de ruptura do filme lacrimal na superfície da córnea e três medidas foram anotadas para que a média fosse obtida. O exame foi realizado em todas as fases pelo mesmo pesquisador (CM). • Exame da córnea com corante de fluoresceína a 1% Aproveitando o mesmo volume de fluoresceína instilada para a verificação do TRFL, imediatamente após, a córnea de cada olho foi avaliada de acordo com o seguinte escore proposto pelos pesquisadores: Escore 0: córnea sem alterações; não cora com a fluoresceína; Escore 1: ceratite ponteada, com pontos esparsos evidenciados pelo corante; Escore 2: ceratite ponteada, com pontos próximos evidenciados pelo corante; Escore 3: ceratite intensa, com pontos confluentes evidenciados pelo corante; O exame foi realizado em todas as fases sempre pelo mesmo pesquisador (CM). • Teste de Schirmer I O teste de Schirmer I, também denominado teste de Schirmer sem anestesia tópica, foi realizado simultaneamente em ambos os olhos, colocando-se no terço lateral de cada uma das pálpebras inferiores, uma tira padronizada e milimetrada de papel de filtro Wathmann número 41 (Ophthalmos®, São Paulo, Brasil). Os pacientes foram orientados a permanecer com os olhos fechados durante cinco minutos. Logo após foi observado e anotado o valor correspondente ao umedecimento do papel em cada olho. O exame foi realizado em todas as fases sempre pelo mesmo pesquisador (CM). • Exame da superfície ocular com corante de rosa bengala a 1% A avaliação do dano causado à superfície ocular foi analisada com corante de rosa bengala 1%. Uma gota do corante foi instilada na conjuntiva bulbar superior de ambos os olhos dos pacientes. Em seguida, eles foram avaliados na lâmpada de fenda com iluminação e filtro verde. Os olhos foram classificados de acordo com a proposta de van Bjesterveld (22), na qual cada olho tem a área da superfície ocular exposta pela fenda naturalmente aberta, dividida em três terços: conjuntiva bulbar lateral, córnea e conjuntiva bulbar medial. Cada terço recebe do examinador uma pontuação que varia de 0 a 3, sendo: Escore 0: não cora com a rosa bengala; Escore 1: cora levemente, com pontos esparsos; Escore 2: cora moderadamente, com pontos próximos; Escore 3: cora intensamente, com pontos confluentes. Os escores dos três terços são somados gerando um escore final que varia de 0 a 9 pontos, sendo 0 considerado ausência de dano à superfície e 9 dano máximo. O exame foi realizado em todas as fases sempre pelo mesmo pesquisador (CM). • Estesiometria Na avaliação da sensibilidade corneal central, o paciente informou sobre a mínima sensibilidade ao toque quando estimulado na região central da córnea pelo estesiômetro de Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 152-9 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 155 7/4/2015, 17:12 156 Mosena CR, Pinheiro MVV, Alhadeff PA, Neiva TT, Felberg S Cochet-Bonnet (Luneau Ophthalmologie, Paris-França), de acordo com a padronização proposta por Norn(23). O exame foi realizado em ambos os olhos, sempre pelo mesmo examinador (CM), que iniciou o teste no olho direito, tocando a córnea central com o fio de nylon em exposição máxima (nível 6). Caso o toque não fosse percebido, o fio era reduzido para o nível 5,5 e assim por diante, de 0,5 em 0,5, até o nível 0. Caso percebesse o toque, o valor correspondente ao nível de exposição do fio era registrado. Análise estatística Para responder aos objetivos do estudo, primeiramente foram descritas as medidas avaliadas segundo grupos com uso de medidas resumo (média, desvio padrão, mediana, mínimo e máximo) e comparados os valores entre os grupos com uso de testes Mann-Whitney, com exceção das idades, que foram comparadas com uso de teste t-Student. Sexo, as classificações do OSDI e da cristalização foram descritas segundo grupos com uso de frequências absolutas e relativas e verificada a existência de associação entre sexo e grupos com uso do teste qui-quadrado e comparados os graus das escalas entre os grupos com uso do teste Mann-Whitney. Os testes foram realizados com nível de significância de 5%. RESULTADOS A tabela 5 mostra que a idade média do grupo controle é estatisticamente igual à do grupo HIV+ (p = 0,083) e os testes que assumem escores (fluoresceína e rosa bengala) também não diferiram estatisticamente entre os grupos controle e HIV+ (p > 0,05). Pela tabela 6, nota-se que o padrão do teste de cristalização da lágrima é estatisticamente diferente no grupo de pacientes HIV+ (com predomínio dos padrões III e IV) em relação ao grupo controle (no qual predominaram os padrões I e II), tanto no olho direito como no esquerdo (p = 0,019 e p < 0,001, respectivamente). Os gráficos 1 e 2 ilustram os resultados da tabela 5, sendo que os escores de cristalização da lágrima em ambos os olhos foram estatisticamente maiores nos pacientes HIV+. D ISCUSSÃO Os dados apresentados nesse estudo evidenciaram que as avaliações das provas de função lacrimal (teste de Schirmer e Tabela 5 Descrição dos valores das escalas numéricas segundo grupos e resultado dos testes comparativos Variável Idade (anos) OSDI absoluto BUT OD (segundos) BUT OE (segundos) Schirmer OD (mm) Schirmer OE (mm) Estesio OD Estesio OE Fluor OD Fluor OE Rosa OD Rosa OE Grupo Média DP Mediana Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ Controle HIV+ 55,50 44,94 13,79 13,18 7,94 6,56 7,81 6,31 14,81 15,56 15,25 15,25 5,13 4,34 5,25 4,41 0,19 0,06 0,19 0,25 0,13 0,13 0,19 0,25 20,81 10,33 17,13 13,16 2,67 3,27 2,59 3,26 9,84 9,75 8,24 9,83 0,81 1,55 0,71 1,54 0,54 0,25 0,54 0,58 0,34 0,34 0,40 0,45 55,5 44 7,15 7,67 10 7 9 5 15 14,5 13,5 11,5 5,5 4,5 5,5 4,75 0 0 0 0 0 0 0 0 Mínimo 18 18 0 0 3 2 3 2 2 1 6 3 3,5 1 3,5 1,5 0 0 0 0 0 0 0 0 Resultado do teste Mann-Whitney (*) Resultado do teste t-Student Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 152-9 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 156 7/4/2015, 17:12 Máximo 85 72 70 41,6 10 10 10 10 35 35 35 35 6 6 6 6 2 1 2 2 1 1 1 1 N Valor de p 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 16 0,083* 0,926 0,224 0,224 0,838 0,809 0,171 0,210 0,752 0,780 >0,999 0,780 Avaliação da função lacrimal, da superfície ocular e do filme lacrimal em pacientes soropositivos para o HIV Tabela 6 Gráfico 1 Descrição das escalas qualitativas segundo os grupos e resultado do teste de associação e testes comparativos das escalas Percentuais de cristalização no olho direito observados segundo os grupos 157 Grupo Variável Controle n % HIV+ n % Total N % OSDI classificação Normal Leve Moderado 0,809 11 2 3 68,8 12,5 18,8 12 1 3 75,0 6,3 18,8 23 3 6 71,9 9,4 18,8 6 6 3 1 37,5 37,5 18,8 6,3 2 3 7 4 12,5 18,8 43,8 25,0 8 9 10 5 25,0 28,1 31,3 15,6 I II III IV 10 4 2 0 62,5 25,0 12,5 0,0 2 1 5 8 12,5 6,3 31,3 50,0 12 37,5 5 15,6 7 21,9 8 25,0 Total 16 16 100 32 100 Cristal OD I II III IV Valor de p 0,019 Cristal OE <0,001 100 tempo de ruptura do filme lacrimal) e do status da superfície ocular (exames com os corantes fluoresceína e rosa bengala e sensibilidade das córneas) de pacientes soropositivos para o HIV não demonstraram diferenças significantes com relação aos pacientes controles, nas condições estudadas. São fatores que limitam a interpretação dos dados, a pequena amostra de pacientes pertencentes ao grupo de estudo, a heterogeneidade do tempo entre a infecção viral e a avaliação ocular e as características individuais tanto do tratamento antirretroviral quanto do espectro clínico consequente à contaminação pelo HIV. Inicialmente programamos descrever os achados usando o número absoluto de olhos (64 olhos), porém, como a doença estudada envolve os dois olhos de forma similar, optamos em usar o número de pacientes, e não de olhos, embora ambos tenham sido submetidos a todos os testes. Dessa maneira, o fato de termos verificado ausência de alterações que caracterizem a ceratoconjuntivite seca no grupo de estudo, nos permite inferir apenas que, diferentemente dos achados por outros pesquisadores, o grupo de pacientes selecionados não apresentou olho seco no momento exato em que nossa avaliação foi executada. Se admitirmos que o quadro clínico de ressecamento ocular associado à infecção pelo HIV observado por outros autores apresenta de fato semelhanças com aquele verificado na síndrome de Sjögren, é possível concluirmos que o dano causado no tecido exócrino secretor ocorrerá no primeiro grupo também de maneira paulatina, com instalação lenta e gradual da sintomatologia. Sob esse aspecto não é possível descartar a possibilidade do grupo aqui estudado vir a desenvolver futuramente alterações da função lacrimal e consequentemente da superfície ocular, sendo portanto, recomendável, avaliá-lo periodicamente. A etiologia da ceratoconjuntivite seca relacionada à infecção pelo HIV ainda não está bem estabelecida. Evidências Gráfico 2 Percentuais de cristalização no olho esquerdo observados segundo os grupos derivadas de estudos de pacientes com síndrome de Sjögren mostram a presença de reação cruzada de anticorpos séricos com proteínas retrovirais e ocorrência de atividade da transcriptase reversa nas glândulas salivares (18). Além disso, a detecção de antígenos retrovirais, partículas retrovírus-like ou sequências retrovirais nas glândulas salivares de pacientes com infecção sistêmica por retrovírus (EBV, HIV e HTLV), corroboram com a teoria de que a infecção poderia representar o gatilho para o desenvolvimento das manifestações causadas pela hipoatividade das glândulas exócrinas, embora, até o momento, nenhum trabalho evidenciou que esses achados presentes nas glândulas salivares se reproduzam nas lacrimais, porém as evidências clínicas levam a crer que o mecanismo patogênico seja similar(24). Ou seja, tanto a presença do vírus vivo no microambiente glandular, quanto a disfunção imunológica levando o sistema de defesa a considerar non-self proteínas dos ductos e ácinos glandulares numa reação cruzada com proteínas virais podem levar à inflamação e destruição local, justificando as anormaRev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 152-9 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 157 7/4/2015, 17:12 158 Mosena CR, Pinheiro MVV, Alhadeff PA, Neiva TT, Felberg S lidades da função lacrimal já descritas e observadas por outros autores em pacientes HIV positivos. Isso significa, portanto, que alguns pacientes infectados pelo HIV que desenvolvem o olho seco, são na realidade, geneticamente predispostos a essa reação cruzada e não se sabe, exatamente, em que porcentagem, representam o grupo dos que desenvolvem olho seco por esse mecanismo no universo dos soropositivos. É possível crer que, nesses casos, a ceratoconjuntivite seca se instale mais tardiamente do que naqueles determinados exclusivamente pela presença do vírus no tecido acinar. A amostra reduzida dos pacientes no presente estudo favorece o viés da seleção, podendo o grupo ter sido composto de pacientes predispostos às alterações de longo prazo. Rodrigues e colaboradores observaram aumento significativo da frequência da síndrome de olho seco nos pacientes com doença acima de quatro anos de evolução, principalmente entre os que estavam em uso de HAART, porém o decréscimo da produção lacrimal não esteve relacionado com a severidade ou tempo de infecção(25). No grupo que estudamos, todos os pacientes estavam em uso de HAART e o tempo de infecção não foi levado em consideração, porém, não consideramos o fato relevante pelo motivo de não termos observado diferenças entre eles e os controles. Caso fossem detectadas no grupo infectado alterações no desempenho dos testes, pairaria a dúvida se o uso da medicação sistêmica poderia ser responsável pelos achados. É presumível que o esquema HAART possa eliminar as manifestações de uma síndrome de Sjögren-like, entretanto nenhum estudo mostrou claramente a ação dos antirretrovirais de forma isolada ou combinada, ou se estes podem ter ação deletéria em algum dos componentes do filme lacrimal, independente da infecção. Por outro lado, para que seja possível concluir a influência da terapia antirretroviral como fator protetor na prevenção da ceratoconjuntivite seca, evento que pode ter ocorrido nos pacientes aqui estudados, será necessário novo estudo comparando pacientes HIV-positivo em tratamento com outros virgens de tratamento e sem comorbidades sistêmicas. Mais uma vez, as amostras tenderão a serem reduzidas devido à frequente associação da infecção pelo HIV com outros vírus potencialmente desencadeadores de olho seco, dentre eles o HVC e o HVB (considerados como critérios de exclusão do presente estudo, sendo esse um dos responsáveis pela restrição no tamanho da amostra que foi constituída). Colombo e colaboradores descreveram a dissociação entre sinais e sintomas de olho seco em pacientes com síndrome de Sjögren, ou seja, a fraca relação entre a intensidade das queixas (também avaliada pelo questionário olho seco-específico - OSDI) e o status da superfície ocular, principalmente nos casos crônicos e severos(26). Uma das explicações propostas pelos autores foi de que a inflamação crônica causado pelo olho seco e a liberação local de mediadores inflamatórios levariam à hipoestesia da córnea, com consequente redução da percepção do incômodo, a despeito de uma superfície ocular bastante alterada. Acreditamos, no entanto, que os valores normais observados no questionário OSDI no nosso estudo e que indicam ausência de desconforto ocular, ao contrário, representam a ausência de queixas em função da inexistência do dano ocular, verificado pela sequência dos demais testes e comprovado pela sensibilidade normal das córneas avaliadas. É possível considerar que alterações bioquímicas do filme lacrimal, responsáveis pelo componente mucoso, em determinadas condições possam ser manifestações mais precoces da disfunção lacrimal do que a verificação do déficit na produção aquosa ou ainda da presença de dano na superfície ocular. Isso justifica a inalteração do teste de Schirmer. Observamos pelo teste da cristalização nas amostras coletadas de lágrimas, que os pacientes infectados pelo HIV tendem a apresentar qualidade pior do que pacientes normais. Os soropositivos apresentam os padrões III e IV de Rolando com mais frequência do que os indivíduos sem a infecção. Nestes, os padrões I e II foram mais prevalentes. A umidade relativa do ar acima de 50% pode diminuir a reprodutibilidade do teste, entretanto estudos pioneiros de descrição deste teste não medem a umidade do ar e não a citam como parâmetro de influência (27), enquanto outros estudos com a finalidade de avaliar exclusivamente este teste o fizeram com umidade entre 48-69%(28). O sistema de classificação do teste de cristalização funciona como índice de avaliação da qualidade global do filme lacrimal, já que para que se forme cada um dos padrões considerados na classificação, as concentrações de muco, glicoproteínas e eletrólitos são totalmente determinantes. Outro teste importante, porém não realizado em nosso estudo, é a medida da osmolaridade do filme lacrimal. Sabemos do papel da hiperosmolaridade como mecanismo-chave na fisiopatogênese do olho seco, já demostrada em inúmeros estudos e cada vez mais discutida (29). A hiperosmolaridade ocorre em consequência da redução na produção aquosa e/ ou do aumento da evaporação da lágrima. É também responsável pela redução da densidade de células caliciformes da conjuntiva bulbar. A perda das células caliciformes pode ser responsável pelo filme lacrimal instável e pela redução da mucina(30), evidenciando alteração no componente bioquímico da lágrima. Assim como o teste e cristalização, por avaliar o componente primeiramente afetado nos casos Sjögren-like, provavelmente a medida da osmolaridade também estaria alterada em nosso estudo. Esse achado corrobora a necessidade de que o estudo apresente seguimento, com novas avaliações dos pacientes observados, sob as mesmas condições que aqui foram descritas, além de sofrer ampliação com diferentes testes, como a própria medida da osmolaridade lacrimal neste grupo. C ONCLUSÃO Nas condições estudadas, os pacientes soropositivos para o HIV não apresentaram alterações da função lacrimal e nem da superfície ocular, porém amostras de lágrimas evidenciaram diferenças consideradas estatisticamente significantes nos padrões dos testes de cristalização do filme lacrimal, quando comparadas com amostras obtidas de pacientes controles. R EFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. Bacchetti P, Moss AR. Incubation period of AIDS in San Francisco. Nature. 1989;338(6212):251-3. McClure MO, Schulz, TF. Origin of HIV. BMJ. 1989; 298 (6883): 1267-8. Mendes NF. Simian viruses, organ xenotransplantation and a hypothesis about the origin of AIDS. Braz J Med Biol Res. 1993; 26(3): 231-3. UNAIDS. Resumo mundial da epidemia de HIV/SIDA – janeiro de 2011 [Interne]. [citado 2014 Set 30]. Disponível em: URL: http://www.unaids.org. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 152-9 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 158 7/4/2015, 17:12 Avaliação da função lacrimal, da superfície ocular e do filme lacrimal em pacientes soropositivos para o HIV 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. Garry RF. Potential mechanisms for the cytopathic properties of HIV. AIDS. 1989;(11):683-94. Update: acquired immunodeficiency syndrome – United States, 1992. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 1993; 42(28):547-51,557. Freitas JA, Soranz Filho JE, Soranz JF, Barbosa ML, Gonçalves VL. Achados oftalmológicos em pacientes com Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. Rev Bras Oftalmol. 1997;56(11): 837-41. Kadhem M; Kalisch SB, Goldsmith J, Fetkenhour C, O’Grady RB, Phair JP, Chrobak M. Ophthalmologic findings in acquired immunodeficiency syndrome (AIDS). Arch Ophthalmol. 1984;102(2): 201-6. Raskin RH, Justo DM, Torres LM, Picetti E, Cattani S, Bocaccio FJL, Rymer S. Avaliação de olho seco em pacientes com teste anti-HIV positivo [resumo]. Arq Bras Oftalmol. 1993;56(4). Steck AD, Abreu MT, Muccioli C, Lottenberg C, Belfort Júnior R. Prevalência de olho seco em população de pacientes HIV positivos [resumo]. Arq Bras Oftalmol. 1994;57(4). The definition and classification of dry eye disease: report of the definition and Classification Subcommittee of the International Dry Eye Workshop (2007). Ocul Surf. 2007;5(2):75-92. Pflugfelder SC, Wilhelmus KR, Osato MS, Matoba AY, Font RL. The autoimmune nature of aqueous tear deficiency. Ophthalmology. 1986; 93(12):1513-7. Kordossis T, Paikos S, Aroni K, Kitsanta P, Dimitrakopoulos A, Kavouklis E, et al. Prevalence of Sjögren-like syndrome in a cohort of HIV-1 positive patients: descriptive pathology and immunopathology. Br J Rheumatol. 1998: 37(6):691-5. DeCarlo DK, Penner SL, Schamerloh RJ, Fullard RJ. Dry eye among males infected with the human immunodeficiency virus. J Am Optom Assoc. 1995; 66(9):533-8. Geier SA, Libera S, Klauss V, Goebel FD. Sicca syndrome in patients infected with the human immunodeficiency virus. Ophthalmology. 1995; 102(9):1319-24. Lucca JA, Kung JS, Farris RL: Keratoconjunctivitis sicca in female patients infected with human immunodeficiency virus. CLAO J. 1994; 20(1):49-51. Lucca JA, Farris RL, Bielory L, Caputo AR. Keratoconjunctivitis sicca in male patients infected with human immunodeficiency virus type 1. Ophthalmology.1990; 97(8):1008-10. Sipsas NV, Gamaletsou MN, Moutsopoulos HM. Is Sjögren’s syndrome a retroviral disease? Arthritis Res Ther. 2011; 13(2):212-19. Panayiotakopoulos GD, Aroni K, Kyriaki D, Paikos S, Vouyioukas N, Vlachos A, Kontos AN, Kordossis T: Paucity of Sjögren’s -like syndrome in a cohort of HIV-1-positive patients in the HAART era. Part II. Rheumatology (Oxford). 2003, 42(10):1164-7. 159 20. Felberg S, Dantas PE. Diagnóstico e tratamento da síndrome de Sjögren. Arq Bras Oftalmol. 2006; 69(6):959-63. 21. Rolando M. Tear mucus ferning test in normal and keratoconjuntivitis sicca eyes. Chibret Int J Ophthamol. 1984; 2(4):32-41. 22. van Bijsterveld OP. Diagnostic tests in the Sicca syndrome. Arch Ophthalmol. 1969 Jul;82(1):10-4. 23. Norn MS. Conjuntival sensivity in pathological cases, with simultaneous measurement of corneal and lid margin sensitivity. Acta Ophthlmol (Copenh). 1975; 53(3):450-7. 24. Talal N, Dauphinée MJ, Dang H, Alexander SS, Hart DJ, Garry RF. Detection of serum autoantibodies to retroviral proteins in patients with primary Sjögren’s syndrome (autoimmune exocrinopathy). Arthritis Rheum. 1990, 33(6):774-781. 25. Rodrigues ML, Rodrigues ML, Holanda de Freitas JA. Estudo da síndrome de ceratoconjuntivite seca de pacientes soropositivos para o vírus da imunodeficiência adquirida humana tipo 1 e com síndrome da imunodeficiência adquirida, em uso ou não de terapia anti-retroviral combinada (HAART). Arq Bras Oftalmol. 2004; 67(2):283-7. 26. Barboza MN, Barboza GN, de Melo GM, Sato E, Dantas MC, Dantas PE, Felberg S. Correlation between signals and symptoms of dry eye in Sjögren’s syndrome patients. Arq Bras Oftalmol. 2008;71(4):547-52. 27. Tabbara KF, Okumoto M. Ocular ferning test. A qualitative test for mucous deficiency. Ophthalmology. 1982; 89(6):712–4. 28. Felberg S, Cordeiro H, Sato E, Martini D, Dantas MC, Endo RM, Dantas PE. Reprodutibilidade na classificação do teste de cristalização do filme lacrimal em pacientes com síndrome de Sjögren. Arq Bras Oftalmol. 2008;71 (2):228-33. 29. Baudouin C, Aragona P, Messmer EM. Role of hyperosmolarity in the pathogenesis and management of dry eye disease: proceedings of the OCEAN Group Meeting. Ocul Surf 2013;11(4):246-58. 30. Liu H, Begley C, Chen M, Bradley A, Bonanno J, McNamara NA, et al. A link between tear instability and hyperosmolarity in dry eye. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2009; 50(8):3671-9. Autor correspondente: Carolina Ramos Mosena Rua Borges Lagoa, nº 1755 - 3 o andar – Vila Clementino CEP 704038-034 – São Paulo (SP), Brasil Fone: (11) 5549-2937 / (11) 5088-8167 – Fax: (11) 5549-2937 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 152-9 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 159 7/4/2015, 17:12 A 160 RTIGO ORIGINAL Variação da pressão intraocular no exercício resistido realizado em duas diferentes posições Variation of intraocular pressure in resistance exercise performed in two different positions Alex Sander Soares1, André Athanazio Caldara1, Lucas Ruiz Storti1, Luis Felipe Milano Teixeira1, João Guilherme Torniziello Terzariol1, Marcelo Conte1 R ESUMO Objetivo: Verificar a variação da PIO no exercício resistido na posição sentada e em decúbito dorsal. Métodos: Foram avaliados 14 voluntários do Centro de Atividades Físicas do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS Fit). Os critérios de exclusão adotados foram: I) opacidade de meios; II) alteração de volume do bulbo ocular ou ausência de bulbo ocular; III) PIO maior do que 21mmHg; IV) idade inferior 20 e superior a 40 anos; V) tempo de prática de treinamento resistido inferior a 30 dias. Inicialmente foi realizado o teste de predição no exercício leg press para determinar o percentual de carga para o respectivo exercício durante o experimento. Os voluntários foram submetidos a duas intervenções separadas em um intervalo de 72 horas, ambas com o mesmo volume e intensidade no exercício leg press, ou seja, 3 séries de 15 repetições com 60% 1RM, tempo de intervalo entre as séries de 60 segundos e velocidade moderada, de acordo com as seguintes posições: P1) leg-press executado na posição sentada e P2) leg press na posição em decúbito dorsal. A PIO foi obtida utilizando o tonômetro de Perkins em três momentos: M1) imediatamente antes do exercício; M2) imediatamente após a terceira série; M3) três minutos após a finalização da terceira série. Resultados: Em ambas as posições houve queda significativa da PIO após o exercício (M2), permanecendo significativamente reduzida após três minutos de recuperação (M3). Contudo, não houve diferença da PIO segundo a posição (P1 e P2), independentemente do momento de aferição (M1, M2 e M3). Conclusão: Houve queda da PIO decorrente ao exercício resistido e não foi verificada resposta diferencial da PIO de acordo com a posição do exercício. Descritores: Pressão intraocular/fisiologia; Exercício; Treinamento de resistência; Postura ABSTRACT Objective: To verify the variation in IOP in the resistance exercise performed in the sitting and supine. Methods: A 14 volunteers of the Center for Physical Activities of the Sorocaba Eye Bank (BOS Fit). Exclusion criteria were adopted: I) media opacity; II) change in volume of the eyeball or no eyeball; III) IOP greater than 21mmHg; IV) age 20 and over 40; V) time practice of resistance training less than 30 days. Initially the test was performed to predict the leg press exercise to determine the percentage charge for the exercise thereof during the experiment. The volunteers underwent two interventions separated by an interval of 72 hours, both with the same volume and intensity in the leg press exercise, 3 sets of 15 repetitions with 60% 1RM, interval time between sets 60 seconds and moderate speed, according to the following positions: P1) leg press performed in the sitting position and P2) leg press in supine position. IOP was obtained using the Perkins tonometer in three moments: M1) immediately before exercise; M2) immediately after the third series; M3) three minutes after completion of third grade. Each sequence was obtained by measuring the position of their exercise performance. Results: We found that in both positions there was a significant drop in IOP after exercise (M2), remained significantly reduced after three minutes of recovery (M3). However, there was no difference in IOP second position (P1 and P2), regardless of time of measurement (M1, M2 and M3). Conclusion: There was a decrease in IOP due to resistance exercise and was not observes differential response of IOP of IOP according to the position of the exercise. Keywords: Intraocular pressure/physiology; Exercise; Resistance training; Posture 1 BOS Fit, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ciências do Esporte, Hospital Oftalmológico de Sorocaba (SP), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 22/01/2013 - Aceito para publicação em 29/09/2013 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 160-3 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 160 7/4/2015, 17:12 161 Variação da pressão intraocular no exercício resistido realizado em duas diferentes posições INTRODUÇÃO A variação da pressão intraocular (PIO) é determinada pela produção, circulação e drenagem do humor aquo so, pelo fluxo trabecular e uveoscleral e ainda pela pressão venosa episcleral(1). O volume do vítreo, volume sanguíneo da coroide, rigidez da esclera, tensão do músculo orbicular do olho e a pressão externa, também podem influenciar na PIO(2). Além desses aspectos, a PIO pode sofrer variações devido a vários fatores, tais como: ritmo circadiano(3), posição corporal(4), exercício físico(5), entre outros. Em relação ao ritmo circadiano há um pico da PIO nas primeiras horas da manhã e o valor torna-se mais baixo ao final da tarde, havendo flutuação de 4 a 6mmHg. Essa variação está relacionada à atividade do sistema nervoso autonômico, controle humoral e a mudança do tônus muscular(3,4,6,7). Contudo, foi verificado que, independentemente da posição corporal, ocorre importante aumento da PIO no período noturno permanecendo elevada até as primeiras horas da manhã, porém a curva diária da PIO apresenta diferença de acordo com idade(8). Quanto à posição corporal, a PIO deitado é maior do que sentado, possivelmente as alterações hidrostáticas, como a elevação da pressão venosa episcleral, que ocorrem de uma posição para a outra, podem explicar essas diferenças(9). Em relação à prática de exercícios físicos, tanto em atividades aeróbicas quanto anaeróbicas, incluindo treinamento com pesos (treinamento resistido), ocorre redução da PIO decorrente da redução da osmolaridade do plasma, hiperventilação, aumento da síntese de óxido nítrico, redução do pH plasmático entre outros mecanismos(10,11). Por outro lado, é conhecido que ocorre variação da PIO devido à mudança da posição corporal, pacientes em posição supina apresentam valores pressóricos mais elevados em relação às medidas obtidas na posição sentada, sendo que o aumento da pressão venosa episcleral(12), pode ser considerado como um importante fator para flutuação da PIO decorrente da mudança de postura. De fato, os estudos têm demostrado o efeito hipotensor do exercício resistido na PIO, no entanto, não é definido na literatura se os exercícios realizados em diferentes posições, também apresentam efeitos diferentes na PIO. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi verificar a variação da PIO no exercício resistido realizado na posição sentada e em decúbito dorsal. MÉTODOS Amostra Esta pesquisa experimental foi desenvolvida com indivíduos saudáveis submetidos a duas sessões de exercício resistido. A amostra por conveniência foi constituída por 20 indivíduos (10 homens e 10 mulheres). Os critérios de exclusão adotados foram: I) opacidade de meios; II) alteração de volume do bulbo ocular ou ausência de bulbo ocular; III idade inferior 20 e superior a 40 anos; IV) tempo de prática de treinamento resistido inferior a 30 dias. Como critério de inclusão foi considerado atestado médico correspondente a avaliação clínica, laboratorial e eletrocardiograma. Os procedimentos experimentais foram realizados nas dependências do Centro de Atividades Físicas do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS Fit). O protocolo foi conduzido seguindo os princípios éticos estabelecido na Declaração de Helsinki proposta pela Associa- ção Mundial de Médicos. O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Oftalmológico de Sorocaba (Parecer nº 101.533). Todos os participantes foram esclarecidos sobre a pesquisa e o respectivo grau de envolvimento e, então, solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, consistindo em esclarecimento a respeito dos seguintes aspectos: I) justificativa, objetivos e procedimentos utilizados; II) desconfortos, possíveis riscos e benefícios esperados; III) forma de acompanhamento e assistência a seus respectivos responsáveis; IV) informação sobre a possibilidade de inclusão no grupo controle; V) liberdade de recusar a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização ou prejuízo e VI) garantia de sigilo em relação aos dados coletados. Instrumentos e procedimentos Para determinação das cargas de treinamento, inicialmente foi realizado o teste de predição(13), no exercício leg press, que visa estimar a carga máxima para exercícios resistidos com aplicação de cargas submáximas até a exaustão. De acordo com o respectivo protocolo, é aplicada uma carga aleatória e solicitado aos voluntários executar até a fadiga, cada exercício. As repetições são registradas e relacionadas a tabela específica para verificação da estimativa da carga a ser utilizada no experimento, no caso 60% de uma repetição máxima (1RM). Os voluntários foram submetidos a duas intervenções separadas por um intervalo de 72 horas, ambas com o mesmo volume e intensidade no exercício leg press, ou seja, 3 séries de 15 repetições com 60% 1RM, tempo de intervalo entre as séries de 60 segundos e velocidade moderada, de acordo com as seguintes posições: P1) leg press executado na posição sentada e P2) leg press na posição em decúbito dorsal. A PIO foi obtida, utilizando o tonômetro de Perkins, sempre pelo mesmo oftalmologista, com experiência nessa técnica, em três momentos: M1) imediatamente antes do exercício; M2) imediatamente após a terceira série; M3) três minutos após a finalização da terceira série. Cada sequência de mensuração foi obtida na posição da respectiva realização do exercício, observando objeto à distância com o olho contralateral, após a instilação de uma gota de colírio de proparacaína e uma gota de colírio de fluoresceína. Embora o tonômetro de Aplanação de Goldman seja considerado o padrão-ouro para a medida da PIO, outros tonômetros apresentam boa correlação na medida(14,15). No presente estudo, justifica-se a utilização do tonômetro de Perkins pela praticidade do emprego nas situações de campo do exercício físico, possibilitando que seja levado para qualquer lugar e que a medida seja feita com o mínimo de deslocamento do avaliado, bem como permite a realização da medida em decúbito dorsal(16). Análise estatística Descritivamente foram calculados a média e o desvio padrão, e os dados foram apresentados sob forma tabular e diagrama de caixa (box-plot). Foi utilizado ANOVA com medidas repetidas com pós-teste de Bonferroni adotando um nível de significância 5%, para comparação das medidas referente às variáveis estudadas. O software utilizado foi o GraphPadPrism®. R ESULTADOS A tabela 1 apresenta a resposta da PIO nas duas posições, em três momentos distintos, e demonstra a significância na redução da PIO após início do exercício. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 160-3 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 161 7/4/2015, 17:12 162 Soares AS, Caldara AA, Storti LR, Teixeira LFM, Terzariol JG T, Conte M Tabela 1 Resposta da PIO de acordo com a posição do exercício segundo momento de avaliação Momento Posição M1 OD M2 OE M3 OD Sentada (P1) 12,85 + 1,91 12,21 + 1,80 a Decúbito (P2) 12,35 + 2,30 11,78 + 1,42 c OE 9,28 + 1,97 b 9,57 + 1,22 b OD 9,35 + 2,02 a 8,78 + 1,18 b OE 9,28 + 2,36 b 9,14 + 1,91 a 9,00 + 248 8,35 + 1,78 a=p<0,001; b=p<0,01; c =p<0,05 Foi observado que em ambas as posições houve queda significativa da PIO após o exercício (M2), permanecendo significativamente reduzida após três minutos de recuperação (M3). Contudo, não houve diferença da PIO segundo a posição (P1 e P2), independentemente do momento de aferição (M1, M2 e M3). As figuras 1 e 2 apresentam a variação da PIO no olho direito (OD) e olho esquerdo (OE), de acordo com a posição nos momentos pré-exercício (M1), pós-exercício (M2) e três minutos após o exercício (M3). a= p<0,001; b= p<0,01; c = p<0,05 Figura 1. Variação da PIO no OD, de acordo com a posição, segundo momento a= p<0,001; b= p<0,01; c = p<0,05 Figura 2. Variação da PIO no OE de acordo com a posição, segundo momento D ISCUSSÃO Foi verificado, em estudo com atletas do boxe que realizaram sessões de treinamento resistido, valores significativamente mais baixos da PIO após a execução dos exercícios, independente do posicionamento corporal dos voluntários(17). Porém, em pesquisa realizada com 82 indivíduos não submetidos ao exercício físico os quais apresentavam as seguintes condições: glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), glaucoma de pressão normal (GNP) e indivíduos com olhos normais (ON), observou-se que a PIO foi mais elevada na posição supina, independente da condição, do que na sentada(18). A diferença média da PIO entre a posição supina para sentada no GPAA foi de 3,41mmHg; entretanto no grupo GNP foi de 2,77mmHg e finalmente em voluntários com ON foi encontrado a diferença de 2,45mmHg. Os autores consideram que a respectiva diferença pode estar associada ao aumento da pressão venosa episcleral. Também é apontado que exercícios realizados com os membros inferiores posicionados acima da cabeça podem resultar em elevação da PIO(19), por lado, este aumento pode ser decorrente do aumento da vascularização coroidal e da pressão episcleral venosa, no qual o fluxo dos tecidos oculares passam a ficar comprometidos, sendo que a coroide é um tecido muito vascularizado podendo provocar alterações dinâmicas no liquido humor aquoso, ocasionando o aumento da PIO(20). Outro estudo(21), que também verificou a variação da drenagem do humor aquoso segundo posição corporal, constatou que a média da PIO em 21 voluntários, sentados e deitados foi significativamente diferente, ou seja, respectivamente de 17,8+1,7mmHg e 19,9+1,6mmHg. Por outro lado, não foi observada diferença significativa da drenagem do humor aquoso de acordo com a posição corporal, com valores observados de 0,30+0,31(sentado) e 0,28+0,09/min/mmHg (deitado) Em relação ao volume e intensidade do treinamento(17,22) observa-se que o treinamento resistido ocasiona a diminuição da PIO independente da carga utilizada durante a sessão de exercícios, havendo maior alteração no método que preconiza o desenvolvimento da resistência muscular. De fato, nessas condições o volume total do treinamento e o tempo em que os músculos permanecem sob tensão são maiores do que nos outros métodos de exercícios resistidos. No entanto, o exercício de supino realizado com carga máxima para quatro repetições em apneia voluntária, promoveu aumento da PIO em média de 4,3 ± 4,2mmHg, em voluntários jovens e saudáveis(23). Hipoteticamente, exercícios realizados na posição deitada naturalmente elevariam os níveis da PIO, no entanto o efeito hipotensor do exercício físico resistido(7,11,17,24) parece interferir nesse processo, antagonizando o potencial aumento da PIO. Através de mecanismos que promovem a redução da formação e/ou aumento do escoamento do humor aquoso. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 160-3 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 162 7/4/2015, 17:12 Variação da pressão intraocular no exercício resistido realizado em duas diferentes posições C ONCLUSÃO Houve queda da PIO decorrente ao exercício resistido e não foi verificada resposta diferencial da PIO de acordo com a posição do exercício. Em termos práticos esses resultados podem contribuir para seleção de exercícios resistidos para pessoas com fatores de risco para hipertensão ocular ou glaucoma, uma vez que, foi verificado que tanto os exercícios em posição sentada ou em decúbito dorsal promovem redução da PIO. R EFERÊNCIAS 1. Weinreb RN, Brandt JD, Garway-Heath D, Medeiros, FA. Intraocular pressure. WGA - Consensus series 4. Amsterdam: Kugler Publications, 2007. 2. Talieri IC, Honsho CS, Nunes N, Souza AP, Duque JC. [Behavior of intraocular pressure according to cardiorespiratory and hemodynamic effects induced by desflurane in dogs subjected to experimental hypovolemia]. Arq Bras Oftalmol. 2005;68(4): 521-6. Portuguese. 3. Jaén-Díaz JI, Cordero-García B, López-de-Castro F, De-CastroMesa C, Castilla-López-Madridejos F, Berciano-Martínez F. [Diurnal variability of intraocular pressure]. Arch Soc Esp Oftalmol. 2007;82(11):675-9. 4. Shuba LM, Doan AP, Maley MK, Zimmerman MB, Dinn RB, Greenlee EC, et al. Diurnal fluctuation and concordance of intraocular pressure in glaucoma suspects and normal tension glaucoma patients. J Glaucoma. 2007;16(3):307-12. 5. Dane S, Koçer I, Demirel H, Ucok K, Tan U. Effect of acute submaximal exercise on intraocular pressure in athletes and sedentary subjects. Int J Neurosci. 2006;116(10):1223-30. 6. Asejczyk-Widlicka M, Pierscionek BK. Fluctuations in intraocular pressure and the potential effect on aberrations of the eye. Br J Ophthalmol. 2007;91(8):1054-8. 7. Conte M, Scarpi MJ, Rossin RA, Beteli HR, Lopes RG, Marcos HL. [Intraocular pressure variation after submaximal strength test in resistance training]. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(3):351-4. Portuguese. 8. Mansouri K, Weinreb RN, Liu JH. Effects of aging on 24-hour intraocular pressure measurements in sitting and supine body positions. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2012;53(1):112-6. 9. Rodrigues LD, Silva MR, Schellini SA, Jorge EN. [Intraocular pressure peaks: comparison between the circadian curve, diurnal curve and the 6 a.m. measurement]. Arq Bras Oftalmol. 2004;67(1):127-31. Portuguese. 10. Ashkenazi I, Melamed S, Blumenthal M. The effect of continuous strenuous exercise on intraocular pressure. Invest Ophthalmol Vis Sci. 1992;33(10):2874-7. 11. Harris A, Malinovsky VE, Cantor LB, Henderson PA, Martin BJ. Isocapnia blocks exercise-induced reductions in ocular tension. Invest Ophthalmol Vis Sci. 1992;33(7):2229-32. 163 12. Weber AK, Price J. Pressure differential of intraocular pressure measured between supine and sitting position. Ann Ophthalmol. 1981;13(3):323-6. 13. BrzyckI M. Strength testing: predicting a one-rep max from repsto-fatigue. J Phys Educ Recreation Dance. 1993;64(1):88-90. 14. Andrada Márquez MT, Fesser Oroz I, Antón López A. [Comparative study of two portable tonometers: Tono-Pen XL and Perkins]. Arch Soc Esp Oftalmol. 2003;78(4):189-96. Spanish. 15. dos Santos MG, Makk S, Berghold A, Eckhardt M, Haas A. Intraocular pressure difference in Goldmann applanation tonometry versus Perkins hand-held applanation tonometry in overweight patients. Ophthalmology. 1998;105(12):2260-3. 16. Favarato M, Almodin J, Almodin F, Cvintal T. [Intraocular pressure and exotalmometer evaluation before and after peribulbar anaesthesia in cataract surgery]. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(3):68-173. Portuguese. 17. Conte M. Associação entre exercícios resistidos e pressão intraocular [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2009. 18. Meirelles SH, Mathias CR, Brandão G, Frota AC, Yamane R. [Postural influence on intraocular pressure and visual field defects in open angle glaucoma and normal tension glaucoma]. Rev Bras Oftamol. 2008;67(1):19-24. Portuguese. 19. Hilton E. Exerc-eyes: effects of exercise on ocular health [Internet]. Anstey: Sportvision, 2003 [cited 2013 Set 10]. Available from: www.sportvision.co.uk/pdf/articleexerceyes.pdfý 20. Prata TS, De Moraes CG, Kanadani FN, Ritch R, Paranhos A Jr. Posture-induced intraocular pressure changes: considerations regarding body position in glaucoma patients. Surv Ophthalmol. 2010;55(5):445-53. Review. 21. Selvadurai D, Hodge D, Sit AJ. Aqueous humor outflow facility by tonography does not change with body position. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2010;51(3):1453-7. 22. American College of Sports Medicine. American College of Sports Medicine position stand. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc. 2009;41(3):687-708. Review. 23. Vieira GM, Oliveira HB, de Andrade DT, Bottaro M, Ritch R. Intraocular pressure variation during weight lifting. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1251-4. 24. Avunduk AM, Yilmaz B, Sahin N, Kapicioglu Z, Dayanir V. The comparison of intraocular pressure reductions after isometric and isokinetic exercises in normal individuals. Ophthalmologica. 1999;213(5):290-4. Autor correspondente: Alex Sander Soares Araçoiaba da Serra CEP 18190-000 - (SP), Brasil Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 160-3 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 163 7/4/2015, 17:12 A 164 RTIGO ORIGINAL Dificuldades no cotidiano dos pacientes com glaucoma avançado - avaliação objetiva com registro em vídeo Difficulties of daily tasks in advanced glaucoma patients - a videotaped evaluation Ana Isabel Martinho Miguel1, Cristina Fonseca2, Nuno Oliveira2, Filipe Henriques2, João Filipe Silva2 R ESUMO Objetivo: O objetivo deste trabalho foi avaliar objetivamente, com registro em vídeo, as dificuldades dos pacientes com glaucoma avançado na colocação de colírios hipotensores e na realização de tarefas do cotidiano. Métodos: Realizou-se um estudo prospectivo observacional em pacientes com glaucoma avançado e perda visual. Os dados foram coletados durante 5 meses e posteriormente aplicados questionários (questões demográficas, qualidade de vida, autoadministração de colírios e aderência ao tratamento) e realizadas entrevistas e gravações das tarefas em vídeo (autoadministração dos colírios, leitura, subir e descer escadas, deambular em espaços apertados e pavimentos irregulares). Realizou-se avaliação oftalmológica com registro em formulário pré-definido e pesquisou-se a correlação entre os defeitos de campos visuais e as limitações dos pacientes. Resultados: Com 25 participantes foram abtidos um total 12 horas de vídeo.Todos os doentes afirmaram ser capaz de colocar os colírios hipotensores e 68%afirmaram nunca ter falhado na instilação do colírio. No entanto, 20% não conseguiram instilar uma única gota no olho. Setenta e dois por cento (72%) dos pacientes afirmaram nunca tocar o frasco no olho, porém 40% afirmaram tocar. Houve dificuldade moderada nas atividades, especialmente ao deambular em espaços com obstáculos e em pavimentos irregulares. Alguns pacientes apresentaram mecanismos proprioceptivos de adaptação à baixa visão (como tatear o degrau com o pé). Houve uma correlação entre a severidade dos defeitos de campo visual e maior limitação nas atividades. Conclusão: Os portadores de glaucoma avançado têm considerável dificuldade nas atividades da vida diária e na instilação de colírios, frequentemente com percepção deficiente. Alguns pacientes apresentam adaptações proprioceptivas para superar parte da limitação visual. Descritores: Glaucoma; Gravação em vídeo; Qualidade de vida; Cooperação do paciente; Atividades cotidianas 1 2 Polyclinique de la Baie, Avranches, França; Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal. Este trabalho foi parcialmente apresentado no 55º Congresso Português de Oftalmologia em 6 de dezembro de 2012, em Lisboa. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 08/08/2013 - Aceito para publicação em 24/11/2014 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 164-70 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 164 7/4/2015, 17:12 Dificuldades no cotidiano dos pacientes com glaucoma avançado - avaliação objetiva com registro em vídeo 165 ABSTRACT Objective: The purpose of this study was to perform an objective videotaped evaluation of the difficulties of eyedrop instillation and daily tasks in patients with advanced glaucoma with visual impairment. Methods: A prospective observational study was performed in advanced glaucoma patients with visual impairment, during 5 months. Patients completed a survey (with demographic questions, quality of life, compliance and eyedrop instillation) with interview and video recording in specific daily tasks (eyedrop instillation, climbing stairs, walking in a crowded room and in an irregular floor). Ophthalmologic evaluation was performed and its results registered in a form. Correlation was searched between limitation in quality of life, tasks’ performance and visual fields. Results: 25 patients were included, corresponding to 12h of videotaping. All patients reported being capable of self-instilling eyedrops. 68% of them reported no difficulty instilling the eye drops at home, however 20% of the patients were unable to instill a drop in the eye in the objective evaluation. 72% of the patients stated never touching the eye with the bottle but 40% touched the ocular surface with the bottle. There was a moderate difficulty in the other tasks, with some patients exhibiting proprioceptive mechanisms of adaptation to impaired vision. There was a tendency of correlation between limitation in tasks and visual field defects, but no statistically significant. Conclusion: Patients with advanced glaucoma and visual impairment have marked difficulty in eye drop instillation and daily tasks, with a poor awareness of their inabilities. Some patients have proprioceptive adaptations that allow them to perform better than expected in tasks. Keywords: Glaucoma; Video recording; Quality of life; Patient compliance; Activity of daily living INTRODUÇÃO E stima-se que o glaucoma seja a 2ª maior causa mundial de cegueira(1). Tratando-se de uma patologia crônica cuja terapêutica habitualmente inclui a autoadministração de colírios hipotensores, a adesão terapêutica é fundamental para reduzir o risco de progressão de dano glaucomatoso(2). A adesão terapêutica refere-se a todos os aspectos que caracterizam a correta administração do tratamento prescrito(2,3), além do correto cumprimento do uso da medicação pelo doente e adequada persistência (a continuidade do tratamento ao longo do tempo). No glaucoma, a não adesão ao tratamento está associada à progressão do dano glaucomatoso(4,5), levando à perda visual(6). Estudos estimam que a adesão terapêutica ocorre em 25 a 39% dos doentes com glaucoma inicial (2,7-9). Já os doentes com glaucoma avançado, por notarem alguma incapacidade visual, estão mais motivados a adesão terapêutica, contudo são pacientes com maior dificuldade na autoadministração de colírios(10). Esta dificuldade pode ser responsável pela não adesão involuntária e não percebida pelo paciente, como sugerido em estudos recentes sobre a capacidade de administração dos colírios em doentes com glaucoma avançado(11,12). A colocação correta de uma gota no fórnice conjuntival depende de vários fatores como a capacidade de enxergar(13), apertar o frasco(14) e detectar se a gota caiu dentro ou fora do olho(15). Apenas 3 estudos utilizaram a gravação em vídeo para avaliar objetivamente a dificuldade dos portadores de glaucoma avançado na autoadministração dos colírios hipotensores(11,12,15). Além da dificuldade na colocação dos colírios, os pacientes com glaucoma avançado referem ter maior dificuldade em várias tarefas do cotidiano(16,17). Dessa maneira, esses pacientes apresentam uma qualidade de vida inferior a pacientes sem glaucoma e com glaucoma inicial(18,19). Cowdin et al. confirmaram que as alterações campimétricas se traduzem em impacto negativo na qualidade de vida(20-22), e que os portadores de glaucoma avançado têm maior risco de quedas(23). Contudo, não encontramos nenhum estudo que tenha objetivamente avaliado, com registro em vídeo, as capacidades e dificuldades dos doentes em desempenhar tarefas do cotidiano. O propósito do nosso estudo foi avaliar de forma objetiva, com a gravação em vídeo, o desempenho em tarefas específicas do cotidiano de pacientes com glaucoma avançado. Os objetivos secundários incluíram estimar a qualidade de vida destes doentes e identificar a relação dos defeitos de campo visual, com a limitação na realização das atividades da vida diária e a qualidade de vida. MÉTODOS Desenho do estudo Realizou-se um estudo observacional prospectivo, unicêntrico. A duração do estudo foi de 5 meses (1º de abril a 31 de agosto de 2012). Seleção de participantes A seleção de participantes foi obtida por uma amostra sistemática de pacientes selecionados em consulta de glaucoma durante o período do estudo, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Portugal, no setor de Oftalmologia, subespecialidade de glaucoma. Os primeiros três pacientes em cada dia de consultas que cumprissem os critérios de inclusão eram convidados a participar do estudo. O estudo foi explicado aos pacientes, com preenchimento de consentimento informado escrito e oral. Os critérios de inclusão no estudo foram: • Diagnóstico de glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), através da tonometria, gonioscopia, avaliação do disco óptico e campo visual; • Diagnóstico efetuado pelo oftalmologista, pelo menos na consulta prévia à consulta da seleção dos participantes; • Idade do participante ≥ 18 anos; • Experiência na autoadministração de colírios hipotensores por no mínimo 6 meses; • Acuidade visual (AV) ≤ 20/60 ou defeito campimétrico moderado a severo em pelo menos um olho(11). Os critérios de exclusão foram: • Outros tipos de glaucoma; • Suspeito de glaucoma; • AV ≤ percepção de movimentos de mãos bilateral; • Discordância em participar do estudo; • Doentes com demência, patologias psiquiátricas ou neurológicas impeditivas de responder às questões; Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 164-70 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 165 7/4/2015, 17:12 166 Miguel AIM, Fonseca C, Oliveira N, Henriques F, Silva JF • Doentes que afirmassem não conseguir autoadministrar os colírios; • Doentes com outras patologias oftalmológicas responsáveis pela perda visual. Métodos de coleta de dados Aplicou-se um questionário e realizou-se entrevista por enfermeiras e secretárias da consulta (após treino prévio), com várias questões demográficas, sociais, de aderência ao tratamento e de qualidade de vida (utilizando o instrumento validado Glaucoma Quality of Life 15, GQL15). Cada doente realizou avaliação oftalmológica completa com registro em formulário previamente elaborado: antecedentes oculares e cirúrgicos, medicação oftalmológica em uso, AV, biomicroscopia, tonometria de aplanação de Goldmann, fundoscopia incluindo avaliação do disco óptico, gonioscopia, resultados dos exames de campo visual e tomografia de coerência óptica (OCT). Avaliação da qualidade de vida - GQL 15 O GQL15 (Glaucoma Quality of Life 15) é um instrumento validado de medição de qualidade de vida que inclui 15 questões que podem ser agregadas numa única medida sumária através da soma entre os valores das respostas das 15 variáveis. Quanto maior o valor desta escala, menor a qualidade de vida aplicada à visão. O questionário avalia a dificuldade em: • Ler jornais ou revistas; • Caminhar no escuro; • Enxergar à noite; • Caminhar em piso com desníveis; • Adaptar-se a ambiente com iluminação intensa; • Adaptar-se a ambiente com iluminação fraca; • Ir de um quarto iluminado para outro escuro ou viceversa; • Evitar tropeçar em objetos; • Enxergar objetos que se aproximam de lado; • Atravessar a rua; • Subir ou descer escadas; • Andar sem esbarrar em objetos; • Estimar distância do pé a um degrau; • Encontrar objetos caídos; • Reconhecer rostos. Registro em vídeo O registro de cada uma das tarefas foi realizado pela autora AM, que não presenciou os resultados do questionário e da avaliação oftalmológica, para evitar viés. A duração planejada do registro foi de 5 minutos por tarefa. 1. Autoadministração de colírios Para avaliar o desempenho na autoadministração de colírios hipotensores, pedimos aos pacientes que colocassem uma gota em cada olho, utilizando o seu colírio hipotensor (caso o doente não tivesse trazido, disponibilizávamos um frasco). Não utilizamos lágrima artificial (ao contrário do estudo realizado por Hennessyet al.(11) a fim de mimetizarmos ao máximo as condições de utilização habituais do doente. Gravamos todas as tentativas do paciente (mas avaliamos a 1ª para que os resultados não ficassem enviezados com o treino do doente). Foi permitido a cada paciente utilizar sua técnica habitual de colocação de colírio, quer esta envolvesse a utilização de um espelho, cadeira reclinável ou até maca para administração na posição de decúbito dorsal. Registaram-se as seguintes variáveis de resultado: colocação com sucesso de pelo menos uma gota no olho (definido como “sucesso parcial”, e tempo respectivo em segundos), colocação com sucesso de apenas uma gota no olho sem tocar na superfície ocular (definido como “sucesso total”, e tempo respetivo em segundos), número de tentativas até o sucesso, número de gotas administradas. 2. Leitura Foi prescrita aos pacientes correção atualizada para perto e fornecida uma escala para perto e uma revista. Foi registrado em vídeo a capacidade de leitura a cerca de 40 cm. Para as tarefas descritas abaixo excluíram-se os pacientes que apresentassem importante dificuldade motora e de locomoção. 3. Deambular em espaços com obstáculos Utilizou-se apenas uma sala onde os obstáculos eram dispostos da mesma maneira: a sala tinha uma área de 6m2 e os doentes eram convidados a percorrer um percurso de 2m ladeado de obstáculos, de forma que a área livre do percurso fosse apenas de 50 cm. Dessa maneira foi possível detectar como os defeitos visuais interferiam na capacidade de identificar obstáculos de lado (alguns localizados no chão e outros a 70 cm de altura). Foram registradas as seguintes variáveis de resultado (após proceder a gravação em vídeo): número de toques ou colisões em obstáculos, número de ajudas proprioceptivas (como uso das mãos ou cotovelos para sentir os obstáculos ao invés de vê-los) e classificação global da dificuldade para realização da tarefa. 4. Caminhar em pavimentos irregulares Os doentes foram encaminhados a uma ala específica do hospital, onde foram convidados a percorrer 5m de pavimento irregular e a subir um degrau mal assinalado visualmente. Procedeu-se o registro em vídeo desta tarefa e à classificação da dificuldade de cada doente em desempenhá-la. 5. Subir escadas Pediu-se aos pacientes que subissem 8 degraus de uma escada, cujos bordos dos degraus não estavam assinalados visualmente. Procedeu-se ao registro em vídeo, classificação do desempenho global e identificação de ajudas proprioceptivas. 6. Descer escadas Procedeu-se do mesmo modo que na tarefa anterior, avaliando-se a dificuldade ao descer escadas. Análise estatística Utilizou-se o programa SPSS versão 20 para a análise estatística. Nas variáveis contínuas de distribuição normal utilizou-se o teste t para identificar diferenças entre dois grupos; na distribuição não normal utilizou-se o Mann-Whitney test. Nas variáveis categóricas com distribuição normal utilizou-se o teste de quiquadrado e nas de distribuição não normal utilizou-se o teste de KruskalWallis. Construíram-se modelos de regressão logística multivariada para prever fatores de dificuldade e de sucesso em cada uma das tarefas. A significância considerada foi de 0,05. R ESULTADOS Caracterização da população Nesse estudo foram realizadas entrevistas e avaliação objetiva com vídeo de 25 doentes, com duração de gravação total de aproximadamente 12h. A média da idade dos participantes foi de 73 anos. Nove participantes (36%) eram do sexo feminino; Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 164-70 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 166 7/4/2015, 17:12 Dificuldades no cotidiano dos pacientes com glaucoma avançado - avaliação objetiva com registro em vídeo Tabela 1 Características sociodemográficas dos participantes Características Número ou média % ou desvio padrão (dp) Sexo feminino 9 36% Idade (média) 73 anos dp: 9,11 Caucasianos 25 100% Escolaridade 35% sem escolaridade 65% com ensino primário apenas Patologias sistêmicas 40% 15% 20% 20% 35% 20% 25% hipertensão arterial sistêmica patologia osteoarticular diabéticos fumante /ex-fumante hipoacusia patologia cardiovascular patologia pulmonar 68% estavam aposentados (tabela 1). Os 25 participantes afirmaram usar os colírios hipotensores há mais de 6 meses e instilar os colírios sozinhos. Vinte e quatro doentes (96%) reportaram seguir corretamente o tratamento de glaucoma. Cinquenta e cinco por cento dos pacientes (55%) referiu ter dificuldades na instilação do colírio e 30% referiu não conseguir ocasionalmente instilar o colírio sozinho, necessitando de ajuda. Dezessete pacientes (68%) reportaram nunca ter falhado na instilação de uma gota de colírio e 18 pacientes (72%) afirmaram nunca ter tocado o frasco na superfície ocular (tabela 2). Exemplos de respostas ao questionário dos participantes Características Porcentagem e número Desvio padrão (dp) Autoclassificação da visão* 46,1% dp: 22,2 Autoclassificação de boa aderência ao tratamento** 96,8% dp: 11,3 Pacientes que reportaram nunca ter tido dificuldade na colocação de colírios teral). O desvio médio (mean deviation) de todos os campos visuais foi de -22dB (perda campimétrica severa). Os pacientes estavam medicados em média com 2 frascos de colírios hipotensores e 92% tinham sido submetidos à cirurgia de glaucoma. Autoadministração dos colírios e aderência ao tratamento Quarenta por cento dos doentes conseguiu colocar a gota do colírio no olho com uma técnica adequada. Vinte por cento dos doentes não conseguiu autoadministrar nenhuma gota, mesmo após várias tentativas. Os doentes colocaram em média 2,45 gotas no olho (um dos doentes colocou 7 gotas) e demoraram 10,4 segundos em média para colocar a gota no olho (o valor máximo foi de 38 segundos). Sete doentes (28%) foram incapazes de detectar se a gota entrou no olho; 1 doente colocou a gota dentro do olho, mas não a detectou e instilou mais 2 gotas; os outros 6 doentes colocaram a gota fora do olho e finalizaram a tarefa por achar que tinham colocado a gota corretamente (tabela 3). A tabela 3 descreve os resultados da avaliação com vídeo dos pacientes na autoadministração dos colírios. Tabela 3 Resumo da avaliação objetiva com vídeo dos doentes na autoadministração de colírios Autoadministração de colírios Sucesso parcial ( 1gota no olho) Tempo de sucesso parcial Sucesso total (colocação de apenas 1 gota no fórnix conjuntival sem tocar na superfície ocular) Tempo de sucesso total Tabela 2 167 Média ou % 80% 10,4 segundos 40% 10,5 segundos Nº de tentativas até sucesso 1,65 Nº de gotas colocadas no olho 2,45 Pacientes que tocaram o frasco na superfície ocular 40% Avaliação objetiva da leitura 18 pacientes (70%) apresentaram dificuldade reduzida ou nula. 17 (68%) Pacientes que reportaram nunca tocar o frasco no olho 18 (72%) (*) Resposta a pergunta: “Classifique a sua visão de 0% a 100%, sendo 0% cegueira total e 100% visão normal?”; (**) Resposta a pergunta: “Classifique a sua aderência ao tratamento de 0% a 100%, sendo 0% nunca ter colocado uma gota e 100% nunca ter falhado nem esquecido a colocação de nenhuma das gotas do seu tratamento?” Avaliação oftalmológica A AV média dos pacientes foi 1,03 logMAR (equivalente a 1/10 na notação decimal). A tonometria média foi 13 mmHg, a escavação do disco óptico foi em média de 8/10 (havia alguns pacientes com escavação total e AV de percepção luminosa unila- Avaliação objetiva de atividades do cotidiano Cinco doentes (20%) foram excluídos da avaliação destas atividades por apresentarem dificuldades locomotoras importantes, visando evitar viés de seleção. A capacidade de deambulação em espaços com obstáculos foi marcadamente reduzida nos doentes com glaucoma avançado (figura 1), com tendência (estatisticamente não significativa) a apresentar pior desempenho em pacientes com defeitos campimétricos mais severos. Os doentes colidiram em média com 2 obstáculos e utilizaram a propriocepção em média duas vezes em cada trajeto. Como, por exemplo, apoiaram as mãos nos obstáculos para os detectarem. Referente à capacidade de caminhar sobre um piso irregular, com um degrau pouco visível, 1 paciente não conseguiu completar a tarefa e 6 pacientes quase caíram, necessitando de amparo ou aviso imediato para evitar a queda (figura 2). Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 164-70 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 167 7/4/2015, 17:12 168 Miguel AIM, Fonseca C, Oliveira N, Henriques F, Silva JF D ISCUSSÃO Figura 1. Classificação objetiva da capacidade de deambular numa sala com vários obstáculos laterais Figura 2. Dificuldades dos doentes com glaucoma avançado em deambular sobre um pavimento irregular Em relação ao desempenho dos doentes ao subir e descer escadas, 8 dos participantes exibiram mecanismos de adaptação proprioceptivos, como utilizar o pé para sentir a posição do degrau antes de apoiar o seu peso no degrau ou utilizar as mãos apoiadas no corrimão para subir ou descer as escadas. Três dos doentes tiveram dificuldade marcada para subir e/ou descer as escadas. Não tivemos amostra de pacientes suficiente para completar modelos de regressão logística e prever fatores de sucesso ou insucesso na colocação dos colírios ou na realização de tarefas motoras que fossem estatisticamente significativos, mas verificou-se uma tendência de insucesso nos doentes com maiores defeitos campimétricos e pior acuidade visual, e uma tendência de sucesso nas atividades cotidianas nos doentes que apresentavam mecanismos de adaptação proprioceptiva que permitia aos doentes compensar parcialmente sua baixa função visual. Houve uma tendência a correlação de pior qualidade de vida em cada uma das questões do GQL 15 com maior defeito de campo visual (desvio médio), sendo estatisticamente significativa apenas para a questão da dificuldade de enxergar à noite (correlação de Pearson, p=0,042). Após revisão bibliográfica com diversas bases de dados (Pubmed, Scopus, Cochrane Central, Ovid e Google Scholar), observamos que o estudo atual foi o 4º a avaliar objetivamente com vídeo a autoadministração de colírios hipotensores no glaucoma avançado e o único a avaliar objetivamente o desempenho de várias tarefas do cotidiano(10-12). A medição objetiva com registro em vídeo de diversas tarefas do cotidiano permitiu caracterizar o desempenho e dificuldades dos doentes com glaucoma avançado, informações essas que podem auxiliar a melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Nesse trabalho, observamos que os pacientes não perceberam suas limitações visuais: não estimaram corretamente sua visão, não perceberam sua dificuldade em administrar colírios e em deambular. A preocupação pela autoadministração dos colírios é relativamente recente e importante, uma vez que sua realização incorreta é responsável pela não adesão ao tratamento, o qual pode levar à progressão do dano glaucomatoso. Os nossos resultados são semelhantes ao de estudos prévios(12), porém os doentes portugueses aparentam ter pior percepção das suas limitações: 68% dos doentes do nosso estudo negou falhas ao instilar o colírio, mas 20% não conseguiram colocar ao menos uma gota, enquanto que no estudo americano(11) 36% dos doentes fizeram essa afirmação e 35% falharam na instilação. Dos 72% dos doentes portugueses (e 69% dos americanos) que afirmaram nunca tocar o frasco no olho, apenas 40% não tocaram (versus 24% dos americanos). Devemos alertar os doentes em relação ao risco potencial de contaminação dos frascos quando tocados na superfície ocular(24) e ao risco de lesões oculares(25). Estudos observacionais subjetivos estimaram que os doentes falhavam em 50% na colocação de colírios (a gota caiu fora do olho)(26-27). Sete pacientes (28%) não notaram se a gota foi instilada dentro ou fora do olho. Um dos doentes instilou a gota dentro do olho, mas não percebeu e administrou várias outras gotas, originando aumento do custo do tratamento(28). Outros 6 pacientes colocaram a gota fora do olho e acharam que instilaram dentro, originando preocupações de má adesão terapêutica e possibilidade de progressão de uma patologia já avançada(6,15). É importante que o oftalmologista verifique a técnica de instilação dos colírios hipotensores nos pacientes com glaucoma, a fim de orientá-los em relação ao manuseio correto da medicação, como alertado no estudo brasileiro(29) que demonstrou que apenas em 2,5% dos casos novos de glaucoma realizava oclusão do ponto lacrimal após instilação, e 23,3% dos retornos de glaucoma instilavam o colírio com o olho fechado, chamando a atenção para o problema da correta instilação do colírio. Os pacientes devem ser supervisionados ou um acompanhante pode instilar os colírios no paciente para aumentar a chance da gota ser instilada no olho. No presente estudo, a percepção deficiente dos doentes em relação às suas limitações foi generalizada, ocorrendo na previsão da capacidade de realizar tarefas como deambular em pavimentos irregulares e também na autoavaliação da AV, em que a média da autoavaliação da AV foi de 0,46, enquanto a AV média medida pelo oftalmologista foi de 0,1. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 164-70 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 168 7/4/2015, 17:12 Dificuldades no cotidiano dos pacientes com glaucoma avançado - avaliação objetiva com registro em vídeo A realização de tarefas como caminhar em espaços com obstáculos e pavimentos irregulares foi feita com grande dificuldade e algumas “quase-quedas”, o que justifica o medo aumentado de quedas dos doentes com glaucoma (21) e a reduzida qualidade de vida comprovada neste e em outros estudos (17). Seria interessante treinar os pacientes com glaucoma avançado, em relação à orientação e mobilidade para evitar acidentes e melhorar a qualidade de vida. Neste estudo, vários pacientes apresentaram, consciente ou inconscientemente, mecanismos de propriocepção adaptativa que os permitiram um desempenho melhor do que o esperado pela sua função visual. Seria útil ensinar estes mecanismos simples a todos os pacientes com glaucoma avançado, aumentando a sua qualidade de vida. Alguns desses mecanismos incluem: tatear o degrau com o pé para identificá-lo, apoiar-se no corrimão (antes de subir ou descer escadas e em pavimentos irregulares), caminhar com os braços dobrados e os cotovelos salientes (em espaços apertados, para identificar obstáculos laterais), apoiar-se com as mãos ou esticar os braços em espaços apertados (para não colidir com obstáculos pouco visíveis). Apesar dos resultados terem sido interessantes, é complexo e demorado realizar em cada doente essa completa avaliação, o que limitou o tamanho da nossa amostra. Seria útil desenvolver protocolos com técnicos de vídeo, como realizado em outros estudos (11,12), ao invés do oftalmologista filmar os doentes. E também desenvolver protocolos em outros hospitais, inclusive a nível nacional, para obter um estudo multicêntrico, identificando peculiaridades em diferentes populações de doentes e aumentando o poder para eventual construção de modelos de regressão logística. A realização de tarefas do cotidiano também é um desafio para doentes com baixa função visual por outras patologias oftalmológicas, sendo interessante ampliar a avaliação objetiva das tarefas nestes pacientes, como realizado em um estudo que comparou o glaucoma com patologia retiniana (12) na autoadministração de colírio, sendo encontrado mal desempenho nos 2 grupos. MATERIAL SUPLEMENTAR Alguns vídeos estarão disponíveis em página da internet protegida, como parte complementar deste trabalho, para consulta pelos profissionais de saúde, desde que os utilizadores respeitem os princípios de ética e a Declaração de Helsinque: http:/ /www.eyerobot.pt/glaucoma.php R EFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. C ONCLUSÃO Os doentes com glaucoma avançado têm marcante dificuldade nas atividades do cotidiano, frequentemente com percepção deficiente para suas limitações. Houve uma correlação entre a severidade dos defeitos de campo visual e maior limitação nas atividades. Muitos pacientes falharam ao autoadministrar os colírios hipotensores e não detectaram essa falha. Alguns doentes apresentaram adaptações proprioceptivas para superar parte da limitação visual nas tarefas locomotoras do cotidiano. 169 12. 13. 14. 15. AGRADECIMENTOS 16. À secretária (Paula Ramos) e enfermeiras da consulta de Oftalmologia pelo esforço dispendido com as entrevistas e questionários. Aos técnicos da consulta de Oftalmologia pelo apoio durante a realização deste trabalho. 17. Kingman S. Glaucoma is second leading cause of blindness globally. Bull World Health Organ. 2004;82(11):887-8. Schwartz G, Quigley H. Adherence and persistence with glaucoma therapy. Surv Ophthalmol. 2008;53 Suppl1:S57-68. American Academy of Ophthalmology. Glaucoma. Section 10 in AAO’s Basic and Clinical Science Course; 2008; 10: 5-35. Urquhart J, Vrijens B. New findings about patient adherence to prescribed drug dosing regimens: an introduction to pharmionics. Eur J Hosp Pharm Sci. 2005;11(5):103– 6. Vrijens B, Vincze G, Kristanto P, Urquhart J, Burnier M. Adherence to prescribed anti-hypertensive drug treatments: longitudinal study of electronically compiled dosing histories. Br J Ophthalmol. 2008;336(7653):1114 –7. Stewart WC, Chorak RP, Hunt HH, Sethuraman G. Factors associated with visual loss in patients with advanced glaucomatous changes in the optic nerve head. Am J Ophthalmol. 1993; 116(2):176-81. Reardon G, Schwartz GF, Mozaffari E. Patient persistency with topical ocular hypotensive therapy in a managed care population. Am J Ophthalmol.2004; 137(1 Suppl):S3-12. Schwartz GF, Platt R, Reardon G, Mychaskiw MA. Accounting for restart rates in evaluating persistence with ocular hypotensives. Ophthalmology. 2007; 114(4):648-52. Ashburn FS Jr, Goldberg I, Kass MA. Compliance with ocular therapy. Surv Ophthalmol. 1980;24(4):23-48. Nordstrom BL, Friedman DS, Mozaffari E, Quigley HA, Walker AM. Persistence and adherence with topical glaucoma therapy. Am J Ophthalmol. 2005;140(4):598–606. Hennessy AL, Katz J, Covert D, Protzko C, Robin AL. Videotaped evaluation of eyedrop instillation in glaucoma patients with visual impairment or moderate to severe visual field loss. Ophthalmology. 2010;117(12):2345–52. Hennessy AL, Katz J, Covert D, Kelly CA, Suan EP, Speicher MA, et al. A video study of drop instillation in both glaucoma and retina patients with visual impairment. Am J Ophthalmol. 2011;152(6): 982–8. Winfield AJ, Jessiman D, Williams A, Esakowitz L. A study of the causes of non-compliance by patients prescribed eyedrops. Br J Ophthalmol.1990;74(8):477– 80. Brown MM, Brown GC, Spaeth GL. Improper topical self-administration of ocular medication among patients with glaucoma. Can J Ophthalmol 1984;19(1):2–5. Stone JL, Robin AL, Novack GD, Covert DW, Cagle GD. An objective evaluation of eyedrop instillation in patients with glaucoma. Arch Ophthalmol. 2009;127(6):732–6. Miguel A, Silva JF, Azevedo L, Henriques F, Andrês R, Lopes N, Rito F, Loureiro AR. Qualidade de vida no glaucoma. Oftalmologia. 2012; 36(1Supl): 33-40. Varma R, Wu J, Chong K, Azen SP, Hays RD; Los Angeles Latino Eye Study Group. Impact of severity and bilaterality of visual impairment on health-related quality of life. Ophthalmology. 2006;113(10):1846-53. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 164-70 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 169 7/4/2015, 17:12 170 Miguel AIM, Fonseca C, Oliveira N, Henriques F, Silva JF 18. Patino CM, Varma R, Azen SP, Conti DV, Nichol MB, McKeanCowdin R; Los Angeles Latino Eye Study Group. The impact of change in visual field on health-related quality of life: the los angeles latino eye study. Ophthalmology. 2011;118(7):1310-7. 19. Wilson MR, Coleman AL, Yu F, Bing EG, Sasaki IF, Berlin K,et al. Functional status and well-being in patients with glaucoma as measured by the Medical Outcomes Study Short Form-36 questionnaire. Ophthalmology. 1998; 105(11):2112– 6. 20. Cowdin RM, Wang Y, Wu J, Azen SP, Varma R. Impact of Visual Field Loss on Health-Related Quality of Life in Glaucoma: The Los Angeles Latino Eye Study. Ophthalmology. 2008;115(6): 941–948e.1. 21. Hodapp E, Parrish RK II, Anderson DR. Clinical decisions in glaucoma. St. Louis: Mosby; 1993. p.59. 22. Nelson P, Aspinall P, Papasouliotis O, Worton B, O’Brien C. Quality of life in glaucoma and its relationship with visual function. J Glaucoma 2002;12(2):139–50. 23. Ramulu PY, vanLandingham SW, Massof RW, Chan ES, Ferrucci L, Friedman DS. Fear of falling and visual field loss from glaucoma.Ophthalmology. 2012;119(7):1352-8. 24. Schein OD, Hibberd PL, Starck T, Baker AS, Kenyon KR. Microbial contamination of in-use ocular medications. Arch Ophthalmol. 1992; 110(1):82–5. 25. Geyer O, Bottone EJ, Podos SM, Schumer RA, Asbell PA. Microbial contamination of medications used to treat glaucoma.Br J Ophthalmol. 1995;79(4):376-9. 26. Burns E, Mulley GP.Practical problems with eye-drops among elderly ophthalmology outpatients.Age Ageing. 1992; 21(3):168-70. 27. Konstas AG, Maskaleris G, Gratsonidis S, Sardelli C. Compliance and viewpoint of glaucoma patients in Greece. Eye (Lond). 2000;14Pt 5:752– 6. 28. Gottlieb JL. Helping low-income patients obtain prescription medications. Arch Ophthalmol. 2002;120(11):1575-6. 29. Costa VP, Vasconcellos JPC, Pelegrino M, Kara-José N. Análise da técnica de instilação de colírios por pacientes glaucomatosos / Analysis of the technique of instillation of drops by glaucoma patients. Rev Bras Oftalmol. 1995; 54(7):523-8. Autor correspondente: Ana Isabel Martinho Miguel E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 164-70 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 170 7/4/2015, 17:12 RELATO DE CASO171 Trombose do seio dural em idade pediátrica Dural sinus thrombosis in pediatric age Filipe Mira Ferreira1, Bruno Lourenço Costa2, António Mendes1 Catarina Paiva3, António Roque Loureiro4 R ESUMO A trombose do seio dural é uma situação clínica rara, que resulta normalmente da complicação de processos infecciosos dos seios perinasais. Os sintomas e sinais são extremamente variados e inespecíficos sendo o diagnóstico feito através da ressonância magnética nuclear. Esse trabalho relata a ocorrência de trombose do seio dural em um paciente com idade pediátrica. Paciente com 10 anos de idade, sexo masculino, foi enviado ao serviço de urgência devido à diplopia e endotropia no olho esquerdo. No exame oftalmológico foi detectado papiledema bilateral, diplopia binocular e endotropia do olho esquerdo. Apresentava acuidade visual de 10/10 bilateralmente. Diante da suspeita de lesão ocupando espaço do sistema nervoso central, foi realizada ressonância magnética nuclear que confirmou o diagnóstico de TSD. Para avaliar a pressão intracraniana foi efetuada uma punção lombar com manometria, e esta demonstrou uma pressão intracraniana de 20mmHg (normal: <15mmHg). Perante isto a criança ficou internada para tratamento médico (enoxaparina de baixo peso molecular 1,5 mg/kg/dia subcutâneo (60 mg/dia), prednisolona 35 mg/dia oral e acetazolamida 250 mg/dia oral) durante 10 dias. Após 1 mês de follow-up verificou-se agravamento oftalmológico. A realização de nova punção lombar apresentou uma pressão intracraniana de 40 mmHg que não cedia ao tratamento médico. Após discussão multidisciplinar do caso optou-se pela realização de derivação lombo-peritoneal. A necessidade de uma grande dose de suspeição clínica, tanto para o diagnóstico inicial quanto para a monitorização das complicações, tornam a abordagem da trombose do seio dural um processo singular. Descritores: Trombose dos seios intracranianos/diagnóstico; Hipertensão intracraniana; Imagem por ressonância magnética; Relatos de casos ABSTRACT Dural sinus thrombosis is a rare condition, usually results from a late complication of an infection of the paranasal sinuses. The signs and symptoms are extremely varied and nonspecific, being the diagnosis made through magnetic resonance imaging. Ten-year-old male patient that was sent to our emergency department with left endotropia and diplopia. Ophthalmic examination was performed and showed papilledema with margin blurred right and left eye, binocular diplopia and left eye endotropia. Visual acuity was 10/10 bilaterally. Given the suspected space occupying lesion of the central nervous system, the MRI was performed and confirmed the diagnosis of DST. For evaluating the intracranial pressure (IP), a lombar puncture (LP) with manometry was carried out and revealed IP of 20 mmHg (normal values: <15mmHg). Towards this, the child’s was admitted for medical treatment (low molecular weight enoxaparin subcutaneous 1,5 mg/kg/day (60 mg/day), prednisolone 35 mg/per day and acetazolamide 250 mg/per day) over 10 days. After 1 month of follow-up there was deterioration of the ophthalmologic condition. A new LP was made and showed IP of 40 mmHg resilient to medical treatment. After multidisciplinary discussion of the case, it was decided for conducting lumboperitoneal shunt. The need for a great deal of suspicion for both the initial diagnosis and for monitoring complications make DST approach a special process. Keywords: Sinus thrombosis, intracranial/diagnosis; Intracranial hypertension; Magnetic resonance imaging; Case reports 1 2 3 4 Internato Complementar de Oftalmologia do Hospital Geral do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal; Internato Complementar de Neurocirurgia do Hospital Geral do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal; Assistente Hospitalar de Oftalmologia do Hospital Geral do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal; Director do Serviço de Oftalmologia do Hospital Geral do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 29/10/2012 - Aceito para publicação em xx/xx/20xx Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 171-4 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 171 7/4/2015, 17:12 172 Ferreira FM, Costa BL, Mendes A, Paiva C, Loureiro AR INTRODUÇÃO A trombose do seio dural (TSD) envolve o seio sagital, transverso e sigmóide havendo em cerca de um terço dos casos o envolvimento de múltiplos seios(1,2). A incidência estimada da TSD na idade pediátrica é de aproximadamente 0.67 por 100.000 crianças por ano(3). A TSD resulta normalmente de uma complicação de processos infecciosos dos seios perinasais e ouvido médio, podendo no entanto existir formas assépticas associadas a situações clínicas predisponentes para fenômenos tromboembólicos como: distúrbios hematológicos, traumatismo, anemia e desidratação(3-5). A apresentação clínica é inespecífica podendo manifestarse desde coma, cefaléias, vômitos, letargia com paresias oculares ou diplopia, o que possibilita que o seu diagnóstico seja feito, muitas vezes, tardiamente. O diagnóstico é feito através da ressonância magnética nuclear (RMN) isolada ou em associação com angiografia cerebral(6). Este trabalho relata o caso da ocorrência de TSD em um paciente em idade pediátrica. RELATO DE CASO Paciente com 10 anos de idade, sexo masculino, enviada ao serviço de urgência devido à endotropia do olho esquerdo (OE) e diplopia binocular. Com antecedentes sistêmicos relevantes havia uma síndrome gripal 1 mês antes e diplopia binocular com cerca de quinze dias de evolução. Ao exame oftalmológico apresentava diplopia binocular intermitente, endotropia do olho esquerdo com cerca de 15º (Método de Hirschberg) e limitação da abdução na levoversão do OE. Apresentava melhor acuidade visual (AV) corrigida bilateralmente de 10/10. Biomicroscopia sem alterações. Tonometria de aplanação de Goldmann: 12mmHg em ambos os olhos e na observação fundoscópica: discos ópticos com limites indefinidos em ambos os olhos por edema papilar exuberante bilateral. As regiões maculares eram normais em ambos os olhos (figura 1). Decidiu-se realizar angiografia fluoresceínica retiniana que apresentava hiperfluorescência tardia com vazamento do corante em ambos os olhos. Figura 1. Retinografia ODE Foi realizada uma RMN associada à angiografia cerebral (figura 2) que revelou exclusão, no estudo venoso, de todo o seio sigmóide direito, da parte distal do seio transverso e do segmento proximal da veia jugular interna, que se acompanha de isossinal em T1 e discreto hipersinal nas restantes pondera- ções, observando-se após administração de contraste, realce de que é predominantemente periférico. Observa-se, também, dilatação da bainha dos nervos ópticos. Estes aspectos são sugestivos de trombose venosa. Figura 2. Angio RMN - imagem de subtracção a nível do seio sigmóide direito Diante da suspeita de TSD, resolveu-se pedir observação pela Neurologia, porém não detectadas alterações no exame neurológico. Apesar disso, foi realizada uma punção lombar cujo resultado revelou pressão intracraniana (PIC) de 20 mmHg. Perante o quadro clínico, a criança ficou internada para tratamento médico com enoxaparina de baixo peso molecular 1,5 mg/Kg/dia subcutâneo (60 mg/dia), prednisolona 35 mg/dia oral e acetazolamida 250 mg/dia oral. Durante o internamento foram realizados hemograma, bioquímica, microbiologia, serologias, estudo de factores protrombóticos, autoimunidade e estudo do líquido cefalorraquídeo (LCR). A criança teve alta ao final de dez dias de internamento, sem queixas, medicada com enoxaparina 60 mg/dia e esquema regressivo de corticóide oral. O follow-up foi realizado ao final de 1 mês tendo-se verificado: AV OD: 4/10 e AV OE: 1/10. Á fundoscopia apresentou papiledema menos exuberante, mas associado a palidez do disco óptico bilateralmente. A realização da RMN de controle demonstrava um quadro similar ao anterior. A realização de campos visuais apresentou perda acentuada do campo visual bilateralmente, mais marcado no OE, com preservação de ilha de visão central (figura 3). Foi solicitada nova avaliação por parte da Neurologia tendo sido realizada nova punção lombar com manometria, cujo resultado revelou PIC de 40 mmHg. O caso clínico foi então discutido com a neurocirurgia que indicou drenagem lombar externa com monitorização da pressão do LCR por manometria contínua. Apesar da diminuição da PIC, foi decidido colocar uma derivação lombo-peritoneal. A criança teve alta após 48h, sem queixas, com PIC entre 8-12mmHg e diminuição do papiledema bilateral. Após 1 mês, a criança encontrava-se assintomática e com o seguinte exame oftalmológico: AV OD: 9/10 e AV OE: 5/10. A fundoscopia mostrava melhora do edema do disco óptico, associado à palidez no OD e atrofia óptica no OE (figura 4). A realização de novos campos visuais revelou melhora (figura 5). Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 171-4 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 172 7/4/2015, 17:12 Trombose do seio dural em idade pediátrica 173 D ISCUSSÃO Figura 3. Campo visual 24-2 SITA Fast Figura 4. Retinografia ODE Figura 5. Campo visual ODE 24-2 SITA Fast A TSD envolve normalmente o seio sagital, transverso e sigmóide apresentando uma incidência de 0,67 casos por 100.000 crianças por ano(3). A apresentação clínica é inespecífica levando muitas vezes a um diagnóstico tardio ou mesmo à sua omissão. Os sintomas podem variar desde cefaléia, diminuição da AV, diplopia até letargia, coma e morte. Sébire et al.(7) concluíram que a cefaléia, febre e alterações dos pares cranianos eram a forma mais comum de apresentação. Essa situação clínica resulta normalmente de processos infecciosos dos seios perinasais ou de situações protrombóticas, adquiridas como sejam a anemia, desidratação, ou genéticas como sejam o aumento do factor VIII, aumento do fibrinogênio, diminuição da proteína C e S, mutação Fator V de Leiden, homozigotia do gene termolábil variante da redutase do metileno tetrahidrofolato (t-MTHFR). No mesmo estudo de Sébire et al.(7), a anemia e o aumento do fator VIII foram os achados laboratoriais mais frequentemente encontrados. Em cerca de 25% dos casos não existe fator predisponente identificado(8). No presente caso clínico foi realizado um estudo exaustivo das causas infecciosas por meio de de serologias para despiste de adenovírus, micoplasma pneumonia, citomegalovírus, herpes simplex 1 e 2, Epstein Barr vírus e todos os resultados foram negativos. As hemoculturas para anaeróbios, aeróbios e fungos também tiveram resultados negativos. A pesquisa de factores de risco protrombóticos nomeadamente fibrinogénio, proteína C e S, anti-trombina, anti-cardiolipina, anticoagulante lúpico, plasminogénio, homocisteína, protrombina, factor V Leiden, homozigotia para t-MTHFR, factor VIII e factor XII tiveram todos resultados negativos. Efectuou-se também electrocardiograma, ecocardiograma e ecodoppler carotídeo- sem alterações. Perante os resultados dos exames auxiliares de diagnóstico realizados, concluiu-se tratar-se de uma situação idiopática, encaixando nos 25% de casos sem diagnóstico etiológico. Poder-se-ia também colocar a hipótese de o síndrome gripal ocorrido um mês antes ter desencadeado a situação atual mas não há dados clínicos que comprovem essa relação. Existe alguma controvérsia em relação à utilização da enoxaparina, mas vários estudos demonstraram que a sua utilização está associada a uma diminuição da mortalidade e aumento da taxa de recuperação(9,10). O diagnóstico de TSD implica uma grande suspeição clínica inicial sendo a confirmação estabelecida por meio do recurso à angio-RMN(6). Esse método permite a identificação do trombo e o défice de preenchimento do seio envolvido, sendo considerado actualmente como o método gold standard. A incidência de hipertensão intracraniana surge no trabalho de Sébire et al. em 62% dos casos, mesmo assim as convulsões e o aparecimento de novos eventos trombóticos são as complicações mais frequentes(7). Como não houve resposta inicial à terapêutica médica e houve um agravamento da PIC houve necessidade de recorrer à terapêutica neurocirúrgica com colocação de derivação lombo-peritoneal. Estão descritas complicações permanentes como sejam a cegueira, défices neurológicos focais em cerca de 6-20% dos casos(1,11,12) e uma taxa de mortalidade entre 4,3 e 30%. O prognóstico parece estar relacionado com a extensão e localização da lesão parênquimatosa, nível de hemoglobina, idade e, muito provavelmente à rapidez de diagnóstico e tratamento. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 171-4 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 173 7/4/2015, 17:12 174 Ferreira FM, Costa BL, Mendes A, Paiva C, Loureiro AR C ONCLUSÃO A trombose do seio dural é uma situação clínica rara, mas fatal em alguns casos. Muitas vezes o oftalmologista torna-se o elemento fulcral tanto no seu diagnóstico quanto no acompanhamento destes doentes sendo por isso importante alertar a comunidade oftalmológica para a sua importância. R EFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Stam J. Thrombosis of the cerebral veins and sinuses. N Eng J Med. 2005;352(17):1791-8. Comment in N Engl J Med. 2005;353 (3):314-5. Renowden S. Cerebral venous sinus thrombosis. Eur Radiol. 2004;14(2):215-26. Review. deVeber G, Andrew M, Adams C, Bjornson B, Booth F, Buckley DJ, Camfield CS, David M, Humphreys P, Langevin P, MacDonald EA, Gillett J, Meaney B, Shevell M, Sinclair DB, Yager J; Canadian Pediatric Ischemic Stroke Study Group. Cerebral sinovenous thrombosis in children. N Eng J Med. 2001;345(6):417-23. Comment in N Engl J Med. 2001;345(24):1777-8. Carvalho KS, Bodensteiner JB, Connolly PJ, Garg BP. Cerebral venous thrombosis in children. J Child Neurol. 2001;16(8):574-80. Heller C, Heinecke A, Junker R, Knöfler R, Kosch A, Kurnik K, Schobess R, von Eckardstein A, Sträter R, Zieger B, NowakGöttl U; Childhood Stroke Study Group. Cerebral venous thrombosis in children: a multifactorial origin. Circulation. 2003;108(11):1362-7. 6. Medlock MD, Olivero WC, Hanigan WC, Wright RM, Winek SJ. Children with cerebral venous sinus thrombosis diagnosed with magnetic resonance imaging and magnetic resonance angiography. Neurosurgery. 1992;31(5):870-6; discussion 876. 7. Sébire G, Tabarki B, Saunders DE, Leroy I, Liesner R, Saint-Martin C, et al. Cerebral venous sinus thrombosis in children: risk factors, presentation, diagnosis and outcome. Brain. 2005;128(Pt 3):477-89. 8. Bousser MG, Barnett HJM. Cerebral venous thrombosis. In: Barnett HJ, editor. Stroke: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New York: Churchill Livingstone; 1992. 9. Einhäulpl KM, Villringer A, Meister W, Mehraein S, Garner C, Pellkofer M, et al. Heparin treatment in sinus venous thrombosis. Lancet.1991;338(8767):597-600. Erratum in Lancet. 1991;338 (8772):958. Comment in Lancet. 1991;338(8775):1154. 10. Stam J, de Bruijn S, deVeber G. Anticoagulation for cerebral sinus thrombosis. Stroke. 2003;34(4):1054-5. 11. Ferro JM, Canhão P, Stam J, Bousser MG, Barinagarrementeria F; ISCVT Investigators. Prognosis of cerebral vein and dural sinus thrombosis: results of the International Study on Cerebral Vein and Dural Sinus Thrombosis (ISCVT). Stroke. 2004;35(3):664-70. 12. Stolz E, Trittmacher S, Rahimi A Gerriets T, Röttger C, Siekmann R, et al. Influence of recanalization on outcome in dural sinus thrombosis: a prospective study. Stroke. 2004;35(2):544-7. Autor correspondente: Filipe Mira Ferreira Email: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 171-4 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 174 7/4/2015, 17:12 RELATO DE CASO175 Evaluation of retinal nerve fiber layer thickness in a patient with bilateral optic disc drusen Avaliação da espessura da camada de fibras nervosas da retina em um paciente com drusas do disco óptico bilateralmente Alime Gunes1 , Seden Demirci2, Serpil Demirci2, Hasan Rifat Koyuncu1 ABSTRACT Optic disc drusen (ODD) is the accumulations of calcified hyaline-like material within the substance of the optic nerve head. Optic disc drusen, especially if it is bilateral, may mimic the clinical presentation of papilledema. Usually retinal nerve fiber layer (RNFL) thinning can be present in ODD. In this report we present uncommon RNFL changes in a patient with bilateral ODD. A 17-year-old male was referred by another center with a diagnosis of optic disc edema. The patient’s visual acuity, the slit-lamp examination and the intraocular pressures were normal in both eyes. On fundus examination, there were irregularly elevated discs bilaterally and the optic nerves appear with hazy disk margins. He did not have visual field defects in automated perimetry. Bilateral ODD were identified and confirmed by Bscan ultrasonography and optical coherence tomography (OCT) demonstrated 4 clock hours of RNFL thickening. Optic disc drusen may be misdiagnosed as papilledema. Thus, clinical suspicion of ODD is important in order to diagnose papilledema and prevents unnecessary interventions. Although most of eyes with ODD have normal or thinner RNFL thickness, some of these eyes can have thicker RNFL thickness. Keywords: Optic disc drusen; Papilledema; Optic nerve/pathology; Nerve fiber/pathology R ESUMO As drusas do disco óptico (DDO) são depósitos de material hialino calcificado dentro da substância da cabeça do nervo óptico. Drusas do disco óptico, especialmente se for bilateral, podem apresentar o quadro clínico de edema de papila. Usualmente o espessamento da camada de fibras nervosas da retina (RCFN) podem estar presentes em DDO. Neste relato apresentamos o caso de um homem com 17 anos de idade que foi encaminhado por um outro centro, com o diagnóstico de edema do disco óptico. A acuidade visual do paciente, o exame de lâmpada de fenda e a pressão intraocular foram normais em ambos os olhos. No exame de fundo de olho havia discos elevados de forma irregular bilateralmente e os nervos ópticos com margens de disco nebulosas. Ele não tinha defeitos do campo visual em perimetria computadorizada. Drusas do disco óptico (DDO) bilateral foram identificados e confirmados pela ultrassonografia B-scan e tomografia de coerência óptica (TCO) que demonstraram 4 horas de relógio de RCFN com espessamento. As drusas do disco óptico podem ser diagnosticadas como papiledema. Assim, a suspeita clínica de DDO é importante a fim de evitar intervenções desnecessárias. Embora a maioria dos olhos com DDO têm espessura normal ou thinner RCFN, alguns desses olhos podem ter camada mais grossa na RCFN. Descritores: Drusas do disco óptico; Papiledema; Nervo óptico/patologia; Fibras nervosas/patologia 1 2 Departments of Ophthalmology, Süleyman Demirel University Faculty of Medicine, Isparta, Turkey. Departments of Neurology, Süleyman Demirel University Faculty of Medicine, Isparta, Turkey. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 24/04/2014 - Aceito para publicação em 23/10/2014 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 175-7 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 175 7/4/2015, 17:12 176 A Gunes, S Demirci, S Demirci, HR Koyuncu INTRODUCTION O ptic disc drusen (ODD) is the accumulations of calcified hyaline-like material within the substance of the optic nerve head(1). Compression of ganglion cells by calcified hyaline structures results in alteration in axoplasmic flow and cell death and so retinal nerve fiber layer (RNFL) defects are seen in ODD(2). Patients with ODD are often asymptomatic, with the condition being found incidentally during fundus examination. Visual acuity is well preserved but the visual fields of these patients can be abnormal and may deteriorate over time(3). The mechanism of visual field loss from ODD is speculative, and there is no known treatment. Atrophy of the RNFL can be appreciated as RNFL thinning, therefore measurement of RNFL thickness can be used as an objective index of optic nerve damage(2). In this report we present uncommon RNFL changes in a patient with bilateral ODD. Figure 2. Fundus photography of the patient’s left eye reveal, irregularly elevated optic discs and the optic nerve appear with hazy disk margin CASE REPORT A 17-year-old male was referred by another center with a diagnosis of optic disc edema. The patient’s visual acuity, the slitlamp examination and the intraocular pressures were normal in both eyes. On fundus examination, there were irregularly elevated discs bilaterally and the optic nerves appear with hazy disk margins (figures 1, 2). He did not have visual field defects in automated perimetry with the Humphrey Visual Field Analyzer (Zeiss Humphrey Systems, Dublin, California USA). Bilateral ODD were identified and confirmed by B-scan ultrasonography (BVI Compact) (figures 3, 4) and optical coherence tomography (OCT) (Spectral OCT SLO, OPKO/OTI Instrumentation, Miami, FL, USA) demonstrated 4 clock hours of RNFL thickening (figure 5). The average RNFL thickness were 135 µm in right eye and 138 µm in left eye. His neurological examination was within normal limits except for the appearance of the optic discs. His cranial magnetic resonance imaging and Visual evoked potential showed no abnormality. Hence, the patient was diagnosed with bilateral ODD. Figure 1. Fundus photography of the patient’s right eye reveal, irregularly elevated optic discs and the optic nerve appear with hazy disk margin Figure 3. B-scan ultrasonography of the patient’s right eye identified the optic disc drusen Figure 4. B-scan ultrasonography of the patient’s left eye identified the optic disc drusen Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 175-7 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 176 7/4/2015, 17:12 177 Evaluation of retinal nerve fiber layer thickness in a patient with bilateral optic disc drusen Figure 5. Optical coherence tomography showing 4 clock hours of RNFL thickening R EFERENCES DISCUSSION Optic disc drusen occurs in 0.3-2.0% of the population, is bilateral in 75% of cases, and have no sex predilection (3). Impairment of visual acuity is rare in ODD, but insignificant visual field defects may occur in up to half of cases(4). Usually RNFL thinning can be present in ODD. Roh et al. (5) reported that superior and inferior RNFL were significantly thinner in the eyes with visible ODD, and OCT is sensitive and early indicator of RNFL thinning. Noval et al.(6) studied 28 eyes with ODD in children and classified as type 1 (buried), type 2 (ringed), and type 3 (superficial) ODD. They found that RNFL thickness was higher in type 1 and 2 ODD although RNFL thickness was lower in type 3 ODD. Similarly, our patient had buried ODD and had higher RNFL thickness in both eyes. Optic disc drusen can cause an increase in RNFL thickness but in the following years ODD can lead to decrease in RNFL thickness by damaging the optic nerve fibers. Optic disc drusen may be misdiagnosed as papilledema. Thus, clinical suspicion of ODD is important in order to diagnose papilledema and prevents unnecessary interventions. Although most of eyes with ODD have normal or thinner RNFL thickness, some of these eyes can have thicker RNFL thickness. Patient with ODD should be followed for further RNFL damage or visual field defects although they have thicker RNFL. 1. 2. 3. 4. 5. 6. Larentzen SE. Drusen of the optic disc: a clinical and genetic study. Acta Ophthalmol. 1966; Suppl 90:l-180. Katz BJ, Pomeranz HD. Visual field defects and retinal nerve fiber layer defects in eyes with buried optic nerve drusen. Am J Ophthalmol. 2006;141(2):248-53. Auw-Haedrich C, Staubach F, Witschel H. Optic disk drusen. Surv Ophthalmol. 2002;47(6):515-32. Antcliff RJ, Spalton DJ. Are optic disc drusen inherited? Ophthalmology. 1999;106(7):1278-81. Roh S, Noecker RJ, Schuman JS, Hedges TR 3rd, Weiter JJ, Mattox C. Effect of optic nerve head drusen on nerve fiber layer thickness. Ophthalmology. 1998;105(5):878-85. Noval S, Visa J, Contreras I. Visual field defects due to optic disk drusen in children. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2013;251(10):2445–50. Corresponding author: Alime Gunester, Assistant professor Department of Ophthalmology, Süleyman Demirel University Faculty of Medicine, Isparta, Turkey Phone: +905054828345 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 175-7 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 177 7/4/2015, 17:12 RELATO 178 DE CASO Coriorretinite esclopetária Chorioretinitis sclopetaria Isaac Carvalho de Oliveira Ramos1,2 , Diogo Carvalho Macedo dos Santos1,2, Itamar Soares1,2, Vitor Cerqueira3 R ESUMO O objetivo deste trabalho é relatar um caso de trauma ocular por projétil de arma de fogo, que atingiu e se alojou na cavidade orbitária, desenvolvendo coriorretinite esclopetária. Foram abordados o mecanismo fisiopatológico, os principais achados clínicos e de exames complementares, além das opções de tratamento. As características do caso relatado reforçam a importância de uma abordagem multidisciplinar no trauma ocular. Descritores: Coriorretinite/fisiopatologia; Coriorretinite/terapia; Ferimentos por arma de fogo; Ferimentos oculares penetrantes; Coroide/lesões; Ruptura; Relatos de casos ABSTRACT The objective of this study is to report a case of ocular trauma by gunshot bullet, which struck and lodged in the orbit, developing chorioretinitis sclopetaria. We also addressed the pathophysiological mechanism, the main clinical findings and laboratory tests, and treatment options. The characteristic of this case enhances the importance of a multidisciplinary approach in the ocular trauma. Keywords: Chorioretinitis/physiopathology; Chorioretinitis/therapy; Gunshot wounds; Penetrating eye injuries; Choroid/injuries; Rupture; Case reports 1 2 3 Médico Oftalmologista do Hospital Nossa Senhora da Saúde – Gamboa, Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Médico Oftalmologista do Hospital Municipal Souza Aguiar (HMSA) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil; Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Professor da Universidade Estácio de Sá – UNESA, (RJ); Médico Oftalmologista do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE), Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Trabalho realizado no Hospital Municipal Souza Aguiar (HMSA) e no Hospital Nossa Senhora da Saúde – Gamboa Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 09/07/2012 - Aceito para publicação em xx/xx/20xx Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 178-82 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 178 7/4/2015, 17:12 179 Coriorretinite esclopetária INTRODUÇÃO C oriorretinite esclopetária é o termo usado para caracterizar uma lesão ocular na qual um projétil de arma de fogo (PAF) passa adjacente ao globo, sem perfurá-lo, causando danos à retina e coroide(1-15). Foi descrita pela primeira vez em 1901 por Goldzieher(3,6,14,15), porém Kempster et al. citam como sendo de Graefe os primeiros relatos em 1954(16). Tal síndrome tem recebido uma variedade de nomes, entre eles estão coriorretinite proliferativa, coriorretinite plástica proliferativa e coriorretinite proliferativa de Lagrange(14,15). O mecanismo fisiopatológico da lesão se dá pelo desprendimento de energia consequente à alta velocidade do projétil ao atingir a cavidade orbitária e passar próximo ao globo ocular em seu trajeto(1-3,5,6,13-15). Apesar de não haver perfuração, ocorre lesão direta da retina e/ou coroide, imediatamente adjacente a esse trajeto, geralmente paralela à ora serrata. Lesões indiretas podem ocorrer por mecanismo de contragolpe, ou seja, as ondas de choque se propagam pelo globo ocular até atingirem o polo posterior. Roturas de coroide por contragolpe são geralmente concêntricas ao nervo óptico, verticais, únicas, e podem comprometer seriamente a mácula(14,16-20). Em casos de lesões múltiplas, estas são frequentemente paralelas, com a maior ocorrendo centralmente e a menor mais periférica. Um mecanismo de compressão (Commotio retinae) também pode estar envolvido, levando ao edema de Berlim(21-27). Alterações na motilidade, seja por restrição ou por lesão direta da musculatura ocular extrínseca, podem estar presentes. O acometimento da acuidade visual é variável, pois depende do local e extensão da lesão. No segmento anterior alterações pupilares e do reflexo fotomotor podem estar presentes, bem como a pressão intraocular (PIO) pode estar alterada em consequência de inflamação ocular. Embora classicamente associada a PAFs, quadros bastante similares foram descritos com projéteis de ar comprimido e até com material para pesca(6). O objetivo deste trabalho é relatar um caso de coriorretinite esclopetária atendido na urgência do Hospital Municipal Souza Aguiar (HMSA), e acompanhado ambulatorialmente no Hospital Nossa Senhora da Saúde na Gamboa. O mecanismo fisiopatológico, os principais achados clínicos, possíveis complicações e opções de tratamento serão abordados. RELATO DE CASO Homem de 35 anos, pardo, foi admitido na urgência do HMSA em 19 de agosto de 2010, referindo “tiro no olho direito e visão embaçada” duas horas antes em um assalto. À ectoscopia apresentava hematoma e edema bipalpebral, além de lesão contusa medindo um centímetro em pálpebra inferior. A motilidade apresentava-se preservada e a acuidade visual (AV) sem correção era 20/200 (OD) e 20/20 (OE). À biomicroscopia foi observado globo ocular íntegro, hiperemia conjuntival, hemorragia subconjuntival intensa, córnea transparente, câmara anterior formada e ampla, pupila fotorreagente e cristalino transparente. A medida da PIO com a tonometria de aplanação de Goldman (TAG) foi de 13mmHg em ambos os olhos. Foi solicitada tomografia computadorizada de crânio e órbita, que evidenciou sistema nervoso central preservado e presença do PAF em cavidade orbitária direita localizado inferior- mente (figura 1). Foi solicitado o parecer da neurologia que foi normal, e em conjunto com a BMF a conduta tomada foi a internação para acompanhamento. O paciente evoluiu com abcesso lateral e consequente restrição da adução. Ao fundo de olho apresentou rotura de coroide importante, além de branqueamento leve da retina e discreto edema macular com aspecto de cereja, evidenciando o edema de Berlim. Foi então submetido à cirurgia com abordagem multidisciplinar (oftalmologia e BMF) para drenagem do abcesso. Evoluiu com PAF inerte em cavidade orbitária inferior no pós-operatório, e teve alta hospitalar para acompanhamento ambulatorial. Figura 1. Tomografia computadorizada de crânio e órbita, evidenciando sistema nervoso central preservado e presença do PAF em cavidade orbitária direita localizado inferiormente Quatro semanas após o trauma o paciente apresentou-se à inspeção com distopia à direita e com reflexo de Hirshberg e pupilas normais. Relatava dor leve e diplopia à abdução em OD. A acuidade visual com correção era de 20/100 e não apresentava alterações na biomicroscopia. A PIO foi de 7 e 11mmHg em OD e OE, respectivamente. Ao mapeamento de retina apresentava: hemorragia vítrea inferior importante; hemorragia sub-retiniana e rotura de coroide na periferia da retina; além de rotura de coroide perimacular (temporal) concêntrica ao nervo óptico. Tais achados foram confirmados com a retinografia e ecografia (figuras 2 e 3). A conduta foi expectante e o paciente foi acompanhado mensalmente com medidas da AV, TAG, mapeamentos de retina e exames de campo visual. Apresentou melhora da distopia e moderada absorção da hemorragia vítrea, evoluindo para acuidade visual de 20/40 com exame de potencial de acuidade macular de 20/30 parcial. Encontra-se estável há 18 meses, com pequeno defeito de campo visual em região nasal (figura 4), Figura 2. Retinografia simples do olho direito, mostrando a rotura de coroide atingindo temporalmente a mácula e poupando a região foveal Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 178-82 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 179 7/4/2015, 17:12 180 Ramos ICO , Santos DCM, Soares I, Cerqueira V segue em acompanhamento semestral, submetendo-se à rotina dos exames já citados, além da angioretinografia fluoresceínica, a fim de avaliar possível aparecimento de neovascularização. Figura 3. Ultrassonografia ocular do olho direito, evidenciando a hemorragia vítrea inferior Figura 5. Tomografia de coerência ótica (OCT) do olho direito, mostrando o desarranjo do epitélio pigmentar da retina próximo a mácula D ISCUSSÃO Figura 4. Campo visual computadorizado do olho direito, mostrando defeito de campo visual nasal superior compatível com a topografia da lesão compatível com a topografia da lesão perimacular. À tomografia de coerência óptica não apresenta edema no polo posterior, porém é notado um esperado desarranjo das células do epitélio pigmentar da retina na região da lesão (figura 5). O paciente A coriorretinite esclopetária foi introduzida na literatura por Goldzieher na Alemanha em 1901(3,6,14,15), e se refere à lesões de retina e coroide secundárias a um trauma por PAF que passa adjacente ao globo ocular. Apesar de não haver perfuração, roturas na retina e coroide, além de edema macular, podem estar presentes e comprometer seriamente a acuidade visual(1-15). A abordagem multidisciplinar deve sempre ser considerada em casos de trauma ocular. Neste relato, o paciente não teve lesão da musculatura extrínseca, porém evoluiu com limitação à adução por restrição consequente à formação de abcesso lateral. A conduta adotada em conjunto com a neurocirurgia e a cirurgia buco-maxilo facial foi a drenagem cirúrgica do abcesso, que foi realizada com sucesso. A tomografia computadorizada não mostrou lesão de nervo óptico, porém esta é uma condição que pode ocorrer de forma parcial ou total, levando a perdas importantes de campo visual e amaurose(7). Na fase aguda da coriorretinite esclopetária pode-se observar hemorragias (vítreas, retinianas e ou sub-retinianas), roturas de coroide e retina, além de edema retiniano(3,15). Tais achados foram observados em nosso paciente, com a rotura de coroide atingindo parcialmente a região macular e consequente defeito de campo visual permanente. Sabe-se que as roturas de Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 178-82 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 180 7/4/2015, 17:12 181 Coriorretinite esclopetária coroide estão associadas a trauma contuso, seja por mecanismo direto ou indireto(19,28-32). Branqueamento da retina e mácula com aspecto de cereja (edema de Berlim) também têm sido descritos após contusões oculares, numa condição que é conhecida como commotio retinae(21-27). Ambos podem aparecer na coriorretinite esclopetária, já que esta também tem um componente contuso em sua fisiopatologia. Em nosso caso, o edema esteve presente de forma leve à moderada na fase aguda e foi regredindo com paralela recuperação da acuidade visual (20/200 para 20/40). Em olhos com coriorretinite esclopetária é tentador intervir de alguma forma por causa do tamanho muitas vezes assustador e a localização posterior da rotura da retina. No entanto, a retina raramente se descola nesta situação, presumivelmente por causa da inflamação nas bordas da retina necrótica que leva a uma firme adesão coriorretiniana. Além disto, acredita-se que a retina e a coroide se retraem como uma só unidade, permanecendo a hialoide posterior intacta sobre a rotura, prevenindo a entrada do vítreo no espaço sub-retiniano (1,3,15). Se um descolamento da retina ocorre, geralmente é em outro sítio. Portanto, não é necessário realizar criopexia ou fotocoagulação profilática. A complicação tardia da coriorretinite esclopetária é a mesma da rotura de coroide em outra situação, ou seja, a possibilidade de se desenvolver neovascularização a partir da coroide e da proliferação fibrovascular. Esta situação ocorre em 25% a 50% dos casos após um ano das roturas de coroide(6,28-32). Nesse relato, o paciente apresenta 18 meses de pós-trauma, faz acompanhamento rigoroso, com angioretinografia fluoresceínica, e vem obtendo resultados normais até o momento. É importante ressaltar que não existe um modelo exato nas lesões da coriorretinite esclopetária, a extensão da lesão vai variar de acordo com o tipo de arma, calibre do projétil, distância da arma ao alvo, trajeto e interação com diversas estruturas oculares que têm resistências teciduais variadas. Pode-se encontrar desde pequenas lesões periféricas retinianas até avulsão do nervo óptico. Exames complementares se fazem necessários para elucidar o diagnóstico. A tomografia de crânio e órbita é esclarecedora para localizarmos o projétil, além de avaliar o nível de comprometimento do sistema nervoso central. Em nível ambulatorial o acompanhamento se faz com mapeamentos de retina, angioretinografia fluoresceínica, ecografia, tomografia de coerência óptica (OCT) e campo visual. Seguindo o mesmo raciocínio, o tratamento e o prognóstico visual são variáveis e depende da extensão e localização da lesão. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. C ONCLUSÃO O presente caso clínico tem como objetivo alertar os oftalmologistas para que diante de um paciente com trauma ocular por PAF estejam atentos ao diagnóstico de coriorretinite esclopetária. Devido à multidisciplinaridade do trauma é de grande importância a avaliação em conjunto com outras especialidades. 20. 21. 22. 23. R EFERÊNCIAS 24. 1. Ahmadabadi MN, Karkhaneh R, Roohipoor R, Tabatabai A, Alimardani A. Clinical presentation and outcome of chorioretinitis sclopetaria: a case series study. Injury. 2010;41(1):82-5. Beatty S, Smyth K, Au Eong KG, Lavin MJ. Chorioretinitis sclopetaria. Injury. 2000;31(1):55-60. Dubovy SR, Guyton DL, Green WR. Clinicopathologic correlation of chorioretinitis sclopetaria. Retina. 1997;17(6):510-20. Germani L, Viale C. [Unusual ocular traumatic syndrome: chorioretinitis sclopetaria]. Minerva Oftalmol. 1970;12(3):100-2. Italian. Hart JC, Natsikos VE, Raistrick ER, Doran RM. Chorioretinitis sclopetaria. Trans Ophthalmol Soc U K. 1980;100(Pt 2):276-81. Katsumata S, Takahashi J, Tamai M. Chorioretinitis sclopetaria caused by fishing line sinker. Jpn J Ophthalmol. 1984;28(1):69-74. Mohammadpour M, Soheilian M. Concomitant optic nerve transection and chorioretinitis sclopetaria. BMC Ophthalmol. 2005;5:29. Otto CS, Nixon KL, Mazzoli RA, Raymond WR 4th, Ainbinder DJ, Hansen EA, et al. Chorioretinitis sclopetaria from BB ex memoria. Ophthalmic Surg Lasers. 2001;32(2):152-5. Pérez-Carro G, Junceda-Moreno C. [Dual cause of blindness: chorioretinitis sclopetaria and homonymous hemianopsia]. Arch Soc Esp Oftalmol. 2006;81(2):119-22. Spanish. Perry HD, Rahn EK. Chorioretinitis sclopetaria: choroidal and retinal concussion injury from a bullet. Arch Ophthalmol. 1977;95(2):328-9. Ahmadabadi MN, Rajabi MT. Evolution of retinitis sclopetaria after blunt trauma: comment. Clin Experiment Ophthalmol. 2010;38(7):737-8; author reply 8. Comment on Clin Experiment Ophthalmol. 2009;37(9):896-7. Georgalas I, Koutsandrea C, Papaconstantinou D, Kampougeris G, Ladas I. Evolution of retinitis sclopetaria after blunt trauma. Clin Experiment Ophthalmol. 2009;37(9):896-7. Comment in Clin Experiment Ophthalmol. 2010;38(7):737-8; author reply 738. Maguluri S, Hartnett ME. Radial choroidal ruptures in sclopetaria. J Am Coll Surg. 2003;197(4):689-90. Martin DF, Awh CC, McCuen BW 2nd, Jaffe GJ, Slott JH, Machemer R. Treatment and pathogenesis of traumatic chorioretinal rupture (sclopetaria). Am J Ophthalmol. 1994;117(2):190-200. Richards RD, West CE, Meisels AA. Chorioretinitis sclopetaria. Am J Ophthalmol. 1968;66(5):852-60. Kempster RC, Green WR, Finkelstein D. Choroidal rupture. Clinicopathologic correlation of an unusual case. Retina. 1996;16(1):5763. Retina. 1996;16(1):57-63. Grosso A, Panico C. Surgical management of sclopetaria associated with macular hole in a young patient: long term results. Eye (Lond). 2009;23(9):1875-6. Kunjukunju N, Navarro A, Oliver S, Olson J, Patel C, Garcia G, et al. Bilateral macular hole formation secondary to sclopetaria caused by shockwaves transmitted by a posterior vector: case report. BMC Ophthalmol. 2010;10:6. Neame H. Multiple ruptures of choroid with retention of good vision. Br J Ophthalmol. 1940;24(8):399-400. Williams DF, Mieler WF, Williams GA. Posterior segment manifestations of ocular trauma. Retina. 1990;10 Suppl 1:S35-44. Review. Itakura H, Kishi S. Restored photoreceptor outer segment in commotio retinae. Ophthalmic Surg Lasers Imaging. 2011;42 Online:e29-31. Liem AT, Keunen JE, van Norren D. Reversible cone photoreceptor injury in commotio retinae of the macula. Retina. 1995;15(1):58-61. Morita C, Preti RC, Ferraz DA, Maia Júnior OO, Takahashi WY. Tomografia de coerência óptica na commotio retinae: relato de caso. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(4):533-6. Park JY, Nam WH, Kim SH, Jang SY, Ohn YH, Park TK. Evaluation of the central macula in commotio retinae not associated with other types of traumatic retinopathy. Korean J Ophthalmol. 2011;25(4):262-7. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 178-82 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 181 7/4/2015, 17:12 182 Ramos ICO , Santos DCM, Soares I, Cerqueira V 25. Souza-Santos F, Lavinsky D, Moraes NS, Castro AR, Cardillo JA, Farah ME. Spectral-domain optical coherence tomography in patients with commotio retinae. Retina. 2012;32(4):711-8. 26. Umeed S, Shafquat S. Commotio-retinae and central retinal artery occlusion after blunt ocular trauma. Eye (Lond). 2004;18(3):333-4. 27. Kohno T, Ishibashi T, Inomata H, Ikui H, Taniguchi Y. Experimental macular edema of commotio retinae: preliminary report. Jpn J Ophthalmol. 1983;27(1):149-56. 28. Artunay O, Rasier R, Yuzbasioglu E, Sengül A, Bahcecioglu H. Intravitreal bevacizumab injection in patients with choroidal neovascularization due to choroid rupture after blunt-head trauma. Int Ophthalmol. 2009;29(4):289-91. 29. Mennel S, Hausmann N, Meyer CH, Peter S. Photodynamic therapy and indocyanine green guided feeder vessel photocoagulation of choroidal neovascularization secondary to choroid rupture after blunt trauma. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2005;243(1):68-71. 30. Oya Y, Yoshizawa T, Aoki S, Kurihara A, Abe H. [A case of choroidal rupture due to blunt ocular trauma healed with proliferative tissue protruding into the vitreous cavity]. Nihon Ganka Gakkai Zasshi. 2002;106(11):721-7. Japanese. 31. Takahashi M, Kinoshita S, Saito W, Kase M, Ishida S. Choroidal neovascularization in a patient with blunt trauma-caused traumatic retinopathy without choroidal rupture. Graefes Arch Clin Exp Ophthalmol. 2011;249(1):137-40. 32. Wyszynski RE, Grossniklaus HE, Frank KE. Indirect choroidal rupture secondary to blunt ocular trauma. A review of eight eyes. Retina. 1988;8(4):237-43. Autor correspondente: Isaac Carvalho de Oliveira Ramos Rua Gal Góes Monteiro, no 8 - Bloco E - apto. 1803 - Botafogo CEP 22.290-030 - Rio de Janeiro (RJ), Brasil Email: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 178-82 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 182 7/4/2015, 17:12 RELATO DE CASO183 Benign concentric annular macular dystrophy Distrofia macular anular concêntrica benigna Luísa Salles de Moura Mendonça1, Luciana Castro Lavigne1, Luis Fernando Oliveira Borges Chaves1, José Maurício Botto de Barros Garcia1, David Leonardo Cruvinel Isaac1, Marcos Ávila1 ABSTRACT The purpose of the authors is to show clinical findings of a patient with benign concentric annular macular dystrophy, which is an unusual condition, and part of the “bull’s eye” maculopathy differential diagnosis. An ophthalmologic examination with color perception, fluorescein angiography, and ocular electrophysiology was performed. Keywords: Retinal diseases/diagnosis; Fluorescein angiography; Electrophysiology; Macula lutea/pathology; Diagnosis, differential; Case reports R ESUMO O objetivo dos autores é detalhar o quadro clínico de um paciente com distrofia macular anular concêntrica benigna, quadro raro, que compõe o diagnóstico diferencial das maculopatias em alvo. Realizou-se avaliação oftalmológica com auxílio de testes de percepção de cores, angiofluoresceinografia e eletrofisiologia ocular. Descritores: Doenças retinianas/diagnóstico; Angiofluoresceinografia; Eletrofisiologia; Mácula lútea/patologia; Diagnóstico diferencial; Relatos de casos 1 Universidade Federal de Goiás, Goiânia (GO), Brazil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 14/10/2014 - Aceito para publicação em 13/01/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 183-5 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 183 7/4/2015, 17:12 184 Mendonça LSM, LavigneLC, Chaves LFOB, Garcia JMBB, Isaac DLC, Ávila M INTRODUCTION B enign concentric annular macular dystrophy (BCAMD) (OMIM 153870; Online Mendelian Inheritance in Man, http://www.ncbi.nlm.nih.gov/omim) is an uncommon disorder, initially characterized by paracentral ring scotoma with a central hyperpigmentation of the retinal pigment epithelium (RPE) and relatively good visual acuity(1-3). The first report of BCAMD was published in 1974, in a family with an autosomal dominant trait(4). A ringlike hyperfluorescence is typically found in fluorescein angiographic images. It is a result of a window defect in the atrophic macular pigment which provides the characteristic “bull’s eye” maculopathy(1,4). Electroretinogram (ERG) is usually normal or slightly abnormal(1,2). Studying the patients’ color perception, some of them show predominant defects in the blue yellow axis, though this finding is not constant(1,5,6). The differential diagnosis of a “bull’s eye” maculopathy includes chloroquine and hydroxychloroquine toxicity, Stargardt’s disease, central areolar choroidal atrophy, chronic macular hole and cone dystrophy. Patients with BCAMD do not have a prior history of regular chloroquine intake or symptoms related to photoreceptors dystrophy, such as photophobia and severely defective color vision(1). The present study reports a case of a patient with typical clinical findings of BCAMD. Figure 2. Fundus imaging (top row) and angiography with fluorescein (bottom row), demonstrating a typical bull’s eye maculopathy image The standard ERG was normal (figure 3). The parameters were abnormal on the pattern Visual evoked potential (VEP), presenting decreased amplitude and prolongation of the latency (figure 4). CASE REPORT A 41-year-old male, native of Rio de Janeiro, Brazil, presented at CEROF-UFG complaining about nyctalopia and gradual deterioration of visual acuity, in the last 4 years. His past medical history and family medical history were unremarkable. He did not refer photophobia or history use of regular oral medications. He was initially treated in another clinic in Rio de Janeiro, where the disorder was diagnosed as cone rod dystrophy. His initial examination showed a best corrected visual acuity of 20/50 in the OD and 20/30 in the OS. Anterior segment biomicroscopy was normal in OU. Intraocular pressure was 15 mmHg in the OD and 13 mmHg in the OS. Fundoscopy evaluation had shown bilateral area of perifoveal hypopigmentation with an annular conformation and a concentric aspect in the macular region, but sparing the center of the fovea (figure 1). Fundus periphery was normal. Fluorescein angiography had shown typical “bull’s eye” maculopathy pattern (figure 2). The Farnsworth-Munsell D15 color test was performed, which presented no visual dysfunction. Figure 3. Standard ERG and 30Hz Flicker with normal findings Figure 1. Fundus photographs showing an annular and concentric area of hipopigmentation in the macular region, with a central, irregular and hyperpigmented area Figure 4. Pattern VEP with decreased amplitude and prolongation of the latency Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 183-5 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 184 7/4/2015, 17:12 Benign concentric annular macular dystrophy After evaluating all this clinical features, the patient was diagnosed with BCAMD. In 3 years of follow up, he did not show any changes in visual acuity, maintaining the same fundoscopy and angiographic findings and ERG without abnormalities. After that, he did not return to an appropriate follow-up in our service. D ISCUSSÃO BCAMD is a highly unusual disorder(3). A search on the terms “annular” “macular” and “dystrophy” on PubMed website found 11 original related articles. After the initial report by Deutman in 1974, the term “benign” was applied to a general condition of a good visual acuity as part of one of the main clinical features of the BCAMD(1, 3). Recently, a mutation in the IMPG1 was related to BCAMD, but this relation is not confirmed(1, 2). The IMPG1, residing at the BCAMD locus, in the chromosome 6 might result in a Leu579Pro amino acid substitution, playing a major role in its pathogenesis(2). Fundus retinography typically shows a “bull’s eye” configuration with a RPE’s annular ring atrophy, corresponding to the fluorescein angiography of a circular hyperfluorescence(1, 3). While patients frequently show a “benign” course with good visual acuity for a long time, others may present a pronounced involvement of the peripheral retina associated with a severe photoreceptor dysfunction(1, 3). A long term follow-up study of an affected Dutch family showed that there was a pronounced involvement of the peripheral retina, increased photoreceptor dysfunction, waxy optic disc, arteriolar attenuation and further decline of the ERG, as found in retinitis pigmentosa(2, 3). Regarding color vision defects in BCAMD, the existence of defects in the blue yellow axis is predominant, though not constant. Some studies showed mild defects only, without any predominant axis of confusion(1,5,6). The ERG is typically normal or slightly abnormal(1, 3). The normal findings obtained on ERG suggest that this is a focal dysfunction rather than a generalized fundus disorder, but some testing revealed a photoreceptor dysfunction with a slight predominance of rod dysfunction above cone dysfunction(1,2, 7). A study showed a “bulls’ eye” maculopathy, associated with a negative ERG in four unrelated patients who had normal vision initially, but with progressive loss of visual acuity, preserved cone response in ERG, and mild to moderate color deficiency. It was thought that they had a similar condition with BCAMD, but no signs at all of an autosomal dominantly disease (8). The VEP findings, to our knowledge, have not been described previously in patients with BCAMD. The optic coherence tomography (OCT) findings in this condition may suggest new pathological abnormalities. A limitation of our case report is the absence of the OCT images, because the patient was examined prior to OCT introduction in clinical practice, and, after that, he did not return to an appropriate follow-up. However, OCT alterations are mild and, to our knowledge, have been described only in one case report in 2005, in which they did not contribute to establish the diagnosis(3). The abnormalities include high and low reflectivity areas under the RPE, similar to the OCT findings seen in adult vitelliform macular dystrophy. The relatively normal neurosensory retina at the fovea probably explains the good visual acuity and mild ERG abnormalities(3). 185 The angiographic aspect, family history and hereditary pattern are the most relevant data when determining a differential diagnosis among variable clinical conditions (1). Retinopathy secondary to anti malarial drugs requires a history of sustained intake of chloroquine or hydroxychloroquine. It is difficult to differentiate BCAMD and photoreceptors dystrophies. Symptoms and clinical signs, such as photophobia, progressive central vision loss, important defect in color vision and an extremely altered photopic electroretinogram are found in cone rod dystrophy(1, 2). Stargardt’s disease has an autosomal recessive inheritance and shows a marked reduction in central visual acuity, although, in the initial stages, the fundus imaging may appear normal. The characteristic “silent” choroidal angiographic and the altered electrooculogram are also important to its diagnosis(1). In the reported case, regarding the good visual acuity, after studying the fluorescein angiography with corresponding retinographies, and the results of the standard ERG and VEP, BCAMD was diagnosed. The differential diagnosis include all conditions with the “bull’s eye” maculopathy configuration(1, 6). R EFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Gomez-Faiña P, Alarcón-Valero I, Buil Calvo JA, Calsina-Prat M, Martín-Moral D, Lillo-Sopena J, et al. Distrofia macular anular benigna concéntrica. Arch Soc Esp Oftalmol. 2007; 82(6):373-76. van Lith-Verhoeven JJ, Hoyng CB, van den Helm B, Deutman AF, Brink HM, Kemperman MH, et al. The benign concentric annular macular dystrophy locus maps to 6p12.3-q16. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2004; 45(1):30-5. Burton BJ, Holder GE, Duguid G, Gregory-Evans K. Optical coherence tomography findings in benign concentric annular dystrophy. Eye. 2005; 19(6):699-701. Deutman AF. Benign concentric annular macular dystrophy. Am J Ophthalmol. 1974; 78(3):384-96. van den Biesen PR, Deutman AF, Pinckers AJ. Evolution of benign concentric annular macular dystrophy. Am J Ophthalmol. 1985; 100(1):73-8. Sadowski B1, Rohrbach JM, Partsch M, Schiefer U. Benign concentric annular macular dystrophy. Klin Monbl Augenheilkd. 1994; 205(3):173-5. Coppeto J, Ayazi S. Annular macular dystrophy. Am J Ophthalmol. 1982; 93(3):279-84. Miyake Y, Shiroyama N, Horiguchi M, Saito A, Yagasaki K. Bull’s eye maculopathy and negative electroretinogram. Retina. 1989;9(3):210-5. Autor correspondente: Luísa Salles de Moura Mendonça Rua 9, nº 663, apto 602 – Setor Oeste Zip code 74120-010 – Goiânia (GO), Brazil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 183-5 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 185 7/4/2015, 17:12 R 186 ELATO DE CASO Distrofia policromática posterior da córnea Posterior polychromatic corneal dystrophy Letícia Maria Coelho1, Guilherme Kfoury Muinhos1, Marco Antônio Guarino Tanure2, Homero Gusmão de Almeida1 , Reinaldo de Oliveira Sieiro3 R ESUMO Os autores descrevem dois casos de distrofia policromática posterior da córnea, uma distrofia pré-Descemet, pouco descrita nas literaturas nacional e mundial, em que se observam pontos policromáticos difusos no estroma posterior da córnea, sem aparente comprometimento da visão. Descritores: Distrofias hereditárias da córnea; Córnea/patologia; Lâmina limitante posterior/anormalidades; Substância própria/anormalidades; Relatos de casos ABSTRACT The authors describe two cases of posterior polychromatic corneal dystrophy, a pre-Descemet dystrophy, poorly described in national and world literatures, characterized by diffuse polychromatic points on the posterior corneal stroma, without visual impairment. Keywords: Corneal dystrophies; Cornea/pathology; Descemet membrane/abnormalities; Corneal stroma/abnormalities; Case reports IOBH – Instituto de Olhos de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil; Hospital São Geraldo da UFMG; Hospital das Clínicas da UFMG; Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Belo Horizonte (MG); Serviço de Catarata e Glaucoma do IOBH – Instituto de Olhos de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil; 3 Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG), Belo Horizonte (MG), Brasil. 1 2 IOBH –Instituto de Olhos de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 16/09/2014 - Aceito para publicação em 27/11/2014 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 186-8 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 186 7/4/2015, 17:12 187 Distrofia policromática posterior da córnea INTRODUÇÃO O termo distrofias da córnea é empregado para descrever doenças corneanas hereditárias, bilaterais, simétri cas e progressivas, sem relação com condições ambientais ou sistêmicas(1). A distrofia policromática foi descrita como uma distrofia do estroma posterior da córnea, pré-Descemet, caracterizada por opacidades puntiformes, policromáticas, uniformes, difusamente distribuídas, sem aparente comprometimento da acuidade visual(2). Apesar de provável herança autossômica dominante(1,2), foi descrita poucas vezes até hoje, apenas uma vez na literatura mundial(2) e uma vez na literatura nacional(3), permanecendo ainda desconhecida por muitos oftalmologistas. O objetivo desse artigo é descrever dois casos de distrofia policromática posterior da córnea, considerando suas características, seu reconhecimento na prática oftalmológica e seu manejo clínico. RELATO DE CASO Caso 1: DMS, 30 anos, sexo feminino, leucoderma, casada, economista, natural e procedente de Belo Horizonte(MG), procurou avaliação oftalmológica de rotina devido à ametropia. Usava óculos e lentes de contato gelatinosas. Queixava-se de desconforto recente com as lentes de contato. Relatava que um oftalmologista já havia contraindicado o uso de lentes de contato devido à “problema na córnea” há alguns anos, que não sabia especificar, mas voltara a usá-las sem acompanhamento médico há alguns meses. Negava outras doenças oculares prévias. Referia vitiligo, sem manifestações clínicas e sem uso de medicações no momento, e fibromialgia, em uso de Ciclobenzaprina. Não tinha histórico de consaguinidade e/ou doenças oculares na família. Ao exame, apresentava refração estática no olho direito (OD) de -2,50 (AV = 20/25) e no olho esquerdo (OE) de -2,50 (AV = 20/25). À biomicroscopia, apresentava hiperemia discreta, reação papilar leve, córneas transparentes, com BUT (break up time) reduzido, puntactas difusas e opacidades finas no estroma posterior, uniformes, policromáticas, difusamente distribuídas (figura 1). A pressão intraocular (PIO) era de 11/10 mmHg às 17 horas. À fundoscopia não mostrava anormalidades. A microscopia especular de não contato (Konan® NONCON ROBO) mostrou contagem celular no OD = 2655 células/mm2 e no OE = 2510 células/mm2, com pleomorfismo/polimegatismo discretos e numerosos pontos brilhantes, correspondentes às opacidades do estroma posterior vistas à lâmpada de fenda. A paquimetria ultrassônica central (Alcon® OcuScan RxP) foi igual a 495 µm no OD e a 486 µm no OE. A topografia computadorizada da córnea (Tomey® TMS-4) mostrou valores ceratométricos normais, com astigmatismo irregular assimétrico discreto, sugestivo de alterações do filme lacrimal. O exame de tomografia de coerência óptica (Visante® OCT) mostrou imagens hiperrefletivas no estroma posterior, sem outras alterações (figura 1). A paciente foi orientada a suspender o uso de lentes de contato até o restabelecimento da superfície ocular, com colírios lubrificantes sem conservantes e colírio antialérgico. Após o tratamento foi indicado o uso de lentes de contato de silicone-hidrogel com alta permeabilidade ao oxigênio, por um tempo mais reduzido, com descarte mais frequente, lubrificação ocular adequada e acompanhamento médico periódico. Figura 1. paciente 1 – Imagens biomioscroscópicas das opacidades puntiformes, finas, difusas, policromáticas, no estroma posterior da córnea (acima e abaixo à direita); tomografia de coerência óptica da córnea mostrando pontos hiperrefletivos no estroma posterior (abaixo à esquerda) Caso 2: MOG, 23 anos, sexo feminino, leucoderma, solteira, auxiliar administrativa, natural e procedente de Belo Horizonte(MG), procurou avaliação oftalmológica de rotina devido à ametropia. Usava óculos. Negava doenças oculares e/ou sistêmicas prévias. Não tinha histórico de consaguinidade e relatava avô com glaucoma. Ao exame, apresentava refração estática no olho direito (OD) de -1,50 -0,50 x 125° (AV = 20/20) e no olho esquerdo (OE) de -2,00 -1,00 x 80° (AV = 20/20). À biomicroscopia, apresentava meibomite leve, hiperemia leve, reação papilar leve, córneas transparentes, com BUT um pouco reduzido, puntactas discretas inferiores e opacidades finas no estroma posterior, uniformes, policromáticas, difusamente distribuídas (figura 2). A PIO era de 14/14 mmHg às 20 horas. A fundoscopia não mostrava anormalidades. A microscopia especular de não contato (Konan® NONCON ROBO) mostrou contagem celular no OD = 3243 células/mm2 e no OE = 2930 células/mm2, sem pleomorfismo/ polimegatismo e com numerosos pontos brilhantes, correspondentes às opacidades do estroma posterior (figura 2). A paquimetria ultrassônica central (Alcon® OcuScan RxP) foi igual a 561 µm no OD e a 570 µm no OE. A topografia computadorizada da córnea (Tomey® TMS-4) mostrou valores ceratométricos normais, com astigmatismo insignificante em ambos os olhos (AO). Foi prescrita a correção óptica e a paciente foi orientada a manter acompanhamento médico periódico (figura 2). Figura 2. paciente 2 – Imagens biomioscroscópicas das opacidades puntiformes, finas, difusas, policromáticas, no estroma posterior da córnea (à esquerda) e da microscopia especular da córnea mostrando pontos hiperrefletivos, correspondentes às opacidades vistas à lâmpada de fenda (à direita) Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 186-8 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 187 7/4/2015, 17:12 188 Coelho LM, Muinhos GK, Tanure MAG, Almeida HG, Sieiro RO DISCUSSÃO As distrofias pré-Descemet não são ainda uma entidade clínica bem definida e não têm ainda um padrão de herança genética esclarecido. Por esse motivo, estão incluídas na categoria 4 da classificação do Comitê Internacional de Classificação de Distrofias da Córnea (IC3D), que engloba as distrofias corneanas novas ou previamente documentadas, com evidências de que sejam entidades distintas, embora não sejam ainda bem comprovadas(1). Elas geralmente se manifestam após os 30 anos de idade, mas já foram observadas em crianças de até 3 anos. Os pacientes são, em geral, assintomáticos, sem comprometimento da visão. E o aspecto clínico dessas distrofias é de opacidades finas, focais, localizadas no estroma profundo da córnea, anteriores à membrana de Descemet, centrais, anulares ou difusas, com diferentes formas e tamanhos(1). Os estudos histológicos já realizados mostraram apenas ceratócitos aumentados no estroma posterior, contendo inclusões e vacúolos citoplasmáticos de material semelhante a lipídeo, já os estudos com microscopia eletrônica apresentaram vacúolos com material eletrodenso sugestivo de lisossomos secundários e lipofuscina(1). Por esse motivo, algumas delas foram relacionadas a um processo degenerativo ligado ao envelhecimento(1,2). Já os estudos com microscopia confocal demonstraram apenas partículas hiperrefletivas no estroma posterior da córnea, imediatamente anteriores à membrana de Descemet(1,5,6). O diagnóstico diferencial dessas distrofias deve ser feito com as opacidades granulares da membrana de Bowman (Reis-Bücklers), os depósitos estromais da distrofia macular, as guttatas da distrofia endotelial (7), os depósitos das mucopolissacaridoses (7,8) e das mucolipidoses(7) e os depósitos na gamopatia monoclonal(7,8-11). O primeiro autor a descrever as distrofias corneanas do tipo pré-Descemet foi Vogt, em 1923, que as chamou de distrofia farinata(4). Desde então, várias morfologias de opacidades préDescemet foram descritas na literatura. A primeira descrição da distrofia policromática posterior da córnea foi feita por Fernandez-Sasso et al., em 1979, na Argentina, a partir da observação de 8 pacientes de uma mesma família, que apresentavam opacidades puntiformes, policromáticas, uniformes, difusamente distribuídas no estroma posterior da córnea. Ela foi considerada um novo tipo de distrofia corneana pré-Descemet, com provável herança genética autossômica dominante(2). Desde então, foram descritos apenas mais quatro casos clínicos, em duas famílias diferentes, por Tzelikis et al., em 2007, no Brasil(3). Estes dois presentes relatos parecem ser a terceira descrição na literatura até o momento. As principais características da distrofia policromática posterior da córnea, que a difere das demais distrofias corneanas pré-Descemet, são as variedades de cores das opacidades, tanto em iluminação direta quanto na indireta da lâmpada de fenda e a distribuição uniforme e difusa das opacidades, de mesmo tamanho, de limbo a limbo da córnea, sem formar áreas de agregações, deixando espaços transparentes entre as opacidades, maiores que as próprias opacidades(2,3). O diagnóstico dessa distrofia é feito pelo exame clínico oftalmológico à lâmpada de fenda, por meio da observação de suas características morfológicas. Ela não parece interferir na qualidade de visão dos pacientes, nem piorar com o tempo(2,3). Há poucos casos relatados na literatura até o momento e acredita-se que isso se deva à falta de sintomas relatados pelos pacientes e ao desconhecimento dessa entidade pela maioria dos oftalmologistas. Por isso, vários pacientes não devem ter sido diagnosticados até o momento. Embora não pareça necessitar de tratamento ao longo do tempo, é importante saber reconhecer essa distrofia, evitando a confusão com outras condições clínicas, que demandam cuidados e tratamento específicos. Estudos que elucidem o gene responsável por essa condição e a sua forma de herança genética são ainda necessários para que a distrofia policromática posterior da córnea possa ser reconhecida como uma distrofia corneana bem definida. C ONCLUSÃO A distrofia policromática posterior da córnea ainda não é considerada uma entidade clínica bem definida e foi descrita poucas vezes, embora se acredite que seja mais prevalente. O diagnóstico é feito basicamente pelo exame oftalmológico à lâmpada de fenda. Embora os pacientes não pareçam apresentar sintomas e/ ou evolução da doença, devem ser corretamente diagnosticados para orientações e acompanhamento oftalmológico apropriado, que possibilite maior conhecimento acerca dessa condição. R EFERÊNCIAS 1. Weiss JS, Møller HU, Lisch W, Kinoshita S, Aldave AJ, Belin MW, et al. The IC3D classification of the corneal dystrophies. Cornea. 2008;27 Suppl 2:S1-83. 2. Fernandez-Sasso D, Acosta JE, Malbran E. Punctiform and polychromatic pre- Descemet’s dominant corneal dystrophy. Br J Ophthalmol. 1979; 63:336-8. 3. Tzelikis PF, Santos UR, Tanure MA, Trindade FC. Distrofia corneana policromática posterior. Rev Bras Oftalmol. 2007; 66 (4):262-6. 4. Vogt A. Cornea farinata. Schweiz Med Wochenschr.. 1923; 53:991. 5. Ye YF, Yao YF, Zhou P, Pan F. In vivo confocal microscopy of preDescemet’s membrane corneal dystrophy. Clin Experiment Ophthalmol. 2006 ;34(6):614-6. 6. Kontadakis GA, Kymionis GD, Kankariya VP, Papadiamantis AG, Pallikaris AI. Corneal confocal microscopy findings in sporadic cases of pre-descemet corneal dystrophy. Eye Contact Lens. 2014;40(2):e8-e12. 7. Klintworth GK. Corneal dystrophies. Orphanet J Rare Dis. 2009;4:7. Review. 8. Villas-Bôas FS, Fernandes Filho DJ, Acosta AX. [Ocular findings in patients with mucopolysaccharidosis]. Arq Bras Oftalmol. 2011;74(6):430-4. Portuguese. 9. Tzelikis PF, Laibson PR, Ribeiro MP, Rapuano CJ, Hammersmith KM, Cohen EJ. Ocular copper deposition associated with monoclonal gammopathy of undetermined significance: case report. Arq Bras Oftalmol. 2005;68(4):539-41. 10. Koo H, Oh DH, Chun YS, Kim JC. A case of crystalline keratopathy in monoclonal gammopathy of undetermined significance (MGUS). Korean J Ophthalmol. 2011;25(3):202-5. 11. Foo FY, Khng C, Voon LW. Bilateral polychromatic crystalline keratopathy as the initial manifestation of IgG-lambda multiple myeloma. Ann Acad Med Singapore. 2013;42(2):93-4. Autor correspondente: Letícia Maria Coelho Rua Padre Rolim, nº 541 - Santa Efigênia CEP 30130-090 – Belo Horizonte (MG), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 186-8 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 188 7/4/2015, 17:12 ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO189 Intraocular lenses and clinical treatment in paediatric cataract Lentes intraoculares e tratamento clínico na catarata pediátrica Camila Ribeiro Koch Pena 1, Priscilla Almeida Jorge 2, Newton Kara-Junior2 A BSTRACT Pediatric cataract is the most common treatable cause of blindness in children. Prevalence, etiology and morphology vary with the socioeconomic development. The treatment goal is to reduce amblyopia, being difficult management especially in unilateral cases. The decision on aphakia or primary intraocular lens should be individualized as well as correction with contact lens or spectacles. The intraocular lens single-piece hydrophobic acrylic are the most implanted in children and the preferably is in the capsular bag. The Sanders-Retzlaff-Kraff theoretic (SRK/T) stressing that is described as more predictable, following Holladay I and SRK II and the recommendation is to under correction +6.0 or +8.0 dioptrias expecting the growth of the eye. The posterior capsule opacity is the most frequent complication and varies with the material choice of the lens. Glaucoma is the most serious postoperative complication and depends on the timing of the surgery, primary lens implantation and time of post surgical follow-up. The adherence to occlusion therapy with patching is critical to the visual prognosis and is determined by the child’s age and laterality of the cataract. There was significant improvement in the surgery and in IOLs, however the final visual prognosis is still not desirable. Keywords: Cataract/congenital; Cataract/etiology; Aphakia/surgery; Contact lenses; Lenses intraocular RESUMO A catarata pediátrica é a causa mais comum de cegueira tratável em crianças. Prevalência, etiologia e morfologia variam conforme o desenvolvimento sócioeconômico. O tratamento tem como objetivo diminuir a ambliopia, sendo de difícil manejo principalmente em casos unilaterais. A decisão sobre afacia ou implante primário de lente intraocular deve ser individualizado, assim como a correção com lente de contato ou óculos. As lentes intraoculares acrílicas hidrofóbicas de peça única são as mais implantadas em crianças com preferência de implante no saco capsular. A fórmula biométrica Sanders-Retzlaff-Krafftheoretic (SRK/T) é a mais precisa em pacientes pediátricos, seguida de Holladay I e SRK II, com recomendação de sob correção de +6 a +8.0 dioptrias, devido ao esperado crescimento rápido do globo ocular. A opacidade de cápsula posterior é a complicação mais frequente e varia com o material da lente a ser implantada e o glaucoma é a complicação pós-operatória mais grave e depende da idade da criança na cirurgia, implante primário de LIOs e da duração do acompanhamento pós-cirúrgico. A adesão ao tratamento oclusivo é fundamental para o prognóstico visual, sendo determinado de acordo com a idade da criança e a lateralidade da catarata. Mesmo com a melhora do tratamento cirúrgico e das lentes intraoculares o prognóstico visual final ainda não é o desejável. Descritores: Catarata/congênito; Catarata/etiologia; Afacia/cirurgia; Lentes de contato; Lentes intraoculares 1 2 Instituto Brasileiro de Prevenção à Cegueira, Hospital Humberto Castro Lima, Salvador (BA), Brazil; Universidade de São Paulo (USP), São Paulo (SP), Brazil. Os autores declaram não haver conflitos de interesses Recebido para publicação em 05/12/2014 - Aceito para publicação em 05/01/2015 Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 189-93 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 189 7/4/2015, 17:12 190 Pena CRK, Jorge PA, Kara-Junior N INTRODUCTION B lindness in children is a high-priority goal of the World Health Organization until 2020. In 1992, dates showed 1.5 million cases of childhood blindness in the world, in 2002 around 1.3 million and in 2010 around 1.4 million (1,2). The literature reports about 75% of avoidable blindness in children in the world, and 30% of them are due to Pediatric Cataract (PC)(2). Other important causes are refractive error, corneal opacities and retinopathy of prematurity (3) . Furthermore, socioeconomic development influence in the prevalence and etiology of PC. More than 85% of blind children live in Africa, Asia and Latin America(4). In Brazil, the prevalence of low vision due to PC is still high, 5.5 to 12% of the patients(5). It is known about the difficulty in obtaining accurate prevalence data on blindness in children due to very large samples population-based, besides the high cost, demands trained professionals and specific equipment. The final goal of PC is successful visual rehabilitation. However, the controversy over the best correction of aphakia resulting from cataract surgery and primary intraocular lens (IOL) implantation, especially in newborns, remains under study. The purpose of this review is to report the prevalence causes, and treatment of pediatric cataract. D EVELOPMENT Morphology, Etiology and Clinical Findings The classification of PC depends on morphological analysis of lens opacity, its etiology and time of emergence. The morphological types are according to the location of the lens opacity. They are Polar, Zonular, Coronary, Total (white), Membranous and Persistent Fetal Vasculature (PFV). The Zonular is the most common and according to the location may have subtypes: Nuclear, Lamellar, Capsule Plaque and Sutural(3). Often there is an association between the subtypes. Most of the studies the Nuclear is the most common varying from 10 to 54%, followed by lamellar. Usually nuclear is non progressive and almost all had an association with posterior capsule plaque(6,7). There is a socioeconomic influence in the other etiologies and morphology. Retrospective studies in developing countries asserted congenital infections, especially Rubella in the first trimester of pregnancy as one of the most prevalent etiologies and total cataract as one of the most common morphologies found, opposing the rarity in developed countries(8). The vaccination campaigns against rubella have been reduced its prevalence(2). Others intrauterine infections (toxoplasmosis, herpes, syphilis, varicella, cytomegalic), birth dates (prematurity and low birth weight), syndromes (Down, Turner, Lowe, Hallermann-StreiffFrancois, Nance-Horan) and systemic diseases (galactosaemia, hypocalcaemia) are recognized as PC causes(3,6,7). As regards etiology more than 50% of cases are idiopathic and one third of cases are hereditary, most of them autosomal dominant.(3,5,7,9) Nuclear cataract have inheritance in 30-50% and lamellar commonly have pattern of inheritance too(3,7,8). Chronological classification depends on the time onset of the opacity. Congenital Cataract (CC) when detected before three months of life, Infantile Cataract (IC) when detected after three months and PC which includes all types. Trauma is the major cause of acquired cataracts in infants, however, traumatic is a type of cataract with management, implications and different expectations from CC.(7) Most of the available studies affirm that 57-81% of PC are bilateral and is associated with systemic disorders or hereditary factors (7,9) . Available studies demonstrated PFV in 94-100% of eyes with unilateral CC, and it may have association with microphthalmia, aniridia, iris coloboma and lens coloboma(6,8). Another peculiarity is its association with strabismus, nystagmus and fixation instabilities. The esotropia is found more and will generally follow deprivation amblyopia. The nystagmus is an indicator that vision is affected significantly. The importance of recognizing these signs is due to the fact that they were related to visual prognosis(4,10). Decision about the treatment The decision about the treatment in children with PC depends on extension of lens opacity, through of the examination of the red reflex, retinoscopy and biomicroscopy or using a handheld slitlamp when possible or undergoing examination under anesthesia if necessary(3,4). The red reflex in newborn detect early suspects of CC and has a low cost, reasons that made it mandatory in many hospitals (11) . The CC without risk to amblyopia shouldn’t be an indication for surgery. Monitoring is preferred, in addition using mydriatic drops, occlusion of the dominant eye and postponing surgery to avoid surgical complications. The presence of dense opacities with more than 3 mm in diameter in the center of the lens brings low vision and should be removed(3,7,12). The ideal is to perform surgery between 1-4 months of life. Before 4 weeks risks outweigh the benefits(13). Glaucoma is the most serious complication, the sooner the surgery the higher the risk, besides, the calculation of biometrics is more prone to errors and inflammation is more frequent. (3,7,9) Thus, after 4 weeks of life surgery should be performed and the vision can be developed in the best possible way. At birth the visual system is immature and is still developing in early months of life. The newborn has poor fixation, very limited ability to discriminate colors, limited visual fields and an estimated visual acuity between 20/200 and 20/400(14). During the growth, the acuity reaches the healthy adult standard of 20/20 at 6 months. The development of the visual stimulus depends on the integrity of a complex network which includes retina, optic nerve, optic radiations, visual pathway and visual cortex. The development of the cortex depends on the phenomenon called plasticity, manipulated by changes in stimuli, for example presence of CC or treatment using patching (12). In general the images provided by the better eye will be recorded. Knowing this, studies recommend early surgery with the aim of reducing the risk of amblyopia, principally in unilateral IC(12,14). Surgery and complications The child’s eye has some details that make technically more difficult the cataract surgery than adults(3,7,15). The anterior capsule is more elastic, the vitreous pressure is larger, the sclera is thinner, small pupil is often and the hydrodissection should be more careful in posterior polar because in 40% of the surgeries it may be stuck in the posterior capsule(3,16). The femtosecond laser in infants began to be realized with success helping principally in the capsulotomy, with a specific diameter without risk for capsular tears. The difference between adults and children is the size of the eye which is impossible to accommodate the laser’s interface. So it is necessary in children create a small lateral cantholysis of less than 2 mm to realize the Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 189-93 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 190 7/4/2015, 17:12 Intra-ocular lenses and clinical treatment in paediatric cataract procedure(17). Probably in the future the laser will be a more consolidated step in children’s cataract surgery. Posterior capsule opacification (PCO) is an expected complication, requiring additional treatment with Neodymium YAG-laser or intraocular reoperation in order to recovery the optical transparency because of the risk of amblyopia. To avoid this postoperative complication, some surgeons perform a posterior capsulotomy with anterior vitrectomy(3,5). PCO incidence varies depending on IOL materials (18). Reports show that hydrophobic acrylic IOLs apparently have more PCO than polymethyl methacrylate (PMMA) IOLs, even then, the prevalence is high, reaching 50% (18,19). Glaucoma is the most severe complication after IC surgery. It may occur several years after primary surgery, being more frequent the development around 3 years of age and needs long-term follow-up(20). The prevalence varies from 3.5% to 58% and the exact etiology is still unknown(13,21). This large variation in prevalence of glaucoma may be related to the length of time of post operative follow-up of children ranging in the studies, since the risk continues to rise with time(20,21). Bilateral cataract is associated with a higher risk of glaucoma(13,20). Furthermore, the literature is contradictory on primary IOL implantation and glaucoma development. The theoretical explanation for the IOL to prevent glaucoma is to avoid the vitreous contacting the trabecular meshwork. On the other hand intact posterior capsule may be associated with a lower risk of development glaucoma(22). Other less frequent adverse events can occur after PC surgery, such as pupillary membranes, corectopia, phimosis of the anterior capsule, lens reproliferation, vitreous hemorrhage, retinal detachment, endophthalmitis, phithisis bulbi, corneal abrasion, corneal edema, dilated pupil and capsular phimosis(15,23). IOLs IOLs implantation in children after two years old is accepted by most pediatric surgeons. In the 1980s, the introduction of PMMA IOLs and vitrectomy instrumentation got an improvement in surgical results, and the introduction of hydrophobic acrylic IOLs in 1990’s made it better(24). Even with increasing costs, the hydrophobic acrylic single-piece lens implanted in the capsular bag became the favorite among surgeons, due to the possibility to introduce the IOLs in small incision, with less trauma and less PCO(24). Three piece IOLs can be deformed in small eyes and occlusion the pupil, but are indicated for sulcus fixation. Silicone and hydrophilic acrylic IOLs are not the first choice for children, because more PCO and capsule contraction was found respectively. However some studies show good results with hydrophilic acrylic IOLs compared to PMMA IOLs(25). From birth to maturity, the eye increases three times its size. One third of the eye’s growth in diameter occurs in the first year of life. The axial length (AL) is extremely short, most of them less than 20mm and the refractive power of the cornea is high, about 51 dioptries (D), consequently the prediction error in IOL calculation is expected. Every 1mm of increase in ocular length results in approximately 2.50 D of myopic shift. An axial length measurement error is increased at 4 to 14 D/mm in children compared with 3 to 4 D/mm error in adults(26). Some reports suggest under correction in 20-30%, hyperopia of +6.0 or +8.0 D, expecting this growth of the eye, especially in bilateral cataract and correction with contact lenses in the first months after the surgery(27,28). AL measurements are possible under anesthesia with A-scan ultrasonography, being contact or immersion with 191 equivalent results(29,30). With respect to biometric formulas, they can be used the same as in adults, stressing that Sanders-RetzlaffKraff theoretic (SRK/T) is described as more predictable, following Holladay I and SRK II(24,28,31). There is no agreement about the best time for surgery and IOL implantation. It is advisable to leave aphakia infants less than seven months of life, especially for families who can afford and properly perform the treatment with contact lens (32). However, we expect complications in the eyes of these children to be subjected to secondary implant later and this should be weighed. The primary implant is an option in cases where there is risk of decreasing visual acuity of the child for inappropriate use of contact lens. According to some studies, the correction with primary IOL implantation unilateral results in improved visual acuity, improved binocular vision outcome, but higher rate of complications requiring reoperation(5). Recently, a multicenter clinical trial compared cataract surgery in children less than seven months of age with unilateral CC with and without IOL implantation following in the first 5 years. The long-term monitoring showed no statistical difference in the outcome of visual acuity between groups(33). Aphakia rehabilitation Beyond the diagnostic difficulty, intrasurgical complications, decisions on IOL implantation and postoperative adverse events, the IC requires a rigorous treatment of visual correction and refraction requires more attention, preferably with pediatric ophthalmologist, psychological monitoring and expert fitting of contact lens in children. Contact Lens/Spectacles The infantile aphakia visual rehabilitation is possible with contact lens (CL), soft (SE) or rigid gas permeable (RGP), or spectacles. The recommendation is CL in monocular aphakia and spectacles in bilateral aphakia, but the financial conditions and the family support must be taken into account. The literature shows some successful cases in monocular aphakia with spectables and patching and CL in bilateral aphakia and nystagmus CC(10,34).The CL in children are harder to fit than in adults, but follow the same principles. The rapid growth of the eye during the first 18 months of life requires frequent monitoring(35). At birth the horizontal corneal diameter (HCD) is about 10mm in normal eyes and the corneal curvature between 47 D (7.18mm) and 48.50 D (6.96mm) and close to two years of age is approximately 43,5D and the HCD increases to 11,5mm between 3 and 4 years old(36). The suggestion in newborns with a normal eye is to start with a specifically RGP designed for aphakia infants in flatter curve of the cornea (K), about 7.00 to 7.5 mm and increase frequently about every three months for the infant’s first 12 months. The total diameter fitting in RGP depends on the infant’s age; usually of 10.0 mm, vary 8.3 to 11.2mm and refraction +26 D to +32 D(35,37). The SE about 2.5 to 3.0mm larger than the horizontal visible iris diameter. Newborns should be overcorrected by about +2,50 to +3,00D to focus them at this near viewing point correction at 50 cm and at 18 to 24 months of age should be reduced to +1,00 to +1,50 D, when children starts to become more aware of distant objects and at 3 to 4 years should have appropriate distance correction, with the reading correction then incorporated into a pair of spectacles, usually bifocals or multifocal, to be used over the contact lenses(37). The lens will be removed once a week in particular leaving it in solution. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 189-93 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 191 7/4/2015, 17:12 192 Pena CRK, Jorge PA, Kara-Junior N The silicone hydrogel SE is the type more fitting in pediatrics, is easy to fit, because it is a logical way without keratometry, very stable on the eye and has a good oxygen supply even in a high plus power(32). On the other hand, it does not correct the significant corneal astigmatism, it is more difficult to insert by the parents and loss is not uncommon(35). RGP is even more stable, able to correct for any corneal astigmatism, easier handling and some complications are less common, such as microbial keratitis, corneal vascularisation and pappillary conjunctivitis. However, RGP requires more medical expertise, is more prone to foreign bodies and more easily ejected. Apparently, there are no differences in visual acuity between SE and wearing RGP(38). Secondary IOL implantation In the aphakic infants an elective secondary IOL implantation appears to provide a safe and effective alternative, like in some cases the inability to wear contact lens successfully. The secondary IOL implantation around 2 years in bilateral IC may show better visual prognosis than early primary IOL implantation and can contribute to lowering glaucoma incidence(39). The IOL can be inserted in the capsular bag or in the ciliary sulcus, with/without iris or scleral fixation, depending on the situation(40). Possible complications should be taken into account, such as macular edema and elevated intraocular pressure(15). Ambliopy treatment The risk of amblyopia is greatest during the first year of life. The occlusion therapy with patching should be prescribed soon after the surgery in unilateral or bilateral cataract, around 2-4 weeks at the same time starting the most accurate refractive error correction possible in pseudophakic or aphakia either with spectacles or contact lens(3). If none of these forms work, the choice in those cases is IOL secondary implantation. The period of use the treatment with patch has relation with the age of the patient(3,7,12). Up to 12 months of life in infants that are left with unilateral aphakia, occlusion of the eye not operated for 1 hour daily is recommended and after, a half of awaking hours is indicated, that way forcing the brain to use the suppressed eye(33). In bilateral cases if one eye is more amblyopic than the other the occlusion therapy is necessary and is important alternation the patching among the eyes. In general, the success of occlusion therapy for amblyopia will depend on the age of the patient, the degree of visual impairment and adherence to treatment(41).The duration will depend on recovery of vision during the first decade of life. There must be careful monitoring, to avoid sensory deprivation amblyopia in the eye occluded. A recent study compared children with unilateral IC treatment with IOL implanted at the time of the surgery or corrected aphakia with contact lens showed incidence of nystagmus and fixation instabilities about 60% overall(10). Visual acuity The best choice to measure the best corrected visual acuity in children is the Teller acuity card. It is accurate, is possible estimates of the VA in about 5 minutes and can be use with children starting at one month of age(42). The Visual evoked potentials (VEP) is relatively simple and noninvasive but it is a time consuming procedure. The electrical activity in the brain is measured in response to stimulation of sight and should be indicated as a supplement in special cases(43). Reports shown in unilateral IC with or without IOL implantation underwent surgery before 1 year age, visual acuity about 40 to 50% with poor visual acuity ≤ 20/200.The better vision around 20/32 the vast majority without primary IOL implantation (44). Primary IOL implantation in bilateral CC implantation underwent surgery before 1 year of age mostly lies between 20/25 to 20/100. Secondary IOL implantation around 2 years in bilateral CC implantation underwent surgery before 1 year age mostly lies between 20/100 to 20/40, the latter 40% of the children(45). Almost all these children will be able to attend a normal school. Conclusions and recommendations IC is still a major cause of blindness in the world even with government investments. The prognosis is worse in congenital cataract with associated disorders or unilateral. The timing of surgery is critical, therefore the importance of the red reflex test at birth and forwarding to a reference center. The lens implant is consolidated starting from the age of two, however before this age it is questionable because the literature shows no statistical difference in visual acuity and a greater number of surgical interventions, especially until 12 months of life. Glaucoma is the worst complication and PCO the most common. All methods of visual acuity correction have their limitations and advantages, and the choice must be made individually. The suggestion is to delay IOL implantation if the families can manage contact lens care and expense. The long-term safety remains a consideration. Cataract surgery offers children with this condition the best chance for a full life. R EFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. Reports about visual results after cataract surgery in the children must have careful consideration when compared to each other, because the visual outcome depends on the age of the patient, type of cataract, laterality, the delay until surgery and visual rehabilitation treatment. The chance of amblyopia is higher in unilateral IC, dense lens, delayed surgery and irregular treatment with occlusion or contact lens/spectacle. 7. 8. Resnikoff S, Pascolini D, Etya, Ale D, Kocur I, Pararajasegaram R, et al. Global data on visual impairment in the year 2002.(Policy and Practice). Bull World Health Org. 2004;82(11):844-51. Gogate P, Gilbert C, Zin A. Severe Visual Impairment and Blindness in Infants: Causes and Opportunities for Control. Middle East African Journal of Ophthalmology. 2011;18(2):109-14. Zetterstrom C, Kugelberg M. Paediatric cataract surgery. Acta Ophthalmol Scand. 2007;85(7):698-710. Lin H, Yang Y, Chen J, Zhong X, Liu Z, Lin Z, et al. Congenital cataract: prevalence and surgery age at Zhongshan Ophthalmic Center (ZOC). PLoS One. 2014;9(7):e101781. Rezende MS, Souza SB, Dib O, Branzoni E, Ribeiro LE. Abordagem da catarata congênita: análise de série de casos.Rev Bras Oftalmol. 2008;67(1):32-8. Wilson ME, Trivedi RH, Morrison DG, Lambert SR, Buckley EG, Plager DA, et al. The Infant Aphakia Treatment Study: evaluation of cataract morphology in eyes with monocular cataracts. J AAPOS. 2011;15(5):421-6. Padilha M. Catarata. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2008. 634 p. Tartarella MB, Britez-Colombi GF, Milhomem S, Lopes MC, Fortes Filho JB. Pediatric cataracts: clinical aspects, frequency of strabismus and chronological, etiological, and morphological features. Arq Bras Oftalmol. 2014;77(3):143-7. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 189-93 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 192 7/4/2015, 17:12 193 Intra-ocular lenses and clinical treatment in paediatric cataract 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. Haargaard B, Wohlfahrt J, Fledelius HC, Rosenberg T, Melbye M. A nationwide Danish study of 1027 cases of congenital/infantile cataracts: etiological and clinical classifications. Ophthalmology. 2004;111(12):2292-8. Felius J, Busettini C, Lynn MJ, Hartmann EE, Lambert SR. Nystagmus and related fixation instabilities following extraction of unilateral infantile cataract in the Infant Aphakia Treatment Study (IATS). Invest Ophthalmol Vis Sci. 2014;55(8):5332-7. Rodrigues AC, Prado RB, Miguel L. [Implementation of red reflex exam in children in the area of Botucatu Medical School Clinical Hospital—São Paulo, Brazil]. Arq Bras Oftalmol. 2012;75(5):337-40. Portuguese. Taylor D, Wright K, Amaya L, Cassidy L, Nischal K, RussellEggitt I. Should we aggressively treat unilateral congenital cataracts? Br J Ophthalmol. 2001;85(9):1120-6. Chen TC, Bhatia LS, Halpern EF, Walton DS. Risk factors for the development of aphakic glaucoma after congenital cataract surgery. Trans Am Ophthalmol Soc. 2006;104:241-51. Wiesel TN, Hubel DH. Effects of visual deprivation on morphology and physiology of cells in the cats lateral geniculate body. J Neurophysiol. 1963;26:978-93. Whitman MC, Vanderveen DK. Complications of pediatric cataract surgery. Semin Ophthalmol. 2014;29(5-6):414-20. Kalantan H. Posterior polar cataract: A review. Saudi J Ophthalmol.26(1):41-9. Dick HB, Schultz T. Femtosecond laser-assisted cataract surgery in infants. J Cataract Refract Surg. 2013;39(5):665-8. Jorge Pde A, Jorge D, Ventura CV, Ventura BV, Lira W, Ventura MC, Santhiago MR, Kara-Junior N. Incidence of posterior capsule opacification following the implantation of a foldable hydrophilic acrylic intraocular lens: a 4 year follow-up study.Arq Bras Oftalmol. 2014;77(4):222-4. Jorge Pde A, Jorge D, Ventura CV, Ventura BV, Lira W, Ventura MC, Werner L, Kara N Jr. Late opacification in hydrophilic acrylic intraocular lenses: analysis of 87 eyes in a random sample of 102 patients.J Cataract Refract Surg. 2013;39(3):403-7. Urban B, Bakunowicz-Lazarczyk A. Aphakic glaucoma after congenital cataract surgery with and without intraocular lens implantation. Klin Oczna. 2010;112(4-6):105-7. Plager DA, Lynn MJ, Buckley EG, Wilson ME, Lambert SR. Complications in the First 5 Years Following Cataract Surgery in Infants With and Without Intraocular Lens Implantation in the Infant Aphakia Treatment Study. Am J Ophthalmol. 2014;158(5):892-898.e2. Michaelides M, Bunce C, Adams GG. Glaucoma following congenital cataract surgery-the role of early surgery and posterior capsulotomy. BMC Ophthalmol. 2007 Sep 11;7:13. Jorge Pde A. Intraocular lens opacification. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73(2):69-70. Wilson ME, Jr., Trivedi RH, Buckley EG, Granet DB, Lambert SR, Plager DA, et al. ASCRS white paper. Hydrophobic acrylic intraocular lenses in children. J Cataract Refract Surg. 2007;33(11):1966-73. Kleinmann G, Zaugg B, Apple DJ, Bleik J. Pediatric cataract surgery with hydrophilic acrylic intraocular lens. J AAPOS. 2013;17(4):367-70. Eibschitz-Tsimhoni M, Tsimhoni O, Archer SM, Del Monte MA. Effect of axial length and keratometry measurement error on intraocular lens implant power prediction formulas in pediatric patients. J AAPOS. 2008;12(2):173-6. Dahan E, Drusedau MU. Choice of lens and dioptric power in pediatric pseudophakia. J Cataract Refract Surg. 1997;23 Suppl 1:618-23. VanderVeen DK, Nizam A, Lynn MJ, Bothun ED, McClatchey SK, Weakley DR, et al. Predictability of intraocular lens calculation and early refractive status: the Infant Aphakia Treatment Study. Arch Ophthalmol. 2012;130(3):293-9. 29. Hennessy MP, Franzco, Chan DG. Contact versus immersion biometry of axial length before cataract surgery. J Cataract Refract Surg. 2003;29(11):2195-8. 30. Ben-Zion I, Neely DE, Plager DA, Ofner S, Sprunger DT, Roberts GJ. Accuracy of IOL calculations in children: a comparison of immersion versus contact A-scan biometery. J AAPOS. 2008;12(5):440-4. 31. Kekunnaya R, Gupta A, Sachdeva V, Rao HL, Vaddavalli PK, Om Prakash V. Accuracy of intraocular lens power calculation formulae in children less than two years. Am J Ophthalmol. 2012;154(1):13-9.e2. 32. Efron N, Hough T.Soft lens manufacture. In Efron N, editor.Contact lens practice. Oxford: Butterworth-Heinemann; 2002.p. 85-93. 33. Lambert SR, Buckley EG, Drews-Botsch C, DuBois L, Hartmann E, Lynn MJ, et al. The infant aphakia treatment study:design and clinical measures at enrollment. Arch Ophthalmol.2010;128(1):21-7. 34. Woo M, Isenberg S, Spooner SN, Weissman BA. Long-term visual and ocular health outcomes of 2 sets of bilaterally aphakic siblings utilizing contact lens correction. Cont Lens Anterior Eye. 2013;36(4):207-11. 35. Lindsay RG, Chi JT. Contact lens management of infantile aphakia.Clin Exp Optom.2010;93(1):3 14. 36. Inagaki Y. The rapid change of corneal curvature in the neonatal period and infancy. Arch Ophthalmol. 1986;104(7):1026-7. 37. Ghanem C. Lentes de contato na criança. In: Série de Oftalmologia CBO. III. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. p. 277-91. 38. Russell B, Ward MA, Lynn M, Dubois L, Lambert SR. The infant aphakia treatment study contact lens experience: one-year outcomes. Eye Contact Lens. 2012;38(4):234-9. 39. Speeg-Schatz C, Flament J, Weissrock M. Congenital cataract extraction with primary aphakia and secondary intraocular lens implantation in the ciliary sulcus. J Cataract Refract Surg. 2005;31(4):750-6. 40. Secondary IOL implantation in aphakic children after early surgery for congenital cataracts. Vestn Oftalmol. 2014;130(4):5761. 41. Moore BD. Pediatric aphakic contact lens wear: rates of successful wear. J Pediatr Ophthalmol Strabismus. 1993;30(4):253-8. 42. Hall HL, Courage ML, Adams RJ. The predictive utility of the Teller acuity cards for assessing visual outcome in children with preterm birth and associated perinatal risks. Vision Res. 2000;40(15):2067-76. 43. Riddell PM, Ladenheim B, Mast J, Catalano T, Nobile R, Hainline L. Comparison of measures of visual acuity in infants: Teller acuity cards and sweep visual evoked potentials. Optom Vis Sci. 1997;74(9):702-7. 44. Lambert SR, Lynn MJ, Hartmann EE, DuBois L, Drews-Botsch C, Freedman SF, et al. Comparison of contact lens and intraocular lens correction of monocular aphakia during infancy: a randomized clinical trial of HOTV optotype acuity at age 4.5 years and clinical findings at age 5 years. JAMA Ophthalmol. 2014;132(6):676-82. 45. Kim DH, Kim JH, Kim SJ, Yu YS. Long-term results of bilateral congenital cataract treated with early cataract surgery, aphakic glasses and secondary IOL implantation. Acta Ophthalmol. 2012;90(3):231-6. Autor correspondente: Camila Ribeiro Koch Pena Rua Hilton Rodrigues nº 71, apto. 903 – Ed Torre Molinos, Bairro Pituba CEP 41830-630 – Salvador (BA), Brasil Email:[email protected] Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 189-93 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 193 7/4/2015, 17:12 194 Instruções aos autores A Revista Brasileira de Oftalmologia (Rev Bras Oftalmol.) - ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http://www.icmje.org Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico e foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A versão “on-line” da revista poderá ter artigos apenas em inglês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http://clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e sequencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas sequencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 194-5 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 194 7/4/2015, 17:12 195 Métodos: Deve conter informação suficiente para saber-se o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem defini-los. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style”, conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível, na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ entrez/query.fcgi?db=journals. Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident age-related macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word (r) e as demais em arquivos Microsoft Excel (r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD, com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. Versão português-inglês: Seguindo os padrões dos principais periódicos mundiais, a Revista Brasileira de Oftalmologia contará com uma versão eletrônica em inglês de todas as edições. Desta forma a revista impressa continuará a ser em português e a versão eletrônica será em inglês. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares e Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa, se comprometem a custear a tradução dos artigos para língua inglesa, porém seus autores uma vez que tenham aprovado seus artigos se disponham a traduzir a versão final para o inglês, está será publicada na versão eletrônica antecipadamente a publicação impressa (ahead of print). * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos poderão ser submetidos pela Internet, pelo site rbo.emnuvens.com.br Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 194-5 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 195 7/4/2015, 17:12 196 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (é necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2015; 74 (3): 196 RBO Mai_Jun 2015_Final_Jeronimo.pmd 196 7/4/2015, 17:12