UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ–REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO DE PESQUISAS SOCIOPEDAGÓGICAS
DOCÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
O ENSINO À DISTÂNCIA
ELSON ROBERTO SABACK CHAVES
RIO DE JANEIRO, NOVEMBRO DE 2001
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ–REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO DE PESQUISAS SOCIOPEDAGÓGICAS
DOCÊNCIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO
O ENSINO À DISTÂNCIA
ELSON ROBERTO SABACK CHAVES
Monografia apresentada à Universidade Cândido
Mendes como exigência final do Curso de
Docência do Ensino Fundamental e Médio, sob a
orientação da professora Maria Ester de Araújo
Oliveira.
RIO DE JANEIRO, OUTUBRO DE 2001
AGRADECIMENTOS
À profª. Maria Ester, pela orientação na
elaboração desta monografia.
À minha família, pelo espírito de colaboração,
incentivando-me
e
considerei oportunas.
dando
sugestões
que
“ O que deve ser superado é o discurso e o verbalismo
vazio sobre a educação. O que deve ser instaurada é a
pedagogia que começa pelo diálogo, pela comunicação,
por uma nova relação humana que possibilite ao próprio
povo a elaboração de uma consciência crítica do mundo
em que vive”
Paulo Freire
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 01
CAPÍTULO I – PANORAMA EDUCACIONAL DO BRASIL .............................. 02
1. Diretrizes educacionais e aspectos da legislação ..................................................... 02
2. A Educação no Brasil ................................................................................................ 03
Capítulo II– O ENSINO À DISTÂNCIA: UMA AVALIAÇÃO CRÍTICA ........... 09
1. Características gerais ................................................................................................ 09
2. Retrospectiva histórica ............................................................................................. 14
2.1 . Experiências estrangeiras ................................................................................ 14
2.2 . A experiência brasileira .................................................................................. 17
3. Avaliação .................................................................................................................. 21
Capítulo III – A UNIVERSIDADE ABERTA NO BRASIL .................................... 24
1. Metodologia moderna .............................................................................................. 24
2. O futuro em nossas mãos ......................................................................................... 25
Capítulo IV – POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO
DE EAD ................................................................................................. 27
CONCLUSÃO .............................................................................................................. 29
ANEXO A ..................................................................................................................... 31
ANEXO B ..................................................................................................................... 32
ANEXO C ..................................................................................................................... 33
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 34
RESUMO
O presente trabalho focaliza uma proposta alternativa de metodologia de ensino
com vista à ampliação dos horizontes da Educação no País em todos os níveis. Para isto,
parte da descrição do panorama educacional do Brasil, enfatizando as diretrizes e os
diversos aspectos da legislação pertinente ao assunto. Após breve relato acerca das
experiências nacional e estrangeira, faz uma avaliação crítica dessa modalidade de ensino.
A seguir, delinea os contornos da Universidade Aberta no Brasil, assim como estabelece
políticas e estratégicas de desenvolvimento de EAD. Finalmente, conclui apontando rumos
e sugerindo soluções tendo em vista a melhoria da educação no Brasil.
INTRODUÇÃO
Nos dias de hoje é freqüente nos depararmos com dois tipos de propostas na área
de Educação. Um que privilegia novas formas de pensar, analisar e atuar; e outro que
estimula a domesticação dos indivíduos através de sua adequação à sociedade, seus
conflitos e perspectivas de mudança.
A educação está profundamente ligada ao desenvolvimento de uma nação, pois
através dela as pessoas adquirem uma visão mais ampla de seu meio natural, cultural e
social.
Fator de progresso social, político, cultural e econômico dos povos, a educação é
o melhor instrumento para diminuir a enorme distância que separa os países desenvolvidos
daqueles que não o são.
O homem é o grande recurso das nações. Se as pessoas dispuserem de recursos e
meios que lhes permitam aprender, na certa elas poderão desenvolver a inteligência, a
criatividade, a curiosidade, a capacidade de observar, de indagar, de realizar e de inovar,
tornando-se instruídas e educadas; tudo o mais poderá ser acrescentado no sentido de
melhorar a qualidade de vida e desenvolvimento da cultura.
E gente qualificada, capaz de contribuir para as mudanças e inovações de que o
país precisa, só se obtém através da educação, a começar pelo ensino básico e chegando se
possível até o mais especializado.
A descontinuidade dos planos educacionais, a inércia dos sistemas de ensino, o
desinteresse da sociedade pelo assunto, as ingerências inoportunas têm impedido que se
implante uma política de ensino eficiente e duradoura em nosso país. A educação no Brasil
nunca foi tratada como prioridade, seja pela falta de recursos, seja pelo desconhecimento
de sua importância para o nosso desenvolvimento.
Assim, diante das necessidades enormes da educação brasileira, as pesquisas
apontam para a busca de novas formas capazes de multiplicar a ação educativa, assumindo
um grande compromisso social: promover integralmente o homem e a sociedade da qual
ele faz parte. E esta é uma obra que não se faz isoladamente, é trabalho de todos.
Capítulo I
PANORAMA EDUCACIONAL DO BRASIL
1. Diretrizes educacionais e aspectos da legislação
Os objetivos gerais da Educação Nacional, expressos em leis ordinárias
específicas, referem-se em última instância aos princípios consignados na Constituição
Brasileira de 1988, que preconiza:
- A educação é direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser
promovida com a colaboração da sociedade, no sentido do desenvolvimento pleno da
pessoa, do preparo para o exercício da cidadania e de sua qualificação para o trabalho;
- para que isto ocorra, compete à União legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional, coordenar a elaboração de planos nacionais de educação e prestar
assistência técnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios para o
desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade
obrigatória;
- aos estados, no âmbito de sua atuação, compete legislar concorrente e
supletivamente sobre seu próprio sistema, respeitada a legislação federal.
Promulgada em 20 de dezembro de 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº 9.394/96) constituiu-se no instrumento geral que regula princípios e fins,
direitos e deveres, organização, níveis e modalidades de educação e ensino, ação
educacional e alocação de recursos financeiros.
Numa breve análise dessa lei, percebem-se algumas mudanças substanciais, assim
como algumas contradições em relação à anterior, dentre as quais pode-se destacar:
- O Ministério Público pode acionar o Poder Público e exigir o acesso ao ensino
fundamental. A lei estabelece penalidades;
- as funções do Conselho Nacional de Educação serão de normatização e
supervisão;
- os estados devem assegurar o ensino fundamental, oferecendo com prioridade o
ensino médio. O município deverá oferecer a educação infantil e, com prioridade, o ensino
fundamental. A União não se incumbe explicitamente de nenhum nível de educação;
- definem-se as instituições privadas em particulares, comunitárias e filantrópicas;
- a educação infantil ( 0 – 6 anos) integra a educação básica;
- o ensino à distância é incorporado à nova lei;
- na questão curricular, acolhe experiências, tais como os ciclos no ensino básico;
- cria uma confusão conceitual entre ensino e educação;
- inclui artigos que tratam de profissionais de educação, sua formação e plano de
carreira. Ao elaborar planos de carreira e estatutos, os sistemas de ensino terão de incluir
carga de trabalho para uma melhor qualificação. Estabelece ainda que o docente terá um
piso salarial profissional.
2. A educação no Brasil
O processo educacional visa ao desenvolvimento das potencialidades do
indivíduo, seja de forma assistemática através da influências dos meio de comunicação, das
artes, das convivências humanas, seja de forma sistemática feito pela família, pela igreja,
pela escola.
Os sistemas de ensino regulam essencialmente a parte de instrução de uma
educação sistemática, em regime de colaboração entre União, Distrito Federal, Estados e
Municípios, integrando ainda a rede particular.
As diretrizes educacionais pressupõem sempre a qualidade do ensino e a garantia
dos recursos humanos e materiais que possibilitem seu exercício adequadamente.
No entanto, o Brasil ainda atravessa uma crise social e econômica, com
repercussões de toda ordem, chegando a caracterizar um acentuado aumento de pessoas
que vivem em condições de extrema pobreza, contingente que atinge, hoje, a casa dos 52
milhões.
A renda familiar é decisiva na escolarização das crianças até 14 anos, pois que,
nas famílias com renda per capita de até ¼ do salário mínimo, 72,7% freqüentam a escola.
Esse índice atinge 97% nas famílias com renda per capita superior a dois salários mínimos.
No campo da educação, são por demais conhecidas as dimensões dos problemas
do ensino que se tornam, na realidade brasileira, graves obstáculos à concretização das
propostas educacionais existentes. O quadro geral revela salários extremamente baixos dos
professores; contínuas reprovações desencadeando o conseqüente abandono da escola já
nos primeiros anos de escolaridade; a crescente desqualificação do corpo docente em todos
os níveis e o verdadeiro descaso dos responsáveis pela definição e execução de políticas
educacionais.
É preciso repensar e aquilatar a amplitude e o comprometimento das questões que
permeiam a situação educacional, pois que soluções parciais ou, o que é pior, soluções
marcadas pela descontinuidade muito pouco ou quase nada poderão contribuir para o seu
efetivo equacionamento.
A Constituição prevê que a União deve aplicar no ensino, anualmente, pelo menos
18% da sua receita e os estados e municípios o mínimo anual de 25%. No entanto, os
investimentos públicos na área vêm sofrendo grandes reduções.
Também são graves as disparidades registradas entre os estados, visto que, no Rio
de Janeiro, o custo anual por aluno pode atingir US$ 306.1, enquanto no Piauí não
ultrapassa US$ 32.6.
Embora haja a obrigatoriedade de escolarização completa e de boa qualidade para
todos, decretada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mais de 80% das
crianças que entram na escola não completam o 1º grau.
Estudando-se o fluxo escolar, verifica-se como se dá a evolução da população
estudantil no processo regular de ensino, revelando uma seletividade muitíssimo
acentuada, pois que, de cada 100 indivíduos que entram na escola, somente 6 conseguem
atingir o ensino superior.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD), a
evasão escolar, ou abandono precoce, não passa de 2,3% entre a 1ª e a 2ª séries. No
entanto, a repetência atinge o absurdo índice de 52,4% já no 1º ano. Há uma redução desse
fenômeno nas séries seguintes, mas ainda representa um percentual significativo na 8ª
série, cerca de 20%.
Na verdade, há indícios de que os currículos tenham sido elaborados tendo em
vista a população estudantil de classe média, enquanto que a criança pobre, cujos pais não
são escolarizados e que reside em favelas ou periferias, não dispõe de material de leitura
nem ambiente apropriado para estudar.
Por outro lado, verifica-se ainda que, quando os professores são motivados e
preparados, e por isso mesmo podem adaptar o currículo convenientemente, as
experiências pedagógicas são bem - sucedidas, mesmo com crianças de baixa renda.
Entretanto, é necessário ressaltar que é possível resolver o problema da educação
mediante uma efetiva vontade política, pois que segundo estudos do Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF), em 15 municípios brasileiros foram detectados
consideráveis avanços na área educacional quanto à universalização e à diminuição dos
índices de repetência e evasão. Dentre eles, estão três capitais (Belo Horizonte, Vitória e
Porto Alegre), cinco cidades de médio porte (Jaboatão - PE; Maringá - PR; Ijuí - RS;
Iguatu - CE e Resende - RJ) e outras menores, podendo se destacar o município de Icapuí
(RN) que recebeu o prêmio “Criança e Paz”, da ONU, em 1992.
Enquanto indicador de desenvolvimento sociocultural, a participação relativa dos
diversos graus de ensino no sistema educacional como um todo mostra-nos com bastante
clareza a necessidade de se criarem condições institucionais para implementação de
políticas educacionais com uma visão ampla do sistema e não mais a partir do tradicional
projetismo, do detalhe pedagógico ou do simples repasse de recursos. É fundamental
atacar os aspectos centrais da crise educacional. Analisando-se esses índices de
distribuição pelos diversos níveis do sistema, é interessante destacar que embora ainda haja
4 milhões de crianças fora da escola, o ensino regular de 1º grau apresenta taxas
relativamente altas (76%), significando uma certa garantia do ingresso à educação básica
(em 1950 somente 36,2% das crianças de 7 a 14 anos tinham acesso à escola e em 1990
esse índice chegou a atingir 88%). Em contraposição, há uma alta seletividade no
transcorrer do processo educacional, denotando uma reserva de ensino médio para pequena
parcela dos que a ele chegam (9,5%), onde seria possível oferecer treinamento profissional.
Relativamente ao ensino superior, constata-se o baixíssimo índice de 4,2%.
Além do aumento da oferta de vagas para o 1º grau, outra conquista alcançada
pela educação brasileira nos últimos anos foi a redução do analfabetismo. No entanto, se
medidas efetivas não forem adotadas com rigor, essa conquista, ainda pouco significativa,
não tem a garantia de manter sua continuidade. Temos hoje cerca de 18 milhões de pessoas
analfabetas com mais de 15 anos (18,3%), sendo que, destas, 31% são negras, 29% pardas
e 19% brancas. A previsão mais otimista é de que no ano 2002, para uma população
estimada em mais de 180 milhões de pessoas, cerca de 14% ainda sejam analfabetas.
Estatísticas do MEC, com base em dados do IBGE, constataram também o
envelhecimento da população analfabeta.
Temos ainda a considerar que, nos últimos anos, em função do significativo
decréscimo do poder aquisitivo do povo brasileiro, conseqüência do baixo desempenho
econômico do país, há uma crescente e continuada evasão da escola particular para a
escola pública, tendo em vista que o rendimento mensal familiar inferior a 2 salários
mínimos alcança 44,3% das famílias. Destas, apenas 3,5% conseguem entrar para a
universidade.
Apesar do desencanto da população diante das promessas eleitoreiras dos
discursos políticos e das plataformas de candidatos de apoio aos programas
governamentais, verifica-se que a demanda por educação ainda é expressiva. Ela não se
restringe apenas a pais e educadores, pois que aparece cada vez mais intensa na
participação daqueles que estão vinculados ao setor produtivo, como os empresários, os
dirigentes e os trabalhadores em geral.
Na verdade, a questão educacional pode ser vista como a melhor saída para a
crise que a nação atravessa e como estratégia de desenvolvimento global, com notável
repercussão no processo econômico.
Por outro lado, a revolução tecnológica em curso faz com que as preocupações
com a produtividade sejam direcionadas para a universalização do ensino com qualidade,
principalmente o de nível fundamental, passando a se considerar a escolaridade como fator
de produção, o que torna a educação um requisito tão importante para a competitividade
quanto a tecnologia.
Assim sendo, cabe à escola a tarefa de fornecer uma boa base teórica, já que, para
a qualificação profissional, o mero adestramento de indivíduos pouco escolarizados não
mais satisfaz às novas necessidades da produção, pois que a base de conhecimentos tornouse um atributo mais valorizado, cabendo às empresas complementar a formação
profissional através de programas plenamente estruturados.
Por conseqüência, fortalecida a educação formal, o direcionamento para o
trabalho será decorrente do desenvolvimento cultural e político da própria sociedade. E ao
se perceber a necessidade de priorizar a qualidade da educação, de forma clara e explícita,
devem ser definidas estratégias para avaliação dessa mesma qualidade, no sentido de que
os educadores possam, em última instância, capacitar os estudantes trabalhadores
brasileiros a enfrentar e superar as dificuldades inerentes a todo o processo de
sobrevivência. Para isso, devem contribuir para o pleno desenvolvimento da cidadania e
para a formação de indivíduos verdadeiramente conscientes, participantes e historicamente
engajados com os problemas de seu tempo.
No entanto, examinando o baixo desempenho de nosso sistema educacional,
percebe-se claramente que este não está à altura dessas exigências em decorrência de um
encadeamento de múltiplos fatores.
. a extensão territorial do país retarda sobremaneira a adoção de medidas com o
alcance desejado;
. a distribuição irregular da população, com superpopulação em algumas áreas
urbanas e rarefação em outras, dificulta uma ação eficaz;
. as estruturas administrativas deficientes acarretam uma excessiva centralização
que retarda, quando não impede, um atendimento imediato;
. o controle administrativo, quando exercido, tende a ser predominantemente
formal;
. a desvalorização dos projetos de pesquisa relativos à área (e às ciências sociais e
humanas, de modo geral) é muito freqüente, em contraposição com os incentivos
generosos que são fornecidos aos qualificados como científicos, por pertencerem às
ciências matemáticas ou da natureza;
. a ausência de vontade política, em última instância, constitui barreira decisiva
para a formulação de uma política educacional efetiva.
Cumpre incentivar e promover a dedicação e o esforço dos professores através de
salários dignos, reformulação do sistema de habilitação ao magistério e regulamentação
dos que estão em exercício para que não ocorra desvio para outras ocupações no mercado
de trabalho.
É preciso equacionar o déficit de vagas para atender à demanda crescente por um
ensino integralizado e de qualidade; permitir o acesso e permanência; redefinir currículos
no que concerne a conteúdo e metodologias; priorizar os investimentos de verbas públicas;
definir as responsabilidades dos níveis de governo através de uma ação articulada.
Resumindo, trata-se, na realidade, de uma séria e preocupante disfuncionalidade
no uso dos recursos existentes (financeiros, materiais e humanos) revelando-se mais uma
questão política no que tange ao benefício de segmentos privilegiados e causando
desperdícios por precário gerenciamento. Portanto, faz-se necessário um novo
ordenamento institucional para que se possa efetivamente criar mecanismos realistas para
se promover a educação integral dos estudantes brasileiros em todos os níveis.
Apesar de uma expansão do sistema na década de 70, ainda não se alcançaram
padrões razoáveis de desempenho educacional, pois os óbices que se interpõem são de
diversa natureza e ocorrem em todos os níveis. Para melhor delimitação, podemos assim
classificar:
. o nível de rendimento escolar mantém relação direta com a situação econômica;
. a precariedade de prédios escolares e insuficiência de material de apoio
comprometem as ações educativas do ensino fundamental;
. a inadequação das condições materiais, gerenciais e de capacitação impedem a
eficácia do processo;
. a formação dos professores apresenta algumas deficiências;
. a desatualização de conhecimento recai sobre o processo ensino-aprendizagem;
. a ausência de planos de carreira baseados no mérito desestimula o profissional da
educação;
. a falta de recursos efetivos, ou a sua burocratização, inviabiliza
empreendimentos educacionais;
Cabe definir e implementar políticas contrárias à discriminação e disparidade
econômicas; encarar a educação, de forma operacional e eficaz, como o único meio
verdadeiro de evolução do homem, no sentido de proporcionar-lhe a única chance de
equiparação de oportunidades.
Capítulo II
O ENSINO À DISTÂNCIA: UMA AVALIAÇÃO CRÍTICA
1. Características gerais
Considerar que a educação só é possível mediante a interação professor-aluno no
mesmo lugar físico seria restringir à palavra, ao gesto e ao desenho como únicos meios de
comunicação disponíveis. No entanto, desde que os primeiros homens começaram a
aprender diretamente do texto escrito, o caminho para a educação à distância se encontra
aberto. Posteriormente, com a expansão dos correios, com o surgimento do rádio, da
televisão, do audiocassete, do videocassete, etc. cada vez mais o papel do professor como
agente educador passou a ser partilhado com os meios.
A adoção massiva e universal da teleducação demonstra que já não existem
dúvidas que a educação mediatizada através da comunicação aprovou inteiramente. Que
ela seja boa ou má dependerá, assim como nos sistemas tradicionais, da qualidade de seu
corpo docente, do material didático a seu dispor, das formas de contato.
Os dados referidos aos problemas da educação brasileira acenam para a busca de
novas formas capazes de multiplicar a ação educativa. Assim, a educação à distância
através de metodologias indiretas e semi-indiretas pode estender os benefícios da educação
a todos, desde a alfabetização, onde se pode conjugar o uso do material impresso com o
material auditivo e visual, passando pelo primeiro e segundo graus, até a educação
superior, onde atinge hoje no mundo 20% dos estudantes e, se considerarmos a pósgraduação, mais de 30%.
Considerar o ensino à distância implica enfatizar a autoformação, e a tecnologia
hoje coloca à disposição do aluno métodos e materiais que permitem a auto-aprendizagem,
tornando-o cada vez mais mestre de si mesmo. Quem aprendeu a aprender pode aprender
sempre. Quem adquiriu o hábito da leitura, da observação e da crítica dos ambientes e dos
fatos, dos aspectos culturais, sociais e políticos, próximos ou distantes, inicia uma
caminhada para a sua integração na complexidade dos dias atuais.
Além de atender à clientela que normalmente seria da escola regular
(alfabetização, 1º e 2º graus e cursos superiores), o ensino à distância tem um grande
campo na educação permanente e na educação continuada, pois hoje é uma necessidade
que o indivíduo se eduque durante toda a vida e a Escola Aberta, com seus horários
flexíveis e sua preocupação com a autoformação, é o caminho seguro para o
aprimoramento de todos.
Portanto, quer no atendimento à clientela que não obteve a educação básica no
tempo devido ou mesmo a formação profissional, quer para prover às necessidades da
atualização contínua dos conhecimentos, a educação à distância é fundamental para as
exigências de nossos dias.
Verificando-se as diferenças essenciais entre a educação convencional e a
teleducação, podemos descrevê-la então como: uma organização de ensino e aprendizagem
na qual estudantes de variadas idades e antecedentes estudam em grupo e / ou
individualmente em seus lares ou locais de trabalho, com materiais auto-instrucionais
produzidos centralmente, distribuídos através de uma variedade de meios e com
comunicação regular e interativa entre estudantes e professores.
Utilizando todos os veículos de comunicação, tanto os meios de massa (rádio e
televisão) quanto os meios grupais (áudio e videocassete) e também os meios individuais
(telefone e correspondência), na verdade o segredo está em combiná-los (meios escritos,
visuais e audiovisuais, assim como meios impessoais e pessoais) aproveitando o melhor de
cada um e procurando não incorrer em gastos excessivos.
No ensino regular o professor pode perceber de imediato a reação dos alunos ao
aprendizado, esclarecendo as dúvidas, direcionando estratégias. Já no ensino à distância,
no momento de elaborar o material, o professor deve imaginar a presença dos alunos,
simular as possíveis dúvidas, para poder bem organizar o seu ensino através da autoinstrução.
Considerando o atendimento às diferenças individuais, o ensino à distância deve
estar fundamentado em dois princípios teóricos: a aprendizagem para o domínio e o ensino
baseado em competência.
Da aprendizagem para o domínio, as idéias de Benjamim Bloom servem de
suporte ao ensino, quando diz que “a maior parte dos estudantes (cerca de 90%) pode
dominar o que temos a ensinar-lhes, e é tarefa da instrução descobrir os meios que lhes
permitirão atingir o domínio do assunto em estudo”. Bloom colabora para a efetivação da
aprendizagem, alertando os educadores e demais envolvidos no processo para a
importância do atendimento às diferenças individuais que norteará a escolha das estratégias
de ensino e a previsão do tempo necessário para que o aluno aprenda.
Portanto, alguns princípios devem estar presentes no momento da produção de
material para ensino individualizado à distância:
. a aprendizagem deve ser bem-sucedida e gratificante;
. o domínio da aprendizagem é teoricamente disponível para todos;
. os indivíduos diferem em suas aptidões para tipos particulares de aprendizagem;
. a instrução deve ser adaptada às necessidades individuais, tornando-se
necessários meios alternativos;
. o tempo que o aluno se dispõe a gastar na aprendizagem relaciona-se com
atitudes e interesse em aprender;
. a procura de recompensa e a evidência de sucesso podem aumentar a
perseverança (disponibilidade de tempo);
. se a instrução e o uso do tempo se tornarem mais eficazes, a maioria dos alunos
necessitará de menos tempo para atingir o domínio do assunto.
Em relação ao ensino baseado em competência, alguns fatores devem ser
considerados, pois que interferem diretamente no aprendizado. Exemplo: o interesse, a
motivação, a frustração, a ansiedade e o autoconceito. O professor deve então procurar
despertar o interesse do aluno, motivá-lo para querer aprender, evitar frustrações por
insucessos, criar clima propício, diminuindo a ansiedade em relação às avaliações e
incentivando-o a desenvolver um autoconceito positivo.
O ensino à distância pode ser utilizado tanto na educação formal (de modo
sistemático, seqüencial, implicando
creditação) quanto na educação não-formal, sob
formas diferenciadas. Dentre as aplicações possíveis na teleducação formal, podemos citar
como mais frequentes:
- educação de 1º e 2º graus para crianças e jovens em lugares isolados sem escola;
- educação supletiva ou compensatória de adultos para os que não completaram
sua escolaridade na infância;
- complementação de programas escolares, integrando os programas regulares;
- formação profissional ou ocupacional através de cursos oferecidos por
organizações oficiais ou particulares (eletrônica, costura, cosméticos, computação, etc);
- ensino universitário aberto, no qual as pessoas podem obter títulos de nível
superior estudando por rádio, TV ou com material impresso;
- educação permanente e reciclagem profissional, onde as pessoas possam
atualizar-se nas inovações e avanços de sua especialidade ou mudar de profissão;
- formação e reciclagem de professores.
- A teleducação não-formal permite prestar serviços a todos os setores, podendose destacar:
- capacitação em serviço de pessoal de empresas e organizações;
- cursos de extensão universitária, em cursos de cultura geral ou especialidades
tais como desenho, pintura, fotografia, etc.
- extensão rural, desenvolvendo programas de floricultura, apicultura, essências
vegetais, etc.
- educação popular, abrangendo temas de Educação para a Saúde, Organização
Comunitária, Capacitação para o Trabalho, Orientação Política, sendo utilizados por
famílias e grupos, em reuniões, isoladamente ou sob a supervisão de promotores;
- estímulo ao hábito de leitura;
- iniciação e formação religiosa com o propósito de aumentar os conhecimentos,
promover a reflexão, etc.
Mas como o autodidatismo não é um hábito generalizado, a teleducação utiliza
mecanismos de realimentação onde o aluno é informado constantemente de que está
realmente aprendendo. Embora possa ser realizada por diversos meios, o mais freqüente é
o preenchimento de folhas de auto-avaliação ao completar uma unidade de aprendizagem,
que devem ser enviadas ao professor ou centro para que sejam corrigidas e comentadas.
Para o bom funcionamento de um sistema de educação à distância é necessário
que as pessoas que tenham vontade de aprender sejam impulsionadas pela necessidade de
adquirir conhecimentos, dispondo de meios de comunicação que as atinjam e, por outro
lado, haja uma organização docente capaz de ensinar através desses meios de
comunicação, mantendo diálogo permanente com os alunos.
Tecnicamente, o sistema compõe-se de diversos subsistemas complementares que
devem estar perfeitamente integrados:
- subsistema de direção, encarregado do planejamento, administração e
financiamento;
- subsistema de produção de mensagens educativas que, com base nos objetivos
de planejamento, na clientela e área geográfica do programa, fará um levantamento das
necessidades educativas do setor da população, nível atual de conhecimento e habilidades
deste público, selecionando conteúdos apropriados e escolhendo a metodologia adequada
e o processo avaliativo (área dos pedagogos);
- subsistema de difusão e de distribuição das mensagens, que pressupõe a tradução
dos objetivos e conteúdos educativos em programas de rádio ou TV, fascículos impressos
ou outro meio (área dos comunicadores);
- subsistema de recepção e de utilização, que pode ser realizada por diversas
modalidades: recepção aberta, onde não há compromisso algum com o sistema de ensino;
recepção controlada, quando conta com telepostos ou centros regionais dotados de
“monitores” para entrega de material, esclarecimento de dúvidas e promoção de encontros
entre os estudantes; recepção organizada, onde a recepção dos programas é feita em
grupo nos telepostos, sob a orientação do monitor; e recepção integrada, quando os
programas de rádio ou TV e os materiais instrucionais complementam as aulas
convencionais do professor nas escolas;
- subsistema de realimentação da aprendizagem, para que possa promover a
segurança e a permanência do aluno no sistema.
Finalmente, para que um programa teleducativo funcione eficientemente, torna-se
necessária a participação de diversos profissionais e especialistas (recursos humanos) e,
conseqüentemente, de recursos financeiros.
Os recursos humanos mais importantes são: planejadores, pedagogos (especialistas
em currículo, produção de materiais, avaliação, tutoria), comunicadores (radialistas,
produtores de TV, jornalistas), técnicos eletrônicos, desenhistas, supervisores, avaliadores,
pesquisadores, monitores. Também não se pode desprezar a participação de diversos
especialistas, tais como agrônomos, botânicos, zootecnistas, médicos ou sanitaristas, além
de livros, enciclopédias e outros textos onde o conhecimento já está organizado e
disponível.
A produção do ensino à distância necessita, portanto, de mão-de-obra
especializada, que requer treinamento e supervisão técnica permanentes. O material
impresso nem sempre pode ser o mesmo usado nos textos de apoio da educação
tradicional, devendo contar com pessoal bem preparado e capaz de dar assistência
individualizada ao aluno ao fazer o acompanhamento constante do desenvolvimento de sua
aprendizagem. O processo de avaliação precisa estar muito bem definido e planejado.
Cabe ainda observar que a teleducação não privilegia, qualquer dos meios de
comunicação. É preciso analisá-los todos, levando em conta a maior adequabilidade do seu
uso separadamente ou combinado, formando, então, um sistema de multimeios.
2. Retrospectiva histórica
2.1 Experiências estrangeiras
A maioria das experiências internacionais de ensino à distância foi direcionada à
educação de nível superior, com as chamadas “Universidades Abertas”. São muito
conhecidos os trabalhos realizados na Inglaterra, por meio de textos, rádio, televisão e
centros de estudos. Em 1971, 43.000 candidatos disputaram as 24.000 vagas oferecidas
pelo então novo sistema de educação universitária. O exemplo da Open University de
Londres foi seguido por vários países, como Espanha, Venezuela, Rússia, Tailândia,
Estados Unidos, Canadá, Cuba e Angola, dentre outros.
No Canadá, Austrália e Nova Zelândia, a educação à distância constitui um papel
muito importante, minimizando os problemas das longas distâncias aliados à rarefação da
população.
O Instituto Hermods, na Suécia, desenvolve programas de expansão da educação
secundária e da educação permanente ou contínua.
O sistema de teleducação da França atinge todas as camadas da educação e, na
Alemanha, a Fernuniversitat, entre outras instituições, mantém programas abertos e à
distância que têm mais de um século de vida.
Na Espanha, a Universidad de Educación a Distância (UNED) admitiu, em 1974,
22.000 alunos, nas áreas de Direito, Geografia e História, Filologia, Filosofia e Ciências da
Educação, Engenharia Industrial, Ciências Econômicas e Empresariais, Ciências Físicas,
Químicas e Matemáticas. Centros Associados Regionais são utilizados para a convivência
e conhecimento mútuo de professores-tutores e alunos, organização das tutorias e avaliação
de provas.
A China, detentora da maior universidade do mundo, a Universidade Chinesa por
Televisão, apresentou ao Banco Mundial um projeto-piloto visando atingir cerca de 2
milhões e meio de estudantes.
Na Argentina, são várias as universidades que já têm ou estão se preparando para
ter cursos à distância. O programa UBA XXI, da Universidade de Buenos Aires, oferece
uma nova modalidade para cursar o Ciclo Básico Comum Universitário, tanto para alunos
regulares ou internos como para alunos externos. Interessante destacar que os docentes
titulares das matérias estão presentes nas emissoras de rádio e respondem às perguntas que
os alunos formulam. O sistema oferece ainda atenção telefônica e pessoal. Através da sua
Faculdade de Odontologia, a UBA também desenvolve um programa de atualização
científica a dentistas radicados em zonas remotas do país, que trabalham em serviços
hospitalares oficiais e na prática particular. Além da UBA, podemos destacar ainda os
trabalhos da Universidade de Belgrano, de Mar del Plata e Córdoba.
Na Venezuela, a Universidade Nacional Aberta (UNA), criada em 1977, é uma
instituição diferenciada das outras universidades. A oferta de matrículas da UNA, em
muitos aspectos, duplica a das universidades regulares.
No México, quatro instituições desenvolvem programas de educação superior
aberta: a Universidade Pedagógica Nacional, a Universidade Nacional Autônoma do
México (estabelecida como parte da própria universidade, aproveitando sua infra-estrutura
acadêmica, técnica e de recursos), a Direção Geral de Institutos Tecnológicos e o Instituto
Politécnico Nacional. Este conjunto de programas é supervisionado por setor especializado
da Secretaria Nacional de Educação Pública.
Em Cuba, o ensino à distância é oferecido em todo o país, e para isso conta com
15 centros encarregados de atendê-lo em todo o território nacional. Surgiu em 1979-80,
coincidindo com a década do auge desta modalidade em nível mundial. Requer o
envolvimento de 7 faculdades e 32 departamentos docentes dos quais participam mais de
500 professores. Atualmente, conta com mais de 25.000 alunos, sendo 11.000 na
Universidade de Havana. No ato da matrícula, em cada um dos 5 cursos oferecidos os
estudantes podem selecionar as matérias que desejarem, desde que na ordem de
procedência, optando por um plano de estudos em correspondência com suas aptidões,
disponibilidade de tempo, motivações e experiências. Os 5 cursos oferecidos são de
licenciatura
nas
áreas
de
Direito,
História,
Informação
Técnico-Científica
e
Biblioteconomia, Contabilidade e Finanças, e Economia. A qualificação dos exames é feita
por docentes especialistas mediante uniformidade dos critérios de avaliação em nível
nacional.
O sistema de avaliação culmina com um exame numa instituição de ensino estatal,
quando o estudante passa por uma banca de especialistas.
Já na República Popular de Angola a questão educacional reveste-se de
características bastante especiais e peculiares ao cenário local. O programa educacional à
distância, implementado na década de 80, não pôde ser desvinculado da situação do país,
que enfrentava a guerrilha, com a força produtiva dispersa, os recursos financeiros
concentrados no combate à guerrilha e a impossibilidade de acesso a muitas regiões. Um
país dotado de elevado índice de analfabetismo (85%), com deficiências censitárias que
permitissem estimar a demanda por alfabetização, a diversidade de línguas, os quadros
profissionais demasiado escassos (a maioria absoluta dos professores contava somente com
quatro anos de escolaridade), a pobreza como fator dominante, marcada por carências de
toda espécie, e ainda, política e administrativamente dividida em províncias, cada uma com
seu governo local. A estrutura educacional regular era ordenada em séries anuais
seqüenciadas com a duração, do básico ao final do médio, de 12 anos. Considerando a
inexistência de uma rede física suficiente para acolher a população, a ausência de pessoal
docente qualificado e o acesso impossível a muitas localidades, o Ministério da Educação
(MED), após estudos desenvolvidos junto à UNESCO, concluiu pela adoção do ensino à
distância, com o projeto Superação. Na fase inicial do projeto, desenvolvido por ensino
presencial, era preciso preparar o grupo de servidores do Ministério quanto a: educação de
adultos, ensino à distância, elaboração de material instrucional, trabalho em grupo,
avaliação de aprendizagem, técnicas de ensino, etc. Concluída esta fase, procedeu-se ao
levantamento da clientela potencial, definindo-se o grupo a ser atingido, o provimento de
condições para operacionalização e o cadastro da clientela. No primeiro momento, a
atuação seria apenas na 5ª e na 6ª séries; posteriormente seria ampliada até ao nível de 8ª
série e, só mais tarde, seria atingida até a 12ª classe, em nível totalmente profissional de
magistério. O material instrucional seria prioritariamente escrito e só em fase posterior,
apoiado por rádio e televisão (apenas parte do território).
Ao longo do desenvolvimento do projeto, foram introduzidas algumas
modificações em conseqüência do acompanhamento do processo, do aperfeiçoamento da
impressão do material, da aquisição de novos materiais, dos estágios de aperfeiçoamento
no Brasil concedidos a 48 técnicos do MED.
Foi possível que 6.000 professores atingissem o nível de 6ª série e cerca de 3.500,
o nível de 8ª série, o que representou um esforço incalculável, tendo em vista as acentuadas
dificuldades em decorrência da situação nacional e da lentidão da aprendizagem de
procedimentos grupais.
Convém registrar que nas avaliações dos peritos da UNESCO e do Banco
Mundial, os resultados justificaram a ampliação do investimento, inclusive introduzindo o
ensino à distância no Instituto Superior das Ciências da Educação.
2.2 A experiência brasileira
A teleducação no Brasil começou em 1923, com a fundação da Rádio Sociedade
do Rio de Janeiro por membros da Academia Brasileira de Ciências, com a liderança de
Henrique Morize e Roquete Pinto. A emissora foi doada ao Ministério de Educação e
Saúde em 1936.
Na década de 60 iniciou-se a ação sistematizada do Governo Federal em
radiodifusão educativa, evoluindo posteriormente com a criação do Programa Nacional de
Teleducação (PRONTEL), já em 1972, com o objetivo de integrar, em âmbito nacional, as
atividades educativas através de rádio e TV, conforme a Política Nacional de Educação.
No período compreendido entre 1966 e 1974, foram instaladas nove emissoras de
televisão educativa em vários estados da federação.
A partir de 1970, uma portaria do Governo Federal estabeleceu a obrigatoriedade
da transmissão gratuita de programas educativos em emissoras comerciais.
Desde 1972 a FUNTEVÊ (antes Fundação Centro Brasileiro de Televisão
Educativa), vinculada ao MEC, propiciou o fortalecimento do Sistema Nacional de
Radiodifusão Educativa (SINRED), pela conjugação de diversas instituições em todo o
país, atingindo em 1990 mais de 40 emissoras de rádio e TV.
Várias são as experiências brasileiras de educação à distância formais e nãoformais, tendo algumas obtido alcance massivo, outras com destaque por suas inovações
ou por abordagens pedagógicas e metodologias diferentes. Dentre elas, podemos destacar:
- Movimento de Educação de Base (MEB). Teve início em Natal (RN) em 1959 e,
em convênio com o MEC e a CNBB, expandiu suas atividades aos estados nordestinos,
constituindo-se no maior sistema teleducativo não-formal até hoje desenvolvido no país.
Enfatizando o “monitor” como catalisador social e adotando uma abordagem pedagógica
ao mesmo tempo problematizadora e globalizadora, chegou a alfabetizar (entre 1962 e
1964) quase meio milhão de camponeses nordestinos, tendo recebido o prêmio REZA
PAHLEVI, da UNESCO, pela alta qualidade de seu trabalho.
- Centro Educativo do Maranhão (CEMA). Através da TV Educativa do estado e a
pedido do governo, começou a transmitir, em 1969, programas em circuito fechado,
inicialmente para 1.304 alunos da 5ª série, ampliando em 1970 para a 6ª série, quando se
criou a Fundação Maranhense de TV Educativa. Em 1981, as matrículas subiam para
26.000, e em 1987 já atingiam 28 municípios. Atendendo prioritariamente a alunos da
periferia, de famílias de baixa renda, e sendo sua preocupação maior educar para o
trabalho, introduziu inovações tanto no que diz respeito ao conteúdo como ao processo.
- “TV Escolar”. Desenvolvida pela TVE Ceará, seu objetivo é dar às populações
do interior a complementação às quatro ultimas séries terminais do 1º grau. A recepção é
feita em telessalas, em circuíto aberto, sob orientação, em turmas de 40 alunos. Após a
aula, o orientador realiza o jogo de percepção (individual ou em grupo) que, com manual
de apoio e dinâmica de grupo, permite que os alunos cheguem às suas próprias conclusões.
Iniciou em 1974 com 4.200 alunos. A TVE Ceará recebeu reconhecimento internacional
pela qualidade de suas atividades (UNESCO e OEA).
- Fundação Padre Anchieta. Criada pelo governo do Estado de São Paulo em
1967, destacou-se por incentivar a comunicação no sentido do telespectador para a
emissora. Colaborou na redução da marginalização educacional por meio de cursos
supletivos e enriqueceu o ensino de 1º grau através de programas de apoio e treinamento de
professores. Ofereceu também cursos profissionalizantes e educação pré-escolar.
Estabeleceu telepostos mantidos pela própria Fundação e pela iniciativa de funcionários
pertencentes a agremiações comerciais, industriais e bancárias e outras coletividades
(hospitais, presídios, etc.).
- Projeto SACI (Sistema Avançado de Comunicações Interdisciplinares).
Concebido, financiado e administrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) em São José dos Campos, como o objetivo de estabelecer um sistema nacional de
teleducação via satélite, iniciou-se em 1973 no Rio Grande do Norte, chegando a atingir
500 escolas. Destinava-se às 3 primeiras séries do 1º grau e ao treinamento de professores.
Contribuiu também para a implementação de um curso de mestrado em tecnologia
educacional.
- Projeto Minerva. Desde 1970 transmitiu em cadeia nacional uma série de cursos
para uma população de baixo nível socioeconômico que não se escolarizara na idade
apropriada (Madureza Ginasial e Supletivo de 1º Grau). Através de fascículos impressos,
os alunos acompanhavam as aulas em recepção organizada, recepção controlada e recepção
isolada, realizando testes trimestrais de avaliação e exames supletivos finais, obtendo
certificados de conclusão.
- Curso “João da Silva”. Destinado às quatro primeiras séries do 1º grau e
adaptado ao formato de telenovela, desenvolveu-se como um conjunto de ações e
acontecimentos da vida real cabendo aos atores, no transcurso da representação, a
transmissão de ensinamentos pedagógicos de conteúdo programático, inseridos nos scripts
de 100 capítulos de novela, 25 aulas retrospectivas, 10 programas complementares e 5
livros de apoio. Pioneiro no Brasil e no mundo, conquistou grandes audiências e atraiu
visitantes de vários países, tendo em vista o tratamento dado ao “formato - conteúdo metodologia” através do ensino por unidade, com conhecimentos globalizados, sem a
utilização de disciplinas estanques.
- Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), hoje chamado Fundação
EDUCAR. Dentro de uma perspectiva de sistema de multimeios, integrou 60 programas de
TV para um Projeto de Alfabetização Funcional, no formato de teleaula dramatizada.
Iniciou-se em 1979, através de recepção organizada, controlada ou livre, chegando a
abranger todas as capitais brasileiras e suas periferias.
- Telecurso 2º Grau. A partir de 1978, irradiou-se por todo o país, através da
Fundação Padre Anchieta (TV Cultura de São Paulo) e da Fundação Roberto Marinho.
Combinando programas de TV diários com os fascículos vendidos nas bancas de jornais, o
curso envolveu todas as matérias do currículo e, de um modo geral, possibilitou que seus
alunos obtivessem melhor desempenho nos exames supletivos do que os demais
candidatos, especialmente em História e Geografia.
- LOGOS II. Com a finalidade de habilitar professores não titulados das redes
escolares, que se encontram praticando a docência nas quatro primeiras séries do 1º grau,
através de Núcleos Pedagógicos instalados pelas Prefeituras e pela utilização de módulos
de materiais impressos, o Projeto obteve alcance nacional. De posse dos materiais, os
professores e alunos são assistidos por Orientações de Aprendizagem, nestes núcleos,
submetendo-se a avaliações periódicas, e realizam encontros pedagógicos mensais com
trabalhos de grupo, dramatizações e prática de ensino.
- A Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A UERJ tem uma experiência na
Faculdade de Educação, com núcleos de pequena duração, para montagem de curso de
pós-graduação na área de Metodologia do Ensino Fundamental e Médio, pela forma semi–
indireta, expandido para Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Matemática.
- Centro Educacional de Niterói (CEN) da Fundação Brasileira de Educação. Desde
1977, desenvolve o Projeto Ensino Individualizado do 1º e 2º graus na forma semi-indireta
com módulos instrucionais para cada disciplina e núcleos pedagógicos com orientadores de
aprendizagem (funcionando em associações comunitárias, associações de moradores,
empresas, locais cedidos pelo Exército e pela Marinha). O aluno escolhe as disciplinas,
num máximo de três em cada período. Quando julgar que domina os conteúdos, realiza as
provas no núcleo pedagógico. O critério de aprovação é extremamente rigoroso, pois o
aluno deve atingir 80% de acertos em cada uma das avaliações. O Conselho Federal de
Educação autorizou o CEN a certificar a conclusão do curso, tanto de 1º quanto de 2º grau.
- Projeto CRESCER. Proposta também do CEN, este projeto destina-se à formação
de professores de 1º grau, em duas vertentes principais: proporcionar aos que já são
professores de 1ª a 4ª série estudos adicionais para 5ª e 6ª séries (duração: 12 meses);
atender aos que têm o 2º grau e desejam ser professores de 1ª a 4ª série – complementação
pedagógica (duração:13 meses ). É realizado em convênio com as prefeituras municipais.
O currículo dos cursos atende aos pressupostos legais em vigor no que se refere à parte de
formação especial para o magistério, especificada no Parecer 349/72 do CFE. A
metodologia adotada pressupõe auto- estudo assistido para alcançar a competência,
admitindo-se como critério o percentual de 80% de acertos em cada uma das avaliações,
que são realizadas nos encontros pedagógicos. O acesso aos cursos é feito através de
convênios ou contratos firmados entre os órgãos oficiais e/ou particulares interessados e o
CEN. Os cursistas que cumprirem todas as exigências curriculares e demonstrarem
desempenho de acordo com o critérios estabelecidos receberão diploma de conclusão.
Diversas outras experiências têm sido realizadas tanto a nível de organizações
oficiais (CAPES – EMATER – COBAL – EMBRATER – SENAC) como de instituições
privadas sem fins lucrativos (FEPLAM, ABT), com projetos educativos que vão desde a
educação para o trânsito urbano, educação de agricultores, de técnicos e funcionários, até
docentes universitários em cursos de pós-graduação. A era do ensino superior aberto
chegou ao Brasil com algumas experiências isoladas, como a da Universidade Federal do
Maranhão e da Universidade de Brasília.
Além dos exemplos de iniciativas de incentivo à educação à distância aqui
apresentados, outras vêm sendo implementadas nos últimos anos, tanto no Brasil quanto
em âmbito mundial. A educação continua sendo prioridade nos países que a compreendem
como infra-estrutura do desenvolvimento e meio de melhorar as condições de vida do
povo.
3. Avaliação
O termo “à distância” refere-se basicamente à interação entre a fonte do estímulo
e o destinatário do estímulo. Neste sentido, a educação à distância é bastante diferente do
ensino regular convencional, pois que o professor só se faz presente através de um canal de
comunicação. Desta forma, nesta modalidade de ensino a tecnologia educacional deve ser
caracterizada como insumo fundamental, pois é através das técnicas racionais de
planejamento, desenvolvimento e avaliação que o diálogo educativo se processa.
É preciso ter em mente que, na teleducação, o estudante ingressa no sistema
voluntária e livremente, podendo sair a qualquer momento, se ela não lhe oferecer
incentivos de certa forma poderosos para nela permanecer.
Assim sendo, através de contato permanente com professores, mesmo distantes, o
aluno deve receber orientações adicionais às contidas nos programas recebidos, de natureza
individual, específica e até afetiva.
A tarefa de pedagogos e comunicadores que trabalham no sistema deve levar em
conta que o aluno terá que aprender sozinho sem a ajuda de professor algum junto a ele.
Isto os obriga a ter excepcional atenção na qualidade auto-instrucional das mensagens e
materiais elaborados.
Se por um lado a teleducação permite alcançar um grande número de pessoas e
grupos separados por distâncias físicas e sociais, por outro exige uma clientela
suficientemente abundante e dispersa para justificar sua implantação e reduzir custos.
Enquanto facilita o aprendizado no próprio lar ou local de trabalho, o fato de os
conteúdos serem iguais para todos, através de um curso pré-produzido, leva à
massificação, quando o ideal seria a diversificação: Seria também uma freqüente
renovação, levando em conta as reações dos alunos e a própria mudança da realidade, mas,
por motivos econômicos, isso não é tarefa fácil.
A teleducação adapta-se ao ritmo de aprendizagem de cada indivíduo, permitindo
liberdade de ação, de acordo com suas características pessoais. No entanto, em nossa
cultura, o autodidatismo não é um hábito e muitas pessoas não confiam num sistema
educativo sem professores, ou mesmo não progridem e se desinteressam pelo aprendizado
sem estímulo/cobrança presencial.
A educação à distância é um processo oneroso e de difícil operacionalização, pois
envolve gastos substanciais para preparo e impressão do material instrucional, seleção e
treinamento de todo o pessoal envolvido, principalmente professores - monitores,
instrutores e especialistas na elaboração de módulos. No entanto, por utilizar relativamente
poucos instrutores na elaboração desses materiais didáticos, torna-se possível recrutar os
melhores especialistas em cada matéria, colocando seus conhecimentos e experiência a
serviço da ampla população de alunos. Este fato cresce de importância quando constatamos
a carência de instrutores qualificados para enfrentar uma demanda elevada de estudantes
na educação presencial.
Paralelamente, ao economizar pessoas, transporte, alojamento e alimentação, bem
como o tempo de ausência do trabalho, reduz consideravelmente o custo de capacitação
por estudante. Quanto ao preço dos materiais, que são produzidos em escala semiindustrial, embora possa ser elevado no investimento inicial, passa a ser bastante moderado
ao se considerar o seu custo- benefício.
O especialista elaborador do material instrucional deve, continuadamente,
procurar orientar e conduzir o cursista à reflexão, passo a passo, estimulando o seu
desempenho, valorizando seu esforço para aprender e fazendo-o compreender que ninguém
pode aprender por ele. Alguns autores afirmam que esta capacidade se transfere para
muitas outras manifestações do comportamento pessoal, favorecendo, em última instância,
o aperfeiçoamento individual integrado.
Cabe ressaltar como subproduto da teleducação o desenvolvimento da capacidade
de autodidatismo, tornando o indivíduo mais autônomo e independente, com maior
iniciativa e capacidade para tomar decisões.
A suposta unilateralidade dos meios de comunicação à distância não pode mais
ser considerada como obstáculo para a educação de nível crítico e participativo, pois as
diversas experiências já demonstram que o avanço tecnológico pode, e deve, ser orientado
na direção do diálogo, da reflexão e da participação.
Ao longo de todo o processo, a finalidade última deve ser ajudar o aluno a
desenvolver sua capacidade de cidadão numa sociedade aberta e democrática, o que requer
mais do que a habilidade de aprender.
É provável que no futuro haja uma incremento em variedade, freqüência e alcance
das aplicações do ensino à distância, à medida que a população dos países em
desenvolvimento elevem seu nível de aspirações a uma melhor qualidade de vida através
de maior domínio da tecnologia e das técnicas sociais. Assim sendo, os governos com
poucos recursos para atender a esta demanda devem levar em conta as vantagens que a
teleducação oferece, procurando corrigir ou, pelo menos, minimizar suas limitações, numa
consciência clara de que a modalidade de ensino, em si mesma e a priori, não é a solução
integral para todos os problemas educacionais.
Nenhuma estratégia isolada, de qualquer natureza, vai operar o milagre de
reconstruir a escola e a sociedade brasileiras. A transformação da consciência dos
professores, pressionados pela vontade coletiva e mobilização do seu grupo, é que
permitirá aos profissionais da educação buscar os elementos subjetivos e objetivos para
trabalhar no rumo certo, dando o melhor de si, sentindo-se capazes, preparados, dispostos e
disponíveis para contribuir na construção de um processo de humanização e de ação
qualitativa e democrática.
Capítulo III
A UNIVERSIDADE ABERTA NO BRASIL
1. Metodologia moderna
Para a implantação de um Sistema Nacional de Ensino Superior Aberto à
Distância, no Brasil, contribui decisivamente a existência de um amplo parque editorial, de
inúmeras emissoras de rádio (mais de mil) e de televisão, além de uma excelente rede de
comunicação postal, telefônica e via satélite. Não foi por outra razão que o Congresso
Nacional recebeu em 1972 o primeiro projeto de lei criando a Universidade Aberta, o que
se repetiu em 1987.
Os ministros Hugo Napoleão (1988 e 1989) e Carlos Sant’Anna (1989 e 1990)
criaram grupos de trabalho para estudar a educação aberta à distância, entendida como uma
moderna metodologia capaz de revolucionar a nossa política de recursos humanos. Alguns
experimentos chegaram a ser financiados pelo MEC, em 1989, como o programa de
educação continuada para professores de Matemática e Ciências do 1º grau (FUNBEC),
formação de especialistas em educação à distância (Universidade de Brasília), criação do
Centro de Educação à Distância da UERJ, Projeto Vitória-Régia (Secretaria de Educação
do Amazonas), materiais para rádio e televisão (IRDEB), etc.
Como sempre acontece, não houve continuidade, embora do grupo de trabalho
fizesse parte um representante do Conselho Federal de Educação e outro do INEP,
instituições aparentemente não-perecíveis.
Esse grupo de trabalho produziu um documento intitulado “Por uma Política
Nacional de Educação Aberta à Distância”, em fevereiro de 1989, onde foram
estabelecidas estratégias de implantação, acompanhamento e avaliação, do qual extraímos
o seguinte resumo:
- Proceder ao levantamento da demanda real de necessidades, a ser atendida pela
metodologia de EAD; promover a formação de equipes multidisciplinares para a produção
de programas; ampliar o acervo das bibliotecas escolares, de modo a incorporar também
vídeos, disquetes e outros materiais; incentivar a produção de programas locais de rádio e
televisão; apoiar técnica e financeiramente programas e projetos de EAD promovidos por
instituições públicas de ensino e organizações da sociedade civil sem fins lucrativos;
estabelecer mecanismos de acompanhamento e avaliação de programas e projetos de EAD;
aproveitar a infra-estrutura de instituições de ensino de nível médio e superior para tornálas centros de EAD regionais e/ou estaduais; incluir a metodologia de EAD nos currículos
dos cursos de educação e de comunicação; oferecer, nas universidades, cursos de
especialização em metodologia de educação à distância; oferecer cursos de especialização
para professores e outros profissionais de ensino superior, em face da carência de recursos
humanos com titulação adequada e formalmente exigida, etc.
O que se lamenta é o “engavetamento” sofrido pelo estudo mencionado, que
custou muitas horas de reuniões e experiência transmitida, sem que na prática fosse
colocado em execução. Mas, quem sabe, criou um clima favorável ao seu
desencadeamento.
2. O futuro em nossas mãos
A metodologia da educação à distância não é tão nova assim. Tem pelo menos
200 anos, daí não ser estranha à realidade de um país de cultura milenar como a China, que
hoje treina 1,5 milhão de trabalhadores via satélite.
Trata-se, sim, de um conceito renovado, agora com dois aspectos essenciais: a) o
emprego de novas tecnologias de comunicação interativa (como é o caso das freqüentes
teleconferências); e b) o veloz avanço da informática na educação, para colocar o software
à disposição dos alunos. Temos, assim, o futuro em nossas mãos.
No mercado de trabalho, segundo estudos realizados, o funcionário educado que
opera com computador ganha sempre 20% mais do que o empregado educado que trabalha
sem computador. É a hierarquia da sociedade da informação de que não podemos mais
escapar. Vence quem sabe mais.
Como a disponibilidade de tempo é sempre relativa, em qualquer circunstância
criam-se expectativas extremamente favoráveis ao uso dessa metodologia, sobretudo ao
considerarmos o tamanho do nosso território. Se o Canadá pode oferecer créditos em suas
universidades utilizando o satélite doméstico de telecomunicações (exclusivo para
educação), superando dificuldades naturais, por que não fazer o mesmo no Brasil?
Há uma preocupação básica e permanente – evitar que o projeto se transforme
num desvario pedagógico de facilidades. Ao contrário, a sua certificação deverá ser
rigorosíssima, a partir da autorização oficial para os experimentos, em que o Conselho
Nacional de Educação certamente será chamado a participar. Ao apoiar aquele projeto, não
pode abdicar do acompanhamento de perto a fim de garantir que não haverá um malsinado
supletivo de 3º grau.
Vejamos o tratamento dado pela nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional à matéria. Ela incentiva o Poder Público a veicular programas de ensino à
distância em todos os níveis e modalidades de ensino. Valoriza a educação continuada. As
instituições devem ser especificamente credenciadas pela União, o que nos parece tarefa
do CNE, responsável igualmente pelas normas que regerão a realização de exames e o
registro de diplomas. Prevê-se, de forma saudável, uma colaboração estreita com os
sistemas de ensino, num trabalho inédito, dado o seu vulto, de cooperação e integração.
A LDB estima ainda a concessão de canais com finalidades exclusivamente
educativas e uma boa ajuda em tempo e produção dos concessionários de canais
comerciais. Com essa infra-estrutura e os cuidados aqui descritos, pode-se esperar a
implementação de um adequado projeto de Educação à Distância à altura das nossas
grandes necessidades.
Capítulo IV
POLÍTICAS E ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO DE EAD
De tudo o que foi exposto, pode-se inferir o seguinte elenco de Políticas e
Estratégias:
1.
Estabelecer a Política Nacional de Educação à Distância, no âmbito do
Conselho Nacional de Educação, integrando o Plano Nacional de Educação;
2.
Estimular o nascimento de uma universidade virtual, com a oferta
ilimitada de cursos não-presenciais e a ampla utilização de endereços eletrônicos;
3.
Integrar os esforços das redes nacionais de rádio e televisão educativa, a fim
de dar suporte aos projetos de treinamento e capacitação de profissionais, nos níveis
médio e superior;
4.
Criar a primeira experiência-piloto na área do magistério, qualificando
professores e especialistas, com ênfase no emprego da informática na educação;
5.
Treinar profissionais de multimídia (roteiristas, engenheiros de software,
produtores visuais, animadores, produtos de vídeo, fotógrafos, locutores, dubladores,
etc.);
6.
Orientar a produção de CD-ROMs educativos no país para distribuição nas
escolas públicas, com vista ao aperfeiçoamento da qualidade do ensino (ênfase na
educação básica);
7.
Elaborar uma estratégia nacional para o ensino por correspondência baseada
nos princípios da educação permanente e em perfeita consonância com a realidade
brasileira, preservada a qualidade dos serviços a serem prestados;
8.
Criar, no Conselho Nacional de Educação, uma comissão para acompanhar
os experimentos de EAD, garantindo assim a sua avaliação continuada;
9.
Proceder ao levantamento da demanda real de necessidades a ser atendida
pela metodologia de EAD;
10. Promover a formação de equipes multidisciplinares para a produção de
programas;
11. Ampliar o acervo das bibliotecas escolares, de modo a incorporar também
vídeos, disquetes e outros materiais;
12. Incentivar a produção de programas locais de rádio e televisão;
13. Apoiar técnica e financeiramente programas e projetos de EAD promovidos
por instituições públicas de ensino e organizações da sociedade civil sem fins
lucrativos;
14. Estabelecer mecanismos de acompanhamento e avaliação de programas e
projetos de EAD;
15. Aproveitar a infra-estrutura de instituições de ensino de nível médio e
superior para torná-las centros de EAD regionais e/ou estaduais;
16. Incluir a metodologia de EAD nos currículos dos cursos de educação e de
comunicação;
17. Oferecer, nas universidades, cursos de especialização em metodologia de
educação à distância;
18. Oferecer cursos de especialização para professores e outros profissionais de
ensino superior, em virtude da carência de recursos humanos com titulação adequada e
formalmente exigida.
CONCLUSÃO
O tema educação à distância ainda não está, em nosso país, merecendo a
credibilidade necessária, à medida que, baseado no processo de educação permanente, tão
enaltecido e tão pouco vivido pelas pessoas envolvidas no processo educacional, ainda não
se acha consolidado no Brasil.
Por outro lado, são também pouco divulgados, e até mesmo desconhecidos, os
mecanismos que envolvem os processos de administração de ensino à distância.
No entanto, como já foi exposto, várias têm sido as experiências educativas
promissoras que viabilizam os princípios da educação, no sentido de sensibilizar pessoas
através do estímulo ao seu crescimento e do aproveitamento das suas experiências visando
ao seu amadurecimento crítico e transformando-os em agentes de seu próprio
desenvolvimento.
Enquanto no ensino regular os objetivos se voltam para uma população
relativamente estável e numericamente definidas pelos limites físicos de um prédio, o
ensino à distância envolve uma série de outras questões que acarretam nova dimensão ao
processo educacional que se instala. Todas essas questões exigem reflexões críticas, que
possibilitem o estabelecimento de uma coerência entre o que se faz e aquilo que se deseja
alcançar.
Deve-se considerar que a educação à distância surgiu da necessidade de atingir as
populações com dificuldades de acesso aos meios formais de educação. Os motivos que
afastam as pessoas da escola regular são de um modo geral, as grandes distâncias, a idade,
as escassas possibilidades de acesso em tempo propício e razões econômicas e de trabalho.
O problema se agrava quando o adulto sem escolaridade e com necessidades
econômicas a suprir engaja-se no trabalho, diminuindo sensivelmente a oportunidade de
freqüentar uma escola supletiva. Privado de escolaridade, ele tem dificuldade em exercer
um raciocínio lógico, pensar a realidade circundante, avaliar as informações recebidas. Isto
requer um aprendizado constante na construção de uma vida melhor, propiciando
exercício pleno da cidadania.
No ensino à distância, o aluno junto com o professor-monitor estabelece seus
objetivos de aprendizagem, escolhe o conteúdo e estuda dentro de seu ritmo. Desse modo,
ele tem a oportunidade de participar do processo com a consciência dos seus direitos e dos
seus deveres a cumprir. O estudante é sujeito e objeto da ação.
Tendo em vista a crise educacional brasileira, o fator fundamental é que se
instalou uma crise atípica, na medida de sua extensão no tempo e da abrangência quanto ao
espaço geográfico. Pode-se dizer também que, ao longo da nossa história, nunca se
assumiu, de fato, a escolarização das camadas populares, tradicionalmente alijadas de
outros direitos sociais. Ao lado das elevadíssimas taxas de evasão e de reprovação na base
da pirâmide escolar, e da alta concentração de matrículas nas séries iniciais, torna-se
evidente a baixa produtividade do sistema de ensino e os fortes indicadores de aspectos
antidemocráticos, elitistas e discriminatórios no sistema social e escolar.
A educação à distância vem demonstrando grandes possibilidades no avanço da
democratização dos conhecimentos modernos das ciências, mantendo condições também
de estimular a participação construtiva dos indivíduos nas comunidades.
O momento atual é o de projetar e consolidar a educação à distância no panorama
educacional brasileiro, tendo em vista a busca da melhor forma de alcançar a
universalização e a
qualidade de ensino, identificando e implementando novas
oportunidades de ações integradas.
I. BIBLIOGRÁFIA
NISKIER, Arnaldo. Educação Brasileira: 500 Anos de história. 2ºed. Rio de Janeiro:
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