Perspectiva Semanal
De 15 a 19 de março de 2010
Cenário
Numa semana com diversos indicadores nos EUA, principalmente
referentes ao nível atual de inflação e do mercado imobiliário, as
reuniões de política monetária, tanto no Brasil quanto na maior
economia do mundo, devem ser o principal foco de atenção dos
agentes. No Brasil, a expectativa maior é de um Banco Central
mantendo os juros, porém, sinalizando que o ciclo de aperto
monetário deva se iniciar na próxima reunião (abril). Contudo,
entendemos que esta será uma difícil decisão, com prós e contras
pesando para ambos os lados. Assim, uma alta de juros na quartafeira não pode ser encarada como surpresa. Já nos EUA, o Fed se
reúne e mudanças na taxa de juros são totalmente descartadas. Por
outro lado, podemos esperar alguma mudança no comunicado. Na
última reunião, o presidente do Fed de Kansas City (Thomas Hoenig)
argumentara para a retirada da expressão "por um período
prolongado", sobre manter as taxas de juros em patamares
extremamente baixos. Hoenig pode ter ganhado alguns parceiros
neste período entre comitês, isso porque Charles Evans (presidente
do Fed de Chicago), em discurso na semana passada, deixou a
entender que uma alteração na taxa básica de juros norteamericana possa ocorrer em setembro.
Economia Internacional
Os dados chineses divulgados na última semana apresentam dois
aspectos interessantes. Primeiro é que a tentativa do governo chinês de
incentivar a demanda doméstica, e esta puxar a economia do país, tem
surtido efeito. As importações chinesas já ultrapassaram o nível précrise e as vendas no varejo tiveram crescimento de 22,1% (17,5% em
dezembro). Note que nesse mesmo período houve uma
"desaceleração¹” da produção industrial; em dezembro o crescimento
foi de 18,5% e agora 12,8%. O segundo aspecto interessante é que a
inflação começa a preocupar o principal país emergente da Ásia.
Devemos lembrar que a meta do governo é ter uma inflação de 3% no
ano. A inflação ao consumidor atingiu 2,7% em fevereiro. Sabemos que
a maior parte dessa inflação ocorre devido ao grupo alimentos (inflação
de alimentos 6,2%, excluído alimentos 1,0%), porém, é provável que
parte do esforço do governo de incentivar a demanda doméstica tenha
causado alguma pressão inflacionária. Além disso, uma inflação
corrente surpreendendo pode contaminar as expectativas, dificultando
ainda mais o combate a inflação. Assim, devemos ver, em breve, um
aperto monetário na China.
¹ A rigor a palavra desaceleração não é correta, pois, só recebemos os dados da China na comparação interanual e, conseqüentemente não sabemos quanto é o
crescimento na margem, para saber se, de fato houve ou não desaceleração.
Perspectiva para a semana
A agenda de dados econômicos americanos começa com a produção
industrial referente ao mês de fevereiro. Caso as expectativas se
confirmem, devemos observar estabilidade na produção. Ou seja,
uma desaceleração em relação as leituras de dezembro e janeiro,
porém, devemos lembrar que o inverno foi muito rigoroso no mês de
fevereiro e provavelmente retirou alguma parcela de crescimento. A
utilização da capacidade, também referente a fevereiro, deve ficar
no mesmo patamar (72,6%) indicando que ainda existe ociosidade
considerável na maior economia do mundo. Os dados de mercado
imobiliário não devem sugerir otimismo. O índice de confiança NAHB
de março deve permanecer em 17, muito abaixo da linha d'água (50),
mostrando baixa confiança em novos negócios no setor. A
construção de novas casas e as licenças para construção de
fevereiro devem mostrar retração, parte influenciado pelo inverno e
parte pela fragilidade do setor. Pelo lado da inflação teremos uma
semana cheia. O índice de preços de importação deve ter caído
0,2% em fevereiro, assim como o índice de preços ao produtor. Já
a inflação ao consumidor é esperada aumentar 0,1%, o preço de
1
combustível deve ter uma grande contribuição. De forma geral, a
inflação americana continua contida. A reunião do FOMC merece
atenção pelo comunicado após a reunião, já que a decisão de manter
a taxa de juros em patamares extremamente baixos deve continuar.
A conta corrente americana deve ter ficado mais negativa no último
trimestre de 2009, em linha com a piora no saldo comercial daquele
país. Ainda nos EUA, os indicadores antecedentes de fevereiro
devem registrar novo avanço na margem (0,1%) mostrando que
existe recuperação nos EUA, mesmo que de maneira moderada,
como tem mostrado o indicador coincidente. Na Europa o destaque
fica para o índice de sentimento econômico ZEW, de fevereiro, que
deve desacelerar (terceira redução seguida neste indicador) para
38,5, mostrando que a economia da Europa tem uma recuperação
muito mais frágil que seus parceiros avançados. A inflação ao
consumidor de fevereiro também será conhecida na região do euro,
que deve mostrar variação de 0,3% em relação a janeiro. Se existe
algum problema neste quesito, ele é a deflação e não inflação nesta
região.
Perspectiva Semanal
A Semana
Segunda-feira
EUA: Produção industrial (fevereiro) M/M – Efetivo: 0,1%
EUA: Utilização capacidade instalada (fevereiro) – Projeções: 72,6%
EUA: Ind Mercado residências NAHB (março) – Projeções: 17,0 pts
Terça-feira
EUA: Índice preços importação (fevereiro) M/M – Projeções: -0,2%
EUA: Índice preços importação (fevereiro) A/A – Projeções: 11,3%
EUA: Construção de casas novas (fevereiro) – Projeções: 570k
EUA: Licenças para construção (fevereiro) – Projeções: 610k
EUA: FOMC (março)– Projeções: 0,25%
Alemanha: ZEW sentimento econômico (março) – Projeções: 43,3
Zona do euro: Índice preços consumidor (fevereiro) M/M – Projeções: 0,3%
Zona do euro: Índice preços consumidor (fevereiro) A/A – Projeções: 0,9%
Zona do euro: ZEW sentimento econômico (março) – Projeções: 38,5
Quarta-feira
EUA: Índice preços produtor (fevereiro) M/M – Projeções: -0,2%
EUA: Índice preços produtor núcleo (fevereiro) M/M – Projeções: 0,1%
EUA: Índice preços produtor (fevereiro) A/A – Projeções: 5,1%
EUA: Índice preços produtor núcleo (fevereiro) A/A – Projeções: 1,0%
Reino Unido: Desemprego (janeiro) – Projeções: 7,9%
Japão: BOJ (março) – Projeções: 0,1%
Quinta-feira
EUA: Índice preços consumidor (fevereiro) M/M – Projeções: 0,1%
EUA: Índice preços consumidor núcleo (fevereiro) M/M – Projeções: 0,1%
EUA: Índice preços consumidor (fevereiro) A/A – Projeções: 2,3%
EUA: Índice preços consumidor núcleo (fevereiro) A/A – Projeções: 1,4%
EUA: Pedidos seguro desemprego (13/mar) – Projeções: 450k
EUA: Saldo conta corrente (4T09) – Projeções: -US$119,8 bi
EUA: FED Filadélfia (março) – Projeções: 17,6 pts
EUA: Indicadores antecedentes (fevereiro) M/M – Projeções: 0,1%
Zona euro: Saldo conta corrente (janeiro) – Projeções:
Zona euro: Balança comercial (janeiro) - Projeções: -4,0 bi
Sexta-feira
Alemanha: Índice preços produtor (fevereiro) M/M – Projeções: 0,1%
Alemanha: Índice preços produtor núcleo (fevereiro) M/M – Projeções: -2,8%
Economia Brasileira
A reunião do Copom desta semana promete ser agitada! Se por um
lado, acreditamos que o comitê não deva alterar a taxa básica de juros
já nessa reunião, por outro, existem argumentos que suportam que o
aperto monetário se inicie nessa semana. Em favor da nossa posição,
entendemos que o hiato do produto ainda não seja um fator de
preocupação para a inflação. Apesar do PIB ter vindo um pouco acima
do que projetávamos, mantemos a idéia de que o hiato do produto
deva zerar na passagem do primeiro para o segundo trimestre. Ou
seja, neste momento, o hiato deve estar bem perto do nível de
equilíbrio e, portanto, não caracterizando um problema para a
inflação. As expectativas de inflação doze meses à frente se
encontram flutuando ao redor do centro da meta, e a expectativa para
2011 da mesma forma. Muito provavelmente a surpresa
inflacionária do primeiro trimestre de 2010 deve diminuir nos
próximos meses a medida que fatores pontuais se dissipem.
Contudo, os argumentos de que a inflação corrente, todas as
medidas de núcleo e a expectativa para 2010 estão acima da meta,
podem sensibilizar o comitê para um aperto já na quarta-feira. Não
acreditamos que este é o cenário mais verossímil (porém, não o
descartamos) e nossa aposta é num Banco Central mantendo a
taxa Selic em 8,75% e deixando claro um desconforto com a
inflação. Assim, a porta estaria aberta para um novo ciclo de alta de
juros no próximo mês.
Inflação
IPC-S 2ª quadri março, que será divulgado na terça-feira, deve
mostrar inflação de 0,90%. O índice ainda estará pressionado devido
ao grupo alimentação, em especial aos alimentos in natura. Ainda, o
grupo vestuário deve reduzir a deflação.
Inflação
IPC-Fipe 2ª quadri março deverá mostrar inflação ligeiramente
menor (0,58% ante 0,61%) na quarta-feira. Alimentos in natura
devem pressionar o índice, por outro lado, reajuste de transporte
2
público e IPTU devem perder força.
IGP-10 de março, a ser conhecido na quinta-feira registrando
inflação de 1,05%. O IPA agrícola deve mostrar comportamento
bastante desfavorável, em contrapartida, o IPA industrial deve
arrefecer em relação à última divulgação. O INCC deve vir
pressionado devido ao dissídio de Salvador.
Perspectiva Semanal
Projeções
SulAmérica
Focus
SulAmérica
Semana
anterior
Esta
semana
IPCA em 12 meses
4,46
4,49
4,55
IPCA 2010
4,91
4,99
5,03
IPCA Março
0,35
0,36
0,40
IPCA Abril
0,20
0,35
0,38
IPCA 2011
4,58
4,50
4,60
11,00
11,25
11,25
9,48
10,06
10,16
Selic final 2011
11,00
11,23
11,00
Selic média 2011
11,00
11,25
11,20
Câmbio final 2010
1,83
1,81
1,81
Câmbio médio de 2010
1,81
1,83
1,83
Câmbio final 2011
1,88
1,85
1,85
Câmbio médio de 2011
1,85
1,84
1,84
PIB 2010 (%)
5,50
5,50
5,45
PIB 2011 (%)
4,50
4,50
4,50
Preços Administrados 2010
3,60
3,60
3,60
Preços Administrados 2011
4,50
4,50
4,50
Selic final 2010
Selic média 2010
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Mercados
Câmbio
Caso o comunicado do Fed, após sua reunião de Política Monetária, mantenha o "statement" inalterado – maior aposta do mercado –, o real
deve manter seu movimento de leve apreciação. Havendo uma mudança no comunicado, o dólar deverá ganhar valor e conseqüentemente,
o real será depreciado.
Juros
Longe de ser um consenso, a reunião do Copom, marcada para esta semana, dever ser o principal "trigger" do mercado de juros. Caso ocorra
um aumento da taxa Selic já nesta reunião, os papéis curtos devem sofrer relativamente mais do que os longos. O contrário deverá ser
observado caso o BC fique em modo de espera.
Bolsa
A agenda desta semana, que conta com as reuniões do Copom (no Brasil) e do FOMC (nos EUA), que podem afetar as expectativas para as
taxas de juros nos dois países, e o vencimento de opções na Bovespa, prometem volatilidade à bolsa. Além disso, o desfecho das
negociações em torno do reajuste do minério, que não tem prazo definido, tende a ampliar o potencial de oscilação dos preços,
especialmente dos papéis de Petrobras, Vale e outras empresas do setor.
Alta
3
Queda
Estável
Volátil
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