AU TO RA L UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU LA LE I DE DI R EI TO AVM FACULDADE INTEGRADA PE A PRÁTICA DE EQUOTERAPIA COMO FERRAMENTA DE Por: Tatiana Naraya Puzzi de Campos DO CU M EN TO PR OT EG ID O ABORDAGEM PSICOMOTORA Orientador: Profª Maria Esther de Araújo Co-Orientadora: Profª Giselle Böger Brand Itapetininga/SP 2013 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU AVM FACULDADE INTEGRADA A PRÁTICA DE EQUOTERAPIA COMO FERRAMENTA DE ABORDAGEM PSICOMOTORA Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre – Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicomotricidade. Por: Tatiana Naraya Puzzi de Campos 2 3 AGRADECIMENTOS Ao meu marido e filhos, que com carinho incentivaram constantemente o desenvolvimento deste trabalho. Aos meus pais, que sempre me ensinaram o valor do conhecimento. E a Deus, que me permitiu viver e sentir o seu amor em todas as áreas da minha vida. 3 4 DEDICATÓRIA À minha neta, que me inspira a cada respirar. 4 5 “Para nós os grandes homens não são aqueles que resolveram os problemas, mas aqueles que os descobriram.” (Albert Schweitzer) 5 6 RESUMO A presente monografia tem por objetivo apresentar a equoterapia como estratégia de tratamento que busca o pleno desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo, visando salientar os benefícios da sua prática como ferramenta de abordagem psicomotora. O movimento tridimensional do cavalo (cima/baixo, frente/trás, direita/esquerda) transmite ao praticante, a partir do seu contato com a pelve, diversos benefícios, tais como: estimular a sensibilidade tátil, visual, auditiva e olfativa pelo ambiente e pelos trabalhos com o cavalo; promover a organização e a consciência do corpo (esquema corporal); desenvolver a modulação tônica; estimular força muscular; aumentar a auto-estima, facilitando a integração social; ajudar a superar fobias; estimular a afetividade pelo contato com o animal; melhorar a memória; motivar o aprendizado; estimular a lateralidade, além do equilíbrio e da coordenação motora. O indivíduo submetido ao tratamento aprende padrões de movimento coordenados de controle de postura para manter seu centro de gravidade sobre a base dinâmica de suporte que é criado pelo movimento do cavalo. Assim, ele se transforma num participante ativo no procedimento terapêutico, o que favorece o desenvolvimento de aspectos psicomotores necessários ao processo de evolução humana. 6 7 METODOLOGIA Este estudo propõe pesquisas bibliográficas e webgráficas, além de entrevista com pais e professores de praticantes e profissionais envolvidos com a equoterapia, a fim de estabelecer um estreito relacionamento entre a terapia com o cavalo e a psicomotricidade. De acordo com MARCONI e LAKATOS (1996), a pesquisa de campo é uma fase que é realizada após os estudos bibliográficos, para que o pesquisador tenha um bom conhecimento sobre o assunto, pois é nesta etapa que ele vai definir os objetivos da pesquisa, as hipóteses, definir qual é o meio de coleta de dados e metodologia aplicada. Foi desenvolvido no Centro de Equoterapia Apae de Itapetininga/SP, e o instrumento utilizado para realização do mesmo foi pesquisa bibliográfica e webgráfica, com o objetivo de descrever as bases e fundamentos da Equoterapia e da Psicomotricidade, primeiramente de forma isolada e depois relacionados entre si. Para tanto, baseou-se essencialmente nos seguintes autores: LERMONTOV (2004) e CITTERIO (1998), dentre outros. Além disso, contou com entrevista com pais e professores de praticantes e profissionais envolvidos com a Equoterapia, sendo 03 pais, 03 professores e 03 profissionais. A entrevista foi semiestruturada, contando com 04 perguntas (anexo I), realizada pela própria autora, em dia e horário previamente combinados, no Centro de Equoterapia supracitado. 7 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 09 CAPÍTULO I – Considerações sobre os fundamentos teóricos da prática de Equoterapia 12 CAPÍTULO II – Aspectos inerentes aos conceitos psicomotores 21 CAPÍTULO III – Contribuições da Equoterapia no desenvolvimento da psicomotricidade 30 CONCLUSÃO 39 BIBLIOGRAFIA 41 WEBGRAFIA 44 ANEXOS 45 8 9 INTRODUÇÃO O tema do presente trabalho pretende analisar de que forma a Equoterapia atua como agente facilitador da abordagem psicomotora. A relação e a integração entre a Equoterapia e a Psicomotricidade são de importância significativa, pois, em paralelo com vários estudos na área, percebe-se o quanto o trabalho equoterapêutico pode contribuir para o desenvolvimento de aspectos psicomotores. Reconhecida como terapia de reabilitação, a Equoterapia torna-se uma revolucionária maneira de reintroduzir o convívio com a natureza, revalorizando as atividades ao ar livre, o cheiro do mato, o calor que emana do corpo do cavalo, seus movimentos cadenciados e respostas às atitudes com carinho. Em casos nos quais a criança é muito insegura, retraída, desconfiada ou mesmo desinteressada, o trabalho terapêutico por meio do animal torna-se uma importante ferramenta clínica. É um “quebra-gelo” fundamental para aproximar o profissional da criança e possibilitar as intervenções terapêuticas, sejam psicológicas, fonoaudiológicas, fisioterapêuticas, etc. Com o aumento da procura de alternativas às terapias convencionais, a utilização do cavalo, como facilitador da reabilitação humana, em diferentes patologias, tem se difundido. Além de estimular as funções neuromotoras, o cavalo como “agente terapêutico” tem uma ação muito mais abrangente, influenciando também as áreas psicológica, cognitiva, social e comportamental, pois promove a adaptação afetiva do indivíduo ao meio, proporciona maior grau de auto-suficiência, aumenta a confiança, estimula a comunicação e a socialização e melhora a qualidade de vida da criança e da família. Todo trabalho realizado sobre o dorso do cavalo envolve o corpo e as suas funções de forma completa, onde a coexistência com o outro se torna uma unidade dinâmica. Através do corpo do animal descobre-se seu corpo, e a riqueza de emoções que se traduzem nesta relação faz com que se estabeleça 9 10 um diálogo tônico-afetivo entre animal e praticante, baseado na percepção e movimento do corpo quente e macio. É objetivo desta pesquisa apresentar a Equoterapia como ferramenta facilitadora da abordagem psicomotora, visto que o deslocamento do cavalo impõe ao praticante um movimento doce, ritmado, repetitivo e simétrico, fatores estes que, mesmo que o praticante apresente limitações funcionais, trazem consigo uma oportunidade de interação do sujeito no meio físico e social, trabalhando a relação que se estabelece entre a consciência de si mesmo e do mundo que o cerca, promovendo, assim, a sua autovalorização e conhecimento de suas potencialidades, gerando uma interação e integração entre os aparatos sensório-motores, cognitivos e afetivo-relacionais. Com a proposta de facilitar a compreensão do leitor, o presente trabalho será desenvolvido através de capítulos definidos. No capítulo I, pretende-se tecer considerações sobre os fundamentos teóricos da prática de Equoterapia. Esta, por ser um método terapêutico que utiliza o cavalo, numa abordagem interdisciplinar, busca o desenvolvimento biopsicossocial do praticante, através do movimento do cavalo e ritmo do seu passo, exigindo do cavaleiro ajustes tônicos para adaptar seu equilíbrio a cada movimento. Cada passo completo do cavalo leva o praticante a sofrer três forças distintas, denominado de movimento tridimensional, levando a reações na musculatura do indivíduo para manutenção da postura e do equilíbrio. A terapia com o cavalo traz à tona sentimentos de prazer, autoestima, autoconfiança e, especialmente, proporciona momentos lúdicos e divertidos, tornando-se um fator potencializador de elevação espiritual para aqueles que se envolvem com esta prática. Os resultados, portanto, tornam-se rápidos e intensos, pois o praticante responde às solicitações dos profissionais da equipe de forma prazerosa, desenvolvendo atividades e exercícios sem a mecanização repetitiva e monótona, em meio ao ar livre e convivendo diretamente com a natureza. 10 11 No capítulo II, o propósito é descrever os aspectos inerentes aos conceitos psicomotores, uma vez que a psicomotricidade tem por objetivo principal integrar o corpo, a mente e a emoção. O corpo e o movimento caminham juntos para fazer a criança pensar e reagir com intenção, descobrir o sabor da busca do saber. O movimento permite modelar o mundo numa aprendizagem palpável, buscando metas, planos e desejos, e assim passa a ser ferramenta construtiva do conhecimento. A psicomotricidade, segundo Alves (2011), favorece a expressão, e esta permite que a criança demonstre seus sentimentos e suas dificuldades, desenvolvendo sua imaginação e autenticidade, além de adotar inconscientemente os conceitos abstratos, aumentando assim seu processo criativo e sua capacidade de comunicar-se. De acordo com a autora, estas capacidades são essenciais ao processo educativo e à consciência corporal para que haja interação com o outro e com os objetos. E por fim, no capítulo III, o enfoque é pontuar as contribuições da Equoterapia no desenvolvimento da psicomotricidade, mostrando que os aspectos psicomotores são diretamente desenvolvidos com esta prática. Sabendo que o corpo é intermediário obrigatório entre o indivíduo e o mundo que o cerca, os estímulos sensoriais e proprioceptivos recebidos pelo indivíduo no momento da montaria, provocados pelo movimento do animal e ritmo do seu passo, permitem a criação de novos esquemas motores e integração dos sentidos. Diante do exposto, se faz relevante entender o processo pelo qual o corpo é submetido durante as sessões de equoterapia, relacionando-o aos aspectos psicomotores necessários para um adequado desenvolvimento do indivíduo. 11 12 CAPÍTULO I CONSIDERAÇÕES SOBRE OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA PRÁTICA DE EQUOTERAPIA A Equoterapia proporciona a oportunidade de interação do meio físico e social, trabalhando a relação entre a consciência do sujeito e o mundo que o cerca. Complementa o processo ensino-aprendizagem por ser uma metodologia terapêutica e educacional, que utiliza o cavalo numa abordagem interdisciplinar, buscando o desenvolvimento biopsicossocial do praticante. O sujeito que pratica a equoterapia é agente de sua reabilitação e educação/reeducação na medida em que interage com o cavalo. Nesta abordagem, o sujeito é responsável pelo seu processo terapêutico e o cavalo é um facilitador deste (Ande-Brasil, 2001). A utilização de atividades equestres como recurso terapêutico vem aumentando consideravelmente nas últimas décadas, sendo apontada por diversos estudos como uma prática eficaz na tentativa de minimizar as complicações pelas mais variadas patologias. A palavra equoterapia foi criada pela ANDE-BRASIL (Associação Nacional de Equoterapia) em 1989, para caracterizar todas as práticas que utilizam o cavalo com técnicas de equitação e atividades equestres, objetivando a reabilitação e/ou educação de pessoas com deficiência ou com necessidades especiais (DUARTE, 2009, p. 1) A equoterapia foi reconhecida no Brasil como método terapêutico em 1997, pela Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitacional e pelo Conselho Federal de Medicina (parecer 6/97, aprovado em sessão plenária de 9 de abril de 1997). 12 13 As terapias utilizando o cavalo podem ser consideradas como um conjunto de técnicas reeducativas que agem para superar danos sensoriais, motores, cognitivos e comportamentais, através de uma atividade lúdico-desportiva, que tem como meio o cavalo (CITTERIO, 1991, p. 20). O cavalo atua como motivador; por meio da aceitação incondicional e comunicação não verbal, sinaliza para o praticante com necessidades especiais que é possível, apesar de algumas limitações, descobrir que ele possui potencialidades que sirvam de alavanca para se iniciar uma nova vida, podendo desempenhar seu papel no âmbito social (Cudo, 2002). Apesar de ter vontade própria e também muita força, o cavalo estabelece vínculo facilmente com quem está montado sobre ele. Este animal, que se dispõe a levar uma pessoa em seu dorso, tem a temperatura superior a sua em um a dois graus, bem como uma pelagem macia, o que traz uma sensação de conforto e aconchego em seu contato. É símbolo universal de força, virilidade, velocidade e beleza, e no momento da terapia todos esses símbolos se encontram totalmente à disposição do praticante. Esta relação se dá na medida em que o praticante começa a se vincular com o animal, o que propicia a sensação de superação e, por conseqüência, um aumento na sua auto-estima. O vínculo é formado através das relações e, no caso da equoterapia, esta relação não está apenas no âmbito mental ou psicológico, mas físico também. Os dois, cavalo e praticante, através dos estímulos que um propicia ao outro, vão tentando se adaptar. O praticante precisa se equilibrar e acompanhar os movimentos do cavalo e o cavalo, por sua vez, está atento às ordens do praticante. Pouco a pouco essa inter-relação vai se ajustando e trazendo para o mesmo a sensação de ser compreendido, o que, segundo Rogers (1978), é uma das condições facilitadoras e necessárias no processo psicoterapêutico. 13 14 Enquanto profissionais mediadores temos a obrigação de oportunizar, através de técnicas e muita sensibilidade, estratégias para despertar nos indivíduos emoções (motivos) suficientes para que eles próprios descubram novas formas de conduta e direção de seus objetivos, e a aceitação incondicional vinda do cavalo faz com que a equoterapia se torne nossa grande aliada. A interação com o animal, incluindo os primeiros contatos, os cuidados preliminares, a montaria e o manuseio final desenvolvem ainda, novas formas de socialização, autoconfiança e autoestima (Apostila Ande-Brasil, 1998). Guimarães (1989) revela a importância e o significado das sessões serem realizadas longe das clínicas e salas terapêuticas. Como são feitas ao ar livre, há uma intensa interação com a natureza, proporcionando prazer aos pacientes adeptos a este método. Os indivíduos então têm a oportunidade de voltar às suas origens, além de desenvolverem uma atividade revalorizante para si mesmos. Freire (1999) refere dados de Citterio, equoterapeuta italiana que, em 1991, esteve no Brasil, e proferiu palestra mostrando dados de pesquisas realizadas na Itália. Esta relaciona ganhos neuropsicológicos, como melhorar tempo de reação e de atenção, potencializar capacidade executiva e discriminação espacial em relação à direção, sequência, alinhamento e lateralidade, através das ações do cavalo e do comportamento intencional da criança. Medeiros (2002) diz que o manuseio do cavalo é fundamental para o desenvolvimento da terapia. Um dos seus objetivos é auxiliar na aquisição e desenvolvimento das funções psicomotoras, exigindo do cavaleiro planejamento e criação de estratégias. Através do alinhamento gravitacional da díade homem-cavalo, um em relação ao outro se encontram imóveis, mas em relação ao solo estão em movimento. Ocorre uma estimulação do sistema nervoso central por vias aferentes provocando um ajuste tônico, melhora do equilíbrio, alinhamento corporal, consciência corporal, coordenação motora e força muscular em resposta aos estímulos recebidos. 14 15 A equoterapia emprega as técnicas de equitação e atividades equestres para proporcionar ao praticante, benefícios físicos, psicológicos, educacionais e sociais. Para isto é necessária uma participação global do corpo, contribuindo assim, para o desenvolvimento do tônus e da força muscular, relaxamento, conscientização do próprio corpo, equilíbrio, aperfeiçoamento da coordenação motora, atenção, autoconfiança e auto-estima (Boulch, 1996). Observa-se, portanto, que além dos benefícios físicos, as principais conquistas da equoterapia são o desenvolvimento da autoconfiança, segurança, concentração e bem-estar, especialmente porque o cavalo funciona como um ponto de sedução em relação ao praticante, devido à imponência e poder transmitido pelo mesmo. É um animal com um porte magnífico, e conquistar sua confiança, domá-lo, cavalgá-lo e direcioná-lo é uma experiência prazerosa e até mesmo transformadora para algumas pessoas. Na presença do cavalo é possível observar manifestações ligadas às questões psicológicas da personalidade da pessoa, bem como à aprendizagem, à motivação, à memória, à inteligência, ao funcionamento do sistema nervoso, e também à comunicação interpessoal, à agressividade, ao prazer e à frustração. Assim, o cavalo é fonte de estímulos múltiplos, não a única na vida humana, mas sem sombra de dúvida, relevante. Quem está mais envolvido com este animal experimenta uma relação sensível e desafiante, pois o cavalo proporciona, a cada instante, situações na relação com o homem em que ele necessita aceitar fatos, trabalhar frustrações e ser criativo na solução de problemas, na superação de limites propícios num trabalho sem preconceito. É muito comum ouvir alguém dizer que o bom cavalo é aquele que, com uma criança em cima, é muito calmo e cuidadoso, e esse mesmo cavalo, quando montado por alguém experiente e exigente, mostra-se fogoso e veloz. Outro exemplo aparece quando a pessoa que monta não está muito bem, automaticamente o cavalo muda o seu comportamento. Estas observações são feitas por pessoas que lidam diariamente com cavalos. O cavalo muitas vezes está lento e sem ânimo, indicando que o praticante pode estar da mesma 15 16 forma, ou seja, o cavalo capta o mundo interior do praticante de maneira muito clara e instantânea, porém existem as intempéries do animal, dias em que este também reage diferente, forçando assim o praticante a perceber que o cavalo não é uma extensão sua, mas sim um parceiro que trabalha em sintonia com ele naquele momento, que pode ser “suas pernas” e lhe ceder todo o seu vigor e energia naquele momento. Para Beaunont (1972), a equitação desenvolve a confiança do praticante em si mesmo, a força muscular, a noção de espaço, o senso tátil e proprioceptivo, não só dos membros superiores, mas de todo corpo. Seu movimento com ritmo e balanço fortalece a musculatura e melhora a coordenação do praticante. Stabdacher (1985, apud FREIRE, 1999, p. 31) ressalta a importância de um contato com o cavalo, veículo motor que proporciona uma articulação de movimentos correta e objeto natural de alto encargo afetivo. É nessa relação com o cavalo que o indivíduo em tratamento encontra subsídios para uma reeducação, reabilitação e educação, além do favorecimento de uma interação afetiva. Nos estudos do campo da psicomotricidade, ressalta a influência que os movimentos ondulatórios do cavalo exercem sobre o desenvolvimento do esquema e imagem corporal, da organização espaço-temporal, e da estruturação da fala e da linguagem. De acordo com Lermontov (2004, p. 68), os agentes essenciais do movimento, os músculos, movem mecanicamente as alavancas ósseas. Estas abrem e fecham de modo alternado os ângulos articulares e desencadeiam a oscilação do membro, modificando o equilíbrio, que é a base da tomada da andadura. Desta maneira, têm-se no cavalo um instrumento facilitador e potencializador para o tratamento de diversas dificuldades, distúrbios, patologias orgânicas e psíquicas, favorecendo uma sadia sociabilidade, uma vez que integra o praticante, o cavalo e os profissionais envolvidos. 16 17 Romaszkan, Junqueira e Dims (1986, apud FREIRE, 1999, p. 42), “o cavalo possui três andaduras naturais: passo, trote e galope. Outros tipos de andaduras e movimentos que o cavalo pode executar são ensinados pela pessoa que o adestra e por isso não são considerados naturais.” Desde 351 a.C., Hipócrates recomendava no livro “Das Dietas” a prática da equitação como sendo benéfica para a saúde, mais especificamente para insônia. Em 1782, o livro “Ginástica Médica e Cirúrgica”, de Tissot, relata os efeitos positivos da equitação e as contraindicações, e considera o “passo” a andadura mais eficaz do ponto de vista terapêutico (Freire, 1999). No decorrer do passo, o cavalo desloca o pescoço para baixo e para cima. A base do pescoço, onde se apoia a sela, descreve um movimento de baixo para cima, movendo-se alternadamente à esquerda, quando o cavalo descansa o membro anterior esquerdo, e à direita, quando o faz com o membro anterior direito. Sendo assim, o praticante sofre três forças distintas sobre o cavalo: uma força para cima e para baixo (plano vertical), uma força lateral alternada (plano horizontal / eixo transversal), e uma força sobre o plano póstero-anterior (plano horizontal / eixo longitudinal). A junção dessas três formas, denominada de movimento tridimensional, proporciona ao praticante uma adaptação ao ritmo do passo do cavalo, exigindo contração e descontração simultâneas dos músculos agonistas e antagonistas, determinando um ajuste tônico da musculatura para manutenção da postura e do equilíbrio (Lermontov, 2004, p. 61). O efeito desse movimento tridimensional do dorso do cavalo foi descrito e estudado, pela primeira vez, pelo médico alemão Samuel Theodor Quelmaz (apud ANDE, Fundamentos Doutrinários da Equoterapia no Brasil. In: Apostilas do curso básico de Equoterapia, 1999), produzido pelo movimento do cavalo e 17 18 pelo ritmo de seu passo, que tornam o cavalo um instrumento cinesioterapêutico. O cavalo, portanto, com sua andadura ao passo e através de movimentos sequenciados, proporciona, em quem está montado, sensações por todo o corpo. Funciona, assim, como coautor do desenvolvimento psicomotor dessa pessoa. A esses movimentos associa-se um quarto: é uma torção da bacia do cavalo da ordem de oito graus para cada lado. Considerando a posição do cavaleiro sentado, com uma perna de cada lado do animal, a combinação da inflexão da coluna do cavalo com o abaixamento da anca do mesmo lado faz com que o quadril do cavaleiro acompanhe a torção provocada pela linha das ancas. Em cada passo é executado um movimento de rotação do quadril para cada lado. Os deslocamentos da cintura pélvica produzem vibrações nas regiões ósteo-articulares que são transmitidas ao cérebro, via medula, com a frequência de 180 oscilações por minuto, o que já foi apontado como sendo a mais adequada à saúde. Cada passo completo do cavalo apresenta padrões semelhantes ao do caminhar humano: o homem, ao deslocar-se, inicia seu movimento por meio de perdas e retomadas de equilíbrio e dá sequência ao seu deslocamento pela força muscular de seus membros inferiores (Lermontov, 2004, p. 61-62). Lermontov ainda afirma que o cavalo, ao deslocar-se, exige do cavaleiro ajustes tônicos para adaptar seu equilíbrio a cada movimento. O ritmo do passo tem uma frequência de 1 (um) a 1,25 (um e vinte e cinco) movimentos por segundo, que leva o cavaleiro a realizar 1.800 (um mil e oitocentos) a 2.250 (dois mil e duzentos e cinquenta) ajustes tônicos em trinta minutos de sessão). A quantidade de repetições torna o exercício bastante intenso, apesar da 18 19 pouca tensão muscular solicitada nesta andadura. Por esse motivo, não é recomendado que uma sessão de equoterapia dure mais de 30 minutos. Por isso, a grande vantagem da utilização do cavalo. No caso do praticante ser incapaz de gerar os movimentos harmônicos por si só, o cavalo gera os movimentos e os transmite ao praticante, que desencadeia um mecanismo de resposta. Apesar de os movimentos se processarem de maneira rápida, não é tão rápido que impeça seu entendimento pelo cérebro humano. E sua repetição, simetria, ritmo e cadência fazem com que as respostas surjam de maneira bastante rápida. De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia, se convencionou que esta prática estaria ligada a quatro fases ou momentos: hipoterapia, educação/reeducação, pré-esportiva e esportiva. Na hipoterapia, o cavalo é utilizado como instrumento terapêutico para objetivos específicos: pessoas com graves dificuldades motoras, controle motor precário, déficit de controle de cabeça e/ou de tronco. Os pacientes com capacidade de interação com o animal se enquadram na segunda fase, a educação/reeducação, visando à coordenação global com finalidades pedagógicas, onde o paciente possui um mínimo de autonomia. A terceira fase é a do pré-esporte, coma atividades em grupo, onde os pacientes se organizam no espaço e no tempo e preparam-se para sua inserção na sociedade. O quarto momento é do esporte, com o paciente apto a participar de provas eqüestres, resultando em socialização, organização espacial mais elaborada, regularização da própria agressividade e melhora na sua personalidade. Ainda segundo a ANDE-BRASIL, a equipe interdisciplinar mínima para um adequado tratamento na equoterapia deve contar com os seguintes profissionais: médico, fisioterapeuta, psicólogo e instrutor de equitação. Outros profissionais, como terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, pedagogo e educador físico também contribuem positivamente para o sucesso da terapia, 19 20 atuando com enfoques diferentes, dependendo da fase em que está inserido o praticante. Pela atuação física e psíquica que a equoterapia alcança, na ativação e estimulação de diversas funções do corpo humano, tais como a respiração, a fala, a atenção, a memória, a cognição, a concentração, a autoimagem, a autoconfiança, entre outros, a criança sente-se estimulada a seguir em frente e participar ativamente do tratamento. Por vezes ela mesma estabelece desafios a serem pouco a pouco superados. É válido mencionar que a equoterapia deve ser segura, benéfica e agradável para todos os membros da equipe. O desejo de proporcionar uma experiência única para uma criança com limitações funcionais, por mais bem intencionado que seja, não deve ultrapassar o conhecimento e o bom senso. Estar sobre um cavalo deve ser uma experiência de cura em todo o sentido da palavra e deve trazer uma sensação de liberdade e movimento. 20 21 CAPÍTULO II ASPECTOS INERENTES AOS CONCEITOS PSICOMOTORES O corpo é o intermediário obrigatório entre a criança e o mundo e, por esta razão, o usamos como ponto de referência. São os gestos do corpo que vão levar o indivíduo à consciência de seus limites e possibilidades. Nos movimentos, são expressos sentimentos de frustração, desagrado, prazer e euforia, como dimensão de um estado emocional, tão difícil de ser manifestado em uma criança autista ou com deficiência intelectual. A Psicomotricidade é uma nova ciência que cuida do indivíduo a partir de seu corpo e de sua capacidade psíquica de realizar movimentos. Não se trata da realização do movimento propriamente dito, mas da atividade psíquica que transforma a imagem para a ação em estímulos para os procedimentos musculares adequados. Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma “concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.” (Lermontov, 2004, p. 20). Seu objetivo é fornecer elementos para que a criança possa construir seu desenvolvimento global, através de seu próprio corpo e da relação do corpo com o meio ambiente. É tocando, apalpando, correndo, cheirando, observando, que a criança desenvolve seu físico, realiza seus conhecimentos, elabora seus conceitos, desperta suas emoções, enfim, percebe o mundo que a cerca e constrói seu mundo interior (OSÓRIO, p. 48). 21 22 Todo ser humano, desde a sua concepção, tem uma lógica biológica, maturativa e evolutiva que faz com que o seu desenvolvimento aconteça de maneira contínua, sequencial e progressiva. Presume-se que cada etapa desse processo reflita em um estado de organização particular do comportamento motor. À medida que o indivíduo domina melhor seu corpo e sentimentos, gradativamente, ele irá conduzir-se com mais segurança em seu ambiente e caminhar satisfatoriamente no decorrer do seu desenvolvimento. Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, a Psicomotricidade é a ciência que tem como objetivo de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas (S.B.P., 1999). Alfred e Françoise Brauner (apud OSÓRIO, p. 48), relatam que “é a interação que existe entre o nosso pensamento consciente e o movimento efetuado por nossos músculos”. Historicamente o termo "psicomotricidade" aparece a partir do discurso médico, mais precisamente neurológico, quando foi necessário, no início do século XIX, nomear as zonas do córtex cerebral situadas mais além das regiões motoras. Com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia, começa a constatar-se que há diferentes disfunções graves sem que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja claramente localizada. São descobertos distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica. Portanto, o "esquema anátomo-clínico" que determinava para cada sintoma sua correspondente lesão focal já não podia explicar alguns fenômenos patológicos. É, justamente, a partir da necessidade médica de encontrar uma área que explique certos fenômenos clínicos que se nomeia, pela primeira vez, o termo Psicomotricidade, no ano de 1870. As primeiras pesquisas que dão 22 23 origem ao campo psicomotor correspondem a um enfoque eminentemente neurológico (SBP, 2003). Em torno de 1925, os estudos de Henri Wallon foram importantes para o surgimento da psicomotricidade. Ele, diferentemente de Duprè que relacionou a motricidade com a inteligência, estudou a relação entre a motricidade e o caráter. Isso permitiu relacionar o movimento ao afeto, à emoção, ao meio ambiente e aos hábitos da criança. Para Wallon, a consciência, o conhecimento e o desenvolvimento geral da personalidade não podem ser isolados das emoções (Lermontov, 2004). Ele aprofundou seus estudos na relação que une o tono (pano de fundo de todo ato motor) e a emoção. Maine de Biran (apud Coste, 1992), conceberam noções próximas das que utilizamos hoje. Este foi o primeiro a falar quo o movimento é um componente essencial da estrutura psicológica do eu e que é na ação que o eu adquire consciência de si mesmo e do mundo. Para Nicola, uma conceituação atual de psicomotricidade é que esta ciência nova, cujo objeto de estudo é o homem nas suas relações com o corpo em movimento, encontra sua aplicação prática em formas de atuação que configuram uma nova especialidade. A psicomotricidade estuda o homem na sua unidade como pessoa (NICOLA, 2004, p. 5). Nicola ainda fornece outro conceito, pautada na soma do termo Motricidade e do prefixo Psico: “Motricidade: por definição conceitual é a propriedade que têm certas células nervosas de determinar a contração muscular. Psico (Gr Psyquê): vem representar a alma, espírito, intelecto. 23 24 Psicomotricidade: condição de um estado de coisas corpo / mente. Visão global de um indivíduo, onde a base de atuação está no conhecimento desta fusão.” É fato, portanto, que a mente e a expressão corporal da criança estão inteiramente ligadas, identificando como a criança pode se desenvolver através da expressividade corporal, mostrando como seus movimentos são importantes para que ela se descubra dentro da sociedade e a partir de então interagir com o meio. Em 1977, há a criação da primeira iniciativa na América Latina, A Associação Argentina de Psicomotricidade e, a partir de 1980, a difusão e extensão da psicomotricidade conquistam o mundo. No Brasil, os estudiosos uniram-se em torno da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, por eles fundada em 1980. A Psicomotricidade abrange todas as aprendizagens do indivíduo, dirigese a todas elas individual ou coletivamente, processando-se por progressões bem específicas nos quais todas as etapas são necessárias. Faz com que o mesmo participe ativamente. Ele deve falar, compreender, corrigir, atuar e descobrir, facilitando assim a aprendizagem. A pessoa parte do concreto para o abstrato, através de exercícios do mais fácil para o mais difícil, repetindo-os sempre que necessário. O desenvolvimento psicomotor evolui do geral para o específico. No decorrer do processo de aprendizagem, os elementos básicos da psicomotricidade (esquema corporal, estruturação espacial, lateralidade, orientação temporal e pré-escrita) são utilizados com frequência, sendo importantes para que a criança associe noções de tempo e espaço, conceitos, ideias, enfim adquira conhecimentos. Um problema em um destes elementos poderá prejudicar a aprendizagem, criando algumas barreiras. Pode-se entender, portanto, que a prática psicomotora tem ênfase na saúde, e não na doença, e possibilita um tempo e um espaço onde o sujeito, de forma espontânea, possa expressar com liberdade e autenticidade todo o seu 24 25 potencial motor, cognitivo, afetivo, social e relacional, para que, consequentemente, possa melhorar o desenvolvimento global de sua aprendizagem e de sua capacidade de adaptação social e afetiva. A utilização de técnicas psicomotoras visa também estimular a cognição, pois o intelecto se constrói a partir do exercício físico, que tem uma importância fundamental no desenvolvimento não só do corpo, mas também da mente e da emoção. Sem o suporte psicomotor, o pensamento não poderá ter acesso aos símbolos e à abstração. A abordagem da psicomotricidade irá permitir a compreensão da forma como a criança toma consciência do seu corpo e das possibilidades de se expressar por meio dele, localizando-se no tempo e no espaço. O movimento humano é construído em função de um objetivo. A partir de uma intenção como expressividade íntima, o movimento transforma-se em comportamento significante. É necessário que toda criança passe por todas as etapas em seu desenvolvimento. Atualmente existem dois eixos pelos quais a psicomotricidade educativa avança: a psicomotricidade funcional e a psicomotricidade relacional. A primeira toma como referência inicial o perfil psicomotriz da criança avaliada a partir de testes padronizados, e que se serve de famílias de exercícios como atividade-meio, não deixando espaço à exteriorização da expressividade motriz. A segunda, por sua vez, utiliza como atividade-meio à ação de brincar, a criação, a representação e a imaginação, isto é, utiliza-se do jogo como elemento pedagógico (NEGRINE, 2002). Segundo Lermontov (2004), podemos citar os seguintes conceitos psicomotores: esquema corporal (tonicidade e equilíbrio), imagem corporal, coordenação motora (coordenação dinâmica global e coordenação visomotora), lateralidade e dominância lateral, estruturação espacial e orientação temporal, ritmo, percepção, cognição, atenção e concentração. Discorrendo sobre a psicomotricidade funcional, podemos considerar que o esquema corporal, segundo Hurtado (1991), é a organização psicomotriz global, compreendendo todos os mecanismos e processos dos níveis motores, 25 26 tônicos, perceptivos, sensoriais e expressivos, processos nos quais e pelos quais o aspecto afetivo está constantemente investido. Sendo o esquema corporal, portanto, o conhecimento que temos do corpo em movimento ou posição estática, em relação aos objetos e ao espaço que o cerca, podemos destacar a tonicidade e o equilíbrio como dois elementos fundamentais para sua correta elaboração. No caso da tonicidade, não se trata apenas de um aspecto da ação física ou muscular em sua dosagem adequada para cada ato motor, mas possui um significado psicológico e humano, pois está intimamente ligado às flutuações emocionais do indivíduo. Já o equilíbrio, como é a base de toda coordenação dinâmica, afeta a correta construção do esquema corporal, pois trata-se da capacidade de manter a estabilidade enquanto se realizam diversas atividades locomotoras e não-locomotoras (Hurtado, 1991). Um equilíbrio inadequado traz como conseqüência a perda da consciência da mobilidade de alguns segmentos corporais. É na eficaz aplicabilidade do esquema corporal que temos a formação do EU, da personalidade da criança, pois é por meio da consciência do seu corpo que a criança aprende a expressar-se por intermédio deste (corpo). É com noções corporais precisas que adquirimos gestos precisos e adequados, melhorando a vida afetiva e social. Sendo assim, a própria criança será transformadora do mundo que a cerca, promovendo mudanças de atitudes que facilitem seu deslocamento durante suas atividades físicas em relação a si mesma e em relação aos outros. Lermontov (2004) diz que um bom desenvolvimento do esquema corporal vai ser mostrado na evolução da imagem corporal, no reconhecimento do próprio corpo. A imagem corporal é um conjunto de sensações concernentes ao próprio corpo. Imagem ou sensação que tem o indivíduo acerca do seu corpo, como resultado da soma total de suas experiências. É o produto da percepção, atitudes e valores 26 27 que ele tem acerca de seu ambiente. É a representação mental que o indivíduo tem do próprio corpo (HURTADO, 1991, p. 65). Temos ainda como aspecto importante da psicomotricidade funcional a coordenação motora, a qual supõe a integridade e maturação do sistema nervoso, permitindo combinar a ação de diversos grupos musculares na realização de uma seqüência de movimentos com o máximo de eficiência, economia e rapidez. Lermontov relata que a coordenação é a base do aprendizado, buscando o gesto mais apropriado para uma ação específica e tendo, como conseqüência, maior e melhor ação no meio ambiente. Divide-se em coordenação dinâmica global, onde envolve movimentos amplos com o corpo todo, e coordenação viso-motora, onde engloba movimentos de pequenos músculos em harmonia na execução de uma atividade, utilizando dedos, mãos e pulsos. No momento em que os movimentos se combinam e se organizam numa intenção motora, faz-se necessária a presença de um lado predominante, que se impõe e irá ajustar a motricidade, ocorrendo assim o processo de dominância lateral. Este processo difere da consciência da lateralidade. Esta, diz respeito à percepção que temos de cada lado do nosso corpo (direito e esquerdo) e dos movimentos por eles realizados independentemente. Os lados do corpo não são homogêneos e essa distinção se manifesta na ao longo do desenvolvimento e da experimentação, aprendendo a diferenciar os lados do corpo em torno dos 5 anos e saber com precisão quais são os lados direito e esquerdo em torno dos 7 anos (Lermontov, 2004). Assim, podemos perceber que a área de dominância lateral é naturalmente definida durante o crescimento por princípios neurológicos, apesar de sofrer influências de hábitos sociais. O praticante percebe que tem diferença no desempenho de atividades físicas, dependendo do membro utilizado durante uma determinada atividade, como, por exemplo, a cavalo, efetuar exercícios de elevação das coxas simultâneas ou alternadamente, com o animal ao passo. 27 28 Perceber que o corpo possui dois lados e que um é mais utilizado que o outro constitui uma primeira etapa da orientação espacial, a qual é definida por Hurtado (1991, p. 83) como a “capacidade de movimentar o próprio corpo, de forma integrada, em volta dos objetos no espaço-ambiente e passando por eles.” A noção de espaço estrutura-se, a princípio, tendo o “EU” como referencial em relação ao mundo exterior, depois a outros objetos ou pessoas, em posição estática ou em movimento. Está intimamente ligada à orientação temporal, e Lermontov nos leva a entender a estruturação espaço-temporal como a capacidade de situar-se e orientar-se a si próprio, localizar outras pessoas e objetos num determinado espaço e tempo. É a noção de direção (acima, abaixo, frente, trás, direita, esquerda), de distância (longe, perto) e de tempo (na sucessão dos acontecimentos e da duração dos intervalos). É importante dizer que não se trabalha a estruturação espacial sem que se tenha alcançado um bom desenvolvimento do esquema corporal. Ainda no que diz respeito à estruturação temporal, a autora relata que o ritmo é como fator de sustentação e adaptação ao tempo, abrangendo a noção de ordem, sucessão, duração e alternância. Para que uma criança adquira noção de esquema corporal ou uma outra noção indispensável ao seu desenvolvimento, devemos percorrer caminhos de aprendizagem natural, etapa por etapa. Primeiro com exercícios motores, seguidos pelos sensoriais, depois pelos sensório-motores e finalmente pelos perceptomotores. Para tal procedimento, temos a opção pela utilização do cavalo enquanto instrumento terapêutico, promotor de movimentos adequados e precisos para as aquisições das principais áreas psicomotoras. Aspectos como percepção, cognição, atenção e concentração complementam os pilares da psicomotricidade funcional, onde o indivíduo passa pelo processo de reconhecimento do objeto por meio dos sentidos (percepção), realiza diversas operações mentais com o intuito de aprender/raciocinar (cognição), é capaz de selecionar uma resposta para um estímulo discriminativo (atenção) e dirige a sua atenção para alguma coisa 28 29 durante um tempo considerável, terminando uma tarefa antes que a atenção se dirija para outra (concentração). A comunicação, expressão, afetividade, agressividade, limite e corporeidade, são termos que fazem parte da psicomotricidade relacional onde o brincar espontâneo e a comunicação não-verbal permitem à criança, ao adolescente, ao jovem e ao adulto expressar suas dificuldades relacionais, tendo o corpo como instrumento relacional com o meio. 29 30 CAPÍTULO III CONTRIBUIÇÕES DA EQUOTERAPIA NO DESENVOLVIMENTO DA PSICOMOTRICIDADE Para o MEC (1998), contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto. A contextualização visa dar significado ao que se pretender ensinar ou desenvolver, fazendo com que o aprendiz sinta necessidade de adquirir um conhecimento que ainda não tem. Como a prática da equoterapia se dá em pleno contato com a natureza, sendo aplicados exercícios de psicomotricidade, recuperação e integração, acaba sendo uma complementação das terapias tradicionais que utilizam instrumentos tecnológicos em clínicas, consultórios e hospitais (Rodrigues, 2006). Ainda de acordo com o autor Rodrigues (2006), o cavalo consegue produzir os mais variados efeitos no praticante, tais como: • Efeito Funcional: o cavalo nunca fica imóvel, portanto o praticante tem que fazer ajustes musculares e corporais para manter-se em cima do animal; • Efeito Fisiológico: o movimento estimula o peristaltismo do estômago e intestino. E a temperatura do animal provoca relaxamento da musculatura; • Efeito Psicológico: ajuda a melhorar a confiança, concentração, autoestima e a integração com o grupo; • Efeito Sensorial: os movimentos realizados pelo cavalo estimulam o sistema nervoso periférico e central. Na equoterapia o cavalo atua não apenas como um espelho em que são projetadas as dificuldades, processos e vitórias, mas também como um novo estímulo, que propicia novas percepções e vivências para os seus praticantes. 30 31 Assim podemos considerar que a equoterapia favorece a reintegração social, que é estimulada pelo contato com da pessoa com outros praticantes, com a equipe e com o animal, trazendo-o cada vez mais ao o convívio da sociedade na qual convive. Conforme Medeiros e Dias (2002), na equoterapia há a participação do corpo inteiro do praticante, contribuindo em seu desenvolvimento global. Quando o cavalo se desloca ao passo, ocorre um movimento tridimensional que é transmitido ao praticante pelo contato do seu corpo com o do animal, proporcionando movimentos mais complexos atuantes nas funções neuromotoras, assim auxiliando na regularização do tônus postural, suas funções organização da cabeça, tronco e extremidades. Com a organização do tronco, este realizará adequadamente. O tronco deve ser capaz de alinhar os segmentos vertebrais e estabilizá-los, tanto na posição estática quanto na sustentação do peso, além de efetuar movimentos de flexão, extensão, inclinações laterais e rotações, podendo estes serem combinados graças à mobilidade da coluna vertebral. Esta dupla função, movimentação/estabilização, é assegurada pelos músculos do tronco (Calais-Germain, 1991). Os estímulos propiciados pelo cavalo contribuirão para o ajuste postural adequado, estabilizando os membros superiores e cintura escapular, e assim promovendo alinhamento, estabilidade, movimentos harmônicos, facilitando a execução da função (Medeiros e Dias, 2002). Ademais, de acordo com Lermontov (2004), o calor do cavalo, acoplado com o movimento rítmico, lento, uniforme e constante, provoca no praticante um embalo relaxante e adormecedor, estimulando uma diminuição do nível tônico muscular, sendo útil na redução da disposição muscular anormal, no caso de uma tonicidade exacerbada (hipertonia), promovendo um relaxamento no cavaleiro e ajudando na melhora dos padrões anormais, quebrando padrões patológicos. Em casos de uma tonicidade muscular diminuída (hipotonia), o aumento do tônus muscular é obtido pelas informações dadas pelo trote, por ser este um movimento vertical e saltitante, ou pelo passo encurtado, que 31 32 determinam uma ação reflexógena muito estimulante, favorecendo assim o aumento do tônus muscular. Para Haehl (1994), a “equoterapia pode ser considerada, também, um parâmetro de controle ambiental para ajudar na reorganização de um movimento levando a novos padrões de movimentos coordenados” (apud Freire, 1999, p. 31). Shepherd (1995) colabora afirmando que o ambiente exerce importante papel na modulação do desempenho motor. As atividades relacionadas com a prática de Equoterapia, conforme explica Masiero (2010), exigem suas execuções diretamente relacionadas com as habilidades psicomotoras. Além da montaria, diversas situações desenvolvem e estruturam conceitos psicomotores. Como exemplos, atividades de aproximação, pastoreio dos animais, organização do material de encilhamento, higienização do animal, conduzir/ser conduzido pelo cavalo, apear e despedir-se, indicam que tais aspectos são amplamente favorecidos, pois podemos observar estímulos significativos para o desenvolvimento da coordenação motora, do esquema corporal, dominância lateral, equilíbrio e estruturação espaço-temporal. O proposto é permitir que o praticante vivencie seu corpo ativamente em todas as situações envolvidas no ambiente equoterapêutico. OSÓRIO (p. 48) afirma que o objetivo da psicomotricidade é “fornecer elementos para que a criança possa construir seu desenvolvimento global, através do seu próprio corpo e da relação do corpo com o meio ambiente” (apud LERMONTOV, 2004, p. 20). Ao montar o cavalo, estamos trabalhando movimento amplo e dissociação, pois o praticante tem de lançar a perna direita por cima do animal. Jogar bola, abraçar, pegar na orelha ou no rabo do cavalo, assim como dar banho e escová-lo são alguns exemplos para movimentos amplos e dissociação de movimentos. Estes últimos são também importantes na relação 32 33 afetiva que a criança começa a estabelecer com o animal, proporcionando melhora na autoestima e autoconfiança, independência e senso de responsabilidade. O segurar a rédea com as mãos já estimula os movimentos finos, como fazer trança e pegar pequenos objetos presos na crina do cavalo ou então pegar folhinhas das árvores, visto que o trabalho é feito ao ar livre, o que ajuda na motricidade fina (LERMONTOV, 2004, p. 110-111). Da mesma forma, o esquema e a imagem corporal são estimulados através de nomeação, função, comparação e representação, todos realizados no ambiente terapêutico, utilizando-se da montaria ou não. Além disso, sabemos que a criança percebe seu próprio corpo por meio de todos os sentidos. Lermontov explica que o esquema corporal, que é neurológico, se estabelece pela simultaneidade das informações proprioceptivas e exteroceptivas. As informações proprioceptivas são percebidas pelas regiões articulares, musculares, periarticulares e tendinosas. O praticante, quando sentado sobre o cavalo, recebe novas informações, diferentes das habituais da posição em pé, sobre os pés, as quais levam a novas percepções sensoriais e consequentemente novo conceito neurológico de esquema corporal. A lateralidade já começa a ser estimulada quando o praticante monta, pois normalmente subimos pelo lado esquerdo do animal. Guiar o cavalo sozinho, por exemplo, já requer uma noção de lateralidade, para que não se erre o caminho estabelecido pelos terapeutas. Ainda segundo Lermontov, todas as funções intelectivas, como memória (visual, auditiva, cinestésica), atenção (visual e auditiva), concentração, organização e orientação espacial e temporal, ritmo, lateralidade, direção, análise e síntese, associação de idéias, figura-fundo, raciocínio lógico, compreensão, seqüência lógica, organização do pensamento, cor, forma, etc., estão sendo estimuladas durante qualquer tipo de exercício na equoterapia. Dependendo da necessidade de cada praticante, uma função será mais 33 34 enfatizada através de atividades específicas e adaptadas, podendo também fazer uso de jogos e atividades recreativas, dependendo de cada caso. Baseando-se nessas afirmações podemos então entender que a equoterapia oferece uma poderosa eficiente modalidade para remediar deficiências da cognição. A autora descreve que nossa cognição, assim como nosso sistema de fala e linguagem, é influenciada pela integridade de nosso sistema motor, perceptual e de comportamento. O efeito tridimensional do cavalo, então, pode ser usado para produzir efeitos em todo mecanismo humano. Marins (2010) declara que as atividades realizadas sobre e com o animal envolvem o corpo do indivíduo de forma “una”, e podem ser consideradas dentro de um contexto intelectual, emocional, mental, motor e psicológico. O corpo em movimento passa a ter um significante e um significado, e o aumento da função é o resultado frequente de um bom posicionamento. Ao cavalgar a criança precisa coordenar seus movimentos aos do cavalo e se concentrar, prestar atenção no cavalo e no meio que o cerca. O cavalgar cria a todo momento uma instabilidade de movimento, permitindo que o paciente seja encorajado a desenvolver novas maneiras de coordenar uma resposta postural, fundamental no processo de aprendizagem, na realização de atividades funcionais e principalmente no desenvolvimento psicomotor. “O domínio do corpo físico necessário em equitação, que passa a ocupar um espaço diferente no ambiente, conduz melhor o domínio de afetos, ligados à imagem do corpo do sujeito” (LERMONTOV, 2004, p. 89). Ter controle sobre o um animal maior e mais forte do que o praticante faz com que a autoconfiança se processe, o que se torna algo grandioso para ele. Pela execução de pequenas tarefas com habilidades mais avançadas, a confiança passa a ser adquirida gradualmente. A sensação de ser capaz, de poder realizar bem alguma coisa, pode ser considerada uma tarefa muito fácil para pessoas ditas “normais”, mas para o indivíduo deficiente ou com algum déficit psicomotor o faz sentir importante e útil, fazendo toda a diferença no seu processo de habilitação/reabilitação. A pessoa especial começa a ver que ela 34 35 própria tem controle sobre a força e a imponência transmitidas pelo cavalo que ela monta, o que favorece também a melhora da auto-estima e o desenvolvimento da paciência e autocontrole. Lermontov (2004) descreve que na equoterapia, o cavalo é uma novidade em relação a outras técnicas terapêuticas, pois ele não é uma pessoa nem um objeto, mas um ser vivo e comunicante que pode ser carregado de significados simbólicos. Ele é usado para despertar interesses, que já começam pelas características corporais, como o calor, cheiro, tamanho, etc. Ele funciona como “objeto” intermediador entre o mundo intra-psíquico do praticante, carregado de fantasmas, desejos e angústias, e o mundo exterior, supondo uma relação triangular entre praticante, cavalo e terapeuta. O equilíbrio é outro aspecto amplamente estimulado nas sessões de equoterapia, através do ritmo proporcionado pela andadura do cavalo ao passo. HOLLE (1990) define o equilíbrio como a capacidade que o indivíduo tem de controlar a estabilidade, ou seja, capacidade de manter constante em relação à gravidade, a sua posição. A capacidade de equilibrar-se está relacionada principalmente ao labirinto e cerebelo, que exerce grande influência sobre o equilíbrio, pois controla a coordenação de todos os movimentos. Segundo BAUMANN (1978, pg. 1460) “a associação do ritmo com o deslocamento pélvico durante o passo do cavalo é um excelente exercício para melhorar o equilíbrio”. O ritmo está presente o tempo todo durante uma sessão de equoterapia, desenvolvendo a melhora do equilíbrio, tornando possível ao praticante a percepção dos seus próprios ritmos como a batida do seu coração e ainda proporcionando uma sensação agradável mesmo que inconscientemente, ao trazer lembranças do seu passado através da estimulação sensório-motora ou afetiva. UZUN (2005, pg. 71) diz que “seu ritmo, sua cadência, seu balançar, criam um efeito tranquilizador e caloroso de maternagem”. Conforme Ayres (1972), o cérebro organiza as informações, de modo a dar uma resposta. E afirma, ainda, que o indivíduo responde de acordo com 35 36 suas capacidades e com o meio, sendo estas respostas ações objetivas e intencionais capazes de provocar mudanças neste meio. Shepherd (1995) afirma que a prática de um ato constitui um prérequisito indispensável para se adquirir habilidade na sua execução. De acordo com Duk (2006), sempre que os alunos possam aplicar concretamente o que aprendem, eles terão melhor lembrança e sentirão maior interesse em aprender. Complementarmente a esses dados, Alípio (2005) aponta que comprometimentos sociais e emocionais, tais como autismo, esquizofrenia, psicose, deficiência visual, deficiência auditiva, problemas escolares (distúrbios de atenção, percepção, linguagem, hiperatividade) e pessoas saudáveis, sem nenhuma deficiência física ou psicológica, podem ser auxiliados e ter ganhos físico-emocionais pela equoterapia. É fato, portanto, que a equoterapia proporciona um ambiente controlado capaz de fornecer base para adequação do processo sensorial e funcionamento neuromotor, ou seja, o praticante emite respostas adaptativas ao meio ambiente e aos movimentos do cavalo, podendo resultar em facilitação do processo de desenvolvimento psicomotor e melhor adequação da função. Sabemos que, para uma criança aprender, seja o conteúdo dado na escola, seja uma regra de jogo, um relacionamento com colegas, pais ou com a professora, seja uma história, um desenho ou um filme na televisão, ela precisam do funcionamento de um conjunto de características que agem integradamente. Estas características são orgânicas, motoras, cognitivas, emocionais, sociais e metodológicas. Atualmente, a tendência é de enfatizar a interdisciplinaridade dos conhecimentos de diversas áreas para o diagnóstico e o tratamento das dificuldades de aprendizagem. O principal embasamento para tal é o conhecimento do desenvolvimento e da aprendizagem em suas diversas abordagens. 36 37 Ao observar, portanto, um praticante em cima do cavalo, podemos ver que ele vivencia um momento lúdico, explorando aquele momento com os olhos, nariz, mãos e ouvidos, tentando descobrir sua finalidade e seus segredos, confirmados por descobertas de sensações e impressões táteis. Cada manobra executada na sessão de equoterapia é uma experiência que envolve ação e emoção, acarretando um comportamento diferente, em que podemos observar cada reação igual ou inversa ao que se propõe ao praticante. Podemos inferir com essa observação que, a partir de uma experiência motora simples, o praticante receberá informações preciosas e cumulativas para a classificação de um conjunto de outras semelhanças, mas percebidas em outras circunstâncias. Consegue-se, com isso, noções claras de conceitos como tamanho, forma, cor, espessura, em cima, embaixo, dentro, fora, de um lado (direito), do outro lado (esquerdo). Logo, a função motora, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afetivo se fazem presentes e estão intimamente ligados ao praticante. E é isso que a psicomotricidade quer destacar em sua abordagem: a relação entre o afetivo, o motor e a mente, por meio de uma técnica específica. Na equoterapia, podemos trabalhar a diversidade da perspectiva ecológica e a importância que o assunto ocupa na atualidade, fazendo a substituição do material pedagógico convencional, e que muitas vezes já se tornou ineficaz e/ou desmotivador para o praticante. Pelas possibilidades de um ambiente natural e saudável, podemos incluir a oportunidade de vivenciar nossas relações interpessoais, estabelecidas entre praticante – cavalo – terapeuta – guia condutor e família. São aspectos peculiares desse ambiente especializado da equoterapia que o fazem diferente dos demais. A relação de confiança entre praticante, cavalo e terapeuta, associada a um ambiente rico em estímulos e organizado em etapas, torna o contexto 37 38 equoterapêutico motivador, gerando prazer na realização das atividades. Este sentimento organiza a experiência das sensações e favorece o aprendizado no seu âmbito global, sem deixar de lado os aspectos específicos, contribuindo assim para o desenvolvimento de aspectos psicomotores, pois cria uma nova visão do seu próprio corpo e do potencial que se adquire ao vivenciar novas condutas corporais e percepção do mundo de forma diferenciada. 38 39 CONCLUSÃO O cavalo é o instrumento terapêutico utilizado com base nos benefícios de seu movimento natural “ao passo”, movimento este resultante de reações tridimensionais. É ainda um agente educativo e facilitador da integração físicopsíquica e social do indivíduo. O estímulo psicomotor do cavalo ao movimentar-se ao passo favorece maior noção do próprio corpo, e através do balançar transmitido a quem está montado e da postura exigida sobre o cavalo ocorre a manipulação corporal, ou seja, facilitação do desenvolvimento das potencialidades, necessidades e limites, agindo assim como facilitador do processo de desenvolvimento da consciência corporal, integração sensorial, coordenação motora, equilíbrio e força muscular, além da melhora da auto-estima, confiança e autocontrole. O trabalho ao ar livre diferencia este de muitos outros métodos, o que representa uma excelente oportunidade de transformar o ambiente de terapia e oferecer ao praticante uma nova forma de alcançar suas metas. A equoterapia vem crescendo e ocupando o seu espaço, podendo ser considerada um novo auxílio às técnicas atuais de reabilitação e educação. Nela temos a capacidade de associar a atividade lúdico-esportiva e um eficaz método terapêutico educacional. É um dos poucos métodos capaz de oferecer simultaneamente uma grande diversidade de estímulos, além de trabalhar o corpo como um todo, sendo assim uma importante e significativa abordagem terapêutica que traz consigo aspectos relevantes ao desenvolvimento da psicomotricidade. À guisa de uma conclusão, sabemos que a equoterapia é uma prática complementar que alcança bons resultados em muitos casos onde é aplicada. Ainda assim, por ser uma prática relativamente recente no Brasil (apenas em 1997 a Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitacional e o Conselho Federal de Medicina reconheceram a equoterapia como método terapêutico) 39 40 necessita ser mais bem fundamentada e explorada em suas aplicações e desenvolvimentos. As pesquisas nesta área são fundamentais para enriquecer e fundamentar esta prática. Talvez com o avanço progressivo das neurociências, possamos verificar e comprovar cientificamente os benefícios alcançados pela prática de equoterapia e como estes operam a curto, médio e longo prazo. 40 41 BIBLIOGRAFIA • ALÍPIO, T.S. Equoterapia – método terapêutico complementar. Revista Família Guanelliana, Ano 18, Nº 47, Rio Grande do Sul, fev. maio, 2005. • ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA. Fundamentos Básicos sobre Equoterapia. In: Coletânea de Trabalhos do I Congresso Brasileiro de Equoterapia, Brasília, 1999). • AYRES, A. J. Types of Sensory Integrative Dysfunction among Disabled Leaners. American Journal of Occupational Therapy, 1972. • BEAUNONT, P. La rieducazione degli handicappati fisici attraverso l’equitazione. Paris, 1972. 72 f. Tese (Doutorado em Medicina) – Faculdade de Medicina de Creteil, Universidade de Paris – Val de Maire. • BOULCH, J. L. Rumo a uma ciência de movimento humano. ANDEBRASIL, Apostila de Equoterapia: Brasília, 1996. • BRASIL. 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Contou com a participação de 03 pais, 03 professores e 03 profissionais envolvidos com tal prática. As perguntas que fizeram parte da entrevista foram: 1) No seu ponto de vista, quais os aspectos desenvolvidos pela prática de equoterapia? 2) Como você relaciona a equoterapia aos aspectos psicomotores principais? (esquema corporal, coordenação motora global e fina, equilíbrio, lateralidade, organização espaço-temporal). 3) A terapia com o cavalo atua como agente positivo ou negativo em relação às emoções do praticante? Por quê? 4) Na sua opinião, o ambiente da equoterapia estimula o desenvolvimento do praticante como um todo? Explique.” Após a realização da entrevista com todos os participantes, numa análise qualitativa, pôde-se observar que as respostas tiveram uma essência única, onde, em resumo, destacou-se que a equoterapia possibilita que sejam criados novos conhecimentos, pois melhora o comportamento da criança fazendo com que retenha mais atenção, interesse, uma conduta motora melhor 45 46 e com isso, num trabalho de intervenção multidisciplinar essa criança passa a ter ganhos em suas aquisições nos mais variados aspectos. O ponto de vista das profissionais envolvidas com esta prática traz como destaque que a alteração do ritmo do cavalo, sua direção, o lado de sentar, apresentação de outros objetos durante a terapia contribuem para a melhora da lateralidade, coordenação motora grossa e fina e todos os outros aspectos abordados no questionário, conforme relatou uma das entrevistadas: “É mais um instrumento estimulador, de aprendizagem de forma integral. Ao sair das quatro paredes, ao ar livre, já muda tudo.” Sob o olhar das professoras dos praticantes, observou-se que o ambiente lúdico e diferenciado teve a maior ênfase, levando aos ganhos de aprendizagem de forma integral e não fragmentada, tornando esse processo terapêutico completo, estimulando as áreas sensoriais, motora, afetiva e cognitiva. Nesta linha, um dos relatos chamou a atenção: “É tudo de bom. O raciocínio e o sentido da realidade são estimulados no contato com o animal e na exploração do ambiente. Eles aprendem brincando.” Todavia, o que mais se destacou, no meu ponto de vista, enquanto entrevistadora, foi o depoimento de uma mãe, onde emocionada relatou: “Sem dúvida, especificamente no caso do meu filho, que tem Paralisia Cerebral, é hemiplégico à direita, deficiente visual, tem disfunção neurológica e quadro autista, ou seja, um caso bem complexo, ele ficava mais calmo, aprendeu a esperar com maior aceitação, interagia com o cavalo, quando estimulado mantinha uma conversa por um tempo maior, sua memória melhorou encadeando informações, saía da terapia mais relaxado a ponto de dormir melhor, sendo possível diminuir a medicação para induzir seu sono, se alimentava melhor por causa do gasto de energia, mancava menos, ou seja, o tônus da sua perna direita melhorava, e seu comportamento melhorou consideravelmente. A equoterapia mudou a nossa vida.” 46 47 47