EQUOTERAPIA Júlio César Pereira Bastos* Lúcia Helena de Oliveira Sabato** Silvia Cristina Marra*** Sua história Segundo a história, já na Grécia Antiga, a equitação era vista como elemento regenerador da saúde, exercitando não só o corpo como também os sentidos. Isto porque era observado que o cavalo apresentava movimentos que beneficiavam o indivíduo em sua totalidade. Somente em 1747, Samuel T. Quelmalz faz a primeira referência literária ao movimento tridimensional do dorso do cavalo. Por movimento tridimensional entende-se os deslocamentos para frente e para trás, para cima e para baixo e para os lados, oferecendo, assim, uma variada gama de estímulos sensoriais, através da visão, tato, olfato e audição; favorecendo a conscientização corporal, o desenvolvimento da força muscular, o aperfeiçoamento da coordenação motora e o equilíbrio. Observando tais ganhos proporcionados ao cavaleiro, chegou-se à conclusão de que as pessoas portadoras de deficiências também poderiam beneficiar-se do trabalho sobre o cavalo, tendo em vista apresentarem dificuldades biopsicossociais. Surge, assim, a Equoterapia como forma de tratamento complementar às terapias convencionais. Após vários anos de estudos e pesquisas, a comprovação dos resultados levou o Conselho Federal de Medicina, em sessão plenária de 09/04/97, a reconhecer a Equoterapia como método terapêutico que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação. O cavalo é utilizado como agente promotor de ganhos físicos e psicológicos e o terapeuta como agente facilitador. A interação com o animal, a equipe, o espaço utilizado, os elementos da natureza, os cuidados preliminares, a montaria e o manuseio final desenvolvem ainda novas formas de socialização, maior confiança e aumento da auto-estima. Na Equoterapia são três os programas de atuação: Dependência ou hipoterapia, que diz respeito à situação na qual o praticante ainda não tem condições físicas e/ou mentais para governar o cavalo, e necessita de auxiliar-guia para controlar o animal e auxiliares laterais para o apoio. A ênfase é na ação dos especialistas da área de saúde e o cavalo, pelo movimento, influencia mais o praticante do que este o governa. Semi-autonomia ou reabilitação-reeducação, acontece quando o praticante tem condições de exercer alguma atuação sobre o cavalo, geralmente montando e apeando sem auxílio; existe equivalência nas ações dos especialistas de educação e saúde com os de equitação. As influências recíprocas praticante-cavalo são do mesmo grau. Autonomia ou pré-esportiva, nesta fase do programa o praticante tem boas condições para atuar sobre o cavalo; participa de pequenos exercícios de hipismo e está preparado para sua reinserção social. Há ênfase nas ações dos especialistas da área de equitação e o praticante influencia mais o cavalo do que este a ele. Para que estes programas aconteçam, é necessário que a equipe técnica seja interdisciplinar, a mais ampla possível, envolvendo diferentes áreas e buscando as potencialidades individuais de cada profissional envolvido, com o objetivo de fornecer ao praticante a mais variada gama de técnicas e estímulos. Nos diversos centros de Equoterapia já existentes, pode-se encontrar os seguintes profissionais atuando em conjunto: médico, fisioterapeuta, terapeuta-ocupacional, professor de educação-física, psicólogo, fonoaudiólogo, pedagogo, equitador e outros, todos trabalhando para estabelecer as prioridades de atuação dentro da equipe, de acordo com cada caso acompanhado. Por que o cavalo? Em seus primeiros tempos, o cavalo se encontrava física e mentalmente bem adaptado ao tipo de vida que levava e ao ambiente em que vivia. Tal situação se manteve até o momento em que realmente começou a conviver com o homem. O cavalo exibe uma impressionante capacidade de se adaptar a circunstancias e ambientes incomuns. Demonstra grande versatilidade e razoável disposição de submeter-se, dentro de certos limites, ao domínio do homem, mostrando boa vontade em cooperar e às vezes antecipando os desejos do cavaleiro. Uma de suas características é a de transferir lealdade, que antes era conferida a outro eqüino (o líder), a um ser humano e de obedecer ordens transmitidas a ele por vários meios. O cavalo procura no ser humano o seu líder, e é por esta razão que é possível treiná-lo a realizar façanhas. É provável que o cavalo seja o animal, com o qual o homem mantém contato, mais capaz de demonstrar o que está ocorrendo. Sendo extremamente sensível, ele expressa suas emoções muito obviamente e de formas variadas, sendo capaz de uma rápida mudança no caráter dessas emoções, facilitando que a maioria dos seres humanos possa interpretar. A partir da relação de troca entre cavalo e cavaleiro, pode-se observar que a montaria propicia diversas alterações significativas no processo habilitativo e/ou reabilitativo da pessoa portadora de deficiência (PPD). A dinâmica entre Cavalo-PPD atende a um número incalculável de forças, efeitos, gestos e reações. O estudo desta dinâmica concluiu que é possível a utilização de qualquer raça, desde que apresentem características favoráveis à prática de equoterapia, tais como: · Ter as três andaduras - passo, trote e galope - suaves, · Ter altura mediana, · Ser obediente, dócil e não se assustar facilmente, · Ter mais de cinco anos, · Ser aprovado por um equitador experiente, entre outras. Embora todas estas características tenham contribuído para a escolha do cavalo, o que determinou definitivamente seu uso na prática da equoterapia foi a marcha do animal, uma vez que esta produz um balanceio harmônico e assemelha-se à marcha humana. Para concluir, o cavalo representa uma presença concreta como objetivo de troca afetiva, como meio de suscitar conteúdos emocionais e afetivos por parte do indivíduo. Fonte Bibliográfica: A Psique do Cavalo - R.H.Smythe e Coletânea Especial de Apostilas sobre Equoterapia, editada pela Associação Nacional de Equoterapia). Sobre os Autores: * Fisioterapeuta ** Psicóloga *** Fonoaudióloga Texto preparado por profissionais do Ambulatório do Recanto Nossa Senhora de Lourdes - Obra Don Guanella - Centro de Educação Especial, que vêm realizando desde 1998 o trabalho em Equoterapia, atendendo pacientes já inscritos no programa de reabilitação. Inicialmente os profissionais da instituição foram habilitados através do Curso Básico de Equoterapia, promovido pela ANDE BRASIL (Associação Nacional de Equoterapia).