PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS – PRH – ANP/MCT – PRH-28/UFPE TÍTULO DO PROGRAMA: Engenharia do Processamento Químico do Petróleo e Gás Natural. (Confidencial – patenteável) ÊNFASE: Engenharia de Refino do Petróleo, Processos Petroquímicos e Biocombustíveis. TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Nome do Bolsista: Aquiles Silva do Nascimento Título do projeto: Processo de Produção de Nanopartículas Fluorescentes Orientadora: Elisa Soares Leite Recife, 2013 AQUILES SILVA DO NASCIMENTO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE NANOPARTÍCULAS FLUORESCENTES (CONFIDENCIAL – PATENTEÁVEL) Monografia apresentada ao curso de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Química, sob a orientação da Profª. Drª. Elisa Soares Leite. Recife 2013 A Deus, aos meus pais Antônio e Arquiléa, e a Tássia minha noiva. AGRADECIMENTOS Ao autor da existência por ter me ensinado que a vida é o maior de todos os espetáculos. Por me fazer entender que educando a emoção adquirimos o direito de sermos livres e felizes. Obrigado Deus. Aos meus pais Antônio José e Arquiléa Ferreira por todo amor, carinho, cuidado e dedicação, sendo fortes e sábios em meio às dificuldades, desde meu nascimento até o presente momento. Aos meus irmãos Anderson e Rainy, por me obrigarem a ser um exemplo, por ser o mais velho, me incentivando ainda mais na caminhada. Bem como o apoio de todos os familiares que lutaram comigo. À essência da minha motivação, o meu eterno amor, Tássia Nascimento, por ter tornado o meu mundo mais completo, me ensinado a suportar, a batalhar quase sem forças, e a correr em busca deste sonho, reflexo do nosso lindo futuro. Te amo! Aos amigos de curso Alessandro, Alisson, André, Arquimedes, Daysianne, Douglas, Eduarda, Elisa, Guilherme, Ícaro, José Vinícius, Kaline, Laise, Rafael Gleymir, Rafael Wanderley, Raquel, Renatha, Rodrigo, Thiago, Victória e tantos outros, os quais dividiram experiências e multiplicaram felicidade mesmo nos momentos mais difíceis. À professora Elisa por todo apoio, paciência, tranquilidade, e segurança, ensinando que encontramos rosas, mas também espinhos durante nossa caminhada, prosseguindo “devagar e sempre”, confiantes no objetivo e sem perder o foco. À professora Beate por fornecer a infraestrutura para realização desse trabalho através de seus laboratórios, a professora Giovannia, a professora Adriana, a Aluízio e Kilmara, bem como todos os integrantes do projeto NANOPETRO. À todos os professores da graduação como Angeles, Benachour, Celmy, César, Leandro, Nelson, e tantos outros que contribuíram para minha formação. Ao Laboratório de Combustíveis (LAC/UFPE) pela estrutura fornecida, ao apoio dado pelo professor Luiz e também pela supervisão do LAC, bem como à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP e à Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP – por meio do Programa de Recursos Humanos da ANP para o Setor de Petróleo e Gás – PRH-ANP/MCT, em particular ao PRH 28, do Departamento de Engenharia Química, Centro de Tecnologia e Geociências da UFPE, pelo apoio financeiro e capacitação profissional. “Saiba que a sabedoria também será boa para a sua alma; se você a encontrar, certamente haverá futuro para você, e sua esperança não irá lhe decepcionar.” Provérbios 24.14 RESUMO A nanociência e nanotecnologia (N&N) tem atraído a atenção de vários pesquisadores para o mundo nano, representado por uma porção de matéria de ordem de grandeza nanométrica, entre 10-9 e 10-7 m, o qual apresenta propriedades diferentes quando comparado com o mundo macro, que apresenta partículas que possuem tamanhos de ordem maior ou igual ao mícron, e também apresenta propriedades diferentes dos átomos ou moléculas intrinsecamente. Pesquisas desenvolvidas sobre nanopartículas possibilitaram a criação de nanomateriais com inúmeras aplicações para diversas áreas tecnológicas, com isso, grandes investidores foram inseridos nessa nova linha científica, como por exemplo, investimentos na indústria de petróleo. Portanto, nesse projeto procura-se desenvolver nanopartículas fazendo-se uma adaptação da metodologia de síntese em meio orgânico desenvolvida por Liu et al., substituindo o precursor óxido de cádmio pelo óxido de zinco, com o objetivo de que essas novas nanopartículas possam atuar como marcadores de combustíveis, e mostrar a viabilidade de desenvolver um marcador com origem nacional para combater a sonegação fiscal no comércio de solventes e outros derivados de petróleo que apresentam diferentes tributações. As nanopartículas desenvolvidas nesse projeto são conhecidas como Pontos Quânticos (PQs) do tipo seleneto de zinco (ZnSe). Neste projeto houve uma forte preocupação com o meio ambiente, e foi aplicado o conceito de química verde, visto que utilizando pontos quânticos de ZnSe, como marcador de combustível, se eliminaria a possibilidade de lançar no ambiente nanopoluentes tóxicos, como é observado no caso de desenvolver pontos quânticos de CdSe, o qual apresenta o cádmio, um elemento de alta toxicidade. Foram realizadas caracterizações dos solventes derivados de petróleo, comparações entre pontos quânticos de CdSe e ZnSe, e foi feita uma abordagem sobre o processo de produção das nanopartículas em escala industrial, que foi simulado por meio de balanço de massa, energia e a cinética química da obtenção dos nanomarcadores. Palavras-Chave: Petróleo, nanotecnologia, ponto quântico, química verde, balanço de massa, balanço de energia, cinética química, processo industrial. ABSTRACT Nanoscience and Nanotechnology (N & N) has attracted the attention of many researchers for the nano world, represented by materials in the nanometer order of magnitude, between 10-9 and 10-7 m, which has different properties when compared to macro world, which has particle sizes of microns order, and also has different properties than atoms or molecules intrinsically. Nanoparticles researches allowed the creation of nanomaterials with applications in many different technological areas, thereby, big investors were entered in this new scientific line, such as investments in the Oil Industry. Therefore, this project seeks to develop nanoparticles making up an adaptation of the synthetic methodology developed in organic media by Liu et al. by replacing the cadmium oxide precursor by zinc oxide, with the objective that new nanoparticles can act as fuel markers, to develop national original marker to combat tax evasion in the trading of solvents and other petroleum products which have different assessments. The nanoparticles developed in this project are known as Quantum Dots (PQs) of type zinc selenide (ZnSe). This project applied the concept of green chemistry, since using ZnSe quantum dots as fuel marker, to eliminate the possibility of releasing toxic environment nanopoluentes as CdSe, develop quantum dots, once cadmium, is highly toxic. Characterizations were made of oil derivatives solvents, comparisons between CdSe quantum dots and ZnSe, and were made an approach to the production process of the nanoparticles on an industrial scale, which was simulated by mass balance, energy and chemical kinetics of obtaining of nanomarkers. Keywords: Oil, nanotechnology, quantum dot, green chemistry, material balance, energy balance, chemical kinetics, scale-up. LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – Espectro eletromagnético contendo as três regiões espectrais (<http://meteoropole.com.br/category/camada-de-ozonio/>, 20/01/2013).....................18 FIGURA 02 – Representação esquemática da obtenção de espectro de absorção de uma amostra hipotética..............................................................................................21 FIGURA 03 – Representação esquemática da obtenção de espectro de excitação de uma amostra hipotética..............................................................................................22 FIGURA 04 – Representação esquemática da obtenção de espectro de emissão de uma amostra hipotética..............................................................................................23 FIGURA 05 – Emissão de suspensões coloidais de pontos quânticos de CdSe com diferentes diâmetros, excitadas em 365 nm. (FORTINA et al., 2005).......................26 FIGURA 06 – Representação esquemática de um éxciton num material semicondutor..............................................................................................................27 FIGURA 07 – Resultados espectroscópicos de emissão e absorção obtidos por Liu et al para a síntese de CdSe. (LIU, 2008).................................................................28 FIGURA 08 – Resultados espectroscópicos de emissão e absorção obtidos por Li et al para a síntese de ZnSe. (LI, 2004).........................................................................28 FIGURA 09 – Espectros de absorção e emissão para pontos quânticos de ZnSe (a) e ZnSe:Mn (b).............................................................................................................29 FIGURA 10 – Cadeias carbônicas típicas do óleo diesel. (CORGOZINHO, 2009)....30 FIGURA 11 – Espectros de emissão normalizados do diesel e diesel de soja (CAIRES, 2012)..........................................................................................................30 FIGURA 12 – Espectros de emissão do antraceno em solução de tolueno 10-5 mol L-1 excitado em três comprimentos de onda distintos. (MARTINS, 2001).................31 FIGURA 13 – Aparato experimental apresentando os sistemas reacionais “A” e “B” em etapa inicial...........................................................................................................33 FIGURA 14 – Esquema da metodologia de mistura dos sistemas reacionais “A” e “B”...............................................................................................................................34 FIGURA 15 – Representação da metodologia de obtenção das diluições da síntese........................................................................................................................35 FIGURA 16 – Esquema exemplificando a nomenclatura dada ao espectro de absorção de uma amostra hipotética.........................................................................36 FIGURA 17 – Espectros de emissão dos solventes derivados de petróleo puros utilizados no trabalho..................................................................................................39 FIGURA 18 – Espectro de absorção do ZnSe e CdSe..............................................42 FIGURA 19 – Espectros de excitação do ZnSe e CdSe respectivamente.................42 FIGURA 20 – Espectros de emissão do ZnSe e CdSe respectivamente...................43 FIGURA 21 – Escala laboratorial da síntese proposta neste trabalho.......................47 FIGURA 22 – Fluxograma do processo de produção de nanopartículas de ZnSe utilizando aparato industrial........................................................................................48 FIGURA 23 – Ilustração dos balanços materiais envolvidos na síntese de ZnSe em escala laboratorial (HIMMELBLAU, 2006)..................................................................51 FIGURA 24 – Gráfico do logarítmo da concentração em função do tempo...............61 LISTA DE ABREVIAÇÕES ANP - Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis AO - Ácido oleico Ar - Argônio BC - Banda de condução BV - Banda de valência Cd - Cádmio CdSe - Seleneto de Cádmio CSTR - Continuous Stirred-Tank Reactor DP - Diluição padrão Dl - Diluição Eg - Band gap EPI - Equipamento de proteção individual G - Gasolina HDA - Hexadecilamina LA - Ácido láurico NP - Nanopartícula N&N - Nanociência e nanotecnologia ODA - Octadecilamina ODE - Octadeceno PMC - Produtos de marcação compulsória PQ - Ponto quântico QD - Quantum dot Se° - Selênio elementar S - Enxofre T - Tolueno TBP - Tributilfosfina TOP - Trioctilfosfina TOPS - Trioctilfosfina com enxofre adicionado UV - Ultravioleta Zn° - Zinco elementar ZnO - Óxido de Zinco ZnSe - Seleneto de Zinco ZnSeS - Seleneto de zinco com enxofre adicionado LISTA DE SÍMBOLOS Å - Angstrom λ - Comprimento de onda i - Componentes da mistura ω - Fração mássica m - Massa Cp - Calor específico ΔT - Variação de temperatura Q - Quantidade de energia Ni - Número de moles do componente i formados ou reagidos r - Taxa ou velocidade de reação V - Volume da solução K - Constante de velocidade da reação C - Concentração t - Intervalo de tempo SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................13 2. OBJETIVOS....................................................................................................16 2.1. OBJETIVOS GERAIS......................................................................................16 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................16 2.2.1. Síntetizar Pontos Quânticos de ZnSe..........................................................16 2.2.2. Realizar caracterização espectroscópica do material nanoestruturado ZnSe obtido...............................................................................................................16 2.2.3. Comparar nanopartículas de ZnSe e CdSe.................................................16 2.2.4. Elaborar uma nova rota de síntese de ZnSe...............................................16 2.2.5. Balanço material de produção de ZnSe.......................................................16 2.2.6. Balanço energético de produção de ZnSe..................................................16 2.2.7. Cinética de formação de ZnSe......................................................................16 3. REVISÃO DA LITERATURA...........................................................................17 3.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.......................................................................17 3.1.1. Visão geral sobre Espectroscopia...............................................................17 3.1.2. Espectroscopia de Absorção, Emissão e Excitação no UV-VIS ...............19 3.1.3. Novos Nanomateriais....................................................................................23 3.1.4. Nanopartículas fluorescentes Pontos Quânticos.......................................25 3.1.5. Fluorescência dos solventes derivados do petróleo.................................29 4. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS...........................................................32 4.1. REAGENTES EMPREGADOS........................................................................32 4.2. EQUIPAMENTOS UTILIZADOS......................................................................32 4.3. METODOLOGIA DE SÍNTESE DOS PQs DE ZnSe.......................................32 4.4. DILUIÇÃO DAS AMOSTRAS..........................................................................35 4.5. NOMENCLATURA DAS AMOSTRAS.............................................................36 4.6. CARACTERIZAÇÃO ÓPTICA.........................................................................37 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO......................................................................38 5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS SOLVENTES DERIVADOS DE PETRÓLEO PUROS.......................................................................................................................38 5.2. COMPARAÇÃO ENTRE OS ESPECTROS DOS PONTOS QUÂNTICOS DE CdSe E ZnSe..............................................................................................................40 5.3. ROTA ALTERNATIVA DE SÍNTESE DE ZNSE EM MEIO ORGÂNICO.........44 5.4. FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS DE ZnSe.....................................................................................................................46 5.5. BALANÇO MATERIAL DE PRODUÇÃO DE ZnSe ........................................49 5.6. BALANÇO ENERGÉTICO DE PRODUÇÃO DE ZnSe....................................52 5.7. CÁLCULO CINÉTICO DA PRODUÇÃO DE ZnSe..........................................56 6. CONCLUSÕES................................................................................................62 7. PERSPECTIVAS.............................................................................................63 8. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................64 13 1. INTRODUÇÃO A capacidade de criar novos materiais de tamanhos cada vez menores, está desafiando o ser humano a desenvolver técnicas e ferramentas mais modernas para arranjar os átomos e moléculas no lugar desejado. Nos anos 80, Eric Drexler popularizou a palavra nanotecnologia, por meio do livro "Engines of Creation", referindo-se à construção de máquinas em escala molecular, de apenas poucos nanômetros de tamanho. Há muitos que a chamem de “a nova revolução industrial” ou “revolução tecnológica”. Certamente trará incríveis vantagens para humanidade, e neste contexto surgirão também grandes riscos (QUINA, 2004). A nanotecnologia é um conceito que ainda está em fase de amadurecimento. Muitos são os avanços nanotecnológicos, e embora não se saiba com clareza os princípios e teorias científicas envolvidas desde a etapa inicial até a obtenção do produto final, este novo mundo desafiador está crescendo de forma vertiginosa, apresentando resultados promissores em diversas áreas da ciência e tecnologia. Por todo o mundo tem se desenvolvido inúmeros trabalhos a respeito de partículas cristalinas em escala nanométrica. Um dos campos de estudo mais intrigantes, com relação às propriedades ópticas, é o dos semicondutores nanocristalinos coloidais, também conhecidos como pontos quânticos (PQs), que são o material de estudo deste trabalho. Estes PQs apresentam características interessantes, como por exemplo, a emissão em diferentes comprimentos de onda para um único material e alta fotoestabilidade, garantindo uma vasta aplicabilidade na área tecnológica, sendo utilizados em dispositivos optoeletrônicos, fotovoltaicos e biomédicos, marcadores biológicos, entre outros (SILVA, 2010). Este trabalho aplica o conceito de química verde visando desenvolver uma síntese de PQs (II-VI) em meio orgânico para que possam ser aplicados em derivados de petróleo, solventes ou combustíveis, de forma que minimizem o impacto ambiental que seria gerado por outros PQs mais convencionais. Na mídia nacional e internacional, debates a respeito da diminuição de impactos ambientais tem merecido destaque. Praticamente todas as reuniões entre 14 chefes de estado e órgãos de fiscalização ambiental contêm em suas pautas assuntos envolvendo a redução de emissões de poluentes ou o controle da degradação de reservas ambientais. Surge então o conceito de desenvolvimento auto-sustentável que permite que as necessidades do presente sejam supridas sem comprometer as necessidades das gerações futuras. A atividade química é frequentemente relacionada, direta ou indiretamente, com a maioria dos desastres ambientais, e para minimizar o impacto ambiental industrial procuram-se tratamentos adequados para seus resíduos. Hoje o desafio é buscar alternativas que minimizem a produção de resíduos (LENARDÃO, 2003). Esta nova visão focada na questão da redução do impacto da atividade química ao ambiente vem sendo chamado de "green chemistry", ou química verde, química limpa, química ambientalmente benigna, ou ainda, química autosustentável. A química verde pode ser definida como o desenho, desenvolvimento e implementação de produtos químicos e processos para reduzir ou eliminar o uso ou geração de substâncias nocivas à saúde humana e ao ambiente. Este conceito também pode ser atribuído à tecnologia limpa, onde é atualmente utilizado o termo “produção mais limpa”, devido ao fato de indústrias químicas aplicarem um controle rigoroso sobre os poluentes provenientes de seu processo industrial, e esta metodologia vem, gradativamente, sendo incorporada no meio acadêmico, no ensino e pesquisa, com a intenção de formar profissionais capacitados para os novos conceitos científicos e tecnológicos responsáveis pela sustentabilidade do planeta (LENARDÃO, 2003). Dentro da problemática atual vigente, um dos principais problemas que se destaca é o grande volume de efluentes tóxicos derivados dos inúmeros processos químicos atuais (PRADO, 2003). Boa parte dos projetos de pesquisa envolvendo PQs em meio orgânico desenvolvem a síntese do CdSe, utilizando o cádmio como precursor, porém o cádmio é altamente tóxico, apresentando toxicidade semelhante a do mercúrio. Neste trabalho viu-se a necessidade de implementar o método para que futuramente pudesse ser desenvolvido em larga escala, minimizando ou eliminando possíveis agressões ambientais. Portanto, optou-se por utilizar o zinco no lugar do cádmio, que só é tóxico em excesso, visto que é um elemento essencial 15 para vida, por estar presente em nossa alimentação e participar do metabolismo, e também por possuir propriedades semelhantes ao cádmio. A escolha do Zinco, entretanto, foi baseada na ideia de desenvolvimento do conceito de química verde, que é regido por 12 princípios. Princípios estes, provenientes da prática química guiada pela preocupação com a qualidade de vida e com o meio ambiente. Podemos destacar dois que fundamentam nosso projeto: o desenvolvimento de sínteses com compostos de menor toxicidade, em que sempre que possível deve-se substituir compostos de alta toxicidade por compostos de menor toxicidade nas reações químicas; e o desenvolvimento de compostos seguros, em que os produtos químicos deverão ser desenvolvidos para possuírem a função desejada, apresentando a menor toxicidade possível (PRADO, 2003). 16 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Síntese em escala laboratorial de nanopartículas pontos quânticos de ZnSe usadas como nanomarcadores de derivados de petróleo envolvendo a química verde. Cálculos e simulações para desenvolvimento inicial de balanço de massa, balanço de energia e cinética química para realização do scale-up do processo industrial de produção desses nanomarcadores. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 2.2.1. Sintetizar Pontos Quânticos de ZnSe; 2.2.2. Realizar caracterização espectroscópica do material nanoestruturado ZnSe obtido; 2.2.3. Comparar nanopartículas de ZnSe e CdSe; 2.2.4. Elaborar uma nova rota de síntese de ZnSe; 2.2.5. Balanço material de produção de ZnSe; 2.2.6. Balanço energético de produção de ZnSe; 2.2.7. Cinética de formação de ZnSe. 17 3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1.1. Visão geral sobre a Espectroscopia As interações das ondas eletromagnéticas com as espécies atômicas e moleculares têm, ao longo dos anos, despertado cientistas e pesquisadores sobre este fenômeno. A espectrometria teve sua origem com Bunsen e Kirchnoff, no início dos anos 1860. Ela também foi fator importante no desenvolvimento da mecânica quântica, como é evidenciado pela equação de Rydeberg para o espectro do átomo de hidrogênio, assim como na teoria do hidrogênio de Bohr. Neste contexto desenvolveu-se a espectroscopia, tendo por definição a ciência que trata das interações de diversos tipos de radiação com a matéria. Por muito tempo as interações de interesse eram aquelas entre a radiação eletromagnética e a matéria, mas atualmente o conceito de espectroscopia tem sido ampliado e já inclui as interações entre a matéria e outras formas de energia, onde se destacam as ondas acústicas e os feixes de partículas como íons e elétrons (SKOOG, 2009). A espectrometria surge acompanhada dos métodos espectrométricos, resultantes do interesse de medir a intensidade de radiação através de diversos tipos de dispositivos eletrônicos, em que podemos ressaltar o transdutor fotoelétrico, que converte grandezas físicas da luz em grandezas elétricas que são facilmente medidas, amplificadas, transmitidas e controladas. São amplamente utilizados os métodos espectrométricos baseados na radiação eletromagnética, que é um tipo de energia que assume diversas formas onde as mais reconhecidas em aplicações são a luz, os raios X e a radiação ultravioleta (SKOOG, 2009). Mais detalhadamente o espectro eletromagnético abrange uma faixa muito ampla de comprimentos de onda e frequências que podem ser diretamente relacionados com as energias, compreendendo desde os raios gama, que apresentam maior energia, até as ondas de radio, que por sua vez apresentam baixa energia (Figura 1). Existe uma terminologia um tanto ambígua ao se tratar de métodos ópticos, porém, ainda muito utilizada. É o fato de considerar como métodos 18 ópticos os métodos espectroquímicos que compreendem a radiação ultravioleta, a radiação visível e a radiação no infravermelho, mesmo considerando a inabilidade do olho humano em detectar fora da região do visível. Essa terminologia surge das muitas características comuns dos instrumentos para as três regiões espectrais e das similaridades entre as interações destas regiões e a matéria. Figura 1 – Espectro eletromagnético contendo as três regiões espectrais (<http://meteoropole.com.br/category/camada-de-ozonio/>, 20/01/2013). Para se entender os processos de absorção e emissão, foi necessária a extensão dos conceitos da teoria quântica inicialmente proposta por Max Plank, em 1900. Dos postulados sabe-se que os átomos, os íons e as moléculas podem existir somente em certos estados discretos, caracterizados por quantidades de energia definidas. Quando uma espécie altera seu estado, ela absorve ou emite uma quantidade de energia exatamente igual à diferença de energia entre esses estados. O estado de energia mais baixo de um átomo ou molécula é o seu estado fundamental. Estados de maior energia são denominados estados excitados. Geralmente, na temperatura ambiente as espécies encontram-se em seu estado fundamental (SKOOG, 2009). Para átomos ou íons na forma elementar, a energia de qualquer estado provém da interação dos elétrons ao redor do núcleo positivamente carregado. Em consequência, os vários estados de energia são denominados estados eletrônicos. Além de possuir estados eletrônicos, as moléculas também possuem estados vibracionais quantizados que estão associados com a energia das vibrações 19 interatômicas, e estados rotacionais quantizados, que surgem da rotação da molécula em torno de seu centro de massa. Para a espectroscopia é bastante claro o conceito de que as interações da radiação com a matéria fornecem informações sobre uma amostra. Portanto, o princípio baseia-se no estímulo de uma amostra, usualmente por meio da uma aplicação de energia na forma de calor, energia elétrica, luz, partículas ou reação química. Esse estímulo promove a transição das espécies do estado fundamental, de mais baixa energia, para o estado excitado, de mais alta energia. Desta forma, podemos extrair informações a respeito da espécie em questão, medindo a radiação eletromagnética emitida quando ela retorna ao estado fundamental ou medindo a quantidade de radiação eletromagnética absorvida, espalhada ou refletida em consequência da excitação. A energia relacionada como uma radiação eletromagnética (também chamada de fóton) é dada pela equação (1). Já a intensidade da radiação ou fótons corresponde à quantidade de fótons envolvida independentemente de sua energia (ATKINS, 2012). 𝐸 =ℎ𝜈 = ℎ𝑐 𝜆 (1) em que E representa a energia, h é a constante de Planck, 𝜈 é a frequência, c é a velocidade da luz e 𝜆 é o comprimento de onda do fóton. 3.1.2. Espectroscopia de Absorção, Excitação e Emissão no UV-VIS A aplicação da espectroscopia na região do ultravioleta e visível (UV-VIS), como técnica de caracterização, é muito utilizada no âmbito laboratorial por proporcionar resultados quantitativos e qualitativos em conformidade com os padrões de precisão e confiabilidade. A espectroscopia na região ultravioleta geralmente é dividida em três regiões, denominadas de ultravioleta próximo (400 a 300 nm), afastado (300 a 200 nm) e no vácuo (200 a 4 nm). É importante lembrar 20 que a faixa da região ultravioleta no vácuo possui ondas que são particularmente prejudiciais para a vida, por serem fortemente absorvidos pela atmosfera e pela camada de ozônio da Terra. No presente projeto realizamos caracterizações utilizando a região do ultravioleta e visível (200 a 780 nm). Para obtenção do tipo de informação desejada nas análises espectrométricas são utilizados três tipos de espectros: o espectro de absorção, o espectro de excitação e o espectro de emissão. Os resultados extraídos das medidas espectrais são apresentados na forma de gráfico, por um espectro que conceitualmente é uma representação bidimensional. No caso do espectro de absorção tem-se a quantidade de luz absorvida em função do comprimento de onda dessa luz. Para o espectro de excitação e emissão tem-se a radiação emitida em função da frequência ou do comprimento de onda (SKOOG, 2009). Ou seja, a espectroscopia de emissão e excitação envolve métodos nos quais os estímulos são proporcionados por calor ou energia elétrica. Assim, a potência radiante, proveniente da emissão quando os elétrons do elemento observado retornam ao estado fundamental, pode ser medida e a partir disso podem ser extraídas informações sobre sua identidade e sua concentração (SKOOG, 2009). Mais especificamente, para registrar o espectro de absorção, utiliza-se radiação eletromagnética para estimular a molécula do composto, permitindo que ocorram transições eletrônicas do estado fundamental para os estados excitados, o que requer absorção de energia. A medida da absorção é obtida pela absorbância (A), e baseia-se na Lei de Beer-Lambert mostrada pela equação (2), que relacionada a intensidade da luz incidente (I0) num dado comprimento de onda fixo com a intensidade transmitida (I1) após atravessar a amostra. Nesse caso a detecção da intensidade que atravessa a amostra é registrada no mesmo sentido da irradiação incidente na amostra, ou seja, 180° (SKOOG, 2009). 𝐴 = − log 𝐼1 𝐼0 (2) 21 Na Figura 2, observa-se uma representação esquemática da obtenção de espectro de absorção de uma amostra hipotética. Os comprimentos de onda incidentes na amostra (1, 2, 3, 4) e transmitidos pela amostra (1, 4) são medidos. Em seguida os comprimentos de onda representados por 2, 3 são absorvidos pela amostra, gerando excitações eletrônicas. Por fim o gráfico do espectro de absorção é obtido pela leitura da absorbância em função de cada comprimento de onda incidente . Intensidade representa a quantidade de fótons do mesmo tipo, ou seja, com uma energia ou fixo. Absorbância é uma grandeza adimensional representada pela razão entre a intensidade transmitida pela incidente. Figura 2 – Representação esquemática da obtenção de espectro de absorção de uma amostra hipotética. Já para registrar o espectro de excitação, utiliza-se o mesmo princípio espectroscópico do caso da emissão que será explicado posteriormente. A diferença é que se faz variar o comprimento de onda incidente, enquanto o comprimento de onda de observação (ou emitido) é escolhido pelo operador e mantido constante, conforme a Figura 3. Para um composto puro, a forma do espectro de excitação corrigido deve ser similar, senão idêntica, àquela de seu espectro de absorção e independente do comprimento de onda de observação (HOLLER, 1997). Na maior parte dos casos, este comprimento de onda corresponde ao máximo de absorção. Na Figura 3 tem-se a representação esquemática da obtenção de espectro de excitação de uma amostra hipotética. Ocorre uma varredura do comprimento de 22 onda incidente na amostra (1, 2, 3, 4). Em seguida apenas um dos comprimentos de onda emitidos é lido pelo detector para cada espectro. Portanto, o operador deve indicar o valor de de emissão que será medido em cada espectro. O valor recomendável para o de emissão a ser escolhido é que seja igual ao de absorção máximo, obtido anteriormente pelo espectro de absorção. O gráfico do espectro de excitação é obtido pela leitura da intensidade de fótons emitidos com fixo em função do espectro de fótons incidentes. Pela observação do espectro de excitação é possível obter o de excitação máximo, que poderá ter valor próximo ao de absorção máximo obtido pelo espectro de absorção. Figura 3 – Representação esquemática da obtenção de espectro de excitação de uma amostra hipotética. Para registrar o espectro de emissão de um composto, irradia-se a amostra com um comprimento de onda de excitação fixo e mede-se a intensidade da luz emitida, numa faixa espectral definida. O comprimento de onda de excitação ideal para registrar o espectro de emissão de um determinado composto fluorescente é, em geral, escolhido em função do seu espectro de absorção (HOLLER, 1997). Neste caso, a luz da lâmpada, ou seja, a radiação eletromagnética proveniente da lâmpada que possui um comprimento de onda incidente associado a sua energia, passa através da amostra e solvente contidos em uma cubeta, promovendo a transição eletrônica dos elétrons da banda de valência para a banda de condução. Em seguida, quando ocorre a transição do elétron retornando à banda de valência, há 23 emissão de luz em todas as direções, a partir da cubeta. A radiação de interesse que será emitida, será registrada por um detector que encontra-se perpendicular ao sentido da irradiação incidente na amostra, formando um ângulo de 90°, ou seja, em ângulos retos ao feixe de excitação. Esta técnica de registrar a emissão em ângulo reto tem como objetivo não misturar a intensidade da luz emitida pela amostra com a intensidade da luz que atravessará a cubeta sem ser absorvida pela amostra. Observando a Figura 4 tem-se a representação esquemática da obtenção de espectro de emissão de uma amostra hipotética. O comprimento de onda incidente na amostra é fixo e escolhido pelo operador, devendo ser escolhido como sendo o de excitação máximo obtido anteriormente pelo espectro de excitação da amostra. Depois de excitada, a amostra emite diversos comprimentos de onda (1, 2, 3, 4) que são medidos gerando o espectro. Isso acontece porque um único valor de de excitação é capaz de gerar diversos decaimentos eletrônicos para moléculas ou materiais complexos. O gráfico do espectro de emissão é obtido pela leitura da intensidade de fótons emitidos em função de cada comprimento de onda destes fótons emitido. Figura 4 – Representação esquemática da obtenção de espectro de emissão de uma amostra hipotética. 3.1.3. Novos nanomateriais O surgimento de nanomateriais tecnológicos, nos últimos anos, tem impulsionado o mercado mundial e potencializado o consumo de materiais, produtos 24 e processos voltados para esta área expressivamente. A nanotecnologia é um dos ramos da ciência que mais se desenvolve atualmente, fruto dos altos investimentos em pesquisa, sendo os maiores investidores os Estados Unidos, seguidos da Alemanha e Japão, enquanto que o Brasil integra o grupo no qual se encontram China e Índia (PASCHOALINO et al., 2010), com investimentos moderados. Para que os sonhos de novos materiais se tornem realidade no cotidiano, há muito trabalho a ser feito em pesquisa. Foram alcançados grandes avanços no desenvolvimento da síntese dos materiais, mas a dúvida sobre estas novas estruturas ainda é um desafio para muitos pesquisadores. O principal problema é a caracterização apropriada desses nanomateriais, desvendando suas estruturas internas e superficiais. Há várias maneiras para se sintetizar um mesmo material, que chamamos de rotas de síntese, e a escolha destas rotas tendem a gerar produtos diferentes. Essas diferenças podem afetar diretamente os fatores termodinâmicos relacionados com a síntese, já que uma determinada estrutura se forma a partir de composição, pressão e temperatura específicas. Outro fator relevante é que algumas técnicas que funcionam muito bem em escalas maiores não se aplicam aos nanomateriais quando queremos entender suas reações. Portanto, é frequente encontrar estudos contraditórios, no que se refere a detalhes envolvidos na compreensão da síntese de nanomateriais. A nanociência consiste no estudo dos fenômenos, manipulação, controle da estrutura e propriedades dos materiais na escala atômica, molecular e macromolecular. Já a nanotecnologia corresponde ao projeto, caracterização, produção e aplicação de estruturas, dispositivos e sistemas em que a matéria é nanoestruturada (CONDE, 2005). Os nanomateriais tem dimensões desde cerca de 0,1 nm até 100 nm. Os nanomateriais aparecem como um novo tipo de material que apresenta novas e distintas propriedades, processabilidades e capacidades, em relação aos materiais macroscópicos. É comum classificar os nanomateriais pelo número de dimensões em escala nano. Os filmes finos, monocamadas e superfícies, possuem uma dimensão em escala nano, e são utilizados, respectivamente, na indústria 25 microeletrônica e no desenvolvimento de micro-reatores. Nanotubos e os nanofios são exemplos de nanoestruturas com duas dimensões em escala nano. As nanopartículas são nanoestruturadas em três dimensões e exibem propriedades mecânicas, ópticas e eletrônicas diferentes das partículas com dimensões macroscópicas, devido a efeitos de superfície e efeitos quânticos. As nanopartículas podem se comportar como isoladoras, semicondutoras ou metálicas (CONDE, 2005). As aplicações de nanopartículas e nanomateriais englobam vários ramos da tecnologia, tais como aplicações estruturais (cerâmicos, revestimentos, filmes finos, metais, catalisadores, compósitos), nos produtos cosméticos, nas tecnologias da informação (nanotubos, nanoeletrônica, materiais optoeletrônicos), em biotecnologia (nanocápsulas, materiais biocompatíveis, quantum dots, biosensores), na aplicação de sensores e microssistemas funcionais, e em aplicações ambientais (nanofiltração e membranas avançadas) (CONDE, 2005). 3.1.4. Nanopartículas fluorescentes Pontos Quânticos O estudo no domínio dos nanomateriais e das nanotecnologias não foca apenas no “muito pequeno”. Quando sistemas químicos, estruturalmente organizados e integrados, têm a capacidade de realizar funções específicas, são denominados dispositivos supramoleculares. Assim, observa-se que as propriedades na escala nanométrica são mais importantes que o tamanho das estruturas em si. Esta afirmação discorre das análises evidenciadas em estruturas menores que 100 nm que apresentam novas propriedades, diferentes das observadas no mesmo material em outro estado de organização, como o macroscópico (FORMIGA, 2007). O exemplo mais conhecido desse tipo de fenômeno é a variação de coloração de nanopartículas fluorescentes, denominadas pontos quânticos (PQ) ou quantum dots (QD), com o seu tamanho, como ilustra a Figura 5. Este tema já foi abordado inúmeras vezes na literatura (ALMEIDA, 2008; MAMBRINE, 2008; SILVA, 2010; FEITOSA, 2012), e por isso não será mais detalhado neste trabalho. 26 Figura 5 – Emissão de suspensões coloidais de pontos quânticos de CdSe com diferentes diâmetros, excitadas com uma lâmpada UV em 365 nm (FORTINA et al., 2005). Portanto, nanopartículas metálicas e semicondutoras possuem propriedades físicas e químicas que estão diretamente ligadas ao seu tamanho e forma. Quando o tamanho de um material é reduzido à dimensões nanométricas, estes materiais podem apresentar um comportamento intermediário entre o bulk e o molecular (OTUBO, 2005). Um exemplo é a diminuição da densidade de estados eletrônicos numa partícula metálica que é intermediária entre o modelo de bandas de sólidos estendidos, e os níveis discretos de energia dos orbitais moleculares, modificando as suas propriedades eletrônicas. Outra propriedade diretamente relacionada com a diminuição do tamanho das partículas é o aumento de sua área superficial, melhorando a sua eficiência em aplicações que sejam dependentes de sítios superficiais, como a catálise. Portanto, os fenômenos físicos intrínsecos à escala nanométrica e os fatores externos que alteram o comportamento dos materiais são variáveis indispensáveis na aplicação da nanotecnologia molecular. Exemplificando, os pontos quânticos são nanopartículas de semicondutores que encontram-se em regime de confinamento quântico. Uma nanopartícula de semicondutor encontra-se em regime de 27 confinamento quântico quando suas dimensões são reduzidas ao ponto de a diferença entre os valores de energia da banda de valência e a banda de condução serem próximas ou menores do que as dimensões do raio de Bohr do seu éxciton (CHAVES, 2006). Quando uma radiação UV incide sobre uma nanopartícula de semicondutor com energia suficiente para promover elétrons da banda de valência (BV) para a banda de condução (BC), vencendo a barreira energética do Band Gap (Eg), ocorre a formação de vacâncias, gerando pares elétron-buraco na nanopartícula. Essa combinação eletrônica é chamada de éxciton de acordo com a Figura 6. A vacância possui carga igual a do elétron, porém, com sinal oposto. O raio de Bohr, já citado anteriormente, é conceituado como o raio da camada mais próxima do núcleo do átomo. Já o Raio de Bohr do éxciton é definido pela distância média entre o buraco e o elétron de um éxciton (VIOL, 2011). Figura 6 – Representação esquemática de um éxciton num material semicondutor. As nanopartículas apresentam características particulares, como espectros de absorção e emissão, que variam desde a estrutura, ou seja, elementos diferentes na composição das nanopartículas, quanto às condições de síntese, que podem mudar de acordo com o tempo de síntese, temperatura, pressão, entre outros fatores. Essas particularidades podem ser observadas nos espectros das Figuras 7, 8 e 9 que foram realizadas para nanopartículas de CdSe, ZnSe e ZnSe dopado com Manganês (ZnSe:Mn) respectivamente. 28 Figura 7 – Resultados espectroscópicos de emissão e absorção obtidos por Liu et al. (2008) para a síntese de CdSe. Figura 8 – Resultados espectroscópicos de emissão e absorção obtidos por Li et al. (2004) para a síntese de ZnSe. 29 Figura 9 – Espectros de absorção e emissão para pontos quânticos de ZnSe (a) e ZnSe:Mn (b) (SILVA, 2010). 3.1.5. Fluorescência dos solventes derivados do petróleo Assim como os pontos quânticos outros compostos também apresentam o fenômeno da fluorescência. O óleo diesel que é utilizado como meio reacional no desenvolvimento da síntese deste projeto é um combustível derivado do petróleo e possue como composição hidrocarbonetos saturados conhecidos como parafínicos, insaturados, também chamados de olefínicos, e aromáticos. As cadeias carbônicas do óleo diesel são formadas principalmente por 10 a 19 átomos de carbono (Figura 10) (CORGOZINHO, 2009). 30 Figura 10 – Cadeias carbônicas típicas do óleo diesel. Ou seja, compostos orgânicos típicos do óleo diesel contendo esqueletos com cadeias carbônicas Cx (CORGOZINHO, 2009). Segundo Corgozinho (2009) a alta fluorescência é característica de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos contendo 5 e 6 anéis, e portanto, permite a utilização da espectrofluorimetria na análise de derivados de petróleo. A fluorescência do diesel e do biodiesel pode ser observada na Figura 11, e a contribuição dos hidrocarbonetos aromáticos do antraceno pode ser observada na Figura 12. Figura 11 – Espectros de emissão normalizados do diesel e diesel de soja obtidos na literatura (CAIRES, 2012). 31 Figura 12 – Espectros de emissão do antraceno em solução de tolueno 10-5 mol L-1 excitado em três comprimentos de onda distintos (MARTINS, 2001). 32 4. PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS 4.1. REAGENTES (EMPREGADOS) Durante o processo de obtenção de Pontos Quânticos (PQs) de ZnSe em escala laboratorial, foram utilizados os seguintes reagentes: Óxido de Zinco (ZnO) – Sigma Aldrich; Selênio (Se) – Sigma Aldrich; Ácido Oleico – Sigma Aldrich; Óleo Diesel B S50 (amarelo) – Comercial (Doação do Laboratório de combustíveis LAC/UFPE); Óleo Diesel B S500 (vermelho) – Comercial (Doação do Laboratório de combustíveis LAC/UFPE); Tolueno – Sigma Aldrich; Gasolina – Comercial (Doação do Laboratório de combustíveis LAC/UFPE). 4.2. EQUIPAMENTOS UTILIZADOS Balança analítica; Duas mantas de aquecimento – EDULAB; Dois condensadores; Dois termômetros de mercúrio; Quatro septos de borracha; Uma seringa de vidro de 20 ml; Duas Cubetas de Quartzo; Espectrofotômetro; Fluorímetro. 4.3. METODOLOGIA DE SÍNTESE DOS PQs DE ZnSe Neste trabalho, para obtenção dos PQs de ZnSe em meio orgânico, foi utilizada uma metodologia baseada na síntese original desenvolvida por Liu et al. 33 (2008), substituindo-se o precursor óxido de cádmio (CdO) pelo óxido de zinco (ZnO), incorporando a química verde no processo. Como precursores foram utilizados o ZnO e selênio elementar (Se°). Como agente estabilizante empregou-se ácido oleico (A.O.) e como solvente de coordenação o óleo diesel que não participa da reação, atuando apenas como meio suporte para que sejam atingidas temperaturas em torno de 230 °C. A síntese das nanopartículas de ZnSe teve início com o emprego de dois meios reacionais, contendo os precursores supracitados. O sistema reacional “A” foi constituído por 0,1953 g (2,4 mmol) de óxido de zinco em pó, 30 ml de óleo diesel adicionados com auxílio de uma proveta e 1 ml de ácido oleico adicionado com pipeta graduada. O sistema reacional “B” foi constituído por 0,095 g (1,2 mmol) de selênio elementar, ao qual foi adicionado 20 ml de óleo diesel com uma proveta. Esses meios reacionais foram aquecidos separadamente em balões de duas vias com fundo redondo de 250 ml acoplados a mantas de aquecimento. Ambos os sistemas foram fechados e submetidos a refluxo para a condensação dos compostos voláteis. Para isso, utilizaram-se dois condensadores acoplados aos balões. A outra via foi tampada com septo de borracha, e através dela adicionados dois termômetros de mercúrio. A Figura 13 mostra o sistema descrito. Figura 13 – Aparato experimental apresentando os sistemas reacionais “A” e “B” em etapa inicial. 34 Os sistemas permaneceram separados sob aquecimento na faixa de 200 a 230°C até que não houvesse mais óxido de zinco e selênio elementar depositados no fundo dos balões. Após atingir essa etapa, o sistema reacional “A” (ZnO + A.O. + Diesel) foi adicionado ao sistema reacional “B” (Se° + Diesel) usando-se uma seringa de vidro de 20 ml, conforme a Figura 14. Figura 14 – Esquema da metodologia de mistura dos sistemas reacionais “A” e “B”. Após a mistura dos meios reacionais “A” e “B”, com 20 minutos de aquecimento na manta a 240°C, foi coletada uma amostra com a seringa de vidro e armazenada em frasco âmbar devidamente fechado. Por fim, com 40 minutos de reação a síntese foi finalizada e armazenada em outro frasco âmbar devidamente fechado. 35 4.4. DILUIÇÃO DAS AMOSTRAS Ao término da síntese dos PQs foram coletadas alíquotas das sínteses mãe de 20 e 40 minutos e iniciada uma etapa de diluições sucessivas. Inicialmente foi realizada uma primeira diluição chamada de diluição padrão (DP) que possui a proporção de 100 μL de síntese mãe para 2700 μL de tolueno (T) ou gasolina (G), em que estes últimos foram os diluentes para a obtenção das dispersões diluídas de ZnSe sintetizadas em diesel. A partir da diluição padrão foram realizadas as diluições com os diluentes nas seguintes proporções: 1 unidade de solução da DP / 10x unidades de diluente (onde x = 1, 2, 4, e 6). Os termos “dl0x” representam as diluições, sendo x = 1, 2, 4 e 6. Pode-se observar com mais clareza através da representação apresentada na Figura 15. Figura 15 – Representação da metodologia de obtenção das diluições da síntese. 36 4.5. NOMENCLATURA DAS AMOSTRAS Com o intuito de criar um banco de dados com os espectros de cada amostra, foi criada uma nomenclatura que reuniu as informações relevantes sobre os devidos espectros. O modelo criado foi ordenado da esquerda para a direita separando-se as classes de interesse por pontos, conforme a seguinte sequência: I – data (ano.mês.dia); II - quantum dot; III – nome do pesquisador que realizou a síntese e os espectros (apenas a inicial); IV – tipo de espectro (absorção, emissão ou excitação); V – PMC ou “Produto de Marcação compulsória” utilizado (diesel, gasolina ou tolueno); VI – tempo de aquecimento da síntese mãe após serem misturados os meios reacionais; VII - o termo “dl0x” é referente à diluição, sendo x = 1, 2, 4 e 6, que representa: 1 unidade de solução da DP / 10x unidades de diluente (onde x = 1, 2, 4, e 6), vale a pena informar que quando o espectro é referente à diluição padrão utilizamos “DP”; VIII – fendas de entrada e saída respectivamente e IX – comprimento de onda em que foi excitada a amostra. Exemplificando a nomenclatura dada ao espectro de uma amostra preparada no dia 16 de outubro de 2012, contendo solução de ZnSe, realizada por Aquiles, referente ao espectro de absorção de uma amostra diluída em tolueno, em que o tempo de coleta dessa síntese mãe foi de 20 minutos e as fendas utilizadas para entrada e saída foram 10 e 2,5 respectivamente, tendo a amostra sido excitada em 365 nm, encontra-se na Figura 16. Figura 16 – Esquema exemplificando a nomenclatura dada ao espectro de absorção de uma amostra hipotética. 37 4.6. CARACTERIZAÇÃO ÓPTICA A caracterização por espectroscopia de absorção eletrônica no UV-Vis foi realizada no espectrofotômetro da marca Thermo Scientific, com o objetivo de identificar se houve formação de nanopartículas de ZnSe. Na caracterização espectroscópica de excitação e emissão foi utilizado o espectrofluorímetro da marca Perkinelmer LS55. A varredura no espectrofluorímetro foi realizada aplicando-se o passo de 1 nm e as fendas utilizadas foram: fendas de entrada de 10 ou 15 nm, e fendas de saída de 3,0; 3,2; 3,4; ou 4,0 nm. O ajuste das fendas foi realizado de acordo com a necessidade de cada experimento. 38 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1. CARACTERIZAÇÃO DOS SOLVENTES DERIVADOS DE PETRÓLEO PUROS Os solventes derivados de petróleo puros, que também são conhecidos tecnicamente por PMCs (Produtos de Marcação Compulsória), foram estudados separadamente para que fossem observadas suas contribuições antes de serem analisados frente às nanopartículas de ZnSe sintetizadas. Essa preocupação inicial teve por finalidade escolher qual PMC seria utilizado para realizar as diluições dos PQs sem comprometer os resultados obtidos nas caracterizações. Foi identificado através do espectro de emissão dos PMC gasolina, querosene e tolueno, representados na Figura 17, que a gasolina apresenta uma fluorescência expressiva com máximo da banda de emissão em 380 nm, em torno de 920 (u.a.), e o querosene apresenta fluorescência baixa em 390 nm, com relação à fluorescência da gasolina, em torno de 150 (u.a.). Já no caso do tolueno a fluorescência é praticamente inexistente quando comparado com a gasolina e o querosene, ficando em torno de 20 (u.a.). Como o tolueno apresentou fluorescência praticamente desprezível, escolhemos este PMC para realizar as diluições dos PQs. O tolueno também foi utilizado para lavagem de cubetas durante as análises espectrais, visto que é muito comum a utilização de tolueno, etanol e éter etílico para lavagem de vidrarias em análises espectroscópicas (NASSAR, 1999). 39 Tolueno puro Querosene puro Gasolina pura 1000 Intensidade (u.a.) 800 600 400 200 0 350 400 450 500 550 600 650 Comprimento de onda (nm) Figura 17 – Espectros de emissão dos solventes derivados de petróleo puros. Detalhes: tolueno (12.11.01.00.nA.EM.pmcT.f154,0.350), querosene (12.11.01.00.nA.EM.pmcQ.f10-3,0.365), e gasolina (12.11.06.00.nA.EM.pmcG.f10-3,0.365). Analisando-se o solvente, o óleo diesel comercial, que foi usado como meio reacional para a realização da síntese, viu-se que este não apresentou fluorescência. O diesel utilizado foi o Óleo Diesel B S500, onde o “B” indica que o óleo diesel encontra-se misturado com até 5% de biodiesel e o “S500” representa combustíveis com teor de enxofre, máximo, de 500 mg/kg, segundo a Resolução ANP Nº 65, DE 9.12.2011 - DOU 12.12.2011. O Óleo Diesel B S500 apresenta uma coloração avermelhada proveniente de um corante utilizado pra diferenciá-lo de outros combustíveis conforme a Resolução ANP Nº 65. Na forma comercial, o diesel apresenta uma concentração tal que não permite que seja observada fluorescência visível quando ele é submetido à iluminação da lâmpada de UV, e consequentemente também não permite que seja detectada fluorescência pelo fluorímetro. Entretanto, quando o diesel foi diluído em tolueno na proporção de 1:27, ou seja, 0,1mL de diesel para 2,7mL de tolueno, apresentou fluorescência de intensidade maior que a observada para a o espetro de emissão da 40 gasolina. A fluorescência do diesel pode ser observada na Figura 11 através das bandas de emissão. As bandas de emissão observadas no diesel, gasolina, querosene e tolueno, diminuem de intensidade, respectivamente, nesta ordem. Isto ocorre pela expressiva contribuição dos compostos aromáticos que apresentam propriedades ópticas de fluorescência e fosforescência e estão mais presentes no diesel, em seguida na gasolina e em menor quantidade no querosene. Praticamente não há compostos aromáticos fluorescentes no tolueno, por se tratar de um líquido puro, constituído por metil-benzeno (CORGOZINHO, 2009). Os tipos de hidrocarbonetos saturados (parafínicos), insaturados (olefínicos) e aromáticos presentes nestes solventes, como é o caso do óleo diesel, estão relacionados às frações ou cortes do petróleo que são obtidos no processo de destilação do petróleo nas refinarias (FAHIM, 2012). Como já foi descrito na seção 3.1.5. as cadeias carbônicas do óleo diesel são formadas em média por 10 a 19 átomos de carbono, como exemplificado na Figura 10, e a sua faixa de ebulição é de aproximadamente 180 a 370 °C, motivo pelo qual o diesel foi escolhido como meio reacional, pois a temperatura da síntese pode atingir em torno de 240 °C (CORGOZINHO, 2009). As bandas de emissão dos solventes PMCs estudados são praticamente idênticas as dos compostos aromáticos, como benzeno e antraceno, os quais possivelmente estão participando da fluorescência apresentadas nos espectros dos PMC. O espectro do antraceno pode ser observado na Figura 12, apresentando três picos característicos que também estão presentes nos solventes diesel, gasolina, querosene e tolueno, com λmáx em torno de 382 nm, 404 nm e 428 nm. 5.2. COMPARAÇÃO ENTRE OS ESPECTROS DOS PONTOS QUÂNTICOS DE CdSe E ZnSe Foi realizada previamente uma síntese bem sucedida de PQs de CdSe exatamente pelo mesmo procedimento de síntese do ZnSe, apenas substituindo-se o Zn0 pelo Cd0 como precursor. Para as nanopartículas de CdSe, sintetizadas anteriormente, cada tempo de síntese corresponde a um espectro diferente devido ao tempo ou cinética de nucleação e crescimento das nanopartículas. Conforme é aumentado o tempo de tratamento térmico é favorecida a etapa de crescimento das 41 nanopartículas, que consequentemente promove o aumento no tamanho dos PQs alterando suas propriedades óticas, e quanto maior o tamanho da nanopartícula maior será o comprimento de onda correspondente ao máximo de emissão desta (LIU, 2008). Esta afirmação feita por Liu et al. (2008) pode ser verificada pelo gráfico exposto na Figura 7, tanto pelos espectros de absorção quanto de emissão. Após as nanopartículas de ZnSe serem sintetizadas e caracterizadas não foi observado o mesmo fenômeno, variação dos espectros com o tempo, embora seja comprovada por Li et al que a teoria aplicada ao ZnSe seja idêntica a observada para as nanopartículas de CdSe conforme a Figura 8 (LI, 2004). Nos gráficos das Figuras 18, 19 e 20, mostra-se a comparação entre os espectros de ZnSe e CdSe, de absorção, excitação e emissão respectivamente. Verifica-se a semelhança entre os espectros de ZnSe para as três formas de caracterização mesmo havendo variação no tempo de síntese, em se tratar de amostras de 20 minutos de síntese e 40 minutos de síntese. A Figura 18 mostra a comparação entre os espectros de absorção dos PQs de ZnSe e CdSe. A banda de absorção para o CdSe é melhor definida que a banda de absorção do ZnSe, e quando ocorre variação no tempo de síntese o CdSe responde a essa variação, enquanto o ZnSe apresenta uma variação quase desprezível. 42 3,0 ZnSe.dP.t20 ZnSe.dP.t40 CdSe.dP.t20 CdSe.dP.t40 Absorbância (A) 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 300 400 500 600 700 Comprimento de onda (nm) Figura 18 – Espectro de absorção do ZnSe e CdSe. Quando são analisados os espectros de excitação, na Figura 19, observa-se a não variação significativa para as curvas espectrais do ZnSe, oposto ao que ocorre com o CdSe. Também não é apresentado deslocamento no comprimento de onda da banda de excitação, sendo novamente um resultado oposto ao que é apresentado no espectro do CdSe. 800000 600 CdSe.dP.t40 CdSe.dP.t10 Intensidade (u.a.) Intensidade (u.a.) ZnSe.dP.t40 ZnSe.dP.t20 300 600000 400000 200000 0 300 330 Comprimento de onda (nm) 360 0 300 350 400 450 500 550 Comprimento de onda (nm) Figura 19 – Espectros de excitação do ZnSe e CdSe respectivamente. 43 Ao observar o espectro de emissão das nanopartículas, na figura 20, concluise que os resultados são idênticos aos já apresentados pelos espectros de absorção e excitação. 1000 ZnSe.dP.t20 ZnSe.dP.t40 CdSe.dP.t20 CdSe.dP.t40 Intensidade (u.a.) 800 600 400 200 0 400 500 600 Comprimento de onda (nm) Figura 20 – Espectros de emissão do ZnSe e CdSe. Portanto os gráficos apresentados pelas Figuras 18, 19, e 20 proporcionam dois questionamentos. O primeiro ponto é que os PQs podem não ter sido formados ou sintetizados. O segundo ponto é que os PQs podem não estar sendo medidos pelos gráficos, visto que o diesel apresenta compostos fluorescentes na sua composição, como já foi visto na seção 5.1., que podem mascarar os resultados das nanopartículas de ZnSe, que emitem na mesma região espectral visível, no azul, conforme afirmado por Silva (2010). Os pontos quânticos sintetizados por Silva (2010) mostram absorção e emissão de nanopartículas de ZnSe puras e dopadas em manganês, como mostrado na Figura 9, sendo esta dopagem uma alternativa para evitar a superposição de bandas entre o ZnSe e o diesel, já que o ZnSe:Mn emitiria em uma faixa de comprimento de onda diferente. Já foi citado na seção 5.1., que o espectro do diesel puro não é fluorescente, mas, o espectro do diesel diluído em tolueno é fluorescente. Este fenômeno é proveniente da alta densidade ótica do diesel, que proporciona uma absorbância 44 elevada. Portanto, quando se tem uma absorbância elevada não se consegue excitar a amostra, pois a luz incidente tem uma parte absorvida e outra desviada, e com isso a medição espectroscópica fica prejudicada. Assim, quanto maior a densidade ótica menor a quantidade de luz que atravessa a amostra (SKOOG, 2009). 5.3. ROTA ALTERNATIVA DE SÍNTESE DE ZnSe EM MEIO ORGÂNICO Os resultados encontrados no presente trabalho, com relação à interferência do óleo diesel na leitura da fluorescência dos nanomarcadores de ZnSe pela sua propriedade de também apresentar fluorescência, motivaram a procura de novas rotas de síntese de pontos quânticos de ZnSe em meio orgânico. A rota utilizada neste trabalho foi uma rota simples e original, utilizando-se apenas ZnO, ácido oleico, óleo diesel comercial e Se°, sem utilizar atmosfera inerte, como descrita na seção 4.3. Conhecendo-se os efeitos dos solventes PMCs, realizou-se um levantamento das principais rotas de síntese de ZnSe em meio orgânico descritas na literatura que não apresentaram fluorescência do solvente. Estas rotas foram avaliadas e foi escolhida uma rota na tentativa de se desenvolver uma síntese aplicando-se os princípios da química verde. Existe uma nomenclatura técnica utilizada para algumas rotas que serão utilizadas na discussão a seguir, denominada “core/shell” ou “caroço/casca”. Esta nomenclatura se refere a uma matriz ou caroço que é revestida por uma casca, para manter as nanopartículas estáveis com relação as suas propriedades óticas. A primeira rota analisada foi proposta por Chen et al. (2004), gerando PQs de ZnSe com alta eficiência de emissão e fotoluminescência. A síntese proposta por Chen envolve a obtenção de ZnSe revestido com ZnSeS, gerando core/shell, ZnSe/ZnSeS, e utiliza como precursores de Zn o ZnO, o ácido láurico (LA) e a hexadecilamina (HDA) em atmosfera inerte de argônio (Ar). Os precursores utilizados para o Se são Se em pó (Se°) e trioctilfosfina (TOP). A síntese ocorre de forma simples, na primeira etapa os precursores ZnO/LA/HDA são mantidos a 300 °C sob atmosfera de Ar e depois resfriado até 80 °C. Em seguida, uma mistura de Se em pó e TOP é adicionada à solução de ZnO/LA/HDA, provocando um 45 decaimento na temperatura de 300 para 280 °C. A segunda etapa é uma etapa de estabilização do PQ, em que novamente é feita uma mistura ZnO/LA/HDA junto com TOPS, ou seja, TOP e enxofre, e esta é injetada na solução previamente preparada de ZnSe/LA/HDA a 180 °C (CHEN, 2004). A segunda rota analisada foi a proposta por Li et al. (2004). O procedimento para realização da síntese de ZnSe consiste na mistura de estearato de zinco com octadecilamina (ODA) e tetracosano e octadeceno (ODE), com aquecimento até 330 °C sob atmosfera de argônio. O pó de Se é dissolvido em tributilfosfina (TBP) até se transformar numa solução límpida e logo após é adicionada ODE. Essa mistura é injetada na solução ZnSe/ODA/ODE e mantida a uma temperatura de 310 °C até o crescimento desejado do tamanho das nanopartículas (LI, 2004). A terceira rota analisada foi proposta por Nemchinov et al. (2008). Nesse caso toda a síntese de ZnSe/CdS é realizada sob atmosfera inerte de argônio (Ar). Inicialmente é utilizado o estearato de zinco dissolvido em ODA e mantido a uma temperatura de 300 °C, sob agitação. Quando a mistura se apresentar límpida, uma nova solução composta por selênio e TOP é injetada rapidamente na mistura. A reação pode ser interrompida de 12 a 22 minutos após a injeção, dependendo do tamanho da nanopartícula que se deseja obter. Na etapa de lavagem, a mistura é antes resfriada até 50 °C e adiciona-se hexano para evitar solidificação. Posteriormente, metanol é adicionado lentamente na mistura de hexano, seguida de centrifugação. Após três ou quatro lavagens, as nanopartículas limpas são submetidas a uma atmosfera de argônio e armazenadas no escuro até a fase de revestimento, onde é formada a casca. Na etapa de revestimento uma solução de Cd / ODE / ácido oleico, é mantida sob atmosfera de Ar, e a 280 °C sob agitação, e, após tornar-se límpida é resfriada até 60 °C. Então, uma mistura de enxofre de ODE é preparada e mantida a 200 °C sob fluxo de Ar. Posteriormente a solução de cádmio e a solução de enxofre são misturadas e é injetada na solução contendo as nanopartículas de ZnSe já dispersas em ODA e ODE a 240 °C (NEMCHINOV, 2008). Segundo Nemchinov et al.(2008), sínteses de ZnTe não apresentam tanto interesse tecnológico quanto as sínteses de ZnSe e CdSe, pois o telúrio possui alta taxa de oxidação, o que acarreta em baixa estabilidade química e decaimento das 46 propriedades óticas deste tipo de PQ. Devido a esse fator, é utilizado o procedimento de sínteses em regime fechado com atmosfera de argônio. A síntese desenvolvida neste trabalho envolveu apenas a síntese de ponto quântico tipo caroço (core), o que geraria nanopartículas de ZnSe sem revestimento (shell). Sugerimos como perspectiva para este trabalho a etapa inicial da rota de síntese de ZnSe descrita por Nemchinov et al. (2008), ou seja, apenas a síntese do caroço. O ponto principal desta escolha foi o fato de serem utilizados reagentes não tóxicos como estearato de zinco, argônio, selênio e hexano; ou de baixa toxicidade como ODA e TOP, sendo esses pouco tóxicos para ambientes aquáticos. Vale salientar que a ODA e a TOP podem causar irritações para os olhos e pele, o que pode ser evitado com o uso dos EPIs apropriados. O metanol merece certos cuidados por apresentar toxicidade relativamente alta. Além disso, o procedimento da síntese de Nemchinov et al. (2008) é relativamente simples, e o aparato experimental é muito similar ao que foi utilizado na síntese deste trabalho. Apenas o custo é um pouco mais elevado que o da síntese do presente trabalho, por conta do reagente TOP, mas esse reagente será usado em pequena quantidade. Ou seja, esperamos que essa nova rota de síntese seja reproduzida e aperfeiçoada, no sentido de se usar química verde para a síntese de nanomarcadores pontos quânticos. 5.4. FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS NANOPARTÍCULAS DE ZnSe O processo de obtenção do ZnSe em escala laboratorial já foi mostrado em seções anteriores. Agora, objetiva-se representar quais seriam os equipamentos utilizados em uma indústria caso se pretendesse realizar uma síntese em escala industrial. 47 Figura 21 – Escala laboratorial da síntese proposta neste trabalho. 48 A B Figura 22 – Fluxograma do processo de produção de nanopartículas de ZnSe utilizando aparato industrial. Síntese em escala laboratorial em detalhe. C 49 Um esboço inicial do proceso está esquematizado no fluxograma da Figura 21, mostrando que serão necessários misturadores para unir as correntes mássicas dos reagentes que foram divididos em sistema A, partindo dos precusores diesel, ácido oleico e ZnO; e sistema B, partindo do diesel e Se; e ainda, o sistema C, que representa a mistura das correntes obtidas nos sistemas A e B. O misturador D apenas representa que todos os produtos finais (sólido, líquido e vapor) serão armazenados em um mesmo local, sob condições adequadas de pressão, temperatura, luz e umidade. Os aquecedores serão utilizados logo após os misturadores para representar o aquecimento das misturas A, B e C, individualmente. Após todas as condições iniciais necessárias atendidas, ou seja, até se obter a mistura C aquecida, inicia-se o processo cinético de reação em um reator CSTR (Continuous Stirred-Tank Reactor – “Reator contínuo de tanque agitado”), ou seja, em batelada, onde serão obtidos os produtos finais do processo. As correntes em azul encontram-se na temperatura ambiente de 25°C, já as correntes em vermelho apresentam temperaturas de 230°, para corentes após os aquecedores A e B, ou 240°C, para correntes após o aquecedor C. 5.5. BALANÇO MATERIAL DE PRODUÇÃO DE ZnSe Segundo o princípio de Le Lavoisier: “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Aplicando esse princípio ao processo industrial em estudo, a massa (m) total de uma mistura é a soma das massas (mi) de cada componente (i) dessa mistura, segundo: 𝑁 𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 = ∑ 𝑚𝑖 (𝑖 = 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑜𝑛𝑒𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑎 𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎) (3) 𝑖=1 Ao estudar uma mistura, uma propriedade muito importante é a fração mássica de cada componente (wi) da mistura, que pode ser definida como: 𝑤𝑖 = 𝑚𝑖 𝑚𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 (4) 50 Partindo-se da síntese laboratorial de geração de nanopartículas de ZnSe a partir de precursores de selênio elementar e óxido de zinco em presença de ácido oleico em solvente diesel segundo a Figura 22, obteve-se a Tabela 1, considerando um rendimento de 100% para a síntese e também para a produção das nanopartículas. Tabela 1 – Balanço mássico para a mistura da síntese em escala laboratorial de nanopartículas de ZnSe no misturador C da figura 22. Reagente ou produto (i) Massa em escala laboratorial, mi (g) Fração mássica, wi ZnO 0,1954 0,0046 Se 0,0950 0,0022 A.O. 0,8750 0,0204 Diesel_A 25,0500 0,5837 Diesel_B 16,7000 0,3891 Diesel_A+B 41,7500 0,9728 TOTAL 43,9154 1,0000 Uma forma didática bastante usada em Engenharia Química do processo que ocorre no misturador C da Figura 22 está representada na Figura 23. 51 Figura 23 – Ilustração dos balanços materiais envolvidos na síntese de ZnSe em escala laboratorial (HIMMELBLAU, 2006). No ano de 2012 a ANP informou segundo a Tabela 2 que foram produzidos 2.161.377 m3 de solventes no Brasil. Considerando que se deseja marcar todo o solvente de vendas internas do Brasil, será tomado como base 1.604.841 m3. A pergunta a ser respondida nesta seção é a seguinte: “Qual a quantidade de marcador que se precisa produzir por ano numa indústria para que se possa marcar todo o PMC vendido no Brasil?” 52 Tabela 2 – Dados nacionais do total de solventes em 2012 (m3). Totalização Vendas Produção Exportação Jan 179.476 14.859 97.453 Fev 191.992 13.232 151.706 Mar 183.441 24.220 105.911 Abr 168.967 25.545 130.949 Mai 169.447 34.396 109.361 Jun 162.132 4.542 134.929 Jul 169.181 14.878 141.477 Ago 196.247 16.573 164.995 Set 199.680 19.243 165.409 Out 171.830 43.831 142.822 Nov 192.461 29.519 135.950 Dez 176.523 33.076 123.879 TOTAL 2.161.377 273.914 1.604.841 mensal 2012 internas Fonte: ANP Respondendo esta pergunta, considerando que a concentração de marcador em PMC (solvente) exigida pela ANP deve ser de no máximo 1 ppm, o que equivale a 1 mg/kg (1 mg/L), calculou-se que para marcar todo o solvente PMC comercializado no Brasil, seriam necessários 1,6 ton/ano de nanopartículas de ZnSe. Assim, realizou-se um balanço de massa simplificado em escala laboratorial para a produção de nanomarcadores de ZnSe. 5.6. BALANÇO ENERGÉTICO DE PRODUÇÃO DE ZnSe O controle energético de um processo industrial se refere ao estudo teórico ou experimental da quantidade de energia envolvida neste processo, sendo, portanto, fundamental para garantir sua viabilidade e segurança. Uma das formas de se obter 53 informações sobre a energia de um processo é somar todas as correntes energéticas de cada etapa ou equipamento deste processo. No caso do nosso trabalho, em que uma síntese em escala laboratorial está sendo ampliada para um processo em escala industrial, foi estudado o balanço de energia da etapa em que são usados aquecedores. O balanço de energia para um processo industrial parte da Primeira Lei da Termodinâmica que afirma que a energia interna de um sistema isolado é constante. A energia interna de um sistema pode variar por duas formas de transferência de energia: calor e trabalho (ATKINS, 2011). O balanço de energia é representado pela igualdade entre a quantidade de energia que é recebida pelo sistema e a quantidade de energia que é fornecida pela vizinhança. No nosso caso, o sistema foi representado pelos reagentes e a vizinhança pelo aquecedor. Por aproximação, considerou-se que todas as formas de transferência de energia entre reagentes e aquecedor ocorreram por calor, sendo o trabalho realizado ou sofrido pelo sistema considerado desprezível. Simplificando o processo, considerou-se que toda a variação de energia interna do sistema ocorreu por transferência de calor. Além disso, não ocorreu nenhuma mudança de fase. Portanto, obteve-se a seguinte igualdade: 𝑄 𝑓𝑜𝑟𝑛𝑒𝑐𝑖𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟 = 𝑄 𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑑𝑜 𝑝𝑒𝑙𝑜 𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎 (5) Todas as substâncias possuem um calor específico, que indica a quantidade de calor que deve ser fornecido à substância para que ela sofra uma determinada variação de temperatura [Atkins, 2011]. Essa propriedade pode ser explorada no caso do nosso trabalho para se obter a relação entre o calor fornecido pelo aquecedor para os reagentes, da seguinte forma: 𝑄 𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟 = mCP ΔT (6) 54 em que m é a massa (kg), Cp é o calor específico (J.kg-1.°C-1), ΔT é a variação de temperatura do sistema, e Qaquecedor é a quantidade de energia (J) fornecida pelo aquecedor. Utilizou-se esta equação simplificada para um estudo simplificado do balanço energético do processo envolvido neste trabalho, usando-se valores experimentais obtidos na literatura. A maioria dos calores específicos usados podem ser encontrados na referência Perry's Chemical Engineers' Handbook (MALONEY, 2008). Para o sistema A no aquecedor A, tem-se o seguinte balanço de energia: mmistura_ A CPA ΔTA = Q 𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐴 (7) O calor específico (Cp) da mistura A pode ser obtido pelo calor específico de cada componente da mistura relacionado à fração mássica de cada componente: 𝐶𝑃𝐴 = 𝐶𝑃𝐷𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙_𝐴 𝜔𝐷𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙_ 𝐴 + 𝐶𝑃𝐴.𝑂. 𝜔𝐴.𝑂. + 𝐶𝑃𝑍𝑛𝑂 𝜔𝑍𝑛𝑂 (8) 𝐶𝑃𝐴 = 1900 𝑥 0,9230 + 2884,27 𝑥 0,033 + 495,21 𝑥 0,044 (9) 𝐶𝑃𝐴 = 1870,67 J. kg −1 . °C−1 = 1,9 𝑘𝐽. kg −1 . °C−1 (10) Dispondo do calor específico da mistura A pode-se efetuar o cálculo da quantidade de calor fornecida pelo aquecedor A. Logo: (𝑚𝐷𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙_ 𝐴 + 𝑚𝐴.𝑂. + 𝑚𝑍𝑛𝑂 )𝐶𝑃𝐴 (𝑇230°𝐶 − 𝑇25°𝐶 ) = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝐴 (11) 27,1403𝑥10−3 𝑥 1870,67 𝑥 (230 − 25) = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝐴 (12) 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐴 = 10498 𝐽 = 10,5 𝑘𝐽 (13) 55 Ou seja, o aquecedor A forneceria em torno de 10,5 kJ de calor para aumentar a temperatura de 25 oC para 230 oC de uma mistura A de 27 g. Esse aumento de temperatura é necessário para que ocorra a síntese em escala laboratorial que estudamos neste trabalho de formação de nanopartículas. Portanto, para o scale up da síntese laboratorial para o processo industrial, basta alterar-se a ordem de grandeza da massa total da mistura A para se obter a quantidade de calor necessária que deve ser fornecida pelo aquecedor A. Os cálculos para o balanço de energia dos sistemas B e C nos aquecedores B e C, respectivamente, são análogos: 𝐶𝑃𝐵 = 𝐶𝑃𝐷𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙_ 𝐵 𝜔𝐷𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙_ 𝐵 + 𝐶𝑃𝑆𝑒 𝜔𝑆𝑒 (14) 𝐶𝑃𝐵 = 1900 𝑥 0,9943 + 320 𝑥 0,0057 (15) 𝐶𝑃𝐵 = 1890,99 J. kg −1 . °C−1 (16) 𝑚𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎_ 𝐵 𝐶𝑃𝐵 𝛥𝑇𝐵 = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐵 (17) (𝑚𝐷𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙_ 𝐵 + 𝑚𝑆𝑒 )𝐶𝑃𝐵 (𝑇230°𝐶 − 𝑇25°𝐶 ) = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐵 (18) (16,7 + 0,095)𝑥10−3 𝑥 1890,99 𝑥 (230 − 25) = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝐵 (19) 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟𝐵 = 6511 𝐽 = 6,5 𝑘𝐽 (20) 𝐶𝑃𝐶 = 𝐶𝑃𝐴 𝜔𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎_ 𝐴 + 𝐶𝑃𝐵 𝜔𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎_𝐵 (21) 𝐶𝑃𝐶 = 1870,67 𝑥 0,8549 + 1890,99 𝑥 0,9887 (22) 𝐶𝑃𝐶 = 3468,94 J. Kg −1 . °C −1 (23) 𝑚𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎_ 𝐶 𝐶𝑃𝐶 𝛥𝑇𝐶 = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐶 (24) (𝑚𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎_ 𝐴 + 𝑚𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎_ 𝐵 )𝐶𝐶 (𝑇240°𝐶 − 𝑇230°𝐶 ) = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐶 (25) (27,1403 + 16,795)𝑥10−3 𝑥 3468,94 𝑥 (240 − 230) = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐶 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐶 = 1524 𝐽 = 1,5 𝑘𝐽 (26) (27) 56 Vale ressaltar que o calor envolvido nos aquecedores A (10,5 kJ) e B (6,5 kJ) são bem maiores que o calor envolvido no aquecedor C de 1,5 kJ. Este fato pode ser explicado pela menor variação de temperatura necessária à mistura C, cujo aquecedor precisa fornecer calor para aumentar a temperatura de 230 para 240 oC. O calor total fornecido pelos aquecedores ao processo, sendo aproximado pela soma dos calores transferidos dos três aquecedores para os reagentes, foi: 𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐴 + 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐵 + 𝑄𝑎𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒𝑑𝑜𝑟_𝐶 (28) 𝑄𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 10498 + 6511 + 1524 = 18533 𝐽 = 18,5 𝑘𝐽 (29) Concluindo, o balanço energético indicou que o calor total necessário ao processo de formação de algumas gramas de nanopartículas de ZnSe disperso em diesel em escala laboratorial foi de 18,5 kJ. Vale lembrar que para se chegar a esse valor realizam-se inúmeras aproximações e considerações para facilitar os cálculos. Portanto, um estudo mais aprofundado seria necessário para se obter o scale up deste processo. Deve-se também considerar que o ponto de ebulição do diesel é mais alto que 240 oC, mas fica próximo deste valor. Devido à alta temperatura envolvida no processo, estudos de segurança do trabalho devem ser levados em consideração. 5.7. CÁLCULO CINÉTICO DA PRODUÇÃO DE ZnSe O estudo cinético das velocidades das reações químicas é quase sempre necessário para o sucesso dos processos industriais. Pode ser usado para encontrar as condições otimizadas destes processos em termos de custo, concentração de reagentes, tempo, temperatura de síntese, entre outros. Este estudo cinético foi baseado na Teoria da Engenharia das Reações Químicas da referência Levenspiel (2005). A equação global que representa quimicamente a reação de obtenção das nanopartículas estudadas neste trabalho é a seguinte: 57 ∆ 1 𝑍𝑛𝑂(𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙) + 𝑆𝑒(𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙) → 𝑍𝑛𝑆𝑒(𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙) + 2𝑂2(𝑔) (30) Foram introduzidos 1,2 mmol de selênio elementar (Se) e 2,4 mmol de óxido de zinco (ZnO) numa solução de diesel, o que indica que o Se atuou como reagente limitante da reação e o ZnO estava em excesso. A reação cinética ou reação elementar pode ser representada da seguinte forma: 𝑘 1 ZnO + Se → 𝑍𝑛𝑆𝑒 + 2𝑂2 (31) A viabilidade do estudo cinético exigiu algumas considerações. O sistema estudado tratou-se de nanopartículas dispersas em óleo diesel formando uma dispersão coloidal sólido-líquido, sendo portanto, uma mistura heterogênea. Entretanto, por simplificação, foi considerado como um sistema homogêneo para usar a teoria envolvida na cinética homogênea. Outra hipótese foi considerar o reator em batelada de forma ideal como reator tanque agitado contínuo ou “continuous stirred-tank reactor” (CSTR). O processo no reator ocorreu sem troca de massa ou substância do reator para o entorno. Considerou-se que as misturas A e B reagiram no reator sob agitação e temperatura constantes, assumindo assim um regime permanente até a formação dos produtos. Isso fica claro na Figura 22, em que o reator foi separado dos aquecedores. O balanço mássico para um reator em batelada não apresenta entrada nem saída, portanto se processa da seguinte forma: 𝐴𝑐ú𝑚𝑢𝑙𝑜 = 𝐸𝑛𝑡𝑟𝑎 − 𝑆𝑎𝑖 + 𝐺𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 − 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜 (32) 𝐴𝑐ú𝑚𝑢𝑙𝑜 = 0 − 0 + 𝐺𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 − 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜 (33) 58 A equação (32) se refere ao acúmulo de cada substância (reagente ou produto) durante a reação ou processo; ao que entra ou sai de substância no reator; e ao que é gerado ou consumido em termos de substâncias (reagentes e produtos). Tomando como base o selênio (Se), que foi o reagente limitante, considerouse que todo o Se foi consumido, e nenhum Se foi gerado, assim: 𝐴𝑐ú𝑚𝑢𝑙𝑜 = 𝐺𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜 − 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜 (34) 𝐴𝑐ú𝑚𝑢𝑙𝑜 = 0 − 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜 (35) 𝐴𝑐ú𝑚𝑢𝑙𝑜 = −𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑖𝑑𝑜 (36) Considerando que a velocidade instantânea de consumo de uma espécie é dada pela taxa ou variação instantânea de concentração da espécie pelo tempo, a seguinte equação diferencial cinética que representa o consumo de Se pode ser rearranjada como: 𝑑𝑁𝑆𝑒 = − 𝑟𝑆𝑒 𝑉 𝑑𝑡 (37) em que NSe é o número de moles formados de Se, V é o volume da solução contida no reator, e –rSe é a velocidade ou taxa de reação (LEVENSPIEL, 2005). Considerando o sistema em estado estacionário, em que a temperatura, pressão, volume: 𝑑 (𝑉𝐶𝑆𝑒 ) = − 𝑟𝑆𝑒 𝑉 𝑑𝑡 𝑑𝐶𝑆𝑒 𝑉 = − 𝑟𝑆𝑒 𝑉 𝑑𝑡 𝑑𝐶𝑆𝑒 = − 𝑟𝑆𝑒 𝑑𝑡 Sabe-se que pela Teria da Cinética Química, vale a equação geral: (39) (39) (40) 59 𝑟𝑆𝑒 = − 𝑑𝐶𝑆𝑒 𝑎 𝑏 = 𝑘 𝐶𝑍𝑛𝑂 𝐶𝑆𝑒 𝑑𝑡 (41) em que “k” representa a constante de velocidade da reação, CZnO e CSe são as concentrações molares de ZnO e Se respectivamente, e “a” e “b” são coeficientes determinados experimentalmente que representam a ordem da reação. Numa aproximação clássica, os coeficientes a e b foram considerados como sendo 1, obtendo-se: 𝑑𝐶𝑆𝑒 = − 𝑘 𝐶𝑍𝑛𝑂 𝐶𝑆𝑒 𝑑𝑡 (42) A velocidade única da reação que relaciona as taxas de consumo de reagentes e formação de produtos é definida pela seguinte equação: − 𝑑𝐶𝑍𝑛𝑂 𝑑𝐶𝑆𝑒 𝑑𝐶𝑍𝑛𝑆𝑒 1 𝑑𝐶𝑂2 =− = = = 𝑟𝑆𝑒 = 𝑘 𝐶𝑍𝑛𝑂 𝐶𝑆𝑒 𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡 2 𝑑𝑡 (43) Para obter uma expressão independente da concentração do reagente em excesso ZnO, considerou-se de forma bastante aproximada que a concentração de ZnO era muito maior que a de Se, ou seja, 𝐶𝑍𝑛𝑂 ≫ 𝐶𝑆𝑒 , e dessa forma obteve-se uma segunda constante de velocidade k’, que permitiu a seguinte aproximação: 𝑘′ = 𝑘 𝐶𝑍𝑛𝑂 (44) 𝑑𝐶𝑆𝑒 = − 𝑘 𝐶𝑍𝑛𝑂 𝐶𝑆𝑒 = − 𝑘′ 𝐶𝑆𝑒 𝑑𝑡 (45) Nesta etapa, aplicou-se o Método Integral para obtenção da constante de velocidade. 60 𝑑𝐶𝑆𝑒 𝑑𝑡 = − 𝑘′ 𝐶𝑆𝑒 ln ( 𝐼𝑛𝑡𝑒𝑔𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜 ⇒ ln 𝐶𝑆𝑒 = ln 𝐶𝑆𝑒,0 − 𝑘′ 𝑡 𝐶𝑆𝑒,0 ) = 𝑘′𝑡 𝐶𝑆𝑒 (46) Para se concluir o estudo cinético foram escolhidos aleatoriamente alguns valores experimentais para a concentração de selênio com o decorrer do tempo até este ser totalmente consumido. Adotou-se uma batelada, ou tempo necessário para que ocorresse a reação de 30 minutos de duração, obteve-se a Tabela 3 pela escolha aleatória dos valores de CSe usando apenas o bom senso. O ideal seria que houvesse realmente condições de se medir esses valores pela realização de experimentos adequados, mas o objetivo desta seção é aplicar os conhecimentos básicos da Engenharia de Reações Químicas para o estudo em questão. Tabela 3 – Concentrações do reagente limitante selênio usado na síntese de 0 até 30 minutos de nanopartículas de ZnSe. Tempo (min) 0 5 10 15 20 25 30 CSe (mmol/L) 0,024 0,020* 0,017* 0,014* 0,012* 0,0095* 0 ln(Cse, 0/Cse) 0 0,182322 0,34484 0,538997 0,693147 0,926762 *valores escolhidos aleatoriamente pelo autor. A partir da tabela 3 pôde-se traçar o gráfico que se encontra na Figura 24. 61 1 0,9 0,8 ln(Cse, 0/Cse) 0,7 0,6 y = 0,036x R² = 0,9971 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 5 10 15 20 25 30 Tempo (min) Figura 24 – Gráfico do logarítmo da concentração em função do tempo. O coeficiente angular da reta obtida representa a constante de velocidade k’. Com isso obteve-se o valor da constante de velocidade k pelo valor de k’ assumindo-se que a CZnO é 10 vezes maior que a Cse. 𝑘′ = 𝑘 𝐶𝑍𝑛𝑂 𝑘= 𝑘′ 0,036 = = 0,15 𝑚𝑚𝑜𝑙. 𝐿−1 . 𝑚𝑖𝑛−1 𝐶𝑍𝑛𝑂 0,24 (47) (48) Com todas as simplificações realizadas, obtendo-se o valor da constante de velocidade de forma hipotética, foi possível determinar a velocidade única da reação para o processo em estudo, assim como a velocidade de consumo de cada reagente e a velocidade de formação de cada produto envolvido. − 𝑑𝐶𝑍𝑛𝑂 𝑑𝐶𝑆𝑒 𝑑𝐶𝑍𝑛𝑆𝑒 1 𝑑𝐶𝑂2 =− = = = 𝑟𝑆𝑒 = 𝑘 𝐶𝑍𝑛𝑂 𝐶𝑆𝑒 𝑑𝑡 𝑑𝑡 𝑑𝑡 2 𝑑𝑡 − 𝑟𝑍𝑛𝑂 = − 𝑟𝑆𝑒 = 𝑟𝑍𝑛𝑆𝑒 = 1 𝑟 = − 0,15 𝐶𝑍𝑛𝑂 𝐶𝑆𝑒 2 𝑂2 Dessa forma, encerrou-se o estudo cinético proposto neste trabalho. (49) (50) 62 6. CONCLUSÕES O fato de o óleo diesel possuir fluorescência, e assim, ter mascarado os resultados, trouxe uma nova ideia de se buscar novas rotas de síntese de ZnSe em outro solvente orgânico que não contenham os precursores contidos no óleo diesel. Apesar de não se ter obtido a comprovação experimental de síntese satisfatória dos pontos quânticos fluorescentes de ZnSe em substituição aos de CdSe, os resultados obtidos neste trabalho foram muito importantes para a posterior obtenção de pontos quânticos de ZnSe menos tóxicos que os de CdSe em um próximo trabalho. Os estudos sobre os derivados de petróleo também forneceram resultados muito importantes para a realização de futuras novas sínteses. Além disso, foi escolhida uma rota adaptada da literatura por Nemchinov et al. (2008) mantendo-se a mesma ideia de química verde, trazendo alicerces para a continuação da pesquisa no sentido de se alcançar o objetivo final deste trabalho. Portanto concluímos que diversos objetivos parciais foram alcançados neste trabalho, especialmente com relação a uma compreensão bem mais aprofundada da teoria e prática relacionadas as sínteses de pontos quânticos e obtenção de espectros de fluorescência em meios orgânicos derivados de petróleo. O balanço de massa, balanço de energia e cálculo cinético realizado neste trabalho foram bastante simplificados, mas comprovaram que o conhecimento adquirido durante o curso de graduação em Engenharia Química da UFPE é suficiente para compreendermos detalhes importantes relacionados aos processos químicos industriais. 63 7. PERSPECTIVAS Para a síntese apropriada de pontos quânticos de ZnSe, propomos a adaptação de uma síntese escolhida da literatura (NEMCHINOV et al, 2008). Nesse caso não haverá mais interferência de precursores com as mesmas características encontradas no óleo diesel. Já para a lavagem dos pontos quânticos de ZnSe, o tolueno pode continuar sendo utilizado, pois não há interferência espectral significativa deste solvente com os espectros de emissão dos pontos quânticos. Propõe-se ainda o aprimoramento desta síntese pela busca de uma etapa menos tóxica para a criação do revestimento dos PQs, ou seja, da casca (shell), devido ao fato da casca proporcionar melhor estabilidade para as nanopartículas, garantido melhores propriedades óticas e químicas. Finalmente, pretende-se aprimorar o balanço de massa, balanço de energia e estudo cinético do processo industrial de produção de nanomarcadores de ZnSe, considerando-se mais etapas, cálculos e experimentos para se obter resultados mais precisos. 64 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, D. B. Pontos quânticos coloidais de semicondutores II-VI encapados com SiO2. 2008. Dissertação de Mestrado em Física. São Paulo: Universidade Estadual De Campinas - Instituto de Física “Gleb Wataghin”, 2008. 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