INSTITUIÇÃO DE VÍNCULO E DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL Endereço Departamento de Engenharia de Produção e Transportes: Av. Osvaldo Aranha, 99, 5° andar, Porto Alegre – RS - CEP 90.035-190. Fone: + (51) 3308-3491, Email: [email protected] SIRAG – SISTEMA DE REDIRECIONAMENTO DE ÁGUA EM AQUECEDORES A GÁS DE PASSAGEM AUTOR: CLEITON CRISTIANO SPANIOL ORIENTADOR: JOSÉ LUIS DUARTE RIBEIRO Porto Alegre, junho de 2010 2 1 INTRODUÇÃO A água é um recurso natural imprescindível para a sobrevivência do homem na Terra. Sem ela não seria possível a existência de vida no planeta. Sendo assim, é importante o cuidado para não poluir e não desperdiçar as reservas de água doce. Atualmente discute-se o problema de uma iminente escassez de água no mundo. Projeta-se que, no ano de 2050, 18% da população mundial irá sofrer de severa escassez de água. O uso racional da água é uma ação que depende diretamente da consciência ambiental dos usuários. Muitas vezes, os usuários não percebem situações onde seria possível diminuir o gasto excessivo. Exemplos comuns são os banhos demorados e a lavagem de calçadas. Paralelamente, técnicos e engenheiros, podem não aproveitar oportunidades onde pequenas mudanças no projeto hidro-sanitário poderiam resolver ou diminuir desperdícios considerados naturais, mas que poderiam ser evitados. Um destes exemplos simples de desperdício motivou o projeto descrito neste texto: a água desperdiçada no início de banhos controlados por sistemas de aquecimento a gás de passagem. Enquanto o usuário aguarda a água atingir a temperatura ideal de banho, muitos litros de água potável tratada vão para o ralo, sem que seja feito nenhum uso da mesma. Este trabalho apresenta uma solução para este problema, detalhando dois sistemas que aliam conforto e uso racional da água. Trata-se de uma alternativa ecológica para os usuários de aquecedores de água a gás. 1.1 Justificativa Considerando a iminência de escassez de água no mundo e a necessidade de estruturar alternativas para evitar o desperdício de água potável, resolveu-se estudar um processo que elimine o desperdício de água no início de banhos em que a temperatura da água é controlada por sistemas de aquecimento a gás de passagem. 1.2 Problema Chuveiros cujo sistema de aquecimento é a gás de passagem usualmente conduzem a um desperdício substancial de água tratada no início do banho. 3 1.3 Hipóteses É possível criar um sistema que evite o desperdício de água tratada que aconteceria no início de banhos controlados por sistema de aquecimento a gás de passagem. 1.4 Objetivo Construir e detalhar um sistema capaz de eliminar o desperdício de água tratada do início de banhos controlados por sistema de aquecimento a gás de passagem. 4 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Situação da água no mundo No âmbito dos problemas ambientais que a humanidade vem enfrentando, a falta de água doce, principalmente em países em desenvolvimento, é o mais preocupante. Recentemente a ONU declarou que 2,7 bilhões de pessoas irão sofrer severa falta de água até 2025. Essa constatação é conseqüência das estimativas de crescimento da população mundial, que deve aumentar dos atuais 6 bilhões de habitantes para 9 bilhões de pessoas em 2050. A quantidade de água doce na terra não ultrapassa 3% de toda a água contida no planeta, e apenas 1% está disponível para consumo humano. Estima-se que 1,2 bilhão de pessoas bebam água imprópria para o consumo e mais de 5 milhões de pessoas morrem todos os anos de doenças relacionadas a esta ingestão. Em 2025, pela primeira vez o consumo de água deve igualar os recursos disponíveis. A partir desta data, os 8 bilhões de pessoas necessitarão consumir mais água do que aquela que a natureza fornece, e terão de arcar, conseqüentemente, com todos os impactos negativos nas áreas de abastecimento de água potável. As perspectivas para este século indicam um cenário de escassez da água. Tabela 1 – Situação da água no mundo Previsões 1999 2050 População Mundial 6 bilhões 9,4 bilhões Suficiência 92,00% 58,00% Insuficiência 5,00% 24,00% Escassez 3,00% 18,00% (revista veja, dez 1998) Segundo Macedo (2001), o novo século traz a crise da falta de água, e o homem precisa discutir o futuro da água e da vida. Nos últimos 20 anos, o consumo por habitante de água dobrou no Brasil e a expectativa é de que dobre outra vez nos próximos 20 anos. Contudo, a disponibilidade de água por habitante atualmente é três vezes menor do que em 1950. 5 Desperdício é aquela ação pela qual se gasta sem proveito, se esbanja, se usa mal ou se desaproveita. Portanto, a referência ao desperdício da água está associada a um conjunto de ações e processos através dos quais os seres humanos gastam sem proveito, esbanjam ou usam mal a água. Desperdiçar água indica falta de clareza sobre a importância fundamental deste valioso recurso para nossa sobrevivência. Conforme orienta o Departamento Municipal de Água e Esgotos, há algumas formas de se evitar o desperdício nas práticas comuns do cotidiano. São elas: 1-Evite lavar calçada e carros com água corrente. Use baldes. 2-Feche a torneira quando for escovar os dentes. Poupe 20 litros diários no mínimo. 3-Ao deixar a torneira pingando, o desperdício é de 46 litros de água por dia. 4-Quando lavar a louça, só abra a torneira na hora de enxaguar. A economia é de 20 litros por dia. 5-Evite banhos demorados e sempre desligue o chuveiro para se ensaboar. Analisando estas orientações percebe-se que o cuidado com a água não deve se restringir a situações onde o gasto é evidente. Deve-se atentar, também, as ações simples do dia a dia, que, ao final do mês, podem gerar um consumo acumulado considerável. 2.2 Projeto de Lei Pesquisando as iniciativas para evitar o desperdício de água, motivação principal do presente trabalho e sistema desenvolvido, encontra-se um projeto de lei, aprovado em 2007 no Estado do Paraná que prevê e regulamenta algumas medidas de prevenção e combate ao desperdício nas edificações da cidade de Curitiba. O artigo 5 em especial se aplica ao texto aqui escrito. Ele prevê que, nas ações de conservação e uso racional da água nas edificações, serão utilizados aparelhos e dispositivos economizadores de água, citando como exemplo chuveiros e lavatórios de volumes fixos de descarga. Nota-se na descrição de dispositivos economizadores de água um claro paralelismo com o sistema proposto e descrito neste texto, assim como a preocupação governamental em criar medidas legais que visam a sustentabilidade dos recursos hídricos, regulamentando ações de simples execução para evitar o consumo desnecessário de água, caracterizado como desperdício. 6 2.3 Funcionamento do aquecedor de água a gás de passagem Fora do Brasil, e agora iniciando aqui também, o aquecimento da água é realizado basicamente por aquecedores de água a gás de passagem É um equipamento que é interposto entre a água que vem da caixa d’água e a ducha do box. Sua potência é maior que a do chuveiro elétrico, propiciando assim banhos com maior vazão e maior conforto. Contudo, esses sistemas, se não forem utilizados conscientemente, também podem conduzir a maiores desperdícios. Os aquecedores de água a gás de passagem aquecem a água gradualmente, à medida que esta passa pelo aparelho. O aquecimento ocorre através da passagem da água por um sistema de serpentina disposta ao redor de uma câmera de combustão, não exigindo reservatório de acumulação. Este sistema fornece água quente a uma temperatura regulável e a um custo inferior ao da energia elétrica. O acionamento é feito pela abertura dos registros ou misturadores de água, que fazem com que o aparelho comece imediatamente a funcionar, automaticamente, gerando água quente para todos os ramais disponíveis da casa ou apartamento. Seu funcionamento é simples, embora incorpore alguma tecnologia, podendo ser resumido conforme os itens abaixo descritos: • Pela passagem de água fria, no interior da Válvula de Água, pressiona-se um diafragma de borracha, que aciona a Válvula de Gás (solenóide). Simultaneamente é enviado um sinal para a Unidade de Comando Eletrônico (UCE) que dispara faíscas (centelhamento), produzindo a queima na Câmara de Combustão. • A água continua seu trajeto ao redor do Trocador de Calor (serpentina), onde é aquecida no nível desejado e segue até a saída de água quente, onde será coletada pelo ramal (tubulação) e distribuída pelos pontos de uso existentes. Durante este trajeto no interior do equipamento, Sensores monitoram o fluxo da água e verificam se há chama (o gás é cortado na ausência da chama) e não permitem o super aquecimento do equipamento (em função do controle propiciado pelo termostato), garantindo a segurança do funcionamento. A água concentrada nos canos entre o aquecedor e chuveiro chega ainda fria ao usuário. Adicionalmente, a água das primeiras passagens no aquecedor não está 7 suficientemente aquecida pelo sistema para o banho, caracterizando volumes que não serão aproveitados para o banho. Figura 1: Componentes do aquecedor 2.4 Termostato Digital O termostato é um dispositivo destinado a manter constante a temperatura de um determinado sistema, através de regulação automática. O termostato é um instrumento criado em 1915 que tem a função de impedir que a temperatura de determinado sistema varie além de certos limites preestabelecidos. Um mecanismo desse tipo é composto, fundamentalmente, por dois elementos: um indica a variação térmica sofrida pelo sistema, que é chamado elemento sensor; o outro controla essa variação e corrige os desvios de temperatura, mantendo-a dentro do intervalo desejado. 8 Exemplo de elemento sensor são as tiras bimetálicas, constituídas por metais diferentes, rigidamente ligados e de diferentes coeficientes de expansão térmica. Assim, quando um bimetal é submetido a uma variação de temperatura, será forçado a curvarse, pois os metais não se dilatam igualmente. Esse encurvamento pode ser usado para estabelecer ou interromper um circuito elétrico, que põe em movimento o sistema de correção. Outro sistema utilizado é o elétrico, tendo a resistência do fio como elemento sensor. O termostato utilizado no sistema proposto neste texto é um digital (figura 2), que possui como elemento sensor a resistência de um fio, e que no sistema é utilizado para detectar a temperatura programada no mesmo e regular, a partir desta informação, uma válvula de 3 vias, descrita abaixo. A escolha se deu pelo fácil ajuste e instalação, bem como seu baixo custo. Figura 2: Termostato Full gauge Auto PID plus 2.5 Válvula Solenóide de 3 vias Esta válvula funciona basicamente com uma entrada de água e duas saídas: uma normalmente aberta (NA) e uma normalmente fechada (NF). A abertura e fechamento das saídas se dão por comandos elétricos, visto que se trata de uma válvula solenóide. 2.5.1 Solenóides Segundo Stewart (2002) “os solenóides freqüentemente são usados para operar válvulas; um solenóide é um dispositivo elétrico que converte energia elétrica em movimento e força em linha reta”. É através de um solenóide que é operada a válvula utilizada na confecção do sistema. Um solenóide consiste em uma bobina de fios metálicos mantida em torno de um carretel de ferro doce. A força desenvolvida é aumentada quando o êmbolo do solenóide atinge a extremidade de seu curso no solenóide do tipo puxar. O curso do 9 êmbolo de um solenóide é bem pequeno. São utilizados também para acionar um operador mecânico que, por sua vez, aciona o mecanismo de válvula. Os solenóides podem ser ligados diretamente ao mecanismo de válvula. As peças mais importantes de um solenóide são a bobina, a moldura e o êmbolo. A bobina consiste de um fio enrolado ao redor de uma superfície cilíndrica. Quando a corrente elétrica circula através do fio, gera uma força eletromagnética no centro da bobina solenóide, que aciona o êmbolo, abrindo ou fechando a válvula. O corpo da válvula contém um dispositivo que permite a passagem ou não do fluido, quando a haste é acionada pela força eletromagnética da bobina. O pino é “puxado” para o centro da bobina por esta força, permitindo assim a passagem do refrigerante. Quando a bobina é desenergizada o processo contrário ocorre, pois o peso do pino em conjunto com a força da mola instalada na parte superior da válvula faz com que volte a bloquear a passagem do fluxo através da válvula. A válvula solenóide pode ser dividida em Ação Direta ou Ação Indireta (operada por piloto). O tipo de aplicação determina a utilização de cada uma delas. A válvula de ação direta é utilizada para baixas capacidades e pequenos tamanhos de orifício de passagem. O sistema operado por piloto é utilizado em válvulas de grande porte pois elimina a necessidade de bobinas e pinos maiores. No sistema proposto neste texto, o comando elétrico responsável por energizar o solenóide da válvula advém do termostato, que por sua vez emite o mesmo a partir do controle da temperatura da água. Figura 3: Esquema indicativo da energização de um solenóide 10 2.5 Temporizador Um temporizador é um dispositivo capaz de medir a passagem do tempo, sendo um tipo de relógio especializado. Ele pode ser usado para controlar a sequência de um evento ou processo. Temporizadores podem ser mecânicos, eletromecânicos ou digitais. O temporizador utilizado para construção do sistema é explicado abaixo, montado especificamente para utilização neste projeto, e cuja foto se encontra no Anexo 1. Trata-se de um aparelho eletrônico, que quando energizado, começa uma contagem regressiva de um tempo pré estabelecido em um trimpot (potenciômetro ajustável). O trimpot controla o acionamento de duas saídas de energia, através da carga de um capacitor, representadas no sistema pelas vias da válvula solenóide. Enquanto o tempo esta em contagem, a saída um é energizada; assim que passado o tempo pré estabelecido, inverte a posição das saídas através de um relé. 2.6 Fluxostato Segundo o catálogo de produtos da empresa Caleffi, o fluxostato é utilizado sempre que se torna necessário detectar a presença ou a ausência de fluxo em variados tipos de instalações: • Instalações de aquecimento; • Instalações de climatização; • Instalações hidros-sanitárias com permutadores de calor de produção instantânea de água quente; • Instalações de tratamento de água; • Sistemas e instalações industriais, em geral. Desempenha as seguintes funções: • Ativação de dispositivos de sinalização; • Ativação de dispositivos de alarme; • Regulação de aparelhagens para dosagem de aditivos na água. O aparelho é fornecido com uma série de lamelas, para serem usadas com os diferentes diâmetros de tubo, especificamente dimensionados para permitir uma fácil instalação e uma perda de carga mínima. O fluxostato é instalado na tubulação em 11 posição horizontal, se possível, e considerando o sentido de fluxo indicado na parte externa do corpo. No sistema proposto neste texto, o fluxostato indica a passagem de corrente de água no encanamento para acionar o temporizador, ou seja, ele ativa outro dispositivo na presença de fluxo. 12 3. METODOLOGIA Descreve-se aqui a metodologia utilizada para coleta de dados que confirmam a importância do sistema proposto, assim como os detalhes da construção do sistema. 3.1 Cálculo das medições de desperdícios A fim de quantificar o desperdício, realizou-se em diversas residências testes do desperdício de água tratada no início de banhos controlados por aquecedores a gás de passagem. O dispositivo de testes elaborado é composto por um galão com capacidade de armazenamento de 20 litros, um cano de 2 metros de altura, um funil e um termômetro (Anexo 2). O dispositivo era posicionado logo abaixo da saída de água. Quando o registro era acionado, a água fria do encanamento, acrescida da água das primeiras passagens do aquecedor, caia dentro do funil e conseqüentemente no galão. Este tinha uma escala de leitura que proporcionava a posterior verificação da quantidade detida no mesmo. À medida que a água ia aquecendo, este aquecimento era acompanhado por um termômetro inserido em um pequeno furo do funil. Quando a água chegava em 35°C, temperatura apropriada para o banho, o dispositivo era retirado e podia-se então realizar a leitura do desperdício através da água armazenada no galão. Abaixo segue tabela com os resultados. Tabela 2 – Gasto nas residências Residências Volume de desperdício em Número de moradores litros A 9,35 4 B 12,17 3 C 9,25 2 D 15,0 5 E 5,5 3 F 9,5 2 G 16,0 3 H 23,0 4 13 Para explicar a diferença nos níveis de desperdício observados, é importante salientar que a quantidade do desperdício de água varia de acordo com a distância entre o aquecedor e o chuveiro. Isto porque a água desperdiçada é representada por aquela que se concentra nos canos entre e aquecedor e chuveiro e que, conseqüentemente, não é aquecida pelo sistema. Também deve ser considerado o tempo que o aquecedor leva para aquecer a água na temperatura regulada para o banho, o que implica em mais algum tempo de água fria e, conseqüentemente, de desperdício. 3.2 Pesquisa A fim de avaliar a aceitação de um sistema que visa diminuir o desperdício de água, foi realizada uma pesquisa com 50 pessoas, cujas questões estão explicitadas no Anexo 3. Indagados sobre a preocupação com a questão ambiental, a unanimidade dos pesquisados declarou estar preocupado, em particular com a questão da água. Destes, 48 % possui sistema de aquecimento a gás e 60 % tem consciência do desperdício de água ocasionado por ele, problema que pode ser resolvido com o uso do sistema descrito neste trabalho. Entre os pesquisados, 98 % estão dispostos a fazer um investimento em um produto para economizar água. Com relação ao valor aceitável para este investimento, as respostas concentraram-se na faixa de R$ 200,00 a R$ 300,00 (conforme visto na Figura 4). Já para a instalação, 74 % disseram que estariam dispostos a realizar algum tipo de reforma no seu banheiro. Assim, a pesquisa reflete que as pessoas têm preocupação com a questão da água e estão dispostas a investir em um produto que possa reduzir o desperdício. Além disto, serve como parâmetro para desenvolver o sistema com custos que estejam na faixa de valores apontados pelos pesquisados como sendo possíveis de investimento. 14 Figura 4: Investimento que os entrevistados estariam dispostos a fazer em um sistema de redução de desperdício de água 3.3 Desenvolvimento do sistema Válvula - Termostato O sistema destina-se a resolução do problema de desperdício de água fria no início do banho. Seguindo esta linha de raciocínio, partiu-se do princípio de que o funcionamento do mesmo teria como restrição permitir que a água saísse no chuveiro apenas quando a mesma já estivesse na temperatura ideal de banho. Assim, os materiais e o projeto hidráulico foram pensados de forma a satisfazer a referida condição. A solução encontrada foi a construção de um sistema que redireciona a água fria, ou ainda em temperatura abaixo da considerada ideal para o banho, para o reservatório da residência ou do prédio. Desta forma, se consegue o acúmulo da água antes desperdiçada, proporcionando a possibilidade de um posterior aproveitamento da mesma para quaisquer fins desejáveis, visto que a mesma, em virtude de não ter sido utilizada ou passado por qualquer outro ambiente que não o encanamento da residência, continua potável. Para o redirecionamento de água, a solução encontrada foi a utilização de uma válvula de três vias, que possibilita a entrada da água por uma via e as outras duas vias 15 são utilizadas para controle do fluxo. Esta válvula é interligada a um termostato digital e funciona basicamente com uma entrada de água e duas saídas: uma normalmente aberta (NA) e uma normalmente fechada (NF). A abertura e fechamento das saídas se dão por comandos elétricos. Na construção do sistema, possui a entrada ligada ao encanamento proveniente do aquecedor a gás, e outras duas vias ligadas ao encanamento de redirecionamento, que encaminha a água para o reservatório da residência, e para o chuveiro, que permite a saída de água para o banho. A figura abaixo representa a ligação elétrica a ser realizada entre o termostato e a válvula, já representada a ligação com a lâmpada, melhor explicada no item 3.3.1. Figura 5: Ligação elétrica entre o termostato e a válvula O termostato, como definido no referencial teórico, tem como função no sistema controlar a temperatura da água de forma que, enquanto a água estiver em uma temperatura abaixo da programada, a mesma será direcionada para a via da válvula que encaminha a mesma para a caixa d’água da residência. Para interligar esses dois componentes, foi necessário auxílio de um T, que pode ser melhor visualizado na Figura 7, que possibilita o contato do sensor de temperatura do termostato com o fluxo de água. Para a água chegar até o destino desejado, foi necessário adicionar encanamentos e um joelho na saída da válvula. A fim de facilitar o controle da temperatura e redirecionar o maior volume possível de água fria, o sistema foi projetado para ser instalado dentro do banheiro, próximo da saída de água do 16 chuveiro. O esquema de instalação, considerando a estrutura de uma residência, é mostrado na Figura 6. Figura 6: Esquema de instalação O sistema funciona da seguinte forma: ele é instalado na parte anterior a saída de água na ducha, sobreposta na parede. A entrada de água se dá pela extremidade inferior do “T”, advinda do aquecedor. Nas duas outras extremidades estão o sensor do termostato e a conexão com a válvula, feita com a ajuda de adaptações. O termostato faz o controle da temperatura: enquanto a água não atinge a temperatura pré-estabelecida como a ideal para o banho, a saída da válvula (NA), que vai em direção ao reservatório de água da residência, fica aberta. No momento em que a água está satisfatoriamente aquecida, o termostato, por meio de comandos elétricos, fecha a passagem direcionada ao reservatório e libera a passagem para a ducha. O desenho dos componentes interligados se encontra explicitado no desenho feito em um software 3D que segue abaixo. O sistema é de simples montagem e seus componentes são facilmente encontrados no mercado. 17 Saída para o reservatório Saída para o chuveiro Entrada de água Figura 7: Componentes do sistema De forma a atender o maior número de residências/apartamentos possíveis, foram desenvolvidas duas diferentes formas de montagem entre o termostato, T e a válvula. Isso em função dos estudos realizados quanto a instalação dos mesmos nas residências, nos quais se chegou a conclusão de que para residências em construção, o sistema poderia ser instalado internamente na parede do banheiro, devidamente incluso no projeto hidráulico da planta. Já para residências acabadas, recomenda-se a instalação externa do sistema, visto que quebrar a parede do banheiro acarretaria maiores custos com material e mão de obra. Dessa forma, o Anexo 4 e Anexo 5 mostram as duas formas de montagem que englobam as possibilidades de instalação do sistema em residências/apartamentos em construção, assim como em residências apartamentos acabados, respectivamente. A diferença é simplesmente na posição do T, que possibilita as duas possibilidades. A figura 7 retrata o sistema com possibilidade de instalação externa, onde a via do T é acoplada a saída do chuveiro, não havendo necessidade de quebrar a parede, existindo somente uma saída direcionada para o reservatório da residência. 18 3.3.1 Esquema da instalação elétrica Considerando que o termostato tem de ser ativado, foi elaborada uma ligação elétrica de modo que, ao entrar no banheiro e ligar o interruptor da luz, automaticamente o aparelho é ativado. Isso evita um possível esquecimento do usuário ou mesmo uma demora para utilizar o aparelho, considerando que o mesmo demora alguns segundos para funcionar. O fato de o termostato ser ativado não implica que precisa ser utilizado. Por ele gastar pouca eletricidade, não há problema em ligar a lâmpada do banheiro sem utilizar o sistema. Figura 8: Esquema da instalação elétrica 3.4 Desenvolvimento do sistema Fluxostato-Temporizador Considerando a já citada restrição inicial de construir um sistema que não permita a saída de água no banho antes que ela esteja na temperatura ideal para o usuário, e a procura de diversos meios que venham a propiciar este resultado final, idealizamos outro sistema constituído por um fluxostato e por um temporizador, interligados a uma válvula de 3 vias. Com estes componentes, o sistema funcionaria da seguinte forma: ao ligar o registro de água, é liberada a passagem da mesma pelo encanamento. O fluxostato 19 detecta este fluxo e, instantaneamente, emite um sinal elétrico para o temporizador. O temporizador tem por função controlar a abertura e fechamento das vias da válvula. Por tanto tempo quanto for conveniente, o temporizador controlará o redirecionamento da água no sistema, deixando aberta a via que direciona a água para o reservatório. Passado o tempo programado, o temporizador inverte o fechamento das válvulas, liberando a passagem para a ducha. Isso é útil, pois proporciona que seja feita, através de testes, uma estimativa de tempo que cada residência leva para que a água aquecida pelo aquecedor de água a gás de passagem esteja na temperatura ideal de banho. Assim, pode-se programar este tempo detectado nos testes no temporizador e fazer com que, para cada banho, a água fique sendo redirecionada até o momento estimado para que esteja na temperatura ideal. A tabela abaixo indica os tempos detectados nos cálculos dos desperdícios de espera para a água aquecer até a temperatura ideal. De posse destes dados de tempos, programam-se os mesmos no temporizador e tem-se o intervalo de tempo de redirecionamento necessário para o correto funcionamento do sistema. Tabela 3 – Tempos estimados para redirecionamento Residências Volume de desperdício em litros Tempo (segundos) A 9,35 35 B 12,17 45 C 9,25 35 D 15,0 55 E 5,5 25 F 9,5 38 G 16,0 60 H 23,0 90 20 A figura abaixo retrata o mesmo esquema de instalação do sistema anterior, porém com a mudança dos componentes: Figura 9: Esquema de instalação 21 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Custos do produto Definidos os componentes do sistema, e realizada a compra, verificou-se que o valor final, englobando materiais e mão de obra, se encontrou na faixa de valores apontada pela maioria dos pesquisados como sendo aquela que estariam dispostos a investir em um sistema economizador de água. As tabelas com os custos dos dois sistemas propostos seguem abaixo. Tabela 4 – Custos Termostato-Válvula Componentes Válvula de 3 vias Termostato "T" ¾ Joelho Adaptações Encanamento Mão de obra TOTAL Preço (R$) 30,00 90,00 10,00 5,00 10,00 35,00 50,00 230,00 Tabela 5 – Custos Fluxostato-Temporizador Componentes Válvula de 3 vias Temporizador Fluxostato Joelho Adaptações Encanamento Mão de obra TOTAL Preço (R$) 30,00 30,00 100,00 5,00 10,00 35,00 50,00 260,00 4.2 Análise das contas de água Com base nos resultados obtidos nas medições do desperdício, foi feita uma análise em duas residências para verificar o quão representativo era o desperdício frente ao consumo global de água nestas residências. Para tanto, foram feitos cálculos utilizando dados extraídos da conta de água destas residências (o detalhamento dos 22 cálculos se encontra explicitado no anexo 6). Considerando o número de moradores das residências estudadas e que os mesmos tomavam dois banhos por dia, foi possível calcular a quantidade de água desperdiçada anualmente, assim como o gasto financeiro representado pelo não aproveitamento da mesma. Na residência B, foi constatado que o desperdício de água no início de banhos controlados por aquecedores a gás de passagem representa aproximadamente 13% do consumo anual de água da casa. Isso representa financeiramente R$ 85,29. Considerando o menor dos custos do projeto, verifica-se que o sistema proposto neste texto restitui o investimento em cerca de 3 anos, através do reaproveitamento da água que seria descartada. Os demais cálculos de retorno do investimento estão demonstrados na Tabela 6, baseados nos custos das taxas das residências A e B, e considerando 2 banhos diários por morador e o menor custo do sistema de R$ 230,00. Tabela 6 – Tempo de retorno do investimento Retorno do Desperdício Desperdício investimento Residência por banho Moradores mensal (R$) (meses) A 9,4 4 7,18 32 B 12,2 3 7,01 33 C 9,3 2 3,55 65 D 15,0 5 14,40 16 E 5,5 3 3,17 73 F 9,5 2 3,65 63 G 16,0 3 9,22 25 H 23,0 4 17,66 13 23 5 CONCLUSÃO Considerando o objetivo do projeto, a construção e detalhamento de um sistema capaz de reduzir significativamente o desperdício de água tratada no início de banhos controlados por aquecedores a gás de passagem, conclui-se, após a construção dos protótipos e feitos os testes devidos, que houve êxito no trabalho, pois confirmou a hipótese inicialmente proposta e atingiu-se o objetivo. O sistema desenvolvido com o termostato, quando testado em uma estrutura que simulava o funcionamento de um chuveiro (Anexo 5 e 7), se mostrou eficaz, permitindo somente a saída de água no chuveiro quando esta atingisse a temperatura de 35°C, préestipulada como a ideal para o banho e programada no termostato. A montagem do sistema é simples, assim como seu funcionamento. Para montar o sistema são necessárias apenas algumas ferramentas e espaço apropriado, além de conhecimentos básicos na área elétrica e hidráulica, para programar o termostato, fazer as ligações entre este e a válvula e completar a instalação hidráulica. O sistema desenvolvido com o temporizador e o fluxostato se mostrou igualmente eficiente. Assim como o sistema descrito anteriormente, apresenta fácil montagem e instalação. O gasto financeiro representado pelo sistema montado e testado, se encontra dentro da faixa de valores marcado pela maioria das pessoas pesquisadas como sendo o valor que estariam dispostas a pagar por um sistema que reduzisse o desperdício de água. Além disso, em função da economia de água, há uma economia financeira que irá restituir o valor pago pelo sistema. Analisando os dados obtidos através das contas de água, pode-se perceber que o desperdício que o sistema visa eliminar é significativo. Na residência B, por exemplo, 13% do consumo anual de água é representado pelo desperdício do início do banho. Por fim, viu-se que, a partir de componentes simples é possível resolver um problema específico de desperdício de água, conduzindo a vantagens financeiras e contribuindo na solução de uma importante preocupação ambiental. 24 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COMUSA – Companhia Municipal de Saneamento. Disponível em: <http://www.comusa.com.br>. Acesso em: 10/07/2006 COSTA, Marco Antonio F. Metodologia da Pesquisa – Conceitos e Técnicas. São Paulo: Editora Interciência. 2005 JUNG, Carlos Fernando. Metodologia Para Pesquisa e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Axcel Books do Brasil. 2004 MACEDO, Jorge Antônio Barros. Águas e Águas. São Paulo: Varela Editora e Livraria. 2001 OLIVEIRA, Luís Ernesto. Revista Ecologia e Desenvolvimento. Fevereiro de 2002 PIRES, Luiz Zini. Informe Especial do Jornal Zero Hora. 26 de outubro de 2006 SOARES, Paulo Roberto. Revista Ecologia e Desenvolvimento. Maio de 2005 STEWART, Harry L. Pneumática e Hidráulica. São Paulo: Editora Hemus, 3ª edição, 2002. 25 ANEXO 1 Temporizador 26 ANEXO 2 Dispositivo para medição do desperdício 27 ANEXO 3 Pesquisa 1-Você tem preocupação com o futuro do meio ambiente, em particular com a água? ( )Sim ( )Não 2-Você possui sistema de aquecimento de água a gás em sua residência? ( )Sim ( )Não 3-Você tem consciência da quantidade de água desperdiçada, em litros, em um banho cuja água provem de aquecedores a gás? ( )Sim ( )Não 4-Você faria investimento em um produto para economizar água? ( )Sim ( )Não 5-Em caso de resposta afirmativa na questão 4, quanto estaria disposto a gastar? ( ) 100 a 200 Reais ( ) 200 a 300 Reais ( ) 300 a 400 Reais ( ) 400 a 500 Reais ( ) 500 a 600 Reais 6-Colocaria seu banheiro em reforma por esta questão? ( )Sim ( )Não 28 ANEXO 4 Sistema para Instalação Externa 29 ANEXO 5 Sistema para Instalação Interna 30 ANEXO 6 Análise da conta de água da residência A Mês: 04/06/2006 Consumo: 25m³ Valor total: R$ 48,95 Preço pago por litro: R$ 0,001958 Valor total médio (6meses): R$ 60,05 Consumo médio (6meses): 30,67m³ Litragem desperdiçada: 9,35 litros 9,35 litros x 8 banhos x 365 dias = 27302 litros desperdiçados por ano Consumo anual: 12 meses x 30,67m³ = 368040 litros por ano Então 27302 litros representam 7,42% do consumo anual de 368040 litros; Gasto financeiro no ano: R$ 720,60; Gasto do desperdício: 0.001958 x 27302 litros = R$ 53,46 Então os R$ 53,46 representam 7,42% do gasto financeiro anual Análise da conta de água da residência B Mês: 06/06/2006 Consumo: 24m³ Valor total: R$ 77,41 Preço pago por litro: R$ 0,0032 Valor total médio (6meses): R$ 55,38 Consumo médio (6meses): 17,17m³ Litragem desperdiçada: 12,17 litros 12,17 litros x 6 banhos x 365 dias = 26652,3 litros desperdiçados por ano Consumo anual: 12 meses x 17,17m³ = 206040 litros por ano Então 26652,3 litros representam 12,94% do consumo anual de 206040 litros; Gasto financeiro no ano: R$ 664,56; Gasto do desperdício: 0.0032 x 26652 litros = R$ 85,29 Então os R$ 85,29 representam 12,9% do gasto financeiro anual 31 ANEXO 7 Simulador de Testes