QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS NO MUNICÍPIO DE VERANÓPOLIS (RS):
UM ESTUDO DAS DIMENSÕES DE VIDA MAIS VALORADAS
Géssica Mathias Diniz, Universidade Federal de Santa Maria, E-mail:
[email protected]
Solange Regina Marin, Universidade Federal de Santa Maria, E-mail:
[email protected]
Área temática: 6 - Desenvolvimento social, economia solidária e políticas públicas
Resumo: O envelhecimento populacional é um processo que está em crescimento em todo o
mundo. Tendo em vista o aumento da proporção de idosos na população é necessário
compreender quais dimensões são consideradas importantes por eles para sua qualidade de
vida. O objetivo do presente estudo é buscar na literatura informações sobre qualidade de vida
e identificar quais dimensões são valoradas pelas pessoas acima de 60 anos do município de
Veranópolis (RS). A Abordagem das Capacitações é utilizada como base teórica para o
desenvolvimento do presente estudo, considera-se que existem outras dimensões além da
renda monetária relevantes para a qualidade de vida. O formulário elaborado previamente
para a identificação contou com questões abertas e em Escala Likert (0 a 10), sendo o zero
nada importante e 10, muito importante, o mesmo foi aplicado a uma amostra de 106 idosos.
As mulheres representaram 65% da amostra, a maior proporção dos idosos entrevistados está
na faixa etária de 61 a 70 anos, cursaram entre a 5ª e a 8ª série, são casados, residem com a
família, recebem aposentadoria e não possuem trabalho remunerado. Quanto à identificação
das dimensões mais valoradas pela amostra para a qualidade de vida, apenas “situação
econômica” e o “planejamento” não receberam 10 na Escala Likert por mais de 50% dos
entrevistados, revelando que todas as dimensões apresentadas são relevantes para o grupo. A
dificuldade no cumprimento do objetivo de identificação deveu-se a metodologia, escala
Likert com grande amplitude, 0 a 10, além, da dificuldade de compreensão dos entrevistados
quanto às perguntas, alguns respondiam o quão bem estavam se sentindo naquela dimensão e
não quão importante esta era para eles.
Palavras-Chave: Idosos; Dimensões valoradas; Veranópolis.
1 INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é uma revolução demográfica que afeta o mundo
inteiro. A população deixará de ser tão jovem devido a menor fecundidade, aumento da
sobrevivência das crianças e melhor saúde, e este é um processo mais rápido em países em
desenvolvimento, com grande número de jovens na população. Dos 15 países com mais de 10
milhões de idosos1, sete são países em desenvolvimento. As pessoas vivem mais porque
1
Para as Nações Unidas são consideradas pessoas mais velhas (idosos) aqueles que possuem 60 anos, esta linha
também é considerada por demógrafos. Mas em países desenvolvidos é usado como referência 65 anos, pois a
partir desta idade as pessoas podem beneficiar-se da seguridade social (UNFPA, 2012, p. 20).
1
possuem melhor nutrição, saneamento, medicina avançada, cuidados com a saúde, educação e
bem-estar econômico (UNFPA, 2012).
Em 1950, havia 205 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no mundo, já em 2012 o
número de idosos chegou a 810 milhões de idosos e a projeção é de que chegue a dois bilhões
em 2050 (UNFPA, 2012). De acordo com o UNFPA (2012), no período 2010-2015 a
expectativa de vida para os países desenvolvidos é de 78 anos e para as regiões em
desenvolvimento é de 67 anos. No período entre 2045 e 2050, estes valores serão 83 e 74
anos, respectivamente. Considerando que a partir dos 60 anos a porcentagem de idosos em
2012 era de 11% da população mundial, em 2050 será de 22%. O envelhecimento da
população mundial resultará em uma pirâmide etária retangular em 2050 tanto para as regiões
desenvolvidas quanto em processo de desenvolvimento (UN/DESA, 2011).
Segundo dados do Censo Demográfico de 2010 apresentados no folheto Indicadores e
Dados Básicos para a Saúde (IDB, 2011), o índice de envelhecimento no Brasil (razão entre o
número de pessoas com mais de 60 anos de idade para cada 100 pessoas com menos de 15
anos) em 1991 era de 21 idosos para 100 menores de 15 anos, já em 2010 chegou a 44,8. A
esperança de vida ao nascer, que expressa o número médio de anos de vida esperados para um
recém-nascido era de 66,9 anos em 1991 e em 2010 chegou a 73,4 anos. O declínio da taxa de
fecundidade de 6,28, em 1960, para 2,1 filhos por mulher, em 2010 provoca o estreitamento
da base da pirâmide etária (composição populacional por faixa etária e gênero) e o
alargamento da porção superior revelando uma tendência à inversão da pirâmide, ao
envelhecimento da população.
Em 2012, 10,9% da população brasileira possuía 60 anos ou mais. A projeção é que em
2050 esta proporção chegará a 29%. Considerando esta mesma divisão etária para cada 100
mulheres, em 2012, havia 81 homens. A expectativa de vida ao nascer no período entre 2010
e 2015, para os homens é de 71 anos, enquanto para as mulheres 77 anos (UNFPA, 2012).
O município de Veranópolis, localizado no Estado do Rio Grande do Sul, recebeu na
década de 1980 o título de Terra da Longevidade2 e este foi ressaltado e adotado como slogan
quase uma década depois de publicada uma reportagem assinada por Herculano Gomes
Mathias, na página 52 da revista Geografia Universal, onde médicos e sociólogos, dedicados
ao estudo da gerontologia citavam Veranópolis como um dos locais mundiais favoráveis ao
prolongamento da vida (WASKIEWICZ, 2008). Desde então, as administrações municipais
2
Em trabalho de United Nations Population Fund (UNFPA, 2012, p. 23) a expectativa de vida difere da
longevidade devido a primeira referir-se ao número médio de anos que uma população com certas características
espera viver, enquanto a segunda está relacionada a sobrevivência individual.
2
que se sucederam na década de 1990 deram especial atenção ao aspecto da longevidade
veranense, incentivando e valorizando o grupo que reúne longevos e pesquisas vinculadas ao
tema (CRUZ & MORIGUCHI, 2002, PILGER, 2006)).
De acordo com dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil (2013), a
esperança de vida ao nascer da população veranense teve um aumento de 3,7 anos entre 1991
e 2010, chegando a 75,3 anos. Considerando-se municípios que possuam semelhante número
de habitantes de Veranópolis (22.810) (IBGE, 2010), ou seja, que estejam dentro da faixa de
22 a 23 mil pessoas como, Nova Prata (22.830), Guaporé (22.810), Nova Santa Rita (22.706),
Tupanciretã (22.286) e São Jerônimo (22.141) tem-se que a proporção de idosos em relação à
população total de Veranópolis é superior a daqueles em um ponto percentual ou mais
(15,34%).
Em virtude do processo de inversão da pirâmide etária, redução da base e alargamento
da parte superior é necessário conhecer o perfil desta parte experiente da população. Sabendose como é a qualidade de vida dos idosos, quais as suas características e necessidades é
possível formular políticas públicas direcionadas às deficiências indicadas e reforçar os
pontos positivos que colaboram para o bem estar, a fim de prologar a vida da população idosa.
Tendo em vista o processo de aumento do número de idosos, quais dimensões são
importantes para a qualidade de vida destes? O objetivo do presente trabalho é buscar na
literatura informações sobre qualidade de vida e identificar quais dimensões são consideradas
importantes pela população acima de 60 anos de idade do município de Veranópolis (RS). A
hipótese a ser discutida é de que existem outras dimensões, além da renda monetária,
consideradas relevantes pelos idosos para a sua qualidade de vida. Para o desenvolvimento
deste trabalho será utilizado o embasamento na Abordagem das Capacitações de Amartya Sen
(1979), com funcionamentos substituídos por dimensões, conforme Alkire (2008b).
O trabalho está dividido em quatro seções, além desta introdução, na primeira seção são
apresentados aspectos relativos à Abordagem das Capacitações, na sequência trata-se da
metodologia utilizada no estudo. Os resultados e discussões estão na terceira seção e, por fim
são levantadas algumas considerações.
2 A ABORDAGEM DAS CAPACITAÇÕES
O economista e filósofo Amartya Sen (1979) questiona sobre o que considerar na
análise de igualdade, para ele nenhuma das três abordagens referidas em seu artigo, igualdade
3
utilitária, igualdade da utilidade total, e igualdade Rawlsiana é suficiente para embasar a
igualdade, nem mesmo qualquer combinação delas. Sen (1979) argumenta que a igualdade
deve ser buscada em outro espaço informacional que não a utilidade ou os chamados bens
primários sociais de Ralws3. A principal razão é que ambas desconsideram a diversidade
humana e propõe que a ideia de igualdade de capacitações básicas supriria esta lacuna.
Sen (1979) exemplifica com o caso de uma pessoa com deficiência física a fragilidade
das explicações utilitaristas e de bens primários para suprir as necessidades do indivíduo
tendo como foco a discussão sobre igualdade, propondo assim a interpretação das
necessidades na forma de capacitações básicas (uma pessoa ser capaz de fazer certas coisas)
que seria inclusa na demanda por igualdade. Sen (1979) considera as capacitações básicas
como uma extensão natural da preocupação de Rawls com bens primários, mudando a atenção
dos bens para o que os bens fazem para os seres humanos, o que possibilitam para o indivíduo
(por exemplo, o alimento está relacionado à nutrição do indivíduo).
O filósofo John Rawls (1971), assim como Sen (1979), rejeita o welfarismo, bem-estar
visto como utilidade, satisfação de preferências, sua abordagem volta-se para a concepção de
justiça em termos de bens sociais primários, coisas que se supõe que um homem racional
deseja, supondo que existam diversas coisas que ele preferiria ter mais a ter menos. Os bens
sociais primários correspondem aos direitos, liberdades, oportunidades, renda e riqueza
(RAWLS, 1997, p. 97).
Segundo Sen (1979), a igualdade de capacitações básicas é cultural-dependente,
principalmente na ponderação de diferentes capacitações. As necessidades diferem de uma
região, comunidade ou grupo social para outro, a igualdade rawlsiana também possui esta
característica, porém difere da anterior no caráter fetichista. A abordagem proposta por Sen é
uma extensão da abordagem rawlsiana numa direção não fetichista, ou seja, sem dar
importância exclusivamente aos bens (Sen, 1979), mas também a capacidade do indivíduo em
transformar os bens em funcionamentos (ARNSPERGER & VAN PARIJS, 2003, p. 91). Sen
(2003) ressalta o papel do ser humano como fim nele mesmo, sendo a prosperidade
econômica apenas um meio para acessar os fins e que nem sempre atende ao seu propósito.
3
Conforme Vita (1999) os bens primários tratados por Rawls são a renda, a riqueza e as oportunidades de acesso
às posições ocupacionais e de autoridade mais valorizadas na sociedade.
4
2.1 Capacitações e Funcionamentos
Capacitação é a liberdade substantiva de realizar combinações alternativas de
funcionamentos que correspondem à realização efetiva das coisas. Pode ser considerado um
pacote de funcionamentos sujeito a diversas combinações de acordo com a escolha de cada
indivíduo, como por exemplo, estar nutrido adequadamente, ter boa saúde, evitar a morte
prematura. “Los funcionamentos representan partes del estado de uma persona: en
particular, las cosas que logra hacer o ser al vivir” (SEN, in NUSSBAUM & SEN, 1993, p.
55). Alkire e Deneulin (in Deneulin e Shahani, 2009) utilizam o exemplo da bicicleta para
ilustrar capacitação e funcionamento, a bicicleta é o recurso e a mobilidade propiciada pelo
bem é o funcionamento que pode não ser realizado caso o indivíduo não tenha equilíbrio ou
não seja permitido o uso da bicicleta, o acesso ao recurso (possuir o bem) e as características
do indivíduo criam a capacitação (liberdade) para se mover de um lugar para outro quando
desejar.
Os funcionamentos variam de acordo com o nível de desenvolvimento da unidade de
análise e dos indivíduos observados. Para alguns, há poucos funcionamentos a serem
considerados como importantes, já para um contexto de problemas mais gerais, como por
exemplo, em uma comunidade isolada em que as condições de saneamento básico são
precárias, não há coleta de lixo, há dificuldade em chegar ao polo de saúde, de educação, em
obter emprego, entre outros problemas, a lista aumenta, ou seja, existem mais indicadores,
fatores essenciais a serem supridos. Segundo Marin (2005) a mensuração dos funcionamentos
é mais simples comparada a complexidade das capacitações, pois aqueles se referem às coisas
que as pessoas efetivamente estão fazendo ou sendo, já as capacitações, por sua natureza
contrafactual, são mais difíceis de medir.
Sen (1985, p. 200) ressalta que a característica central do bem-estar é a habilidade para
realizar funcionamentos valoráveis, além disso, existem variações interpessoais na
transformação de bens em funcionamentos, considerando-se o consumo de alimento e o
funcionamento de estar bem nutrida, a relação entre eles dependerá de fatores como
metabolismo, sexo, tamanho corporal, nível de atividade, entre outras influências, ou seja,
dependerá da capacitação do indivíduo para funcionar. Na figura 1, observa-se a relação que
se dá entre bens e funcionamentos dados n fatores que podem influenciar na realização destes.
5
Figura 1 – A conversão de bens em funcionamentos e as variações interpessoais.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Sen (1985).
Este é outro ponto de diferenciação entre Rawls e Sen, além do enfoque dado sobre os
bens, pois este considera as variações interpessoais na transformação de bens em
funcionamentos, enquanto o primeiro não considera as diversidades entre os indivíduos que
podem interferir na efetivação do uso dos bens primários.
2.2 Liberdade de escolha: a Condição de Agente
Para Sen (2000), a liberdade é central para o processo de desenvolvimento, pois
impulsiona o progresso (aumento das liberdades) e possibilita a realização do
desenvolvimento por meio da livre condição de agente, ou seja, permite a escolha de fazer e
ser o que é valorizado pelo próprio indivíduo aumentando o seu bem-estar.
Para Sen (1985), existem diferenças pertinentes a liberdade e realização de bem-estar e
a liberdade e realização de agente; o indivíduo pode exercer sua liberdade de agente e não
aumentar seu bem-estar, ambas as liberdades podem se mover em sentido contrário. Um
homem come seu sanduíche sentado em um banco quando de repente avista um rapaz longe
dali dentro do lago se afogando, ele tem a liberdade de escolher ajudar o rapaz e deixar seu
sanduíche ou continuar saboreando este sem pressa. Ele decide ajudá-lo realizando sua
condição de agente a qual não corresponde a realização de seu bem-estar que pode ter sido
diminuído por não ter consumido seu lanche tranquilamente. Como agente ele pode valorar a
oportunidade de salvar a pessoa mais que a perda da oportunidade de comer o sanduíche
(SEN, 1985, p. 206).
Para Sen (1985), a ideia de liberdade para realizar o bem-estar (well-being freedom) é
específica voltada para o objetivo realizar o bem-estar, já a ideia de liberdade de agente
(agency freedom) é mais geral, corresponde a liberdade de realizar o que uma pessoa como
6
agente responsável decida que poderia realizar. A pessoa é livre para fazer e realizar a busca
por qualquer objetivo ou valor que considere importante, e o aspecto de agente de uma pessoa
deve ser analisado de acordo com suas ideias.
O enfoque dado por Amartya Sen sobre a liberdade substantiva do indivíduo, a
liberdade de definir o que é melhor para si e a importância da análise de qualidade de vida
delineiam qual deve ser o foco de políticas sociais, como destaca Robeyns (2003).
Sen argued that in social evaluations and policy design, the focus should be on what people are
able to do and be, on the quality of their life, and on removing obstacles in their lives so that they
have more freedom to live the kind of life which, upon reflection, they find valuable. (ROBEYNS,
2003, p. 5).
As políticas sociais devem possibilitar a liberdade de escolha do indivíduo para que ele
realize o que deseja ser e fazer, viva da forma valorada por si.
Considerando o papel da liberdade de escolha do indivíduo e a abordagem desenvolvida
por Sen (1979), no subitem seguinte é apresentada uma forma de torná-la aplicável, ou seja,
adequá-la ao objetivo do trabalho que se desenvolva, neste caso a busca das dimensões mais
valoradas para a qualidade de vida dos idosos de Veranópolis.
2.3 Definição das dimensões a partir da Abordagem das Capacitações
Segundo Sabina Alkire (2008a), a abordagem das capacitações é um método plural, ou
seja, é aplicado diferentemente dependendo do lugar, da situação, do nível de análise, das
informações disponíveis e do tipo de decisão envolvida. Esta abordagem não gera um grupo
específico e universalmente relevante de domínios para todos os exercícios avaliativos, não há
uma receita que seja aplicável a todo e qualquer grupo a que se queira analisar, mas sim várias
possibilidades de domínios a serem selecionados de acordo com as particularidades do grupo
a ser estudado. É necessário considerar as diferenças individuais, duas pessoas podem ter
acesso ao mesmo bem e por problemas físicos ou sociais ou por escolhas uma delas pode não
obter o mesmo retorno que a outra para a sua qualidade de vida.
Similarly, two people might each enjoy the same quality and quantity of food every day. But if one
is very sedentary and one a builder, or one is elderly and one is pregnant, or one has a low
metabolism and the other a very high metabolism, then their nutritional status may diverge
significantly. The builder, the pregnant woman, and the person with a high metabolism may be
noticeably less well nourished. (ALKIRE, 2008b, p.2)
7
Tendo como unidade de análise o indivíduo é alterado não só o tipo de dados, mas
também a ordem de agregação de uma medida de qualidade de vida. Agregando primeiro os
domínios lado a lado e depois as pessoas, o que permite identificar o alcance das privações e
as realizações de cada pessoa (ALKIRE, 2008b). A importância que é dada ao indivíduo, sob
o enfoque desta abordagem, torna os resultados sobre qualidade de vida uma boa forma de
conhecer limitações e realizações de indivíduos de um grupo social, étnico ou de uma
comunidade.
Por meio da análise multidimensional do bem-estar (well-being) desenvolvida por Sen,
que vem se popularizando entre pesquisadores e policymakers, busca-se outras dimensões
para mensurar o bem-estar além da escassez de recursos monetários, em alguns casos um
indivíduo poder ser privado do exercício de suas capacitações (saúde, educação, saneamento,
por exemplo) e não ser considerado monetariamente pobre (ALKIRE & FOSTER, 2007). A
análise multidimensional é flexível, adaptável a diferentes contextos e propostas como já fora
ressaltado, podendo ser utilizada em um setor, como Alkire e Foster (2007) denominam, para
representar qualidade de educação ou dimensões de saúde, por exemplo, e ainda podem ser
atribuídos diferentes pesos para as dimensões ou indicadores.
O estudo de qualidade de vida vincula-se a ideia de well-being, aplicando-se o conceito
de funcionamento, realização do que o indivíduo quer (SEN, 1988).
The well-being of a person can be seen as an evaluation of the functionings achieved by
that person. This approach has been implicitly used by Adam Smith (1776) and Karl Marx
(1844) in particular, and more recently in the literature on "the quality of life". (SEN, 1988,
p. 15)
Sen (2003) ressalta que analisar a qualidade de vida em termos de atividades valoradas e
as capacitações para realizar estas atividades possui grande relevância e aplicação, sendo que
a longevidade é vista como um indicativo de uma melhora da qualidade de vida, realização do
funcionamento viver. “An expansion of longevity is seen, by common agreement, as an
enhancement of the quality of life” (SEN, 2003).
Em trabalho anterior, Sen (1981) já havia citado a longevidade como parâmetro de
qualidade de vida, além da alfabetização, deixando claro que o progresso destes é uma forma
limitada de julgar o desenvolvimento econômico. Porém é útil para identificar os países que
possuem melhor desempenho em relação aos outros e relacioná-lo à natureza destas
economias e as políticas públicas utilizadas. O que Sen (1981) denominou parâmetro de
qualidade de vida, Alkire (2008b) intitula como dimensão, um aspecto de vida valorado pelo
8
indivíduo, sendo que existem diferentes formas de determiná-las e diversas combinações
serão obtidas de acordo com o grupo que se queira analisar.
Para selecionar as dimensões, Alkire (2008b) apresenta cinco mecanismos: primeiro
mecanismo de seleção é um exercício deliberativo ou participativo em que é usado um grupo
representativo de participantes como agentes reflexivos que julgarão as capacitações focais; o
segundo é a utilização de uma lista que possui legitimidade e um tipo de consenso estável
como, por exemplo, direitos humanos ou Objetivos de Desenvolvimento para o Milênio; o
terceiro é baseado em uma teoria, como a de Martha Nussbaum, que estruturou um grupo de
10 capacitações; o quarto mecanismo consiste no uso de dados existentes, é um critério de
viabilidade sem fazer juízo de valor, normalmente é necessário para usar combinado aos
mecanismos anteriores e; o último é uma lista com base em informação empírica sobre
comportamentos e preferências das pessoas retiradas de estudos psicológicos ou pesquisas
com consumidores ou de marketing.
Alkire (2008b) elenca algumas dimensões de qualidade de vida que são com maior
frequência relatadas. Sendo elas: saúde e seguridade, entendimento, realização, participação,
relacionamento, satisfação e harmonia.
Health and security (health, survival, security, rest, reproductive health); understanding
(knowledge, understanding, information & communication); achievement (meaningful work and
play – outside and at home; creativity); participation (democratic practice, voice, empowerment,
self-determination); relationships (absence of shame/humiliation, love, relatedness, affiliation);
satisfaction (self-integration, emotional well-being, happiness, inner peace) e; harmony (culture
and spirituality, art, environment). (ALKIRE, 2008b, p. 12)
A medida de qualidade de vida não é só um exercício de documentação, mas também
uma forma de identificar as necessidades específicas de diferentes grupos e assim servir como
orientação para políticas públicas. A medida de qualidade de vida deve possuir características
especiais, tais como: ser compreensível e fácil para descrever; estar de acordo com o “senso
comum” da noção de qualidade de vida; deve ser capaz de atingir os privados, rastrear
mudanças e guiar políticas; deve ser tecnicamente sólido; operacionalmente viável e;
facilmente replicável (ALKIRE, 2008b).
O método Alkire-Foster (AF) desenvolvido pelos pesquisadores Sabina Alkire e James
Foster (2007), que propõe 12 passos para se chegar a uma medida de pobreza
multidimensional, é apresentado como uma forma de agregar dimensões e depois pessoas, ou
seja, podem-se analisar as dimensões e agrupar os resultados para os indivíduos. Em Alkire
9
(2008b), o método AF é utilizado para mensurar a qualidade de vida, sendo a medida obtida
por meio do que a autora chama de linha de corte (“top sufficiency”). “A person is identified
as having a sufficient quality of life if they achieve sufficiency in some range of dimensions;
achievements above sufficiency do not increase their quality of life” (ALKIRE, 2008b, p. 14).
Se a pessoa realiza um tipo de dimensão é considerado que ela possua qualidade de vida
suficiente.
Segundo Alkire (2008b), os resultados da medida de qualidade de vida combinam o
reconhecimento da proporção de pessoas que tem atingido a suficiente qualidade de vida com
a preocupação do alcance, profundidade e distribuição de privações entre aqueles que ainda
não a atingiram. Na seção subsequente, são apresentados a fonte de dados e o instrumento
utilizado para definição das dimensões mais valoradas pelos idosos de Veranópolis.
3 METODOLOGIA
O artigo utiliza as abordagens qualitativa e quantitativa. O trabalho baseia-se em
referencial bibliográfico, artigo de autores que trabalham com temática semelhante à
apresentada no presente estudo. Caracteriza-se por ser direta e indireta, utilizando tanto dados
primários quanto dados secundários.
São utilizados os dois primeiros passos do método Alkire-Foster (2007) a definição da
unidade de análise já escolhida, idosos de Veranópolis e escolha das dimensões a serem
consideradas em um instrumento de mensuração da qualidade de vida. Os 10 passos
conseguintes do método AF não serão empregados devido ao objetivo deste estudo resumir-se
a identificação das dimensões mais valoradas pela amostra, e não desenvolver uma medida de
qualidade de vida como se propõe o método completo.
As dimensões são determinadas de acordo com as respostas obtidas em formulário
previamente elaborado, mecanismo participativo (Alkire, 2008b). Conforme a valoração dada
aos diversos aspectos se identificará quais dimensões são consideradas mais importantes para
a qualidade de vida dos idosos.
3.1 Fontes de dados
Os dados secundários referentes às características populacionais do município de
Veranópolis foram coletados do Censo Demográfico de 2010, realizado pelo Instituto
10
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Atlas do Desenvolvimento Humano (2013).
A identificação das dimensões valoradas ficou por conta de formulário, descrito na sequência,
aplicado a uma amostra representativa ao nível de significância de 10%, 106 idosos.
3.2 O instrumento para identificação das dimensões
O instrumento escolhido para identificação das dimensões valoradas pela amostra foi o
formulário que se caracteriza pela intervenção do entrevistador ao anotar as respostas do
entrevistado. Este foi elaborado baseando-se na abordagem seniana das capacitações, sendo as
dimensões substitutas aos funcionamentos, a habilidade e liberdade para realizar as funções e
atividades vistas como essenciais pelo indivíduo. Foram empregadas dimensões já trabalhadas
por alguns autores como Cummins (1995), Alkire (2008b) e Paschoal (2000).
Na primeira parte do formulário têm-se as questões referentes à caracterização da
amostra como idade; escolaridade; estado civil: com quem reside; se é aposentado; possui
trabalho remunerado; qual é/era sua profissão; gênero e naturalidade. As questões abertas
referem-se ao que os idosos pensam sobre qualidade de vida, o que é, se é possível melhorá-la
no caso dos entrevistados, se estes gostariam de voltar a ser jovem e se existiriam outros
aspectos considerados relevantes para a qualidade de vida, além dos citados na parte das
perguntas em Escala Likert. Nesta parte do instrumento para cada dimensão é apresentada
uma escala de 0 a 10 em que zero é nada importante e dez, muito importante, para
compreender quais são as dimensões de qualidade de vida mais relevantes para os idosos.
As dimensões sutilizadas foram: saúde física, saúde mental, independência motora,
atividades físicas, atividades de lazer, seguridade, relações familiares, relações na
comunidade, relação conjugal, religiosidade, satisfação pessoal, conhecimento, infraestrutura
pública, participação na comunidade, segurança, meio ambiente, situação econômica e
planejamento.
As entrevistas foram realizadas entre os dias 29 e 31 do mês de outubro. Primeiramente,
foi visitado o Lar São Francisco e a tarde acompanhou-se o trabalho do Grupo de Convivência
da Longevidade de Veranópolis, em ambos os locais a pesquisadora e a colaboradora4, foram
levadas pela Secretária de Assistência Social do município. No segundo dia, foram abordados
transeuntes nas principais ruas do município e idosos que se encontravam em frente as suas
casas ou que eram indicados por vizinhos. No último dia, na parte da manhã continuou-se
4
Tatiane Pelegrini, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Viçosa.
11
com as entrevistas na rua e a tarde, novamente acompanhadas da secretária chegou-se a
reunião do Grupo Conviver, em um dos bairros mais humildes do município, Santo Antônio.
Na sequência são apresentados a caracterização demográfica e histórica do município de
Veranópolis e os resultados obtidos com o formulário aplicado.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O município de Veranópolis está localizado a 170 quilômetros da capital do Estado do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, na microrregião de Caxias do Sul, na mesorregião Nordeste
Rio-Grandense (Figura 1). É um município de colonização italiana; os primeiros imigrantes
chegaram em 1884, quando o local pertencia ao município de Lagoa Vermelha e em 1898 foi
desmembrado deste, mas somente na década de 1940 passou a ser conhecido como
Veranópolis.
Figura 1 – Localização do município de Veranópolis (RS)
Fonte: Fundação de Economia e Estatística, FEE.
Segundo dados do Censo Demográfico de 2010 (IBGE), a população é de 22.810
habitantes, sendo que 86,99% destes vivem na área urbana. São 1.974 mulheres com 60 anos
12
ou mais e 1.519 homens na mesma faixa etária, totalizando 3.493 idosos, representam 15,31%
da população total. De acordo com dados do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil
(2013), a esperança de vida ao nascer da população de Veranópolis teve um aumento de 3,7,
anos entre 1991 e 2010, chegando a 75,3 anos, acima da média para o país de 73,4 e 0,1 anos
abaixo da média estadual.
Em 1991, 1.893 habitantes possuíam 60 anos ou mais no município de Veranópolis o
que correspondia a 11,19% da população total. Nos grupos de 5 a 9 e 25 a 29 anos estavam os
maiores percentuais da população 9,30 e 9,54%, respectivamente. Neste mesmo ano, 17,41%
da população estava faixa entre zero e nove anos, já em 2010, este percentual caiu para 9,95%
da população.
A taxa de analfabetismo dos indivíduos com 15 anos ou mais no município, em 2010,
foi de 2,8% e a expectativa de anos de estudo de 11,94 anos. Ou seja, espera-se que a
população possua o ensino médio (Atlas do Desenvolvimento Humano, 2013). Em
Veranópolis não existem extremamente pobres e 1,96% da população é pobre5. Segundo
dados do Atlas do Desenvolvimento Humano (2013), a renda per capita mensal é de R$
1.141,67. A taxa de fecundidade caiu de 2,16 filhos por mulher em 1991 para 1,64 em 2010,
já a taxa de envelhecimento aumentou de 7,63 (1991) para 10,65 idosos para 100 jovens com
menos de 15 anos de idade (2010). A mortalidade infantil, neste mesmo período, caiu de 15,9
para 12,4 mortes a cada 1.000 nascidos vivos (ATLAS DO DESENVOLVIMENTO
HUMANO, 2013).
No quadro 1, é apresentado um comparativo entre os Índices de Desenvolvimento
Humano Municipais (IDHMs) e os indicadores que o compõem (renda, longevidade e
educação) em nível nacional, estadual e municipal com base em dados dos três últimos censos
demográficos realizados pelo IBGE.
5
De acordo com a definição do Decreto n. 6.917 de 30 de julho de 2009 da Presidência da República, são
consideradas extremamente pobres as famílias com renda familiar mensal per capita até R$ 70,00 e como pobres
as famílias com renda até R$ 140,00 (BRASIL, 2009).
13
1991
0,493
Brasil
2000
2010
0,612 0,727
Rio Grande do Sul
1991
2000
2010
0,542 0,664 0,746
Veranópolis
1991
2000 2010
0,600 0,702 0,773
0,647
0,692
0,739
0,667
0,720
0,769
0,678
0,753
0,797
0,662
0,727
0,816
0,729
0,804
0,840
0,777
0,831
0,838
0,279
0,456
0,637
0,328
0,505
0,642
0,410
0,554
0,692
IDHM
IDHM Renda
IDHM
Longevidade
IDHM Educação
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano 2013 (PNUD, IPEA e FJP)
Quadro 1 – Comparativo entre os Índices de Desenvolvimento Humano do Brasil, Rio
Grande do Sul e Veranópolis para os anos de 1991, 2000 e 2010.
No comparativo apresentado no quadro acima o IDHM e os seus respectivos
indicadores são superiores em todos os anos no município de Veranópolis em relação à média
do Estado e do Brasil, exceto para o IDHM Longevidade de 2010, em que a média estadual
(0,840) é superior a municipal (0,838), porém, o indicador municipal é superior ao IDHM
Longevidade do país (0,816).
Conforme a evolução do IDHM de Veranópolis percebe-se a melhora do índice, mas
não só este município obteve melhora, outros também evoluíram e isto explica o fato de ter
perdido 21 posições no ranking municipal do IDHM entre 1991 e 2010, quando com 0,773
conquistou a 26ª posição dentre os municípios do Rio Grande do Sul (ATLAS DO
DESENVOLVIMENTO HUMANO DO BRASIL, 2013).
Considerando a evolução temporal observa-se a melhora do IDHM em todas as
espacialidades reforçando ideia de melhora dos indicadores que compõem o índice,
principalmente, quanto à longevidade, não só o país, como o Rio Grande do Sul e Veranópolis
tem obtido melhora na expectativa de vida devido a melhorias em serviços de saúde,
saneamento, educação, ente outros, que aumentam a qualidade de vida dos indivíduos e a
prolongam.
Nas subseções a seguir pode-se observar o perfil da amostra entrevistada e a valoração
dada por ela a cada uma das dimensões citadas.
4.1 Caracterização da amostra
Os idosos entrevistados foram encontrados em grupos da terceira idade, lar e nas ruas
de Veranópolis, 106 formulários foram respondidos sendo que destes oito pertenciam a Casa
14
Lar São Francisco, 22 ao Grupo de Convivência da Longevidade de Veranópolis, 14 ao Grupo
Conviver e 61 entrevista foram feitas pelas ruas principais do município.
A Casa Lar São Francisco é público-privada e foi inaugurada em 2012. Abriga 30
idosos, sendo que muitos deles possuem alguma deficiência mental, impossibilitando-os de
participar da pesquisa, o lar conta com 14 funcionários. O grupo de convivência existe há sete
anos, os grupos pequenos de cada comunidade foram reunidos em um só pela Secretaria de
Assistência Social, atualmente possui 220 idosos associados. Cada um dos associados
contribui com cinco reais por mês e, além disso, a prefeitura encaminha recursos anualmente
para a manutenção das atividades. Os integrantes reúnem-se uma vez por semana no salão de
festas da comunidade para realizar atividades físicas e de lazer, coordenadas por uma
educadora física e duas voluntárias. O Grupo Conviver existe há 16 anos e foi uma iniciativa
da assistência social, 22 idosas participam confeccionando produtos artesanais os quais são
levados para suas casas. Os encontros do Grupo Conviver também ocorrem uma vez por
semana, porém no Bairro Santo Antônio, um dos mais humildes do município.
Na tabela 1 é apresentada a caracterização dos idosos entrevistados com base nas
respostas obtidas via formulário.
15
Tabela 1 - Caracterização dos idosos entrevistados no município de Veranópolis/RS.
Fonte: Elaborada pela autora com base em entrevistas.
16
De acordo as informações da tabela 1, tem-se que as mulheres corresponderam a
aproximadamente 65% da amostra; 32 das 69 entrevistadas estão na faixa etária de 71 a 80
anos, já entre os homens, 20 dos 37 possuem de 61 a 70 anos, sendo que a idade média na
amostra é de, aproximadamente, 73 anos. Quanto a escolaridade, 37,34% dos idosos
entrevistados estudou entre 5 e 8 anos (5ª a 8ª série) e 32,08% entre 1 e 4 anos (1ª a 4ª série),
entre os que completaram o ensino superior os homem são a maioria, oito para cinco mulheres
e o analfabetismo atinge somente as mulheres, correspondendo a 6,6% do total.
Os idosos entrevistados casados correspondem a 51,89% da amostra, sendo que entre os
homens este percentual é de 54,05%, e entre as mulheres 43,48% são casadas e 34,78%
viúvas. Os homens idosos entrevistados residem predominantemente com a família ou
cônjuge, tendo-se igual proporção para ambos os casos, 37,84%. Já as mulheres idosas em sua
maioria residem com a família, 42,03%, 29% com cônjuge e 20,29% delas vivem sozinhas.
Apesar de todos estarem em idade de receber aposentadoria 10,38% do total de idosos não a
recebem, e 21,70% deles ainda possui trabalho remunerado.
Ao se analisar as informações de forma agregada, sem considerar as diferenças de
gênero, pode-se ressaltar que as características predominantes da amostra são: faixa etária de
61 a 70 anos, a escolaridade de 5ª a 8ª série, casados, residem com a família, são aposentados
e não trabalham.
Assim como nos dados agregados de população apresentados IBGE (Censo
Demográfico, 2010), na presente pesquisa as mulheres também se mostraram a maioria da
amostra. Dentre as características apresentadas, apenas nas subdivisões de caracterização
“viver em comunidade religiosa”, “possuir ensino superior”, “estar na faixa etária de 91 a 100
anos” e “possuir trabalho remunerado”, as mulheres não corresponderam a maior fatia da
amostra. Destaque especial se dá ao fato de, na comparação entre homens e mulheres quanto
ao estado civil, tem-se um homem viúvo para oito viúvas, pondo em pauta a questão de as
mulheres terem se casado com homens mais velhos, combinado ao fato de estes terem
expectativa de vida inferior a elas.
Dentre as atividades que eram ou são exercidas pelos idosos predominam a agricultura e
os serviços tais como, costura, trabalhos artesanais, operariado, emprego doméstico e dona de
casa. Mais de 40% da amostra é natural de Veranópolis e quase de 19% tem origem em
municípios vizinhos a este como, Fagundes Varela, Cotiporã, Bento Gonçalves e Nova Prata,
os demais são naturais de outros municípios do Rio Grande do Sul.
17
4.2 As dimensões mais valoradas
Nesta subseção são apresentados os resultados pertinentes à aplicação do formulário
(anexo A) para identificação das dimensões consideradas importantes pela amostra de idosos.
Quando questionados sobre “o que é qualidade de vida”, a resposta predominante foi
“ter saúde”. Quanto a voltar a ser jovem 69% dos entrevistados revelaram que gostariam de
voltar à juventude, por motivos diversos, alguns gostariam de ser jovens com a experiência
adquirida ao longo do tempo para fazer outras escolhas, outros para ter mais liberdade, poder
trabalhar e alguns gostariam de simplesmente prolongar a sua vida (viver mais). Aqueles que
responderam não a questão estão satisfeitos com a idade que possuem e querem seguir o ciclo
natural da vida.
A questão “é possível melhorar a sua qualidade de vida?” recebeu resposta positiva de
55,66% dos entrevistados, e quanto a como fazê-lo houve diversas considerações sendo as
mais citadas ter mais saúde, viajar e fazer exercícios. A última pergunta “gostaria de citar
outros aspectos importantes para a sua vida?” obteve respostas semelhantes aos aspectos
citados nas questões em Escala Likert, dimensões já citadas.
No quadro 2 é apresentada a distribuição relativa da amostra conforme a valoração dada
a cada uma das dimensões.
18
Escala Likert
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
3.A Saúde Física
67,92 16,98
9,43
3,77
1,89
-
-
-
-
-
-
3.B Saúde Mental
74,53 11,32 10,38
1,89
1,89
-
-
-
-
-
-
69,81 11,32 12,26
4,72
0,94
0,94
-
-
-
-
-
53,77 16,04
21,7
3,77
1,89
1,89
0,94
-
-
-
-
3.E Atividades de
lazer
59,43 15,09 14,15
3,77
1,89
4,72
0,94
-
-
-
-
3.F Situação
econômica
47,17 11,32 20,75 10,38
2,83
4,72
-
0,94
-
-
1,89
3.G Seguridade
66,98 13,21
8,49
3,77
1,89
2,83
0,94
-
0,94
-
0,94
3.H Relações
familiares
84,91
9,43
3,77
0,94
0,94
-
-
-
-
-
-
3.I Relações na
comunidade
81,13
7,55
7,55
3,77
-
-
-
-
-
-
-
3.J Relação
conjugal
75,47 11,32
5,66
0,94
0,94
1,89
0,94
-
-
-
2,83
3.K Religiosidade
82,08
5,66
1,89
0,94
-
-
0,94
1,89
-
-
3.L Planejamento
49,06 12,26
28,3
4,72
3,77
0,94
-
-
-
-
0,94
3.M Satisfação
pessoal
76,42 12,26
8,49
0,94
1,89
-
-
-
-
-
-
57,55 17,92 16,04
2,83
1,89
3,77
-
-
-
-
-
60,38 12,26 16,04
6,6
2,83
-
0,94
-
0,94
-
-
58,49 16,04 10,38
8,49
2,83
1,89
0,94
-
-
-
0,94
3.Q Segurança
68,87 16,98
9,43
2,83
-
-
0,94
0,94
-
-
-
3.R Meioambiente
85,85
2,83
2,83
0,94
-
-
-
-
-
-
3.C
Independência
Motora
3.D Atividades
físicas
3.N
Conhecimento
3.O
Infraestrutura
pública
3.P Participação
na comunidade
6,6
7,55
Fonte: Elaborada pela autora com base em dados da pesquisa
Quadro 2 - Distribuição da valoração dada pela amostra às dimensões apresentadas.
Conforme o quadro 2, as dimensões que tiveram maior proporção da amostra as
considerando muito importantes (10 na Escala Likert) foram: meio ambiente, relações
19
familiares, religiosidade, relações na comunidade, com 85,85, 84,91, 82,08 e 81,13%, da
amostra, respectivamente.
As dimensões situação econômica e planejamento foram avaliadas como muito
importantes por menos da metade da amostra 47,17 e 49,06%, respectivamente. E algumas
dimensões foram consideradas nada importantes (zero na Escala na Likert) por parte da
amostra, relação conjugal por 2,83%, situação econômica 1,89%, planejamento, seguridade e
participação na comunidade receberam zero de 0,94% da amostra, cada uma delas. O fato de
relação conjugal receber o maior número de zeros dentre as demais dimensões deve-se as
experiências negativas como, por exemplo, brigas entre casais, já para o caso da situação
econômica, algumas pessoas julgaram-na não ser a mais relevante por acharem que outras
dimensões tem maior peso para a qualidade de vida.
Conforme a avaliação realizada pelos idosos das dimensões apresentadas no formulário
(anexo A) todas, exceto “situação econômica” e “planejamento”, foram consideradas muito
importantes (10) por mais da metade da amostra. Mas, mesmo estas duas dimensões
receberam entre 6 e 9 de 45,28 e 49,05% da amostra, respectivamente, caso seja feito um
corte na escala dividindo-a entre zero e 5 (pouco importante) e entre 6 e 10
(muito
importante) pode-se considerar que todas as dimensões sendo elas, “saúde física”, “saúde
mental”, “independência motora”, “atividades físicas”, “atividades de lazer”, “seguridade”,
“relações familiares”, “relações na comunidade”, “relação conjugal”, “religiosidade”,
“satisfação
pessoal”,
“conhecimento”,
“infraestrutura
pública”,
“participação
na
comunidade”, “segurança” e “meio ambiente” são relevantes para a qualidade de vida dos
idosos veranenses, inclusive “situação econômica” e “planejamento”.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho se propôs a identificar as dimensões mais valoradas pelos idosos para a
sua qualidade de vida embasada na abordagem das capacitações e na condição de agente
desenvolvidas por Amartya Sen.
O conceito de qualidade de vida abrange um vasto número de domínios conforme o
ponto de vista sob o qual é analisado (ciências sociais, ciências da saúde). Sob a perspectiva
de pessoas comuns, geralmente, a qualidade de vida é vista como sinônimo de ter saúde,
porém, conforme foram apresentadas as demais dimensões estas também se revelaram
20
importantes para os idosos, confirmando a pluralidade delineada pela ciência para descrição
deste conceito.
Um dos pontos tratados por alguns dos idosos entrevistados quando perguntados sobre
se gostariam de voltar a ser jovens e o porquê, ressalta o aspecto tratado por Sen (1985) sobre
a liberdade de escolha do indivíduo. Aqueles que responderam positivamente argumentaram
que quando mais jovens possuíam mais liberdade, ou seja, exerciam a sua condição de agente
que agora sendo idosos, devido às limitações pessoais, físicas ou biológicas. Devido à idade
que possuem não podem mais exercer, não podem aproveitar as oportunidades que lhes são
oferecidas e tem dificuldade em realizar os objetivos que consideram importantes.
Considerando-se a identificação das dimensões se percebe nos resultados que a grande
maioria das dimensões apresentadas foi considerada muito importante para a qualidade de
vida dos idosos. A menor importância dada a situação econômica corrobora a visão de Sen
(2003) de que o ser humano é um fim em si mesmo e a prosperidade econômica é somente um
meio para atingir seus propósitos, existem outras dimensões importantes para a qualidade de
vida além da renda monetária (ALKIRE & FOSTER, 2007).
A possível falha da pesquisa em identificar as dimensões mais valoradas resultou da
dificuldade de compreensão dos entrevistados quanto às perguntas, alguns respondiam o quão
bem estavam se sentindo naquela dimensão. Outro ponto a ser considerado, é que a questão da
qualidade de vida e a relevância de seus aspectos não são analisadas pela população,
normalmente. Além disso, a metodologia empregada em Escala Likert com 10 pontos criou
grande amplitude para as respostas e problemas na análise destas.
A sugestão que fica para um trabalho futuro é identificar a influência das características
individuais (biológicas e físicas), neste caso dos idosos, na conversão dos bens em
funcionamentos, ou seja, na realização das dimensões, conforme a ideia subjacente ao
trabalho de Sen (1985).
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24
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