PAULO CÉSAR DE FREITAS ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO EM SOLO GRAMPEADO Monografia apresentada junto à Universidade São Francisco – USF como parte dos requisitos para a aprovação na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso. Área de concentração: Geotecnia Orientador: Prof. Ribamar de Jesus Gomes Itatiba SP, Brasil Dezembro de 2004 “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível”. (São Francisco de Assis) ii Este trabalho é dedicado às pessoas que contribuíram e que fizeram deste momento ser possível e muito especial em minha vida, estas que nos momentos mais difíceis foram meu apoio e a inspiração para superá-los e que nas dificuldades não mensuraram esforços para eu vencê-los. Estas pessoas que moram eternamente em meu coração se resumem em meus pais, que sem eles eu nada seria, Vicente e Nadir, e a minha namorada Pricila, que divide comigo os melhores momentos de minha vida, sempre sendo minha companheira e o amor da minha vida. iii Agradecimentos Agradeço primeiramente a Deus, por me proporcionar o dom da vida e tudo o que conquistei, a todos que de alguma forma ajudaram em minha formação tanto pessoal, quanto profissional. Aos amigos da Engenharia Civil 2000, em especial ao Victor, Rafael Marson, Rafael Augusti, Ângelo, Rômulo, Felipe, Jackson e a Thaís, que além de amigos nesses 5 anos, nos tornamos uma família e em meu coração cada um deles ficarão guardados, cada um com seu jeito, mas que me orgulho de tê-los como irmãos. Agradeço também, aos amigos da Pastoral da Juventude, em especial ao Luciano, Fábio, Mateus e João Paulo, que desde o início desta batalha estiveram comigo e sempre me incentivaram. Ao engenheiro Otair Rosa, que me mostrou a ética de um profissional e por ter me dado a primeira oportunidade para desempenhar meu trabalho. Aos professores que passaram em minha vida, e especialmente meu orientador Ribamar de Jesus Gomes, que tive o orgulho, não apenas de ser seu orientando, como também ser o aluno da sua primeira turma de aula na USF. Ao meu tio Antonio de Moraes, por tudo que deixou, e representa em minha vida (em memória). Aos meus familiares, em especial aos meus pais, que sempre se preocuparam em me dar o melhor e ser testemunho de uma pessoa digna, responsável e capaz de enfrentar os maiores obstáculos. E, finalmente, a minha namorada, por tudo que representa em minha vida, por sua dedicação e apoio durante a conclusão deste trabalho. iv Sumário Lista de Figuras..........................................................................................................vi Lista de Tabelas.........................................................................................................vii Resumo......................................................................................................................viii 1. Introdução...............................................................................................................01 2. Definição.................................................................................................................02 3. Histórico..................................................................................................................03 4. Campos de Aplicação.............................................................................................04 5. Funcionamento.......................................................................................................05 6. Método Construtivo................................................................................................08 6.1 - Chumbador........................................................................................................09 6.2 - Concreto Projetado............................................................................................11 6.3 - Armação do Concreto........................................................................................13 6.4 - Drenagem..........................................................................................................14 7. Critérios de Dimensionamento...............................................................................15 7.1 - Método apresentado por Falconi & Alonso........................................................16 7.2 - Comparação de Processos de Dimensionamento.............................................18 7.2.1 - Comparação das Trações...............................................................................19 7.2.2 - Comparação dos Comprimentos dos Grampos..............................................21 8. Projeto e Especificações........................................................................................22 Conclusão...................................................................................................................27 Referências Bibliográficas..........................................................................................28 v Lista de Figuras 5.1 - Influência da rigidez do grampo nas tensões e deformações mobilizadas........07 5.2 - Contenção de talude em filito sob a fundação de viaduto ferroviário.................08 6.1 - Fases construtivas.............................................................................................08 6.2 - Detalhe dos grampos.........................................................................................10 6.3 - Barra de aço com diâmetro igual ou maior que 20 mm; (B) barra de aço com diâmetro inferior a 20 mm...........................................................................................11 6.4 - Execução do concreto projetado........................................................................13 6.5 - Detalhe do dreno profundo.................................................................................14 6.6 - Detalhe do barbacã. ..........................................................................................15 7.1 - Perfil geotécnico perpendicular ao talude logo após a ruptura de 1995............16 7.2 - Método de cálculo..............................................................................................18 7.3 - Exemplo hipotético - Trações resultantes segundo os diferentes processos de cálculo........................................................................................................................20 7.4 - Exemplo hipotético - Superfícies críticas de cada processo e superfície crítica..........................................................................................................................21 7.5 - Exemplo hipotético - Comprimentos totais de grampos por metro longitudinal de obra............................................................................................................................22 8.1 - Vista frontal típica...............................................................................................23 8.2 - Seção típica........................................................................................................24 8.3 - Detalhe da barra.................................................................................................25 8.4 - Vista frontal típica...............................................................................................25 8.5 - Vista frontal - junta de dilatação.........................................................................26 vi Lista de Tabelas 7.1 - Trações resultantes segundo cada processo.....................................................19 vii Resumo Este trabalho traz um apanhado de informações sobre uma técnica de contenção denominada “Solo Grampeado”, abordando a teoria desta técnica, seus métodos de dimensionamento, detalhes construtivos e materiais empregados na execução de uma obra.E tem como objetivo apresentar a técnica de contenção em solo grampeado.Como averiguado que há pouco material sobre o assunto, vem neste enfocar as informações mais consolidadas sobre esta técnica, visando acrescentar dados técnicos dispersos em um único material contribuindo com a divulgação de uma técnica que traz ótimos resultados para contenções de encostas. 1 1 Introdução Através deste trabalho pretende-se apresentar uma das técnicas de reforço de solos semi-rígidas denominadas grampos, daí então a expressão “Solo Grampeado”. A técnica consiste na inclusão de elementos resistentes à flexão composta, instalados sub-horizontalmente no solo. Esta técnica apesar de ser considerada nova vem sendo muito utilizada no Brasil desde 1970, onde me atentou a execução desta técnica em grandes contenções, principalmente nos taludes de grandes estradas rodoviárias, apreciando sua eficácia e grande agilidade de execução, que foram fatos marcantes para que despertasse meu interesse em desenvolver um trabalho enfatizando esta técnica de contenção. O solo grampeado é uma técnica bastante prática e comprovadamente eficiente para a estabilização de taludes de escavações através de reforço do solo “in situ”. 2 2 - Definição Solo grampeado é um sistema de contenção aplicado a cortes, que emprega chumbadores, concreto projetado e drenagem seja ela, superficial ou profunda. Para sua devida aplicação é importante que o solo a ser contido apresente coesão permanente não desprezível. Como a técnica consiste na inclusão de elementos resistentes à flexão composta, instalados sub-horizontalmente no solo, talvez a terminologia mais bem empregada fosse o termo agulhamento. Pois, pode-se associar os elementos aplicados ao solo a agulhas, o que leva a pensar que são elementos enfiados no solo e não cravados dinamicamente como se pode pensar, no caso, da terminologia solo pregado. Desta forma, alguns autores preferem a utilização do termo agulhamento. No entanto, neste trabalho refere-se a técnica como solo grampeado, nome encontrado na literatura mais freqüentemente. Na literatura internacional pode-se encontrar ainda a utilização da tradução em inglês, soil nailing. A utilização da terminologia “sol cloué”, que significa solo pregado, foi empregada pela sua primeira vez na França. Este nome talvez tenha sido adotado para associar a marca comercial “Terre Armée” (terra armada).1 A técnica terra armada foi desenvolvida pelos franceses. Ela consiste na utilização de tiras metálicas e paramento de placas de concreto pré-moldado, para a execução de muros reforçados em aterros.2 A discussão sobre a terminologia da técnica de solo grampeado é extensa. Após a denominação pioneira de solo enraizado (Utilizada na construção de túnel, em São Paulo, em 1970), já foi chamada de agulhamento, solo pregado e solo grampeado. 1 Toudic, apud Maurício Abramento, Akira Koshima e Alberto Casati Zirlis, Fundações: Teoria e Prática, 2ª edição, São Paulo, Pini, 1998. 2 Clouterre, apud Maurício Abramento, et al, idem, ibidem. 3 3 - Histórico A necessidade de estabilização rápida de escavações teve sua origem nas minas de exploração de minérios, sendo, portanto um problema antigo e basicamente restrito à Engenharia de Minas. A partir da década de 50, houve um crescimento muito grande da aplicação de ancoragens curtas, tipo Perfo, SN Anker, Berg-Jet, para utilização de emboques de túneis, na França, Alemanha e Itália. O professor Landislau Von Rabcewicz,3 desenvolveu a partir de 1945, o NATM (“New Austrian Tunneling Method”), para avanço de escavações em túneis rochosos, cuja patente foi depositada em 1948. Sob efeito do peso de terras e tensões confinantes, uma cavidade tende a se deformar, reduzindo seu diâmetro. Na circunvizinhança da cavidade se forma a zona plástica, com tensões radiais decrescentes. Obtém-se a estabilização dos mesmos a aplicação logo após da escavação, de um revestimento flexível de concreto projetado metálica e chumbadores curtos radiais na zona plástica, com controle de deformações da cavidade. Este revestimento estará, portanto sujeito a uma carga reduzida, face às deformações já havidas. O método evoluiu, para a aplicação num túnel em xisto grafítico argiloso, o Túnel Massemberg em 1964. Seguiu-se com aplicações em solos pouco competentes, como aqueles encontrados nas minas austríacas, substituindo pesados escoramentos de madeira por finas camadas de concreto projetado. A técnica de reforço de taludes em cortes utilizando-se de inclusões horizontais vem sendo utilizada no mundo deste 1970. A primeira obra no Brasil a utilizar-se desta técnica, que se tem notícia, é a obra do túnel de adução do Sistema Cantareira, em São Paulo em 1970.4 Nesta época, a solução de reforçar taludes empregando-se inclusões semirígidas denominadas grampos, era realizada de forma intuitiva. Atualmente a simulação do efeito de reforço através de análises de estabilidade, tem levado a soluções mais realistas e, portanto mais viáveis economicamente. 3 4 Apud Maurício Abramento, et al, idem, ibidem. Apud Maurício Abramento, et al, idem, ibidem. 4 4 - Campos de Aplicação A técnica de solo grampeado pode ser empregada tanto em taludes que ao serem escavados não adquirirão uma geometria estável, como em taludes naturais instáveis, em maciços rompidos e ainda para o emprego de escoramento de escavações. Entre as técnicas de reforço para estabilização de taludes e escavações “in situ”, temos a aplicação de Solo Grampeado, a execução de Reticulado de Estacas Raiz, as Estacas de Grande Diâmetro e as Cortinas Atirantadas. Os dois primeiros sistemas são aplicáveis a taludes ou escavações muito íngremes, até verticais, formando um maciço estável de contenção. No caso do “Solo Grampeado” as nervuras são executadas horizontais e sub-horizontais aumentando a resistência ao cisalhamento do solo principalmente por meio de seu trabalho a tração. As estacas raiz são executadas paralelamente a face do talude e com pequenas inclinações com a vertical, em que cada elemento é solicitado à tração ou compressão, flexão e cisalhamento. As estacas de grande diâmetro são aplicadas a taludes mais abatidos, objetivando reduzir ou estabilizar os movimentos de um plano de escorregamento bem definido, necessitando, portanto ter grande inércia à flexão, motivo pelo qual suas dimensões são muito superiores aos chumbadores e estacas raiz. Embora haja diferenças básicas na forma de trabalho dos três tipos de reforço, ocorrerão situações em que mais de um sistema poderá ser aplicado. Devese objetivar que os elementos executados no maciço possam trabalhar aumentando a resistência ao cisalhamento da área tratada. Decorre então que seu desempenho será melhor, sempre que for possível atravessar o plano de escorregamento, trabalhando cada nervura à tração. Desta forma para taludes ou escavações íngremes em solos, a aplicação de “Solo Grampeado” será muito provavelmente mais econômico que a estaca raiz, considerando-se a necessidade de um número elevado destes últimos em relação aos chumbadores. 5 5 - Funcionamento Os solos em geral, desde que adequadamente compactados, apresentam uma boa resistência à compressão e ao cisalhamento. No entanto, a resistência à tração é baixa. A introdução de reforços traz ao material composto comportamento mecanicamente mais favorável. O grampeamento possibilita que cortes sejam implantados em grandes desníveis e inclinações em locais que de outra forma seriam instáveis, por exemplo, cortes verticais em solos arenosos. O trecho reforçado pode ser entendido como um muro de gravidade, garantindo a estabilidade da zona não reforçada. Concreto projetado comumente compõe a face. O faceamento não tem função principal na estabilização. No solo grampeado a face tem por objetivo garantir a estabilidade local e evitar o desenvolvimento de processos erosivos, ao contrário do que se verifica nas cortinas ancoradas, nas quais a face é o promotor direto da estabilidade da zona potencialmente instável (zona ativa). No solo grampeado a estabilidade é garantida pelas forças de atrito desenvolvidas no contato solo grampo. Através dos grampos promove-se a “costura” da zona potencialmente instável e da zona resistente do conjunto. No caso de reforços flexíveis, somente a resistência à tração responde pela estabilização. Em geral um grampo por sua rigidez pode ser solicitado à tração, à flexão e ao cisalhamento. A eficiência máxima dos grampos dá-se quando sua inclinação coincide com a direção principal maior de deformação da massa reforçada. Nesta condição os grampos unicamente são submetidos à tração independentemente da rigidez à flexão desses elementos. Tipicamente implantam-se grampos com uma inclinação de 15% com a horizontal. Sob a condição de fundo estável a tendência de movimentação de uma escavação é preponderadamente horizontal e não difere, portanto, significativamente da inclinação do grampo. Nestas condições a tração mobilizada nos grampos preponderam como mecanismo estabilizador. Nas análises convencionais, as contribuições da resistência à flexão e ao cisalhamento do grampo comumente são negligenciadas. 6 O atrito mobilizado ao longo do grampo tem direções opostas nas zonas ativas e resistentes, seguindo a tendência de movimento relativo da interface. A forma máxima mobilizada ao longo do grampo ocorre na intercessão do grampo com a superfície potencial de rotura. Superfície potencial de rotura separa destas duas zonas, local no qual tem-se nula as tensões cisalhantes na interface solo-grampo. No projeto, com base no valor dessa força máxima mobilizada deve-se definir uma quantidade suficiente de reforços para se evitar a rotura e um comprimento de transferência suficiente de forma a garantir que não haja arrancamento dos grampos da zona resistente. Sob condições de trabalho, pode-se considerar nulas as movimentações relativas solo-reforço (Dyer & Milligan, 1984, Jewell, 1988).5 Isso significa que não ocorre deslizamento no contato e que são as mesmas deformações no solo e no reforço nessa interface. Assim, as deformações que ocorrem no solo são controladas pela deformabilidade do grampo, nessas condições. Si é o índice de rigidez relativa solo-grampo, conforme descrito por Ehrlich & Mitchell (1994).6 Si = ArEr/KPaSvSh Onde: Ar e Er são a área e módulo de deformabilidade dos grampos, respectivamente; K é o módulo tangente inicial no modelo hiperbólico de Duncan et al. (1980);7 Pa é a pressão atmosférica (constante unitária); Sv e Sh são os espaçamentos vertical e horizontal do grampo (definam a área de influência). Sob deformação lateral, ε, nula tem se o solo na condição de repouso (σs = σz Ko). À medida que as deformações ocorrem às tensões no solo diminuem tendendo ao estado ativo. Já as tensões nos reforços crescem com as deformações, ε. As deformações cessam quando o equilíbrio é satisfeito. Dessa forma, tem se que grampos mais rígidos (Si)2 , (valor demonstrado na Figura 5.1)levam a menores 5 Apud Maurício Ehrlich, Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003, p128. 6 Apud Maurício Ehrlich, idem, ibidem. 7 movimentações e as tensões no solo e nos reforços são mais próximas as correspondentes ao repouso. Grampos mais deformáveis (Si)1 permitem ao conjunto deformações suficientes para a plastificação da zona potencial instável e tem-se o solo nesta zona num estado de tensões mais próximo ao ativo. Nestas condições as tensões no grampo se apresentam mais baixas. Figura 5.1 – Influência da rigidez do grampo nas tensões e deformações mobilizadas. Fonte: Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003, p129. O faceamento tem função secundária na estabilização, compreendendo basicamente em evitar roturas localizadas. Em taludes mais verticalizados, próximo ao pé da escavação, o comprimento de transferência ao longo da interface solo grampo na cunha ativa é pequeno e as tensões junto à face pode-se apresentar mais elevadas. Faces estruturalmente resistentes podem-se tornar necessárias nestas condições. Usualmente adota-se concreto projetado de 7 a 10 cm de espessura e malha metálica simples solidarizada aos grampos. Com a diminuição da inclinação tem-se aumento do comprimento de transferência na cunha ativa e diminuição das tensões atuantes junto à face. Dessa forma a estabilidade próxima à face aumenta significamente e o revestimento da face pode se tornar desnecessária quanto ao aspecto estrutural. Cobertura vegetal pode ser adotada sem prejuízos à estabilidade neste caso e sua função objetiva principalmente garantir o controle dos processos erosivos. 7 Apud Maurício Ehrlich, idem, ibidem. 8 Fig. 5.2 - Contenção de talude em filito sob a fundação de viaduto ferroviário. Fonte: Fundações: Teoria e Prática, 2ª edição, São Paulo, Pini, 1998, p.668. 6 - Método Construtivo Primeiramente inicia-se o corte do solo na geometria de projeto, ou não se o caso for reforçar taludes. Segue-se com a execução da primeira linha de chumbadores e aplicação do revestimento de concreto projetado. Caso o talude já se encontre cortado pode-se trabalhar de forma descendente ou ascendente, conforme a conveniência. Simultaneamente aos trabalhos executam-se os drenos profundos, de paramento e as canaletas ou descidas d’água, conforme projeto. Fig. 6.1 - Fases construtivas. Fonte: Fundações: Teoria e Prática, 2ª edição, São Paulo, Pini, 1998, p. O método construtivo deste tipo de estrutura consiste na execução de chumbadores (grampos), concreto projetado e drenagem visando estabilizar o talude. 9 6.1 - Chumbador Os chumbadores, na grande maioria dos casos, são moldados “in loco”, por meio das operações de perfuração e fixação de armação com injeção de calda de cimento. As perfurações são normalmente executadas por equipamentos, pesando entre 5 e 1000 kgf, portanto leves, de fácil manuseio, instalação e trabalho sobre qualquer talude. Como fluido de perfuração e limpeza do furo, poderá ser utilizada água, ar, lama, ou nenhum deles e optando por trados helicoidais contínuos. O sistema mais comum é aquele por lavagem com água. A depender da profundidade do furo, diâmetro, área de trabalho, pode-se optar por perfuratrizes tipo sonda, “crawlair”, “wagon drill”, ou até perfuratrizes manuais. Quando a condição de trabalho permite alta produtividade, são utilizadas esteiras de perfuração, tipo crawlair, cujo peso varia entre 2000 e 4000 kgf. Os chumbadores têm usualmente inclinação abaixo da horizontal variando de 5º a 30º. A escolha do método de perfuração deve ser tal que a cavidade perfurada permaneça estável até que a injeção seja concluída. Caso seja utilizada lama bentonítica, deverá ser assegurado o não prejuízo do atrito lateral, por uma lavagem eficiente da lama com calda de cimento. Recomenda-se para estes casos uma maior freqüência nos ensaios de arrancamento. Concluída a perfuração, segue-se à instalação e fixação de nervuras. Estas podem ser metálicas, de fibras de vidro resinadas, ou similares. O elemento fixado no furo não deverá perder suas características de resistência ao longo do tempo. No caso de peças metálicas, elas deverão receber tratamento anticorrosivo adequado, usualmente resinas epóxicas, ou proteção eletrolítica e a calda de cimento. Ao longo destes elementos deverão ser instalados dispositivos centralizadores, que garantam seu contínuo e constante recobrimento com a calda de cimento. Usualmente são utilizadas barras de aço de construção civil. A injeção poderá ser efetivada por fluido cimentante qualquer, usualmente calda de cimento ou resinas. Normalmente se utiliza uma calda com elevado teor de cimento para solos, reservando as resinas para materiais rochosos. Para instalação preenche-se o furo com o material e introduz-se a barra ou barras. Alternativamente pode-se realizar a injeção de calda de cimento após a instalação da barra de ferro. Por meio da tubulação acessória cuja extremidade é posicionada na parte inferior da perfuração é injetada a calda de cimento de baixo 10 para cima preenchendo totalmente a cavidade. No caso em que se deseja uma melhoria maior ainda da aderência lateral, após a instalação da calda de cimento é realizada uma fase única de injeção. Por meio de tubo de injeção perdido que foi instalado juntamente com a barra de aço, injeta-se da extremidade superior medindo-se a pressão de injeção, o volume injetado, sem poder obviamente localizar o ponto de injeção no solo. Fig. 6.2 - Detalhe dos grampos. Fonte: Fundações: Teoria e Prática, 2ª edição, São Paulo, Pini, 1998, p.658. Esta técnica é a mais usada, pois minimiza erros operacionais, além de promover um melhor adensamento e, portanto melhor fixação da barra ao solo. Trata-se de um tubo de polietileno de 8 a 10 mm de diâmetro com válvulas de injeção instaladas entre 30 e 50 cm, até 1,5 m da boca do furo. A injeção além de promover a melhor ancoragem do chumbador, trata o maciço, adensando-o e preenchendo fissuras. Esta técnica deve ser a escolhida para a melhor eficiência do chumbador. As armações normalmente têm sua extremidade superior acabada por meio de uma dobra a 90 graus, podendo também receber placa metálica, rosca e porca, no caso de se desejar aplicar uma carga inicial. Neste caso deve-se prever um trecho não aderido ao solo, ou trecho livre. Os chumbadores poderão também resultar da cravação de barras, cantoneiras ou tubo de aço utilizando-se martelos pneumáticos ou manualmente. Não é, entretanto a prática brasileira. 11 Para a condição onde se cravaram elementos de aço, considera-se desnecessária a aplicação de proteção contra corrosão, devendo neste caso adotar uma espessura de aço adicional. Se o elemento cravado for tubular, é possível a injeção posterior desde que se crave com ponteiras. A figura abaixo apresenta detalhes de grampos utilizados no primeiro (Figura 6.3-A), a porca e a placa de apoio permitem a aplicação de uma pequena carga de incorporação da ordem de 5 kN;. Isto serve para garantir contato solo-concreto projetado, precaução importante no caso de muros com paramento vertical. O segundo (Figura 6.3-B), empregado em taludes inclinados, à extremidade do grampo com diâmetro de 20 mm é dobrada para a fixação ao revestimento. (A) (B) Fig. 6.3 - (A) barra de aço com diâmetro igual ou maior que 20 mm; (B) barra de aço com diâmetro inferior a 20 mm. Fonte: Ancoragens e Grampos/Coleção Manual Técnico de Encostas – Fundação Instituto de Geotécnica do município do Rio de Janeiro – GeoRio, Rio de Janeiro (2000), 2ª Edição. 6.2 - Concreto Projetado O concreto projetado é o resultado da aplicação de camada de concreto armado em todo o talude. Este concreto, que em sua composição contém areia média, pedrisco e cimento, sem adição de água, é pressurizado em equipamento especial. Desta forma, é conduzido por mangotes até o bico de projeção, quando então a água é adicionada à cerca de 1 m do paramento. Sua aplicação depende do correto dimensionamento das redes de condução de ar, vazão e pressão do compressor e principalmente ajuste da bomba de projeção. Pode-se utilizar a aplicação por via seca ou úmida. O usual é por via seca em face da extrema praticidade. Ou seja, pode ser interrompido e reiniciado o trabalho sem perda de 12 material e tempo para limpeza do equipamento. A elevada energia de projeção produz uma ótima compactação do concreto que colabora sobremaneira com sua alta resistência, bem como o adensamento da capa superficial do solo com uma eficiente colagem. No início de sua aplicação no Brasil, no final da década de 60, a umidificação era feita por um anel d’água posicionado no bico de projeção. O volume de água era controlado por um registro acionado pelo mangoteiro, cuja pressão necessária deveria estar entre 4 e 7 kgf/cm². Esta quantidade era determinada empiricamente, em função da sensibilidade do operador, visando obter a menor reflexão possível. Tendo em vista a heterogeneidade da mistura obtida, surgiu a idéia, no final da década de 70, de se instalar mais um anel d’água, distante 3 metros daquele posicionado no bico. A dificuldade do mangoteiro em quantificar a dosagem de água nos dois anéis, praticamente inviabilizou o projeto. Posteriormente, no final da década de 80 surgiu a idéia de se umidificar o concreto antes de chegar ao bico, por meio de injeção de água com pressões elevadas, também a 3 m da saída. Complementarmente, mantinha-se o anel d’água regulado pelo mangoteiro junto ao bico. Conseguiu-se assim uma mistura com menor variação do fator água/cimento. Os primeiros equipamentos trabalharam com pressões de injeção d’água de até 60 kgf/cm², com bico de injeção projetando água no formato de um cone, obliquamente e no sentido do fluxo, distante três metros da ponta de projeção. Este acessório, “CP-Jet”, necessita da alimentação de água complementar de 20% junto ao bico. Embora protegido pela patente brasileira de invenção, PI 8905365, foi colocado em domínio público face à elevada redução da poluição que promove sua utilização. No ano de 1994 surgiu comercialmente o pré-umidificador “Booster”, que projeta uma cortina de água no formato de uma “fatia de queijo”, também a três metros da ponta de projeção, mas sem a necessidade de complementação de água junto ao bico. A determinação da quantidade da água com a utilização deste acessório deixa de ser escopo do mangoteiro. Em função da vazão de água necessária, para a produtividade do equipamento requerida, determina-se o tipo de bico a ser aplicado. Posicionado este bico de forma a manter a “cortina d’água” oblíqua à linha de fluxo 13 do material seco, haverá uma umidificação bem uniforme sem necessidade da complementação posterior de água, facilitando assim o trabalho do mangoteiro e melhorando em muito a homogeneidade do concreto. As vantagens do uso do sistema de pré-umidificação no caso de aplicação do concreto projetado são: - melhor homogeneidade de concreto - diminuição da poeira - menor reflexão - aumento da resistência Fig. 6.4 - Execução do concreto projetado. Fonte: Zirilis, A. C., Val, E. C. do, Neme, P. A., Solo Grampeado. Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS), São Paulo, 1999. 6.3 - Armação do Concreto O uso de telas eletrossoldadas confere ao concreto projetado uma armação muito prática e eficiente. Ressalta-se que é necessária a garantia de seu cobrimento e que cuidados especiais durante a projeção são necessários para garantir a boa ligação entre ambos. Deve-se objetivar que o concreto receba uma perfeita compactação, especialmente se a armação já estiver colocada, evitando que ela funcione como anteparo. É o chamado “efeito sombra” que deixa vazios atrás da tela. Uma forma alternativa e mais prática de armação do concreto é sua aplicação com fibras. Estes elementos, metálicos ou não, são misturados juntamente com o concreto e simultaneamente aplicados na superfície. Testes recentes realizados, na 14 Barragem CHESF SE/AL, e a Barragem de Miranda CEMIG MG, concluíram que a aplicação de fibras metálicas é prática, mais econômica que tela, e que as características do concreto são melhoradas tanto no aspecto de resistência a tração como de permeabilidade. A substituição de telas por fibras é uma tendência atual, tendo em vista que projetos de túneis no exterior têm recomendado esta aplicação e já há casos de obras realizadas no Brasil com sucesso. 6.4 - Drenagem A prática usual recomendada à execução dos convencionais serviços de drenagem profunda e de superfície. Como drenagem profunda há os drenos sub-horizontais profundos, DHP, que são resultantes da instalação de tubos plásticos drenantes de 1 ½” a 2” em perfurações no solo de 2 ½ a 4”. São drenos lineares embutidos no maciço, cujos comprimentos se situam normalmente entre 6 e 18 m. Fig. 6.5 - Detalhe do dreno profundo. Fonte: Fundações: Teoria e Prática, 2ª edição, São Paulo, Pini, 1998, p660. Para os drenos de subsuperfície, ou aqueles atrás e adjacentes ao revestimento de concreto há barbacãs e o dreno de paramento. O dreno tipo barbacã é o resultado da escavação de uma cavidade com cerca de 40 x 40 x 40 cm preenchida com material arenoso e tendo como saída tubo de PVC drenante, 15 partindo de seu interior para fora do revestimento com inclinação descendente. Trata-se de uma drenagem pontual. Fig. 6.6 - Detalhe do barbacã. Fonte: Fundações: Teoria e Prática, 2ª edição, São Paulo, Pini, 1998, p660. O dreno de paramento, ou dreno N.G., é o resultado da instalação de calha plástica ondulada revestida por manta geotêxtil numa escavação de 10 x 30 cm, na direção vertical da crista até o pé do talude. Aflora na canaleta de pé, sendo considerado um dreno linear. Considera-se ser este último a opção eficiente e recomendável para projeto. As canaletas de crista e pé, bem como as escadas de descida d’água são moldadas “in loco” e revestidas por concreto projetado. 7 - Critérios de Dimensionamento Pesquisando-se diversas referências bibliográficas notou-se a escassez de artigos sobre o dimensionamento deste tipo de solução. Isso se dá devido à falta de normalização. Portanto, apresenta-se a título de demonstração o resultado de dois artigos disponíveis, com a finalidade de apresentar as propostas que estão sendo discutidas no meio geotécnico. No primeiro elaborado por Falconi & Alonso (1996) os autores, consultores renomados, apresentam a metodologia de cálculo utilizada para a solução de estabilização do talude junto a Av. Wenceslau Brás entre as cidades de Poços de 16 Caldas e Belo Horizonte, onde houve uma ruptura de uma região do talude voltado para esta avenida no ano de 1995. Fig. 7.1 - Perfil geotécnico perpendicular ao talude logo após a ruptura de 1995. Fonte: Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003, p175. No segundo artigo elaborado por Hachich, W. C. e Camargo, V. E. L. B. (1997), comparam os processos mais usuais no meio técnico para o dimensionamento de estruturas de solo grampeado. Para tanto é analisada apenas uma situação deste artigo, publicada por Juran et al (1990)8 no qual é apresentado o seu processo de cálculo, sendo comparados às trações e os comprimentos de grampos resultantes da aplicação de cada um dos processos de cálculo estudados. 7.1 – Método apresentado por Falconi & Alonso Este dimensionamento de solo grampeado proposto por Falconi & Alonso (1996) chegou a uma malha típica de 1,50 x 1,30 m (HxV), com chumbadores 17 constituídos por uma barra Ø 20mm instalada em furo de 4” de diâmetro preenchido com calda de cimento com fator água/cimento de 0,5 (em peso). Para este dimensionamento, utiliza-se os parâmetros de resistência citados no item 2, complementados, para o solo residual sob o aterro, conforme abaixo: Peso específico natural (abaixo do nível d’água): γ = 20kN/m3 Intercepto de coesão: c = 25kPa Ângulo de atrito interno: ϕ = 25º Este procedimento de dimensionamento consiste em se obter a superfície de ruptura crítica, sem levar em conta a ação estabilizadora dos chumbadores (Figura 9.2a). Este cálculo é feito tentativa assumindo-se valores de raio R da superfície de ruptura até se obter FS1 = 1, usando-se, por exemplo, o método de Fellenius: FS1 = Σci . li + Σ( Ni – u . li ) tg ϕi Σ Ti Tomando-se como referência esta superfície de ruptura, introduz-se a ação das forças Fi dos chumbadores e calcula-se seu valor para se garantir um fator de segurança FSf = 1,5. FSf = 1,5 = Σci . li + Σ( Ni – ui . li ) tg ϕi + ΣFi . di = FS i + ΣFi . di R . ΣTi ΣTi R . ΣTi Como FS1 = 1, obtêm-se, finalmente: ΣFi . di ≥ 0,5 (7.3) R . ΣTi em que Ti é a força tangencial do peso da lamela i (Figura 7.2a), Fi é a força resistida pelo chumbador i e R o raio do círculo pesquisado (Figura 7.2b). Conhecidas às forças atuantes nos chumbadores, seu comprimento é fixado em função de seu diâmetro externo e da sua adesão com o solo. Neste cálculo deve-se atender a dois requisitos: 8 Apud Waldemar Coelho Hachich, Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003, p179. 18 a) o comprimento mínimo do chumbador, contado a partir da superfície de ruptura com FS = 1, deve ser aquele que atinja, no mínimo, a superfície com FS = 1,5. b) a armadura do chumbador será calculada admitindo-se que a mesma poderá sofrer corrosão, analogamente a uma estaca metálica, visto que haverá fissuração da argamassa que a envolve. Para levar em conta que este efeito, a área de cálculo resistente será aquela resultante após se descontar 1,5 mm em toda superfície lateral do aço do chumbador. Além disso, para se garantir a durabilidade do chumbador, a barra deverá ter um tratamento anticorrosivo (duas demãos de tinta base de alcatrão de hulha, por exemplo, IGOL ou similar). Fig. 7.2 – Método de cálculo. Fonte: Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003, p178. 7.2 - Comparação de Processos de Dimensionamento Foi escolhido um exemplo para o qual Juran et al (1990)9 apresentam a superfície de ruptura em detalhes e os esforços para cada grampo, calculados pelo processo por eles proposto. A escavação possui geometria simples, com face vertical, 12 m de altura, grampos com comprimento variável, inclinação igual a 15º e ainda: ev = eh = 1,35 m diâmetro do furo = 10 cm 19 barras Ø 1”,fyk = 168 Mpa c’ = 12 kPa φ’ = 35º γ = 20kN/m3 Sempre que exigido pelo processo de cálculo, adota-se um comprimento preliminar para os grampos, uniforme e grande o suficiente para garantir que as superfícies críticas estejam contidas na zona reforçada. A maioria dos processos (exceto aquele baseado no Estável) calcula uma tração máxima por metro longitudinal de obra e o comprimento dos grampos é ajustado a posteriori, com base nessa tração, de modo a garantir a segurança ao arrancamento. Em seu artigo Juran et al (1990)10 otimizam o comprimento dos grampos com base em um valor adotado de 120 kPa para o atrito solo-grampo, valor esse que foi mantido para as comparações. 7.2.1 - Comparação das Trações A Tabela 7.1 apresenta um resumo das trações resultantes segundo cada processo. Apenas os processos de Juran e Multicritério consideram os esforços de corte nos grampos e permitem distribuição não uniforme das trações individuais em profundidade. Em alguns casos fez-se necessário ajustar os espaçamentos dos grampos para garantir que não se atingisse o escoamento do material das barras. Tabela 7.1 - Trações resultantes segundo cada processo PROCESSO Ti/m (kN/m Σ Ti/m (kN/m de obra) Corte nos grampos 809 não 412 não 352 sim de obra) Fellenius Mod. 2002 (*) Davis Juran 73,5 45,7 21,2 a 41,1 (média 39,1) 9 Apud Waldemar Coelho Hachich, idem, ibidem. Apud Waldemar Coelho Hachich, idem, ibidem. 10 20 Jewell 32,3 291 não Fellenius Mod. 1996 (**) 28,5 256 não Estável 27,7 250 não 25,2 a 26,9 235 sim Multicritério (média 26,1) (*) Espaçamento dos grampos: 1,1 m x 1,1 m. Calculado de acordo com o artigo publicado no primeiro CLBG (Falconi e Alonso, 2002). (**) Calculado de acordo com o artigo publicado no terceiro CEFE (Falconi e Alonso, 1996). A figura 7.3 compara graficamente as trações resultantes segundo cada processo. (*) Processos que consideram a rigidez transversal dos grampos (**) Fellenius modificado: calculados segundo Falconi & Alonso (1996) e Falconi & Alonso (2002) (***) Esta média excluiu o processo de Fellenius de acordo com o artigo publicado por Falconi & Alonso (2002) Fig. 7.3 – Exemplo hipotético – Trações resultantes segundo os diferentes processos de cálculo. Fonte: Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003, p181. A média para os processos mencionados (excluído apenas o de Falconi & Alonso, 2002)11 é de aproximadamente 300 kN/m. O gráfico acima mostra que os processos de Jewell, Fellenius Mod. 1996, Multicritério e Estável fornecem 21 resultados razoavelmente próximos entre si. O processo de Juran resultou numa tração total cerca de 20% maior do que a média. O processo de Davis resultou em uma tração total cerca de 40% maior do que a média; este último processo é passível de críticas quanto às expressões de equilíbrio de forças. 7.2.2 - Comparação dos Comprimentos dos Grampos Para a comparação dos comprimentos totais de grampos por metro longitudinal de obra foram consideradas as diferentes definições de seguranças recomendadas por cada um dos autores. Coeficientes de segurança globais foram adotados como sendo iguais a 1, 5, a menos de orientações explícitas do autor. Nos processos de Fellenius Mod. 1996, Fellenius Mod. 2002, Davis e Jewell foi necessário alterar o espaçamento entre os grampos, devido à tensão de escoamento relativamente baixa do material das barras (Juran et al, 1990 utiliza grampos de alumínio neste exemplo). Por essa razão não seria adequada a comparação direta dos comprimentos dos grampos. O comprimento dos grampos também deve atender à condição de estabilidade global da estrutura. A aplicação do processo de Fellenius Modificado 2002 (Falconi & Alonso, 12 2002) resultou em trações e comprimentos muito maiores do que aqueles obtidos com a primeira versão desse processo (Falconi & Alonso, 1996). Esse fato se deve à não consideração, na versão de 2002, do acréscimo de resistência na base das lamelas devido à componente normal do esforço dos grampos. Em solos com ângulo de atrito elevado o efeito pode ser muito significativo. As figuras 7.4 e 7.5 apresentam, respectivamente, a posição das superfícies críticas e os comprimentos totais de grampos, calculados por metro longitudinal de obra. 11 12 Apud Waldemar Coelho Hachich, idem, ibidem. Apud Waldemar Coelho Hachich, idem, ibidem. 22 Fig. 7.4 - Exemplo hipotético - Superfícies críticas de cada processo e superfície crítica (sem os grampos) com FS = 1,5. Fonte: Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003, p182. (*) Processos que consideram a rigidez transversal dos grampos (**) Esta média exclui o processo de Fellenius de acordo co o artigo publicado por Falconi & Alonso (2002) Fig. 7.5 - Exemplo hipotético - Comprimentos totais de grampos por metro longitudinal de obra. Fonte: Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003, p182. O comprimento total médio dos grampos foi de 57 m por metro longitudinal de obra (excluído apenas o resultado do processo de Falconi & Alonso, 2002). Embora as trações resultantes chegam a apresentar dispersões de até 40% em relação à média, em termos de comprimento total de grampos por metro longitudinal de obra essas dispersões caem para cerca de 30%. Isto ocorre porque o comprimento total 23 do grampo é definido não só pela tração, mas também pela posição da superfície crítica determinada em cada processo. 8 - Projeto e Especificações Pretende-se apresentar as recomendações para a execução da técnica de solo grampeado através da Especificação 5 - Solo Grampeado GeoRio (2000). Algumas especificações são indispensáveis para a elaboração do projeto, como: - Fck do concreto em Mpa; - Fator água/cimento do concreto a ser utilizado; - Dimensões das bitolas do aço e seu respectivo comprimento; - Cobrimento da armadura, - A dobragem e a emenda das barras deverão atender a NBR 611813; A figura 8.1 mostra todos os detalhes dos grampos que durante a elaboração de um projeto executivo seu autor deve detalhar. Apresenta-se o espaçamento dos grampos, a locação dos tubos de drenagens (barbacãs) e seu diâmetro. Onde: SV - espaçamento vertical entre grampos SH – espaçamento horizontal entre grampos 13 NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto, 1978 24 Fig. 8.1 – Vista frontal típica. Fonte: Ancoragens e Grampos/Coleção Manual Técnico de Encostas – Fundação Instituto de Geotécnica do município do Rio de Janeiro – GeoRio, Rio de Janeiro (2000), 2ª Edição. A figura 8.2 apresenta um corte típico detalhando a inclinação do talude, a inclinação e o comprimento do talude. Onde: L - Comprimento do grampo Y - Dimensão que define a inclinação do talude ∝ - Inclinação do grampo em relação a horizontal 25 Fig. 8.2 – Seção típica. Fonte: Ancoragens e Grampos/Coleção Manual Técnico de Encostas – Fundação Instituto de Geotécnica do município do Rio de Janeiro – GeoRio, Rio de Janeiro (2000), 2ª Edição. As figuras 8.3 e 8.4 apresentam detalhamento da fixação dos grampos, execução da malha de revestimento do talude e ilustração da calda de cimento onde o projetista deve incluir como nota que a injeção da calda deverá ter pressão equivalente à atmosférica. Fig. 8.3 – Detalhe da barra. Fonte: Ancoragens e Grampos/Coleção Manual Técnico de Encostas – Fundação Instituto de Geotécnica do município do Rio de Janeiro – GeoRio, Rio de Janeiro (2000), 2ª Edição. 26 Fig. 8.4 - Detalhe de fixação do grampo e malha de revestimento do talude. Fonte: Ancoragens e Grampos/Coleção Manual Técnico de Encostas – Fundação Instituto de Geotécnica do município do Rio de Janeiro – GeoRio, Rio de Janeiro (2000), 2ª Edição. As juntas serão obtidas naturalmente na região onde o desenvolvimento da tela for interrompido. A figura 8.5 mostra o detalhamento da malha onde deverá especificar o diâmetro do fio e o espaçamento entre as barras. Fig. 8.5 - Vista frontal - junta de dilatação. Fonte: Ancoragens e Grampos/Coleção Manual Técnico de Encostas – Fundação Instituto de Geotécnica do município do Rio de Janeiro – GeoRio, Rio de Janeiro (2000), 2ª Edição. 27 28 9 Conclusão Esta nova técnica apesar de não existir normas em nosso país para seu dimensionamento, vem sendo muito utilizada por profissionais de geotecnia, apresentando ótimos resultados para contenções de grandes taludes. Esta tem como vantagem em relação às demais técnicas de contenção grande rapidez executiva, sendo, portanto economicamente viável. Um fator negativo para a execução desta técnica é que não vem ser aconselhável sua aplicação em locais com forte presença do lençol freático, em solos permeáveis, pois, poderão ocorrer freqüentes instabilizações localizadas, dificultando a aplicação do revestimento do concreto projetado. Técnicos da área geotécnica deveriam reunir todas as informações e conhecimentos adquiridos, seja pela experiência construtiva ou de normas e ou procedimentos internacionais para elaboração de normas brasileiras, com o objetivo de elaborar uma padronização, possibilitando que todos profissionais possam discutir as mesmas questões, as mesmas teorias e procedimentos. Isto se faz muito necessário, pois, o solo grampeado é uma técnica que vem se desenvolvendo muito e cada vez sendo mais divulgada e aplicada no meio geotécnico. E, portanto havendo a normalização desta técnica seria uma grande conquista, unindo então uma técnica econômica, de fácil execução e finalmente com procedimentos e artigos bibliográficos normalizados. 29 10 Referências Bibliográficas Ancoragens e Grampos/Coleção Manual Técnico de Encostas – Fundação Instituto de Geotécnica do município do Rio de Janeiro – GeoRio, 2ª Edição, Rio de Janeiro, 2000; HACHICH, Waldemar. Et al. Fundações: Teoria e Prática, 2ª edição, São Paulo, Pini, 1998; Solo Grampeado, Projeto, Execução, Instrumentação e Comportamento, Sinduscon e ABMS, São Paulo, 2003; Zirilis, A. C., Val, E. C. do, Neme, P. A., Solo Grampeado. Associação Brasileira de Mecânica dos Solos (ABMS), São Paulo, 1999. NBR 6118, Projeto de estruturas de concreto, 1978.