Revista Caleidoscóopio Nº 68 COLÉGIO SANTA MARIA Matemática trabalhada de forma ampla e moderna Futebol inspira atividades pedagógicas Tecnologia para todos Ensino Médio relembra Golpe de 1964 Evento proporciona capacitação para pais, alunos e funcionários eu que fiz expediente Homenagem especial – Alunos da Educação Infantil e do Fundamental I e II capricharam na elaboração dos presentes entregues no Dia das Mães Instituto das Irmãs da Santa Cruz COLÉGIO SANTA MARIA Av. Sargento Geraldo Santana, 890/901 Jardim Marajoara – São Paulo/SP (11) 2198-0600 [email protected] www.colsantamaria.com.br CONSELHO EDITORIAL Irmã Diane Clay Cundiff Irmã Anne V. Horner Hoe Adriana Tiziani Maria Cristina Forti Maria Soledad Más Gandini Paula Bacchi Rosa Luiza Lucio Silvio Soares Moreira Freire Tiyomi Misawa Editora Suze Smaniotto Diretor de arte Marcelo Paton Revisão Rita de Cássia Cereser Sogi COLABORADORES Aurea Cutis Mello, Bernardo Fonseca, Bernardo Machado, Caroline Mieko Moreira, Cristiane Paulon, Edith Sonagere Nakao, Ednilson Oliveira, Fátima Regina Perazzoli, Gilberto Carvalho Soares, Glauce Regina Coral Salomão, Inês Angelini Namour, José Ricardo Rik do Val, Karina Rodrigues, Katya Jurdy Martins Bayer, Lara Polazzo, Luciana Casilli, Luciana Proença, Maurício Rodrigues, Mayra Lourenço, Marcelly Dalessio, Martins Bayer, Muriel Vieira Rubens Alves, Patrícia Kraft, Robson Veríssimo, Rosana Mendes Pereira, Rosilene Moutinho Arriola, Silvia Sonagere, Sonia Brandão, Sueli A. Gonçalves Gomes, Valéria Conte, Wallace Marante Impressão Gráfica Altamisa Tiragem 6 mil exemplares A Revista Caleidoscópio é uma publicação do Colégio Santa Maria. Não é permitida a publicação de seus textos sem a devida autorização. 02 sumário 02 carta MOSAICO E EXPEDIENTE 04 COTIDIANO 08 É BOM SABER 09 ALÉM DOS MUROS 10 NA REDE 12 DEIXA COMIGO 14 MAIS SABER 17 BASTIDORES 18 PRISMA 19 INTERAÇÃO 20 DEPOIS DO SANTA 21 SANTA DO BEM 22 REFLEXÃO Irmã Diane Clay Cundiff Diretora geral do Colégio Santa Maria Além da caverna R ecentemente, vi uma charge sobre Platão, famoso por questionar o que é realidade e como as pessoas identificam o que é real. A ilustração mostrava um grupo dentro de uma caverna dizendo que suas sombras eram a realidade. Hoje em dia, muitos assistem à TV e acreditam que os atores fazem parte da família, assim como os jovens acabam encarando como verdadeiros os personagens dos games. O papel da escola é mostrar o que é real, fora da caverna, ampliar a visão dos conteúdos que se lê em primeiro plano, ver o que está além das primeiras impressões. Para isso é importante estender a experiência do aluno, como acontece quando ele vai a uma creche e identifica uma realidade maior do que a dele; como quando nossos professores ministram ou participam de cursos no Prisma, e acabam conhecendo a experiência de outros professores. Na troca de papéis entre alunos e funcionários, descobre-se uma realidade mais completa daquilo que está dentro da escola, o que é muito enriquecedor, pois muito do que acontece no Colégio não aparece, a maioria não sabe como as coisas são organizadas, sequer nota a presença de funções “invisíveis”. A escola ajuda a enxergar o que é invisível e, consequentemente, dar consciência de sua existência e de sua relevância. Muitas vezes, aquilo que o aluno aprende é a aparência, mas o que estamos ensinando apresenta um contexto. Com esse exercício constante, ele acaba sentindo necessidade de expandir o conhecimento dado em primeiro plano. Nesta edição, em quase todos os artigos, há experiências de desmascararmos as sombras para que não se vejam apenas as aparências, mas para que o olhar seja ampliado ao todo, nas relações pessoais, na natureza e no próprio aprendizado dentro de um contexto que desafia e problematiza. Que você também veja além da caverna enquanto estiver lendo a Caleidoscópio! | 03 cotidiano Caleidoscópio nº 68 Preparação para a Missa de Ramos Um momento tão importante quanto a celebração da Páscoa exigiu atividades à sua altura. O 2º ano do Fundamental I deu início às festividades meditando sobre o tema “Liberdade e Vida em Nosso Caminho”, que encontra sentido na Campanha da Fraternidade. Todos foram convidados a abrir o coração e olhar com amor para as outras pessoas. A reflexão sobre o Evangelho de Mateus 21,1-11 levou os alunos a compreenderem o exemplo de Jesus junto à multidão, em Jerusalém, onde todos o aclamavam dizendo “Hosana ao Filho de Davi”. A bênção dos ramos realizada pelo Padre Pedro teve o significado de partilhar o sentido da vida entre os familiares, deixando os ramos expostos em seus lares. “Explicamos aos alunos que a Missa de Ramos antecede a Missa de Páscoa, que seria o momento de reflexão e mudança para a Ressurreição - Vida Nova, e solicitamos que cada um registrasse a sua proposta de mudança para uma ação mais fraterna em suas atitudes e relações”, explica a professora da série, Luciana Casilli. Durante os ensaios dos cantos para a missa, os alunos ainda aprenderam o sentido da letra das músicas, os momentos e rituais de uma missa. A celebração contou com a participação significativa de alunos e de familiares. Presente sublime Neste bimestre, o prédio Menino Jesus recebeu a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, acompanhada de Bernadete, a jovem de 14 anos que teve a graça de sua aparição. Antes de participarem da celebração de acolhida, as crianças do Jardim I ao 2º ano conheceram a história da santa. Durante a celebração, os alunos cantaram “Mãezinha do Céu” e levaram flores para enfeitar a gruta. Foi um momento de amor, de paz, união e fé. Agora, sempre que visitam a gruta, todos contemplam a imagem e mandam beijos para Ela, chamada pelas crianças de “Mãezinha do Céu”. Veja mais detalhes sobre a história de Nossa Senhores de Lourdes na edição digital da Caleidoscópio, no site do Santa Maria. 04 Na reta final da Olimpíada de Química A Olimpíada de Química do Estado de São Paulo (OQSP) é realizada anualmente de setembro a junho pela Associação Brasileira de Química e tem como público-alvo os cerca de dois milhões de estudantes do Ensino Médio de escolas paulistas. Com alegria, uma vez mais o Santa Maria está na final representado pelo aluno Guilherme A. Gusmão de Souza da 2ª Série do Ensino Médio, selecionado com a redação sobre o tema “Laboratórios Químicos Espaciais: Como funcionam e para que servem?”. A prova estava prevista para 7 de junho, no Instituto de Química da USP, durante o fechamento desta edição. XVII Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica A OBA é uma realização da Sociedade Astronômica Brasileira que tem por objetivo fomentar o interesse dos jovens pela Astronomia e Astronáutica. No Ensino Médio, a participação na prova representa um desafio adicional, pois a complexidade dos conteúdos solicitados exige um treinamento especial. Por isso, 25 alunos do Ensino Médio interessados em participar do evento vêm tendo aulas regulares de Astronomia a Astrofísica às sextas-feiras à tarde desde o início do ano letivo para se prepararem adequadamente. Esta será a primeira vez que alunos do Ensino Médio participarão da Mostra Brasileira de Foguetes, que consiste na construção de uma plataforma de lançamento, montagem e lançamento de foguetes seguindo critérios determinados. As duas provas valem medalhas. “Esperamos com interesse os resultados”, afirma o professor de Astrofísica, Ednilson Oliveira. Campanha da Fraternidade Diante do tema da Campanha da Fraternidade deste ano, “Fraternidade e Tráfico Humano”, o 3º ano do Fundamental I vai estudar a vertente do tráfico de animais, a fim de contemplar as questões relacionadas ao lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). O principal objetivo das atividades realizadas é o de identificar as práticas de tráfico em suas várias formas e denunciá-las como violação da dignidade, dos direitos e da liberdade, mobilizando e conscientizando os alunos e seus familiares contra esse crime. “As atividades procuram enfatizar a ideia de que só há o aliciador por haver o receptador, explorando também assim as relações de consumo envolvidas nas situações de tráfico de animais”, esclarece a professora Glauce Regina Coral Salomão. Depois de estudar o assunto, os alunos realizarão, junto às outras séries, uma campanha contra o tráfico de animais, por meio de um mural com assuntos relacionados ao tema, visando principalmente à conscientização da não aquisição desses animais. | 05 cotidiano Caleidoscópio nº 68 Eleições 2014 Palestra do sociólogo Felipe Magalhães As eleições deste ano serão trabalhadas de diversas formas no Santa Maria. No Fundamental II, além da coletânea de textos formulada pela equipe de Humanidades e da já tradicional simulação de eleições, o circuito de palestras está a pleno vapor. “Os eventos contam com a participação de representantes de ONGs, ex-candidatos, representantes do TRE, sociólogos e professores universitários”, explica Robson Veríssimo, professor de Geografia. No dia 21 de maio, os alunos do 8º e 9º ano receberam Caio Martins, integrante do Movimento Passe Livre, que esclareceu a origem das manifestações que tomaram as ruas em 2013 e compartilhou suas experiências. Poucos dias depois, foi a vez do 6º e 7º ano receberem Felipe Magalhães, sociólogo, professor, diretor de projetos da prefeitura de Santo André e ex-candidato a vereador na região do Grande ABC, que falou sobre o funcionamento do sistema eleitoral brasileiro e os bastidores da administração pública. No Ensino Médio, o debate também está bastante presente. Desde as primeiras aulas de 2014, a equipe incentiva os alunos a obterem o título de eleitor. “Nosso objetivo é fomentar o interesse dos jovens para que participem ativamente das práticas democráticas”, esclarece o professor de Sociologia, Bernardo Machado. Para reforçar, a 2ª série terá aulas sobre a história dos partidos políticos no país e a 3ª série prepara uma mesa de discussão sobre educação com alguns candidatos a deputado federal para o segundo semestre. Homenagem às mães Muitas são as aprendizagens que as crianças têm com suas mães e chegou o momento de agradecer por tantas bênçãos recebidas. Na missa realizada no dia 10 de maio, tendo como celebrante Padre Pedro, as crianças do Pré cantaram, dramatizaram a história de Moisés e recitaram como forma de agradecer pelos cuidados e pelas aprendizagens que têm com as mães. O Coral da APM abrilhantou o momento com músicas e gestos especiais. Ao término, as mães ainda foram presenteadas. Já as crianças do Jardim I e do Jardim II retribuíram os cuidados e o amor das mamães com uma homenagem envolvendo recadinhos do coração, adivinhações, dramatizações de histórias, músicas, oficina e caminhadas pelas áreas verdes do Colégio. Também receberam presentes, transmitindo toda a emoção que momentos como esses proporcionam. É falando que a gente se entende Para desenvolver a habilidade oral de seus alunos, importante recurso de comunicação, desde o Fundamental I, o Santa Maria promove apresentações e seminários para trabalhar questões como capacidade de se fazer entender, objetividade, clareza e controle das emoções diante da classe, respeito 06 ao colega que está perante a sala e capacidade de ouvir com atenção. Os trabalhos envolvem o preparo da apresentação feita por um grupo e o empenho do aluno em passar adiante o conhecimento adquirido. No 5º ano, por exemplo, já foram apresentados trabalhos orais referentes aos livros paradidáticos, a questões de Astronomia, além de temas relacionados a conteúdos de Ciências, como o meio ambiente. Até mesmo os alunos mais tímidos, diante dessa forma de trabalho, são levados a acreditar no seu potencial de desenvolver essa habilidade tão importante no mundo moderno. A excelência nos Vestibulares 2014 A excelência de um colégio é resultado de seu projeto político-pedagógico, da ousadia dos planos de ensino e da elaboração dos conteúdos curriculares, que asseguram a instrução e apreensão de conhecimentos, com uma preocupação central na qualidade do ensino-aprendizagem. A qualidade deste trabalho educacional desenvolvido no Santa Maria se manifesta em diferentes momentos e de diversas formas. As conquistas dos alunos nos vestibulares 2014 representam um destes momentos e os resultados, uma de suas formas. Ao analisar os ALUNOS 2013 NOS VESTIBULARES 2014 TOTAL DE ALUNOS 3ª série 123 ALUNOS CANDIDATOS 117 ALUNOS APROVADOS 75 64% VAGAS CONQUISTADAS 120 1,6 vagas por aluno INST.PÚBLICAS 35 30% INST.PARTICULARES 85 70% 100% resultados obtidos (vide tabela acima), é possível observar que os alunos conquistaram 120 vagas em importantes universidades brasileiras. Além do evidente sucesso qualitativo, ocorreu um crescimento significativo (20%) no número de vagas conquistadas nas universidades particulares, que em 2013 foram 71 e agora se ampliaram para 85. Movimentos e aprendizagens Ao movimentar-se, a criança expressa sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. No Pré, o trabalho com a linguagem do movimento é intensificado, permitindo que atue sobre o meio físico e social. Para contemplar o tema, foram realizadas em abril as Oficinas de Aprendizagens Motoras. Por meio de vídeos, músicas, danças e exercícios dirigidos como os de alinhavo, enfiação de contas, pinçar pequenas pedras, recorte e colagem, as crianças encararam momentos desafiadores, exercitando habilidades motoras amplas e finas de grande importância para a série em que se encontram. Olimpíada de História Seis equipes de três alunos do Ensino Médio representam o Santa Maria na 6ª edição da Olimpíada em História do Brasil, organizada pela UNICAMP. A prova é dividida em seis etapas, das quais cinco são realizadas on line. Cada fase é composta por dez questões de múltipla escolha e um desafio, com exceção da última, que conterá desafios diversos e será realizada em Campinas. Diferente de outras olimpíadas, nesta o objetivo não é simplesmente testar os conhecimentos em História, mas promover a reflexão, a autonomia e a pesquisa. Em cada etapa os organizadores indicam um texto de apoio para os alunos estudarem e debaterem entre si, já que possuem uma semana para completar cada etapa on line. “Esse formato está plenamente alinhado com a proposta pedagógica do Ensino Médio do Santa Maria, que trabalha com o desenvolvimento de habilidades e competências, partindo da análise de textos, imagens e mapas, visando o desenvolvimento da autonomia e capacidade crítica”, pondera a professora da disciplina, Mayra Lourenço. A última etapa da Olimpíada será em agosto. | 07 é bom saber Caleidoscópio nº 68 É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança C “Amar um filho é ajudá-lo a encontrar a autoestima necessária para que ele nos deixe, assim que se sinta pronto para isso.” RUFO, MARCEL. Me larga: Separar-se para Crescer, Editora Martins Fontes, 2007. 08 omo posso potencializar a aprendizagem dos filhos? Como atuar, mesmo não sendo professor (a), de forma a estimular o raciocínio, a desenvoltura, segurança e autoconfiança para que as crianças passem a realizar suas tarefas com competência, segurança e autonomia? Estas perguntas estão entre as principais inquietações e questões transmitidas pelos pais, tanto nos atendimentos individuais quanto nas reuniões pedagógicas, por isso foram priorizadas nesta seção, que objetiva esclarecer as dúvidas mais frequentes das famílias. As respostas, compiladas por Sueli A. Gonçalves Gomes, orientadora do 1º ano, e Tiyomi Misawa, orientadora do 2º ano, ambas do Fundamental I, são um extrato da Reunião Educacional ocorrida em abril, com a participação da psicopedagoga e psicóloga Elisa Maria Pitombo e a presença de 400 pessoas que lotaram o Auditório. O título acima, extraído de um ditado popular africano, foi o tema do encontro. Os fatores mais determinantes no desenvolvimento infantil são aqueles relacionados ao abandono de estimulação ou à superproteção por parte dos familiares. Ambos interferem negativamente. Identificar o que os filhos já dominam, o que já fazem com autonomia e propor desafios com outros níveis de complexidade estimula a curiosidade, o raciocínio e impulsiona o desejo de saber mais. Demonstrar a importância que se dá à escolaridade do filho, ouvindo suas aprendizagens e dificuldades é um grande apoio à aprendizagem. Alguns procedimentos, que não exigem conhecimentos pedagógicos e podem ajudar a rotina diária de estudos: a) Recordar a tarefa ou a situação em que a criança aprendeu alguma habilidade. b) Buscar a transferência das aprendizagens para outras situações análogas, por exemplo: ”Agora que já aprendeu a ler, que tal ler em voz alta para nós a capa deste jornal?”. c) Solicitar que demonstre como resolveu a situação desafiadora da lição. d) Elaborar em conjunto soluções para as tarefas, questionando, desafiando o raciocínio. e) Promover condições para que a criança possa caminhar com autonomia. Envie sua pergunta para o e-mail [email protected] além dos muros Caleidoscópio nº 68 Contato enriquecedor Descobertas na Fundação Dorina Nowill Visita à Trilha-Escola Especial Já dizia o teólogo Leonardo Boff: “O amor se orienta sempre pelo outro. Significa uma aventura abraâmica, a de deixar a sua própria realidade e ir ao encontro do diferente e estabelecer uma relação de aliança, de amizade e de amor com ele.” É este amor e seu imenso potencial de transformação que mobiliza e inspira o 6º ano em seu projeto “Pessoas com Necessidades Especiais/ou Deficiências à luz do Amor e dos Direitos Humanos”, pelo qual os alunos têm uma manhã de convivência com aprendizes das seguintes escolas/ instituições: DERDIC, Fundação Dorina Nowill, APAE, ADEFAV e Trilha-Escola Especial. “O encontro proporciona o conhecimento deste universo educacional, favorece a comunicação e a interação entre diferentes realidades e possibilita que se vivenciem ações fraternas concretamente”, resume a professora de Ensino Religioso, Aurea Cutis Mello. Os alunos voltaram das visitas enrique- cidos. Luiza Lopes do 6º G, que esteve na Fundação Dorina Nowill, considerou a oportunidade muito significativa: “Lá aprendi o que podemos fazer junto a quem tem a deficiência visual, como uma dificuldade a ser enfrentada.” Desta mesma sala, Rafael Morikawa voltou do encontro afirmando que “todos são iguais e com os mesmos direitos. Além disso, aprendi todo o processo de como é feito o livro em braile e o áudio-livro.” X Fórum FAAP: experiência e aprendizagem Os alunos do Santa Maria participaram do X Fórum FAAP entre os meses de abril e maio. Mais uma vez envolveram-se de forma brilhante nessa experiência acadêmica, que simula organismos internacionais, e mergulharam em discussões com estudantes de diferentes escolas sobre assuntos atuais e de grande relevância. Durante quatro dias, demonstraram empenho e comprometimento com os estudos, sendo reconhecidos por suas habilidades acadêmicas, além de serem propositivos e amistosos. “Acreditamos que essa vivência possibilite aos educandos ampliar seus horizontes e conhecimentos”, relata a professora de História, Valéria Conte. Os prêmios e menções honrosas recebidos pelos alunos só reforçaram o trabalho e dedicação de todos os envolvidos. No ano que vem tem mais! | 09 na rede Caleidoscópio nº 68 III Semana Interna de Tecnologia Realizado em maio, a cada ano o evento torna-se mais relevante porque, embora a tecnologia faça parte do dia a dia do Santa Maria, oferece oportunidades de repensar e ampliar o uso de diversas ferramentas 10 F uncionários e professores que passaram pelas oficinas promovidas pelo NETi – Núcleo de Educação e Tecnologia da Informação - durante a III Semana Interna de Tecnologia puderam adquirir conhecimentos que farão diferença em suas rotinas de trabalho administrativas e pedagógicas. É o que pensa Rosemary Soluche, encarregada da Secretaria: “Certamente as oficinas agregaram conhecimentos para todos nós. Gostei muito da Edição de Vídeo e Criação Gráfica”. Para os alunos, foram montadas atividades e vivências com recursos que vão além daqueles usados nas aulas em Laboratório. Nesta terceira edição, uma novidade empolgou as crianças do Pré ao 5º ano: atividades com projeção em três dimensões. E o aprendizado foi grande, como ilustra a professora Cláudia Sande: “O 4º ano A assistiu a filmes em 3D sobre as fases da Lua e os movimentos do Planeta Terra, conteúdos que já vinham sendo estudados nas aulas de Ciências Naturais. No mesmo dia da apresentação dos filmes, tínhamos uma avaliação, que já estava agendada, e o grupo comentou que os filmes ajudaram muito na realização da prova. Tive certeza disso ao ler os conceitos apresentados pelos alunos na avaliação”. O Laboratório Móvel foi implantado desde 2013 para o Fundamental II e o Ensino Médio o Uso da tecnologia no Santa Maria é orientado por objetivos pedagógicos e, neste ano, teve início um projeto com o uso de tablets para Educação Infantil e Fundamental I. “Já temos boas experiências de uso, mas a Semana de Tecnologia ofereceu muitas oportunidades para que os professores tivessem um contato ainda maior com a ferramenta”, afirma Muriel Vieira Rubens Alves, coordenador do NETi. O evento proporcionou momentos de capacitação básica, mas também oficinas com discussão de propostas avançadas, sempre pensando em um melhor proveito pedagógico da tecnologia, de forma a favorecer a aprendizagem. grupo foi oferecida uma oficina sobre o controle de orçamento pessoal no Excel. “As planilhas ajudarão muito. A aula foi ótima. Com as dicas, visualizei a utilização do Excel para outros controles”, relata Renata Ferrari, mãe de aluno. Muitas outras coisas boas aconteceram durante a III Semana Interna de Tecnologia, como a participação dos alunos do Supletivo. Os resultados serão duradouros, já que as propostas não ficam presas aos cinco dias do evento. “Dele já têm nascido projetos que se estenderão por todo o ano”, revela Muriel. Amplo alcance A Semana de Tecnologia marcou também um importante passo no projeto Internet Responsável, uma iniciativa junto à equipe do 6º ano que visa à conscientização dos alunos sobre como portar-se nos ambientes virtuais. Os participantes desta oficina saíram muito envolvidos com a ideia de atuarem como agentes entre seus colegas, criando campanhas e materiais que auxiliem no combate a práticas como o cyberbullying. “Participando deste grupo aprendo a ajudar pessoas que estão tendo problemas ou causando problemas na Internet. Aprendi que, quanto mais responsável você for, menos problemas vai ter”, afirma Isabela Carvalho, aluna do 6º C. As oficinas tecnológicas também trouxeram muitos alunos aos laboratórios de informática. Criação de gifs, modelagem 3D, robótica com sucata e mixagem de áudio foram técnicas apresentadas para instrumentalizar ainda mais os adolescentes. Os pais, mães e até avós de alunos também aproveitaram o evento. A este Atividades do evento também foram destinadas a pais, professores e funcionários Filmes em 3D foram uma das atrações da III Semana Interna de Tecnologia | 11 deixa comigo Caleidoscópio nº 68 1964 Lembrar, para quê? S exta-feira, 4 de abril, foi um dia interessante. Surge no pátio interno do Ensino Médio uma grande faixa onde se lê o lema “Lembrar é resistir”, que é, antes de nosso, o lema do Museu da Resistência em São Paulo, que tem sede no prédio vizinho da estação Júlio Prestes e da nobre Sala São Paulo e que, durante as duas ditaduras que marcaram nossa infante república, foi endereço do temido Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Ao lado do DOI-CODI, OBAN, CISA e CENIMAR, cuidavam de colher informações, perseguir, prender, torturar e, se necessário, eliminar os “inimigos da Revolução de 1964”, os “inimigos do Brasil”. Hoje este museu – que os alunos da 3ª série 12 visitaram em maio em seu Estudo do Meio – trata de resgatar a memória daqueles tempos. Em especial, mantém alerta o questionamento: mas, afinal, que revolução foi essa? Quem eram os nossos inimigos? Para tentar cercar essas perguntas, nos reunimos - alunos de todas as séries do Ensino Médio (é sempre bom vê-los juntos) e professores da área de Ciências Humanas - na tarde do dia 4 de abril no Auditório. Localizamos o contexto que antecedeu o golpe civil-militar de 31 de março de 1964 (e não Revolução, como se apropriaram alguns do novo regime) e procuramos entender como os militares foram engendrando alianças com setores de nossa sociedade, com representantes do governo dos Estados Unidos, do capital internacional e com a grande mídia em vários episódios (antes de 1964, pelo menos em mais três momentos: nos bastidores que levaram à morte do Presidente Vargas em 1954, na trama que tentou impedir a posse de Juscelino Kubistchek em 1955 e de João Goulart, com a renúncia de Jânio Quadros em 1961). Preparado esse terreno, assistimos ao documentário “O dia que durou 21 anos” (2013), que recolhe imagens, depoimentos e documentos que atestam o grau de envolvimento dos EUA na preparação do golpe e na consolidação do regime de força no Brasil. A professora Valéria Conte trouxe-nos alguns exemplos de textos que foram usados para desvendar o discurso oficial que preparou o golpe de 64. Trazendo a fala de instituições como o IPES e IBAD, cartilhas Projeto do Ensino Médio revisita os acontecimentos que marcaram 1964 por meio de várias atividades da Igreja e correspondências oficiais, fizemos um exercício de leitura e interpretação que comprovou a manipulação dos fatos, a construção de um clima de medo impregnado de anticomunismo, a dicotomia bem X mal que colocou o Presidente Jango como inimigo número um da soberania nacional. Lembrete: a intervenção norte-americana nos rumos de nossa história não era ameaça à nossa independência? Para amarrar a discussão, a professora Mayra Lourenço fez um painel da produção cultural no mesmo período, privilegiando o teatro e a música. Assim, foi possível entender como o Teatro de Arena, o Oficina e o Opinião serviram de espaço de luta social e, mais tarde, de resistência à ditadura civil-militar, e como músicos do porte de Chico Buarque, Edu Lobo e Geral- do Vandré puderam falar direta ou subliminarmente a um grande número de brasileiros, sobretudo com os festivais da década de 60. Preparamos ainda um espaço de convivência na entrada do Auditório com livros, revistas, jornais, DVDs sobre o tema, que puderam ser usados para consulta e que ficaram à disposição dos alunos durante dez dias. A nossa faixa migrou da entrada do Auditório para a Biblioteca. Soubemos que muitos alunos do Fundamental, pais e funcionários vieram perguntar do que se tratava. Que bom! Atingimos nosso objetivo: mais gente pode lembrar. Tive a impressão de que ficamos com um gosto de “queremos mais”. Mais encontros, discussões, documentários, reuniões com alunos de todas as séries, professores e direção. Pensamos, então, e aproveitando este espaço, em convidar a todos, desde já, para um segundo momento. Será no final de agosto, e vamos discutir as campanhas pela Lei de Anistia e pelas “Diretas Já”. Estamos combinados! Sonia Brandão, professora de História do Ensino Médio | 13 mais saber Caleidoscópio nº 68 Matemática na vida e o desenvolvimento do pensar Desde o nascimento, as crianças estão imersas em um universo no qual os conhecimentos matemáticos estão presentes. Na escola, consolidam os aprendizados construídos em outros ambientes e, nas diferentes etapas, precisam desenvolver o pensamento numérico 1+1 3>5? 14 Experiências com quantidades Resolução de situações-problema O senso numérico é a capacidade de reconhecer, comparar, somar e subtrair pequenas quantidades independentemente da contagem. No Jardim II, a Matemática está presente em situações cotidianas, vivenciadas e planejadas para que os alunos comecem a fazer uso do vocabulário específico e se apropriem de habilidades importantes para desenvolver entre outras, a noção de quantidade. “Por meio de brincadeiras e jogos, da manipulação de materiais, das músicas e histórias envolvendo diferentes quantidades, os alunos experimentam situações significativas que favorecem o desenvolvimento do pensamento numérico”, explica a professora Fátima Regina Perazzoli. Contar os biscoitos preparados na aula de culinária; recitar a sequência numérica ao cantar; movimentar seu peão de acordo com os pontos do dado; organizar e contar um a um os objetos das coleções; fazer estimativas de quantidades utilizando as noções de mais, menos ou a mesma quantidade; parear e agrupar os objetos de acordo com critérios estabelecidos (quantidade, cor, forma ou tamanho) e resolver problemas simples são alguns exemplos de situações nas quais a Matemática está presente. “As experiências com quantidades precedem a escrita dos números, sendo primordial para que a criança construa internamente a noção de número”, esclarece a professora Marcelly Dalessio. Na Educação Infantil, os problemas não são necessariamente solucionados por meio das operações matemáticas, pois são perguntas que as crianças tentam responder pensando por si mesmas, fazendo uso da capacidade natural que têm de se encantar por desafios. “É um momento para desenvolver noções, habilidades, procedimentos e atitudes frente ao conhecimento matemático”, defende a professora do Pré, Rosana Mendes Pereira. As situações do dia a dia são aproveitadas, desafiando os alunos para a busca de soluções. Numa situação de jogo, em que precisam dividir as cartas igualmente pelos participantes, discutem o melhor modo de fazê-lo. No caso de sobrarem menos cartas do que participantes, também buscam soluções: deixá-las fora do jogo ou sortear quem ficará com menos cartas. Outro recurso é utilizar uma situação hipotética como “Estamos no zoológico e avisaram que o leão fugiu da jaula”. Cada um elabora uma solução e verbaliza-a ao grupo, que irá discutir sua viabilidade e eficiência. “Esse tipo de atividade permite à criança levantar hipóteses, confrontar suas ideias e checar as soluções, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia, iniciativa e capacidade crítica do aluno”, finaliza Rosana. Manipulação de materiais ajuda a desenvolver o pensamento numérico no Jardim II Espaço e forma: Tangram Dimensionar as características do espaço para dispor objetos, medir, estimar em quantas partes é possível dividi-lo ou como preenchê-lo são questões e problemas da Matemática, ou mais precisamente da Geometria. Para os alunos do 1º ano do Fundamental I, identificar as figuras geométricas planas, compreender a relação entre elas e representá-las no espaço são objetivos de estudo. Uma opção metodológica para tornar a aprendizagem significativa envolve a abordagem do conteúdo por meio de desafios e jogos. O Tangram, jogo milenar chinês de sete peças (dois triângulos grandes, dois triângulos pequenos, um triângulo médio, um quadrado e um paralelogramo), revelou-se um grande aliado no ensino da Geometria das Alunos do Pré: solução de problemas cotidianos no aprendizado da Matemática figuras planas. Com ele é possível formar até 1.700 figuras representando animais, plantas, pessoas, objetos, em qualquer disposição espacial, lado a lado. “Comparar as relações entre as figuras, sua composição e organização espacial exercita o raciocínio geométrico para a compreensão, por exemplo, do conceito de área”, esclarece a orientadora da série, Sueli A. Gonçalves Gomes. No Laboratório de Informática, surgem novos desafios, além do atraente uso dos tablets. Com a manipulação do concreto já exercitada, os alunos podem calcular apenas visualmente os encaixes das peças na moldura, movendo-as com o mouse, ou até criar uma forma desafiando o colega a descobrir quantas e quais peças usou. Matemática nas diferentes culturas A Matemática é uma das ciências que apresentam várias possibilidades de resolução. Está presente nas atividades humanas das diversas culturas como uma das formas utilizadas para interagir com o mundo físico, social e cultural. “Com essa visão, estudiosos questionam o processo tradicional de aprendizagem da Matemática, que exclui outras formas de resolução”, comenta a professora Rosilene Moutinho Arriola. “A história nos mostra que o ensino da Matemática foi organizado a partir das necessidades de cada povo”, revela. No espaço escolar, é importante para o aprendizado de Matemática que a criança se | 15 mais saber Caleidoscópio nº 68 ceitos de adição e introdução à multiplicação ao realizar a atividade separando os grãos em agrupamentos. Fazer e desfazer Tangram favorece conhecimentos de Geometria no 1º ano movimente, converse, pergunte, jogue e, principalmente, valide seu pensamento ao agir sobre seus resultados. O ambiente deve ser envolvente e desafiante para estimular o educando a aprender a aprender, por meio do lúdico e com a manipulação de materiais concretos. Os registros deverão fazer parte desta aprendizagem posteriormente. Seguindo esses princípios, no 2º ano do Fundamental I, para a apresentação do conceito da dezena e a sua formalização, os alunos jogaram “Nunca dez”, utilizando palitos e elástico para formar grupos de dez, amarradinhos, e grupos de cem, amarradões. Eles contaram também grãos de bico e soja, com hashi, sem elástico, separando as dezenas, nos copinhos. Com a mesma estratégia foi possível desenvolver a coordenação motora fina e o foco da aprendizagem de contagem de quantidades, con- Alunos do 2º ano jogam “Nunca dez” 16 “Aprender matemática significa ser capaz de reelaborar e reconstruir conhecimento desenvolvendo habilidades que representam ações no sentido inverso de observações, contagens, classificações, seriações, comparações, relações e cálculos”, relata a professora Katya Jurdy Martins Bayer. O aluno constrói, no seu intelecto, as noções matemáticas relacionadas com uma condição mental que é nomeada de reversibilidade, que nada mais é do que a capacidade de fazer e desfazer a mesma ação mentalmente. Na construção do conhecimento matemático, essas noções caminham juntas, por isso os alunos do 3º ano são estimulados a pensar sobre processos de reversibilidade como sendo a possibilidade de executar determinada ação em sentido contrário ao da ação original. Eles vivenciam as transformações na resolução de situações-problema, operações, desafios de lógica e organização de gráficos e procuram revertê-las ao seu estado original. “As aulas de introdução ao xadrez também desempenharam papel importante para ampliar essa percepção, pois o pensamento que ordena o jogo permite a estruturação do pensamento flexível e reverso”, revela Katya. Educação financeira No 4º ano, o objetivo é fazer com que o aluno aprenda, desde cedo, a utilizar o dinheiro de maneira inteligente e a poupar para realizar sonhos. “Em nossas aulas, discutimos a necessidade de comparar preços antes de adquirir um produto, o conceito de juros, inflação e as vantagens e desvantagens de se comprar à vista e a prazo”, detalha a professora Cristiane Paulon. Eles assistem aos vídeos produzidos pela BM&FBOVESPA, da série “O Porco e o Magro”, que ilustram situações cotidianas comuns à vida dos alunos explicando, de forma didática e adequada à faixa etária, tais conceitos. Eles também são desafiados a resolver problemas que envolvem planejamento e controle de orçamento para a concretização de um objetivo a curto, médio ou longo prazo. Alguns alunos esperam, ansiosos, o momento de socialização de informações para contar aos colegas como têm administrado sua mesada. Outro tema trabalhado em sala de aula é a composição dos preços. Quando o aluno percebe que no valor de uma mercadoria estão embutidos os gastos com matéria-prima, mão de obra, impostos e lucro do fabricante e do comerciante, ele se torna um consumidor consciente, capaz de analisar se o preço é abusivo ou até mesmo desconfiar de produtos muito baratos e até inferir se há, por exemplo, sonegação de impostos ou mão de obra recebendo muito pouco pelo que produziu. Formação do raciocínio lógico O aprendizado da Matemática hoje busca, em primeira instância, a capacidade de compreender, analisar e reconstruir a fim de formar indivíduos capazes de produzir ou criar, e não apenas repetir. Estabelecer relações lógicas faz parte de um processo. É por isso que a sala de aula deve ser um espaço no qual o raciocínio lógico seja estimulado, trabalhado diariamente de forma a explorar todas as possibilidades, investindo no sentido de construir o discurso através da ação. Quando o aluno manipula materiais, sejam eles baseados no sistema de numeração ou no conceito de frações, ele cria um universo de possibilidades que irão se desenvolver futuramente, transformadas em abstração. Os professores do 5º ano buscam desenvolver o processo de aprendizagem dos alunos sob a forma de desafios, usando materiais diversificados e propondo problemas que possam ser explorados e não simplesmente desenvolvidos. Afinal, resolver problemas é o processo de aplicação de conhecimentos previamente adquiridos a situações novas e não rotineiras. Garantir que os alunos tenham um amplo repertório de conhecimentos para aplicá-los aos desafios que venham a enfrentar é uma das responsabilidades do ensino de Matemática de qualidade. bastidores Caleidoscópio nº 68 Vivência com os funcionários: indo além do que (não) se vê Projeto do 7º ano permite que alunos entendam, na prática, o funcionamento e a importância de cada atividade desempenhada no Colégio “ Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi a escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente à lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angústia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.” O depoimento é do psicólogo social Fernando Braga da Costa, que por oito anos varreu as ruas da Universidade de São Paulo para um estudo sobre invisibilidade social, que provou que as pessoas têm um olhar cotidiano muito mais voltado para a função social do que para os indivíduos. O uniforme e a função exercida tornaram o mestrando invisível aos seus amigos e professores, pessoas com as quais convivia todos os dias. Como o Santa Maria favorece uma educação integrada, pautada nas vivências pessoais e coletivas, que colocam o jovem em contato com a ação concreta e responsável, o 7º ano, engajado no projeto da série, cujo tema é “Trabalho e dignidade humana”, propõe aos seus alunos “Eu tive a oportunidade de vivenciar um dia de trabalho com a funcionária Alcione, auxiliar de ensino do 6º ano. (...) Aprendi que o trabalho de uma auxiliar é muito mais do que entregar materiais, é também ser responsável por cuidar da série” - Amanda Natalle Lopes – 7º ano A uma vivência com os funcionários do Colégio. Durante toda uma manhã, eles vivenciam o cotidiano de um trabalhador, nos diferentes departamentos. Tornam-se auxiliares dos seguranças, faxineiros, manutenção, informática, jardineiros, auxiliares de série, telefonistas, secretários, bibliotecários, recepcionistas, atendentes da loja, auxiliares dos extracurriculares, cozinheiros e atendentes da cantina. Os alunos estavam sempre dispostos a fazer o que lhes era solicitado - varreram, limparam os vidros, retiraram folhas, controlaram a entrada e saída de pessoas, auxiliaram na travessia dos alunos no semáforo, tiraram cópias, cuidaram de jardins, colheram temperos, prepararam saladas, transportaram materiais, entraram nas salas para dar recados e distribuir circulares, organizaram livros, venderam materiais, separaram crachás, auxiliaram em pequenos reparos, ajudaram nos cuidados com os pequenos, prepararam locais para apresentação com recursos audiovisuais. Eles voltaram para sala de aula, bem cansados, mas ansiosos por compartilhar o que vivenciaram e como se sentiram. “Este retorno nos confirma que a vivência se torna um momento significativo na vida desses alunos e que esse dia é um passo fundamental na formação que tanto se almeja, deslocando o aluno de agente passivo para ativo”, sintetizam os professores da série, Gilberto Carvalho Soares, Caroline Mieko Moreira e Inês Angelini Namour. “Eu trabalhei com o Jorge, na jardinagem. Rastelei as folhas que estavam caídas no parquinho e observei como ele fazia para remover as pragas que estavam na grama. O setor em que o Jorge trabalha é bastante cooperativo, uns ajudam os outros.” - Tobias Schmidt Mattos Lopes Pereira – 7º ano B Amanda Lopes com a auxiliar do 6º ano Alcione O funcionário da segurança Daniel com o aluno Guilherme da Rocha Biassi Na loja: Denise e Gislene com a aluna Maria Fernanda Picolo Annesi | 17 prisma Caleidoscópio nº 68 XVII Seminário de Educação Infantil O Prisma, Centro de Estudos do Colégio Santa Maria, proporciona a oportunidade de atualização aos profissionais envolvidos com a Educação. Em abril, o espaço foi palco de um evento muito especial, o XVII Seminário de Educação Infantil, que contou com a participação de grande parte do corpo docente do Santa Maria, assim como de profissionais de muitas escolas públicas e privadas. A programação foi bastante abrangente, com palestras e oficinas de temas va- riados. Uma das palestras foi ministrada por Elvira Souza Lima, neurocientista envolvida com o processo de aprendizagem, e outra, por Eloisa Ponzio, que falou sobre a cartografia da infância. Além disso, algumas professoras do Colégio foram convidadas a ministrar oficinas, que proporcionaram momentos de reflexão e prática, assim como a relação entre os diferentes conteúdos desenvolvidos. Veja a programação do Prisma no www.prismacentrodeestudos.com.br. Consciência fonológica Um fato intriga todos os professores: Por que alguns alunos continuam escrevendo com erros? Analisando estudos neo-piagetianos, constata-se que uma parcela pequena que demora mais para se apropriar da escrita correta e, às vezes, passa anos escrevendo precariamente, porque não compreendeu o sistema 18 da língua. “Não é somente uma questão de esperar o tempo do aluno. É preciso rever concepções e buscar ferramentas que favoreçam uma escrita competente”, afirma a professora Lara Polazzo. O Prisma oferece uma formação continuada aos professores para aprofundar os estudos da consciência fonológica, trabalho que investiga as operações mentais em que se faz uso da estrutura dos sons da língua, oralmente, para aprender a decodificá-la no plano escrito. Em razão da relação intrínseca entre o processo fonológico e a aquisição da escrita, autores consideram que procedimentos para desenvolver a consciência fonológica podem ajudar alunos a superar dificuldade na leitura e escrita. Essa proposta já mostra seus primeiros resultados nas aulas de apoio pedagógico oferecidas aos que ainda precisam consolidar a alfabetização. interação Caleidoscópio nº 68 A bola não A entra por acaso área de Educação Física programou atividades com os alunos do Fundamental II, propondo uma ampliação de suas percepções acerca da representatividade da Copa do Mundo. “A intenção foi provocar os alunos, estimulando que saíssem da postura de meros espectadores”, destaca o professor Wallace Marante. No âmbito técnico, a proposta foi levar os alunos a usufruir da riqueza estética, da confraternização e da contemplação do futebol como linguagem; compreender os elementos técnicos e táticos do futebol; compreender o sistema de disputa, classificação e eliminação. Na esfera política, o foco esteve na discussão dos aspectos econômicos e sociais em que se envolveram as cidades-sede; problematizar com dados históricos a questão do legado deixado após a realização de eventos dessa magnitude; refletir sobre o teor das manifestações, tendo a realização da Copa e a utilização de verbas públicas como principal motivação. Já no Ensino Médio, o torneio motivou a organização do projeto Cine Debate Bola, cuja ideia central foi promover debates em torno da temática do futebol, articulando a prática do esporte a temas específicos extraídos de filmes e aproveitando a mobilização para o assunto, despertada pela realização da Copa do Mundo. Os filmes são, na verdade, os elementos geradores que promovem a discussão à luz da teoria. Assim, constitui-se um espaço de produção A Copa do Mundo motivou a elaboração de diferentes atividades no Santa Maria de conhecimento que associa a análise cinematográfica ao debate acadêmico. Com atividades coordenadas pelos professores do Ensino Médio, as manhãs de discussão, realizadas no final de junho, exploraram os filmes “A Ciência do Futebol”, “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, “Hooligans” e “Boleiros”, seguidos de argumentações multidisciplinares. A Copa do Mundo 2014 também serviu de inspiração para o treinamento dos funcionários do Santa Maria. Serão trabalhados os atributos que um time vencedor costuma apresentar, em termos de organização individual e coletiva, com as demandas profissionais individuais e relacionais de um ambiente corporativo e educacional, como é o caso do Colégio. “A dinâmica do treinamento apresenta as características de visão ampla, visão de equipe, objetivo/objetividade e capacitação/treinamento de forma que cada potencial seja experimentado prática e interativamente por todos os participantes, e percebidos como valores, atributos e ensinamentos”, explica José Ricardo Rik do Val, o professor de Educação Física carinhosamente chamado de Zeca. | 19 depois do santa Caleidoscópio nº 68 Vínculos eternos Estudar no Santa Maria refletiu, de maneira definitiva, na vida pessoal e profissional de Guilherme Wiering A família de Guilherme Wiering M atricular os filhos no Santa Maria foi uma decisão motivada pelos valores defendidos e cultivados pelos Wiering, não pela comodidade da localização, afinal, eles não viviam tão perto dali. A família optou pelo Colégio, indicado por amigos, porque identificou que ali suas crianças receberiam uma formação mais ampla, igualmente forte no conteúdo pedagógico e nos valores humanos, por se tratar de uma escola religiosa e moderna. O reconhecimento, orgulhoso, vem do filho mais velho, Guilherme, que estudou no Santa Maria “desde sempre”, de 1982 a 1994, assim como seus dois irmãos. Os melhores amigos do ex-aluno são desse tempo: Rodrigo Sarzedo, Willian Buchivieser, Pedro Ceppas, Fernando Barbieri, Ariel Dahan, Daniella Renelli, Wilson Ohara e Maher Serhan. “Claro que surgiram amizades mais recentes, vindas do trabalho e de outros relacionamen- 20 tos, mas esses são grandes amigos até hoje”, revela Guilherme, que cursou Publicidade e Propaganda na USP e especialização em Administração na FGV. Sua vida profissional começou cedo, no final do segundo ano da faculdade, quando ingressou na área financeira. “Desde aí, decidi seguir carreira em grandes empresas”, relembra. A meta o levou a atuar em corporações como Credicard, Telefonica, Yahoo e Vivo. Há dois anos, com dois sócios, montou a PratikaPro, consultoria de gestão de negócios para impulsionar canais de venda. A carteira de clientes já conta com Microsoft, GE, Kroton, Nextel e Vivo, entre outros. Na vida pessoal, Guilherme também enumera sucessos e, mais uma vez, indica uma ligação, ainda que indireta, com o Santa Maria: sua esposa, Karen, foi apresentada pelo amigo de Colégio, Rodrigo [Sarzedo]. Os filhos do casal, Júlia, de cinco anos, e Miguel, de três, serão os próximos membros da família Wiering a estudarem na mesma escola do pai: “Nosso plano é matriculá-los no Santa Maria”, comenta. E o que ele vai contar para os filhos sobre a escola? “Sempre gostei muito do Santa Maria, é um lugar mágico, um ambiente que faz toda a diferença, muito humano, com espaço apropriado para as crianças, preocupado com a formação plena do aluno, desde as instalações, o currículo e os professores. Me recordo, por exemplo, da professora de Português Zaira Barbosa Alves, que me inspirou o gosto pela linguagem e pela leitura. Até hoje, lembro do carrinho de livros! Também tem a professora Regina, que despertou meu interesse por História, no Fundamental. Entre tantos outros, ainda foram marcantes Athos [Educação Física], Paulo e Sílvio [História].” Guilherme deixa um conselho para os alunos do Santa Maria: “Além de estudar, aproveitem para criar os laços que ficarão para sua vida inteira. A minha família surgiu dessa forma!” santa do bem Caleidoscópio nº 68 determinadas hortaliças, conhecer suas propriedades nutricionais e mobilizá-los para o consumo destes alimentos. As educadoras da Creche incluirão na merenda as hortaliças que os alunos colherem. Projeto Acalanto Conhecimento sobre plantio é compartilhado pelo 1º ano Horta do 1º ano No dia 28 de abril, os alunos do 1º A e do 1º H do Fundamental I visitaram a Creche Nossas Crianças com uma tarefa especial: ensinar a preparar e a cultivar uma horta. Jurandir, jardineiro do Santa Maria, acompanhou o grupo e preparou a terra para receber as mudas. Os alunos levaram mudinhas de alface, rúcula, escarola, salsinha e almeirão. Eles explicaram como fizeram o plantio no Colégio, quais hortaliças haviam selecionado e como têm cuidado para que elas se desenvolvam. Ao lado das crianças da Creche, cavaram os buraquinhos para encaixar as raízes, ensinando-as a recobrirem com terra, “sem apertar” para que cresçam. Contaram ainda que estão aguardando o momento da colheita para preparar o sanduíche natural, acrescentando cenoura, queijo e tomate. Juntamente com as professoras Gabriela Hirata e Cristiane Alarcon, entregaram às educadoras os cartazes que confeccionaram com as imagens das hortaliças, a descrição da textura das folhas e as informações sobre as propriedades de cada uma para que elas ensinem às crianças da Creche que não são alfabetizadas. O maior objetivo deste trabalho é ensinar aos alunos como reconhecer Com o lema “Um abraço é um laço feito com os braços e o coração – acolhimento e partilha”, o Projeto Acalanto objetiva que os alunos do 2º ano do Fundamental I observem uma realidade diferente da que estão habituados, vivenciando momentos de contato e partilha. ”Acreditamos que, com este projeto, nossos alunos se sintam sensibilizados para ações não apenas assistencialistas, mas comunitárias, valorizando a doação de seu tempo, do seu trabalho, do seu amor”, explica a professora da série, Silvia Sonagere. O ponto de partida foi uma conversa com a irmã Thais, da Congregação da Santa Cruz, que explicou para as classes o que é um trabalho missionário e a importância de dividir o amor. Depois, as turmas receberam a irmã Rosangela, uma das responsáveis pelo Abrigo Vila Acalanto, que contou como foi sua infância, sua juventude, como tomou a decisão de ser freira e como é a rotina dela e das crianças no Abrigo. Nas visitas à Vila Acalanto, os alunos convivem, vivenciam, cantam, encantam, acolhem, são acolhidos de todo coração e descobrem que amor compartilhado é amor multiplicado. Alunos do 4º ano interagem com crianças das creches visitadas Conto na mala O projeto de inserção social do 4º ano do Fundamental I, junto às creches Nossa Senhora Aparecida e Nicarágua, traduz o caráter social e político da escola, ou seja, contribui para a construção de uma sociedade mais justa e humana para todos. Promove a consciência crítica, por meio de ações e atitudes positivas, que possibilitem a promoção social, buscando a formação de cidadãos mais justos e conscientes. Como parte do projeto da série, os alunos contaram as histórias “O pescador e a sereia” e “O mendigo e a ponte”, utilizando instrumentos musicais e tecidos. Ao final da apresentação, as crianças da creche ilustraram a narrativa, utilizando carimbos confeccionados pelos alunos do Santa Maria nas aulas de Artes. “Todas as crianças adoraram nossa peça e as pinturas que nós ajudamos e ensinamos a fazer”, relatou Gabriela de Almeida Amaral, aluna do 4º ano E. PROGRAME-SE! Projeto do 2º ano prevê atividades na Vila Acalanto O tradicional Bazar do Centro Santa Marta será no dia 9 de outubro, das 13h30 às 17h | 21 reflexão Caleidoscópio nº 68 Argumentação e Matemática: o orçamento familiar O filósofo grego Aristóteles, referendado, 25 séculos depois, por Antônio Vieira, na obra “Retórica e Argumentação”, enunciou que o discurso deve, tanto quanto possível, articular, com coesão e coerência, argumentos capazes de fundar os mais distintos posicionamentos acerca das mais variadas problemáticas da vida. Transpondo tal reflexão para o trabalho acadêmico com o Orçamento Familiar, faz-se obrigatório o recurso a dados numérico-estatísticos e gráficos que, além de apresentar informações acerca das correlações de produção e consumo e da forma como uma família estrutura a vida econômica, justifiquem intervenções solidárias no tocante à problemática envolvendo os desequilíbrios decorrentes dessa relação. Cabe, além disso, discutir as perspectivas social, política, econômica e filosófica como mediadoras dessa discussão. Constitui responsabilidade da escola e da universidade, assim como da comunidade e dos meios de difusão da informação e dos produtos culturais em geral, preparar os sujeitos para uma trajetória profissional que os torne conscientes quanto ao papel de cidadãos a ser por eles desempenhado em um mundo onde se substituem, paulatinamente, os direitos sociais pelos do consumidor. Tecer conjecturas, descobrir os porquês, analisar as hipóteses e justificar as respostas dissertativas com base no que se acredita como verdade inquestionável, além de formular argumentos e intervir solidariamente na realidade, constituem habilidades e 22 competências que o professor, inclusive o de Matemática, deve desenvolver em seus alunos no sentido de estimular-lhes a resolução de situações-problema tanto na esfera pública quanto no âmbito privado. A compreensão dos fenômenos matemáticos, linguísticos, sociais e científicos é indispensável ao desenvolvimento de uma sociedade que resista ao alargamento do espaço privado e valorize o interesse público, sobrepondo a dignidade dos direitos coletivos ao privilégio dos interesses particulares. Ao entrar em contato com situações-problema reais, tais como a dificuldade para administrar despesas voltadas ao suprimento das demandas, cumpre ao estudante imprimir significado ao conhecimento matemático adquirido, conhecimento este que se ponha a serviço da cidadania e de uma práxis social minimamente humanista. É importante discutir o sentido da aquisição e troca frequentes, por exemplo, de bens duráveis que poderiam ser utilizados, com a mesma eficácia e qualidade, por tempo bem maior. Desde os primeiros anos do chamado Ensino Fundamental, a descartabilidade de tudo, explicada pela Teoria da Obsolescência Planejada, deve constar dos debates escolares. A Matemática, em tal perspectiva, há de atuar como ferramenta que desenvolva habilidades cognitivas caras à resolução de problemas, tais como a realização de inferências, o levantamento de hipóteses, a comparação, a generalização, a conclusão e a construção e aplicação intencionais de conceitos/definições propositivos. Postular que o ensino da Matemática deve considerar as ideias, procedimentos e representações matemáticas, instrumentos valiosos em diversas áreas do conhecimento e da ação humana significa afirmar que tal ensino não se restrinja ao estabelecimento de regras e à enunciação de conceitos como fins em si mesmos, mas atue como ferramenta de construção de um saber carregado de múltiplos significados. Cabe, nesse sentido, tanto à comunidade quanto à instituição escolar ofertar a essas crianças e jovens diferentes possibilidades de discussão acerca da importância de um controle orçamentário que, para além da relação fria entre despesas e receitas, habilite-os a atuar de modo responsável e concomitantemente solidário na sociedade de que são parte. Ana Cláudia Lasinskas, professora de Matemática do Fundamental II, e Marco Roberto Barcheti Urrea, professor de Língua Portuguesa do Fundamental II mosaico FESTA JUNINA 2014 Em breve, inauguração do novo prédio do Ensino Médio Av. Sargento Geraldo Santana, 890/901 - Jardim Marajoara – São Paulo/SP Tel. (11) 2198-0600 - www.colsantamaria.com.br Baixe um leitor de QRcode em seu celular e aproxime o telefone do código acima