O triunfo do liberalismo e a nova face da Revolução Capítulo 36 Liberalismo e Revolução Na década de 1820, o liberalismo se fez presente em conspirações militares na França, Espanha, Portugal, Itália e no Império Russo. Essas insurreições militares fracassaram, com exceção da Revolução Liberal do Porto. Os movimentos liberais de maior alcance estavam ocorrendo nas colônias americanas que lutavam pela emancipação política. Com esses acontecimentos as decisões do Congresso de Viena começaram a perder força, pois a Santa Aliança foi impedida pela Inglaterra de intervir na América. Com a queda de Napoleão, a França viveu de 1815 a 1848 dois períodos de monarquia constitucional. No primeiro, entre 1815 a 1830, reinaram Luís XVIII e Carlos X e, no segundo, reinou Luís Filipe I. Em 1814, quando Napoleão foi deposto pela primeira vez, Luís XVIII assumiu o trono e outorgou a Constituição de 1814, que ficou sendo a base da monarquia até 1848. Desde o princípio, com a restauração, os partidários do retorno puro e simples ao absolutismo constituíram uma importante força política. Uma vez no poder, Carlos X adotou inúmeras medidas impopulares (seu governo buscava, sobretudo, favorecer a nobreza), como a censura à imprensa e a dissolução arbitrária do Legislativo, gerando um descontentamento que desaguou numa onda revolucionária poderosa. Durante seu governo, Carlos X publicou leis entre as quais destacam-se duas: a de que o rei poderia dissolver o Parlamento a qualquer momento e a Lei da Imprensa (tudo o que fosse circular deveria antes passar por ele). Em 1830, com um movimento contra a tentativa do rei de impor o absolutismo e que culminou em sua deposição, a revoluta antiabsolutista da França difundiu-se por toda a Europa e depois por todo o Ocidente. A abdicação de D. Pedro I no Brasil, por exemplo, ocorrida em 1831, estava relacionada a esse movimento geral que pôs por terras as medidas adotadas pelo Congresso de Viena. Carlos X foi substituído por Luís Filipe I, cujo reinado ficou conhecido como Monarquia de Julho. Dominada pelos liberais, a nova monarquia foi hostilizada tanto pelos “legitimistas” quanto pelos bonapartistas e republicanos. OBS.: Luís Filipe ficou conhecido como rei burguês pois representava o avanço liberal e sua posse repercutiu-se pela Europa como um todo. Observamos o caráter liberal de seu governo, pois esse governante reformulou a constituição, fortaleceu o legislativo, ou seja, o Parlamento, aboliu a censura e retirou a oficialidade da Igreja Católica no país. Atendeu, dessa maneira, quase que exclusivamente aos interesses das elites, ignorando as camadas populares e, sobretudo, o proletariado urbano. Durante esse período, quatro partidos se destacaram na França: a) Liberais: liberal; monárquico/republicano; formado pela elite. b) Bonapartistas: liberal; monárquico; formado pela elite. c) Republicanos: liberal; radicais; formado pela burguesia. d) Socialistas: socialista; radical; formado pelo povo (proletariados urbanos). Todos esses partidos se juntaram contra o governo de Luís Filipe (que foi aos poucos se tornando autoritário por conter os avanços populares, apesar da ideologia liberal), em uma aliança pragmática. Liberais Socialistas Aliança Pragmática O rei, no final, acabou sendo derrubado por uma onda revolucionária, a de 1848, que exigia o alargamento do direito do voto, até então reservado somente às pessoas de alta renda. A Monarquia de Julho foi então substituída pela República, em 24 de fevereiro de 1848. A nova onda se propagou rapidamente por toda a Europa. Em poucas semanas, os governos dessa vasta região foram derrubados, e supostamente se inaugurava uma nova etapa da História europeia, a Primavera dos Povos. A Primavera dos Povos foi uma revolução de caráter extremamente popular, republicana, socialista, e portanto, sem o apoio das elites. Os revolucionários, porém, não permaneceram por muito tempo no controle da situação. Com exceção da França, em pouco menos de dois anos os antigos governantes recuperaram o poder e tudo voltou a ser o que era. As revoluções de 1848 foram manifestações políticas de uma crise econômica que havia começado em 1846. A escassez de alimentos determinou a elevação do custo de vida, com reflexos negativos nas indústrias. OBS.: Na França, não se estabeleceu políticas sociais e leis trabalhistas tão cedo porque os governantes estavam a todo tempo a serviço das elites. Para a massa de trabalhadores, essa dupla crise, agrícola e industrial, significou fome e desemprego. Esse ambiente social propício à revolta coincidiu com a generalizada insatisfação em relação aos governos liberais mas conservadores (França) ou francamente absolutistas, como os da maioria dos países atingidos pela revolução. Os trabalhadores pobres responderam a crise com a radicalização revolucionária. A sublevação de 1848 foi, assim, feita em nome do aprofundamento da revolução e tendo por objetivo uma república que fosse ao mesmo tempo democrática e social. A burguesia liberal, que ajudara a desencadear as revoluções de 1848, não demorou muito para perceber que o fortalecimento da massa popular era mais perigoso do que a ameaça representada pelo absolutismo e pela contrarrevolução. Por isso, ela logo tratou de abandonar o barco da revolução, aliou-se à repressão e apoiou o massacre dos trabalhadores. Apesar da dura derrota, os trabalhadores de então deixaram a sua marca, e o ideal de justiça a que aspiravam foi retomado pela maioria dos movimentos sociais posteriores. As revoluções de 1848 diferiram das de 1820 e 1830, que foram antes de tudo liberais, ou seja, antiabsolutistas. As de 1848 foram populares, republicanas e socialistas. Liberais + Bonapartistas + Republicanos + Socialistas = Derrubada de Luís Filipe e ascensão de Luís Bonaparte Em 1848, com a queda de Luís Filipe I, foi proclamada na França a Segunda República. A primeira terminara em 184 com a fundação do Império por Napoleão. Luís Bonaparte governou provisoriamente até 1852, quando foi organizado um plebiscito (com votos censitários, ou seja, sua vitória já era prevista). Com 95% dos votos favoráveis, ele se torna Imperador da França. A este episódio damos o nome de Golpe Branco. Por meio de um outro golpe de Estado, Luís Bonaparte pôs fim à República e tornou-se imperador com o título de Napoleão III. Ele permaneceu no poder até 1871, quando foi proclamada a Terceira República e derrubada a monarquia em caráter definitivo.