Gabriela Queiroz de Melo Monteiro AVALIAÇÃO DA CONTRAÇÃO DE POLIMERIZAÇÃO LINEAR, RESISTÊNCIA FLEXURAL E MÓDULO DE ELASTICIDADE DE RESINAS COMPOSTAS Camaragibe 2007 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. Gabriela Queiroz de Melo Monteiro AVALIAÇÃO DA CONTRAÇÃO DE POLIMERIZAÇÃO LINEAR, RESISTÊNCIA FLEXURAL E MÓDULO DE ELASTICIDADE DE RESINAS COMPOSTAS Dissertação de Mestrado apresentado à Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco (FOP-UPE) como requisito para obtenção do título de Mestre em Odontologia, área de concentração Dentística. Orientador: Prof. Dr. Marcos Antônio Japiassú Resende Montes Camaragibe 2007 Dados internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) Biblioteca Prof. Guilherme Simões Gomes Faculdade de Odontologia de Pernambuco – FOP/UPE M775a Monteiro, Gabriela Queiroz de Melo Avaliação da contração de polimerização linear, resistência flexural e módulo de elasticidade de resinas compostas / Gabriela Queiroz de Melo Monteiro; orientador: Marcos Antônio Japiassú Rezende Montes. - Camaragibe, 2007. 84 f. : il. – Dissertação (mestrado) – Universidade de Pernambuco, Faculdade de Odontologia de Pernambuco, Camaragibe, 2007. 1 RESINAS COMPOSTAS 2 TESTE DE MATERIAIS 3 ELASTICIDADE I Montes, Marcos Antônio Japiassú Rezende (orient.) II Título Black D226 CDD 17th ed.– 617.675 Manoel Paranhos – CRB4/1384 DEDICATÓRIA Aos meus pais Jaime e Suzana por todo o apoio dado durante minha formação pessoal e profissional. Mainha, tudo isso começou com você, muito obrigada! Ao meu noivo, Ruy, por todo apoio, carinho e compreensão que sempre me deu. Aos meus irmãos, avós, sogros e amigos que sempre me apoiaram. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS Ao meu orientador, Prof. Dr. Marcos Antonio Japiassú Resende Montes, por sempre acreditar e confiar no meu potencial, pela atenção, amizade e pelos conhecimentos transmitidos que tanto me ajudaram a enriquecer este trabalho. Meu muito obrigado! AGRADECIMENTOS À Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco (FOP/UPE), na pessoa do diretor Belmiro Egito Vasconcelos. Ao Professor Dr. Rodivan Braz, coordenador do curso de pós-graduação área de concentração Dentística, por todos os ensinamentos e orientações transmitidas. À CAPES pelo financiamento desta pesquisa. À Fernanda Emanuela Claudino da Silva, técnica da microscopia eletrônica de varredura do laboratório de materiais do Instituto Tecnológico de Pernambuco – ITEP, pela ajuda na obtenção e interpretação das imagens. A Igor, técnico da MECOL Ltda pela ajuda referente aos serviços de usinagem. As empresas 3M/ESPE e VOCO dental materials pela doação dos materiais utilizados nesta pesquisa. Ao Prof. Edmilson Mazza pelas estatísticas realizadas. À Professora Dra. Arine Lyra por sempre se disponibilizar a ajudar e pela ajuda na realização dos ensaios de resistência à flexão. Aos meus colegas de curso Ricardo Pedrosa, Anna Isabella Ribeiro, Gymenna Guênes e Carlos Eduardo Vieira, por todos os momentos bons que passamos juntos, incentivos, amizade e carinho. Aos colegas do curso de Doutorado Daniela Oertli, Bárbara Seabra, Roseane Uchôa e Cássio Medeiros pelos incentivos e trocas de conhecimentos. Aos Professores Kattyenne Asfora, Maria Regina Menezes, Mônica Pontes e Alexandre Nascimento pela excelente oportunidade que tive de colaborar com a disciplina de Dentística. Aos funcionários da Pós-graduação Rodrigo, Anderson, Joana e Mosquito, por sempre procurar nos ajudar, independentemente das dificuldades. RESUMO Este estudo avaliou a contração de polimerização linear, a resistência flexural e o módulo de elasticidade de resinas compostas nanoparticuladas e microhíbridas (Filtek Z350 e Filtek Z250/3M ESPE; Grandio e Polofil Supra/VOCO; TPH3, Esthet-X e TPH Spectrum/Denstply,). Para a avaliação da contração de polimerização linear, os corpos de prova foram confeccionados em uma matriz circular metálica com 7mm de diâmetro e 2mm de espessura e fotopolimerizados por 40 segundos com potência mínima aferida de 500mW/cm2. Os corpos de prova tiveram os excessos de resina removidos com lixas d’água em granulação decrescente (320, 600, 1200) e em seguida levados a uma cuba de ultrassom. Foram confeccionados 8 corpos de prova por grupo. Após 24h a 37oC, os corpos de prova foram metalizados e as fendas formadas na interface matriz-compósito foram analisadas em MEV (1500x), em quatro pontos correspondentes as posições de 3, 6, 9 e 12 horas de um relógio. Após a obtenção das imagens, as mensurações das fendas foram feitas utilizandose o programa ImageJ (Image Processing and Analysis in Java). Para a avaliação da resistência flexural e do módulo de elasticidade foi utilizado o teste de flexão em três pontos, sendo os corpos de prova confeccionados em forma de barra (25 x 2 x 2mm) de acordo com as especificações da ISO 4049. Foram confeccionados 10 corpos de prova por grupo. Após 24h a 37oC em água destilada, os corpos de prova foram levados à máquina de ensaios mecânicos Kratos a uma velocidade 0,5 mm/min. Os dados foram submetidos à ANOVA para um fator e e no caso de diferenças significantes o teste de Tukey (p=0,05). Os resultados mostraram que contração linear foi mais elevada no grupo da resina TPH Spectrum (29,45 µm) e menos elevada no grupo Filtek Z250 (12,89 µm), comprovando-se diferença significante entre o grupo TPH Spectrum e cada um dos grupos. A média da resistência flexural variou de 117,42 MPa (Polofil Supra) a 141,07 MPa (Grandio), existindo diferença significante ao nível de 5,0% entre esses grupos. As médias do módulo de elasticidade variaram de 7,41GPa (Esthet-X) a 13,91GPa (Grandio), comprovou-se diferença estatisticamente significante entre o grupo Grandio com todos os grupos e entre os grupos TPH Spectrum e Esthet-X. A relação entre o módulo de elasticidade e a contração de polimerização dos compósitos constitui atualmente o principal desafio para a manutenção da integridade das interfaces de união. Palavras-chaves: Resinas compostas. Teste de materiais. Elasticidade. ABSTRACT This study measured the linear polymerization shrinkage, flexural strength and modulus of elasticity of seven dental resin composites. Nanocomposites (Filtek Z350/3M ESPE; Grandio/VOCO; TPH3 and Esthet-X/Denstply) as well as microhybrids (Filtek Z250/3M ESPE; Polofil Supra/VOCO; TPH Spectrum/Denstply) were used. For the measurement of linear polymerization shrinkage, composites were placed in a circular metallic mold with 7mm in diameter and 2 mm high. Photo activation was performed for 40 seconds using a minimal light intensity of 500mW/cm2. The specimens had the excesses removed with sandpaper of decrescent grit 320, 600 and 1200 and were then put in an ultrasound cube. Eight specimens per group were made. After 24 hours at 37oC, the specimens were gold sputtered and the gap formed between the metallic mold and the resin composite was observed using SEM analysis (1500x) in four points located in positions corresponding to 3, 6, 9 and 12 hours of a clock face. Obtained the images, the measurements of the gaps were taken using the ImageJ program (Image Processing and Analysis in Java). For the measurement of flexural strength and modulus of elasticity 10 specimens of each experimental group were prepared using a stainless steel mold (25 x 2 x 2mm) according to the ISO 4049 specifications. Three-point bending test was carried out in a universal testing machine (Kratos) with 20mm span between the supports, at a crosshead speed of 0,5mm/min. Data were analyzed by one-way ANOVA/ Tukey´s test (p=0,05) separately for each specimen. The results of the linear polymerization shrinkage test showed that TPH Spectrum had significantly higher values (29,45µm) than all the other groups. Flexural strength varied from 117,42MPa (Polofil Supra) to 141,07MPa (Grandio), having statistically significant differences between them. The highest values for modulus of elasticity was obtained by Grandio (13,91GPa), followed by TPH Spectrum (9,09GPa), and the lowest was obtained by Esthet-X (7,41MPa). Grandio had statistically higher values than all the groups, and TPH Spectrum had significantly higher values than Esthet-X. The relationship between modulus of elasticity and polymerization shrinkage is, nowadays, the main challenge towards the maintenance of the adhesive interface. Key Words: Resin composites. Materials testing. Elasticity. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1 Composição dos materiais de acordo com as informações 36 dos fabricantes. Figura 1 (A) Resina Filtek Z350 (nanopartículada) e (B) Filtek Z250 37 (microhíbrida) – 3M. Figura 2 (A) Resina Grandio (nanohíbrida) e (B) Polofil Supra 37 (microhíbrida) – VOCO. Figura 3 (A) Resinas Esthet-X, (B) TPH 3 (nanohíbridas) e (C) TPH 37 Spectrum (microhíbrida) – Dentsply. Figura 4 Preenchimento da matriz com espátula para inserção de 39 compósito. Figura 5 Pressão digital sobre o conjunto matriz/ tira de poliéster/ 39 lâmina de vidro. Figura 6 Verificação da potência mínima de 500mW/cm2 no 39 radiômetro e fotopolimerização da resina composta por 40 segundos. Figura 7 Polimento dos corpos de prova, primeiro superfície inferior 40 seguida da superfície superior. Figura 8 Corpos de prova polidos e com suas respectivas 40 Corpos de prova em cuba ultra-sônica para a remoção dos 41 identificações na superfície inferior. Figura 9 detritos de resina e lixa. Figura 10 Marcação dos quatro pontos a serem aferidos na superfície superior do corpo de prova, assim como a identificação do número do espécime (. ponto 1, .. ponto 2, ._ ponto 3, . ponto 4). 41 Figura 11 Armazenamento dos corpos de prova em recipiente escuro e 41 com tampa. Figura 12 Corpo de prova montado em stub e adaptado no suporte para 42 stub para ser metalizado. Figura 13 Máquina de metalização sputter coater. 42 Figura 14 Microscópio Eletrônico de Varredura. Adaptação do porta 43 amostra no MEV. Figura 15 Imagem obtida em MEV. Barra de ferramentas do ImageJ. 44 Figura 16 Calibração. 1 (seta) - Marcação da barra de referência obtida 45 em MEV. 2 – Definição da escala. Figura 17 Definição da escala. O programa mede o comprimento da 45 barrinha em pixels (152.000) e em “Known Distance”, digitase o tamanho da barra de referência fornecida pelo MEV. Em seguida digita-se a unidade de medida. Figura 18 Mensuração da fenda propriamente dita. Observar a 46 centralização da mensuração, assim como o ângulo formado entre a reta e as superfícies do compósito e da matriz (90º). Figura 19 Mensuração realizada (length). 46 Figura 20 Posicionamento da tira de poliéster sobre a placa de vidro. 48 Matriz bipartida para confecção dos corpos de prova. Matriz encaixada e posicionada sobre o conjunto placa de vidro/ tira de poliéster. Figura 21 Inserção do compósito com espátula (Duflex n.1/ SS White). 48 Figura 22 Adaptação de uma outra tira de poliéster e de uma lâmina de 48 vidro para microscopia sobre a matriz, seguida da leve pressão digital por 30s. Figura 23 Fotpolimerização por 40 segundos. Inicialmente no centro do 49 corpo de prova e depois para os lados, sendo o procedimento repetido na superfície inferior do corpo de prova. Figura 24 (A) Corpo de prova após a remoção da matriz. (B) Remoção 49 das rebarbas de resina com lixa d’água #320 umedecida. Figura 25 Máquina de ensaios mecânicos KRATOS com o dispositivo para o teste de resistência flexural acoplado. Teste de 50 resistência flexural em andamento. Figura 26 Corpo de prova fraturado. 51 Gráfico 1 Médias da contração linear por grupo (µm). 55 Gráfico 2 Médias da resistência flexural por grupo (MPa). 56 Gráfico 3 Médias do módulo da elasticidade por grupo (GPa). 58 Figura 27 Estrutura química dos monômeros utilizados em resinas 64 odontológicas. LISTA DE TABELAS Tabela 1 Análise estatística da contração linear por grupo. 55 Tabela 2 Análise estatística da resistência flexural por grupo. 56 Tabela 3 Análise estatística do módulo da elasticidade por grupo. 57 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BisGMA Bisfenil glicidildimetacrilato U-BisGMA Bisfenil glicidildimetacrilato uretano modificado BisEMA Bisfenol etil metacrilato cm Centímetros EGDMA Etileno glicol dimetacrilato GPa Giga Pascal # Granulação o Graus centígrados HEMA Hidroxietil metacrilato HPMA Hidroxipropil metacrilato h/ hrs Horas ISO Internacional Standard Specification MPa Mega Pascal MMA Metilmetacrilato µm Micrometros MEV Microscópio Eletrônico de Varredura mm Milímetros min Minutos nm Nanômetro s/ seg Segundos TEDMA Trietileno dimetacrilato TEGDMA Trietileno glicol dimetacrilato UDMA/UEDMA Uretano dimetacrilato C SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 14 2 REVISÃO DA LITERATURA.................................................................. 20 3 OBJETIVOS................................................................................................ 32 4 MATERIAIS E MÉTODO.......................................................................... 34 5 RESULTADOS........................................................................................... 53 6 DISCUSSÃO............................................................................................... 59 7 CONCLUSÕES........................................................................................... 78 REFERÊNCIAS.......................................................................................... 81 1 INTRODUÇÃO 1 INTRODUÇÃO Apesar da grande evolução observada na área da odontologia adesiva, a contração de polimerização das resinas compostas ainda permanece como um grande desafio. Essa contração é decorrente do re-ordenamento molecular em um espaço menor àquele requerido na fase líquida do material, trocando-se uma distância intermolecular de 0.3 Angströms, que corresponde à distância de van der Waals, para 0.1 Angströms, que corresponde à distância requerida para uniões covalentes. As resinas compostas tomam presa por uma reação química que envolve a quebra das ligações duplas de carbono-carbono e a subseqüente formação de ligações simples de carbono-carbono, produzindo cadeias poliméricas. A conseqüência dessa contração a nível molecular manifesta-se no material como uma perda volumétrica de aproximadamente 1,5% (PEREIRA, 2005). Tal contração promove uma deformação no compósito, que, clinicamente é mascarada pelo confinamento do material aderido ao dente, cujo resultado se manifesta na forma de tensões (GAYOSSO; SANTANA; IBARRA; ESPÍNOLA; MARTINEZ, 2004). À medida que a reação prossegue, essas tensões aumentam e eventualmente se tornam maiores do que a resistência de união do sistema adesivo, ocasionando a formação de uma fenda. Se estas ultrapassarem a resistência de união do sistema adesivo mais tardiamente no processo de polimerização, a formação da fenda é limitada; se ocorrer mais cedo, mais extensa. (PEUTZFELDT, ASMUSSEN, 2004; PARK, FERRACANE, 2005) Três potenciais problemas clínicos estão associados à contração que acompanha a polimerização das resinas compostas. O primeiro é a deformação elástica e plástica (permanente) do elemento dental, o segundo está relacionado com falhas resultantes na interface adesiva e o terceiro problema clínico está relacionado com falhas coesivas no próprio compósito (SAKAGUCHI; WILTBANK; MURCHISON, 2005). As tensões na interface dente-restauração podem levar à formação de fendas marginais, descoloração marginal, sensibilidade pós-operatória e cáries recorrentes. Tais conseqüências clínicas constituem a principal razão para a troca das restaurações em resina composta, o que explica porque que a contração de polimerização é atualmente reconhecida como a grande limitação das resinas compostas (KLEVERLAAN; FEILZER, 2005; PEUTZFELDT; ASMUSSEN, 2004). A magnitude das tensões geradas durante a polimerização da resina composta é influenciada por vários fatores relacionados ao material, à técnica, e à preparação da cavidade, sendo que a inter-relação desses fatores dita a manifestação da tensões para uma dada restauração. Dentre os fatores que influenciam a formação das tensões incluem-se a contração de polimerização volumétrica, o módulo de elasticidade, o escoamento da resina, a aderência do compósito às paredes cavitárias e o fator de configuração cavitária (fator-C) da restauração (PEUTZFELDT; ASMUSSEN, 2004). O módulo de elasticidade das resinas compostas é uma propriedade que nos fornece informações importantes relacionadas ao comportamento do material. O módulo de elasticidade descreve a rigidez relativa de um material, e apresenta uma relação direta com o aumento da fração em volume de partículas inorgânicas. Sua medição pode ser feita pela inclinação da porção elástica do gráfico tensão x deformação, tendo assim uma importante influência sobre as tensões que são geradas durante a contração resultante da polimerização das resinas compostas, visto que, de acordo com a lei de Hooke, a deformação desses materiais gera tensões. Esta lei descreve a relação linear entre a tensão e a deformação num sólido elástico. Como as tensões são o produto do módulo de elasticidade pela deformação, materiais com uma combinação de grande contração volumétrica e um alto módulo de elasticidade tendem a gerar altas tensões durante a reação de polimerização (HELVATJOGLU-ANTONIADES; PAPADOGIANNIS; LAKES; DIONYSOPOULOS; PAPADOGIANNIS, 2006). Estudos in vitro mostram que as tensões geradas pela contração de polimerização aumentam com o aumento da rigidez das resinas compostas (KLEVERLAAN, FEILZER, 2005). Entretanto, durante a reação de polimerização nem toda a contração é convertida em tensões de contração, uma vez que o polímero pode se reorganizar e assim aliviar as tensões geradas. Isto é decorrente do comportamento visco-elástico das resinas compostas, caracterizado pela capacidade de escoamento dos compósitos nos estágios iniciais da reação e pelo módulo de elasticidade alcançado durante a polimerização. Esse escoamento é a princípio composto de um componente macroscópico e de um microscópico. O escoamento macroscópico ocorre nas superfícies livres durante a reação de polimerização. O escoamento microscópico é decorrente da possível re-organização polimérica que ocorre no compósito. Contudo, a maior parte desse escoamento ocorre antes do ponto gel, sendo que é depois do ponto gel que a maioria das tensões são desenvolvidas (KLEVERLAAN, FEILZER, 2005). As propriedades das resinas compostas dependem de vários fatores, relacionados à composição dos materiais como, por exemplo, o tipo e a quantidade de monômeros utilizados, o grau de conversão, o tipo e o tamanho das partículas de carga, a forma de silanização e a quantidade de iniciadores presentes nos compósitos. Quanto mais carga inorgânica é adicionada ao material, menor será a contração resultante e maior será o módulo de elasticidade. Porém, isso não significa que toda a resina com baixa contração de polimerização, necessariamente gere baixas tensões, pois o aumento do módulo de elasticidade torna o material menos capaz de sofrer deformação plástica durante a contração, diminuindo assim a possibilidade de “relaxamento” das tensões produzidas (FERRACANE, 2005). Com o objetivo de aprimorar as propriedades físicas, químicas e mecânicas, algumas mudanças têm sido propostas, como a incorporação de novos monômeros, novos sistemas de iniciação e a utilização de novas tecnologias para as partículas de carga. Esta última, mais atual, refere-se à utilização da nanotecnologia na formulação de novos materiais. Esta tecnologia consiste na produção de materiais e estruturas funcionais no intervalo entre 0,1 - 100 nanômetros – a nanoescala – através de vários métodos físicos ou químicos. Enquanto o tamanho das partículas de carga nos compósitos híbridos é de 8 - 30 micrômetros e de 0,7 - 3,6 micrômetros nos compósitos microhíbridos, novas partículas de carga de 5 a 100 nanômetros tem sido recentemente desenvolvidas, apesar partículas com 40 nanômetros já estarem presentes nas resinas microparticuladas. Estas últimas podem ser consideradas como precursoras das resinas nanoparticuladas. (SUMITA MITRA, DONG, BRIAN, 2003; BRAGA, BALLESTER, FERRACANE, 2005; BEUN, GLORIEUX, DEVAUX, VREVEN, LELOUP, 2007). É fato que o aumento da concentração das partículas de carga embora favoreça a diminuição da contração de polimerização, promove o aumento do módulo de elasticidade, e que compósitos com pequena contração de polimerização, porém associados a elevados módulos de elasticidade tendem a promover altas tensões de contração na interface de união. No entanto, permanece incerto se a incorporação de partículas de carga de tamanho nanométrico promove um aumento no percentual de carga inorgânica na composição das resinas compostas, e conseqüentemente alto módulo de elasticidade, bem como a relação entre o módulo de elasticidade e a magnitude da contração de polimerização, responsável pela geração das tensões. 2 REVISÃO DA LITERATURA LITERATURA 2 REVISÃO DA LITERATURA As propriedades das resinas compostas dependem de vários fatores, relacionados à matriz polimérica, às partículas de carga, e à união matriz-partícula de carga. Um compósito é definido como uma combinação tri-dimensional de pelo menos dois materiais de naturezas químicas diferentes separadas por uma interface distinta. Resinas compostas odontológicas compreendem uma mistura de partículas de carga duras envolvida por uma matriz resinosa mole, e geralmente é composta de três componentes principais: (1) Matriz resinosa, constituída por: (i) um sistema de monômero, (ii) um sistema iniciador para polimerização por radiciais livres, e (iii) estabilizadores para maximizar o armazenamento da resina não polimerizada e a estabilidade química da resina composta polimerizada; (2) Partículas de carga constituídas de partículas como o vidro, quartzo e/ou sílica coloidal; e (3) Agente de união, usualmente um organo-silano, que une quimicamente a partícula de carga à matriz resinosa. O componente resinoso de um compósito odontológico é a matriz polimérica. Um polímero é uma molécula grande formada pela união repetitiva de várias unidades menores chamadas de monômeros. O processo pelo qual os monômeros se unem e transformam-se em polímeros é chamado de polimerização. Como conseqüência da polimerização, as resinas compostas contraem principalmente devido à diminuição das distâncias intermoleculares, uma vez que, enquanto monômeros, a moléculas distam 0,3 - 0,4nm enquanto que nos polímeros essa distância diminui para aproximadamente 0,15nm. A extensão da contração de polimerização depende, dentre outras coisas, do peso molecular e da funcionalidade dos monômeros (porção reativa da molécula). A extensão pela quais os monômeros são transformados em polímeros é denominada grau de conversão. (PEUTZFELDT, 1997) Monômeros dimetacrilatos de alto peso molecular são comumente utilizados como matriz de resinas compostas devido à sua alta resistência e baixa contração de polimerização. Até os dias de hoje o monômero mais utilizado é o BisGMA. Entretanto, este monômero apresenta uma alta viscosidade associada a um baixo grau de conversão, visto que apresenta em sua estrutura química uma região central rígida (grupos aromáticos) além da presença de grupos hidroxilas (figura 1). Os grupos hidroxilas são capazes de formar ligações entre as moléculas de hidrogênio, o que restringe o deslizamento do monômero numa cadeia polimérica, aumentando sua viscosidade e diminuindo o grau de conversão do sistema. Para superar estes inconvenientes, o BisGMA necessita ser acrescido de monômeros dimetacrilatos de menor peso molecular, também conhecidos como diluentes, com o objetivo de alcançar uma viscosidade apropriada para a inserção das partículas de carga (FERRACANE, 1995). Dentre os monômeros diluentes mais freqüentemente utilizados tem-se o EGDMA e o TEGDMA. Esses monômeros apresentam cadeias longas de baixo peso molecular, porém alifáticas, sendo, portanto mais flexível o que favorece o aumento do grau de conversão das ligações duplas (figura 1). Por outro lado, por apresentar um peso molecular relativamente baixo a polimerização desses monômeros resulta em alta contração assim como diminui propriedades mecânicas dos compósitos. Portanto, em compósitos contendo BisGMA e TEGDMA, o grau de conversão tende a diminuir a medida em que se aumenta a quantidade de BisGMA. Isto é decorrente da diminuição das distâncias entre as moléculas de Bis-GMA, fazendo com que as ligações de hidrogênio sejam fatores dominantes, reduzindo a mobilidade das moléculas e assim aumentando drasticamente a viscosidade do sistema e diminuindo o grau de conversão. Entretanto, apesar da diminuição do grau de conversão, um aumento do conteúdo de BisGMA não resulta em reduções de resistência e dureza. Isto porque o flexível TEGDMA é substituído pelo muito mais rígido BisGMA na cadeia polimérica. Quanto menor a viscosidade da mistura monomérica, mais partículas de carga podem ser incorporadas à mistura. Mantendo-se todos os componentes iguais (como por exemplo, tipo e concentração de monômeros, tipo e concentração de iniciadores), uma maior concentração de partículas de carga melhora várias propriedades do material polimerizado, como por exemplo, a rigidez e o coeficiente de expansão térmica. (ATAI, WATTS, ATAI, 2005) CH3 CH3 CH3 CH2 = C – C – O – CH2 – CH – CH2 – O –- O -–– C –-–-O -– O – CH2 – CH – CH2 – O – C – C = CH2 O O CH3 BisGMA CH3 CH3 CH2 = C – C – O – CH2 – CH2 – O – CH2 – CH2 – O – CH2 – CH2 – O – C – C = CH2 O O TEGDMA Figura 1. Estrutura química dos monômeros BisGMA e TEGDMA. Outras resinas compostas contêm dimetacrilatos de uretano (UEDMA = UDMA). Este monômero apresenta pesos moleculares próximos aos do Bis-GMA, porém são menos viscosos (figura 2). Este pode ser usado sozinho ou em associação com outros monômeros como o BisGMA e TEGDMA. Dentre as vantagens reportadas do UDMA, tem-se a baixa viscosidade associada a uma maior flexibilidade da cadeia de uretano, favorecendo um aumento da tenacidade. Os resultados dos testes in vitro em que todos os componentes com exceção do sistema de monômero são mantidos constantes, sugerem que compósitos baseados em UDMA possuem propriedades mecânicas melhoradas quando comparados àqueles que contêm BisGMA. Além disso, há indicações de que maiores graus de conversão são obtidos quando se utiliza UDMA em comparação com as misturas de Bis-GMA e TEGDMA. (PEUTZFELDT, 1997; ASMUSSEN, PEUTZFELDT, 1998) CH3 CH3 CH3 CH3 CH3 CH2 = C – C – O – CH2 – CH2 – O – C – N – CH2 – CH – CH2 – C – CH2 – CH – CH2 – N – C -– O – CH2 – CH2 – O – C – C = CH2 O H O H CH3 UEDMA Figura 2. Estrutura química do monômero UEDMA/UDMA. Asmussen e Peutzfeldt (1998) determinaram o efeito do UEDMA, BisGMA e TEGDMA em algumas propriedades mecânicas de resinas compostas experimentais. Trinta misturas monoméricas de TEGDMA e BisGMA e/ou UEDMA foram produzidas. Cinco bases para as misturas monoméricas continham as seguintes concentrações molares entre TEGDMA e BisGMA: 30:70, 40:60, 50:50, 60:40 e 70:30. As misturas monoméricas foram em seguida produzidas substituindo sucessivamente o BisGMA pelo UEDMA. As resinas experimentais utilizadas eram fotopolimerizáveis e carregadas com a mesma concentração de partículas de carga. Os resultados obtidos apresentaram uma resistência à tração diametral com variação de 52 a 59 MPa, resistência flexural variando entre 137 e 167 MPa, e módulo de elasticidade entre 8,0 e 11,1 GPa. A análise estatística mostrou que a substituição do BisGMA ou TEGDMA pelo UEDMA resultou num aumento da resistência flexural e à tração, e que a substituição do BisGMA pelo TEGDMA aumentou a resistência à tração, porém reduziu a resistência flexural. Mais adiante, foi encontrado que, para uma dada concentração de UEDMA, variações na proporção BisGMA/TEGDMA favoreceu um alto módulo de elasticidade, e que este diminuiu quando se aumentou a concentração de UEDMA. Os autores puderam concluir que as variações nos valores relativos de UEDMA, BisGMA e TEGDMA tiveram um efeito significativo nas propriedades da resina composta, e que, através da seleção específica desses monômeros, compósitos podem ser formulados com propriedades para aplicações específicas. Durante a polimerização de resinas a base de metacrilatos, o líquido viscoso gradualmente se transforma em um material rígido pela polimerização do radical envolvendo as ligações duplas de carbono. Essa polimerização envolve uma contração volumétrica que apresenta três origens: a contração química (a mais importante), a contração térmica, e a contração pós-gel. A contração química é atribuída à mudança nos espaços interatômicos entre as moléculas. A contração térmica ocorre durante o resfriamento da resina, uma vez que, sendo a reação de polimerização exotérmica, há um aumento da temperatura da resina, que ao retornar à temperatura ambiente ocasiona uma contração no material. Esta contração é menos importante, porém pode gerar tensões internas. Durante a reação química, a vitrificação (fase gel) do sistema induz um “congelamento” dos radicais na estrutura de ligações cruzadas, impedindo a continuação da reação química. Entretanto, a contração ainda ocorre por mais ou menos 24 horas (contração pós-gel). (DEWAELE; TRUFFIER-BOUTRY; DEVAUX; LELOUP, 2006) Em condições normais, quando o compósito é aderido às paredes cavitárias, essa contração resulta do desenvolvimento de tensões. Estudos in vitro demonstram que as tensões produzidas na interface de união durante a contração de polimerização de resinas compostas estão positivamente correlacionadas com o aumento da rigidez do material em polimerização. O módulo de elasticidade também aumenta na medida em que se procede a reação. Essas tensões podem resultar em deformação da estrutura em geral. Enquanto que uma parte das tensões é rapidamente aliviada através do escoamento da resina, a outra permanecerá no interior do compósito endurecido durante e após o término da polimerização. (LABELLA, LAMBRECHTS, VAN MEERBEEK, VANHERLE, 1999; PARK, FERRACANE, 2005) Essa capacidade de escoamento nos estágios iniciais da reação de polimerização assim como o módulo de elasticidade alcançado durante a polimerização caracteriza o comportamento visco-elástico do material. Compósitos com alto conteúdo de partículas de carga apresentam menores valores de contração, entretanto, devido a sua maior rigidez apresentam uma menor capacidade de deformação, quando comparados àqueles com baixo percentual de partículas de carga (ATTAR, TAM, McCOMB, 2003; MESQUITA, AXMANN, GEIS- GERSTORFER, 2006). Por outro lado, o aumento do grau de conversão da matriz polimérica aumenta a contração volumétrica e o módulo de elasticidade simultaneamente. A complexidade deste fenômeno é aumentada pelo fato de que o desenvolvimento de tensões de contração é afetado pela cinética da reação. À medida que a deformação plástica (ou escoamento) é um evento tempodependente, menores velocidades de reação podem proporcionar períodos maiores onde o material apresenta a capacidade de resistir às tensões de contração antes de adquirir um alto módulo de elasticidade. Feilzer e Dauvillier (2003) avaliaram a influência da proporção TEGDMA/ BisGMA no desenvolvimento das tensões de contração, grau de conversão e propriedade viscoelástica de resinas compostas experimentais pasta-pasta. Diferentes concentrações de TEGDMA foram utilizadas (30, 50, 70%) e avaliadas através de testes mecânicos, espectroscopia infravermelha e dilatometria de mercúrio, de modo a se determinar como a composição do co-monômero afeta as propriedades químicas e mecânicas das resinas compostas durante a polimerização. Os resultados mostraram que a velocidade de polimerização das resinas contendo BisGMA/TEGDMA é indicativo de seu comportamento viscoelástico durante a polimerização: quanto maior sua reatividade, maior é o desenvolvimento da rigidez e da viscosidade. Compósitos com 50% de TEGDMA apresentaram a maior velocidade de polimerização, e que, resinas contendo altas concentrações de TEGDMA, apenas aumentaram modestamente o escoamento viscoso da fase prégel, ou seja, diminuiu a viscosidade da resina. Atai, Watts, Atai (2005), investigaram a velocidade das tensões decorrentes da contração de polimerização de diferentes monômeros comumente utilizados em resinas compostas. Além disso, estudaram o efeito da funcionalidade e da massa molecular desses monômeros na velocidade da reação. BisGMA, TEGDMA, UDMA, MMA, HEMA, HPMA e diferentes proporções de BisGMA/TEGDMA foram misturadas aos iniciadores canforoquinona e dimetil aminoetil metacrilato. As tensões foram mensuradas através do método do disco aderido descrito por Watts e Cash (1991). Os resultados mostraram que a velocidade da formação das tensões foi dependente da funcionalidade, da massa molecular e da viscosidade do monômero. Nas misturas de BisGMA/TEGDMA com até 75-80% em peso de BisGMA, a velocidade da reação foi diretamente correlacionada com o monômero BisGMA, uma vez que este apresenta uma alta massa molecular que aumenta sua viscosidade, no entanto diminuindo a propagação das reações. Monômeros monofuncionais apresentaram menores velocidades de reação. O monômero difuncional UDMA de média viscosidade apresentou uma maior velocidade de formação de tensões (p<0,05). Kleverlaan e Feilzer (2005) avaliaram dezessete marcas comerciais de resinas compostas quanto à contração de polimerização, tensões geradas durante a contração, módulo tensional e fator de escoamento. A contração volumétrica foi mensurada através da dilatometria com mercúrio e a tensão de contração e o módulo tensional foram determinados através de uma análise de tensão x deformação em um tensilômetro. Os resultados apresentaram uma forte correlação linear para a maioria das resinas compostas, no que se refere à (i) tensão de contração e contração de polimerização, (ii) tensão de contração e módulo tensional, e (iii) contração de polimerização e módulo tensional. Para a maioria dos materiais testados, a porção não polimerizada de resina determinou a quantidade de contração de polimerização, a tensão de contração gerada e o módulo tensional. Os autores concluíram que a utilização de partículas pré-polimerizadas melhorou as propriedades contração/ tensão de contração, como mostrado pela resina Heliomolar/ Ivoclar Vivadent, enquanto que, altas velocidades de polimerização e baixo fator de escoamento tiveram um efeito deteriorante nas propriedades contração/ tensão de contração. A magnitude da contração volumétrica ocorrida num compósito é determinada pela fração do volume da partícula de carga, pela sua composição monomérica e pelo grau de conversão da matriz resinosa (BRAGA, BALLESTER, FERRACANE, 2005). Por outro lado, dentre os recursos disponíveis para se controlar o módulo de elasticidade dos materiais, tem-se o controle da densidade dos polímeros de ligações cruzadas e também a proporção de partículas de carga dispersas na matriz polimérica (WATTS, 1994). A contração de polimerização, o módulo de elasticidade e seus desenvolvimentos estão intimamente relacionados com a sobrevivência da interface adesiva. (LABELLA; LAMBRECHTS; VAN MEERBEEK; VANHERLE, 1999) Peutzfeldt e Asmussen (2004) investigaram se a contração de polimerização, o escoamento, o módulo de elasticidade e a resistência de união influenciavam a formação de fendas em restaurações de resina composta in vitro. Foram utilizadas onze marcas comerciais de resinas compostas. A avaliação da contração de polimerização foi realizada através do método do disco–aderido (n=3); o escoamento foi mensurado através do diâmetro de um volume constante de resina composta onde foi aplicada uma carga de 20N por 60s (n=3); o módulo de elasticidade foi mensurado a partir do teste de resistência à flexão em 3 pontos (n=6); a resistência de união em dentina foi mensurada através do teste de cisalhamento (n=6); e a avaliação das fendas foi realizada em cavidades preparadas em dentina utilizando um microscópio óptico, sendo os resultados expressos pelo percentual da maior fenda em relação ao diâmetro da cavidade (n=6). Diferenças significativas foram encontradas entre as resinas compostas testadas para todos os ensaios realizados. Uma correlação significativa foi encontrada entre o escoamento e a formação de fendas (r =-0.68, p<0.025). A análise de regressão tri-dimensional mostrou uma correlação significativa entre a contração de polimerização (X1), escoamento (X2), e a formação de fendas (r= 0.79, p1<0.05, p2<0.005). O maior coeficiente de correlação foi encontrado quando a parte inicial da polimerização (de 0 a 10 segundos) foi desprezada (r =0.90, p1<0.005, p2<0.0005). Concluiu-se que o estágio final da contração de polimerização (após os 10 segundos iniciais), foi responsável pela formação de fendas, e que para o sistema adesivo utilizado (3 passos, Optibond FL/Kerr), apenas a contração de polimerização e o escoamento foram os fatores determinantes na formação de fendas ao redor de restaurações de resina composta in vitro. Ilie, Kunzelman e Hickel (2006), determinaram a influência da contração de polimerização de resinas compostas na resistência de união à dentina quando aplicadas em cavidades classe I extensa. Foram examinadas 8 marcas comerciais de resinas híbridas, microparticulada e nanoparticulada (Z100/3M, Tetric/IvoclarVivadent, Enamel plus HFO, In Ten-S/Ivoclar-Vivadent, Charisma/Hearus Kulzer, Palfique estelite/Tokuyama; Durafill/Hearus Kulzer; Filtek Supreme/3M ESPE). O comportamento da contração de polimerização foi avaliado utilizando um analisador tensão-deformação durante 300 segundos em temperatura ambiente. A contração máxima após os 300 segundos, o tempo até a geleificação e o coeficiente de adaptação linear da tensão de contração/ tempo também foram analisados. O teste de microtração foi realizado para mensurar a resistência de união, enquanto que, o teste de microdureza foi utilizado para avaliar a qualidade da polimerização das restaurações. O módulo de elasticidade, foi calculado a partir dos resultados obtidos no teste de resistência a flexão (módulo flexural), levando-se em consideração também os resultados obtidos no teste de microdureza (módulo de identação). Os resultados mostraram uma correlação significativa entre a contração de polimerização e os valores de resistência de união (pearson= -0,44). A correlação entre o módulo de elasticidade e a contração de polimerização (pearson= 0,77), coeficiente de adaptação linear (pearson= 0,72), tempo até a geleificação (pearson= -0,52), e a resistência de união (pearson= -0,45) também foram significantes. Os autores concluíram que altas tensões de contração e altos módulos de elasticidade, associados ao rápido desenvolvimento das forças de contração e conseqüentemente a rápida formação de tensões nos compósitos aplicados em cavidades restritas, causam tensões no material com possíveis distorções subseqüentes da interface adesiva. Ainda afirmaram que a utilização de resinas com baixo módulo de elasticidade não estar necessariamente associado a uma alta resistência de união, porém, estes compósitos tendem a promover uma distribuição mais uniforme das tensões na interface dente-restauração. O comportamento dos materiais depende largamente de suas partículas de carga: percentuais, composição, dimensões e forma, assim como, do grau de polimerização da matriz resinosa. Tem sido mostrado que as propriedades mecânicas são intimamente relacionadas com a fração de partículas de carga nas resinas compostas. Teoricamente o aumento do conteúdo de partícula de carga também pode diminuir a contração de polimerização. O percentual de partículas de carga pode ser expressa pelo peso ou pelo volume. Geralmente as resinas apresentam de 35-70% em volume ou 50-85% em peso de partículas de carga. Apesar desses dois parâmetros (peso e volume) estarem relacionados com a densidade das partículas, em alguns casos, é mais relevante se determinar o percentual de partículas pelo volume das resinas compostas. (SABBAGH; RYELANDT; BACHÉRIUS; BIEBUYCK; VREVEN; LAMBRECHTS; LELOUP, 2004) Para Adabo (2000), a fração volumétrica é a informação mais precisa, pois leva em consideração o espaço ocupado pela fase inorgânica, independentemente da densidade do material que compõe as partículas inorgânicas. Isso mostra que, muitas vezes, a simples informação do percentual em massa pode implicar em interpretação errônea dos dados, pois um material composto por partículas de elevada densidade pode conter, na verdade, grande quantidade de fase resinosa, implicando em maior contração de polimerização e coeficiente de expansão térmica linear, apesar de apresentar alto percentual de carga em massa. Entretanto, de acordo com os resultados obtidos por este autor no mesmo trabalho, ao classificar os materiais estudados em ordem decrescente de percentual de carga por massa (peso) e volume, uma correspondência entre esses percentuais foi observada. Ainda de acordo com autor, esta observação indica que a caracterização de um material por seu conteúdo de partículas inorgânicas por massa traz informações que, se não totalmente precisas, podem ajudar a prever o desempenho clínico do material. Hoje, o desenvolvimento revolucionário da nanotecnologia vem tornando esta disciplina uma das mais “estimulantes” nas áreas de ciência e tecnologia. O grande interesse no emprego de nanomateriais parte do conceito de que estes podem ser utilizados para manipular a estrutura dos materiais, ocasionando melhorias consideráveis em propriedades elétricas, químicas, mecânicas e ópticas. Um grande número de pesquisas vem sendo dedicadas ao desenvolvimento de diferentes tipos de nanocompósitos de várias aplicabilidades. (SUMITA MITRA, DONG, BRIAN, 2003) Sendo assim, a nanotecnologia também desperta grande interesse para as pesquisas na área da odontologia envolvendo a produção de resinas compostas. Como as dimensões dessas partículas são bastante reduzidas, pode se acrescentar uma maior quantidade de partículas de carga às resinas, favorecendo a redução da contração de polimerização e melhorando as propriedades mecânicas tais como resistência à tração, à compressão e à fratura. Além disso, o tamanho diminuto das partículas de carga também melhora as propriedades ópticas, tendo em vista que seu diâmetro é apenas uma fração do comprimento de onda da luz visível (0,4-0,8 micrômetros), resultando na inabilidade do homem em detectar as partículas, havendo ainda uma diminuição da velocidade de desgaste, o que aumenta a longevidade do brilho superficial do compósito. Como conseqüência, os fabricantes estão recomendando a utilização das resinas nanoparticuladas tanto para restaurações anteriores quanto para restaurações posteriores. Beun, Glorieux, Devaux, Vreven, Leloup (2007), caracterizaram a porção inorgânica, mensuraram as propriedades mecânicas e o grau de conversão de três compósitos nanoparticulados (Filtek Supreme/3M ESPE, Grandio/Voco, Grandio flow/Voco) e os compararam a quatro compósitos universais (Point-4/Kerr, Tetric Ceram/Ivoclar-Vivadent, Vênus/Heraeus-Kulzer, Z100/3M ESPE) e dois microparticulados (A110/3M, Durafill VS/ Heraeus-Kulzer). Esta caracterização foi realizada através de microscopia eletrônica de varredura e por análises termogravimétricas. Dentre as propriedades mecânicas, foram aferidas o módulo de elasticidade dinâmico e estático, a resistência flexural e a microdureza de Vickers. O grau de conversão foi avaliado através da espectrometria de Raman. Os resultados mostraram que os compósitos nanoparticulados e os universais apresentaram quase que a mesma variação percentual de partículas de carga, com exceção da Grandio/VOCO que apresentou um percentual significativamente superior que o maior percentual obtido pela resina universal. Quanto à forma das partículas de carga, apenas as resinas Z100/3M, Point-4/KERR e Filtek Supreme/3M ESPE apresentaram partículas esféricas, as demais apresentaram uma forma irregular. As resinas microparticuladas se apresentaram na forma de agregados constituídos de sílica embebida numa matriz orgânica pré-polimerizada. Os compósitos nanoparticulados apresentaram um módulo de elasticidade superior aos compósitos universais e microparticulados, com exceção da resina Z100/3M ESPE. Os compósitos microparticulados apresentaram as menores propriedades mecânicas. O teste de resistência flexural não se apresentou como um fator discriminante neste estudo. Os graus de conversão obtidos com a luz halógena foram maiores que os obtidos com o LED. Pode-se concluir que os compósitos nanoparticulados podem ser utilizados para as mesmas indicações clínicas dos compósitos universais, uma vez que, apresentaram propriedades mecânicas semelhantes ou superiores. 3 OBJETIVOS 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Avaliar a contração de polimerização linear, a resistência flexural e o módulo de elasticidade de resinas compostas nanoparticuladas e microhíbridas. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS I. Mensurar a contração de polimerização linear das resinas compostas; II. Mensurar a resistência flexural das resinas compostas; III. Calcular o módulo de elasticidade das resinas compostas; e IV. Relacionar a contração de polimerização linear das resinas compostas com o módulo de elasticidade. 4 MATERIAIS E MÉTODO 4 MATERIAIS E MÉTODO 4.1 TIPO DE ESTUDO Foi realizado um estudo do tipo experimental em laboratório. 4.2 LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO O estudo foi desenvolvido no laboratório de Ensaios Físicos e Mecânicos da Faculdade de Odontologia da Universidade de Pernambuco - FOP/UPE, sendo as análises em Microscopia Eletrônica de Varredura realizadas no laboratório de materiais do Instituto Tecnológico de Pernambuco – ITEP. 4.2 MATERIAIS Foram utilizadas resinas compostas nanoparticuladas (Filtek Z350/ 3M ESPE, Grandio/ Voco, Esthet-X/ Dentsply e TPH 3/ Dentsply) e microhíbridas (Filtek Z250/ 3M ESPE, Polofil/ VOCO e TPH Spectrum/ Dentsply) todas na cor A3. Os materiais encontram-se relacionados no Quadro 1, de acordo com suas especificações. Quadro 1: Composição dos materiais de acordo com as informações dos fabricantes. Tamanho da partícula de carga Fabricanteb/ Lote/ Validade Nanopartícula Nanoaglomerados = 0,6-1,4 um, com tamanho de partícula primária de 5-20nm Sílica não aglomerada = 20nm 3M/ESPE 6EB 2008-12 82 c/ 60 Microhíbrida 0,19 – 3,3 um 3M/ESPE 5WK 2008-10 -- 87/ 71,4 Nanohíbrida Bis-GMA, UDMA e TEDMA -- 76,5/ 60 Microhíbrida Microcargas = 0,05um Partículas pequena = 0,5 – 2 um Voco 621307 2008-03 Voco 571239 2009-03 Esthet-X (Fig. 3A) U-Bis-GMA, BisEMA, TEGDMA Vidro de borosilicato de flúor alumínio e bário silanizados + Sílica coloidal + Sílica nanométrica 77c/ -- Nanohíbrido Vidro de borosilicato de flúor alumínio e bário silanizados = 1um (tamanho médio baixo) Sílica coloidal = 0,04um 10nm – 0,8um Dentsply/Caulk 0510082 (lote Brasil 0602000489) 2008-10 TPH 3 (Fig. 3B) Bis-GMA e BisEMA dimetacrilato Vidro de bário alumínio borosilicato silanizado + Vidro de bário fluoralumínio borosilicato silanizado + Sílica 75,27/-- Nanohíbrida Vidro de bário alumínio borosilicato silanizado = 49,7% Vidro de bário fluoralumínio borosilicato silanizado =24,6% Sílica = 0,97% Dentsply/Caulk 492008 2009-01 TPH Spectrum (Fig. 3C) U-Bis-GMA Boro silicato de alumínio + Bário silanizado + Sílica pirolítica silanizad 77 / 57.1c Microhíbrida Vidro de bário alumínio silicato, Sílica coloidal d 0,04 – 5um Dentsply/Caulk 541552 2009-04 Material Matriz orgânica Carga inorgânica Filtek Z 350 (Fig. 1A) Bis-GMA, UDMA, TEGDMA e BisEMA Agregados de matriz de zircônia e síliica (nanoaglomerados) + Sílica (não aglomerada, não agregada) Filtek Z 250 (Fig. 1B) Bis-GMA, UDMA e Bis-EMA Partículas de zircônia e sílica Grandio (Fig. 2A) Bis-GMA e TEDMA Polofil Supra (Fig. 2B) % em peso/ volume (carga) 78,5/ 59,5 Todas as resinas utilizadas foram da cor A3. a Bis-GMA, bisfenil glicidilmetacrilato; UDMA, uretano dimetacrilato; TEGDMA, trietileno glicol dimetacrilato; Bis-EMA, bisfenol etil metacrilato; U-Bis-GMA, bisfenil glicidilmetacrilato uretano modificado b c 3M ESPE, St. Paul, MN, USA; Dentsply Caulk, Milford, DE, USA; VOCO, Cuxhaven, GER. Dados obtidos em SABBAGH, J et al, 2004. d Dados obtidos em WALKER, MP et al, 2006. -- não informado pelo fabricante. A B Figura 1. (A) Resina Filtek Z350 (nanopartículada) e (B) Filtek Z250 (microhíbrida) – 3M. A B Figura 2. (A) Resina Grandio (nanohíbrida) e (B) Polofil Supra (microhíbrida) – VOCO. A B Figura 3. (A) Resinas Esthet-X (nanohíbrida), C (B) TPH 3 (nanohíbrida) e (C) TPH Spectrum (microhíbrida) – Dentsply. 4.4 ESTUDO PILOTO Foi realizado um estudo piloto com o objetivo de calibração e verificação da viabilidade da metodologia. 4.5 MÉTODO 4.5.1 Avaliação da contração linear 4.5.1.1 Confecção dos corpos de prova As resinas compostas foram aplicadas em um molde circular metálico polido (fae 1045) com diâmetro interno de 7mm e altura de 2mm. Essas medidas foram baseadas no diâmetro da ponta do aparelho fotopolimerizador e na profundidade padrão de polimerização das resinas compostas. A matriz foi colocada sobre uma placa de vidro (15 x 2 x 7.5 cm), tendo interposta entre elas uma tira de poliéster. A cavidade foi preenchida com a resina composta com auxilio de uma espátula para inserção de compósitos (Duflex n.o 2, SS White) realizando movimentos de compactação (figura 4). Sobre o corpo de prova uma outra tira de poliéster e uma lâmina de vidro utilizada para microscopia (75 mm x 50 mm x 1 mm) foram posicionadas. Realizou-se uma leve pressão digital sobre a lâmina de vidro por 30 segundos, de maneira que houvesse a acomodação do compósito no interior do molde metálico, assim como, a obtenção de uma superfície plana (figura 5). Em seguida a resina composta foi fotoativada por 40 segundos, colocando o centro da ponta do aparelho fotoativador no centro do corpo de prova. Utilizou-se um aparelho com lâmpada halógena (Optilight plus/ Gnatus, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil), e potência aferida de no mínimo 500mW/cm2, avaliada com um radiômetro (Gnatus, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil) antes da confecção de cada corpo de prova (figura 6). A superfície inferior dos corpos de prova foi identificada com caneta para retroprojetor (PILOTO). Oito corpos de prova foram confeccionados para cada grupo. Figura 4. Preenchimento da matriz com espátula para inserção de compósito. Figura 5. Pressão digital sobre o conjunto matriz/ tira de poliéster/ lâmina de vidro. 2 Figura 6. Verificação da potência mínima de 500mW/cm no radiômetro e fotopolimerização da resina composta por 40 segundos. Quinze minutos após a fotoativação, os corpos de prova tiveram suas superfícies polidas com lixas d’água umedecidas em gramatura decrescente (320, 600 e 1200 – figuras 7 e 8), e, em seguida, levados a uma cuba de ultra-som (lavadora ultrasônica Biowash/ Bioart equipamentos odontológicos, São Carlos, São Paulo, Brasil) por 2 minutos, para eliminar os resíduos de lixa e restos de resina composta (figura 9). Os locais a serem aferidos foram demarcados na superfície superior do corpo de prova com uma caneta para retroprojetor (PILOTO 0.5mm) em quatro pontos localizados nas posições correspondentes a 3, 6, 9 e 12 horas de um relógio (figura 10) (OBICI; SINHORETI; GÓES; CONSANI; SOBRINHO, 2002). Os corpos de prova foram armazenados em um recipiente plástico escuro com sua tampa bem fechada em uma estufa (estufa de cultura modelo 002CB/ Fanem ltda, São Paulo, Brasil) a 37°C, por 24 + 1 hora (figura 11). Figura 7. Polimento dos corpos de prova, primeiro superfície inferior seguida da superfície superior. Figura 8. Corpos de prova polidos e com suas respectivas identificações na superfície inferior. Figura 9. Corpos de prova em cuba ultra-sônica para a remoção dos detritos de resina e lixa. Figura 10. Marcação dos quatro pontos a serem aferidos na superfície superior do corpo de prova, assim como a identificação do número do espécime (. ponto 1, .. ponto 2, ._ ponto 3, . ponto 4). Figura 11. Armazenamento dos corpos de prova em recipiente escuro e com tampa. 4.4.1.2 Preparo dos espécimes para avaliação da contração de polimerização linear em Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Os espécimes foram montados em stubs (figura 12), e em seguida, metalizados (Sputter coater SCD 050 Bal-Tec, Schaan, Liechtenstein – figura 13). As imagens da interface matriz-compósito foram obtidas nos pontos previamente demarcados por meio de Microscopia Eletrônica de Varredura (JEOL JSM-6360 Scanning Electron Microscope, Japão) com 1500X de aumento, localizado no laboratório de materiais do Instituto Tecnológico de Pernambuco – ITEP (figura 14). Figura 12. Corpo de prova montado em stub e adaptado no suporte para stub para ser metalizado. Figura 13. Máquina de metalização sputter coater. Figura 14. Microscópio Eletrônico de Varredura. Adaptação do porta amostra no MEV. 4.4.1.3 Mensuração das fendas nas imagens obtidas através da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) Obtidas as imagens referentes aos quatro pontos previamente demarcados nos corpos de prova, procederam-se as mensurações, em micrometros, das fendas resultantes da contração de polimerização. Para isto utilizou-se o programa de processamento e análise de imagens ImageJ (Image Processing and Analysis in Java – RASBAND, 2006/ figura 15). Para se realizar a mensuração utilizando o ImageJ, inicialmente foi necessário uma calibração inicial de cada imagem obtida, de maneira que o programa identificasse a escala que seria utilizada (figura 16). Esta foi realizada tomando-se como base a barra de referência que a imagem do MEV fornece, isto é, ao medirmos a barra de referência fornecida pela imagem do MEV, o programa identifica tal medida em pixels e o operador em seguida calibra aquela distância de acordo com os valores conhecidos, dados pela microscopia (figura 17). Uma vez calibrada a imagem, procedeu-se à mensuração das fendas na interface matriz-compósito, procurando sempre o local mais centralizado possível e observando a formação de ângulos retos das superfícies da matriz e do compósito com a reta medição (figuras 18 e 19). Obtidos os valores referentes aos quatro pontos do corpo prova, calculou-se a média aritmética das fendas para cada corpo de prova. MATRIZ COMPÓSITO Figura 15. Imagem obtida em MEV. Barra de ferramentas do ImageJ. Figura 16. Calibração. 1 (seta) - Marcação da barra de referência fornecida pela imagem obtida em MEV. 2 – Definição da escala. Figura 17. Definição da escala. O programa mede o comprimento da barrinha em pixels (152.000) e em Known Distance, digita-se o tamanho da barra de referência fornecida pelo MEV. Em seguida digita-se a unidade de medida. Figura 18. Mensuração da fenda propriamente dita. Observar a centralização da mensuração, assim como o ângulo formado entre a reta e as superfícies do compósito e da matriz (90º). Figura 19. Mensuração realizada em micrometros (length). 4.4.2 Avaliação da Resistência flexural e Módulo de elasticidade 4.4.2.1 Confecção dos corpos de prova Os corpos de prova foram confeccionados em forma de barra com dimensões de 25 x 2 x 2 mm, de acordo com as especificações da ISO 4049. Estes foram obtidos a partir de uma matriz metálica composta por uma lâmina bipartida de aço inoxidável, a qual, encaixada, resulta em uma cavidade com as dimensões descritas acima. Previamente à introdução da resina, uma tira de poliéster foi adaptada sob a lâmina de aço bipartida, de modo a facilitar a remoção do corpo de prova (figura 20). O material restaurador foi inserido na cavidade realizando-se movimentos de compactação, com auxílio de uma espátula para inserção de compósitos (Duflex n.o 1, SS White), até o preenchimento com o mínimo de excesso, sobre o qual outra tira de poliéster e uma lâmina de vidro utilizada para microscopia foram posicionadas, pressionando o material (pressão digital) por 30 segundos, de modo a assegurar uma condensação consistente e reprodutível dos espécimes no interior do molde metálico (figuras 21 e 22). Para cada grupo, foram confeccionados 10 corpos de prova. A B Figura 20. (A) Posicionamento da tira de poliéster sobre a placa de vidro. (B) Matriz bipartida para confecção dos corpos de prova. (C) Matriz encaixada e posicionada sobre o conjunto placa de vidro/ tira de poliéster. C Figura 21. Inserção do compósito com espátula (Duflex n.1/ SS White). Figura 22. Adaptação de uma outra tira de poliéster e de uma lâmina de vidro para microscopia sobre a matriz, seguida da leve pressão digital por 30s. A fotopolimerização da resina composta foi realizada com luz halógena com potência aferida de no mínimo 500 mW/cm² (Optilight plus/ Gnatus). A intensidade do aparelho fotopolimerizador foi mensurada antes da confecção de cada corpo de prova com um radiômetro (Gnatus). Inicialmente, foi fotopolimerizado a região central do espécime por 40 segundos aplicando a ponta do aparelho fotopolimerizador no centro do molde e, em seguida duas fotopolimerizações adicionais foram realizadas, uma de cada lado, sobrepondo a área central já polimerizada, de maneira que toda a extensão da barra estivesse polimerizada. O mesmo procedimento também foi realizado na superfície inferior da matriz (figura 23). Figura 23. Fotpolimerização por 40 segundos. Inicialmente no centro do corpo de prova e depois para os lados, sendo o procedimento repetido na superfície inferior do corpo de prova. A B Figura 24. (A) Corpo de prova após a remoção da matriz. (B) Remoção das rebarbas de resina com lixa d’água #320 umedecida. 4.4.2.2 Armazenamento dos corpos de prova Determinadas as dimensões dos corpos de prova, estes foram acondicionados em um recipiente escuro e com tampa contendo água destilada a 37°C, por 24 + 1 hora. 4.4.2.3 Análise da resistência à flexão Foi realizado o teste de flexão em três pontos, para o cálculo da resistência flexural e do módulo de elasticidade. A barra retangular foi posicionada, de forma centralizada, em cima de dois apoios de seção circular de 2 mm de diâmetro montados paralelamente com 20 mm de distância entre seus centros. Os corpos de prova foram submetidos a cargas na máquina universal de ensaios mecânicos Kratos (Kratos Dinanômetros, São Paulo, Brasil), com uma velocidade de aplicação de carga de 0,5 mm/ minuto no centro do corpo de prova. Para a incidência da força, foi utilizada uma ponta cônica com seção circular de 2 mm (figura 25). A força máxima necessária para fraturar o corpo de prova foi registrada em software especifico, sendo seu valores expressos em Newtons (figura 26). A B Figura 25. (A) Máquina de ensaios mecânicos KRATOS com o dispositivo para a realização do teste de resistência flexural acoplado. (B) Teste de resistência flexural em andamento. Figura 26. Corpo de prova fraturado. 4.4.2.4 Cálculo da Resistência flexural e Módulo de elasticidade Para o cálculo da resistência flexural e do módulo de elasticidade, os dados obtidos pelo teste de resistência flexural foram digitados em planilha Excel. O cálculo da resistência flexural (σ) foi realizado de acordo com a fórmula abaixo: σ= 3 Fmax D 2 b h2 Onde Fmax, corresponde a força máxima necessária para fraturar o corpo de prova em newtons; D, é a distância entre os suportes em milímetros; b, é a espessura do corpo de prova em milímetros e h é a altura do corpo de prova também em milímetros. A carga e a deflexão correspondente foram gravadas e usadas para calcular o módulo de elasticidade (E) dos compósitos de acordo com a fórmula abaixo: E= FD 3 X -3 10 3 4bh d Onde F, corresponde à carga (tensão) em Newtons registrada em qualquer ponto do gráfico tensão x deformação obtido pelo teste de resistência flexural, enquanto a deformação ainda é proporcional à tensão aplicada; D, é a distância entre os suportes em milímetros; b, é a largura do corpo de prova em milímetros; h é a altura do corpo de prova também em milímetros e d, corresponde à deflexão (deformação) do espécime em milímetros quando registrada a força F; 4.5 MÉTODO ESTATÍSTICO Para a análise dos dados foram obtidas as medidas estatísticas: média, desvio padrão, coeficiente de variação, valor mínimo e valor máximo (técnicas de estatística descritiva) e utilizado os teste F (ANOVA para um fator), o teste de comparações pareadas o teste de Tukey e o teste t-Student para a hipótese de correlação nula. As hipóteses utilizadas foram: H0: Não existe diferença significante entre os grupos; H1: Existe pelo um dos grupos que difere dos demais. O nível de significância utilizado na decisão dos testes estatísticos foi de 5% (0,05). Os dados foram digitados na planilha Excel e o software utilizado para a obtenção dos cálculos estatísticos foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 11. 5 RESULTADOS 5 RESULTADOS A tabela 1 apresenta as estatísticas da contração linear segundo o grupo e os resultados comparativos entre os grupos. Desta tabela constata-se que: a média da contração linear foi mais elevada no grupo da resina TPH Spectrum (29,45 µm) seguido da resina TPH 3 (19,76 µm), sendo menos elevada no grupo Filtek Z250 (12,89 µm); a variabilidade expressa através do coeficiente de variação não se mostrou elevada desde que esta medida foi de no máximo 31,82%. Através do valor p obtido pelo teste F (ANOVA) rejeita-se a hipótese de igualdade entre as médias dos grupos, ou seja, existe pelo menos um dos grupos que difere dos demais. Pelos testes de comparações pareadas de Tukey, ao nível de 5,0% (p < 0,05), comprovou-se diferença significante entre o grupo TPH Spectrum com cada um dos grupos conforme pode ser verificado através de letras distintas colocadas entre parêntesis. Tabela 1 – Análise estatística da contração linear por grupo. Grupo Média (2) Desvio Padrão (2) Coeficiente Variação (%) Mínimo(2) Máximo (2) Filtek Z350 Filtek Z250 Grandio Polofil Supra Esthet-X TPH 3 TPH Spectrum 15,76 (B) 12,89 (B) 16,12 (B) 16,78 (B) 16,86 (B) 19,76 (B) 29,45 (A) 2,61 3,53 3,32 3,91 5,36 6,06 8,48 16,55 27,36 20,57 23,32 31,82 30,65 28,65 12,18 7,69 11,58 11,62 9,73 13,93 16,02 19,49 18,80 19,62 22,36 28,21 32,46 38,25 Valor p p (1) < 0,00001* (1) – Através do teste F (ANOVA); (2) – Medidas em µm; (*) – Diferença significante ao nível de 5,0%. Obs: Se as letras entre parêntesis relativas a dois grupos forem distintas comprova-se diferença significante entre os respectivos grupos. Média da Contração Linear (micrômetros) 35 30 29,45 (A) 25 19,76 (B) 20 16,86 (B) 16,78 (B) 16,12 (B) 15,76 (B) 15 12,89 (B) 10 5 0 TPH Spectrum TPH 3 Esthet-X Polofil Supra Grandio Filtek Z350 Filtek Z250 Gráfico 1 – Médias da contração linear por grupo (µm). A Tabela 2 mostra que: a média da resistência flexural variou de 117,42 MPa (Polofil Supra) a 141,07 MPa (Grandio), existindo diferença significante ao nível de 5,0% entre esses grupos; a variabilidade expressa pelo coeficiente de variação se mostrou reduzida desde que à referida medida foi de no máximo igual a 21,31%. Tabela 2 – Análise estatística da resistência flexural por grupo. Grupo Filtek Z350 Filtek Z250 Grandio Polofil Supra Esthet-X TPH 3 TPH Spectrum Valor p Média (2) Desvio padrão (2) Coeficiente Variação (%) Mínimo(2) Máximo (2) 130,44 (AB) 129,80 (AB) 141,07 (A) 117,42 (B) 120,87 (AB) 124,63 (AB) 136,64 (AB) 11,49 27,66 12,98 21,70 5,17 9,88 11,48 8,81 21,31 9,20 18,48 4,28 7,93 8,40 113,33 79,76 128,39 87,11 111,73 111,86 116,76 144,98 162,80 164,38 151,77 130,02 140,48 157,98 p (1) = 0,0188* (1) – Através do teste F (ANOVA); (2) – Medidas em MPa; (*) – Diferença significante ao nível de 5,0%. Obs: Se as letras entre parêntesis relativas a dois grupos forem distintas comprova-se diferença significante entre os respectivos grupos. Média da Resistência flexural (Gpa) 160 141,07 (A) 140 136,64 (AB) 130,44 (AB) 129,80 (AB) 124,63 (AB) 120,87 (AB) 120 117,42 (B) 100 80 60 40 20 0 Grandio TPH Spectrum Filtek Z350 Filtek Z250 TPH 3 Esthet-X Polofil Supra Gráfico 2 – Médias da resistência flexural por grupo (MPa). Da Tabela 3 pode-se observar as estatísticas do módulo da elasticidade segundo o grupo. Desta tabela verifica-se que: a média variou de 7,41 GPa (no grupo Esthet-X) a 13,91 GPa (no grupo Grandio); a variabilidade expressa através do coeficiente de variação foi reduzida desde que à referida medida foi de no máximo 15,52%. Comprova-se que existe pelo menos um dos grupos que difere dos demais (p < 0,05) e através dos testes de comparações pareadas de Tukey comprova-se diferença significante entre o grupo Grandio com todos os grupos e entre os grupos TPH Spectrum e Esthet-X. Tabela 3 – Análise estatística do módulo da elasticidade por grupo. Grupo Média (1) Desvio Padrão (1) Coeficiente Variação (%) Mínimo(1) Máximo (1) Filtek Z350 Filtek Z250 Grandio Polofil Supra Esthet-X TPH 3 TPH Spectrum 8,82 (BC) 8,73 (BC) 13,91 (A) 8,28 (BC) 7,41 (C) 8,01 (BC) 9,09 (B) 1,17 0,64 1,81 0,53 1,15 0,98 0,54 13,24 7,28 12,98 6,41 15,52 12,24 5,98 7,10 7,51 10,80 7,32 5,10 6,07 7,82 10,29 9,58 16,92 9,12 8,46 9,44 9,76 Valor p p (1) < 0,0001* (1) – Através do teste F (ANOVA); (2) – Medidas em Gpa; (*) – Diferença significante ao nível de 5,0%. Obs: Se as letras entre parêntesis relativas a dois grupos forem distintas comprova-se diferença significante entre os respectivos grupos. Média do Módulo de Elasticidade (Gpa) 16 14 13,91 (A) 12 10 9,09 (B) 8,82 (BC) 8,73 (BC) 8,28 (BC) 8,01 (BC) 8 7,41 (C) 6 4 2 0 Grandio TPH Spectrum Filtek Z350 Filtek Z250 Gráfico 3 – Médias do módulo da elasticidade por grupo (GPa). Polofil Supra TPH 3 Esthet-X 6 DISCUSSÃO 6 DISCUSSÃO Os resultados obtidos para o teste da contração de polimerização linear neste trabalho apresentaram a seguinte ordem crescente: Filtek Z250 = Filtek Z350 = Grandio = Polofil Supra = Esthet-X = TPH 3 < TPH Spectrum Estes resultados mostraram que a resina TPH Spectrum apresentou a maior contração (29.45µm), sendo este valor estatisticamente significante (p=0,00001). Também foi possível observar uma tendência para uma menor contração linear da resina Filtek Z250 (12.09µm). Ressalta-se que os grupos que obtiveram os menores valores de contração linear (Filtek Z250=12,09µm, Filtek Z350=15,76µm e Grandio=16,12µm), também foram os que apresentam os maiores percentuais de partículas de carga em peso/ volume (82/60%, 78.5/59,5% e 87/71,4%, respectivamente). A maior contração observada no grupo TPH Spectrum pode ser atribuída a sua composição. Este compósito apresenta um percentual em peso de partículas de carga de 77,5%, e, de acordo com os dados de Walker et al. (2006), um percentual em volume de 57,1%. Este último apresenta o menor percentual de partículas de carga em volume dentre as resinas estudadas que apresentam dados disponíveis, visto que, o fabricante Dentsply não disponibiliza essas informações. De acordo com Adabo (2000), a forma das partículas também pode influenciar a contração de polimerização, sendo possível que esta seja mais acentuada para as resinas com partículas de forma irregular devido a menor interação existente entre elas. Sabbagh (2004) ao analisar a forma das partículas de carga observou que as resinas do fabricante 3M/ESPE (Z100, Filtek Z250, Filtek P60 e Filtek flow) possuem partículas de cargas esféricas e que a resina TPH Spectrum apresenta partículas irregulares. Para Kaufman (1994) a tecnologia de produção das partículas de zircônio/sílica presentes nas resinas Filtek Z250 e Filtek Z350 traz uma série de vantagens. A microestrutura da partícula tende a absorver energia e dificultar a propagação de fratura, assim como suas características químicas permitem eficiente acoplamento do sistema de cobertura (silano) melhorando a união matriz-carga. A larga e homogênea distribuição por tamanho permitem maior incorporação de carga. Ao contrário, materiais com distribuição bimodal, que combinam partículas de vidro de bário e sílica amorfa, extremamente fina, tendem a ser mais pegajosos e difíceis de manipular devido aos grandes vazios entre as partículas. Além disso, a forma esférica das partículas, por permitir um maior deslizamento das partículas, favorece a formulação de materiais com elevada concentração de carga inorgânica sem o sacrifício da facilidade de manipulação. Partículas esféricas ainda aumentam a resistência ao desgaste e à fratura, uma vez que na ausência de ângulos e protuberâncias não há a concentração de tensões mecânicas. (BEUN, GLORIEUX, DEVAUX, VREVEN, LELOUP, 2007) Todavia, as avaliações por si só da concentração e da forma das partículas de carga não explicam o por quê dos nossos achados. A composição monomérica da resina TPH Spectrum é constituída apenas pelo BisGMA uretano modificado. Este monômero correponde a uma molécula de BisGMA com ligações uretano, que tendem a diminuir a viscosidade do BisGMA, aumentando a mobilidade das suas moléculas durante a polimerização da matriz orgânica (OBICI; SINHORETI; GÓES; CONSANI; SOBRINHO, 2002), possivelmente aumentando o grau de conversão, e levando a uma maior contração de polimerização. No entanto, testes específicos (espectrometria de Raman, espectroscopia infravermelha, entre outros) devem ser realizados para comprovar esta hipótese. As resinas Filtek Z250 e Filtek Z350 apresentam como sistema de monômeros o BisGMA, o UDMA, o BisEMA, todos de alto peso molecular, conseqüentemente com viscosidades relativamente altas e, portanto, menores valores de contração de polimerização. O BisEMA corresponde a uma molécula de BisGMA sem a presença das hidroxilas. A resina Filtek Z350 além dos 3 monômeros de base ainda apresenta o monômero diluente TEGDMA, provavelmente pelo fato deste ser um compósito nanoparticulado, necessitando de uma maior diluição dos monômeros de base para a incorporação das partículas de carga sem no entanto, alterar a viscosidade do compósito. Contudo, a incorporação deste monômero diluente parece não ter influenciado um aumento da contração de polimerização, ou ainda, a presença de uma pequena concentração deste monômero provavelmente não favoreceu um aumento da contração de polimerização. Quanto à resistência flexural os resultados por nós obtidos apresentaram a seguinte ordem crescente: Polofil Supra, Esthet-X = TPH 3 = Filtek Z250 = Filtek Z350 = TPH Spectrum, Grandio Esses resultados apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p=0,0188) entre os grupos Grandio (141,07 MPa) e Polofil Supra (117,42 MPa). Apesar dos dois compósitos serem do mesmo fabricante (VOCO), eles apresentam composições químicas diferentes, não só referentes ao tamanho das partículas de carga, mas também, quanto aos monômeros utilizados. Enquanto que a resina Grandio apresenta como sistema monomérico o BisGMA e o TEDMA, a resina Polofil Supra apresenta além desses dois monômeros, o monômero UDMA. Porém, ao estudar a influência da composição monomérica nas propriedades mecânicas das resinas, Asmussen e Peutzfeldt (1998), afirmaram que a resistência flexural aumentou quando BisGMA ou o TEGDMA foi substituído por UDMA. Entretanto quando o BisGMA foi substituído pelo TEGDMA, houve uma redução da resistência flexural, mostrando que o grau de conversão não necessariamente apresenta uma correlação positiva com todas as propriedades mecânicas. Entretanto, este seria um fator isolado para explicar estes resultados, uma vez que, outros fatores tais como o conteúdo e a forma das partículas de carga, a quantidade de iniciadores e a silanização também contribui para o desenvolvimento de propriedades físicas e mecânicas. Os altos valores de resistência flexural obtidos pela resina Grandio, podem ser explicados pelo fato de que esta resina, dentre as aqui estudadas, apresenta a maior concentração de partículas de carga. Este maior percentual de partículas inorgânicas favorece o desenvolvimento de propriedades mecânicas como a resistência à compressão, a dureza, a resistência flexural e o módulo de elasticidade, além de se diminuir a contração de polimerização (BEUN, GLORIEUX, DEVAUX, VREVEN, LELOUP, 2007). Esta relação direta entre a concentração de partículas de carga e resistência flexural não foi evidenciada por Adabo em 2000. A utilização de uma metodologia padronizada baseada nas especificações da ISO 4049 tem como objetivo permitir a comparação entre os estudos que utilizam o mesmo protocolo. Porém, mesmo se empregando metodologias padronizadas, dados das propriedades flexurais previamente publicados apresentam uma grande variação. Esta variedade nos dados não são de surpreender, tendo em vista a presença de algumas variáveis que influenciam os resultados obtidos, como por exemplo, o tempo total de exposição, a intensidade de luz a ser utilizada, e até mesmo a utilização de câmaras de polimerização ao invés de aparelhos fotopolimerizadores convencionais. Mais ainda, as limitações ainda existem quando se tenta extrapolar os resultados in vitro para o desempenho clínico do material. Isto porque, as especificações da ISO 4049 para o teste de resistência flexural, recomendam a imersão dos corpos de prova por apenas 24 horas antes da realização do ensaio, além de se realizar apenas um ciclo de carga antes de submetê-los à fratura, o que de fato não reflete o desempenho a longo prazo dos materiais. Mesmo assim, o teste de resistência flexural em três pontos descrito pela ISO 4049, é atualmente considerado como o teste padrão. (WALKER, HAJ-ALI, WANG, HUNZIKER, WILLIAMS, 2006) Os resultados obtidos quanto ao módulo de elasticidade apresentaram a seguinte ordem crescente de: Esthet-X, TPH 3 = Polofil Supra = Filtek Z250 = Filtek Z350, TPH Spectrum > Grandio Estes resultados, mostram que houve diferenças estatisticamente significantes entre os grupos estudados sendo o menor valor encontrado para o grupo Esthet-X (7,41 GPa) e o maior valor encontrado para o grupo Grandio (13,91 GPa). Diferenças significantes foram encontradas entre os grupos Grandio com todos os outros grupos e entre os grupos TPH Spectrum (9,09 GPa) e Esthet-X. Novamente, o alto percentual de carga apresentado pela resina Grandio (87% em peso e 71,4% em volume), pode vir a explicar os resultados por nós encontrados. Estes estão de acordo com os trabalhos de Mesquita, Axmann e GeisGerstorfer (2006), onde compósitos com maior percentual de partículas inorgânicas por peso apresentaram alto módulo de elasticidade, sendo a resina Grandio a que apresentou o maior módulo de elasticidade, coincidindo ainda com o trabalho de Beun, Glorieux, Devaux, Vreven e Leloup (2007). Apesar do módulo de elasticidade apresentar uma íntima relação com o conteúdo de carga como acima descrito, a composição da matriz orgânica também apresenta influência nesta propriedade. Isto pode ser observado pelas diferenças nos resultados entre as resinas do mesmo fabricante (Dentsply) Esthet-X e TPH Spectrum. Estes compósitos diferem nas suas composições basicamente quanto ao tamanho das partículas de carga (Esthet-X = 0,01-0,08µm; TPH Spectrum = 0,04µm5µm) e quanto à composição de suas matrizes orgânicas. Apesar das diferenças em tamanho, os percentuais e os tipos de partículas de carga são bastante semelhantes, o que nos leva a concluir que, as diferenças nas composições das matrizes orgânicas foram responsáveis por valores de módulos de elasticidade tão discrepantes. Enquanto que a resina TPH Spectrum é composta apenas pelo BisGMA uretano modificado, a Esthet-X apresenta além desse monômero os monômeros BisEMA e TEGDMA. Os baixos valores encontrados para a resina Esthet-X podem ser atribuídos à presença do monômero diluente TEGDMA, visto que este tende a provocar uma diminuição da rigidez da cadeia polimérica, e conseqüentemente do módulo de elasticidade. Quanto à influência da composição monomérica, Asmussen e Peutzfeldt (1998) perceberam um aumento moderado do módulo de elasticidade quando o BisGMA foi substituído pelo TEGDMA em baixas concentrações, seguido de um declínio significante à medida em que se aumentou a concentração de TEGDMA. Para Floyd e Dickens (2005), a baixa resistência das resinas ricas em TEGDMA pode ser causada pela tendência que possui este monômero pequeno e flexível de formar anéis aromáticos (ciclalização), ao invés da formação de ligações cruzadas. As ligações duplas pendentes reagem para formar ciclos primários, que aumentam o grau de conversão, porém não contribuem para a formação da cadeia polimérica. A formação das ligações cruzadas é muito importante para a formação de uma boa cadeia polimérica e, conseqüentemente, boas propriedades mecânicas. A correlação entre os dados obtidos pela contração de polimerização linear e o módulo de elasticidade é de fundamental importância para se entender, em parte, o comportamento dos compósitos durante a reação de polimerização. Compósitos com uma baixa contração de polimerização linear, porém associados a altos módulos de elasticidade (neste caso, a resina Grandio), embora, ocasionem a formação de fendas pequenas tenderão a ocasionar uma contração rígida, ou seja, o desenvolvimento de fortes tensões na interface adesiva resultante da contração que ocorre durante a sua polimerização. Isto porque, sua alta rigidez dificultará o alívio das tensões através da deformação plástica. Mais ainda, compósitos com alta contração de polimerização linear e alto módulo de elasticidade (neste caso, a resina TPH Spectrum) terão efeitos ainda piores para a interface dente-restauração, superando a resistência de união dos sistemas adesivos e podendo provocar linhas de fratura no esmalte localizado nas margens das restaurações e, mais raramente, até fraturas de cúspides enfraquecidas por preparos. Os resultados apresentados por Pereira (2005) expressam exatamente a influência do módulo de elasticidade da resina composta sobre as tensões geradas durante a sua contração linear, explicando que essas tensões são resultantes do produto da contração linear pelo módulo de elasticidade. É interessante notar que em todos os testes por nós realizados as resinas Filtek Z350 e Filtek Z250 obtiveram comportamentos semelhantes, com resultados sempre aproximados apresentando apenas diferenças numéricas. Estes resultados confirmam os achados de Beun, Glorieux, Devaux, Vreven e Leloup (2007), quando afirmaram que os compósitos nanopartículados possuem comportamentos semelhantes aos dos compósitos universais (híbridos). Dependendo da intenção de uso, resinas compostas com diferentes propriedades mecânicas podem ser desejadas. Sem dúvida alguma, para algumas ocasiões os materiais devem ser duros e resistentes, enquanto que em outras situações a flexibilidade do material é mais importante e a resistência não é um fator crítico, e ainda em outras situações a rigidez ou resiliência podem ser as propriedades de interesse (ASMUSSEN; PEUTZFELDT, 1998). Portanto, vê-se que o estudo e o entendimento das propriedades físicas e mecânicas das resinas compostas além de ser bastante amplo apresenta-se relacionado a diversas variáveis, as quais o clínico deve estar sempre atento. 7 CONCLUSÕES 7 CONCLUSÕES 1. A resina TPH Spectrum apresentou a maior contração de polimerização, seguido dos grupos TPH 3, Esthet-X, Polofil Supra, Grandio, Filtek Z 350 e Filtek Z 250, havendo diferenças estatisticamente significantes entre o grupo TPH Spectrum com todos os outros grupos. 2. A resina Grandio apresentou os maiores valores de resistência flexural, seguido das resinas TPH Spectrum, Filtek Z350, Filtek Z250, TPH 3, Esthet-X e Polofil Supra. Estes valores apresentaram diferenças estatisticamente significantes apenas entre os grupos da resina Grandio e Polofil Supra. 3. A resina Grandio apresentou os maiores valores de módulo de elasticidade, seguido das resinas TPH Spectrum, Filtek Z350, Filtek Z250, Polofil Supra, TPH 3 e Esthet-X. Estes valores apresentaram diferenças estatisticamente significantes entre o grupo da resina Grandio com todos os grupos e entre os grupos TPH Spectrum e Esthet-X. 4. A relação contração de polimerização e módulo de elasticidade sugere que, compósitos que apresentam baixa contração de polimerização associada a altos módulos de elasticidade, como é o caso da resina Grandio, tenderão a formação de fortes tensões na interface de união decorrentes da contração rígida. Ademais, resinas que apresentam alto módulo de elasticidade e alta contração de polimerização, como é o caso da resina TPH Spectrum, produzirão maiores tensões de contração, colocando em risco a integridade da interface de união. REFERÊNCIAS REFERÊNCIAS ADABO, G. L. Estudo do conteúdo de partículas inorgânicas, da contração de polimerização e da resistência à flexão de materiais restauradores estéticos diretos indicados para dentes posteriores. 2000. Tese (título de livre-docente) – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita filho/ Araraquara. ASMUSSEN, E; PEUTZFELDT, A. Influence of UEDMA, BisGMA and TEGDMA on selected mechanical properties of experimental resin composites. 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Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo