1 RELATÓRIO CASA DAS CORES 2011 RELATÓRIO DE ATIVIDADES - Pag. 3 RELATÓRIO DE CONTAS - Pag. 28 PROJETOS PARA 2012 - Pag. 30 2 RELATÓRIO DE ACTIVIDADES INTRODUÇÃO O ano de 2011 foi marcado pela manutenção do grupo de crianças que finalizou o ano de 2010, com exceção de apenas uma, que reintegrou o contexto familiar de origem, dando lugar a um novo acolhimento. Mais uma vez somos levados a refletir acerca do período de permanência das crianças em Centro de Acolhimento Temporário, (muito) para além do previsto na lei. Atualmente, há crianças acolhidas desde a abertura da Casa das Cores em Maio de 2009 (portanto, há dois anos e 7 meses, com referência a 31 de Dezembro de 2011), mais precisamente 5. Outra criança, apesar de estar acolhida na Casa das Cores há menos tempo, já o havia estado em outra instituição, o que em termos de permanência equivale ao tempo do grupo anterior. Relativamente às restantes crianças acolhidas (6), com exceção da que entrou mais recentemente, há cerca de 3 meses, o tempo de permanência varia entre o 1 ano e 3 meses e os 2 anos e 3 meses. Estamos em crer que os problemas sistémicos já referidos em relatórios anteriores se estão a acentuar em virtude da situação de instabilidade económica e social que o país atravessa. A falta de recursos para um acompanhamento mais especializado de famílias em situação de vulnerabilidade social, ao nível de equipas com formação em intervenção sistémica e familiar, em particular dirigida a famílias multidesafiadas; a dificuldade de articulação com entidades com responsabilidade em matéria de infância e juventude; a demora dos processos judiciais; a diminuição dos apoios económicos e de oportunidades de emprego, que mantêm ou aumentam as dificuldades de sustentabilidade dos agregados; a “ausência” de famílias interessadas em adotar crianças mais velhas, crianças com ou sem problemáticas associadas, são apenas alguns dos desafios que exigem uma atenção particular por parte de quem intervém, decide e legisla em Portugal. Apesar de conscientes da realidade atual, continuamos movidos pela vontade de inovar na área do acolhimento institucional e adotar estratégias que ajudem a minorar o impacto do tempo e condições de acolhimento no desenvolvimento global das crianças. Como tal, para além dos projetos que já vamos concretizando desde a abertura da Casa das Cores, temos já elaborado um novo projeto, que visa 3 a implementação de uma metodologia de intervenção terapêutica com pais e crianças acolhidas, no sentido de melhorar a dinâmica de interação, geralmente muito perturbada e condicionadora de um desenvolvimento pessoal, cognitivo e social adequado das crianças. Uma motivação permanente só possível pelo contacto com crianças que nos desafiam a fazer mais e melhor, que reforçam a nossa realização enquanto profissionais e que nos transformam constantemente como pessoas. Apesar da frustração por vezes elevada de não podermos retribuir o tanto que nos dão e nos enriquece, e retribuir não pode ser menos do que conseguir a sua desinstitucionalização e a continuação do seu desenvolvimento no seio de uma família que neles invista emocionalmente de forma incondicional, vamos procurando ajudar a criar algumas condições que permitam a sua integração social, a aquisição de competências de (sobre)vivência, a reparação das feridas físicas e emocionais e a aquisição da noção de que uma relação afetiva ou amorosa não é agressiva, violenta, humilhante… OBJECTIVOS DA INTERVENÇÃO OBJETIVO GERAL 1. Acolher crianças em situações de risco ou perigo eminente, proporcionando‑lhes um contexto de vida o mais próximo possível da estrutura familiar, garantindo o seu bem-estar e desenvolvimento global e uma adequada inserção familiar e comunitária. Objetivo Específico 1.1: Elaborar projetos de vida adequados a cada criança, em articulação com os técnicos e serviços que acompanham a situação familiar, com a participação ativa dos menores e famílias, respeitando a sua individualidade e privacidade. Avaliação Diagnóstica Das 13 crianças que no ano de 2011 estiveram acolhidas na Casa das Cores, 12 entraram em anos anteriores, com a seguinte distribuição: Ano de Acolhimento Nº de crianças 2009 2010 2011 Total 6 6 1 13 Passamos a efetuar uma resumida caracterização sociodemográfica da população 4 de crianças acolhidas: Idade: Idade 3 4 5 7 9 10 11 12 Total Nº de crianças 1 1 3 1 1 4 1 1 13 Género: Masculino Feminino Total 6 7 13 Escolaridade Jardim de Infância 1º ciclo do EB Equipamento Ensino Especial Total 4 8 1 13 A criança que recebemos em 2011 ocupou o lugar de uma outra reintegrada no contexto familiar, cujo acolhimento ocorreu durante o ano de 2010. Assim, é possível verificar que a média de tempo de acolhimento é atualmente de cerca de dezanove meses, claramente superior ao previsto na Lei de Proteção de Crianças e Jovens, ou seja, entre 6 a 12 meses. Das 12 crianças que se mantinham acolhidas no final do ano de 2011, 2 têm aplicada medida de confiança a instituição com vista à adoção (encontram-se a aguardar integração em família adotiva), 3 têm medida de acolhimento de longa duração e 7 medidas de curta duração. Das 7 crianças com medida aplicada de curta de duração, 1 tem proposta de Projeto de Vida de Adoção, 1 deverá ser em breve reintegrada na sua família nuclear e em 5 das crianças continua a decorrer o processo de avaliação da sua situação familiar. Relativamente às 3 crianças com medida de acolhimento de longa duração, em duas delas, irmãs, foi proposto ao Tribunal a sua permanência na Casa das Cores de forma a podermos explorar uma possibilidade de Tutela para uma das crianças, 5 junto de uma família da sua referência. A 3ª criança já entrou na Casa das Cores com uma medida aplicada pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de 1 ano, com a ressalva de que, não sendo uma medida de curta duração, os períodos de avaliação seriam semelhantes e que a haver alterações que justificassem, a mesma poderia ser alterada. Assim, com exceção das 2 crianças com medida de adoção aplicada, e da criança que em breve reintegrará o agregado familiar, continuamos a explorar para as restantes as possibilidades de retorno ao contexto familiar de origem ou, no caso de este projeto de vida não ser viável, outras alternativas em meio natural de vida, sendo a institucionalização prolongada a última alternativa proposta. Tendo em conta o anteriormente referido, passamos a enunciar alguns dos constrangimentos que continuamos a sentir e que condicionam uma célere definição/ concretização do projeto de vida das crianças: - Complexidade das problemáticas familiares e escassez de recursos comunitários que possibilitem uma resposta mais adequada dos mesmos; - Poucas equipas especializadas na intervenção com famílias multidesafiadas / problemáticas e crianças e jovens em risco/perigo, que possam desenvolver um trabalho de proximidade, sistemático e que vá ao encontro das necessidades e capacidades das famílias; - Atraso dos processos judiciais; - Dificuldades de articulação em tempo útil com as equipas das CPCJ (técnicos afetos a várias Comissões/projetos, o que torna difícil o contacto); - Panorama socioeconómico atual, que dificulta o apoio económico a famílias em situação de pobreza; - Escassez de famílias proponentes a adotar crianças com idades superiores a 6 anos, particularmente se portadoras de deficiência ou com problemas de saúde crónicos. Plano Sócio Educativo Individualizado (PSEI) Tal como referido em relatórios anteriores, todas as crianças da Casa das Cores se encontram a seguir um plano de acompanhamento individualizado, tendo em conta as necessidades identificadas a partir do diagnóstico realizado e das avaliações 6 da sua evolução, efetuadas periodicamente, nos domínios onde é necessário haver uma estimulação mais sistemática. Para além disso, procuramos envolver as crianças na construção do seu plano, auscultando-as frequentemente sobre os seus interesses e motivações em termos de atividades e iniciativas onde se queiram e possam integrar. As atividades mais regulares são: - Acompanhamento psicológico individualizado na instituição ou no exterior (10 crianças envolvidas); - Programa de competências pessoais e sociais dinamizado na instituição (10 crianças envolvidas); - Apoio Escolar e/ou Apoio Psicopedagógico Individualizado (para as crianças a frequentar o ensino básico); - Acompanhamento em Consultas médicas de clínica geral e especialidade (Clínica Geral; Estomatologia; Otorrinolaringologia; Dermatologia; Oftalmologia; Neurologia; Pediatria; Pediatria do Desenvolvimento, Fisiatria, Pedopsiquiatria, Medicina Dentária). Através de uma parceria realizada com o Projeto AFA, implementado no Bairro de Armador, as crianças estiveram a participar de um grupo de dança, às 2ª feiras, das 18h às 19h. No entanto, por motivos de organização do próprio grupo, atualmente em reestruturação, a atividade foi temporariamente interrompida, encontrandonos a aguardar que seja retomada. Inicialmente as crianças revelaram um grande interesse na sua participação, no entanto, não havendo uma organização em termos etários e de desempenho, tal contribuiu para uma desmotivação e desinvestimento gradual do grupo. Todavia, a área da dança é do agrado das crianças, pelo que faremos os esforços ao nosso alcance para que possam ter algum contacto a esse nível. Plano Cooperado de Intervenção (PCI) Durante o ano de 2011 foram parceiros formais da casa das Cores: - Equipa de Crianças e Jovens (ECJ) de Loures (1 criança) - ECJ da Amadora (5 crianças) 7 - ECJ de Sintra (3 crianças) - Equipa de Apoio Técnico ao Tribunal de Lisboa (2 crianças) - Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Lisboa Oriental (1 criança) - CPCJ de Sintra Ocidental (1) - CPCJ Oeiras (1) Num dos casos, o processo foi transferido da CPCJ para a ECJ, daí o número de crianças, no total, estar aumentado, já que é sobreposto. O Agrupamento de Escolas das Olaias (JI, EB1 Do Bairro do Armador) e o Agrupamento de Escolas Luis António Verney (Escola EB 1 nº 123), o Centro Infantil de Santos – O – Novo e o Instituto de Surdos Mudos da Imaculada Conceição (ISMIC) mantiveram-se como parceiros fundamentais na intervenção da Casa das Cores. Relativamente ao ISMIC, para além do apoio diário que davam à criança com paralisia cerebral, passaram a assegurar também o seu cuidado durante a noite, de 2ª a 6ª feira. No entanto, continua a ser da Casa das Cores a responsabilidade de acompanhamento das áreas de vida da criança ao nível do vestuário, saúde, documentação e articulação com entidades envolvidas no processo judicial. Esta criança regressa e permanece na Casa das Cores ao fim-de-semana, férias e sempre que se encontra debilitado do ponto de vista da sua saúde. Também a Clínica Gerações manteve a sua colaboração com a Casa das Cores ao nível do seguimento em consultas gratuitas de Educação Especial, Pediatria do Desenvolvimento, Pediatria, Dermatologia, Oftalmologia e Psicologia. O Centro de Saúde de Marvila, mais concretamente a Extensão do Bairro dos Lóios, continua a ser o recurso na área da saúde. Numa perspetiva de articulação e proximidade, recebemos em 2011 a visita do médico de família das crianças, Dr. José de Brito, e da psicóloga do Centro de Saúde, numa perspetiva de aproximação à realidade de vida das crianças e à equipa da Casa das Cores. Algumas das crianças mantêm-se em acompanhamento em consultas de especialidade, nomeadamente no Hospital D. Estefânia e Hospital dos Capuchos, sendo o Hospital infantil o recurso também para os casos de urgência, sempre que o Centro de Saúde não puder dar resposta. O Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil - Clínica da Encarnação mantém-se também como um recurso fundamental ao nível da Consulta de Pedopsiquiatria, 8 desempenhando um papel essencial no diagnóstico e intervenção com as crianças com problemas de saúde mental mais graves. De referir a disponibilidade de alguns dos médicos para reunir e contactar a equipa da Casa das Cores sempre que necessário e pertinente, o que permite uma maior agilização dos recursos e uma resposta em tempo útil para medidas urgentes. Para além da pedopsiquiatria, durante o ano de 2011, duas crianças iniciaram acompanhamento também em consulta de psicomotricidade. Também no âmbito da Saúde Mental, estabelecemos contacto com o Centro de Saúde Domingos Barreiro, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, onde esteve em acompanhamento uma das crianças acolhidas. Neste caso resultou o interesse da Equipa de Saúde Mental em conhecer de perto a intervenção da Casa das Cores, concretizado através de uma visita durante o mês de Março. A relação com a Polícia de Segurança Pública, nomeadamente a 14ª esquadra, continua a ser de grande proximidade, não só ao nível da vigilância em períodos de ausência das crianças e equipa, mas também sempre que nos deparamos com uma ocorrência urgente, envolvendo desconhecidos ou familiares das crianças. No entanto, não temos a registar qualquer incidente. Preparação da Saída Durante o ano de 2011 tivemos uma reintegração familiar e uma tentativa que, infelizmente não se revelou bem sucedida, tendo a criança que permanecer na instituição por mais algum tempo. No entanto, sem que se tenha inviabilizado o projeto de vida inicial. Em qualquer dos casos, o momento foi devidamente preparado com as crianças, famílias e entidades envolvidas nos processos, sendo que internamente, na Casa das Cores, procurámos igualmente preparar as crianças que permanecem acolhidas na instituição. São momentos de alegria pelos colegas que partem, mas também de angústia, principalmente para aqueles que já cá estavam quando estes entraram e que por cá ficam ainda. Todas as crianças colaboram na criação de uma recordação através de um desenho ou de algo escrito, que dedicam ao colega que está de saída. Uma curiosidade que gostaríamos de partilhar tem a ver com o facto de, em visitas de follow-up realizadas após a integração, constatarmos que os presentes dados pelos colegas estão expostos em locais privilegiados das suas casas, mantendo-se 9 viva e presente a recordação do período vivido na Casa das Cores. Para além disso, são frequentes os contactos telefónicos por parte das crianças que já saíram, querendo saber notícias dos ex-colegas e educadores. Num misto de curiosidade pelo que deixaram, mas também de manutenção da relação com as amizades feitas. Objetivo Específico 1.2: Acompanhar as rotinas diárias das crianças, assegurando a satisfação das suas necessidades básicas ao nível da nutrição, higiene, vestuário e saúde. Refeições São sempre supervisionadas pelos educadores, sendo apoiadas de forma mais direta no caso das crianças mais novas e/ou dependentes, como é o caso da criança com paralisia cerebral. Continuam a ser confecionadas por uma cozinheira interna, na Casa das Cores. Durante a semana as crianças almoçam na escola, sendo a única refeição realizada fora de casa. O apoio gratuito da empresa Lactogal, ao nível do fornecimento de produtos láteos, manteve-se, assim como do Banco Alimentar. A empresa Vitacress juntouse a este grupo, fornecendo saladas e legumes com uma periodicidade semanal. Ao longo do ano e, principalmente na altura do Natal, recebemos apoios alimentares pontuais da empresa Auchan e de alguns particulares. Higiene Pessoal e Imagem Dada a idade das crianças, em grande parte dos casos mantemos alguma supervisão desta área, sendo que para as mais pequenas e dependentes esse acompanhamento é sistemático e próximo por parte do adulto cuidador. Verificamos que as crianças que entram de novo quase sempre apresentam algumas fragilidades ao nível da higiene e no investimento na imagem, o que exige inicialmente o acompanhamento mais pedagógico e informativo por parte do educador de referência. 10 Também nesta área recebemos alguns apoios de particulares, da empresa L’Oréal e Colgate. Gostaríamos de referir neste ponto que durante o ano de 2011 todos os funcionários da Casa das Cores participaram de uma formação em Segurança, Saúde e Higiene no trabalho, dinamizada pela empresa Segurihigiene. Saúde Entre Janeiro e Dezembro de 2011, as crianças foram acompanhadas nas seguintes consultas e exames médicos: - Clínica Geral: 5 consultas - Estomatologia: 11 consultas - Otorrinolaringologia: 1 consultas - Pediatria do Desenvolvimento: 9 consultas - Pedopsiquiatra: 32 consultas - Psicomotricidade: 22 consulta - Dermatologia: 4 consultas - Neurologia: 3 consultas - Epilepsia: 2 - Eletroencefalograma: 3 - Exame auditivo: 2 - Vacinação: 6 Continuamos a trabalhar no sentido de uma estreita articulação com as entidades de saúde, o que se veio a refletir com a visita do médico de família das crianças à Casa das Cores, tal como já referido, permitindo um maior conhecimento da sua realidade e das necessidades que evidenciam. Da mesma forma, e na sequência do 11 acompanhamento efetuado a uma das crianças acolhidas, a equipa de Saúde Mental do Centro Domingos Barreiro, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, revelou interesse em conhecer a instituição, o que veio a acontecer presencialmente no dia 17 de Março. Gostaria de referir neste ponto o protocolo estabelecido com a farmácia da zona de residência da Casa das Cores, a farmácia Pontes Leite, que designou um desconto de 10% na aquisição de todos os produtos adquiridos destinados às crianças. De sublinhar que mais de metade das crianças acolhidas efetua medicação diária permanente por indicação médica, a maioria das quais por dificuldades a nível comportamental e de atenção/concentração. Ainda durante o ano de 2011, e tendo em conta necessidades de formação sentidas, foram realizadas ações de informação/sensibilização na área do VIH/SIDA em crianças, dinamizada pela Dra. Inês Cardoso Lemos, Médica de Medicina Geral e Familiar, e dos Primeiros Socorros, sob a responsabilidade da Enfermeira Maria Barradas. Vestuário Continua a ser frequente a generosidade dos particulares no que se refere a oferecer roupa em bom estado e que se adeque às crianças. No entanto, estes donativos não chegam para fazer face às necessidades em termos de vestuário, principalmente calçado, o qual tem que ser adquirido. Mantemos a orientação de haverem educadores de referência para as crianças, que estão responsáveis por acompanhar as necessidades ao nível do vestuário, assim como supervisionarem com as crianças a organização dos espaços de arrumação de roupa. Desde o final do ano de 2011 que contamos com a preciosa colaboração de uma voluntária, que noa apoia ao nível do inventário e arrumação da roupa que nos é doada. O Levantar e o Deitar Sempre acompanhados por pelo menos dois educadores, sendo o levantar sempre mais acelerado pelo fato de anteceder a ida para a escola. O deitar é um momento reconhecidamente mais sensível afetivamente, que pode incluir a leitura de histó- 12 rias para adormecer, o ficar ao pé das crianças até adormecerem, o acompanhar os relatos de saudades ou medos, etc.. Semanada Foi mantida com regularidade a rotina de distribuição da semanada pelas crianças, cuja gestão é sempre acompanhada pelos educadores. Objetivo Específico 1.3: Assegurar os meios de acesso à escolaridade e/ou formação profissional nos estabelecimentos devidos, acompanhando as tarefas escolares, pedagógicas, culturais e sociais. Contactos e Reuniões com equipamento escolar As reuniões com os docentes das crianças e outros elementos privilegiados no apoio às crianças com mais dificuldades de aprendizagem são fundamentais para a estruturação do seu plano de apoio e para a avaliação da sua evolução ao longo do tempo. Apesar de já existir uma relação consolidada com os equipamentos escolares, nem sempre as leituras que se fazem das problemáticas são as mesmas, nem sempre é unânime a opinião relativamente às estratégias utilizadas para fazer face a determinada dificuldade apresentada pelas crianças. No entanto, o diálogo tem sido sempre possível, num esforço por parte da Casa das Cores para envolver outros técnicos e profissionais que acompanham as crianças e que podem dar o seu contributo na definição do melhor plano de acompanhamento possível. Foram realizadas 24 reuniões de articulação com as instituições de ensino, já referidas no ponto 3. do Objetivo 1.1., sendo regulares os contactos mais informais, sempre que se justifique. Acompanhamento à instituição escolar É sempre efetuado na presença de um adulto, colaborador da Casa das Cores, tendo em conta a faixa etária das crianças. Até setembro, 3 das crianças acolhidas estavam a frequentar equipamento de ensino fora da área geográfica da Casa das Cores: uma delas por ainda não ter idade para frequentar o ensino pré-escolar, as 13 outras duas por frequentarem equipamentos com um melhor enquadramento para acompanhar as suas dificuldades. Acompanhamento/apoio escolar Durante o ano de 2011 ainda foi feito, na medida do possível, pelos educadores de turno que efetuam o acompanhamento das rotinas. Durante o ano de 2012 já estará a decorrer o projeto de Voluntariado “Pinta um Sorriso”, que abrangerá também a vertente de acompanhamento/apoio escolar. De uma forma mais especializada, existem duas crianças a efetuar uma intervenção na clinica Gerações, de âmbito psicopedagógico, sendo que uma dela tem ainda apoio por parte do Centro de Explicações “Ponta da Língua”. Pontualmente recebemos na Casa das Cores donativos por parte de particulares e empresas de material escolar, muito importantes no apoio à sustentabilidade da instituição. Objetivo Específico 1.4: Criar as condições para a ocupação dos tempos livres, de acordo com os interesses e potencialidades das crianças. Programas de Desenvolvimento Pessoal e Social Os Programas de Competências Sociais na Casa das Cores estão organizados por idades: o Grupo “Cresce e Aparece” dos 5 aos 7 anos, com três elementos, e o Grupo “Cores com Muita Pinta” dos 9 aos 12 anos, que tem 6 elementos. As temáticas trabalhadas e estratégias utilizadas, em cada grupo, foram ao encontro das necessidades e grau de desenvolvimento das crianças. Os grupos visaram fomentar a criatividade, espontaneidade e a expressão (verbal, emocional e corporal). Assim, foram utilizadas estratégias de expressão corporal, dramatização, expressão plástica e ainda estimulada a discussão e a reflexão em grupo. No grupo “Cresce e Aparece” foram explorados temas que procuraram promover o autoconhecimento, utilizando como recurso a construção de fantoches, criação de histórias, apelando ao mundo do imaginário. Através da dramatização de peque14 nas histórias foi possível trabalhar os afetos, a sua expressão e os conflitos. Foram ainda utilizadas técnicas de relaxamento, dinamizados jogos de confiança, jogos de promoção da autoestima e autoconceito, focalizando a construção da identidade. Abordámos os Direitos das Crianças utilizando a expressão plástica, a mímica e a escultura humana e recorremos à criação da Lista dos Direitos das Crianças do Grupo. Ao longo das 25 sessões de grupo, promoveu-se a criação de uma identidade de grupo, procurando intervir de forma transversal nas competências de cooperação, entreajuda e confiança. No grupo “Cores com muita Pinta”, numa fase inicial, procurámos promover o conhecimento entre os elementos do grupo, facilitar a comunicação, criando um espaço acolhedor de partilha. Trabalhámos aspetos relacionadas com o espaço interpessoal, através da dança e do movimento. Abordámos temáticas relacionadas com os sentimentos, a sua comunicação, dar e receber elogios e resolução de conflitos. Intervimos ainda ao nível da construção de valores morais (roubos e mentiras). O tema da amizade foi desenvolvido ao longo de várias sessões, nas quais utilizámos a História do Principezinho, bem como debates e dramatizações sobre o que significa ajudar os outros. As crianças criaram uma história acerca da amizade e construíram fantoches. Trabalhámos ainda os Direitos das Crianças e, por meio da expressão plástica, construímos um trabalho sobre os direitos do grupo. No decorrer das 27 sessões de programa de competências, utilizámos estratégias como jogos de cooperação, dramatização e criação de histórias, expressão corporal, exploração do movimento, mímica, expressão plástica, debate, pequenos grupos de discussão/reflexão e trabalho a pares. No total, durante o ano de 2011, foram realizadas 52 sessões no âmbito dos programas de competências. Atividades lúdicas, pedagógicas, culturais, desportivas (brincar, jogar, ler, cinema, etc.) Passamos a enunciar as atividades em que as crianças da casa das Cores estiveram envolvidas durante o ano de 2011: 15 - Atividade S. Paulo ao Rubro - Visita dos Escuteiros à Casa das Cores – Núcleo Oriental de Lisboa do CNE (22 de Janeiro); - Atividade dinamizada por alunos da Escola Secundária da Amadora (05 de Março); - Clínica de Ténis – atividade promovida pela Médis (19 de Março); - Pavilhão do Conhecimento (20 de Abril); - Quinta Pedagógica dos Olivais (21 de Abril); - Fim de Semana em Évora - Páscoa (23 e 24 de Abril); - Peregrinação MAJUNE – Paróquia de Stª Isabel (06 a 08 de Maio) - Festa Comemorativa do 2º aniversário da Casa das Cores (22 de Maio); - Atividade dinamizada por alunos da Escola Secundária Gago Coutinho, alusivas ao Dia da Criança (01 de Junho); - Atividade dinamizada por alunos da Escola Secundária da Amadora (04 de Junho); - Atividade dos escuteiros na Casa das Cores (02 de Julho); - Atividade de Praia-Campo, da Câmara Municipal de Lisboa (04 a 15 de Julho); - Colónia aberta da instituição BIPP (11 a 15 de Julho); - Atividade Grupo VoluntEARS – Disney (09 de Julho); - Fim de Semana em Quinta do Conde (19 e 21 de Agosto); - Workshop na Associação Lavoisier (05 de Outubro); - Visita ao Diário de Notícia (07 de Outubro); - Circo (11 de Dezembro); - Atividade dos escuteiros de Olivais Sul, na Casa das Cores (17 de Dezembro); 16 - Concerto de Natal da paróquia de Stª Isabel (17 de Dezembro); - Atividades no Holmes Place de Alvalade (19 de Dezembro); - Festa de Natal Casa das Cores (20 de Dezembro); - Lanche Natalício na Casa das Cores (29 de Dezembro); - Ópera Infantil no Teatro de S. Jorge (21 de Dezembro); - Workshop de Fotografia (22 de Dezembro); Frequentes foram as idas ao cinema e a espaços de diversão, sempre do agrado das crianças. Para além disso, durante os meses de Outubro e Novembro, as crianças participaram das aulas de Dança do grupo AFA, do Bairro do Armador, atividade entretanto interrompida, estando a Casa das Cores a aguardar contacto para que possa ser retomada. Em contexto escolar as crianças beneficiaram de várias experiências desportivas, nomeadamente natação e judo. Colónias de Férias Foram efetuadas 3 colónias de férias pela Casa das Cores, e algumas saídas de fimde-semana, tendo-se considerado não ser pertinente realizar a colónia inicialmente prevista por altura do Natal. Assim, - De 10 a 14 de Abril, na Costa da Caparica – Numa parceria da Casa das Cores com a Associação Vivá Vida. - De 23 a 29 de Julho – Organizada pela Paróquia de Sta. Isabel – Grupo MAJUNE; - De 30 de Julho a 16 de Agosto, em Janas, Sintra - Organizada exclusivamente pela Casa das Cores, com o apoio de colaboradores, estagiários e voluntários. Durante esta colónia foram dinamizadas várias iniciativas, nomeadamente: - idas à praia e piscina - canoagem 17 - pinturas faciais - expressão plástica - visita à padaria -uma tarde nos bombeiros - paintball - visita à Kidzânia - Aquário Vasco da Gama - Jardim da Liberdade (Sintra) - Centro Ciência Viva - Centro de Recuperação do Lobo Ibérico - sessão de magia - atividades de culinária - Parque Aventura da Amadora – Escola de Condução - Quita da Regaleira – Peça de Teatro “O Principezinho” - Atividades nos jardins de Belém – visita ao museu da Eletricidade - Dinâmicas de grupo Mais uma vez, o sucesso desta colónia só foi possível com o apoio da Paróquia de Alcântara, que cedeu o espaço da casa das Janas mediante o pagamento de um montante simbólico para o alojamento. De valorizar igualmente a sensibilidade de algumas instituições, empresa, entidades que facilitaram o acesso do grupo de crianças às atividade referidas gratuitamente ou a preços mais reduzidos. Salvo algumas raras exceções em que o previamente combinado não correspondeu de todo ao apresentado, o que inviabilizou ou dificultou a concretização da atividade, o balanço é muito positivo e correspondeu às expetativas criadas. 18 Os momentos em colónia de férias continuam a ser vividos pelo grupo de crianças de forma entusiástica. Corresponde a um período de quebra da rotina do ano, o “sair de férias” como acontece com a maioria das crianças no contexto das suas famílias. São projetos que pretendemos continuar a implementar, numa constante atualização das necessidades, nomeadamente ao nível dos recursos humanos que acompanham o grupo. Objetivo Específico 1.5: Providenciar a reabilitação física e/ou psicológica das crianças vítimas de qualquer forma de maltrato. Encaminhamento e acompanhamento a consultas de (pedopsiquiatria, psicoterapia, psicomotricidade, fisioterapia, etc.) Especialidade Ao longo do período que compreende o acolhimento, e partindo do trabalho de diagnóstico inicial e do processo de avaliação contínuo das necessidades das crianças, procuramos que todas as crianças sejam apoiadas nas dificuldades/ fragilidades que manifestam, maioritariamente causadas por contextos de vida com fraca estimulação, destruturados/desorganizados, violentos/agressivos, carentes de afeto e de respeito pela condição de criança. Assim sendo, internamente ou externamente à intervenção da Casa das Cores, grande parte das crianças esteve abrangida por um plano de acompanhamento especializado, que passou pelas seguintes áreas: - Pedopsiquiatria (4 crianças) - Psicoterapia/apoio psicológico (11 crianças) - Psicomotricidade (2 crianças) - Pediatria do Desenvolvimento (2 crianças) - Psicopedagogia (2 crianças) Estas consultas foram realizadas nos seguintes serviços: - Clínica da Encarnação – Serviço de Pedopsiquiatria do Hospital D. Estefânia (2 crianças) - Departamento de Pedopsiquiatria do Hospital S. Francisco Xavier (2 crianças) 19 - Serviço de Pedopsiquiatria do Centro de Saúde Domingos Barreiro – SCML (1 criança) - Hospital de Santa Maria (1 criança) - Clínica Gerações (4 crianças) - Centro Clínico de São Lucas (1 criança) - Junta de Freguesia de Marvila (1 criança) - Outros serviços particulares (1 criança) - Casa das Cores (4 crianças) No âmbito da intervenção desenvolvida pela psicóloga da Casa das Cores, foram realizadas 162 sessões de acompanhamento individualizado. As crianças respondem de forma muito positiva a este espaço de partilha, solicitando frequentemente por esses momentos. De acordo com a faixa etária das crianças são utilizadas estratégias mais lúdicas, recorrendo-se ao brincar e ao desenho como forma privilegiada de expressão. Durante o ano de 2011, e em articulação com as escolas das crianças, foram 4 as crianças integradas em Planos Educativos Individualizados, de modo a melhor fazer face às suas dificuldades a nível escolar. À semelhança do referido em relatórios anteriores, não podíamos deixar de valorizar e reforçar a importância do trabalho realizado pela Equipa Educativa da Casa das Cores, que no contacto diário com as crianças vão procurando ir ao encontro das suas necessidades imediatas, demonstrando capacidades excecionais de iniciativa, tomada de decisão e resolução de problemas em momentos mais sensíveis de crise pessoal das crianças, conflitos no grupo, ou problemas contextuais. Em muito ajuda as características pessoais e as competências técnicas demonstradas por este grupo de trabalho, que durante o ano de 2011 se manteve mais ou menos estável, contribuindo para a segurança das crianças e para o estabelecimento de relações de confiança mais consistentes, tão importantes para que processos de mudança no comportamento das crianças sejam desencadeados. 20 conhecimento da Casa das Cores, revelando interesse em poder apoiar uma criança específica. Foi realizado mais um processo de seleção de uma família e apesar de termos considerado estarem reunidas as condições para se constituir como “Família Amiga”, não tínhamos no momento crianças com o perfil adequado para integrar o projeto. Relembramos que o Projeto de Famílias Amigas está indicado para crianças que estão limitadas total ou parcialmente do contacto com as suas famílias de origem, mas que revelam necessidade de contacto com uma experiência gratificante de família. Assim sendo, são sempre muito bem avaliadas as condições de integração de uma criança numa Família Amiga, a qual não deve prejudicar a concretização do seu Projeto de Vida. Foram realizadas 4 reuniões de follow-up com as Famílias Amigas durante o ano de 2011, havendo contactos telefónicos frequentes na sequência da permanência das crianças junto das suas famílias amigas. Para além disso, foram ainda realizadas 4 visitas domiciliárias. No final de 2011, foi dinamizado o I Encontro das Famílias Amigas da Casa das Cores, o qual permitiu a partilha desta experiência entre as famílias presentes, assim como o esclarecimento de algumas questões que surgem no âmbito do contacto com crianças vítimas de negligência e maus-tratos. O balanço foi muito positivo, tendo sido referido a pertinência deste tipo de iniciativas e a partilha. Objetivo Específico 1.6: Possibilitar o contacto com a família de origem, sempre que isso seja possível, com vista à manutenção ou reestruturação dos laços e à reintegração de cada criança. Das 13 crianças que passaram pela Casa das Cores, em termos de projeto de vida: - 4 crianças tinham projeto de vida de reintegração familiar, sendo que uma reintegrou a família; - 3 crianças tinham definido projeto de vida de adoção, tendo sido decretada para duas delas a alteração de medida de confiança a instituição com vista a adoção; 21 - 2 crianças tinham como projeto de vida o acolhimento permanente (institucional), por não ter sido encontrada resposta em meio natural de vida; - 4 crianças não tinham ainda projeto de vida definido, 3 das quais por deslocalização das crianças em relação à família de origem, dificultando o diagnóstico da situação familiar, e a outra por ainda se encontrar em estudo a situação familiar. Todas as crianças receberam visitas por parte de familiares, inclusive aquelas com projeto de vida de adoção, até ser decretada a interrupção dos contactos. Foram realizadas um total de 91 visitas no interior da instituição (com monitorização por parte de um técnico), 158 visitas no exterior e 90 pernoitas em casa de familiares. Nas situações de pernoita foram efetuadas visitas domiciliárias pontuais, no sentido de ir avaliando a dinâmica familiar e a evolução ao nível relacional. OBJETIVO GERAL 2. Intervir junto das famílias com vista à sua reestruturação e reorganização, para a melhoria no desempenho das suas funções parentais. Objetivo Específico 2.1: Desenvolver trabalho de mediação e reestruturação dos laços familiares. Objetivo Específico 2.2: Capacitar as famílias, para uma maior eficácia no desempenho das suas funções parentais. Objetivo Específico 2.3: Acompanhar as situações familiares que necessitem de intervenção específica, dando a conhecer os recursos existentes ou encaminhando para instituições de reabilitação adequadas a cada problemática. A Casa das Cores, em articulação com as entidades relevantes envolvidas nos processos das crianças, continua a realizar uma intervenção junto das suas famílias. Em primeiro lugar, no sentido de recolher as informações necessárias para a definição do projeto de vida que melhor corresponda ao “superior interesse da criança” e, em segundo lugar, quando existem recursos nas famílias que podem suportar o retorno da criança ao agregado, para apoiar no reforço desses recursos, na procura de respostas para fazer face às dificuldades sentidas pelas famílias e na identificação de outros fatores menos conscientes/conhecidos para a família, mas que colocam em causa o bem-estar dos seus elementos, nomeadamente os mais novos e desprotegidos. 22 Apesar de reconhecermos em todas as famílias potencialidades de mudança e recursos positivos que podem ser reforçados, nem sempre é possível em tempo útil reunir as condições necessárias para o retorno das crianças ao seu contexto de origem. Porque, como tantas vezes se ouve, o tempo das crianças não pode corresponder ao tempo das famílias, e a institucionalização, apesar de no imediato promover a sua segurança e proteção, não é o contexto natural e humano para o desenvolvimento harmonioso das crianças, em particular as mais novas, porque o prejuízo causado sobre a criança quando entregue ao cuidado da sua família foi elevado, requerendo um acompanhamento especializado por tempo difícil de determinar, que as famílias dificilmente conseguirão suportar devido às suas fragilidades pessoais e intrínsecas, que precisam elas próprias de acompanhamento especializado, porque infelizmente ainda não existe no sistema de proteção de crianças e jovens uma capacidade de resposta eficaz e eficiente dos serviços para trabalhar de forma intensiva e sistemática as dificuldades das famílias, que muitas vezes têm que acontecer antes do nascimento das crianças, porque ainda existem lacunas em termos da formação das equipas que acompanham as famílias identificadas como mais vulneráveis, no qual consideramos ser pertinente incluir também o sistema judicial. Preocupa-nos, claramente, a atual fragilidade socioeconómica do país, que contribuirá para acentuar os constrangimentos já referidos e outros associados, o que, na nossa opinião, exige uma reflexão séria por parte daqueles que mais no terreno ou mais na retaguarda intervêm e/ou decidem sobre estas situações, mas também por parte de toda a sociedade civil. Assim, apesar de um dos objetivos gerais da intervenção da Casa das Cores estar claramente focalizado para a intervenção/reabilitação das famílias, não podemos abstrair-nos/distanciar-nos das crianças que acolhemos, das suas necessidades de desenvolvimento/maturação, do direito a terem uma oportunidade de crescer num contexto familiar harmonioso, afetuoso e seguro. A decisão de definir um projeto de vida de adoção é difícil, já que limita para sempre o contato da família com a criança. Não obstante ser uma decisão baseada em fatos concretos, que incluem comportamentos/atitudes de negligência e abuso por parte dos principais cuidadores, altamente prejudiciais para o bem-estar e desenvolvimento das crianças, esses pais/cuidadores não podem também deixar de ser apoiados psicologicamente neste processo de separação. No entanto, é algo que não acontece. Não podemos esquecer que são pais que vão continuar a procriar e, sem a devida 23 intervenção, vão voltar a repetir os mesmos comportamentos. Relativamente à intervenção global da Casa das Cores junto das famílias das crianças, ou no âmbito do acompanhamento da medida de acolhimento institucional aplicada às crianças destacamos as seguintes ações: - Visitas Domiciliárias: 54 - Reuniões com Familiares: 28 - Contactos telefónicos de/para a família: 259 - Supervisão de Visitas: 91 - Reuniões com entidades externas: 39 - Contactos telefónicos com entidades externas: 311 - Informações Sociais: 24 - Convocatórias para comparência em Tribunal: 9 Já anteriormente pudemos fazer referência aos projetos de vida das crianças, sublinhando aqui que durante o ano de 2011 apenas foi possível reintegrar uma criança no agregado familiar, estando 3 ainda a aguardar uma maior consistência das mudanças da família para que possamos juntamente com as restantes entidades decidir o seu retorno em condições de segurança e bem-estar. As entidades com quem a Casa das Cores articulou durante o ano de 2011 foram: - Equipas de Crianças e Jovens de Sintra, Loures e Amadora (Segurança Social); - Equipa de Gestão Centralizada de Vagas (Segurança Social); - Equipa Apoio Técnico ao Tribunal de Lisboa (SCML); - Comissões de Proteção de Crianças e Jovens em Perigo de Lisboa Oriental, Sintra Oriental e Oeiras; - Equipa de crianças e jovens em risco da SCML; - Equipa de Adoções da SCML; - Associação Passo-a-Passo (Loures); - Movimento de Defesa da Vida; 24 - Associação Portuguesa para o Serviço Social Internacional; - Junta de Freguesia de Algueirão-Mem Martins; - Centro de Acolhimento Temporário “Casa da Palmeira”; - Centro Nacional de Apoio ao Emigrante; - Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Apesar de nem sempre com a celeridade/disponibilidade desejada em termos de contatos com as entidades, fazemos um balanço claramente positivo do trabalho com a rede de parceiros. A reunião das evidências e argumentos que objetivam as decisões, a sua discussão e reflexão conjunta, o privilégio do trabalho em equipa são alguns dos aspetos que gostaria de sublinhar para justificar o consenso interequipas na definição dos projetos de vida ao longo do ano de 2011. Não podiamos deixar de fazer referência também ao acompanhamento efetuado pela Equipa da Segurança Social à Casa das Cores, de verdadeiro suporte técnico e de contributo para a procura das melhores respostas para as diferentes situações. OUTROS ACONTECIMENTOS A REALÇAR As reuniões de equipa, técnica e educativa, continuam a ser momentos privilegiados de reflexão/avaliação sobre a intervenção desenvolvida. Como tal, em 2011 foram realizadas um total de 46 reuniões de equipa (31 técnica e 15 educativa). Apesar da pertinência das reuniões de equipa educativa, nem sempre tem sido fácil conciliar a presença dos colaboradores com as suas folgas, assim como com os horários dos turnos. Contudo, é de sublinhar a disponibilidade de todos os elementos para sempre que necessário contactar diretamente o coordenador da equipa educativa ou diretor da Casa sempre que se justifique. O livro de ocorrências continua a ser um bom instrumento de passagem de informação, no entanto, existe orientação para que, em ocorrências pertinentes, seja elaborado um pequeno relatório descritivo para integrar os processos das crianças, assinado pelo educador envolvido. 25 Já anteriormente fizemos referência a algumas ações de informação/sensibilização realizadas, nomeadamente sobre “VIH em crianças” e “Primeiros Socorros” para todos os colaboradores. Para além desta, a Assistente Social da Casa das Cores, Carmen Neves, dinamizou uma ação sobre “Intervenção na crise”. Numa perspetiva de formação continua, foi possível ainda integrar alguns colaboradores em ações de entidades externas, nomeadamente sobre “Relacionamento Interpessoal e Gestão” e “Liderança”. Durante o ano de 2011, a Casa das Cores colaborou com várias instituições de ensino e outras no acompanhamento de estágios, nomeadamente em Ciências da Educação (Instituto da Educação da Universidade de Lisboa), Técnico Psicossocial (Escola Secundária Gago Coutinho de Alverca), Animação Sociocultural (Escola Profissional Agostinho Roseta e Programa Leonardo DaVinci), Educação Social (Instituto Politécnico de Santarém e Instituto Superior de Ciências Educativas) e Serviço Social (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas). Reforçamos mais uma vez o papel da Equipa da Casa das Cores, avaliada de forma muito positiva relativamente à sua competência, disponibilidade, capacidade de atualização, persistência, autonomia, iniciativa, criatividade, entre outras qualidades, que muito contribuem para que aqui se viva um ambiente agradável, tranquilo e inspirador. É um orgulho que quase 3 anos após a abertura da Casa das Cores, os nossos visitantes reconheçam o trabalho realizado e elogiem o ambiente e contexto físico, o qual contribui também para que, enquanto aqui permanecem, as crianças se sintam confortavelmente acolhidas e possam também personalizar o seu espaço. CONCLUSÃO A Casa das Cores continua a apostar na procura das melhores respostas às necessidades sentidas no âmbito da intervenção na área do acolhimento institucional em geral, das crianças em risco e famílias multidesafiadas em particular. Durante o ano de 2011 continuámos sem ter resposta positiva por parte do Instituto da Segurança Social para avançar com o alargamento da capacidade da Casa das Cores para 14 vagas (apesar de regularmente sermos contactados para acolher crianças em sobrelotação!), assim como também ainda não foi possível iniciar o projeto de criação de um Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental. 26 Também a criação do Lar de Infância e Juventude Casa das Cores se constitui como um objetivo de futuro, apoiado na crença de que infelizmente esse é o projeto de vida para muitas crianças e jovens em perigo, mas que o seja em continuidade do trabalho terapêutico iniciado durante a estadia no CAT Casa das Cores. Apesar dos constrangimentos financeiros para concretizar os projetos referidos, voltámos a pôr “mãos à obra” e elaborámos um projeto para a criação de uma sala de observação-interação pais-filhos, a partir de uma metodologia terapêutica amplamente utilizada nos Estado Unidos da América com crianças e jovens em risco e respetivas famílias, designada PCIT – Parent-Child Interaction Therapy. Relativamente a este projeto ainda nos encontramos a aguardar resposta para um possível financiamento por parte da iniciativa EDP solidária. Consideramos premente que instituições e entidades reguladoras/decisoras reflitam e criem recursos para responder adequadamente às necessidades identificadas na área das crianças e jovens em risco/perigo, pois continuamos a verificar casos que são sinalizados demasiado tarde no âmbito do sistema de proteção, com consequências gravíssimas para o desenvolvimento das crianças, nomeadamente ao nível da sua saúde mental. A este nível detetamos lacunas sérias, como falta de condições físicas das instituições de acolhimento para receber crianças com problemas graves de comportamento, assim como falta de técnicos especializados para intervir adequadamente sobre essas situações. Um sistema de proteção social que não está devidamente articulado com um sistema de proteção na área da saúde não faz sentido e claramente dificulta o processo de reabilitação das crianças e a consequente integração social. 27 RELATÓRIO DE CONTAS CUSTOS: 28 FINANCIAMENTO: O ano de 2011 foi caraterizado por um decréscimo acentuado nos apoios recebidos, tanto por parte de empresas como de particulares. O MSV reduziu todos os seus custos ao estritamente essencial e envidou todos os esforços no desenvolvimento de formas de angariação de fundos mais criativas, que garantam a sustentabilidade dos seus projetos, nomeadamente da Casa das Cores. O final do ano e o Natal trouxeram a generosidade de algumas entidades e pessoas, que nos permitiu terminar o ano de 2011 e iniciar 2012 com maior conforto financeiro. Assim, os custos de 2011 da Casa das Cores foram financiados do seguinte modo: • • Segurança Social - 61% Donativos de Empresas - 15,0% • • • Donativos Pontuais de Particulares - 9,0% Amigos da Casa das Cores - 7,0% Donativos em Géneros - 4,0% • Abonos e Outros Subsídios - 4,0% É indubitável a grande importância do apoio regular dos Amigos na sustentabilidade da Casa das Cores, especialmente se tivermos em consideração que os Apoios Pontuais são extremamente imprevisíveis e têm tendência para ser mais reduzidos nos próximos anos. No sentido de diminuir esta dependência dos Apoios Pontuais e poder sonhar mais alto e acreditar que é possível a apostar em novos projetos, que constituem melhores respostas para as crianças acolhidas e em perigo, é fundamental que a Casa das Cores continue a contar com a sua contribuição mensal, com o seu empenho em angariar mais amigos e com a sua adesão às nossas campanhas. Vivemos muito preocupados com o ano de 2012 e com as repercussões que a situação do país possa ter no financiamento da Casa das Cores. Neste sentido, continuaremos a fazer uma gestão austera de todos os nossos recursos, tendo sempre em vista a sustentabilidade da Casa das Cores a longo prazo. Estamos inteiramente disponíveis para fornecer todas as informações adicionais que considerar necessárias. 29 PROJECTOS CASA DAS CORES PARA 2012 O ano de 2012 será pautado por grandes restrições orçamentais, que não acreditamos que possibilitem avançar com projetos novos e garantir a sua sustentabilidade. Neste sentido, é muito improvável que avancemos com os dois projetos, que esperam ainda aprovação por parte do Instituto da Segurança Social: aumentar a capacidade do CAT para 14 crianças e lançar um CAFAP - Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental. Não obstante a situação económica do país, começaremos a dar os primeiros passos que nos conduzam à criação de um Lar de Infância e Juventude, uma resposta para acolhimento de crianças e jovens com medidas de longa duração, que poderá dar continuidade à intervenção já desenvolvida no CAT Casa das Cores. Iremos desenvolver esforços para a elaboração do projeto arquitetónico e na angariação de mecenas que possam financiar as obras de reconstrução e adaptação de um edifício, direito de superfície cedido pela Câmara Municipal de Lisboa ao MSV. Move-nos uma convicção profunda de que podemos fazer mais e melhor e a vontade de continuar a ser uma resposta sempre melhor e renovada para as crianças em situação de risco e para as suas famílias. Alimenta-nos a esperança de que, trilhando agora o caminho no sentido de construir as infraestruturas que permitam a criação do Lar de Infância e Juventude, a sua conclusão coincida com os anos em que Portugal estará numa fase de recuperação, que permita sustentabilizar o novo projeto. Daremos sempre o melhor que somos e temos para que as crianças que acolhemos possam crescer como crianças com tudo o que isso significa e implica. Esta é e será uma Causa de todos! A Casa da Cores depende de todos! Muito obrigado! 30 31 32