TÍTULO: O PERFIL DA MULHER MICROEMPREENDEDORA DO BAIRRO DO
JACINTINHO – MACEIÓ/AL
AUTORES: Alexandra Maria Rios Cabral Gouveia ,Elvira Simões Barreto ,Keylle André
Bida de Lima ,Márcio Jorge Porangaba Costa
ÁREA TEMÁTICA: Trabalho
INTRODUÇÃO
“’Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
É uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver
e amar
Como outra qualquer do planeta.”1
Este trabalho - "O perfil da mulher microempreendedora do bairro do
Jacintinho" - é o resultado de um processo de estudo, pesquisa e integração de ações entre
Associação Comercial, Conselho da Mulher Executiva , SEBRAE e Universidade Federal
de Alagoas, tendo em vista a obtenção de subsídios para a implantação da "Associação para
o Desenvolvimento da Mulher - Banco do(a) Empreendedor(a)".
Esse propósito é delineado, a partir da idéia de um grupo de mulheres que
fazem o Conselho da Mulher Executiva de Maceió, órgão vinculado à Associação
Comercial, que há algum tempo volta sua preocupação para os problemas que possam
dificultar os negócios e conseqüentemente a vida das mulheres microempreendedoras do
município de Maceió. Diante do conhecimento de experiências exitosas em alguns Estados
do Brasil voltadas ao microcrédito de pequenos negócios, como por exemplo o Banco da
Mulher de Curitiba, emana a iniciativa de socializar estas inquietações e possíveis soluções.
* Prof(a) do Deptº Economia da UFAL
** Profa. do Deptº de Serviço Social da UFAL
*** Estudante de Economia UFAL
1
Música de Milton Nascimento
2
Foi desta semente que brotou a parceria entre Associação Comercial, SEBRAE
e
Universidade Federal de Alagoas que passaram a compartilhar da necessidade de
conhecer mais e melhor a realidade das mulheres microempreendedoras, por meio de uma
pesquisa científica com o objetivo de subsidiar a iniciativa pública de fomento ao emprego
e renda, tendo em vista modificar o "status quo" da população alvo.
Apresentamos a seguir, os pressupostos que fundamentam e justificam a
pesquisa realizada.
PRESSUPOSTOS
A modernidade ocidental vem se estruturando a partir de um projeto de
sociedade bastante complexo e contraditório, trazendo consigo mudanças jamais vistas pela
humanidade.
No século XIX o mundo do trabalho tomou alguns rumos dos quais podemos
destacar a redefinição do trabalho feminino com a divisão entre público (na rua) e privado
(em casa);
Entretanto, o trabalho não doméstico, exercido fora de casa, destinava-se a uma
minoria das mulheres; Além disso, as mulheres não tinham juridicamente o direito de
administrar propriedades, e dependiam da autorização do pai ou marido para exercer uma
profissão.
Neste século, ainda não foram alteradas as relações jurídico-econômicas entre
homens e mulheres. Segundo Freitag (1993), a diminuição de trabalhadoras agrícolas e
trabalhadoras domésticas são mudanças a serem consideradas, tanto quanto o aumento do
número de operárias, escriturarias e posteriormente, professoras, fortalecendo-se por outro
lado o papel doméstico de mãe, esposa e dona de casa.
Chegando ao século XX de forma heterogênea, verificou-se relativas alterações
nas relações jurídico-econômicas entre homens e mulheres. As mulheres passaram a ter o
direito de administrar propriedades, a não depender da autorização de pai ou marido para
exercer uma profissão, entre outros.
3
Falamos que houve mudanças relativas porque objetivamente persiste, mesmo
já no século XXI, uma divisão do trabalho por sexo. Os guetos de profissões masculinas ou
femininas ainda são uma realidade. Há uma convergência de valores novos e antigos
mesclados por interesses diversos e até contraditórios.
Considerando ter realizado uma breve argumentação acerca da divisão sexual
do trabalho, passamos para uma reflexão em torno dos desafios e implicações que
envolvem a questão da mulher em relação ao mercado de trabalho na contemporaneidade .
Consideramos importante trazer uma reflexão focada no Brasil tomando como
ponto de partida a questão da escolaridade .
Vejamos, estatisticamente em relação à escolaridade, as mulheres estão
atualmente superiores aos homens: 55% das mulheres e 45% dos homens possuem
escolaridade superior incompleta, e 51% das mulheres e 49% dos homens possuem curso
superior completo2. Além do mais as pesquisas demonstram que o avanço das mulheres no
âmbito da escolaridade significa um impacto muito além do seu progresso pessoal.
Pesquisadores argumentam que o aumento da escolaridade das mulheres
significa melhoria da qualidade de vida da sociedade, pois as mulheres transferem bons
hábitos de higiene para os filhos, orientam suas vidas de modo mais seguro, ajudam as
crianças na escola, diminuem o risco da gravidez inesperada, fazendo baixar a taxa de
fertilidade da sociedade.
Será que não acontece o mesmo com o aumento da escolaridade das pessoas do
sexo masculino? Pesquisas mostram que não. Homens com maior educação têm influência
muito menor na taxa de fertilidade, no tamanho da família e na transferência de novos
hábitos e valores3.
Vamos nos voltar agora para a questão do mercado de trabalho especificamente.
Vejamos algumas mudanças significativas: na década de 60 havia apenas 23% de mulheres
inseridas no mercado de trabalho, e uma maioria era jovem, solteira e sem filhos; em 1998
o número cresceu para 42% de mulheres e uma maioria adulta (mais velha), casada, mãe4.
2
In..PASTORI (1999)
Com base em PASTORI (1999)
4
Op. cit.
3
4
No Brasil, 30 milhões de mulheres trabalham fora de casa: 50% no comércio,
serviços e administração, 22% na agricultura, 16% na área social, 9% na indústria e 3% em
outros setores5.
Segundo Pastori (1999), para a maioria dos casos, os salários das mulheres
brasileiras são 25% menores que os dos homens - para a mesma jornada de trabalho e
mesmo nível educacional.
Os estratos salariais mais altos estão entre os homens, pois 10% dos que
trabalham 44 horas ganham mais de 10 salários mínimos e entre as mulheres apenas 6%.
Por outro lado, os mais baixos salários estão entre as mulheres: quase 50% das que
trabalham 44 horas semanais ganham até dois salários mínimos e no caso dos homens,
menos de 40%6.
O tempo remunerado é maior entre os homens. As mulheres gastam 30 horas de
trabalho por semana com afazeres domésticos - os principais são a limpeza e a cozinha7.
O desemprego da mulher é sempre maior que o masculino. O trabalho informal
também é maior para as mulheres: apenas 36% das mulheres estão no trabalho formal8.
Pastore (1999) chega ufanamente a afirmar que "investir na mulher dá certo e é
um bom negócio para a sociedade em geral". No nosso ponto de vista, investir na mulher
como ponto de partida é investir na sociedade como um todo, num projeto societário mais
justo, humano e ético.
Ë nesse sentido que apresentamos o perfil da mulher microempreendedora do
Bairro do Jacintinho, Maceió/AL. Vale ressaltar que esta se constitui uma iniciativa de
investimento dos mais atualizados como mostram algumas produções acerca do assunto.
Vemos
que
organismos
internacionais,
como
a
ONU,
apresentam
recomendações para que se invista particularmente nas mulheres tendo em vista o impacto
social desse investimento.
Com base nesta considerações, alguns aspectos merecem destaque no sentido
de justificar o foco voltado para as mulheres como ponto de partida para a implantação da
5
Op. cit.
In PASTORI (1999)
7
Op. cit.
6
5
organização do micro-crédito. São eles: A maioria das mulheres está inserida no mercado
informal; As dificuldades de lidar com o sistema tradicional de crédito; Poucas recorrem a
empréstimos tradicionais, "preferindo" ficar nas mãos de agiotas; O conjunto do sistema
bancário tende a ser sexista. Muitas situações são constrangedoras, por exemplo, muitos
bancários perguntam às mulheres que recorrem a um empréstimo, se o investimento maior
é do marido e quando solteira se é do pai; Com base em sua experiência em Bangladesh,
Yunes (2000) afirma que quando o crédito é concedido às mulheres produz-se mudanças
mais rapidamente do que quando vai para os homens.
IDENTIFICAÇÃO DA PESQUISA DE CAMPO
O universo da pesquisa limitou-se as mulheres microempreendedoras do bairro do
Jacintinho/Maceió, devido a densidade demográfica e a heterogeneidade de ramos de
negócio. Teve como objetivo detectar as condições sócio-econômicas da mulher
empreendedora, além de identificar o público demandante de microcrédito, meio de acesso
ao crédito e as dificuldades para manter o empreendimento.
A pesquisa foi realizada com 300 mulheres inseridas no mercado informal nas
seguintes localidades: Grota do Cigano, Grota do Arroz, Grota de Pau D’Arco, Grota do
Rafael e Grota do Moreira, tendo como instrumento de coleta de dados estruturado em 58
questões, tanto de única escolha, como múltipla escolha e subjetivas9.
PERFIL SÓCIO- ECONÔMICO
Uma maioria considerável das mulheres do mercado informal do bairro do
Jacintinho (60,3%), mantém seus negócios na própria residência, dedicando-se
predominantemente às atividades que envolvem o setor de alimentos e bebidas10 e em
segundo lugar ao setor de mercadinho e mercearias. Das mulheres entrevistadas: 41%
8
Op. cit.
10 pesquisadores capacitados/treinados, estudantes de graduação dos cursos de economia e serviço social da
UFAL.
9
6
encontram-se na faixa etária de 30 a 44 anos; 49,3% são oriundas do interior do Estado.;
38,2% chegaram a Maceió no final da década de 70 para meados de 1980; e 65% são
católicas e destas, mais da metade freqüentam semanalmente a sua igreja.
Do ponto de vista da saúde reprodutiva é de chamar atenção que 49,7% das
mulheres entrevistadas fizeram laqueadura de trompas e 37,3% não utiliza qualquer método
contraceptivo ou de prevenção DST/AIDS, o que vai proporcionalmente convergir com o
baixo grau de instrução destas mulheres pois, 50,7% possuem apenas o 1º grau incompleto.
A maioria delas (51,7%) tiveram mais de três filhos, e uma grande parte (86,2%) têm todos
os filhos vivos. Das que perderam seus filhos, o fato basicamente (86,5%) ocorreu por
motivo de doença. Os filhos dessas mulheres, entre 6 e 15 anos, freqüentam a escola. Como
sua atividade informal predominantemente é exercida dentro de suas próprias residências,
seus filhos menores de 15 anos ficam sozinhos enquanto trabalham ou ao seu lado.
Com relação às condições de moradia detectamos que essas mulheres, na sua
maioria, moram junto com 3 a 4 pessoas, e 39,7% dessas pessoas são seus filhos e maridos
ou companheiros. 52% consideram que os maridos ou companheiros são os chefes da
família e 29,7% delas consideram-se a própria chefe. Se por um lado, uma parte
considerável destas mulheres (47%) têm seus maridos ou companheiros trabalhando, por
outro lado, é de se considerar que 37% das mulheres, pagam todas as despesas de sua
residência ou a maior parte delas.
Em 38,3% das entrevistadas, o gasto com a manutenção da casa é em torno de
um a dois salários mínimos; 78% possuem casa própria de alvenaria e cobertas com telha
colonial. Possuem uma média de cinco a seis cômodos mas em 44,7% das casas os quartos
não têm portas. Os banheiros têm, na sua maioria, chuveiro (87,7%), vaso sanitário (97,3%)
e 46,3% têm pias. A grande maioria das mulheres possuem aparelho de televisão (93%) e
geladeira (90,3%). Chama a atenção o fato de que 2,3% das entrevistadas possuem
computador.
As mulheres do mercado informal do bairro do Jacintinho têm água encanada
(94,3%) em suas casas, por outro lado 54% bebe água da torneira. 46,7% das casas têm por
destino final da água utilizada na residência, o esgoto tratado. Para outros 39% das casas, a
10
Confeitaria, bares, fornecedoras de refeições, lanches, entre outros.
7
água vai diretamente para a rua, apesar da maioria (66,3%) dizer que em suas casas existe
fossa séptica. Elas consideram a higiene alimentar como algo importante  99% lavam
frutas e verduras para serem consumidas.
Do ponto de vista do lazer e da comunicação, 62% das mulheres preferem
assistir televisão durante 1 a 3 horas por dia, sendo a novela seu programa predileto. Para se
locomover na cidade a maioria das mulheres (83,7%) utiliza o ônibus como meio de
transporte principal. 34,7% não possuem nenhum tipo de telefone em suas casas. Vale
registrar que 2,0% das entrevistadas acessam a internet, seja da própria residência ou da
escola/faculdade.
Do ponto de vista dos problemas familiares o desemprego se destaca entre os
principais problemas (48,7%) vivenciados por estas mulheres no ambiente doméstico,
seguido de dívidas perante terceiros (16,7%).
PERFIL EMPREENDEDOR
Abordando neste momento o trabalho como empreendedoras, a maioria das
mulheres entrevistadas mantêm sozinhas (50,7%) seu pequeno negócio e uma outra parte
significativa conta com parentes (44,2%) para auxiliá-la. Dentre os que auxiliam essas
mulheres temos que boa parte é do sexo feminino (61,5%) contra uma participação de
38,5% de homens. Chama a atenção, o fato de que 61% das mulheres entrevistadas
trabalham mais de 8 horas por dia se dedicando ao seu empreendimento, do mesmo modo
que a maioria quase absoluta (76,7%) também trabalha todos os sábados e domingos.
De uma maneira geral, 62,7% dessas mulheres estão no setor informal há mais
de 2 anos e para grande maioria(68,7%) o ponto comercial é próprio. Em termos de
faturamento por mês, predomina (47,7%) a faixa de R$ 50,00 a R$180,00, vindo em
seguida, e em bem menor proporção (22,3%), a faixa de R$ 180,00 a R$360,00.
No que se refere ao local em que adquire os produtos necessários à manutenção
de seus negócios, 43,4% delas adquirem o(s) produto(s) no próprio bairro, mesmo assim
29,4% recorrem a outros estados ou municípios para comprarem seus produtos.
8
O potencial de crescimento é bem relevante visto que 67,3% destas mulheres tem
pretensões de expandir seus negócios, enquanto apenas 25,0% delas pretendem mudar de
atividade. Entretanto as entrevistadas na sua maioria (62,3%) não têm qualquer controle
sobre o que vendem e o que gastam no seu pequeno negócio e apenas 15,4% já fizeram
algum treinamento relativo à sua atividade comercial, sendo isso uma desvantagem
competitiva para elas. Mesmo assim, vale destacar que 56,3% afirmaram ter interesse em
participar de cursos profissionalizantes como “corte e costura”, “culinária”, “cabeleireira”,
“técnicas de vendas”, “artesanatos”, dentre outros. Um outro bom indicador é que entre as
mulheres que afirmaram ter participado de algum treinamento, 47,8% destas o fizeram há
menos de 01 ano, provavelmente motivadas pela concorrência local ou ainda pelo vontade
de aprender novas técnicas.
Dentre as principais dificuldades gerenciais enfrentadas pelas entrevistadas,
elas apontaram o controle financeiro e o controle de estoque de mercadorias como seus
principais obstáculos, 51,0% e 61,0% respectivamente. Já o atendimento ao cliente e a
qualidade do produto/serviço , foram seus principais pontos positivos, 94,0% e 93,3% delas
respectivamente.
A principal estratégia de vendas utilizada por essas mulheres para influenciar
seus clientes a comprarem seus produtos é, para 28,7% delas, a facilidade de pagamento,
muito embora uma parcela não desprezível (19,3%) não utilizar meio algum para aumentar
suas vendas.
Uma outra característica importante nestas mulheres é que a maioria delas
(61,7%) não possuem outra fonte renda a não ser aquela gerada pelo próprio negócio, e isso
denota a grande necessidade destas mulheres em continuarem provendo o sustento ou parte
deste de sua família.
Em relação à necessidade de empréstimos, uma grande parte (61,7%) não
precisou utilizar desse recurso em suas atividades comerciais, entretanto
um número
significativo de mulheres já recorreu ou recorre a empréstimos para manter seus negócios,
tendo como fonte principal, em uma mesma proporção (34,5%), bancos e parentes, seguida
de agiotas (6,2%). Há de se considerar ainda que a freqüência com que isso ocorre é
pequena, para as 49,6% entrevistadas que já se utilizaram desse recurso.
9
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma vez elaborado o perfil das mulheres microempreendedoras do bairro do
Jacintinho , com o intuito de prover subsídios para que essas mulheres possam vir a ser
inseridas em um programa, onde o microcrédito tenha um papel relevante e determinante na
melhoria da sua qualidade de vida, consideramos importante algumas notas conclusivas que
foram norteadas pelas seguintes indagações: Que condições sócio-econômicas dificultam
ou favorecem o negócio e a vida destas mulheres microempreendedoras?; Que chances têm
essas mulheres como microempreendedoras num mundo cada vez mais globalizado?
É de se reconhecer, de acordo com os indicadores apresentados no perfil das
mulheres microempreendedoras do bairro do Jacintinho, que existem possibilidades
substanciais para a inserção dessas mulheres em um programa de microcrédito, na
perspectiva do desenvolvimento sustentável . Os indicadores são os seguintes:
a. O fato do local da maioria das atividades econômicas nesta pesquisa coincidir com a
própria residência dessas mulheres, tende a proporcionar vantagens tanto objetivas
como subjetivas. Por exemplo, não exitem custos como aluguel do ponto comercial,
transporte no deslocamento casa-trabalho, dentre outros. Além disso, a proximidade
negócio/residência permite à mulher uma maior assistência à família como um todo, o
que diminui sensivelmente os conflitos11 que poderiam ser gerados a partir de sua
ausência por um período muitas vezes superior a 8 horas/dia;
b. Uma vez que o seu pequeno negócio é próprio, ela consegue auferir maiores lucros para
contribuir com os gastos familiares e /ou permitir novos investimentos em sua empresa;
c. As mulheres do mercado informal do bairro do Jacintinho são profissionais experientes,
maduras e trabalhadoras. Experientes no negócio, entre outros aspectos por estar há
mais de dois anos no mesmo ramo de atividade informal. Maduras por estarem na sua
maioria na faixa 30 a 44 anos de idade, o que coincide com dados de pesquisas
nacionais inferindo que se na década de 60 a maioria das mulheres inseridas no
11
Para um maior debate sobre os relacionamentos e conflitos familiares onde a mulher exerce ativdades
econômicas em sua própria residência, consultar Yunus (2000).
10
mercado de trabalho eram jovens, no final da década de 80 houve uma mudança
significativa quando a maioria das mulheres que trabalhavam fora de casa passaram a
adultas (mais velhas), casadas e mães. Trabalhadoras pois trabalham mais de oito horas
por dia em seus pequenos negócios, inclusive nos finais de semana, e os dados indicam
também que suas atividades religiosas em nada impedem o seu ritmo de trabalho;
d. Apesar de uma parte dessas mulheres ainda manterem sozinhas seus próprios negócios,
uma significativa parcela gera emprego e renda na medida em que essas mulheres
geram em média, 1,6 empregos por negócio estabelecido;
e. Constatamos que, em sua grande maioria, a presença de parentes é predominante nestes
pequenos negócios. Isso também diminui os custos da empresa com a ausência de
encargos trabalhistas, ao mesmo tempo que aumenta a renda familiar, o que a torna
mais eficiente tanto sob o ponto de vista econômico como do social;
f. Apesar da maioria destas mulheres morarem com seus companheiros e/ou maridos, e os
considerarem os chefes da família, são elas que geralmente assumem sozinhas o
cuidado dos filhos, como também as despesas da casa. Esses dados leva-nos a
confirmar o pressuposto de que "investir na mulher é investir na família e em última
instância, na melhoria da sociedade".
g. Apesar de não haver indicadores de desequilíbrio no que se refere à manutenção e
durabilidade de seus negócios, os resultados indicam que estes são administrados de
uma forma mais intuitiva do que técnica, sem que isso acarrete maiores problemas,
como por exemplo, dívidas que os comprometa.
h. Apesar do baixo índice de participações em cursos profissionalizantes, essas mulheres
utilizam diversas estratégias de vendas para atrair seus clientes como: facilidades no
pagamento, descontos, propagandas ou até mesmo o famoso “boca-a-boca”, onde a
divulgação de seus produtos/serviços se dá através de seus próprios clientes;
i. Considerando que a grande maioria entrevistada mora no bairro (98,4%), isso nos leva a
acreditar que as mesmas podem facilmente interagir entre si de forma a aumentar suas
chances de acesso ao microcrédito, ao mesmo tempo em que se reduzem as chances de
uma inadimplência elevada.
11
j. É possível detectar, através desta pesquisa, a necessidade de um trabalho social na área
de saúde, reprodutiva e sexual, indicado pelo fato de que uma grande maioria das
mulheres, por terem feito a laqueadura de trompas e portanto não correrem mais o risco
de engravidar, não usam camisinha, o que pressupõe um elevado risco de contrair
DST/AIDS. Como também na área de educação, na medida em que a grande maioria
das mulheres possui apenas o primeiro grau incompleto. Aliado a este último, o baixo
grau de escolaridade converge com o fato da perda dos filhos em um maior número,
tendo como principal causa doenças que poderiam ser facilmente evitadas caso o bairro
oferecesse uma infraestrutura necessária para uma melhor qualidade de vida dos
moradores12.
k. É de se considerar o precário poder aquisitivo das mulheres entrevistadas se
compararmos o faturamento nos seus negócios com as horas trabalhadas, indicando
portanto a necessidade de investimentos na formação técnica-administrativa, no
incentivo à expansão dos seus negócios, entre outros. Vale lembrar que existem
condições para isso, segundo detectado por esta pesquisa, já que grande parte das
mulheres entrevistadas são favoráveis e afirmam ter interesse em expandir seus
negócios e em fazer cursos de capacitação profissional. Portanto, a princípio, não há
resistências a esses incentivos que podem ocorrer com o acesso ao microcrédito;
l. Detectou-se que o empréstimo já faz parte da vida de algumas destas mulheres.
Contudo, um número ainda reduzido delas recorrerão/recorrem ao crédito formal, como
já era previsto a partir de outras pesquisas semelhantes que afirmam que as mulheres
têm dificuldades de lidar com a burocracia do sistema tradicional de crédito e portanto
poucas recorrem ao a esse sistema.
Em suma, as vantagens de investir nas mulheres microempreendedoras do
bairro do Jacintinho superam as dificuldades, de acordo com os indicadores da pesquisa
apresentados acima Neste sentido é possível ratificar que de uma forma geral grande parte
dessas mulheres tem os pré –requisitos necessários para se tornarem usuárias bem
12
Yunus comenta que as mulheres tendem a diminur o número de filhos naturalmente a medida que tornamse mais bem sucedidas em seus negócios. Além disso, essas mulheres preocupam-se com a qualidade de vida
12
sucedidas do banco de microcrédito – AMICRED -, como uma forma rápida, simples e
mais eficiente do que as tradicionais políticas de incentivo oferecidas ao pequeno e micro
empresário.
BIBLIOGRAFIA
FREITAG, Bárbara. Sociedade e Consciência. São Paulo, Editora Cortez, 1993.
CUT – Escola de formação da CUT no Nordeste. DSS e Economia Solidária: Debate
Conceitual e Relatos de Experências. Recife, 2000.
PASTORE, José. Situação Sócio-econômica da Mulher. Palestra apresentada no ITAE –
Instituto de Tecnologia Avançada em Educação, São Paulo, 1999.
ROCHA, Maria Isabel B. Trabalho e Gênero: Mudanças, Permanências e Desafios.
Campinas:ABEP, NEPO/UNICAMP e CEDEPLAR/UFMG/São Paulo, Editora 34, 2000.
YUNUS, Muhammad. O Banqueiro dos Pobres. São Paulo, Editora Atlas, 2000.
de sua família e sempre têm como prioridade a saúde, a educação e a higiene de seus filhos assim que
conseguem obter os recursos oriundos de seu trabalho.
13
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O PERFIL DA MULHER MICROEMPREENDEDORA DO