SOBRE O PROLONGAMENTO PARA ESTE DO JAZIGO DE FERRO DE MONCORVO por J. A. REBELQ* RESUMO o autor faz o enquadramento litostratigráfico do jazigo de ferro de Moncorvo e descreve o seu prolongamento para leste das Fragas de Carvalhosa, após fractura esquerda que rejeita o jazigo em cerca de 500 metros. RÉSUMÉ . L'auteur fait la description de l'encadrement lithostratigraphique du gisement de fer de Moncorvo (NE du Portugal) et décrit son prolongement à l'est de Fragas da Carvalhosa, apres être deplacé par une fracture qui provoque un rejet du gisement d'à peu pres 500 m. No decurso dos levantamentos geológicos da folha 131 (Carviçais), na escala de 1/25000, do E. M. E., que, presentemente, realizamos no âmbito do projecto da Carta Geológica de Portugal, na. esc. 1/50000, dos Serviços Geológicos de Portugal, com vista à publicação do mapa l1-D (Carviçais), detectámos numerosos afloramentos de minério de ferro que, até agora, ainda não haviam sido referenciados 1. Se bem que a maior parte destes afloramentos não mostre qualquer interesse económico - embora constituam bom indicador estratigráfico - quer pela natureza do minério, quer pelo aparente baixo teor, quer ainda pela pequena espessura das camadas mineralizadas, um deles deverá talvez merecer estudo mais atento, pois o volume que ocupa, bem como o tipo de minério presente (magnético) podem ser factores que determinem o seu interesse futuro.Sabe-se hoje que o jazigo de ferro de Moncorvo ocupa posição estratigráfica bem definida dentro da sequência sedimentar do Ordovícico inferior (DUARTE et ai., 1966; RIBEIRO & REBELO, 1971; RIBEIRO, 1974; TEIXEIRA & REBELO, 1976; REBELO & RIBEIRO,1977). Um esboço da coluna litostratigráfica da região cartografada (fig. 1) mostra-nos a posição do minério de ferro dentro deste sistema. O facto de termos encontrado uma impressão de trilobite fossilizada em rocha ferrífera - Neseuretus tristani BRONG. - espécie peculiar no Ordovícico português, do andar Landeiliano (TEIXEIRA & REBELO, 1976) que, embora solta, só poderia ter vindo de camadas centrais do Complexo mineralizado (fig. 2), leva-nos a pensar que, pelo menos, cerca de metade da deposição deste Complexo teria tido ainda lugar durante parte daquela idade~ A ser assim, tal facto concordaria com o esquema do diacronismo da deposição das camadas de base do Ordovícico já estabelecido por A. RIBEIRO (1974, pp. 28-30), e viria precisar melhor a idade do jazigo de ferro. o Complexo mineralizado que dá origem ao jazigo de ferro de Moncorvo desenvolve-se ao nível dos Quartzitos Superiores (01a) aos quais passa gradual e lateralmente. É constituído por (REBELO & RIBEIRO, 1977), alternâncias numerosas de camadas de minério de ferro (martite, hematite e magnetite, principalmente) e estéril (xistos, xistos psamíticos, psamitos e quartzitos) cujas espessuras são variáveis, podendo ir de cerca de 1 cm a mais de uma dezena * Serviços Geológicos de Portugal. No relatório preliminar sobre o jazigo de ferro de Moncorvo (REBEW & RIBEIRO, 1977) referimo-nos aos afloramentos até à data conhecidos, que se situam no mesmo uiveI estratigráfico do jazigo de Moncorvo. Tais são: - na vertente S do rio Sabor, 3 km a NNE de Souto da Velha; -1 000 maNE da povoação de Felgar; - na barreira do C. F., 150 m a E da estação de FeIgar; - 500 m a SE de Felgueiras - as bancadas atravessam a estrada; - no interior do sinclinal de Moncorvo: 1 750 m a SSE do do v. g. Barril. O minério aflora no leito da ribeira do Souto. 1 267 o Xi stos com ,r~ono. graptus, braqui6p2 O des, Orthoceras e crir\6ides. N6dulos com ':J graptus. ...J Calc4rios -a::: cn Alternlncias de xistos pelf. .ticos cinzento-azulados, xistos siltfticos passando por vezes a xistos ,psamfticos com intercal: ç!es m'tricas de xistos ampelitosos, calcários e calcoxistos. n~ides, ~==~ e raros M _;;;..o.;~~=! Orthonota britannica .... .... e Z Xistos! carbonosos, cinzentos, por vezes azulados, co~ bos de pirites e n6dulos, mente piritosos. ..w cn ->< ' -.......... a::: cn Xistos com raros Orthis - Altern&ncias milim'tricas,a centim'tridas de xistos e psamitos ou quartzitos z C ..... Raras bancadas de quartzito~ gresosos decim&tricos Xistos o u u Quartzitos compactos em ba~. cadas m&tricas a,decam~tricas com intercalaç8es de xistos e psamitos em leitos bem defini. dos Bancadas de ferro z cn u Alternlnçias centim'tr'icas de xistos e xistos psamfticos com r:aras e fi nas i nterca 1açõe's de quartzitos, mais frequentes, para o topo. ....= cn > .... O '..... ....a::: - = '= ..... a::: == ......... "'- e ,e = = .... cn c::t' I C tt: O (f) GI CIl ... GI :õo >< :õ E ->< g CI) ....o 'N .... Alternâncias de xistos, quar tzitos e psamitos em bancadas centim&tricas, decim'tricas, por'vez~s m&tricas. Conglomerado de'base, 10calJ Altern3ncias de grauvaques de'gr!o fino com xistos pelftico-siltosos. localmente intercalaç8es de quarh.itos i mpuros de gr!o fi no,. rochas cal~o-siljcatadas e conglomerados. S- I\! ::s CY . · "><·· U Fig. 1 - Coluna litostratigráfica do sinclinal ordovicico~silúrico de Moncorvo 268 g s N 800 750 700 650 ~ .xis.tos e psamitos superiores o Complexo mineralizado ~ Quartzitos 6 550 100 200 300 400 600 500 700m Fig. 2 - Corte geológico passando pelo v. g. Soalheira, mostra a estrutura do complexo mineralizado bem como a localização do achado fóssil de metros. O conjunto deve rondar, no máximo, pelos 160 ± 20 m. Sobre este Complexo depositou-se formação xisto-psamitica (02b) composta por alternâncias milimétricas a centimétricas de xistos, psamitos e quartzitos, em leitos mal definidos. Contém intercalada pequena bancada ferritizada castanho-esverdeada (limonites pobres), derradeiro testemunho da deposição ferrífera. Tal facto, fora já observado a S das Fragas da Carvalhosa, quando do levantamento geológico do jazigo, na escala de 1/5000. No prosseguimento para leste da cartografia do sinc1inal de Moncorvo, foi detectada a continuação lateral dos afloramentos ferríferos. Assim, após fractura esquerda, de direcção NI0 o E, com rejeito horizontal de cerca de 500 m, que corta o jazigo da Carvalhosa na sua parte oriental, o minério de ferro volta a aflorar, formando pequeno sinclinal muito aberto envolvendo as camadas basais do jazigo (fig. 3). As bancadas ferriferas podem observar-se nas trincheiras da E. N. 220, imediatamente a seguir ao cruzamento do caminho que leva às Quintas da Nogueirinha. O minério aflorante é cinzento-acastanhado, cinzento ou cinzento-pardo azulado, mais ou menos claro, mostra granularidade média e apresenta traço vermelho ou vermelho escuro; tem geralmente, propriedades magnéticas. Algumas amostras pontuais colhidas e analisadas nos laboratórios da Ferrominas E. P. em Moncorvo, deram os seguintes valores: %P %Fe total % Fe O Amostra A 42,30 1,45 30,28 0,36 » B 43,92 0,53 28,74 0,12 » C 48,58 4.37 22,14 0,52 A passagem vertical do Complexo mineralizado para os quartzitos da base pode ver-se, igualmente, na barreira da mesma E. N., no início da recta que precede o cruzamento para Mós. O minério torna-se mais silicioso e acastanhado; passa, depois, a quartzitos ferruginosos e, seguidamente, aos quartzitos claros e compactos da base. A área está coberta por depósitos de vertente e de planalto, pelo que se torna difícil precisar o limite S e SE desta parte do jazigo, tanto mais que não é fácil, às vezes, distinguir se o minério que aflora pontualmente em diversos locais, pertence ao nível do Complexo mineralizado, ou se corresponde já ao horizonteferrifero da formação Olb' Pode-se prever, no entanto, que, para sul, se desenvolve pequeno antic1inal cujo flanco meridional se prolonga para leste, até ser interseptado por nova falha esquerda que volta a rejeitar o minério para norte, agora reduzido apenas a alguns metros de espessura. Mais para leste, as formações ferríferas do Complexo voltam a aflorar em diferentes pontos, normalmente acompanhadas por quartzitos compactos, com espessuras que, raramente, ultrapassam os 3 m. O minério aparenta ser silicioso, é normalmente magné269 +++++++++++++++++++++++++++++++++++++ + + + + + + + + + + + + + +·t + "+ + + + + + + + + + + + + +~++ + ++++++++++++++++++++++++++++++ + + + + .. +.+ + + + + + + + + + +.+ + + + + + + + + + + + + + + + + + +-+ +++++++++++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++++++~+++++++++++++ +++++++++~+++++++++++++++~++++~+ +++++++++++++++++++++*+++++++++++ ++~++++++++++++++++++++++++++++ + + + + + + +"+ + + + + +. + + + + + 4++ +++++++++++++++ +++++++ +-""'~-+ + + + lii[§ .. X ln ~. iii' )< CD C CD "O . . ... .aiD ii!. .. . Õ c. [ill CD Ui' o· ~ o CD. c.< "O ii" CD :> (lO ~ - -CD :> CD ~ CD (3 ;:;> o e c. ÕCD CD Õ o· 3 ~ 5" o ~ a. 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A ocorrência de afloramentos é numerosa, mas o facto da espessura das camadas ferríferas detectadas ser sempre reduzida, leva-nos a pensar que este nível é desprovido de interesse económico. ° ° BIBLIOGRAFiA DUARTE, M. L., CoUTINHO, J., BARROS, R. & RIBEmo, A. (1966) - Estudos geológicos no sinclinal de Moncorvo. Boi. de Minas, Lisboa, VoI. 3, n.O 1, pp. 51-53. REBELO, J. L. & RmEmO, A. (1977) - Relatório preliminar sobre a geologia do jazigo de ferro de Moncorvo. Relat6rio inédito, Lisboa. RIBEmo, A. (1974) - Contribution à l'étude tectonique de Trás-os-Montes Oriental. Mem. Servo Geol. Port., Lisboa, N. S., n.O 24. RIBEmo, A. & REBELO, J. (1971) - Estudo geológico da região de Moncorvo e, em especial, do seu jazigo de ferro. I CHILLAGE, Madrid e Lisboa, Sec. 4, t. 2, pp. 983-994. ROMARIZ, C. (1969) - Graptolitos Silúricos do Noroeste Peninsular. Com. Servo Geol. Port., Lisboa, t. LIlI, pp. 107-156. SAMPELAYO, P. 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