XXV DOMINGO Tempo Comum– AnoB
Evangelho- Mc 9, 30-37
“O Filho do Homem vai ser entregue...
Se alguém quiser ser o primeiro, que
seja aquele que serve a todos
Ir. Florinda Dias Nunes-sjbp
No próximo domingo a liturgia nos convida a continuar aprofundando como seguir Jesus.
Conteúdo e contexto
Mc 9,30-37 é o texto do 25º domingo comum. Jesus e os discípulos encontram-se na Galileia,
e quer ficar a sós com eles, pois está ensinado-os. Estamos na segunda parte do Evangelho
segundo Marcos e também no segundo anúncio da paixão de Jesus.
Pode-se perceber três gestos importantes neste texto:
vv. 30-32 - Jesus ensina os discípulos
vv. 33-34 - os discípulos discutem sobre quem é o maior entre eles
vv. 35-37 - Jesus compara o Reino com a criança.
vv. 30-32 - Jesus ensina os discípulos
Os vv. 30-31a são próprios de Marcos. Neles estão expressos a nova dinâmica de ensinamento
de Jesus, bem como a crescente incompreensão dos discípulos. Jesus disse-lhes: “O Filho do
homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua
morte, ele ressuscitará” (v. 31). Mesmo com a afirmação da ressurreição, os discípulos não
compreendem como Deus pode permitir que o seu Filho fosse entregue à morte. Também os
catecúmenos se perguntavam se realmente era necessário que Jesus morresse para trazer a
salvação. Hoje muita gente ainda se pergunta: por que a morte de Jesus na cruz? Será que
tudo isto fazia parte do plano de Deus? Quem ler este Evangelho com atenção irá perceber
que Marcos mostra que a paixão de Jesus está dentro do plano do Pai. É ele quem “entrega”
seu Filho para salvar a humanidade. Deus entrega o Justo para salvar os pecadores. A morte,
porém, não tem a última palavra, “três dias depois de sua morte, Jesus ressuscitará” (v. 31).
O Pai nos ama a tal ponto de entregar seu próprio filho para que tenhamos vida plena.
vv. 33-34 - os discípulos discutem sobre quem é o maior entre eles
O compromisso com o seguimento de Jesus que é perseguido, provoca medo e
incompreensão. Esta incompreensão é constante em Marcos, desde o início até o fim do seu
Evangelho. Ela está associada ao medo de fazer perguntas, sobretudo porque não querem
compreender o messianismo de Jesus, temem um compromisso maior. Preferem ficar calados
diante da interrogação que Jesus lhes dirige ao chegarem em casa. De fato vinham discutindo
sobre quem seria o maior. Esta é uma preocupação que acompanha todos os que estão no
seguimento de Jesus em busca de posição social, de reconhecimento.
A passagem é exclusiva de Marcos. Num diálogo literariamente muito elaborado, Jesus
corrige a ambição de poder, que toma como base a discussão que os discípulos fazem pelo
caminho.
Notemos bem o contexto em que isto acontece: a casa é o lugar de refúgio; o “caminho” tem a
conotação simbólica do seguimento. A prática dos discípulos é insustentável diante da análise
de Jesus; por isso ficam calados como fizeram os opositores de Jesus (cf. 3,4; 11,33). Jesus
porém, rompe o dinamismo que fecha o homem em sua própria ambição, para subverter a
lógica social do poder opondo-o, a partir do Reino, o valor do serviço como norma de conduta
a que o quiser seguir.
vv. 35-37 - Jesus compara o Reino com a criança
Aprofundando melhor o texto, Jesus aproveita esta situação para mostrar algo a mais. Reúne
os discípulos e coloca no meio deles uma criança, abraça-a e diz: “Quem acolher em meu
nome uma destas crianças é a mim que está acolhendo. E quem me acolher está acolhendo
não a mim, mas àquele que me enviou” (v. 37). Notemos que o próprio Jesus coloca a criança
no meio dos discípulos, justamente para que percebessem o que significa ser grande no Reino.
A criança é sinal de quem necessita, de quem depende dos outros para sobreviver, de quem se
entrega nas mãos do Pai, de quem confia na misericórdia dos que estão à sua volta. Quem
acolher em nome de Jesus uma destas crianças, ou seja, um dos necessitados, marginalizados,
desprezados é a Ele que estará acolhendo. Jesus se revela na contramão da história. Quem
procura seu próprio interesse não consegue ser verdadeiro discípulo e discípula de Jesus. E
acrescenta: quem me acolher está acolhendo aquele que me enviou. Jesus é bem claro, não há
sombra de dúvidas, só pode acolher o Pai quem O acolher na condição de servo que dá a vida
para a salvação de todos. Acolher Jesus, portanto, é fazer o mesmo caminho de serviço até o
fim, até a cruz, pois a diaconia do Mestre se prolonga nas ações da comunidade cristã.
Concluindo
Hoje, mais do que nunca somos convidados a posicionar-nos. As propostas de bem estar que
chegam até nós são tantas, de modo particular veiculadas pelos meios de comunicação que
ficamos atordoados, mas se formos capazes de perceber o projeto de Deus, seremos capazes
de colocarmo-nos no seguimento de Jesus até as últimas conseqüências. Se quisermos
realização própria e momentânea ficaremos à margem, sem compromisso com a
transformação, tanto social como pessoal, que acontece a partir da adesão plena ao projeto do
Pai. Como está nossa disposição para com a proposta de Jesus? Estamos dispostos a servir
sem esperar recompensa ou reconhecimento?
Bibliografia
Bíblia (algumas traduções)
Angelico Poppi. I quattro Vangeli. Commento sinottico. Edizioni Messaggero Padova,
1997, 314-318;
Carlos Bravo Gallardo. Jesús, hombre en conflicto. El relato de Marcos en América
Latina. Editorial Sal e Terrae, Santander, 1986, 175-176;
Frei Gilberto Gorgulho e Ana Flora Anderson. O Evangelho e a vida. Marcos. Ed. Paulinas
1975, 136- 139;
Euclides Martins Balancin. Como ler o Evangelho de Marcos. Quem é Jesus? Paulus,
1991, 123-139.
Download

XXV DOMINGO Tempo Comum– AnoB Evangelho- Mc 9, 30-37