CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Pedro Henrique de Oliveira Figueiredo O trabalho de campo na Geografia Escolar como estratégia para a percepção da dimensão socioespacial do real. Belo Horizonte Março 2011 Pedro Henrique de Oliveira Figueiredo O trabalho de campo na Geografia Escolar como estratégia para a percepção da dimensão socioespacial do real. Dissertação e proposta de intervenção apresentadas ao Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre Área de concentração: Inovações Sociais Educação e Desenvolvimento Local Linha de pesquisa: Processos Educacionais: Tecnologias Sociais e Gestão do Desenvolvimento Local a a Orientadora: Prof . Dr . Rosalina Batista Braga Belo Horizonte Março de 2011 F476t Figueiredo, Pedro Henrique de Oliveira O trabalho de campo na geografia escolar como estratégia para a percepção da dimensão socioespacial do real / Pedro Henrique de Oliveira Figueiredo. – 2011. 108f.: il. a a Orientador: Prof . Dr . Rosalina Batista Braga. Dissertação (Mestrado) - Centro Universitário UNA 2011. Programa de Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Bibliografia f. 90 – 93. 1. Geografia – estudo e ensino – Trabalho científico de campo. I. Braga, Rosalina Batista . II. Centro Universitário UNA. III. Título. CDU: 658.114.8 Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Dissertação intitulada ―O trabalho de campo na Geografia Escolar como estratégia para a percepção da dimensão socioespacial do real‖, de autoria do mestrando Pedro Henrique de Oliveira Figueiredo, aprovada pela banca examinadora, constituída pelos seguintes professores: _____________________________________________________ Prof.ª Dra. Rosalina Batista Braga (Orientadora) – UNA ____________________________________________________ Prof.ª Dra. Valeria de Oliveira Roque Ascenção – UFMG __________________________________________________ Prof.ª Dra. Áurea Regina Guimarães Thomazi – UNA ______________________________________________________ Prof.ª Dra. Lucília Regina de Souza Machado Coordenadora do Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local Belo Horizonte, 16 de março de 2011 A solidão da escrita foi uma conquista. Por isso, reconheço o carinho de duas pessoas em especial: minha orientadora Rosalina pela persistência e competência e minha esposa Caroline pela paciência e compreensão. Agradeço sempre a presença dos meus pais e de todos que de certa forma contribuíram para a realização desta pesquisa. RESUMO A ampliação da leitura de mundo dos alunos é um dos objetivos propostos para a educação básica. A Geografia Escolar busca desenvolver essa leitura, promovendo uma ressignificação da dimensão socioespacial do real. Partiu-se da hipótese de que uma das formas para se atingir essa leitura seria por meio de uma apropriação adequada do trabalho de campo escolar. Esta pesquisa se propôs investigar a potencialidade dessa estratégia pedagógica para a construção de percepções da dimensão socioespacial da realidade dentro do universo da educação geográfica. Para isso, foi desenvolvido um projeto de trabalho de campo em um assentamento de sem terra onde, hipoteticamente, o grupo de assentados havia desenvolvido Tecnologias Sociais. Trabalhou-se com a hipótese de que o contato com essas Tecnologias Sociais de produção e apropriação do espaço e com o cotidiano do assentamento fomentaria novas leituras de mundo. Foram identificadas algumas mudanças nas percepções dos alunos sobre a dimensão socioespacial dos processos de produção e apropriação do espaço geográfico. A metodologia da pesquisa foi, essencialmente, qualitativa e a coleta de dados foi organizada em três períodos: uma parte antes do trabalho de campo, para identificar as percepções iniciais dos alunos; outra durante a execução do trabalho de campo, após uma preparação metodológica e teórico-conceitual dos alunos e por fim uma após a realização do trabalho de campo, para o processo de sistematização da atividade, quando foram identificadas algumas mudanças ocorridas nas percepções dos alunos. PALAVRAS-CHAVE: Educação geográfica. Trabalho de campo. Geografia escolar. Tecnologia social. ABSTRACT The expansion of students' reading of reality is one of the goals espoused for elementary and high school in Brazil. The Geography taught in those levels tries to develop this approach, promoting a redefinition of sociospatial dimension of reality. This research had the hypothesis which working with outdoors classes would improve this redefinition. This study intended to investigate the potential this strategy to develop new perceptions of the sociospatial dimension of reality. Furthermore, it was developed a project in a settlement where, hypothetically, the group of landless had developed Social Technologies. This research also worked with the hypothesis that the contact with these Social Technologies of production and appropriation of space and with the daily work in the settlement would encourage new readings of the world. We identified some changes in students' perceptions about the sociospatial processes of production and appropriation of the geographical space. The research methodology was essentially qualitative and the data collection was divided into three parts: the previous one was to identify the initial perceptions of students; the second one happened during the execution of project with a theoretical and methodological preparation of the students and the last one was after the project with the process of systematization of the activity, when it was identified some changes in the perceptions of students. KEYWORDS: Geographic education. Outdoor class. School geography. Social technology. LISTA DE GRÁFICOS 1. Depoimentos sobre as habitações populares entre e depois do trabalho de campo ........................................................................................................37 2. Percepções sobre as condições de vida em aglomerados urbanos e no assentamento..................................................................................................43 3. As percepções sobre a ocupação do espaço urbano e do espaço rural ........48 4. A percepção sobre a geração de renda antes e depois do trabalho de campo em áreas de agroindústria..............................................................................56 5. A percepção sobre a geração de renda antes e depois do trabalho de campo em áreas com agricultura de subsistência......................................................58 6. As percepções sobre a urbanização do Brasil................................................62 7. As percepções sobre as atribuições do poder público no meio urbano .........66 8. As percepções sobre a organização do espaço agrário antes e depois do trabalho de campo ..........................................................................................70 9. As percepções sobre as atribuições do poder público no meio rural .............74 10. Técnicas e saberes percebidos pelos alunos no assentamento ....................77 11. As relações entre os assentados e o poder público .......................................78 12. Elementos percebidos pelos alunos para construção de técnicas e estratégias para o equacionamento dos problemas do cotidiano......................................79 13. Depoimentos sobre as mudanças de percepção sobre o meio rural ocupados por assentados ...............................................................................................80 LISTA DE QUADROS 1. Percepção sobre as habitações populares.................................................................35 2. Percepção após o trabalho de campo sobre as habitações populares....................................................................................................................36 3. Percepção sobre as moradias de alto luxo.................................................................39 4. Percepção inicial sobre a condição de vida em áreas pobres....................................41 5. Percepção após o trabalho de campo sobre a condição de vida em áreas pobres.........................................................................................................................42 6. Percepção inicial da ocupação do espaço rural e do espaço urbano.........................45 7. Percepção após o trabalho de campo da ocupação do espaço rural e do espaço urbano........................................................................................................47 8. Percepção inicial sobre a agricultura de subsistência................................................50 9. Percepção inicial sobre as agroindústrias...................................................................51 10. Percepção inicial sobre a condição de vida no meio rural..........................................52 11. Percepção inicial sobre a ocupação do meio rural.....................................................54 12. Percepção após o trabalho de campo sobre as agroindústrias..................................55 13. Percepção após o trabalho de campo sobre a agricultura de subsistência ...............................................................................................................57 14. Percepção inicial sobre o processo de urbanização...................................................60 15. Percepção após o trabalho de campo sobre a urbanização brasileira.......................61 16. Percepção inicial sobre as atribuições do poder público no meio urbano..................64 17. Percepção após o trabalho de campo sobre as atribuições do poder público no meio urbano.................................................................................................................65 18. Percepção sobre a organização do espaço agrário brasileiro....................................68 19. Percepção após o trabalho de campo sobre a organização do espaço agrário brasileiro...............................................................................................................69 20. Percepção sobre as atribuições do poder público no meio rural................................72 21. Percepção após o trabalho de campo sobre as atribuições do poder público no meio rural.....................................................................................................................73 22. Análise das percepções dos alunos sobre o mundo agrário brasileiro antes e depois do trabalho de campo.......................................................................................................81 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................8 2 REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................................................14 2.1 A Geografia Acadêmica e a Escolar e a aproximação da educação geográfica com a dimensão socioespacial do real.............................................................................................................14 2.2 O Trabalho de campo escolar ........................................................................................................21 2.3 As Tecnologias Sociais e o Ensino de Geografia...........................................................................25 3 METODOLOGIA E PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS.....................................................27 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................33 4.1 Sobre as habitações.......................................................................................................................33 4.2 Sobre as condições de vida num aglomerado urbano e no Assentamento Pastorinha......................................................................................................................40 4.3 Sobre a ocupação do espaço rural e do espaço urbano................................................................44 4.4 A agricultura de subsistência e a agroindústria..............................................................................49 4.5 As condições de vida no espaço Rural Brasileiro (agricultura de subsistência e agroindústrias)...................................................................................................................................51 4.6 O processo de ocupação no espaço Rural Brasileiro (agricultura de subsistência e agroindústrias).......................................................................................................................................53 4.7 A geração de renda no meio rural (a agroindústria e a agricultura de subsistência.......................54 4.8 Sobre o processo de urbanização..................................................................................................59 4.9 Sobre as atribuições do poder público na organização do espaço urbano ....................................63 4.10 Sobre a organização do espaço agrário........................................................................................67 4.11 Sobre as atribuições do poder público na organização do espaço rural ......................................71 5. A PERCEPÇÃO DOS ALUNOS NO ASSENTAMENTO PASTORINHA E A (RE) SIGNIFICAÇÃO DA DIMENSÃO SOCIOESPACIAL DO REAL..................................................75 5.1 Sobre as negociações comunitárias e a comercialização dos produtos agrícolas.........................75 5.2 Sobre os saberes e as técnicas comunitárias.................................................................................76 5.3 Sobre as lideranças comunitárias e poder público..........................................................................77 5.4 Sobre as estratégias de desenvolvimento da comunidade.............................................................78 6. AS MUDANÇAS NAS PERCEPÇÕES DOS ALUNOS SOBRE O ASSENTAMENTO PASTORINHA .......................................................................................................80 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................83 8. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ...................................................................................................87 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................90 10. APÊNDICES ...................................................................................................................................94 10.1 - Roteiro para o diagnóstico antes do trabalho de campo.............................................................94 10.2 - Roteiro para a instrumentalização...............................................................................................96 10.3 - Roteiro para as entrevistas com os assentados.......................................... .............................101 10.4 - Roteiro para o diagnóstico depois do trabalho de campo.........................................................105 8 1. Introdução Este trabalho parte da perspectiva de que a educação básica procura desenvolver diversas formas de ampliação da leitura de mundo dos alunos por meio de diferentes procedimentos pedagógicos. Frequentemente são desenvolvidas várias estratégias didático-pedagógicas para a realização desse objetivo: visitas técnicas, pesquisas em bibliotecas e na Internet, apresentações cênicas, exposições, mostras culturais e atividades em ambientes fora da escola com destaque para o trabalho de campo. Esse último, embora seja bastante utilizado, ainda carece de uma maior sistematização, pois em seu planejamento, execução e na análise dos resultados, ainda é possível verificar muitas insuficiências. Como professor de Geografia, o autor dessa pesquisa vem tentando aprimorá-lo a cada saída a campo, contudo há ainda limitações a serem superadas para se desenvolver um aprofundamento dessa estratégia. As discussões sobre o trabalho de campo não são recentes. Em diversas ciências, ele tem sido um procedimento muito utilizado para a coleta de dados. Acredita-se que o trabalho de campo organizado e sistematizado tenha sido um dos procedimentos centrais e fundantes das atividades científicas do alemão Alexander Von Humboldt, no século XIX. Grande parte da literatura sobre a construção do pensamento geográfico identifica a publicação da coletânea Cosmos (1848) de autoria de Alexander Von Humboldt (1769-1859) como marco inicial da ciência geográfica. Humboldt, como Charles Darwin (1809-82), realizou longas viagens, percorrendo grandes porções das áreas continentais e insulares, coletando dados empíricos que, posteriormente, sustentaram suas formulações científicas. A ciência geográfica, assim como as demais disciplinas científicas, convive e se apropria das diversas alternativas metodológicas disponíveis para a produção do conhecimento. A Geografia, como a maior parte das disciplinas ligadas às ciências sociais e humanas, insere-se, historicamente, na produção do conhecimento sistemático a partir do final da primeira metade do século XIX. As escolhas 9 metodológicas na produção do conhecimento geográfico deram origem às diversas correntes no interior da Geografia e pode-se dizer que, hoje, existam ―Geografias‖. Desde meados do século XIX, a Geografia, inscrita no universo acadêmico como disciplina científica, passa a ser tomada como ciência de referência para o ensino dos conteúdos geográficos nos processos de escolarização. Os recentes estudos que consideram as especificidades das disciplinas escolares em relação às suas ciências de referências destacam a necessidade de considerar a distinção de objetivos, função e finalidades dessas práticas. (BRAGA, 2011. Prelo) 1 Mesmo com essa tradição que remonta ao início do século XIX, o trabalho de campo ainda é alvo de discussões e indagações no universo acadêmico e no universo escolar. Qual seria a melhor forma de executá-lo? Que relações ele pode propiciar entre teoria e prática? Quais as semelhanças e as diferenças com outras atividades de campo? Como realizá-lo na educação básica para que ele se torne um instrumento útil à ressignificação do espaço socialmente produzido? Por que ele, às vezes, gera desconfianças quando às suas potencialidades pedagógicas nas escolas? Há diferenças entre as práticas de trabalho de campo realizado na Geografia Acadêmica e na Escolar? Essas indagações se relacionam com a aprendizagem da dimensão socioespacial do real na educação básica. Como o trabalho de campo tem um papel histórico e a produção da Geografia científica o inscreveu em suas estratégias como instrumento de coleta de dados, desde as suas origens em meados do século XIX, nessa pesquisa se investigou a sua eficácia para a educação geográfica. Como a geografia é trabalhada no universo escolar e no acadêmico e em ambos o trabalho de campo é utilizado como estratégia de coleta de dados e de (re) significação do espaço socialmente produzido, torna-se necessário distingui-las. A Geografia Escolar não pode ser considerada como uma miniatura da Geografia Acadêmica, ou seja, a Geografia na escola não tem a função de formar geógrafos 1 BRAGA, Rosalina Batista. A (re) significação do conceito de natureza e ambiente no ensino básico: uma reflexão sobre as heranças iluministas e o trabalho de campo como mediação pedagógica. Trabalho a ser apresentado e publicado em livro, contendo coletânea dos textos dos palestrantes do XI Encontro Nacional de Prática de Ensino de Geografia — 11ENPEG — (Prelo) 10 menores. É desejável que a primeira construa, com os alunos, conceitos espaciais básicos, respeitando as possibilidades cognitivas, socioafetivas dos educandos. O objetivo principal da geografia escolar seria, então, possibilitar o desenvolvimento de um raciocínio geográfico voltado para a compreensão da realidade socioespacial que é mutável e historicamente construída. É a partir das questões anteriormente que esta pesquisa foi construída. Seu problema central está vinculado às dificuldades que os alunos têm apresentado para perceberem a dimensão socioespacial do espaço, mesmo quando ocorre o tratamento de conteúdos relacionados com a questão em sala de aula. Ela nasceu da análise de alguns dados iniciais da prática pedagógica do pesquisador como professor de Geografia. A pesquisa teve como objetivo identificar, em que medida, o trabalho de campo escolar poderia ser uma ferramenta metodológica para superar a tradição didática que reforça a memorização e afasta a possibilidade de uma interpretação da espacialidade que possibilite uma percepção concreta e sistemática da dimensão socioespacial do real pelos alunos. A proposta desta pesquisa foi investigar a potencialidade do trabalho de campo para a construção de novas leituras da dimensão socioespacial da realidade dentro do universo da Geografia Escolar. O intuito foi verificar se o trabalho de campo contribuiria para superar as características mnemônicas e enciclopedistas dessa Geografia, construindo uma percepção do espaço mais significativa e real. Considerando-se que as realidades sociais e econômicas são diversificadas e, além disso, que o espaço vivido de cada aluno é único, a construção de significados no processo de ensino/aprendizagem é diferenciado e por isso, não é aconselhável trabalhar com análises herméticas do espaço. A experiência do pesquisador como docente mostrou que na Geografia Escolar, os alunos precisam construir conceitos e significados de forma autônoma, com o intuito de elaborarem entendimentos e refletirem sobre as relações sociais e naturais. Para isso, torna-se necessário, aliar o conteúdo da disciplina com as informações e significados oriundos do espaço vivido pelos alunos para reduzir o distanciamento do real em relação aos conteúdos dados em sala. 11 Por isso, práticas pedagógicas desenvolvidas em ambientes fora da sala de aula podem, além de amenizar a tradição da geografia escolar, propiciar um contato direto com as realidades em construção e ampliar o interesse do aluno pela disciplina. No entanto, a consolidação de novos significados sobre a dimensão socioespacial do real que estruturam o espaço geográfico demanda um diálogo constante com a teoria em sala de aula. Essa relação entre teoria e prática ainda é muito discutida nas escolas sob o nome de contextualização e, até hoje, há muitas dificuldades para a aproximação do que está dentro e fora dos muros da escola. A partir da visualização dos processos de produção, organização e apropriação do espaço geográfico a relação sociedade/natureza pode ganhar um significado ainda não vivenciado pelos estudantes da escola básica. Por isso o trabalho de campo pode favorecer a consolidação de práticas pedagógicas mais instigantes e investigadoras na escola básica ao fomentar a (re) significação da dimensão socioespacial do real O trabalho de campo escolar pode se tornar uma atividade que auxilia o professor a construir com os alunos uma interpretação sobre a complexidade da produção/apropriação do espaço geográfico. Esse espaço que é o objeto de estudo da ciência geográfica necessita de uma abordagem mais atenta da Geografia Escolar, pois ele ―não pode ser estudado pelos geógrafos como uma categoria independente uma vez que ele nada mais é que um dos elementos do sistema social.‖ (KAISER, 2006, p. 97). Desta forma, a abordagem do espaço geográfico sugere a busca de práticas interdisciplinares que integrem os vários campos disciplinares. Para verificar essa abordagem e a necessidade de compreensão do dinâmico processo de produção/apropriação do espaço geográfico, os alunos realizaram um trabalho de campo no Assentamento Pastorinha localizado no município de Brumadinho (MG). Partiu-se da hipótese de que a produção de tecnologias sociais nesse espaço e a gestão do desenvolvimento local poderiam oferecer maior 12 visibilidade para a dimensão social do espaço. A dinâmica do assentamento explicitaria os processos conflituosos e contraditórios existentes, o que estimularia a (re) significação da dimensão socioespacial por parte dos alunos. A discussão sobre as Tecnologias Sociais ainda é pouco realizada no ambiente escolar. O campo de estudo desse conceito é recente e trazê-lo para a sala de aula abre novos caminhos para a interação da escola com a dinâmica social. Nesse trabalho foi considerado como Tecnologias Sociais o conjunto ―[...] de técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para inclusão social e melhoria das condições de vida” (PASSONI, 2007, p. 29) Desde a redemocratização do país no final da década de 80, discute-se que as escolas precisam dialogar mais com a comunidade do entorno. Desenvolver novos conceitos e opções pedagógicas, dentre elas a identificação e percepção de Tecnologias Sociais, pode trazer novos caminhos para a escolarização básica, sobretudo, para os estudos ligados às disciplinas vinculadas às Ciências Humanas nas escolas. Os alunos, ao compartilharem informações com a comunidade do entorno e ao construírem novos significados após um trabalho de campo em áreas que hipoteticamente desenvolveram Tecnologias Sociais, poderiam ressignificar o processo de produção e apropriação social desse espaço. Porém, há outro desafio: as articulações comunitárias e a própria escola estão diante de cenários novos e mutantes no século XXI. Os alunos de escolas da rede privada, em sua maioria, apropriam-se pouco dessas transformações. Muitos estão desconectados das novas realidades sociais onde a supressão da desigualdade e a necessidade de geração de renda ainda são aspirados. Desta maneira, o objetivo geral dessa pesquisa foi verificar se o trabalho de campo escolar em áreas em que a comunidade, hipoteticamente, tenha desenvolvido Tecnologias Sociais, contribuiria para que os estudantes incorporassem a dimensão social do espaço geográfico. Isto significaria novas leituras do mundo, (re) significação da dimensão socioespacial do real. 13 Na coleta de dados, inicialmente, foi necessário identificar como os estudantes significavam a dimensão social do espaço através de um diagnóstico em sala de aula. Após esse diagnóstico, houve realização de um trabalho de campo escolar, com um grupo de alunos do 1º ano do ensino médio. Nesse houve uma coleta de dados por meio da observação da realidade e entrevistas junto à comunidade investigada sobre os processos de produção, comercialização e organização no interior do assentamento em Brumadinho. Após o trabalho de campo, os dados foram analisados com esses alunos, sendo produzidas sínteses para identificar novos possíveis significados construídos por eles sobre a dimensão social do espaço geográfico. Por fim, foram elaborados dois canais para o fomento de discussões e divulgação de trabalhos de campo entre escolas, professores e alunos: um encarte cujo modelo está disponível neste trabalho e uma comunidade virtual em um site de relacionamento. 14 2. Revisão da literatura Eu perguntei se não aprendiam nada de Geografia. Não precisa, disse um deles, isso a gente aprende é no pé. Os igarapés vão pro Tocantins. O Tocantins desce pro mar, é só olhá, né? No topo daquele monte não serve pra plantá. A terra é ruim. No baixo é boa. É no pé mesmo, andando e olhando. (Maria Regina C. T. Sader – Espaço e Luta no Bico do Papagaio) A revisão da literatura nesta pesquisa foi arquitetada para sistematizar produções conceituais significativas a respeito da Geografia Escolar e da Acadêmica e também sobre o trabalho de campo escolar e bem como as Tecnologias Sociais. Por isso, esse capítulo, foi dividido em três partes. A primeira aborda as especificidades da Geografia Escolar e a complementaridade entre a Geografia Escolar e a Acadêmica. A segunda parte focaliza as observações e as percepções sobre o trabalho de escolar. Finalmente, a última parte faz um levantamento sobre o conceito de Tecnologia Social. 2.1. A Geografia Acadêmica e a Escolar e a aproximação da educação geográfica com a dimensão socioespacial do real. O ensino de Geografia na educação básica é alvo de diversas discussões teóricas. Entre essas se destaca a relação teoria/prática materializada no tratamento dado ao conteúdo desenvolvido em sala de aula e suas interações com a dimensão socioespacial do real. Isso, de acordo com alguns autores, pode levar o ensino da Geografia Escolar a uma redução aos conteúdos da Geografia Acadêmica ou a um 15 formato enciclopedista e mnemônico. Entretanto, pensar sobre essa questão requer pensar nas diferenciações da Geografia como ciência e disciplina escolar. O pesquisador André Chervel (1990) fundamentou, em seus estudos, a distinção entre as disciplinas escolares e as disciplinas científicas que lhes servem de referência. Segundo Braga (2003), no caso da Geografia, essa distinção ocorre, inclusive, com a separação dessas práticas no tempo. Segundo afirma a autora, a Geografia, como um conjunto de conteúdos escolares, existiu muito antes da Geografia se tornar uma disciplina científica. Alimentada por um conjunto de informações e dados espaciais a Geografia Escolar apresenta uma história própria que se constrói mediante objetivos, funções, estruturas e características ligadas e constituídas, historicamente, nas práticas de escolarização. Ainda segundo a mesma autora, a prática de confundir ou fundir a Geografia Acadêmica com a Geografia Escolar, como frequentemente é feito no cotidiano da sala de aula e até mesmo nas universidades, tem prestado um grande desserviço, sobretudo à última. Não se trata de afirmar que a Geografia Acadêmica e a Escolar são práticas isoladas e nem de pensá-las como distintas. A primeira tem sido após meados do século XIX, a ciência de referência para a segunda. Para os estudos sobre a educação geográfica básica, a fusão das duas práticas (escolar e acadêmica) tem significado, principalmente, uma secundarização, senão a própria eliminação das questões específicas sobre o ensino, na educação geográfica. (BRAGA, 2003,p.76) Para Braga (1997), a predominância da prática de memorização na Geografia Escolar no Brasil ainda é um traço importante da tradição didática escolar. Esse traço da Geografia Escolar ainda perdura nas escolas até hoje e, não raro, torna essa disciplina desinteressante para grande parte dos educandos. A memorização na educação geográfica tem levado ao esvaziamento da construção de significados e das habilidades geográficas. [...] com freqüência, trabalhamos um conteúdo de determinada forma porque já vimos alguém fazendo assim ou pensamos que esta é uma forma possível e desejável de ensinar aquele conteúdo. É freqüente trabalharmos um conteúdo sem, verdadeiramente, nos perguntarmos: por que este conteúdo e não outro? Por que assim e não de outra forma? Enfim, por que trabalhar isto, desta forma, nesta disciplina? (BRAGA, 2003, p. 64) 16 Na educação geográfica os alunos precisam construir conceitos para elaborarem entendimentos e refletirem sobre as relações entre a sociedade e a natureza, ou seja, sobre a dimensão socioespacial do real. Isso significa que aliar teoria e prática é fundamental para a estruturação dessa disciplina escolar. E, é essa perspectiva que precisa ser projetada pelo professor em seus planejamentos. A necessidade de redução do apelo à memorização na Geografia Escolar pode ser favorecida por práticas pedagógicas desenvolvidas em ambientes fora da sala de aula que propiciem um contato direto com as realidades em construção. Braga (2003) reforça a ideia de que os alunos precisam acessar, processar e interpretar as informações e os dados geográficos e não apenas memorizá-los e repeti-los. A educação geográfica pautada na memorização pode enfraquecer a apropriação do conteúdo e gerar uma desmotivação no ambiente de sala de aula. As relações espaciais, essenciais para o desenvolvimento do raciocínio geográfico, precisam ser construídas nos processos pedagógicos. Elas não podem ser tratadas como se fossem uma aquisição natural e/ou automática. São tomadas como se fossem apenas resultantes de automatismos, sem se vincularem à subjetividade dos sujeitos envolvidos, sem necessitar de um processo pedagógico que considere os significados espaciais dos educandos. Destacamos que a aquisição das relações espaciais é uma necessidade para o desenvolvimento do raciocínio geográfico e para a construção de estruturas mentais ligadas ao pensamento lógico, mas raramente são tratadas no ensino. (BRAGA, 2003, p. 78) O francês Jean Michel Brabant questionou, em 1976, as práticas mnemônicas e enciclopedistas no ensino da Geografia. Para ele, essas afastam a Geografia do real e maximizam a desmotivação dos alunos frente a essa disciplina. O autor destaca situações na Geografia Escolar onde o enciclopedismo prevalece em sala de aula. Para ele, [...] o enciclopedismo contribuiu para a abstração crescente do discurso geográfico, ao mesmo tempo que alimentou o tédio das gerações de alunos que classificaram a geografia entre as matérias a memorizar. (BRABANT, 1976, p.19). Entretanto, é necessário destacar que ―nem sempre a realidade visível esclarece completamente o que de fato acontece no espaço.‖ (SERPA, 2006, p. 16). Fazer um trabalho de campo representa, portanto, um 17 [...] momento de reconstrução do conhecimento que não pode prescindir da teoria, sob pena de tornar-se vazio de conteúdo, incapaz de contribuir para revelar a essência dos fenômenos geográficos. (ALENTEJANO e ROCHA-LEÃO, 2006, p. 57) Contudo, levar os alunos a campo para essa (re) significação da dimensão social do espaço poderia ser feito por qualquer disciplina escolar e em qualquer série. Porém, trata-se dessa dimensão social produzida e reproduzida no espaço geográfico e então, a Geografia Escolar é a disciplina que deve possuir competência construída para realizar esta atividade já que o mesmo é o seu objeto de estudo. Contudo, fazer essa afirmação não pode significar uma secundarização da necessidade das práticas multi e interdisciplinares e sim deixar clara a necessidade de precisar o campo de produção original dessa abordagem. A Geografia trabalhada dentro da sala de aula não pode ter objetivos semelhantes aos da formação dos geógrafos, mas deve servir para construir os significados que possibilitem uma releitura do mundo pelos alunos. Braga (2003) ressalta que é necessário ultrapassar práticas pedagógicas da educação geográfica que configuram como uma mera repetição da Geografia Acadêmica, pois a Geografia como disciplina escolar tem características próprias, principalmente no que tange ao desenvolvimento da percepção da dimensão socioespacial do real. Moraes (1986) também problematiza essa questão entre a Geografia Acadêmica e a Escolar, ressaltando a necessidade de uma revisão dos processos desenvolvidos na formação inicial dos professores com o que será trabalhado em sala de aula ao pontuar que as [...] práticas questionadas na discussão universitária acabam estranhas ao cotidiano do professor. O abismo da linguagem, numa época de rápida renovação, avança exponencialmente. Na mesma circularidade tem-se a defasagem do currículo universitário, que coloca o ingressante no magistério despreparado para a situação de aula. (MORAES, 1986, p.120). Outros autores também ressaltam o enfraquecimento da Geografia Escolar quando há uma reprodução da Geografia Acadêmica. [...] ainda há bem pouco tempo a geografia praticada nas escolas não ia além de uma diluição da geografia universitária, enciclopédica e com os conhecimentos organizados por gavetas. Este problema, associado a muitos outros, nomeadamente, a crise geral do ensino e da identidade da geografia, que junto do grande público se afigura como uma ciência menor, de interesse limitado e, ao nível da educação, como 18 uma disciplina fastidiosa e inútil, voltada para a simples memorização de factos sem importância. (HERCULANO, 2000, p.74) Herculano (2000) ainda pontua em seu artigo que o ensino de Geografia na escola básica deve ser oriundo de uma problemática real. Por duas razões: 1) ―Em vez de tudo querer conhecer, devem-se selecionar os principais problemas que realmente se colocam às comunidades humanas inseridas nos distintos contextos sócio-espaciais‖ 2) ―(…)a resolução de problemas alimenta a curiosidade‖ (HERCULANO, 2000, p.75) Além dessa distinção, Oliveira (1987) mostra um problema da Geografia Escolar ao criticar os livros didáticos. Para ele, a geografia que se ensina é definida pelos conteúdos encontrados nesses livros e isso pode criar uma ameaça à autonomia do professor e distanciar os conteúdos tratados em sala de aula da realidade local. Nesse processo o professor foi perdendo ou, então, nem teve a oportunidade de formar a sua condição de produtor de conhecimentos. Ele se tornou ou foi transformado em um mero repetidor dos conteúdos dos livros didáticos. As editoras chegaram inclusive a publicar o ―livro do professor‖, uma espécie de ―cartilha‖ na suposição de lhe facilitar o trabalho. (OLIVEIRA, 1987, p. 138) Essa Geografia Escolar estagnada ou repetidora da Geografia Acadêmica desmotiva os alunos. ―A Geografia foi perdendo aquilo que de especial ela sempre teve, discutir a realidade presente dos povos, particularmente no que se refere a seu contexto espacial.‖ (OLIVEIRA, 1987, p. 138). Esse mesmo autor ainda aprofunda essa discussão ao mostrar que para [...] entender esse espaço produzido, é necessário entender as relações entre os homens, pois dependendo da forma como eles se organizam para a produção e distribuição dos bens materiais, os espaços que produzem vão adquirindo determinadas formas que materializam essa organização social. (OLIVEIRA, 1987, p. 142) Brabant (1976) destaca que a Geografia como disciplina escolar além de trabalhar o espaço que é o seu objeto de estudo, precisa enfatizar a realidade vivida pelo aluno, tornando-a compreensível e significativa. Esse mesmo autor escreveu que, já em 1822, se lia que ―tudo aquilo de que a ciência se ocupa tem uma existência atual.‖ Para ele, a 19 A geografia escolar, apesar de uma predisposição aparente a tratar do mundo que nos rodeia, acabou se desenvolvendo no mesmo plano das outras disciplinas, um plano antes de tudo marcado pela abstração. Esta contradição é tão mais surpreendente na medida em que por mais longe que se remontar a história da instituição escolar contemporânea em geral e da geografia na escola em particular, encontra-se esta preocupação permanente da ligação privilegiada da geografia com o real. (BRABANT, 1976, p.15) Verifica-se que esse questionamento sobre a relação entre a Geografia e o real ainda precisa se concretizar. Essa disciplina ainda é trabalhada de uma forma muito descritiva em algumas escolas e isso pode torná-la desinteressante. Para Brabant (1976), a ênfase na descrição implica em uma despolitização do aluno, ou seja, ela se distancia de possíveis críticas e intervenções no seu respectivo cotidiano. Ao trabalhar a Geografia Escolar em conteúdos encaixotados e de forma enciclopédica oriunda de conhecimentos produzidos pela Geografia Acadêmica, o aluno acaba se distanciando do real. No entanto, há um paradoxo. Segundo Brabant (1976), ao mesmo tempo em que a Geografia se propõe a ser a ciência do espaço, o mesmo, no ambiente escolar, é barrado nos portões da escola. Isso reafirma o problema da pesquisa e por isso, o incentivo ao trabalho de campo na educação geográfica pode favorecer uma aproximação com o real e uma melhor compreensão da distinção entre a Geografia Escolar e Acadêmica que possuem objetivos próprios. A pesquisadora Callai (1986) sinaliza essa necessidade de aproximação com o real ao escrever que ―o mundo tem mudado rapidamente e com ele devem mudar também a escola e o ensino que nela se faz.‖ (CALLAI, 1986, p.134) Essa mudança no ensino de Geografia deve acontecer também para Cavalcanti (2005) ao ressaltar que ―o aluno é o sujeito ativo de seu processo de formação e de desenvolvimento intelectual, afetivo e social; o professor tem o papel de mediador no processo de formação do aluno.‖ (CAVALCANTI, 2005, p.67), Callai (1986) também trabalha sob essa perspectiva. De acordo com a autora, para minimizar a mesmice da educação atual e transformar o aluno em um sujeito ativo no processo de ensino – aprendizagem, é preciso desenvolver 20 [...] uma prática que seja aberta à possibilidade de questionar o que se faz, de incorporar de fato os interesses dos alunos e de ser capaz de produzir a capacidade de pensar, agindo com criatividade e com autoria de seu pensamento. (CALLAI 1986, p.134) Trazer a problemática do real para o ensino de Geografia implica em modificações no planejamento dessa disciplina escolar. Vesentini (1984) mostra que o conteúdo programático deveria ser adequado à realidade social e existencial do aluno tornando-o co-autor do saber. Para esse autor ―uma renovação na Geografia permeia-se pela mutação constante dos temas, afinal, tudo muda ao mesmo tempo: os conceitos, as categorias e os métodos.‖ (VESENTINI, 1984, p. 112) Moraes (1986) também mostra essa necessidade de um aluno co-autor. Para ele, é mister tentar aproximar a teoria e a prática no plano do ensino de Geografia. Para isso é preciso uma reflexão pedagógica além do planejamento e do método que assimile os avanços teóricos da ciência geográfica nas últimas décadas. Contudo, essa assimilação da ciência geográfica não pode ser feita por meio da aplicação direta, mas sim por processos de construção endógenos desenvolvidos pela Geografia Escolar. Além dessa reflexão, uma luta por modificações na conduta pedagógica do ensino de Geografia é presumível. Wettstein (1982) comunga com Moraes (1986) a ideia de que o aluno precisa enxergar as transformações do cotidiano. Ele ressalta que é necessário um compromisso com um trabalho menos distante do real, por parte do professor. Desta maneira, a relação aluno/professor/realidade tende a ser mais sólida e produtora de um ambiente mais propício para a educação geográfica. Assim, o ensino de geografia na educação básica poderia fomentar o interesse do aluno ao trabalhar essa perspectiva de significação e aproximação do real que ainda está em construção, deixando mais claro para professores e alunos os objetivos da Geografia Escolar. 21 2.2 O trabalho de campo escolar Ao conhecer a trajetória histórica do trabalho de campo, o professor de Geografia pode não perceber outra intencionalidade para o mesmo na escola, pois falar sobre [...] a importância do trabalho de campo para a produção do conhecimento geográfico, creio seja desnecessário. Penso que a maior parte dos geógrafos concorde com o fato de que a ida a campo seja um instrumento didático e de pesquisa de fundamental importância para o ensino e pesquisa da/ na Geografia. Enquanto recurso didático, o trabalho de campo é o momento em que podemos visualizar tudo o que foi discutido em sala de aula, em que a teoria se torna realidade, se ―materializa‖ diante dos olhos estarrecidos dos estudantes, daí a importância de planejá-lo o máximo possível, de modo a que ele não se transforme numa ―excursão recreativa‖ sobre o território, e possa ser um momento a mais no processo ensino/aprendizagem/produção do conhecimento. (MARCOS. 2006. p. 106) Ao mesmo tempo em que a autora Marcos (2006) ressalta a importância do trabalho de campo, Alentejano e Rocha-leão (2006) mostram que ainda há um desconforto na escola básica em relação às saídas a campo. A utilização do trabalho de campo como instrumento didático não tem sido alvo de muitas reflexões. Não deveria ser assim, afinal, todo professor de Geografia – principalmente dos ensinos médio e fundamental – já deve ter se irritado quando ouviu de seus alunos ou dos professores de outras disciplinas que no dia tal não haveria aula porque tinha passeio, marcado pelo professor de Geografia... Será que de fato promovemos passeios? (ALENTEJANO e ROCHA-LEÃO, 2006, p. 62) Discute-se muito o local a ser visitado e como será feita a organização do mesmo. Porém, ―muitas vezes nos esquecemos de relatar o processo que permitiu a realização do produto.‖ (DUARTE, 2002, p. 140) Esse processo citado por Duarte (2002) é vagaroso e demanda uma organização e disponibilidade do corpo docente. Realizar um pré-campo, discutir com os alunos as possibilidades de áreas a serem visitadas e trabalhadas são etapas essenciais de um trabalho de campo, mas que às vezes, não são realizadas pelos professores. É aconselhável que o corpo docente discuta com os alunos os objetivos do trabalho, converse sobre a importância da atividade, mostre aos alunos as potencialidades e as fragilidades do local e realizem reflexões sobre o que será visto em campo. Os alunos precisam perceber que um trabalho de campo é estudar em um ambiente 22 fora da sala de aula e não apenas um momento de descontração onde buscarão informações desconectadas de um contexto teórico. As reflexões sobre o trabalho de campo na universidade ainda apresentam limites e na escola básica as discussões ainda são muito embrionárias. A sua importância pedagógica é real, mas, Alentejano e Rocha-leão (2006) afirmam que ―se realizado desarticulado do método e da teoria, torna-se banal.‖ Mesmo assim, o trabalho de campo ―apesar dos riscos e dificuldades que impõe, revela-se sempre um empreendimento profundamente instigante, agradável e sedutor.‖ (DUARTE, 2002, p. 140) A afirmação de Duarte (2002), ao dizer que uma atividade em campo pode ser instigante, agradável e sedutora levanta discussões, pois os trabalhos de campo escolares podem ter especificidades, potencialidades e interesses diversos. Desta forma, seu planejamento e preparação merecem uma atenção, principalmente, no ensino básico, pois ainda há divergências conceituais e discordâncias metodológicas no processo de elaboração do mesmo. Os próprios autores Alentejano e Rocha-leão (2006) cometeram impropriedades conceituais ao escrevem ―excursões‖ referindo-se ao trabalho de campo que é bem mais sistematizado que uma simples excursão, com uma organização prévia e posterior dos dados .. A nosso ver, se estas excursões forem previamente preparadas, instigando-se os alunos a problematizar o que vão ver, a preparar o que vão perguntar e refletir acerca do que vão observar, podem representar uma importante contribuição para o processo de formação destes alunos como pesquisadores. (ALENTEJANO e ROCHA- LEÃO, 2006, p. 63). Além dessas limitações, há alguns professores que acreditam na execução do trabalho de campo como suficiente para gerar respostas às algumas questões postas em sala de aula. Esse tipo de visão pode resultar em pouca credibilidade para a atividade pedagógica em campo, com a possibilidade de esgotá-la na superficialidade, pois simplifica a relação teoria/prática, que, por natureza, apresenta grande complexidade. Alentejano e Rocha-Leão (2006, p.56) ressaltam que o trabalho de campo ―não deve se reduzir ao mundo do empírico, mas ser um 23 momento de articulação teoria-prática‖ e, dessa forma, é necessário planejá-lo desde a teorização da atividade em si, para que ele possa se tornar efetivamente uma inovação educacional no ensino básico. Afinal, imaginar que a execução e a sistematização do trabalho de campo são suficientes para acessar o conhecimento da dimensão socioespacial do real já foi superado e isso faz parte da crítica ao empirismo positivista. Além disso, houve situações na história da Geografia que a importância dessa atividade foi minimizada pela ideia de que apenas a quantificação dos fenômenos conseguiria responder as questões sociais. Na [...] Geografia Teorético-Quantitativa, os trabalhos de campo passaram a ser execrados e praticamente riscados do mapa das práticas dos geógrafos, sob o argumento de que as tecnologias da informação e os modelos matemáticos seriam instrumentos mais adequados para a investigação da realidade. (ALENTEJANO e ROCHA- LEÃO, 2006, p. 55) Para que o trabalho de campo escolar, como processo mediador para a produção do conhecimento na escola sobre os problemas sociais e ambientais do espaço tenha sucesso, seu planejamento e desenvolvimento precisam seguir um caminho metódico criterioso e ocorrer de forma articulada entre professores, alunos e supervisão da escola, bem como expressar uma rica relação entre teoria e prática Rodrigues e Otaviano (2001) justificaram a importância do trabalho de campo em geografia em um guia metodológico ao afirmarem que o [...] contato com a realidade dará ao aluno uma nova dimensão dos assuntos tratados nas aulas o que, se bem programado e orientado, servirá entre tantas finalidades para estimular o estudo articulado com as diferentes disciplinas. (RODRIGUES e OTAVIANO, 2001, p.36) Diferentemente de uma visita técnica ou de uma excursão, o trabalho de campo pressupõe uma relação mais ativa dos alunos. Os alunos precisam ser vistos como os protagonistas do trabalho de campo escolar, pois o mesmo, como uma ferramenta de (re) significação da dimensão social do real, torna o aluno um sujeito ativo em seu processo de formação e desenvolvimento intelectual, pois ―cabe aos alunos a tarefa de coleta de dados e materiais, entrevista, observação e anotação dos aspectos naturais e culturais [...].‖ (TOMITA, 1999, p.14). E, posteriormente, 24 cabe também aos alunos a discussão e a produção de sínteses das informações coletadas. Assim, o espaço geográfico que é constantemente mudado pelas intervenções antrópicas e pela dinâmica natural pode ser interpretado pelos alunos por meio do trabalho de campo que serviria como uma ponte para a percepção dessas mutações em cada ecossistema ou em cada comunidade onde há articulações e conflitos, aproximando o aluno de uma forma mais significativa da realidade. Por isso, a utilização do trabalho de campo pode ser favorável à construção de novos significados sobre a realidade encontrada no espaço e reduzir o distanciamento da realidade concreta em que vivem os alunos, ou seja, essa estratégia pedagógica pode ampliar as possibilidades de ressignificação da dimensão social do espaço, contribuindo para uma renovação da educação geográfica. Para que haja uma possível consolidação dessa estratégia de ensino-aprendizagem é necessário sensibilizar os alunos para que eles tomem consciência de possíveis mudanças no espaço a partir da construção de um saber integrado à realidade e possivelmente atrelado ao conhecimento e difusão de Tecnologias Sociais. Contudo, não é possível creditar ao trabalho de campo, por si só, a construção dos significados desejados para a compreensão da realidade, principalmente se articulado com as questões socioambientais ou com as tecnologias criadas de forma endógena em uma comunidade. Alentejano e Rocha-leão (2006) afirmam que se o trabalho de campo escolar, como uma prática pedagógica para o ensino de Geografia gerar um ―retorno ao saber integrado se ancorando em um discurso ambiental‖, o mesmo pode se perder em discussões vagas e sem a gênese de novos significados. Desta forma, o trabalho de campo necessita de um planejamento adequado, pois, ele não resolve os limites da educação geográfica como um passe de mágica. A imersão no contexto, de forma sistematizada e organizada, pode então ser um estímulo à aprendizagem. 25 Gohn (2006) sinalizou que há vários espaços de aprendizagem. Para ela, a escola não é o único local de geração de conhecimentos. Há espaços externos à sala de aula (tecnicamente denominados não-formais de ensino-aprendizagem) que são sustentados por saberes locais, mas que também são geradores de modificações concretas da realidade. Por isso, esta pesquisa partiu da hipótese de que o trabalho de campo, quando articulado metodologicamente de forma adequada, poderia se tornar um suporte pedagógico para a superação dos limites existentes na tradição didática da Geografia Escolar. 2.3. As Tecnologias Sociais e o ensino de Geografia Escolar Como a hipótese dessa pesquisa envolve a discussão das Tecnologias Sociais, houve a necessidade de uma conceituação desse termo. Para Rodrigues e Barbieri (2008), [...] a tecnologia social implica a construção de soluções de modo coletivo pelos que irão se beneficiar dessas soluções e que atuam com autonomia, ou seja, não são apenas usuários de soluções importadas ou produzidas por equipes especialistas, a exemplo de muitas propostas das diferentes correntes da tecnologia apropriada. (RODRIGUES e BARBIERI, 2008, p.1075) A proposta de se utilizar o trabalho de campo em áreas que supostamente tenham desenvolvido Tecnologias Sociais pode ser um caminho para que os alunos identifiquem, por intermédio desta estratégia, o modo como uma tecnologia se torna social gerando benefícios individuais ou coletivos no processo de produção e apropriação do espaço geográfico. Afinal, [...] as TSs são ―técnicas e metodologias‖, ―produtos e processos‖, como quaisquer tecnologias, elas também envolvem de maneira intrínseca um modo próprio de pensar e agir. Muitas vezes, é no modo de aplicação que uma tecnologia torna-se social. Este ―modo‖ é então compreendido como uma abordagem sistêmica que leva em conta todo um conjunto de fatores, desde o reconhecimento das necessidades e da mobilização para a mudança, até os métodos de gestão e a eficácia da solução tecnológica desenvolvida, passando pela avaliação de impactos socioambientais e a busca direta de impactos positivos para o conjunto da sociedade. (PASSONI, 2007, p. 30) 26 Para Novaes e Dias (2009) o conceito de Tecnologias Sociais surge em contraposição à lógica capitalista, já que ela precisa ser orientada para a satisfação das necessidades humanas sem promover um tipo de controle capitalista, como por exemplo, de dominação dos trabalhadores. Nesse contexto é possível trabalhar com os alunos uma perspectiva diferenciada da dominante sobre a produção e apropriação do espaço geográfico. O conhecimento de áreas que desenvolvem Tecnologias Sociais pode estimular novas perspectivas pedagógicas para o ensino de Geografia, pois os alunos vivenciariam alternativas mais justas e solidárias de construção e produção do espaço. Afinal, essas tecnologias transitam pela ―inclusão cidadã, pela acessibilidade, pela sustentabilidade, pela organização, pela promoção do bem-estar e pela inovação‖ (PASSONI, 2007, p.40). Por isso nessa pesquisa foi escolhido um assentamento de sem terra na região metropolitana de Belo Horizonte, pois se trabalhava também com a hipótese de que naquele espaço estariam sendo desenvolvidas Tecnologias Sociais que pudessem possibilitar aos alunos visualizar as contribuições expostas acima com o intuito de potencializar seus respectivos significados dados à dimensão socioespacial do real. 27 3. Metodologia e procedimento de coleta de dados Esta pesquisa trabalha, principalmente, com a articulação de duas temáticas: a educação geográfica e o trabalho de campo como estratégia pedagógica. Ao fazer essa delimitação, foi possível identificar o problema dessa investigação que se refere à dificuldade que os alunos têm de elaborarem significados e interpretações sobre a dimensão socioespacial da realidade. A identificação desse problema foi essencial, pois o ―que determina como trabalhar é o problema que se quer trabalhar: só se escolhe o caminho quando se sabe aonde se quer chegar‖ (GOLDENBERG, 1999, p.14). A partir desse pressuposto foi possível escolher a metodologia, as técnicas de coleta de dados, as fontes dos dados e os métodos de interpretação e análise dos resultados. No caso desta investigação, cujo tema foi as dificuldades de apropriação da dimensão socioespacial do real pelos alunos e cujo objeto de estudo foram as potencialidades do trabalho de campo escolar como estratégia para potencializar uma melhor percepção da dimensão socioespacial do real, a metodologia traçada insere-se dentro do paradigma qualitativo. Essa perspectiva de investigação responde às necessidades desta pesquisa, pois, segundo Chizzotti (2003), a [...] pesquisa qualitativa recobre, hoje, um campo transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e sociais, assumindo tradições ou multiparadigmas de análises (...) e adotando multimétodos de investigação para o estudo de um fenômeno situado no local em que ocorre, e enfim, procurando tanto encontrar o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados que as pessoas dão a eles. (CHIZZOTTI, 2003, p. 221) O referencial teórico metodológico que orientou a coleta e análise dos dados foi a Análise de Conteúdo trabalhada por Bardin (1976). Silva, Gobbi e Simão (2005, p. 73) destacam que ―a análise de conteúdo é uma técnica de investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação.‖ No caso desta pesquisa, a descrição quantitativa aconteceu no 28 levantamento de depoimentos dos alunos sobre as percepções in loco a partir das orientações disponíveis no material levado a campo. Silva, Gobbi e Simão (2005) ainda sinalizam que a análise de conteúdo aparece como uma ferramenta para a compreensão da construção de significados que os atores sociais exteriorizam no discurso. Análise de Conteúdo costuma ser feita através do método de dedução frequencial ou análise por categorias temáticas. A dedução frequencial consiste em enumerar a ocorrência de um mesmo signo lingüístico (palavra) que se repete com freqüência, visando constatar ―a pura existência de tal ou tal material lingüístico‖, não preocupando-se com o ―sentido contido no texto, nem à diferença de sentido entre um texto e outro‖, culminando em descrições numéricas e no tratamento estatístico. A análise por categorias temáticas tenta encontrar ―uma série de significações que o codificador detecta por meio de indicadores que lhe estão ligados; [...] codificar ou caracterizar um segmento é colocá-lo em uma das classes de equivalências definidas, a partir das significações, [...] em função do julgamento do codificador. (CAREGNATO e MUTTI, 2006, p.683) Esse referencial teórico-metodológico de análise foi utilizado para a análise dos dados coletados após uma categorização e um registro de frequência de diversas percepções dentro dessas categorias. Essa frequência extraída das percepções dos alunos permitiu a construção de tabelas e gráficos. Godoy (1995) destaca que qualquer comunicação que vincule um conjunto de significações de um emissor para um receptor pode, em princípio, ser traduzida pelas técnicas de análise de conteúdo. Parte-se do pressuposto de que por trás do discurso encontra-se um sentido que deve ser desvendado e descoberto pelo pesquisador. O método de análise de conteúdo aparece como um instrumento para a percepção da elaboração de significados que os atores sociais expressam no discurso. Esses significados são o foco da investigação para desvendar os sentidos dos discursos elaborados. A partir deles foi possível averiguar se o trabalho de campo realmente modificou ou não a interpretação e a sensibilização dos alunos sobre a dimensão social do espaço. No que tange à coleta de dados no assentamento estudado, o recurso utilizado foi a entrevista. Os alunos, após a explanação da líder do assentamento, caminharam em 29 direção às moradias e entrevistaram os assentados. Fraser e Gondim (2004) mostram a importância desse recurso ao pontuarem que a [...] entrevista na pesquisa qualitativa, ao privilegiar a fala dos atores sociais, permite atingir um nível de compreensão da realidade humana que se torna acessível por meio de discursos, sendo apropriada para investigações cujo objetivo é conhecer como as pessoas percebem o mundo. Em outras palavras, a forma específica de conversação que se estabelece em uma entrevista para fins de pesquisa favorece o acesso direto ou indireto às opiniões, às crenças, aos valores e aos significados que as pessoas atribuem a si, aos outros e ao mundo circundante. (FRASER e GONDIM, 2004, p.140) Foi levantada a percepção dos alunos sobre a dimensão socioespacial do real em dois momentos e locais. Um deles ocorreu durante as aulas onde foi feito um diagnóstico sobre os conceitos e significados já construídos pelos discentes sobre articulações comunitárias e sobre as características e o processo de produção e apropriação do espaço rural e do espaço urbano, antes do trabalho de campo, realizado no Assentamento Pastorinha. A teorização em sala de aula aconteceu antes da saída a campo. Os alunos, além de estudarem os conceitos necessários para a coleta de dados, trabalharam com os mesmos articulando-os com o conteúdo da série, por meio de um diagnóstico (apêndice 10.1) aplicado em sala de aula. Todo o trabalho foi feito de forma individual e depois houve momento de debates para a socialização das ideias e percepções. O segundo momento de coleta de dados ocorreu no assentamento Pastorinha no município de Brumadinho (MG) onde os alunos, por meio de entrevistas realizadas com os assentados, tiveram uma maior aproximação da realidade socioespacial do assentamento. Havia um roteiro previamente trabalhado com os alunos, mas eles tinham autonomia para perguntar outras questões que julgassem pertinente no momento. Os alunos investigaram, principalmente, questões ligadas à apropriação do território e sobre as técnicas elaboradas pela comunidade para se manter no assentamento. Em relação à saída a campo, uma empresa de Turismo Pedagógico organizou o ônibus e o seguro dos alunos, juntamente com o professor de Geografia da turma e 30 a orientadora da escola. A contratação da empresa foi uma exigência da escola, mas foi solicitado que não houvesse uma interferência da mesma na coleta de dados dos alunos. A função da empresa era transportar, com segurança, os alunos até o assentamento. O trabalho de campo foi também acompanhado pela orientadora da pesquisa em questão e pela orientadora pedagógica do colégio. A turma escolhida poderia ser do ensino fundamental ou médio. A exigência para a escolha da turma centrou-se na adequação do conteúdo programático da série com as temáticas abordadas na pesquisa que estavam relacionadas com as questões sociais e econômicas do espaço geográfico. Como a 1ª série do Ensino Médio estuda o território brasileiro e as modificações antrópicas ocorridas no mesmo, seus alunos/as foram escolhidos como os sujeitos de investigação. Além disso, cabe ressaltar que esses alunos selecionados pertenciam a uma escola de elite da rede privada e isso, de certa forma, influenciou alguns depoimentos. Em síntese, toda a investigação e seus procedimentos foram feitos em quatro etapas. Primeiramente, a aplicação do diagnóstico em sala de aula antes do trabalho de campo. Depois, a teorização (apêndice 10.2) com os alunos sobre a questão agrária no país. A terceira etapa foi composta pela saída a campo e pelas entrevistas feitas pelos alunos com os assentados (apêndice 10.3) e por fim, a quarta etapa contemplou a sistematização em sala de aula das novas percepções por meio do diagnóstico pós trabalho de campo (apêndice 10.4). A primeira etapa, então, aconteceu por meio da realização de um diagnóstico, em sala de aula, com os alunos, antes das primeiras iniciativas ligadas ao planejamento do trabalho de campo. O objetivo desse diagnóstico foi verificar os significados já construídos pelos alunos sobre a dimensão socioespacial do real, abordando as características e o processo de produção/apropriação do espaço rural e do espaço urbano. O instrumento de coleta de dados utilizado nessa parte (apêndice 10.1) foi elaborado associando imagens e textos e questões construídas sobre os espaços citados. Na segunda etapa (Apêndice 10.2), houve uma teorização em sala de aula sobre os conceitos estruturantes da temática e a contextualização da área que seria 31 investigada. Em seguida, foi feito o planejamento e a organização do trabalho de campo no município de Brumadinho (MG). Nesse momento os alunos observaram, por meio de slides digitais, o espaço que seria investigado e discutiram textos em sala de aula sobre a temática, como por exemplo, sobre a Reforma Agrária. A terceira etapa foi a realização do trabalho de campo propriamente dito. No dia de sua execução, os alunos participaram de algumas atividades no assentamento Pastorinha que visavam o máximo conhecimento do local. Primeiramente, foi servido um café da manhã para os alunos e depois a líder do assentamento conversou em torno de uma hora com eles. Depois dessa atividade, houve uma caminhada para conhecer toda a área ocupada pela comunidade. Isso durou até a hora do almoço. Após a refeição, os alunos foram liberados para entrevistar os assentados e perceber técnicas e saberes que eram utilizados pelos mesmos para equacionar questões do cotidiano. O roteiro da entrevista foi elaborado pelo pesquisador, com a participação dos alunos. Ressalta-se que no assentamento em questão, algumas pessoas acessaram a terra por meio de uma ocupação ilegal e tentam, até hoje, se manterem na localidade de forma autônoma. O motivo desse ato foi a escassa oportunidade de acessar o mercado de terras legal. A partir dessa situação, os alunos, in loco, tentaram identificar quais eram os laços de domínio do território bem como o papel dos líderes locais. Além disso, eles coletaram informações se havia ou não Tecnologias Sociais produzidas no local que causariam formas de geração de renda, que possibilitariam a inclusão social de membros da comunidade e o fomento da qualidade de vida. Em síntese, os alunos, além de participarem de uma longa exposição dialogada com a principal liderança local e da observação do espaço, coletaram informações com os assentados, por meio de entrevistas, que serviram de norte para a sistematização das percepções em categorias e para identificar se houve ou não a produção de Tecnologias Sociais. A quarta etapa foi o processo de sistematização das percepções que começou ainda no espaço do assentamento (FIG 1), com um rápido debate e com a participação de alguns assentados. Esse diálogo foi sustentado pela seguinte questão colocada pelo pesquisador: o que mudou na percepção de vocês após a visita no assentamento Pastorinha? 32 FIGURA 1 – Socialização das percepções sobre o Assentamento Pastorinha Fonte: Produção da pesquisa A sistematização continuou e terminou, no espaço da escola, quando os alunos desenvolveram, individualmente, uma síntese retomando o roteiro do primeiro diagnóstico (Apêndice 10.1) no qual foi feita uma adaptação, agora convertido num instrumento para a elaboração da síntese (Apêndice 10.3). Esse instrumento de coleta de dados recuperava a questões do primeiro instrumento com o objetivo de permitir a verificação das mudanças nas percepções dos alunos. Deste modo, foi possível sistematizar e categorizar os dados coletados a partir dessa organização que captou as visões dos alunos antes do contato com os conteúdos em sala de aula, durante o contato dos mesmos em campo e depois do contato com a realidade empírica, no assentamento. Uma análise das percepções dos alunos foi organizada em antes e depois do trabalho de campo. Buscou-se perceber a (re) significação ocorrida na percepção dos alunos sobre da dimensão socioespacial do real. Como proposta de intervenção decorrente dos resultados desta pesquisa, foi elaborada uma comunidade no site de relacionamentos e de troca de informações denominado ORKUT cujo link está disposto no encarte que será enviado por email para escolas que desejarem realizar trabalhos de campo em áreas onde, potencialmente, tenham desenvolvido Tecnologias Sociais em sua ocupação. Busca-se um intercâmbio de experiências entre professores sobre ao trabalhos de campo, sobre a conceituação e a importância desse recurso pedagógico e sobre a discussão da importância da abordagem das Tecnologias Sociais na educação geográfica para que os alunos percebam a dinâmica social do processo de produção/apropriação do espaço geográfico. 33 4. Apresentação e análise dos dados Para a apresentação e análise dos dados foi traçado um caminho para que houvesse um confronto de informações e dados sobre a percepção dos alunos anterior ao planejamento e à realização do trabalho de campo, sobre a dimensão socioespacial da realidade e as alterações, se houvessem, das percepções dos mesmos alunos, posteriores ao trabalho de campo. Afinal, se houvesse uma real mudança de leitura de mundo, após o o trabalho de campo o mesmo poderia ser, então, visto como uma ferramenta para tornar a educação geográfica mais próxima da realidade. Os instrumentos de coleta de dados utilizado estão disponíveis nos apêndices 10.1, 10.2 e 10.3 desse trabalho. As diversas percepções dos dezessete alunos sobre a dimensão socioespacial do real foram organizadas em subtemas oriundos dos instrumentos de coleta de dados e dos textos dos alunos. 4.1. Subtema 1- Sobre as habitações Os alunos se depararam nos diagnósticos com imagens de habitações do assentamento visitado e de algumas moradias localizadas em um aglomerado (favela) típico do município de Belo Horizonte (Apêndice 10.1). No primeiro diagnóstico, os alunos descreveram sobre as casas existentes num aglomerado e no diagnóstico após o trabalho de campo, eles confrontaram as descrições com o que foi visto no assentamento no que tange a questão da moradia. Na percepção inicial, um aluno pontuou que a falta de organização nos aglomerados foi causada pela atração descontrolada de pessoas para o meio urbano, ou seja, pelo êxodo rural. 34 Cinco alunos disseram que a situação precária dos aglomerados era fruto da falta de higiene no local. Isso foi extraído de exemplos como: falta de saneamento, esgoto a céu aberto e sujeira generalizada nas ruas. Um aluno escreveu que a localização era o fator determinante da existência de moradias precárias. Para ele, o fato das moradias estarem numa favela, já determinava uma qualidade ruim de construção e acabamento. Outro aluno ressaltou que o fraco investimento nessas áreas por parte do poder público era a razão das dificuldades e da falta de estrutura locais. Nove alunos não escreveram as possíveis causas da precariedade das moradias dessas áreas e apenas sinalizaram que havia uma baixa qualidade construtiva ou que as casas eram ―feias‖. A percepção da origem do problema social foi, então, pouco discutida pelos alunos. Foi detectada apenas uma percepção simplista de causa e consequência ao analisarem a questão da moradia em áreas mais pobres. Deixou entender que construir moradias ―feias‖, morar em locais ―feios‖, era uma escolha do pobre e que apenas os mais afortunados possuem ―bom gosto‖. A seguir, há a categorização das percepções dos alunos antes do trabalho de campo sobre as habitações populares. 35 QUADRO 1 PERCEPÇÃO SOBRE AS HABITAÇÕES POPULARES Categorias Número de Alguns depoimentos antes do depoimentos trabalho de campo 9 “(...) casas de um aglomerado em Qualidade construtiva das habitações situações precárias, sem saneamento populares básico (...)” – Aluno S “(...) onde cada um constrói o que quer (...)” – Aluno E Higiene 5 “(...)em condições precárias, sem higiene e esgoto onde pessoas de baixo nível e com menor renda vivem (...)” – Aluno V “(...) higiene precária do local, casas e barracões em péssimo estado.‖ – Aluno T Localização 1 “as casas estão muito mal localizadas, em cima de uma montanha (...)” – Aluno R Relação com o poder 1 investimento do governo.” – Aluno L público Origem do êxodo rural “(...) as consequências [...] do mau 1 “ Esses aglomerados surgiram devido ao êxodo rural (...)” – Aluno L Fonte: Dados e elaboração da pesquisa No quadro a seguir que mostra os resultados após o trabalho de campo realizado, foi possível identificar que quatorze alunos perceberam uma melhoria da qualidade construtiva das casas do assentamento em relação às do aglomerado, mesmo sendo uma área com habitações populares. Três alunos destacaram que a relação com o poder público foi determinante para que houvesse casas melhores no Assentamento Pastorinha, pois o governo federal disponibilizou o material de construção. Isso foi relatado pelos assentados. Um aluno apenas descreveu que esteticamente as casas dos assentados eram mais atraentes 36 e confortáveis, sem se preocupar em relatar as causas desse depoimento. Não houve observações sobre êxodo rural, localização e higiene no segundo diagnóstico. No quadro a seguir, há a categorização das percepções dos alunos após o trabalho de campo, tanto no gráfico quanto na tabela, sobre as habitações populares em áreas de aglomerados e do assentamento Pastorinha. QUADRO 2: PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE AS HABITAÇÕES POPULARES Categorias Número de Número depoimentos de Alguns depoimentos após do depoimentos trabalho de campo PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO INICIAL PÓSTRABALHO DE CAMPO Qualidade 9 14 “(...) com telhado e infraestrutura no meio da zona rural.” – Aluno L construtiva “(...) a área é bem feita e há bastante vegetação ao redor.” – Aluno R Higiene 5 0 Localização 1 0 Relação 1 3 o com “A ocupação dos assentados ocorreu com a ajuda do governo poder que paga ao proprietário a terra público (...)” – Aluno P “O número de moradores é delimitado pelo governo.” – Aluno F Origem rural 1 (êxodo) Fonte: Dados e elaboração da pesquisa 0 37 Gráfico 1: Depoimentos sobre as habitações populares antes e depois do trabalho de campo Fonte: Dados e elaboração da pesquisa As respostas elaboradas pelos alunos no segundo diagnóstico apresentaram diversas abordagens sobre as condições estruturais e sociais de moradias populares. Ao tratarem sobre os aglomerados, os alunos pontuaram, principalmente, questões vinculadas à precariedade das construções e a má organização do espaço. O saneamento básico também foi um problema citado em cinco diagnósticos e a observação que há um escasso apoio do governo surgiu em apenas um. Percepções cotidianas dos aglomerados fazem parte da rotina dos alunos investigados, pois a grande maioria mora em Belo Horizonte. Foi possível identificar que há uma relação de segregação entre essas realidades, justificada pelo alto número de depoimentos dos alunos que retrataram a precária condição de vida em área de aglomeração urbana mais popular. Por outro lado, ao escreverem sobre o assentamento, os alunos destacaram a diferença na organização do espaço em relação aos aglomerados. Em quatorze depoimentos, os alunos pontuaram que há uma variação na qualidade estrutural e organizacional do espaço, sendo melhor no assentamento que no aglomerado. Isso indicou que o trabalho de campo no assentamento Pastorinha mostrou uma nova leitura sobre as habitações populares. Isso confirma a fala de Marcos (2003) ao dizer que o trabalho de campo é 38 [...] um instrumento didático e de pesquisa de fundamental importância para o ensino e pesquisa da/ na Geografia. Enquanto recurso didático, o trabalho de campo é o momento em que podemos visualizar tudo o que foi discutido em sala de aula, em que a teoria se torna realidade, se ―materializa‖ diante dos olhos estarrecidos dos estudantes, daí a importância de planejá-lo o máximo possível, de modo a que ele não se transforme numa ―excursão recreativa‖ sobre o território, e possa ser um momento a mais no processo ensino/aprendizagem/produção do conhecimento. (MARCOS. 2006. p. 106) Durante as abordagens com os assentados, os alunos foram informados de que a comunidade local desenvolveu mutirões e acordos para que todos pudessem melhorar as condições de moradia. Isso provavelmente favoreceu a percepção dos alunos sobre a questão da moradia, mesmo sendo uma área cuja renda per capita se assemelha à de áreas de favelização. A organização do espaço no assentamento pode ter sido outro motivo da identificação que a moradia no local era melhor. Afinal, foi possível extrair do primeiro diagnóstico uma percepção da relação entre as moradias em locais impróprios com a falta de espaço e com as altas densidades demográficas. Para os alunos, a disponibilidade de espaço na área do assentamento contribuiu para uma melhor qualidade de vida no local. Os alunos também descreveram, no primeiro diagnóstico, sobre habitações em áreas cuja população apresenta uma renda elevada. Essa descrição foi incluída, pois todos os alunos investigados pertencem às classes sociais mais privilegiadas economicamente e uma visão desses espaços seria interessante como critério de análise e comparação. Entre os dezessete depoimentos, onze pontuaram sobre temas vinculados à estética, organização e à qualidade do imóvel, ou seja, destacaram a beleza dos imóveis nas áreas mais ricas. Isso confirma a percepção que as áreas mais pobres apresentam uma qualidade estética inferior, ou seja, para a maioria dos alunos investigados há uma relação entre poder aquisitivo e beleza do imóvel. Houve também a caracterização por meio da meritocracia e pela facilidade de acesso à renda, ou seja, para os alunos, o acesso à moradia é vinculado à capacidade financeira do cidadão. Se um indivíduo possui uma renda maior, logo ele pode acessar uma residência melhor. Isso para alguns alunos determinou a melhor 39 qualidade construtiva das moradias em áreas mais ricas. Além disso, vale ressaltar que os agentes fundiários e imobiliários escolhem as melhores áreas urbanas para os melhores empreendimentos. QUADRO 3 PERCEPÇÃO SOBRE AS MORADIAS DE ALTO LUXO Categorias Qualidade construtiva Número de Alguns depoimentos antes do trabalho depoimentos de campo 11 “(...) uma casa de luxo com um espaço grande ao seu redor e bem planejada.” – Aluno H “(...) casa grande e bem construída”- Aluno L Higiene 0 Localização 0 Relação com o poder 0 público Origem rural (êxodo) 0 Acesso à riqueza 6 “(...) moradia das classes mais altas da população brasileira.‖ – Aluno P “(...) ambiente propício para a vida, com uma notável alta renda” – Aluno S Fonte: dados e elaboração da pesquisa Confirmando a ideia exposta no parágrafo anterior, nos depoimentos sobre a Qualidade construtiva foi perceptível uma relação entre a beleza do imóvel e a renda. Na categoria Acesso à riqueza foi possível notar uma relação entre o mérito das classes mais afortunadas de ter os melhores salários e empregos com o acesso aos melhores empreendimentos nas melhores áreas do município. Não houve depoimentos sobre as categorias: higiene, localização, relação com o poder público e origem rural. Isso pode indicar um distanciamento dos reais problemas, causas e caminhos para o acesso à moradia. Para os alunos, as categorias vinculadas à beleza e à riqueza eram suficientes para justificar o 40 predomínio dos melhores empreendimentos nas melhores áreas da cidade. Talvez, isso seja fruto de educação geográfica pouco investigativa que eles tiveram e que proporcionou mais uma memorização do que uma (re) leitura da dimensão socioespacial do real. Cabe aos professores de geografia promover uma abertura para que essa disciplina se torne mais investigativa e crítica, tornando os alunos pesquisadores da realidade. Reafirmando, nós, professores, trabalhamos um conteúdo de determinada forma porque já vimos alguém fazendo assim ou pensamos que esta é uma forma possível e desejável de ensinar aquele conteúdo. É freqüente trabalharmos um conteúdo sem, verdadeiramente, nos perguntarmos: por que este conteúdo e não outro? Por que assim e não de outra forma? Enfim, por que trabalhar isto, desta forma, nesta disciplina? (BRAGA, 2003, p. 64). 4.2. Subtema 2: Sobre as condições de vida num aglomerado urbano e no assentamento Pastorinha A pergunta solicitou aos alunos que descrevessem sobre as possíveis condições de vida das populações que habitavam os dois espaços representados por imagens no segundo diagnóstico. Eles se depararam com uma imagem de um aglomerado oriunda do primeiro diagnóstico e também analisaram uma imagem capturada in loco de uma moradia do assentamento Pastorinha (disponível apenas no segundo diagnóstico). Oito alunos sinalizaram que, no primeiro caso, antes do trabalho de campo, a precária condição de vida nos aglomerados era oriunda do restrito acesso à riqueza e aos serviços básicos de um município. Dois escreveram que havia um precário acesso ao lazer, educação e saúde e sete alunos relacionaram a pior condição de vida no local com a estrutura física existente no aglomerado. 41 QUADRO 4 PERCEPÇÃO INICIAL SOBRE A CONDIÇÃO DE VIDA EM ÁREAS POBRES Categorias Acesso à renda e aos Número de Alguns depoimentos antes do depoimentos trabalho de campo 8 “A condição de vida da população da primeira imagem não é boa, o serviços públicos. salário das famílias muitas das vezes não dá para alimentar (...)” Aluno H “(...) são pessoas humildes que devem ganhar 1 ou 2 salários mínimos (...)” – Aluno R Lazer, estudo, emprego, 2 “(...) as pessoas não estudam em uma boa escola e o contato com o e saúde. crime é enorme (...)” – Aluno L Estrutura física local 7 “(...) As condições de vida possivelmente são ruins por não ter infraestrutura de modo que cubra as necessidades do cidadão (...)” – Aluno G “(...) Eles não têm água tratada, tratamento de esgoto, não têm postos de saúde e para ter esses serviços é necessário descer para a área dos ricos. (...)” – Aluno L Fonte: dados e elaboração da pesquisa 42 QUADRO 5 PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE A CONDIÇÃO DE VIDA EM ÁREAS POBRES Categorias Número de Número de Alguns depoimentos após o depoimentos depoimentos trabalho de campo PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO INICIAL PÓS TRABALHO DE CAMPO Acesso à renda 8 7 pois eles têm uma moradia com infraestrutura e e aos serviços públicos. “(...) um possível saneamento (precário (acesso acesso) garantido por básico (...)” – Aluno C articulações “(...) possuem um trabalho fixo, comunitárias) uma renda estável e um bom lugar para morar.” – Aluno F Lazer, estudo, 2 9 “Uma população pobre, mas emprego e que tem uma condição de vida saúde. melhor, com mais higiene, alimentos e até mesmo mais dinheiro.” – Aluno T ―(...) embora precária a condição de vida, estes têm acesso à escola, saneamento e alimento (...)‖ – Aluno L Estrutura física 7 0 Relação com o 0 1 local poder público “(...) o governo não melhorias nenhuma para os assentados (...)” Aluno L Fonte: dados e elaboração da pesquisa leva 43 Gráfico 2: Percepções sobre as condições de vida em aglomerados urbanos e no assentamento. Fonte: dados e elaboração da pesquisa Após a ida ao assentamento, sete alunos destacaram que o planejamento comunitário favoreceu o acesso à renda e aos serviços numa área cuja renda per capita média se assemelhava à existente nos aglomerados urbanos. Isso contradiz o que foi exposto antes do trabalho de campo, pois os alunos escreveram que as áreas mais pobres apresentavam uma má qualidade de vida devido ao restrito acesso à renda e aos serviços. Nove alunos escreveram que havia melhores condições de vida no assentamento devido ao acesso ao lazer, estudo, emprego e saúde. Apenas um aluno escreveu que o governo ajuda mais os assentados do que os moradores de aglomerados em áreas urbanas. Os alunos identificaram que o assentamento visitado possui algumas articulações sociais que favoreceram uma melhor organização do local e por consequência melhores condições de vida, fato esse justificado pela categoria lazer, estudo, emprego e saúde. Os alunos notaram que havia, no assentamento, áreas diferenciadas para o plantio, para o lazer e para a moradia. Ou seja, para os alunos, essas áreas, aliadas à baixa densidade demográfica do local, favoreceram uma melhor organização do espaço. Isso aprofunda o que foi dito sobre os aglomerados, 44 pois nos depoimentos iniciais dos alunos foi visível a relação entre alta densidade demográfica com a precariedade da organização do espaço. Houve outros destaques: um depoimento citou uma relação entre o baixo uso de tecnologias (convencionais) nas atividades com as condições de vida do local. No mesmo, o aluno escreveu que as duas áreas usufruem de pouca tecnologia e isso compromete a qualidade de vida desses espaços. (Esse depoimento foi incluído na categoria: Planejamento). Outros depoimentos ressaltaram a geração de renda como premissa para a melhoria na qualidade de vida. Como o espaço do assentamento era mais organizado, logo, alguns alunos inferiram que a renda local seria maior. Por outro lado, um depoimento destacou a necessidade de investimentos do poder público na ampliação da qualidade de vida. Nesse depoimento, mesmo com o trabalho de campo, a aluna ressaltou que o governo municipal ―leva‖ mais investimentos para os aglomerados e ―não leva melhoria nenhuma para os assentados.‖ Isso é contraditório, afinal, os assentados sinalizaram diversas vezes a presença do poder público em várias questões locais. 4.3. Subtema 3: Sobre a ocupação do espaço urbano e rural O instrumento de coleta de dados apresentou a seguinte questão: ―Que hipóteses você elabora sobre os possíveis processos de ocupação desses espaços?‖ Tinha-se a expectativa de que os alunos, a partir das descrições feitas sobre as habitações, escrevessem sobre as possíveis estratégias utilizadas pelas classes sociais menos privilegiadas economicamente, residentes em aglomerados urbanos (favelas) e em assentamentos rurais e pelas classes mais ricas sobres suas respectivas estratégias de acesso a terra. 45 QUADRO 6 PERCEPÇÃO INICIAL SOBRE A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO RURAL E DO ESPAÇO URBANO Categorias Migração Número de Alguns depoimentos antes do trabalho de depoimentos campo 9 “A ocupação das favelas foi devido ao êxodo rural que várias famílias saíram da área rural para a urbana (...)” – Aluno L ―A ocupação se deu pelo êxodo rural, pessoas procurando melhores condições de vida e acabam sofrendo exclusão social (...)” – Aluno S Distribuição 4 “(...) as pessoas de alta renda que com certeza tiveram oportunidades em suas vidas.” Aluno F de renda. “(...) não têm dinheiro para comprar uma moradia melhor(...)”- Aluno R Organização 2 “(...) as pessoas foram se instalando de pouco para o em pouco e chamando parentes e amigos para acesso à morar lá (...)” Aluno R “(...) feita de forma errada e desorganizada, o que terra pode levar a desabamentos (...)” – Aluno C Acesso por 2 herança “(...) pelo fato dos ancestrais já possuírem (...) uma renda estável para se estabelecer no local.” Aluno S Fonte: dados e elaboração da pesquisa Nove depoimentos destacaram o processo de êxodo rural como determinante para o crescimento dos aglomerados em áreas urbanas. Quatro alunos balizaram a má distribuição de renda como causa das disparidades de acesso a terra. Dois identificaram que a organização comunitária é determinante para o processo de ocupação de uma área e, por fim, dois alunos destacaram que a ocupação de uma área acontece por herança. 46 Por conseguinte, a migração campo – cidade foi indicada como o principal fator percebido pelos alunos sobre a ocupação/surgimento de aglomerados urbanos. Esse fato pode ser oriundo dos conteúdos trabalhados no ensino fundamental. Na 7º série do ensino fundamental, mais precisamente, há uma discussão sobre essa temática com os alunos. Essa relação êxodo rural/aglomerados é muito forte entre os alunos. Para eles, isso é quase um modelo. Se há aglomerados, logo sua formação é consequência de um êxodo rural. Os alunos desconhecem que muitas pessoas que moram em favelas não têm qualquer ligação em sua trajetória com o espaço rural. Contudo, a formação de vilas e favelas em grandes centros é diferenciada e há diversos motivos, mas vários livros didáticos abordam esse tema desta forma. No entanto, após o trabalho de campo no assentamento Pastorinha, essa percepção caiu de nove para dois depoimentos (ver quadro a seguir). Isso mostra que esse recurso foi útil para uma mudança na leitura de mundo dos alunos e que sua difusão e aprimoramento deve ser algo de perene reflexão entre os gestores da escola. Isso ratifica a fala de Alentejano e Rocha-Leão (2003), pois se essas atividades em campo forem previamente preparadas, instigando-se os alunos a problematizar o que vão ver, a preparar o que vão perguntar e refletir acerca do que vão observar, podem representar uma importante contribuição para o processo de formação destes como pesquisadores. (ALENTEJANO e ROCHA- LEÃO, 2006, p. 63) A seguir, há a categorização das percepções dos alunos antes e depois do trabalho de campo sobre o processo de ocupação de aglomerados em áreas rurais e do assentamento Pastorinha. 47 QUADRO 7 PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE A OCUPAÇÃO DO ESPAÇO RURAL E DO ESPAÇO URBANO Categorias Número de Número de Alguns depoimentos após o trabalho de depoimentos depoimentos campo PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO PÓS INICIAL TRABALHO DE CAMPO Migração 9 2 “No assentamento, o processo de ocupação é feito por pessoas que preferem a vida no campo (...), pois viram que a quantidade de pessoas que não conseguem uma vida melhor na cidade” – Aluno V Distribuição 4 0 - 2 4 “O processo de ocupação deste espaço de renda. Organização para o se deve pela procura de pessoas por acesso à terras no campo que os levam à lugares como esse (assentamento)” – Aluno B terra “Indivíduos [...] que procuraram assistência e entraram em comunidades produtivas agrícolas onde são estabelecidas regras de produção e comércio de acordo com um líder”– Aluno L Acesso por 2 1 terras por hereditariedade (...)” Aluno T herança Influência do “Esses produtores (...) recebem essas 0 10 “A ocupação dos assentamentos poder ocorrem com a ajuda do governo que público paga por propriedades de terra (...)” – Aluno P “A ocupação desse espaço deve ter sido difícil, pois ocorreram muitas batalhas com o governo (...)” – Aluno F Fonte: dados e elaboração da pesquisa 48 Migração Gráfico 3: As percepções sobre a ocupação do espaço urbano e do espaço rural Fonte: dados e elaboração da pesquisa Sobre a ocupação do espaço urbano e do rural, também foi evidente o número de alunos que pontuaram a influência do poder público na conquista da terra por parte dos assentados do Pastorinha. Diferentemente do primeiro diagnóstico em que os alunos ressaltaram o êxodo rural como o principal motivo de deslocamentos entre esses espaços, na segunda percepção foi notável a influência do poder público para o acesso a terra. Isso pode ter sido resultado da ênfase dada pela líder comunitária do assentamento sobre esse tema durante a sua explanação para os alunos. Ao explicar o processo de acesso a terra, ela pontuou que o governo desapropriava e comprava o terreno e o repassava para os assentados que deveriam pagá-lo nos anos seguintes. Isso foi significativo para os alunos, pois, as discussões em sala de aula mostraram uma ideia de um poder público distante dessa temática ou que serviria apenas para conter as ocupações ilegais nas áreas rurais. Isso demonstra que o [...] contato com a realidade dará ao aluno uma nova dimensão dos assuntos tratados nas aulas o que, se bem programado e orientado, servirá entre tantas finalidades, estimular o estudo articulado com as diferentes disciplinas. (RODRIGUES e OTAVIANO, 2001, p.36) Por isso que entre todas as abordagens dessa investigação, a categoria de análise Influência do poder público, no que diz respeito à ocupação do espaço, foi a que apresentou a maior discrepância entre o antes e o depois. Em alguns depoimentos, 49 os alunos sinalizaram que realmente desconheciam a importância do poder executivo nas questões agrárias brasileiras. Foi possível identificar que os alunos perceberam que as etapas de conquista da terra de um movimento de luta fundiária na área rural são mais vagarosas e demandam uma organização e um planejamento de diversos atores, além da interferência do poder público. Possivelmente, por esse motivo, o número de depoimentos da categoria Organização para o acesso a terra aumentou de dois para quatro. A estruturação do assentamento em glebas fragmentadas, os depoimentos de alguns assentados e a visível organização social do local e motivaram uma grande mudança na visão dos alunos sobre a ocupação do meio rural. Esse fato, reforçou a necessidade de trabalhos de campo nesse tipo de ambiente para a (re) significação da dimensão socioespacial do real. 4.4. Subtema 4: A agricultura de subsistência e a agroindústria No primeiro diagnóstico, os alunos se depararam com uma imagem de uma área rural bem simples com uma casa de pau-a-pique, com uma horta de subsistência e, ao lado, outra figura com uma agroindústria. Apenas seis depoimentos destacaram as condições precárias da moradia representada na imagem e não aprofundaram sobre as origens desse tipo de situação. Por outro lado, quatro alunos escreveram que a pobreza na área rural era resultante da ausência do uso de tecnologias e outros sete pontuaram a fraca geração de renda como o motivo da precariedade da habitação e que a baixa qualidade construtiva do imóvel era vinculada ao uso do solo baseado na subsistência. 50 QUADRO 8 PERCEPÇÃO INICIAL SOBRE A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA Categorias Condições Número de Depoimentos sobre agricultura de depoimentos subsistência 6 “(...) uma pequena casa de pau a pique em um terreno seco e com uma pessoa precárias vestindo humildemente.” – Aluno R “(...) pessoas que provavelmente já nasceram ali e produzindo sem estão apenas conseguir muitos lucros (...)”– Aluno B Ausência de 4 “Uma área de agricultura com uma baixa tecnologia (...).” – Aluno S tecnologia. “tem falta de recursos e tecnologia e dependem de sua produção para viverem. – Aluno L Defasagem econômica 7 e produtiva “Uma humilde fazenda onde se vê uma sede própria com animais vivendo como as pessoas, um local de pobreza” – Aluno T “A qualidade de vida defasada e a má produção agrícola (...) – Aluno L Fonte: dados e elaboração da pesquisa Sobre a imagem que mostrava uma agroindústria, onze alunos perceberam que a presença de uma agroindústria contribuía para a geração de riquezas para a localidade e que a possibilidade de ampla produção agrícola seria o motivo da presença da mesma naquele local. Cinco alunos relacionaram a existência da empresa com a oferta de tecnologia convencional. Tudo indica que para os alunos, tecnologia seria algo regado de softwares e sistemas operacionais. Isso, para eles, estaria presente apenas nas áreas de agronegócio e não de agricultura de subsistência. Apenas um depoimento relacionou a existência de indústrias em áreas rurais com a oferta de espaço, sem explicar o vínculo entre espaço e indústria. 51 QUADRO 9 PERCEPÇÃO INICIAL SOBRE AS AGROINDÚSTRIAS Categorias Número de Depoimentos sobre agroindústria depoimentos Oferta de tecnologia. 5 “O uso do avanço tecnológico para lucros é o fator primordial que determina esta área.” – Aluno L “(...) onde se tem máquinas tecnológicas desempenhando o trabalho do homem tendo em vista o lucro.” – Aluno V Área de alta 11 “(...) onde o produto é produzido para a exportação (geração de dinheiro).” – produção agrícola Aluno H “(...) o plantio deve ser grande e para vender e essa fazenda deve ter muito lucro.” – Aluno F Oferta de espaço 1 “(...) que provavelmente foi construída ali por causa do espaço.” – Aluno B Fonte: dados e elaboração da pesquisa 4.5. Subtema 5: As condições de vida no Rural Brasileiro (agricultura de subsistência e agroindústrias) A intenção era que os alunos, por meio das mesmas imagens (agricultura de subsistência e agroindústrias), descrevessem sobre a condição de vida desses locais. Oito alunos perceberam o antagonismo das imagens por razões econômicas e que isso influenciaria a condição de vida dos espaços em questão. A aluna H escreveu que a condição de vida na ―primeira imagem - agricultura de subsistência - não é boa, eles produzem para gerar renda para a família‖. Na segunda imagem - agroindústrias -, ela sinalizou que a condição de vida ―é boa, eles 52 produzem para fornecerem alimentos para a população e para terem dinheiro para manter os funcionários.‖ O aluno relacionou a produção/produtividade com condição de vida e produção de riqueza. Houve outras razões expostas pelos alunos. Três depoimentos relacionaram a pior condição de vida em áreas de agricultura de subsistência com o baixo uso de tecnologias e seis vincularam ao precário acesso a uma adequada higiene local. QUADRO 10 PERCEPÇÃO INICIAL SOBRE A CONDIÇÃO DE VIDA NO MEIO RURAL Categorias Disparidades sociais Número de Alguns depoimentos antes do trabalho de depoimentos campo 8 “Pessoas simples com uma condição de vida ruim e onde provavelmente não tiveram oportunidades de estudar” – Aluno B econômicas “(...) o proprietário não reside neste lugar e suas condições financeiras devem ser altas.” – Aluno B Relação: qualidade 3 “(...) é mais humilde, sem um desenvolvimento tecnológico e sem infraestrutura o que gera de vida / uso de uma econômica muito menor (...)” – Aluno S tecnologias. “(...)as condições de vida são sub humanas, provavelmente não deve ter dinheiro para comprar comida” – Aluno R Disparidades: higiene 6 / “A população (...) deve ter muitos problemas com higiene, saúde e provavelmente com a infraestrutura distância do meio urbano (...)” – Aluno T (acesso) “(...) por não ter acesso a infraestrutura e não ter recursos financeiros suficientes (...)”- Aluno G Fonte: dados e elaboração da pesquisa 53 4.6. Subtema 6: O processo de ocupação no Rural Brasileiro (agricultura de subsistência e agroindústrias) Os estudos, na Geografia Escolar, sobre a questão agrária no Brasil problematizam as disparidades do acesso a terra e trabalham as estratégias desenvolvidas pelos seus respectivos atores para se manterem no local. Antes do trabalho de campo, observou-se que os alunos, em sua maioria, repudiavam os mecanismos de acesso a terra via ocupações e imaginavam o ambiente de um assentamento desorganizado e com pessoas ―baderneiras‖. Essa percepção preconceituosa era esperada antes do trabalho de campo no assentamento, pois as percepções expostas pelos alunos no primeiro diagnóstico levavam a isso. Esperava-se, então, que os alunos relatassem o processo de ocupação de áreas rurais de alto e baixo poder aquisitivo por meio da diferença de renda, sendo o acesso a terra mais fácil por indivíduos mais ricos. Isso foi comprovado nas percepções escritas sobre a imagem 2 – agroindústria - que, com nove depoimentos, obteve o maior índice. Para os alunos, as melhores áreas rurais foram ocupadas por grupos sociais com maior poder aquisitivo que, posteriormente, instalaram agroindústrias. Afinal, a classe mais rica detém maior disponibilidade financeira para acessar os melhores locais. E isso, por consequência, gera mais qualidade de vida para os alunos. Como exemplo, o aluno R sinalizou que: ―Na foto 1– agricultura de subsistência-, a mulher deve ter construído sua casa em um lugar desabitado, ou ocupou o lugar de uma forma desorganizada. Na foto 2, um fazendeiro comprou uma fazenda, montou uma indústria onde ela cresceu, o terreno foi ocupado de maneira legal.‖ A seguir, há um quadro com as informações sobre as percepções iniciais sobre a ocupação do meio rural. 54 QUADRO 11 PERCEPÇÃO INICIAL SOBRE A OCUPAÇÃO DO MEIO RURAL Categorias Renda acessar para Número de Alguns depoimentos antes do trabalho de depoimentos campo 9 “(...) um fazendeiro comprou uma fazenda montou uma indústria onde ela cresceu, o o terreno foi ocupado de forma legal.” – Aluno E mercado fundiário (compra ocupação e de terras) Migração 1 “(...) pessoas que migram de zonas urbanas querendo uma vida mais calma sem o stress das cidades.” Aluno P Hereditário 6 “(...) a habitação foi de família de um pai que passou para o filho” – Aluno R Finalidade: gerar 1 “(...) é pelo fato de precisarem produzir algo para se sustentar” – Aluno L renda Fonte: dados e elaboração da pesquisa 4.7. Subtema 7: A geração de renda no meio rural (a agroindústria e a agricultura de subsistência) No segundo diagnóstico, após o trabalho de campo, os alunos se depararam novamente com imagens de uma área rural que no caso era uma do assentamento visitado e outra de uma agroindústria. Os quadros e os gráficos a seguir mostram as mudanças nas percepções dos alunos. 55 QUADRO 12 PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE AS AGROINDÚSTRIAS Categorias Número de Número de Alguns depoimentos após o depoimentos depoimentos trabalho de campo PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO INICIAL PÓS TRABALHO DE CAMPO Oferta de 5 7 “(...) a colheita é feita com máquinas por isso o cultivo e o tecnologia. lucro são muito grandes” – Aluno F “(...) a produção é alta devido à utilização da tecnologia como base” – Aluno L Área de alta 11 8 “Uma agroindústria busca o seu produção lucro pela grande venda agrícola produtos agrícolas” – Aluno B de “(...) a agroindústria usa muitas máquinas para ter o lucro muito grande” – Aluno E Oferta de 1 0 espaço - Qualificação 0 1 “(...) a industrialização em áreas rurais profissional exigem uma maior qualificação e é mais concorrida” – Aluno G Uso de 0 agrotóxicos 1 “A agricultura das agroindústrias normalmente usam agrotóxicos na produção gerando uma produção maior” – Aluno P Fonte: dados e elaboração da pesquisa 56 Gráfico 4: A percepção sobre a geração de renda antes e depois do trabalho de campo em áreas de agroindústria. Fonte: dados e elaboração da pesquisa As mudanças na percepção em relação ao meio rural no que tange a existência de agroindústrias foram mínimas, apenas uma queda na segunda categoria. Um fato que pode ajudar a compreender essa permanência pode ser o fato da não contemplação, no trabalho de campo, desse tipo de atividade (agroindústria) que faz parte do conteúdo programático dos alunos da 1ª série do Ensino Médio. Isso pode estar mostrando, também que o trabalho de campo não pode focalizar um número excessivo de temas e questões, pois os alunos precisam focar em apenas alguns para que a (re) significação da dimensão socioespacial do real aconteça de forma mais densa. Entretanto, alguns dados que foram extraídos do segundo diagnóstico apresentam mudanças maiores em relação a esse tema. Os alunos relacionaram a alta produtividade das agroindústrias ao uso de tecnologias, de agrotóxicos e da existência de qualificação profissional. Esse tipo de percepção não foi visível quando os alunos escreveram sobre as áreas de assentamento e isso, para eles, acabou influenciando na baixa produtividade de áreas rurais mais pobres. Essa percepção dos alunos sobre as agroindústrias, mesmo após o trabalho de campo, mostra que a relação entre oferta de capital para investimentos e o desenvolvimento econômico é muito presente no cotidiano dos mesmos. Vários alunos possuem pais que são proprietários ou trabalham em grandes empresas que investem maciçamente em tecnologias de ponta. Contudo, após a ida ao assentamento, os alunos perceberam que era possível ampliar a qualidade de vida e gerar renda com técnicas e tecnologias mais simples. O quadro a seguir mostra essa percepção. 57 QUADRO 13 PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE A AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA Categorias Número de Número de Alguns depoimentos após o trabalho depoimentos depoimentos de campo PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO INICIAL PÓS TRABALHO DE CAMPO Condições 6 0 4 1 precárias Ausência de “(...) o mecanismo utilizado pelo agricultor é a mão ou ferramentas tecnologia. que não são nada tecnológico e que não tem um grande margem de lucro” – Aluno V Defasagem econômica 7 5 “(...) é uma agricultura familiar por isso não produz muito e não gera e muito lucro também” – Aluno F produtiva “(...) não tem a ajuda de máquinas, é uma agricultura familiar e por isso não produz muito (...)– Aluno F Ausência de 0 2 “A agricultura dos assentamentos são agrotóxico feitas agrotóxicos colheita, sem o gerando porém tendo uso de menos menos concorrência” – Aluno T Plantio e 0 9 “(...) eles são comercializados em comercialização feiras e a produção não é muito (organização grande” – Aluno L endógena) “(...)as pessoas colhem o próprio cultivo para comer e o resto usam para vender e gerar uma renda” – Aluno C Fonte: dados e elaboração da pesquisa 58 Gráfico 5: A percepção sobre a geração de renda antes e depois do trabalho de campo em áreas com agricultura de subsistência. Fonte: dados e elaboração da pesquisa Os alunos perceberam que no assentamento Pastorinha cuja renda per capita é baixa, houve possibilidades de uma gestão econômica e social do espaço de forma a garantir uma melhor qualidade de vida ainda que com um baixo poder aquisitivo. Nenhum aluno havia sinalizado sobre um possível arranjo endógeno em uma comunidade rural de baixa renda no primeiro diagnóstico. Tal fato ganhou um destaque no segundo. Nove alunos pontuaram essa questão. Isso ocorreu, possivelmente, pela presença da líder comunitária e dos acordos entre os assentados como a divisão de tarefas existentes no assentamento que vão desde o plantio à comercialização. As técnicas para o plantio orgânico também foram apresentadas e polemizadas. Provavelmente, as ferramentas e as soluções práticas descobertas e/ou construídas pelos assentados chamaram a atenção dos alunos cuja percepção sobre a ausência de tecnologia sofreu uma queda de quatro para apenas um aluno. Porém, os alunos não disseram que tais tecnologias e organização endógena seria uma Tecnologia Social. Eles poderiam ter escrito sobre isso, pois essa discussão foi feita durante a etapa de instrumentalização. No entanto, foi possível identificar que os alunos perceberam possíveis Tecnologias Sociais no assentamento e isso contribuiu para as categorias: ausência de tecnologia e organização endógena. Ou seja, ao 59 escreverem nos depoimentos sobre a comercialização, sobre a divisão de tarefas e sobre o uso de técnicas orgânicas para combater as pragas, os alunos as sinalizaram. Eles perceberam que [...] a tecnologia social implica a construção de soluções de modo coletivo pelos que irão se beneficiar dessas soluções e que atuam com autonomia, ou seja, não são apenas usuários de soluções importadas ou produzidas por equipes especialistas, a exemplo de muitas propostas das diferentes correntes da tecnologia apropriada. Uma definição de tecnologia social proposta pelo Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2004:130) é a seguinte: ―um conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para a inclusão social e melhoria das condições de vida‖. (RODRIGUES e BARBIERI, 2008. p.1075) Na etapa de análise dos dados, esses nove depoimentos sobre uma organização endógena e a queda de quatro para um depoimento sobre a escassez de tecnologia em assentamentos foram cruciais para a confirmação parcial das hipóteses. As entrevistas realizadas pelos alunos e o momento que eles tiveram para conhecer o assentamento favoreceram essas mudanças de percepções que potencializam a importância do trabalho de campo escolar. Mesmo sendo um resultado pequeno frente ao número de categorias e percepções, as mudanças detectadas foram relevantes. 4.8. Subtema 8: Sobre o processo de urbanização Tanto no primeiro quanto no segundo diagnóstico havia uma parte sobre a urbanização brasileira. O intuito era identificar as relações que os alunos identificariam entre o processo urbanização e a organização do espaço rural. Sobre esse tema, antes do trabalho de campo, seis alunos destacaram que o motivo da urbanização foi o êxodo rural. Dois alunos escreveram que as indústrias foram responsáveis pelo crescimento das cidades no Brasil. E, um aluno sinalizou que o processo de urbanização foi delimitado pela divisão de classes no espaço geográfico. Por fim, oito alunos ressaltaram que tal fenômeno apresentou falhas em sua organização durante o século XX. 60 QUADRO 14 PERCEPÇÃO INICIAL SOBRE O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO Categorias Número de Alguns depoimentos antes do trabalho de campo depoimentos Êxodo rural 6 “(...) é perceptível uma grande distinção econômica, os aglomerados são resultado de imigrantes e dos que vieram do campo‖ – Aluno S Papel da 2 principal fator (...)” – Aluno B indústria Segregação “A urbanização brasileira teve a indústria como o 1 “(...) como organizada no papel e desorganizada na realidade. Suas principais características são as socioespacial misturas de bairros nobres com aglomerados e a diferença de preços dos terrenos (...).” – Aluno R Organização 8 “Eu vejo a organização como correta em algumas áreas onde o governo preocupa com as pessoas” – Aluno B Fonte: dados e elaboração da pesquisa Após o trabalho de campo, os alunos também foram questionados sobre a urbanização brasileira. Veja os dados a seguir. 61 QUADRO 15 PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE A URBANIZAÇÃO BRASILEIRA Categorias Número de depoimentos PERCEPÇÃO INICIAL Êxodo rural 6 Número de depoimentos PERCEPÇÃO PÓS TRABALHO DE CAMPO 4 Alguns depoimentos após o trabalho de campo “O processo de urbanização brasileira foi muito intenso, havia pessoas que saíam do campo em busca de melhorias na vida (...)” – Aluno T Papel da 2 1 indústria “(...) devido ao grande desenvolvimento dessas regiões em relação à indústria e à tecnologia.” – Aluno P Segregação 1 0 - 8 9 “Eu vejo uma má organização urbana, socioespacial Organização desequilibrada socialmente (...)” – Aluno L “(...) má administração do governo e desorganizado.” – Aluno R Campo x 0 2 cidade “Eu vejo a organização do processo de urbanização melhorando pois o governo está criando novas ideias para que o agricultor continue no campo” – Aluno V Influência poder público 0 1 Fonte: dados e elaboração da pesquisa “Acho por um ponto desorganizado pelo jeito que as favelas foram construídas, mas a parte que é para ser feita pelo governo acho que é organizado” – Aluno L 62 Gráfico 6: As percepções sobre a urbanização do Brasil Fonte: dados e elaboração da pesquisa Nesta etapa, as mudanças de percepção foram reduzidas. Durante o trajeto até o assentamento foram discutidos alguns temas sobre o processo de urbanização no Brasil bem como sua relação com o espaço rural. A fraca mudança de percepção dos alunos coincidiu com o mesmo resultado obtido no subtema que discutia sobre a agroindústria. Contudo, ainda se manteve alto o número de alunos que relacionaram a precária organização do espaço urbano com a presença de vilas e favelas. De acordo com a visão do pesquisador, isso aconteceu, pois os alunos destacaram que a presença de assentamentos urbanos ilegais ou com baixa qualidade construtiva eram resultantes de uma gestão inadequada do poder público durante a urbanização do país que levou à formações de moradias em áreas de risco social e geológico. Tal conclusão se correlaciona com a ideia, oriunda do primeiro diagnóstico, de que esses espaços eram ―feios‖ e que descaracterizam a paisagem urbana. Isso mostra uma relação simplista entre estética, organização e o processo de produção e apropriação do espaço. 63 Esse tipo de relação foi recorrente nas percepções, demonstrando novamente que para alguns alunos apenas os mais ricos vivem em locais mais organizados no meio urbano. 4.9. Subtema 9: Sobre as atribuições do poder público na organização do espaço urbano O poder público foi tratado sistematicamente pelos alunos em doze depoimentos como algo gerador de benefícios às comunidades assistidas por suas políticas. Tais depoimentos estabeleceram uma relação de beneficiador, ou seja, eles pontuaram que o governo deveria oferecer todas as necessidades básicas, mas não sinalizaram que os grupos sociais precisam gerir, cuidar e fiscalizar o que foi investido no local. Os alunos não apontaram para uma gestão coletiva e popular como uma perspectiva de melhoria na qualidade de vida. As outras categorias apresentaram apenas um depoimento cada. Um aluno escreveu sobre o papel do poder público como algo controlador das interferências humanas no espaço. Outro ressaltou que há uma disparidade de investimentos entre as regiões do país e outro balizou que o Estado tem como função garantir a segurança da população. Um aluno identificou que a geração de emprego e renda foi diretamente proporcional à vontade do poder público em criá-los. Por fim, um aluno apenas destacou que o papel do Estado era vinculado à consolidação da harmonia entre o campo e cidade, mantendo as relações econômicas sadias entre ambos. O quadro a seguir mostra a organização dessas percepções sobre as atribuições do poder público na organização do espaço urbano. 64 QUADRO 16 PERCEPÇÃO INICIAL SOBRE AS ATRIBUIÇÕES DO PODER PÚBLICO NO MEIO URBANO Categorias Planejamento e Número de Depoimentos dos alunos antes do depoimentos trabalho de campo 1 “(...) tem que controlar o número de prédios e casas em cada região (...)” – Aluno E gestão Benevolência/Estado 12 “(...) contribuindo na área da saúde, construindo hospitais e dando saneamento provedor básico (...)” – Aluno T “(...) interferir nas moradias irregulares só que com o crescimento muito acelerado não tem mais como ajudar a todos” – Aluno H 1 “O poder público favorece as regiões Favorecimento Sudeste e Centro Oeste (...) há uma desigual desigualdade em relação às outras” – Aluno P 1 “(...) eles têm que manter a paz, a organização Segurança e o crescimento urbano estrutural” – Aluno B 1 “A geração do desenvolvimento econômico para o Estado através de empregos.” – Emprego Aluno L 1 Harmonizar campo e “(...) manter uma relação econômica entre a área urbana e a área rural‖ – Aluno S cidade Fonte: dados e elaboração da pesquisa A seguir, há a categorização das percepções dos alunos depois do trabalho de campo sobre as atribuições do poder público na organização do espaço urbano no Brasil, além de uma síntese dos resultados num gráfico. 65 QUADRO 17 PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE AS ATRIBUIÇÕES DO PODER PÚBLICO NO MEIO URBANO Categorias Número de Número de depoimentos depoimentos Alguns depoimentos após o trabalho de campo PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO INICIAL PÓSTRABALHO DE CAMPO Planejamento e gestão 1 10 “As atribuições do poder público são de melhor uso dos espaços urbanos e também uma visão ampla das ações (...)” – Aluno F “Controlar a taxa de emprego, a renda, acumulação de impostos para sustentar a sociedade” – Aluno B Benevolência / provedor 12 7 “As atribuições do poder público é a saúde e escolas públicas e o Bolsa Família que ajuda bastante‖ – Aluno L “(...) investir em infraestrutura para realizar uma possível correção ou melhora nesse espaço” – Aluno G Favorecimento desigual Segurança 1 0 - 1 0 - Emprego 1 0 - Harmonizar 1 0 campo e cidade Fonte: dados e elaboração da pesquisa - 66 Gráfico 7: As percepções sobre as atribuições do poder público no meio urbano Fonte: dados e elaboração da pesquisa A benevolência do poder público ainda apresentou índices elevados, mesmo com a queda de doze para sete depoimentos. Alguns alunos ainda acreditavam que o poder público deve ter um caráter provedor, ou seja, deve solucionar os problemas sociais e caso não os solucione, torna-se o culpado direto por eles. Por outro lado, o resultado do item ―Planejamento e gestão‖ foi significativo. Após o trabalho de campo e juntamente com as falas da líder comunitária sobre a importância da aproximação cidadão – governo, o número de alunos que ressaltaram isso subiu de um para dez, mesmo se tratando de uma área urbana. O caráter de provedor deu lugar para um poder executivo necessário, mas na gestão e no planejamento do espaço e não como um provedor de serviços e de qualidade de vida. Os alunos perceberam que se uma comunidade qualquer – como o assentamento visitado – desenvolve mecanismos internos de geração de renda e emprego, seria possível ampliar a qualidade de vida sem a benevolência do poder público. Desta forma, ele se tornaria um aliado e não um benfeitor. Essa categoria pode ser utilizada para potencializar a hipótese da investigação, pois o trabalho de campo 67 proporcionou uma construção de novos significados do conceito de espaço geográfico que possibilita a incorporação da dimensão socioespacial do real. 4.10. Subtema 10: Sobre a organização do espaço agrário No primeiro diagnóstico, os alunos se depararam com a seguinte pergunta: Como você vê a organização do espaço agrário brasileiro e quais são as suas principais características? Sete alunos, na categoria que apresentou o maior número de depoimentos, escreveram que há um acesso desigual a terra no Brasil. Isso pode ter como causa os estudos feitos no ensino fundamental sobre a questão agrária brasileiro. Esse conteúdo é sistematicamente trabalhado pela disciplina de Geografia e ressalta a histórica concentração de renda e terra no país. Além desses sete depoimentos, um aluno destacou a precária infraestrutura disponível para pequenos produtores. Possivelmente, o mesmo tinha a intenção de escrever sobre as dificuldades de acesso desses agricultores a insumos e maquinários. Seis alunos sinalizaram que o meio rural serve apenas para produzir alimentos. Isso é uma visão distante da realidade atual onde enxerga-se uma aproximação do meio urbano e do meio rural. Dois alunos escreveram que a organização do espaço rural brasileiro era melhor que a urbana. Isso é interessante, pois, possivelmente, eles relacionaram a inexistência de aglomerados no local, nos moldes presentes em áreas urbanas. E, apenas um aluno identificou o preço da terra com um elemento que organiza a aquisição fundiária no espaço rural. A categorização das percepções desta etapa está disposta no quadro a seguir. 68 QUADRO 18 PERCEPÇÃO DA ORGANIZAÇÃO SOBRE O ESPAÇO AGRÁRIO BRASILEIRO Categorias O desigual Número de Alguns depoimentos antes do trabalho de depoimentos campo 7 “O espaço agrário é mal dividido, pois existem acesso poucos com muita terra e muitos com pouca terra à terra (...)” – Aluno V “(...) as terras ou são de fazendeiros ou são de indústrias que necessitam das terras (...)‖ – Aluno E Pouca infra- 1 “(...) os agricultores não conseguiram acompanhar os latifúndios que tinham acesso à tratores (...)‖ – instrutora Aluno B Produção de 6 ―Eu vejo que o espaço agrícola está crescendo, pois o número de indústrias agrícolas no campo alimentos está grande (...)‖ Aluno L “(...) obtenção de terras para o plantio econômico [...] há uma relação industrial (...)‖ – Aluno S Organização 2 “Eu vejo a organização do espaço agrário como mais organizado que o espaço urbano‖ Aluno B “(...)há pouca ajuda para os moradores do campo‖ – Aluno R Preço da terra 1 “As pessoas mais ricas têm áreas maiores e mais modernas e as pessoas mais pobres têm áreas menores e sem modernização‖ Aluno F Fonte: dados e elaboração da pesquisa No quadro seguinte, há a categorização das percepções dos alunos depois do trabalho de campo sobre a organização do espaço agrário no Brasil. 69 QUADRO 19 PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO BRASILEIRO Categorias O desigual acesso à terra Pouca infraestrutura Produção alimentos de Número de Número de depoimentos depoimentos PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO INICIAL PÓSTRABALHO DE CAMPO Alguns depoimentos após o trabalho de campo 9 “(...) muitos ficam sem terra alguma devido à má distribuição dessas áreas.” – Aluno L 1 1 6 0 “A organização [...] é desigual, muitos agricultores têm pouco e poucos têm muita terra (...)‖ – Aluno F ―Eu vejo a organização do espaço agrário com dificuldades de desenvolvimento e suas principais características são as agroindústrias e os agricultores.” – Aluno V - 7 Organização 2 6 Preço da terra 1 0 Produção desigual 0 1 Fonte: dados e elaboração da pesquisa ―O espaço agrário brasileiro é bem organizado e tem uma boa estrutura onde coloca em prática planos como a desapropriação de terras não produtivas.‖ – Aluno R “O espaço agrário brasileiro é muito mal organizado (...)‖ – Aluno T ―Os meios de produção variam entre a mão-de-obra e o uso da tecnologia, há também uma desigualdade social.‖ – Aluno L 70 Gráfico 8: As percepções sobre a organização do espaço agrário antes e depois do trabalho de campo Fonte: dados e elaboração da pesquisa Há duas percepções mais significativas nessa categoria. A queda de seis para nenhum depoimento sobre a principal finalidade do campo ser a produção de alimentos. Isso indicou que os alunos perceberam, após o trabalho de campo no assentamento, novas finalidades para a de organização do espaço agrário. Os alunos notaram in loco que havia uma organização com o intuito de gerar e ampliar a renda por meio do plantio e cultivo de produtos orgânicos. Ou seja, a visão sobre o campo como algo apenas para a produção de alimentos foi modificada para uma que mostrava uma área rural onde havia lazer, emprego e moradia, qualidade de vida. Outro destaque foi o número de depoimentos sobre a organização do espaço em si. O aumento de dois para seis alunos mostrou uma diferente percepção desse espaço. A maneira como os assentados organizavam suas atividades cotidianas fomentou essa percepção traduzindo-a em novas leituras sobre o universo rural. O aluno R ao escrever que o ―espaço agrário brasileiro é bem organizado e tem uma boa estrutura onde coloca em prática planos como, por exemplo, a desapropriação de terras não produtivas‖ reforçou a ideia (e a comprovação da hipótese) de que o 71 trabalho de campo em áreas onde a comunidade desenvolveu Tecnologias Sociais pode gerar possíveis novos significados da dimensão socioespacial do real. Os outros alunos que escreveram que o meio rural ainda era desorganizado relacionaram esse motivo com a má distribuição de terra. Em nenhum dos depoimentos, houve percepções que identificavam o assentamento como uma área desorganizada. 4.11. Subtema 11: Sobre as atribuições do poder público na organização do espaço rural Assim como na pergunta sobre o papel do poder público na organização do espaço urbano, o número de alunos que escreveu sobre a benevolência do Estado no meio rural também foi alto, onze em dezessete. Apenas três alunos destacaram a importância do poder público em criar políticas específicas para a fixação do homem no campo por meio de caminhos que priorizassem a geração de renda no local. Dois alunos sinalizaram que o poder público é negligente e que pouco faz para o desenvolvimento social e econômico do meio rural. Apenas um aluno apresentou um depoimento diferenciado ao pontuar o papel do Estado no campo essencial para ―acabar‖ com a ocupação de terras. A síntese desses resultados está no quadro a seguir. 72 QUADRO 20 PERCEPÇÃO SOBRE AS ATRIBUIÇÕES DO PODER PÚBLICO NO MEIO RURAL. Categorias Políticas públicas para Número de Alguns depoimentos antes do trabalho de depoimentos campo 3 “(...) onde o governo poderia interferir par uma possível reforma agrária e tornar mais terras o improdutivas em produtivas.” – Aluno T desenvolvimento do campo diminuição ―O poder público faz vários projetos para e melhorar o campo‖ – Aluno C do êxodo rural O governo é 2 “O poder público contribui menos para o negligente com o crescimento e o desenvolvimento do espaço campo agrário em relação às cidades (...).” – Aluno P ―O poder público permitiu que os ricos ficassem com os grandes latifúndios‖ – Aluno R Presença do 11 ―O poder público deveria levar mais tecnologia e cursos de aprimoramento na agricultura‖ – poder público Aluno H ―(...) possui um dever de suporte de apoio aos produtores rurais‖ – Aluno F Acabar ocupação terras com a de 1 “(...) o governo deve acabar com o MST, doando casas para eles, colocar asfalto nas estradas e melhorar a infraestrutura.” – Aluno E Fonte: dados e elaboração da pesquisa No quadro a seguir, há as percepções dos alunos após o trabalho de campo sobre as atribuições do poder público no meio rural. Muitas percepções foram oriundas das discussões feitas pela líder comunitária e pelos diversos assentados que contribuíram com as entrevistas dos alunos. 73 QUADRO 21 PERCEPÇÃO APÓS O TRABALHO DE CAMPO SOBRE AS ATRIBUIÇÕES DO PODER PÚBLICO NO MEIO RURAL Categorias Número de Número de Alguns depoimentos após o depoimentos depoimentos trabalho de campo PERCEPÇÃO PERCEPÇÃO INICIAL PÓSTRABALHO DE CAMPO “As atribuições do poder público Políticas públicas para o 3 2 (..) seriam grandes pois assim desenvolvimento não existiria um grande êxodo do e rural e com isso concentraria do muito mais dinheiro no campo‖ – campo diminuição êxodo rural Aluno B “(...) ajudando os pequenos agricultores para a concorrência com os grandes fazendeiros ‖ – Aluno R O governo negligente é - com 2 0 do 11 15 o campo Presença “O poder público é quem precisa comprar os produtos do espaço poder público agrário para poder gerar renda‖ – Aluno L “(...) reorganizar as terras e levar tecnologia‖ – Aluno H Acabar com a ocupação 1 de terras Fonte: dados e elaboração da pesquisa 0 - 74 Gráfico 9: As percepções sobre as atribuições do poder público no meio rural Fonte: dados e elaboração da pesquisa A categoria presença do poder público apresentou um número de depoimentos alto, mesmo após o trabalho de campo. Isso pode ser um resultado das constantes falas dos assentados aos alunos sobre a relação de dependência dos mesmos com o poder público local. Contudo, a relação poder público/assentado retratada pelos alunos após o trabalho de campo foi de complementaridade. Diferentemente das percepções anteriores ao trabalho de campo cujos verbos utilizados para caracterizar o poder público eram levar, fornecer e dar, após a ida ao assentamento novos verbos foram utilizados pelos alunos como: comprar e reorganizar. Isso mostra que eles perceberam novas atribuições do poder público, mas que a dependência frente ao mesmo ainda era forte. Em diversas situações, os alunos se deparam com depoimentos dos assentados sobre a luta dos mesmos para adquirir o acesso à serviços oriundos do poder executivo local. Além disso, a líder do assentamento destacou em sua fala que durante um processo legal de ocupação de terras no Brasil há a participação do poder público na aquisição e na gestão fundiária. Tais elementos potencializaram esse quesito, afinal os alunos sinalizaram essa situação em quinze depoimentos. 75 5. A percepção dos alunos no assentamento Pastorinha e a (re) significação da dimensão socioespacial do real. Apenas no segundo diagnóstico, havia questões específicas sobre o cotidiano do assentamento Pastorinha. Como isso não poderia ser contemplado no primeiro, as análises não puderam ser feitas no estilo antes e depois do trabalho de campo. As sínteses descritas a seguir são oriundas das entrevistas feitas pelos alunos, após o almoço, com os assentados em suas casas ou nas áreas de plantio. As perguntas das entrevistas seguiram um roteiro de elaborado pelo pesquisador juntamente com os alunos (apêndice 10.3). 5.1. Sobre as negociações comunitárias e a comercialização dos produtos agrícolas. As perguntas da entrevista focalizavam as discussões e decisões comunitárias e a venda da produção do assentamento. Os alunos destacaram nos depoimentos escritos durante as entrevistas que as áreas de venda consolidadas em Belo Horizonte eram as principais fontes de circulação dos produtos do assentamento. As discussões e negociações dos assentados ocorriam em reuniões frequentes dos assentados no galpão. Essas eram muito úteis para a organização da comunidade local, principalmente, no que dizia respeito à divisão de tarefas. Isso foi destacado em sete depoimentos num universo de dezessete. Essa articulação social existente para a comercialização dos produtos pode ser considerada uma Tecnologia Social desenvolvida pelos assentados. Após a colheita em cada gleba, os assentados reuniam os produtos e acondicionavam-os em uma caminhonete que transportavaos à Belo Horizonte. Todo o processo era comunitário e dependia de vários assentados para a sua conclusão e para o futuro acesso ao dinheiro adquirido com a venda. Como as Tecnologias Sociais têm um caráter de produção coletiva, tal atividade pode ser 76 considerada como o desenvolvimento de tecnologias sociais. O público consumidor de produtos orgânicos é específico. Como a produção de produtos orgânicos é uma exigência federal para o apoio a assentamentos rurais, os assentados construíram critérios para localizar esse público consumidor potencial em Belo Horizonte. Assim, o processo de identificação e localização do público alvo para os produtos orgânicos, cuidadosamente desenvolvido pela comunidade, pode ser considerado como a construção de uma tecnologia social. Dez alunos conseguiram identificar essa construção de TS pelos assentados que consistiu na identificação de critérios para a localização de pontos de venda em colégios e igrejas da regional Centro Sul de Belo Horizonte. Essa percepção representou 58,8% dos depoimentos escritos pelos alunos. 5.2. Sobre os saberes e as técnicas comunitárias. Outra questão da entrevista com os assentados era identificar os saberes construídos para o cultivo e para o armazenamento da produção. Essa pergunta também tinha o intuito de levar os alunos a identificarem possíveis construções de tecnologias sociais no cotidiano do assentamento. Cinco depoimentos destacaram técnicas diversas e específicas de plantio, mas não as descreveram. Oito alunos sinalizaram que as técnicas desenvolvidas pelos assentados eram repassadas entre eles ou de forma hereditária. Por fim, quatro alunos escreveram que os novos saberes e as técnicas existentes eram vinculados ao não uso de agrotóxico no plantio, sendo que o uso de cinzas como um meio de prevenir pragas foi destacado. Essa técnica pode ser considerada uma Tecnologia Social identificada pelos alunos. 77 Gráfico 10: Técnicas e saberes percebidos pelos alunos no assentamento Fonte: dados e elaboração da pesquisa 5.3. Sobre as lideranças comunitárias e poder público. A terceira pergunta era sobre a relação entre as lideranças do assentamento com os governos e com as políticas públicas. Em alguns depoimentos, os alunos consideraram as políticas públicas como um indivíduo. O aluno E escreveu: ―A relação entre as lideranças do assentamento com as políticas públicas não eram muito boas (...)‖. Outra citação de um aluno disse que a relação era pouco harmoniosa entre o governo local com os líderes da comunidade. Isso mostra um desconhecimento conceitual entre política pública e poder público. Para a maioria dos alunos, ambos são considerados a mesma coisa. Com isso, foi possível levantar, no segundo diagnóstico, que doze alunos não viram de imediato a presença do poder público e de políticas públicas na área e pontuaram a falta de apoio do governo no assentamento. Além disso, cinco expressaram a relação da líder comunitária com o poder público no que tange a necessidade de infraestrutura e oferta de serviços. 78 Gráfico11: As relações entre os assentados e o poder público Fonte: dados e elaboração da pesquisa 5.4. Sobre as estratégias de desenvolvimento da comunidade. Nesta parte do trabalho, os alunos se depararam com uma pergunta sobre as estratégias para o desenvolvimento da comunidade. Os alunos identificaram vinte e duas estratégias sendo que destas, onze transitavam sobre as reuniões e os acordos comunitários existentes no assentamento referentes às questões ligadas ao plantio, à comercialização e à moradia. A rotação de cultura, a construção comunitária das casas, a venda em pontos estratégicos em Belo Horizonte e uma poupança interna foram citados uma vez. O não uso de agrotóxicos que é uma exigência de áreas de assentamento foi pontuada duas vezes. A irrigação por gravidade foi balizada duas vezes, bem como o uso de cinzas para combater pragas nas áreas de plantio que também obteve dois depoimentos. Apenas um aluno escreveu que não identificou estratégias diferenciadas de desenvolvimento no assentamento. 79 Gráfico 12: As percepções sobre as estratégias desenvolvidas pelos assentados para resolver questões do cotidiano Fonte: dados e elaboração da pesquisa 80 6. As mudanças nas percepções dos alunos sobre o Assentamento Pastorinha. Os alunos, no final do roteiro de entrevistas, poderiam escrever sobre o que foi mudado ou acrescido em suas percepções após o trabalho de campo no assentamento Pastorinha. Não havia um critério pré estabelecido. Eles poderiam escrever aleatoriamente suas novas percepções sobre o mundo rural e sobre a sua interação com o meio urbano. Não era necessário ―agradar‖ o professor para ter uma boa pontuação no trabalho. Bastava o aluno expor suas percepções que ele teria acesso à pontuação atribuída na atividade. Desta forma, a possibilidade de respostas induzidas ou maquiadas foi reduzida. Foram identificados setenta e oito depoimentos que foram classificados em seis categorias. Moradia, tecnologia, trabalho e renda, qualidade de vida, acesso a terra e governo. Esses dados estão organizados no gráfico e no quadro a seguir e mostram que a percepção dos alunos que mais foi modificada diz respeito à qualidade de vida num assentamento rural oriundo de uma ocupação ilícita. Para eles, a organização dos assentados no cotidiano surpreendeu e isso fortalece a ideia do investimento em trabalhos de campo para a Geografia Escolar. Gráfico 13: Elementos percebidos pelos alunos para construção de técnicas e estratégias para o equacionamento dos problemas do cotidiano. Fonte: dados e elaboração da pesquisa 81 QUADRO 22 ANÁLISE DAS PERCEPÇÕES DOS ALUNOS SOBRE O MUNDO AGRÁRIO BRASILEIRO ANTES E DEPOIS DO TRABALHO DE CAMPO O mundo Agrário Brasileiro para O mundo Agrário Brasileiro para você após o você antes do trabalho de campo trabalho de campo no assentamento Pastorinha. o CATEGORIAS N DEPOIMENTOS Percepções apresentadas pelos alunos Os alunos pontuaram as casas de alvenaria como um avanço, pois imaginavam que, em geral, as casas Moradia (estética seriam de lonas. e 9 higiene) Exemplo: “Limpo e com muita higiene e cuidado com os produtos” - Aluno B Os alunos reconheceram que há saberes e técnicas endógenas no assentamento. Entre elas: a comercialização dos produtos em áreas específicas e o uso de cinzas para o combate de pragas. Produção e 11 Exemplo: “Percebi que nem toda produção usa-se agrotóxicos” - Aluno P tecnologia Eles identificaram que os assentados vivem sem o auxílio pleno do governo, ou seja, eles conseguem Trabalho e geração de gerir a produção de forma autônoma. 9 Exemplo: “Todos os assentados ajudam de alguma forma na produção” – Aluno L renda Foi o quesito mais citado. Ficou visível que os alunos Condição social (qualidade de tinham uma ideia de conflitos perenes e que após a 32 vida e conflitos) visita perceberam uma organização social estrutura e com regras de convivência. Exemplo: “Não ocorrem tantos conflitos nos assentamentos” – Aluno H Os alunos pontuaram as formas e as estratégias de Acesso e uso ocupação e de fixação do homem no campo. da terra Anteriormente, eles conceituavam os sem terra como 11 baderneiros. Exemplo: “A lei favorece a ocupação determinadas circunstâncias” – Aluno R em 82 Categoria menos citada. Os alunos que escreveram sobre isso destacaram a autonomia dos assentados frente ao poder público. Contudo, é importante Governo e 6 ressaltar que alguns depoimentos nas outras políticas questões da investigação mostraram que os alunos públicas identificaram a necessidade do poder público na consolidação da posse da terra. Ainda assim, foi perceptível que a ideia anterior se baseava na descrença em relação ao ―governo‖ em resolver a questão agrária e que perante isso há mecanismos de acesso à terra. Exemplo: “Sobrevivem sem muita ajuda do governo” – Aluno B Fonte: dados e elaboração da pesquisa Sintetizando o quadro acima se pode inferir que os alunos reconheceram alguns saberes e algumas técnicas endógenas no assentamento que poderiam estar vinculadas ao desenvolvimento de Tecnologias Sociais, principalmente, no que tange a comercialização e o plantio de algumas hortaliças. Outra percepção identificada pelos alunos foi sobre uma possível autonomia que os assentados apresentaram frente ao poder público. No primeiro diagnóstico, eles escreveram que o governo era muito presente e necessário para manter a sobrevivência e o acesso aos serviços básicos. Já no diagnóstico após o trabalho de campo, os alunos sinalizaram que os assentados possuíam uma organização própria, construída sem o envolvimento do governo municipal. Porém, mesmo com a essa autonomia, os alunos notaram que os assentados apresentavam certos conflitos com o poder público local em relação aos sistemas viário e educacional. Os alunos também tinham uma ideia de conflitos perenes em áreas de assentamento e que após o trabalho de campo perceberam uma organização social com regras de convivência e mercadológicas. A ideia de que os assentados seriam baderneiros e que ocupavam terras para diversos fins também foi mudada. Os alunos pontuaram as formas e as estratégias de ocupação e de fixação do homem no campo e ressaltaram ainda as dificuldades de manutenção no local bem como os problemas com a comercialização e a produção de hortaliças orgânicas que têm um público alvo específico e que são de plantio obrigatório em áreas de assentamento. 83 7. Considerações finais Os resultados dessa investigação serviram para comprovar, parcialmente, as hipóteses que o trabalho de campo propicia e fortalece a possibilidade de (re) significação da dimensão socioespacial do real e que a identificação do desenvolvimento de Tecnologias Sociais a partir do contato com saberes locais reforçaria essa possibilidade de (re) significação. Essa comprovação parcial foi oriunda dos textos dos alunos, onde foi possível verificar novas significações da dimensão socioespacial do real em apenas alguns itens previstos nos diagnósticos, principalmente no que tange a organização social e econômica as áreas rurais mais pobres como o assentamento Pastorinha. A visão geral sobre algumas atitudes e sobre o cotidiano dos sem terra foi modificada. Os alunos modificaram suas visões, pois a ideia divulgada pelo senso comum e muito reforçada pela imprensa de que os assentados são baderneiros foi suprimida. Os alunos passaram a percebê-los como pessoas que sabem como articular socialmente e economicamente seus desejos e anseios. A organização do assentamento favoreceu essa ideia e isso surpreendeu os alunos durante o trabalho. Foi identificada também, nos relatórios dos alunos, a construção de algumas Tecnologias Sociais, sobretudo sobre os processos de comercialização dos produtos orgânicos produzidos pelos assentados. Este fato colocou um novo elemento na percepção da inserção social dos assentados. Eles se articulam de forma inovadora para permitir a sustentabilidade de suas atividades. Além disso, essa comprovação parcial explicita o conflito entre o processo pedagógico e o processo de uma pesquisa strictu sensu que apresentam tempos diferentes e que cobram a focalização de uma grande quantidade de temas (matérias) num curto espaço de tempo. Isso é previsto num planejamento anual, que nem sempre pode se adequar ao tempo de uma pesquisa como a realizada. Ou seja, além da temática da pesquisa 84 em questão, a turma tinha outras atividades e outros conteúdos da série e essa investigação não poderia se apropriar exclusivamente do cotidiano dos alunos e muito menos relacionar, com a mesma ênfase temporal, o conteúdo programático e com o conteúdo da pesquisa. Como o horário de trabalho do pesquisador na escola naquela série era de três aulas por semana, era necessário dar conta das questões que envolviam a pesquisa e o restante do conteúdo da série. Essa não é uma dificuldade vivida apenas nessa pesquisa. Braga (1999) destacou os conflitos entre os tempos e espaços da pesquisa strictu sensu e dos processos de ensino. Ressalta a autora que esses conflitos decorrem do fato de serem, o ensino e a pesquisa, atividades com natureza diferentes, organizadas em tempos necessariamente diversos. Apesar dessas dificuldades, foi possível identificar algumas (re) significações da dimensão socioespacial do real pelos alunos, o que fortalece a necessidade de se sistematizar mais trabalhos de campo multidisciplinares e com uma disponibilidade de tempo maior. Os resultados detalhados da pesquisa, oriundos das análises dos depoimentos dos alunos, podem ser relacionados com a metodologia utilizada na pesquisa, cuja duração, em quatro etapas, foi de aproximadamente cinco meses. A pesquisa exigiu um grande envolvimento do pesquisador ao requerer mais encontros semanas com a turma, pois as atividades ocuparam um tempo muito maior do que o previsto tanto durante a coleta de dados, quanto durante os processos de teorização e instrumentalização com a turma envolvida com a pesquisa. Equacionar o conteúdo da série com o conteúdo do trabalho de campo foi um desafio à parte. Após os resultados, pode-se perceber que o trabalho de campo, frente às outras modalidades de atividades em ambientes fora de sala de aula como a visita técnica, exige um aluno mais protagonista no processo de ensino-aprendizagem. Entretanto, para que esse protagonismo seja potencializado, é necessário um projeto de investigação onde o trabalho de campo seja precedido de uma preparação e planejamento cuidadosos. É necessário que haja uma articulação entre teoria e prática e um acompanhamento sistemático dessa estratégia pedagógica, para que 85 seus resultados sejam de fato avaliados. Pela experiência do pesquisador, o trabalho de campo realizado, se distinguiu das outras atividades semelhantes pelo seu nível de planejamento e sistematização. Nesse sentido, a afirmação de Kaecher (2003) de que o trabalho de campo não pode se esgotar no momento que termina, tornando-o apenas um ―gastar tempo‖, foi confirmada pela pesquisa. Um trabalho de campo, metodicamente construído, precisa ir além da visita técnica, principalmente se ele se propõe a ser um apoio pedagógico para o ensino de disciplinas escolares. O planejamento de um trabalho de campo deve ser criterioso, inclusive com um amplo envolvimento e engajamento dos alunos, para que eles possam valorizar e assumi-lo como protagonistas. Assim, após a interpretação dos dados foi possível afirmar que o trabalho de campo em questão serviu, parcialmente, como um instrumento de (re) significação da dimensão socioespacial do real e que os alunos conseguiram identificar embriões de construção de Tecnologias Sociais no local. O número alto de depoimentos sobre as mudanças de percepção por parte dos educandos embasou tal afirmação. Como exemplo, ao final da atividade no assentamento, um aluno comentou que ele achava os sem terra desorganizados e após o trabalho ele mudou a concepção e reconheceu que as técnicas e as articulações endógenas e exógenas dos assentados eram sinais de organização e profissionalização. Essas novas leituras repercutiram no ambiente escolar, pois os alunos socializaram as conclusões com outros colegas e principalmente com as famílias que deram retornos positivos da atividade. A investigação de processos e tecnologias desenvolvidas na produção/apropriação do espaço geográfico do assentamento e na comercialização do plantio fomentou novas leituras da realidade por parte dos alunos. Isso potencializou a capacidade de crítica dos alunos e, possivelmente, contribuiu para uma politização dos alunos, confirmando Brabant (1976) que indicou a ênfase na descrição como facilitadora da despolitização do ensino. Por fim, o uso do trabalho de campo para a educação geográfica em áreas que apresentam a construção de Tecnologias Sociais pode ser então uma estratégia 86 eficaz para superar a prática mnemônica e enciclopedista, discutida na literatura sobre a educação geográfica como traços ainda presentes na tradição didática dessa disciplina escolar. Contudo os projetos de trabalho de campo devem ter objetivos claros e não muito ambiciosos porque os docentes terão diante de si desafios como a problematização, a execução e a análise dos resultados. Além disso, a necessária adequação entre o processo pedagógico e o processo de uma pesquisa exige um investimento teórico-prático específica. Concluindo, mesmo que algumas mudanças na leitura de mundo dos alunos não tenham sido objetivadas em algumas temáticas, nessa pesquisa foi possível um aprofundamento e uma verificação do processo de (re) significação de grande parte das temáticas abordadas no trabalho de campo e ele se manifestou como uma estratégia com grande potencialidade para a (re) significação da dimensão socioespacial do real. 87 8. Proposta de intervenção A difusão de trabalhos de campo cuja temática central passa pela identificação e problematização de Tecnologias Sociais ainda é incipiente. A proposta de intervenção desta investigação foi baseada nessa dificuldade e por isso houve a elaboração de um encarte que apresenta sugestões metodológicas sobre o trabalho de campo em áreas que, potencialmente, tenham desenvolvido Tecnologias Sociais. Este encarte poderá ser enviado por email ou acessado no site do Mestrado cujo endereço eletrônico é http://www.mestradoemgsedl.com.br/. Além disso, é possível acessar, por esse endereço, outro link que conduz a uma comunidade do ORKUT que tem o intuito de promover a discussão das temáticas: Trabalho de Campo, Tecnologias Sociais e Educação Geográfica. Tanto a proposta quanto a comunidade virtual são destinadas a professores das redes privada e a população que deseja contribuir com o processo de discussão. Nessa comunidade é possível participar de fóruns de discussão, acessar conceitos de temas afins, inserir enquetes, visitar comunidades correlatas, conversar com outras pessoas que tenham interesse pelos temas e alimentá-la com novas contribuições, tornando-se seu membro. Trata-se de um ambiente virtual livre e amplo para o fomento dos debates sobre esses temas. Possivelmente, após a distribuição impressa de alguns exemplares do encarte, a quantidade de acessos e adesões aumentará, tornando-o um espaço com credibilidade e confiabilidade. Afinal, o trabalho de campo escolar não se esgota no momento em que ele termina. Há diversas possibilidades que podem ser exploradas pelos professores e um ambiente virtual como esse pode ser uma fonte de estímulo. A seguir, há uma cópia do encarte e a reprodução da comunidade virtual cujo link é acessado caso a pessoa esteja conectada no seguinte site (http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=109025930.) 88 4- Crie um ambiente de debate com os alunos após o trabalho de ENCARTE: O TRABALHO DE CAMPO campo. E EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA 5- Estimule-os a escrever sobre suas novas percepções. Prezado professor. 6- Peça-os, após o trabalho de campo, para identificar possíveis A execução de um trabalho de campo em áreas tecnologias sociais no entorno da que hipoteticamente desenvolveram Tecnologias escola. Sociais pode ampliar a releitura de mundo dos seus 7- Entre na comunidade: geografia alunos. e tecnologia social e participe dos Para que o trabalho de campo nessas áreas ocorra fóruns de forma satisfatória, eis algumas dicas e informações sobre os trabalhos de procedimentos: campo executados por você. e alimente-a com O link da comunidade é: 1- Conceitue tecnologias sociais com os seus http://www.orkut.com.br/main#com alunos munity?cmm=109025930 2- Procure identificar possíveis tecnologias sociais desenvolvidas na comunidade a ser visitada. 3- Escolha o local e problematize os referenciais teóricos necessários à compreensão do espaço em estudo. Grupo de alunos em um assentamento de sem terra na região metropolitana de Belo Horizonte 89 90 9. Referências bibliográficas ALENTEJANO, Paulo R. R. & ROCHA-LEÃO, Otávio M (Orgs). Boletim Paulista de Geografia / Seção São Paulo - Associação dos Geógrafos Brasileiros. Nº 84 (2006) São Paulo: AGB, 2006. BARDIN, Laurence. 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Apêndices 10.1-Roteiro utilizado no diagnóstico antes do trabalho de campo DIAGNÓSTICO: ANTES DO TRABALHO DE CAMPO PERCEPÇÃO INICIAL ÁREA URBANA www.ips.org/ http://ww.phmengenharia.com.br/images/obras/residencias_nova3.gif 1- a) Analise as duas imagens de ÁREAS URBANAS anteriores 2- e DESCREVA-AS. b) Fale sobre as possíveis CONDIÇÕES DE VIDA das populações que habitam os dois espaços fotografados. c) Que HIPÓTESES você elabora sobre os possíveis processos de ocupação desses espaços. 95 ÁREA RURAL http://www.ladycbarra.com.br/sudeste/rio_arquivos/valenca-quilombo2.jpg http://i117.photobucket.com/albums/o61/ulilopes/Figura013.jpg 2- a) Analise as duas imagens de ÁREAS RURAIS anteriores e DESCREVA-AS. b) Fale sobre as possíveis CONDIÇÕES DE VIDA das populações que habitam os dois espaços fotografados. c) Que HIPÓTESES você elabora sobre os possíveis processos de ocupação desses espaços. 3- Como você vê a organização do processo de urbanização brasileira e quais são as suas principais características? 4- Quais são as atribuições do poder público na organização do espaço urbano? 5- Como você vê a organização do espaço agrário brasileiro e quais são as suas principais características? 6- Quais são as atribuições do poder público na organização do espaço agrário? 96 10.2-Roteiro para a Instrumentalização teórica INTRUMENTALIZAÇÃO LEIA os textos a seguir e DESTAQUE as informações mais importantes a partir da sua percepção sobre a relação campo-cidade. A RELAÇÃO CAMPO – CIDADE ―[...] o próprio debate acerca da importância da reforma agrária como uma política de reestruturação espacial das sociedades tem sido recolocado. Sem dúvida, trata-se de questão polêmica, uma vez que para os representantes do patronato rural e alguns estudiosos da agricultura brasileira o que está em jogo, pelo contrário, é a expansão do modelo agrícola vigente no país. Para estes setores a reforma agrária não traria nenhuma contribuição para a sociedade brasileira, uma vez que a agricultura já se encontraria fortemente modernizada, não fazendo sentido pensar na massificação da pequena produção familiar no campo, mas sim retomar uma política de apoio à agricultura patronal que amplie ainda mais seu processo de modernização, repetindo a estratégia adotada nos anos 1960/70. A pauta da reivindicação destes setores é clara: liberalização comercial, incentivo às exportações e liberação da produção de organismos geneticamente modificados (transgênicos), consolidando o que seria na versão destes a ‗nova revolução verde‖. ―[...] O caráter fortemente urbanizado da sociedade brasileira deve ser o ponto de partida para a nova reflexão sobre o lugar da reforma agrária no debate sobre o modelo de desenvolvimento a ser adotado no país, mas não para negar importância à reforma agrária, mas para afirmá-la como essencial para, no curto prazo, garantir melhores condições de vida para uma imensa massa de explorados e excluídos presentes hoje no campo e na cidade e, a médio e longo prazo, possibilitar a construção de uma sociedade justa e democrática[...]‖ ―[...] Graziano da Silva (1996) tem sido um dos principais autores a defender a existência de uma nova dinâmica no campo brasileiro, marcada fundamentalmente pela urbanização. Em sua concepção o rural não pode mais ser associado à atividade agrícola como tradicionalmente o fora. Um outro lado de sua formulação diz respeito ao profundo processo de modernização da agricultura patronal e de parcelas da agricultura familiar, particularmente os integrados, que por seu grau de tecnificação e integração em circuitos financeiros e informacionais também não mais poderiam ser classificados como rurais. Assim, estaria em curso um duplo processo de urbanização do campo brasileiro: uma expansão da lógica de produção urbana para os setores modernizados da agricultura e a expansão de atividades tipicamente urbanas para as áreas onde a agricultura modernizada não se implantou[...]‖ Trechos retirados do texto: As relações campo-cidade no Brasil do século XXI de Paulo Roberto R. Alentejano. a) LEIA o texto a seguir da Agência Estado sobre a concentração fundiária no Brasil. JACQUELINE FARID - Agencia Estado 97 O Censo Agropecuário 2006, divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a concentração de terras persiste no País. O levantamento, cuja coleta de dados foi realizada em 2007, é o primeiro dessa magnitude feito pelo instituto desde 1996. "As diferenças verificadas na área dos estabelecimentos agropecuários continuam a caracterizar a manutenção da desigualdade na distribuição de terra no País nos últimos censos agropecuários", dizem os técnicos do IBGE. De acordo com o instituto, enquanto os estabelecimentos rurais de menos de 10 hectares ocupam menos de 2,7% da área total ocupada pelos estabelecimentos rurais, a área ocupada pelos estabelecimentos de mais de mil hectares concentram mais de 43% da área total. A concentração e a desigualdade regional são comprovadas pelo Índice de Gini da estrutura agrária do País. Quanto mais perto esse índice está de 1, maior a concentração. Os dados mostram um agravamento da concentração de terras nos últimos 10 anos. O Censo do IBGE mostrou um Gini de 0,872 para a estrutura agrária brasileira no Censo divulgado hoje, superior aos índices apurados nos anos de 1985 (0,857) e 1995 (0,856). A evolução do Gini, no entanto, foi muito diferente entre as Unidades da Federação. Em São Paulo, passou de 0,758 no Censo anterior para 0,804. No Maranhão, por outro lado, recuou de 0,903 para 0,864. No Censo 2006, o maior índice de Gini estava em Alagoas (0,871), enquanto o menor foi apurado em Roraima (0,664). O coordenador do Censo, Antonio Carlos Simões Florido, disse que os dados de Gini devem ser analisados com cautela, já que nem sempre a concentração reflete uma situação desfavorável para os produtores. Ele ressalta que em algumas culturas de grande escala, como a soja, é comum que um grande produtor arrende muitas terras de outros agricultores menores, o que acaba elevando o índice. Segundo ele, há 2.360 municípios nos quais o Índice de Gini caiu nos últimos anos e, nesses locais, há agricultura familiar, com assentamentos. MAPA GRÁFICO O índice Gini (inventado pelo estatístico italiano Corrado Gini) é muito usado para medir a concentração de renda, mas serve para medir qualquer desigualdade. Ele varia de 1,000 (desigualdade 98 absoluta: no caso da renda, por exemplo, uma pessoa tem tudo e os outros nada) até 0,000 (igualdade absoluta: todos têm uma mesma renda). b) RELACIONE-O com o mapa e com o gráficoanteriores. TECNOLOGIA SOCIAL LEIA O trecho a seguir sobre o conceito de TECNOLOGIA SOCIAL “A tecnologia social implica a construção de soluções de modo coletivo pelos que irão se beneficiar dessas soluções e que atuam com autonomia, ou seja, não são apenas usuários de soluções importadas ou produzidas por equipes especialistas, a exemplo de muitas propostas das diferentes correntes da tecnologia apropriada. Uma definição de tecnologia social proposta pelo Instituto de Tecnologia Social (ITS, 2004:130) é a seguinte: “um conjunto de técnicas, metodologias transformadoras, desenvolvidas e/ou aplicadas na interação com a população e apropriadas por ela, que representam soluções para a inclusão social e melhoria das condições de vida”.” Informações retiradas do texto: A emergência da tecnologia social: revisitando o movimento da tecnologia apropriada como estratégia de desenvolvimento sustentável Ivete Rodrigues - José Carlos Barbieri a) Após a leitura do trecho anterior, desenvolva a questão proposta a seguir: Há possibilidades de um assentamento de reforma agrária ser uma área que onde ocorra o desenvolvimento de Tecnologias Sociais? EXEMPLO DE TECNOLOGIA SOCIAL Título AGROEXTRATIVISMO SUSTENTÁVEL DA FAVELA Entidade responsável pela tecnologia CEDAC - Centro de desenvolvimento agroecológico do cerrado. Responsável pela tecnologia ALESSANDRA KARLA DA SILVA Problemas Apresentados Em 2000 o CEDAC realizou um diagnóstico sócio-ambiental do extrativismo da favela na região do nordeste goiano, nos municípios de Posse, São Domingos, Iaciara, Guarani, Formosa, Sítio D‘Abadia e Mambaí, no qual estimou-se que cerca de 1034 famílias sobreviviam ou complementavam a renda familiar com a coleta dos frutos da favela, que ocorre no período de abril a agosto. A maior parte da população 99 extrativista são trabalhadores braçais, crianças e adolescentes, que ganhavam em média R$.5,00 a R$.8,00 por dia de serviço, em atividades como: a colheita de semente de capim, capina, limpeza de roça e outras, entretanto é quase inexistente a oferta de trabalho nesta época do ano. A sociedade brasileira desconhece a importância do extrativismo da favela, uma planta do cerrado, cuja forma de exploração tem coexistido a mais de quarenta anos, não apenas com a exploração da espécie em questão, mas também das populações tradicionais que se submetem a coleta dos frutos por valor ínfimo dentro da cadeia de comercialização da espécie, quer seja por falta de emprego, acesso aos meios de produção como a terra e os recursos naturais do Cerrado. Solução Adotada Em 2001 o CEDAC desencadeou um processo de organização local de seis comunidades agroextrativistas do município de São Domingos, envolvendo 52 famílias. Os princípios do projeto: - todos os participantes do projeto deveriam ser extrativistas (vivem exclusivamente da atividade ou usam para complementação da renda); - nenhum dos extrativistas poderia explorar outros extrativistas através da compra ou intermediação; - nenhuma criança poderia participar da extração ou beneficiamento; - pelo menos 1/3 dos frutos deveriam ser deixados por árvore para não prejudicar a cadeia alimentar da fauna e a dispersão natural da espécie; - proibido colocar fogo no cerrado; - para a extração dos frutos só poderia ser utilizado gancho ou galho bifurcado. Esta experiência contribuiu com o fortalecimento de uma nova ―trama‖ social com os sujeitos de fato do cerrado, saindo do isolamento e da marginalidade, através da organização coletiva e valorização das riquezas do Cerrado, de modo que a cultura e seus produtos pudessem ser acessados e valorizados pela sociedade brasileira. Assim foi constituída em 2001 a Rede de Comercialização Solidária de Agricultores Familiares e Extrativistas do Cerrado. Com a mudança do código civil a Rede decide constituir como instrumento de comercialização a COOPCERRADO-Cooperativa mista de agricultores familiares, extrativistas, pescadores, vazanteiros e guias turísticos do Cerrado. Nos anos seguintes a Rede ampliou o trabalho, atingindo outras comunidades e municípios através do trabalho do monitor-agroextrativista desde a capacitação realizada de agroextrativista a agroextrativista até a gestão do empreendimento. Atualmente, o trabalho com a favela atinge 400 famílias dentro da Rede, nos municípios de São Domingos, Mambaí, São João da Aliança, Formosa, Guarani de Goiás, Posse Cidade de Goiás no estado de Goiás, Lassance, Santa Fé de Minas, Jequitaí, Augusto de Lima, Corinto, Buenopólis, Paracatu, Ibiaí e Olhos D‘Água em Minas Gerais e Cocos, Jaborandi na Bahia. Resultados Alcançados Após seis anos, com resultados significativos o trabalho que deu contorno e identidade a Rede, possibilitando o protagonismo dos agroextrativistas do Cerrado, 100 que transformaram a sua realidade em torno de uma planta do Cerrado a favela, dá mostra da importância deste modo de vida ainda invisível na sociedade. A cultura construída em torno da favela, encontrado nas regiões imprimiam aos coletores um caráter de exploradores e aos frutos de mercadoria, estimulados por uma demanda externa, das indústrias. Entretanto, distante desse olhar os agroextrativistas desenvolveram propostas que pudessem resgatar o conhecimento sobre a espécie, bem como sair da marginalidade e da exploração do indivíduo e do ambiente. Essa mudança foi ocasionada pelo desenvolvimento da atividade, implementação do manejo sustentável, geração de renda e domínio dos próprios sujeitos sobre a cadeia de comercialização. De 2001 a 2006 ampliou-se o número de famílias envolvidas passando de 52 para 400 famílias, comercializando diretamente para indústria 142,5ton de frutos, gerando uma renda entre R$350,51 a R$539,99/coletor. Aspectos considerados relevantes também foram conquistados pelas comunidades, como a não participação de crianças no duro trabalho de coleta e beneficiamento dos frutos, a garantia da participação da mulher desde a coleta até o recebimento da receita da atividade e a não exploração de outros agroextrativistas pela compra de frutos. Essa perspectiva gerou uma avaliação da importância da mulher, que era subestimada pelos homens por sua capacidade produtiva e subjugada a uma condição inferior, felizmente comprovada a partir de dados das cadernetas de coleta, onde a mulher coleta cerca de 65% a mais que o homem. A Rede se tornou um movimento em expansão contínua, onde algumas propostas vêm se transformando em política pública pela reivindicação direta da Rede como a aprovação da Lei nº15.015, de 29/12/2004 do estado de Goiás, que dispôe sobre a redução da base de cálculo do ICMS sobre a industrialização de produtos típicos do cerrado (de 17% passou para 7%). http://www.tecnologiasocial.org.br/bts/tecnologiaSocialAction.do?metodo=detalhesTe cnologia&codigoTecnologiaSocial=1811 AVALIE o exemplo de tecnologia social apresentado acima ressaltando em que medida ela melhorou ou não a qualidade de vida dos beneficiários. Questionamentos sobre a relação campo-cidade e sobre reforma agrária elaborados pelos alunos. 1- EXPLIQUE a origem da desigualdade na estrutura fundiária brasileira. 2- Existem propostas para modificar a concentração de terras no Brasil? 3- EXPLIQUE o papel do governo como gestor/regulador da relação campo-cidade. 4- Quais são os produtos cultivados pela agricultura familiar no Brasil? 5- EXPLIQUE o que são terras improdutivas. 6- JUSTIFIQUE a atuação dos movimentos de luta pela terra no Brasil. 7- DISCORRA sobre os caminhos utilizados pelos sem terra para consolidar um assentamento legalizado. 8- Qual é o destino das famílias que são retiradas dos assentamentos ilegais por meio da força policial? 9- Como são as relações sociais entre os assentamentos e com o ambiente externo (pontos de venda – familiares que ficaram na terra natal - governo) 10- Qual é o destino principal dos produtos comercializados no assentamento? 101 10.3-Roteiro para as entrevistas com os assentados Querido aluno(a), este roteiro lhe auxiliará na execução das entrevistas durante o trabalho de campo no Assentamento Pastorinha em Brumadinho, MG. Procure coletar o maior número de informações e entrevistar pessoas de famílias diferentes. As entrevistas acontecerão em dois momentos distintos cuja organização está detalhada no esquema abaixo. HORÁRIO ATIVIDADE 0730h Saída para o assentamento 0900h Café da manha 1000h Exposição de ideias e conhecimento da historia do assentamento com a líder comunitária: Valéria. Neste momento acontecerá a primeira rodada de entrevistas. De forma conjunta, os alunos direcionarão perguntas à líder comunitária para verificar questões sobre a gestão local. 1100h Caminhada pelo assentamento com o objetivo de conhecer as moradias e as áreas de cultivo. 1200h Almoço 1300h Segunda rodada de entrevistas: os alunos se direcionarão às áreas de plantio e moradia para coletar dados sobre o cotidiano da comunidade. 1500h Café da tarde 1530h Debate final e retorno à escola. ENTREVISTAS MOMENTO 1 – 1000h (galpão) 1- Como as famílias envolvidas na ocupação se reuniram para lutar por esta área? _____ As famílias se reuniram em grupos organizados ao acaso. _____ As famílias se reuniram a partir de um vinculo familiar já existente. 102 _____ As famílias se conheceram em processos de ocupação diversos. _____ As famílias foram reunidas por líder comunitário. Outras opções ou observações: 2- Como foi feita a distribuição de terras no assentamento? _____ Através de um sorteio. _____ As famílias com mais membros ficaram com as áreas maiores. _____ Por decisão do juiz. _____ Condicionamento ao envolvimento da família no processo de ocupação. Outras opções ou observações: 3- Durante a época da colheita, as famílias se reúnem para uma ajuda mútua? _____ Sim, isso sempre acontece. _____ Sim, de acordo com uma escala estabelecida no assentamento. _____ Depende qual é o tipo de hortaliça a ser colhida. Há colheitas que precisam de mais ajuda e outras não. _____ Não, cada família colhe o que está na sua respectiva área. Outras opções ou observações: 4- Após a colheita, quem é responsável pelo armazenamento, transporte e comercialização? _____Cada um é responsável por isso. _____Existem pessoas no assentamento que são responsáveis por isso. _____Há um rodízio semanal ou mensal Outras opções ou observações: 5- Os recursos financeiros necessários para o plantio vêm de onde? _____Cada um é responsável pelo dinheiro utilizado na plantação. _____As pessoas do assentamento utilizam um credito especial do banco. _____Existem pessoas que nos ajudam a manter as plantações. Outras opções ou observações: 6- Como funciona a distribuição do dinheiro gerado pelo cultivo das hortaliças? 103 _____Cada um recebe o seu dinheiro de acordo com o que plantou, ou seja, não há alguém que distribui o lucro entre os assentados. _____Há uma pessoa no assentamento responsável pela distribuição do dinheiro. Outras opções ou observações: 7- Como são tomadas decisões do assentamento? _____Cada assentado toma as decisões sobre o que será plantado. _____ Um engenheiro agrônomo nos ajuda a decidir o que deve ser feito. _____Alguns assentados nos ajudam a decidir o que devemos fazer e plantar. Outras opções ou observações: 8- Qual é a relação dos assentados com o governo local? _____ A prefeitura de Brumadinho ajuda muito a decidir o que se deve fazer, além de oferecer apoio financeiro para o plantio. _____ O governo só vem aqui para fiscalizar nossa produção. _____Os assentados não precisam do governo para manter a produção de hortaliças. Outras opções ou observações: ENTREVISTAS MOMENTO 2 – 1300h (nas áreas de moradia e de plantio) 1- Toda a sua família é composta por pessoas que trabalham com a plantação de hortaliças? _____ Sim. _____ Não. Outras opções ou observações: 2- Qual é o local de nascimento das pessoas da sua família? 3- Como é decidido o que será plantado na terra de vocês? _____ O chefe da família decide o que será plantado. _____ As pessoas no assentamento decidem coletivamente o que será plantado. 104 Outras opções ou observações: 4- Vocês precisam da ajuda de outras famílias para o plantio e para a colheita? _____ Sim. _____ Não. Outras opções ou observações: 5- Como é feito o armazenamento e o transporte dos produtos de vocês? _____ Temos um galpão para isso e um carro que leva os produtos. _____ Guardamos e vendemos juntos com os outros assentados. Outras opções ou observações: 6- Vocês precisam pegar dinheiro no banco para comprar os produtos necessários para a plantação? _____ Sim. _____ Não. _____ Cada família ajuda a outra. _____ Existem pessoas que nos ajudam. Outras opções ou observações: 7- Onde vocês vendem os produtos colhidos em suas terras? _____ Nas cidades mais próximas. _____ Nos locais onde o assentamento conseguiu espaço para vender como escolas e igrejas. Outras opções ou observações: 8- O dinheiro da venda vem direto para vocês? _____ Sim. Todo o dinheiro da venda vem diretamente para a família que plantou. _____ Não, os assentados se reúnem para fazer a divisão do resultado da venda. Outras opções ou observações: 105 10.4-Roteiro para o diagnóstico depois do trabalho de campo DIAGNÓSTICO: UTILIZADO DEPOIS DO TRABALHO DE CAMPO A PERCEPÇÃO DA DIMENSÃO SOCIOESPACIAL DO REAL ÁREA URBANA x ÁREA RURAL FOTO 2: Moradia no Assentamento Pastorinha – arquivo pessoal FOTO1: Moradias em aglomerados de áreas urbanas - www.ips.org/ 1- a) Analise as duas imagens de HABITAÇÕES POPULARES acima e DESCREVA-AS. FOTO 1 FOTO 2 b) Fale sobre as possíveis CONDIÇÕES DE VIDA das populações que habitam os dois espaços fotografados. FOTO 1 FOTO 2 c) Que HIPÓTESES você elabora sobre os possíveis processos de ocupação desses espaços. A GERAÇÃO DE RENDA EM ÁREAS RURAIS FOTO 1: Agricultores do Assentamento Pastorinha – arquivo pessoal FOTO 2: Agroindústria 1http://i117.photobucket.com/albums/o61/ulilopes/Figura013.jpg 106 2- Analise as duas imagens de ÁREAS RURAIS anteriores e ESCREVA sobre os mecanismos de geração de riquezas em cada uma. 3- Como você vê a organização do processo de urbanização brasileira e quais são as suas principais características? 4- Quais são as atribuições do poder público na organização do espaço urbano? 5- Como você vê a organização do espaço agrário brasileiro e quais são as suas principais características? 6- Quais são as atribuições do poder público na organização do espaço agrário? 7- Como você percebeu, no Assentamento Pastorinha, os seguintes aspectos: a) as negociações da comunidade para a comercialização de seus produtos; b) os processos, as técnicas e os novos saberes construídos para o cultivo e o armazenamento da produção; c) as relações e as negociações entre as lideranças do Assentamento com as políticas públicas e com os governos. 8- Você identificou alguma estratégia que os assentados construíram para melhorar o desenvolvimento da comunidade. Descreva-as. 9- Que percepções você possuía sobre o mundo agrário brasileiro e seus sujeitos antes do trabalho de campo ao Assentamento Pastorinha? 10- O que mudou ou o que foi acrescentado em suas percepções? Para responder à questão dez preencha o quadro a seguir: O mundo Agrário Brasileiro para você O mundo Agrário Brasileiro para você antes do trabalho de campo após o trabalho de campo