Centro de Convenções Ulysses Guimarães Brasília/DF – 16, 17 e 18 de abril de 2013 BUROCRACIA E DEMOCRACIA: O DESAFIO PERMANENTE DA PROFISSIONALIZAÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS NO PARLAMENTO MUNICIPAL Celso Gabriel Yara Helena Falconi Sérgio Mattoso Salomão 2 Painel 31/118 Gestão de RH voltada para resultados BUROCRACIA E DEMOCRACIA: O DESAFIO PERMANENTE DA PROFISSIONALIZAÇÃO DA GESTÃO DE PESSOAS NO PARLAMENTO MUNICIPAL Celso Gabriel Yara Helena Falconi Sérgio Mattoso Salomão RESUMO A rotatividade do corpo político e as dificuldades de relacionamento com o corpo permanente é problema comumente relatado na administração pública. Essa realidade é ainda mais acentuada nos parlamentos, em que o corpo político (parlamentares e equipes dos gabinetes) é proporcionalmente maior que na média das organizações da administração pública, o que torna a gestão de pessoas ainda mais peculiar nesse ambiente. A CMSP, aproveitando oportunidades surgidas para uma maior profissionalização e modernização de sua burocracia, foi capaz de atuar em diversos processos críticos da gestão de pessoas, elevando a qualidade, a agilidade e a isonomia no atendimento às necessidades da atividade parlamentar. Dos critérios para os concursos públicos à forma de gerenciamento das equipes, das prioridades nos processos de formação à integração dos novos parlamentares e assessores de gabinete, as políticas de gestão de pessoas vêm sendo modernizadas e harmonizadas na CMSP, na busca contínua da profissionalização de seus quadros permanentes, condição que contribui para a própria democracia. 3 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS A Câmara Municipal de São Paulo, que completou 450 anos em 2010, é a maior do país, superando, inclusive, em diversos critérios, a maioria das assembleias legislativas estaduais. Sendo uma instituição pública brasileira, convive, como praticamente a totalidade das organizações dessa natureza, com situações tão rotineira e insistentemente apontadas, que chega-se, em alguns momentos, a questionar se são realmente problemas ou parte da própria natureza das organizações do setor público. Podemos destacar alguns desses problemas, entre outros que poderiam ser facilmente apontados (Teixeira, Bassotti, & Santos, 2013, pp. 19-20): Descontinuidade administrativa Conflitos entre critérios técnicos e políticos Engessamento da gestão pelo excesso de normas de regulação dos gastos públicos Rigidez e falta de autonomia para a gestão de recursos humanos Dificuldade de reposição de quadros de pessoal e normas inadequadas para a seleção de pessoal Critérios conflitantes entre os diversos controladores e avaliadores externos do trabalho, dos gastos e dos resultados das organizações públicas Se como Poder Legislativo independente, ao menos em certos aspectos, goza de maior autonomia administrativa que órgãos atuantes nos demais poderes, especialmente o Executivo, em muitas outras dimensões a gestão do parlamento municipal - ao menos um do porte da CMSP - reveste-se de complexidade e restrições ainda maiores que as vistas na administração pública em geral. A Câmara Municipal de São Paulo, composta atualmente por 452 funcionários efetivos, pertencentes ao quadro fixo/técnico, tem 55 vereadores que, juntos, possuem um quadro de pessoal de cerca de 1200 funcionários. Embora haja, ao longo de todos os anos, treinamentos voltados a todas as categorias de funcionários, realizados por funcionários do Banco de Talentos da CMSP - instrumento criado para disseminar conhecimento entre os funcionários -, os programas mencionados neste trabalho foram delineados para o corpo fixo/técnico. 4 Dos 55 Vereadores eleitos, são escolhidos, anualmente, 7 parlamentares para comporem a Mesa Diretora, responsável pela direção dos trabalhos legislativos e dos serviços administrativos da Câmara. Ao longo das Legislaturas, a Câmara vai tomando forma a partir das proposituras de cada bancada, da composição dos membros das Comissões, da percepção de cada eleito perante as necessidades da sociedade, da manifestação popular, da interferência da imprensa, e do estilo de trabalho que cada Mesa adota. É nessa hora que o corpo fixo atua para dar todo apoio técnico necessário aos trabalhos da Mesa, dos parlamentares e do Parlamento. A rotatividade do corpo político e as dificuldades de relacionamento com o corpo permanente são problemas comumente relatados na administração pública. Mas essa realidade é ainda mais acentuada nos parlamentos, em que o corpo político (parlamentares e equipes dos gabinetes) é proporcionalmente maior que na média das organizações da administração pública, o que torna a gestão de pessoas ainda mais peculiar nesse ambiente. Agrava essa situação a curta duração do mandato das mesas diretoras, renovadas anualmente, quatro vezes a cada legislatura, portanto. Vivendo-se o cotidiano de uma organização cuja própria razão de ser é a política e na qual a pressão temporal dos mandatos é ainda maior que a média do setor público pode-se ter a impressão, não fosse o fato de tratar-se de citação de 1924, que Gilberto Amado, contrariando a lógica do calendário, nela inspirou-se para escrever: O pulso da administração não tem um ritmo. Pode dizer-se que se regula pelo movimento dos espasmos. A uma fase de grande atividade sucede um esmorecimento longo. Grandes surtos do progresso logo se esbatem em lentas estagnações de desânimo. E nada se faz de persistente e firme. 1 (Amado, 1998, p. 103) A despeito dessas restrições, a CMSP vem conseguindo aproveitar as janelas de oportunidades surgidas para uma maior profissionalização e modernização de sua burocracia, tendo sido capaz de atuar em diversos processos críticos da gestão de pessoas na busca contínua da profissionalização de seus quadros permanentes, condição que contribui para a própria democracia. 1 Passagem retirada da publicação original do Senado, mas vista primeiramente em Oliveira (2009) 5 Os objetivos deste trabalho são destacar alguns marcos no contexto desse processo, descrever sumariamente ações e projetos implantados ou iniciados na “trilha” da maior profissionalização da gestão de pessoas na CMSP (por vezes navegando os bons ventos do contexto político e administrativo, por vezes seguindo aquela trilha, não contra o vento – o que é virtualmente impossível no parlamento mas “apesar” dele), e procurar, finalmente, refletir sobre eventuais lições aprendidas das quais se possam inferir ou deduzir características mais gerais que permitam ou auxiliem o aproveitamento dessa experiência por profissionais de outros órgãos e pelo próprio parlamento paulistano nos seus futuros esforços de modernização. PROFISSIONALIZAÇÃO NO SERVIÇO PÚBLICO: SOBRE O QUE ESTAMOS FALANDO? No dicionário (Houaiss, 2012), o verbete profissão é apresentado com seis definições, mas que podem ser divididas claramente em três grupos: 1 ação ou resultado de professar ('reconhecer publicamente', 'jurar') 2 declaração ou confissão pública de uma crença, uma religião, um sentimento, uma tendência política, uma opinião ou modo de ser 3 atividade para a qual um indivíduo se preparou e que exerce ou não ‹o escritor João Guimarães Rosa era por p. diplomata› ‹ele não exerce a p. de engenheiro› 4 trabalho que uma pessoa faz para obter os recursos necessários à sua subsistência e à de seus dependentes; ocupação, ofício ‹p. de caixeiroviajante› ‹p. de guardador de automóveis› 5 ecles ato de ordenar-se sacerdote 5.1 litur cerimônia da tomada do hábito por um religioso, ao final do noviciado; voto Nas duas primeiras certamente não se encontram os significados que procuramos, mas não deixa de ser interessante que em ambas se manifeste o caráter de algo que é declarado publicamente. As duas últimas igualmente não trazem o sentido que buscamos neste trabalho, remetendo mesmo a um dos estereótipos do serviço público que gostaríamos de evitar: o de que, em muitos sentidos, se aproxima do sacerdócio, por mais conotações positivas que tal profissão possa ter. Já as duas definições intermediárias de profissão, principalmente quando combinadas, nos aproximam bastante do significado que buscamos: o de um 6 “trabalho que uma pessoa faz para obter os recursos necessários à sua subsistência e à de seus dependentes“, sendo, para tanto, “atividade para a qual um indivíduo se preparou”. Interessa observar também em uma das definições de profissionalismo ser esse o “procedimento característico dos bons profissionais (seriedade, competência, responsabilidade etc.)”, enquanto a profissionalização é definida como “ato ou efeito de profissionalizar(-se)” e também como “treinamento profissional; capacitação”. O dicionarista registra, ainda, o amadorismo como antônimo de profissionalismo. Esse rápido e despretensioso percorrer pela semântica nos indica, então, alguns limites e fronteiras iniciais dos significados de profissionalização (e, por extensão, também de profissão e profissionalismo) adotados neste trabalho: a profissionalização pode ser entendida como um processo de transformação das condições, relações e resultados do trabalho (regular remunerado) - em uma organização ou instituição - de uma situação inicial até outra que possa ser considerada melhor em termos de seriedade, competência, responsabilidade, preparo, formação e capacitação das pessoas. A oposição das qualidades do profissionalismo às do seu oposto, o amadorismo, também é útil para o estabelecimento de alguns “contínuos” que auxiliem a identificar e avaliar processos ou atividades conducentes à profissionalização. É claro que há diversos sentidos do amadorismo que podem assumir conotações muito mais positivas em outros contextos que não o tratado neste trabalho, como os ligados a hobbies ou práticas esportivas, mas os que nos interessam são exatamente os de conotação negativa, que possam compor, em oposição ao sentido de profissionalismo que procuramos, algo como linhas de escala ou dimensões de avaliação de determinada situação, ainda que não seja objeto desta reflexão a comparação objetiva (ou quantitativa) dos momentos anteriores e posteriores às ações empreendidas na CMSP. Assim, pode-se imaginar um quadro em que se oponham qualificações do amadorismo em oposição a outras, associadas ao profissionalismo, como a seguir: 7 Quadro 1: qualidades opostas de amadorismo e profissionalismo2 O amadorismo caracteriza-se por... O profissionalismo caracteriza-se por... Diletantismo Dedicação, responsabilidade Ser atividade não remunerada Remuneração pelo trabalho Incompetência, inabilidade Competência, destreza, habilidade Despreparo Formação, preparo Conhecimento superficial Conhecimento especializado, profundidade Descompromisso Engajamento, seriedade, compromisso Improvisação Planejamento Personalismo Impessoalidade, aplicação de critérios Informalidade Responsabilidades e autoridade definidas Assim quanto mais conseguirmos distanciar as condições, relações e resultados do trabalho das características listadas na coluna da esquerda, aproximando-as daquelas descritas na coluna da direita, mais podemos afirmar estar ocorrendo um movimento na direção da profissionalização da gestão de pessoas em uma determinada organização. No quadro 1, acima, associamos também à ideia de profissionalismo algumas das principais características da burocracia ideal de Max Weber (Weber, 1969): a formalização, a impessoalidade e a atribuição clara de responsabilidades e autoridades associadas, inclusive, ao domínio técnico. “Weber [...] considerou o homem como um ser imprevisível e emocional, voltado a vários propósitos. A autoridade burocrática reduziria ao mínimo o impacto das diversidades humanas para o desempenho das organizações, fazendo com que seus participantes se comportassem de maneira a buscar unicamente o alcance dos objetivos coletivos, independentemente dos pessoais. A autoridade burocrática pura busca a máxima racionalidade no sentido de precisão, continuidade, rigor, confiança e previsibilidade.” (Teixeira, Salomão, & Teixeira, 2010, p. 87) Ao longo do tempo, o trabalho de Weber foi ganhando uma conotação pejorativa como se preconizasse uma organização mecânica, fria e opressora, quando, na verdade, sua proposta se 2 Quanto ao que foi considerado na coluna do “amadorismo”, parte das características foram selecionadas do trabalho de Oliveira (O amadorismo como traço distintivo da burocracia federal brasileira, 2009). 8 contrapunha exatamente a sistemas similares ao monárquico, despótico e autoritário, em que o poder era exercido de forma personalista e tirânica, pelos “amigos do rei” e em seu nome. Williamson (1987), um dos expoentes da “nova economia institucional”, viria a ser posteriormente reconhecido com o prêmio Nobel de economia com pressupostos similares sobre a racionalidade limitada do ser humano, e propondo a ideia das organizações como feixes de contratos e a necessidade de estabelecimento de sistemas de governança. O BREVE RELATO DE FATOS E ATOS Não é muito fácil precisar todos os fatores que desencadearam as mudanças que tratamos neste trabalho e que passaram a pautar as novas características e diretrizes da gestão de pessoas na Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), mas procuramos destacar alguns dos principais incidentes críticos relacionados, com foco nos que afetam mais diretamente a burocracia estável, apenas tangenciando mudanças que alcançam também o seu corpo político (Vereadores e equipes de seus gabinetes). Após a redemocratização do país, especialmente após a Constituição Federal de 1988, com a responsabilidade delegada à Câmara de discutir e elaborar a nova Lei Orgânica do Município e as acomodações ainda decorrentes das novas liberdades de organização partidária, seguiu-se um período relativamente longo de intensos debates políticos, mesmo após a promulgação da lei em 4 de abril de 1990. Mas os debates centravam-se nas próprias relações da Câmara Municipal de São Paulo com a sociedade e em sua abertura para a participação popular (Prestes Filho, 2012, pp. 129-130). Foi apenas em 2003, 13 anos depois, que uma reforma administrativa mais abrangente foi proposta, com foco, desta vez, na reorganização interna da estrutura da CMSP. Alguns fatos marcaram o período que se sucedeu a essa reforma, realizada, na verdade, em duas etapas. As principais mudanças na gestão de recursos humanos na CMSP, com destaque para a própria forma de organização da instituição e para o programa de capacitação e treinamento iniciaram-se após a reforma administrativa realizada em 2003 (CMSP, Lei Municipal No. 13.637, de 04 de Setembro de 2003.) - e aprimorada em 2007 (CMSP, Lei Municipal No. 14.381, de 07 de Maio de 2007) - que reestruturou setores e equipes. 9 A reforma da estrutura administrativa, de cunho político, não previu a transição entre a estrutura vigente e a pretendida, o que causou conflitos no entendimento da alteração das atividades e na identificação de seus responsáveis. Ao pensar em reforma, o administrador político da época entendeu a Câmara como ineficiente sem compreender as causas, alterando a estrutura sem oferecer aprimoramento, equipamentos ou mesmo ambiente físico adequado. Diversas áreas e cargos foram extintos e houve redução de vencimentos que geraram ações na justiça para reparação de perdas. Importante colocar que em 2003 a Câmara Municipal de São Paulo sofria com a escassez de funcionários por não renovar seu quadro há pelo menos 8 anos; contava com 229 funcionários efetivos, muitos já com idade para requerer aposentadoria. Mas, em meio a esses fatores que certamente abalaram o ânimo e a confiança da burocracia, a extinção da função de Diretor Geral, que centralizava praticamente todos os fluxos de decisão administrativa, e a divisão da estrutura em duas secretarias, uma voltada ao apoio à atividade parlamentar e outra às atividades administrativas, cada qual subdividida em mais quatro subsecretarias, além da criação de importantes consultorias internas ligadas diretamente à Mesa Diretora, gerou a oportunidade para o desenvolvimento de uma gestão mais colegiada e menos concentrada. Essa oportunidade, ainda subaproveitada, foi sem dúvida uma via aberta para a maior especialização, maior desconcentração, democratização e agilidade nas decisões. Por outro lado, também demanda estratégias gerenciais de coordenação que são ainda um desafio a vencer. Os equipamentos de informática, à época, eram escassos e obsoletos, os ambientes de trabalho estavam deteriorados e o mobiliário sucateado, com cadeiras e mesas quebradas e elevadores em estado precário. Não havia estrutura adequada nos auditórios, espaços tão importantes para trabalhos políticos e técnicos. Nesse contexto, procurando atuar independentemente dessas questões e diante da necessidade de adaptação ao novo modelo administrativo, a Secretaria de Recursos Humanos organizou encontros com todos os setores para a apresentação das novas diretrizes, serviços e composições, visando à compreensão de todos os funcionários. Passado esse primeiro momento, a recém-formada Equipe de Seleção, Avaliação e Desenvolvimento de Pessoal passou ao levantamento das necessidades de treinamento junto aos setores, sendo a falta de funcionários e a 10 informática os pontos de maior atenção. Embora o esforço e a ferramenta de levantamento das necessidades de treinamento (ver quadro 2, adiante, que sucedeu o instrumento mencionado) fossem formas de apoiar a reflexão sobre objetivos mais amplos e de prazos mais longos, pôde-se verificar que o gestor, naquele momento, carente de recursos tecnológicos e humanos, não vislumbrava a possibilidade de desenvolver suas equipes envelhecidas e esvaziadas. Como o movimento de modernização da infraestrutura da CMSP já estava em andamento, optou-se por aguardar uma janela de oportunidades mais clara em futuro que já se afigurava próximo. Após a alteração da Lei da reforma administrativa, elaborada com a participação de representantes de todos os setores da CMSP, em 2007, a fim de aproximar os gestores do RH, foi construído um instrumental de linguagem bastante simples com o objetivo de se realizar diagnóstico dos setores, por meio da identificação de problemas, pontos críticos e principais necessidades referentes à gestão de pessoas e equipes e, ainda, esboçar o quadro de necessidades e indicadores que comporiam o Plano de Metas de Capacitação de Treinamento da CMSP. Assim cada equipe poderia, através do diálogo entre seus membros, refletir sobre a missão, a visão e os valores de suas áreas e, a partir daí, vislumbrar possibilidades de desenvolvimento dentro da organização. Ao apresentar o instrumental (ver quadro 2 seguinte), o RH convidou cada gestor para discutir a questão da gestão de pessoas e de equipes. Após o encontro, todos teriam o compromisso de reunir seus membros e fazer o exercício proposto. Caso precisassem de apoio, a Equipe de Desenvolvimento participaria como mediadora das reuniões. 11 Quadro 2: instrumento de diagnóstico e levantamento de metas de formação3 Área: SECRETARIA _________________ Programa: Plano de Ação Setorial Sigla: ___._ CAPACITAÇÃO E TREINAMENTO Objetivos 1. Realizar diagnóstico da unidade, identificando problemas, pontos críticos e principais necessidades referentes à gestão de pessoas e equipes. 2. Esboçar o quadro de necessidades e indicadores que comporão o Plano de Metas de Capacitação e Treinamento da CMSP em 2010. Justificativa 1. As mudanças organizacionais implementadas recentemente na CMSP e o atual processo de modernização tecnológica passam a exigir um comportamento gerencial diferenciado de suas equipes de trabalho. 2. Dentre eles, no que tange à Gestão de Pessoas, a SGA-14 vem buscando aperfeiçoar os instrumentos e métodos de gestão de forma a otimizar o trabalho das equipes e possibilitar a capacitação para o melhor desempenho dos funcionários da Edilidade. 3. Reunir equipes, explicitar metodologia e incentivar a reflexão das necessidades reais possibilitará a confecção de um Plano de Metas para Capacitação de Treinamento em 2010, de forma mais objetiva. Estratégia 1. Cada Unidade da CMSP deve reunir seu corpo gestor (secretários, supervisores, coordenadores, etc.) e integrantes das equipes para a realização do diagnóstico setorial que, por sua vez, permitirá a preparação do Plano de Ação Setorial de Capacitação e Treinamento. 2. A Unidade terá uma semana para reunir-se, levantar os pontos, preencher a presente Planilha e devolver o material à SGA.14. PRAZO DE ENTREGA DA PLANILHA: XX/XX/XX 3. SGA-14 montará o Plano de Ação Setorial e devolverá à Unidade para validação da proposta. Aprovado o Plano, ele constará do Plano de Metas de 2010 da SGA.14. 4. A SGA.14 disponibilizará técnicos para acompanhamento dos trabalhos quando solicitado, caso isso seja necessário. Contato: ramal XXXX. I - Qual o principal (ou principais) objetivo (s) do seu setor? II - Como o trabalho da Equipe reflete na Câmara? V - Como a Equipe gostaria de ser vista? VI - O que é preciso ser feito para que aconteça? Quais as metas? VII - Que capacitação é necessária para atingir o alto desempenho? OBSERVAÇÕES: Com soluções já encaminhadas para os graves problemas de infraestrutura, o resultado desse trabalho foi surpreendente, pois o teor dos relatórios demonstrou as reais deficiências e, inclusive, caminhos para saná-las, identificados e assumidos pelas próprias Equipes. Com base nos relatórios, não 3 O instrumento foi simplificado para inclusão neste trabalho, sem perder suas características essenciais. 12 somente elaboraram-se os planos de formação e desenvolvimento, como foi formada uma Comissão para a realização do concurso público, realizado em 2007 e homologado em 2008, para prover 197 vagas do quadro. Concomitantemente, foi iniciado o diálogo com a Alta Direção para que fosse contratada empresa que oferecesse, num primeiro momento, treinamentos em informática, ponto de maior atenção para a realização do Programa de Inclusão Digital e, posteriormente, o Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG). O processo de contratação de instituições que pudessem oferecer essas duas frentes de trabalho foi trabalhoso tanto tecnicamente, na construção dos termos de referência e na pesquisa de mercado como, e sobretudo, no convencimento da Alta Direção. Passaram-se cerca de dois anos para que se pudesse iniciar os processos de adesão a uma Ata de Registro e Preço, no caso da Informática, e da contratação da Fundação Instituto de Administração – FIA – escolhida entre diversas instituições avaliadas, no caso do Programa de Desenvolvimento Gerencial. A mudança da configuração do Parlamento, de quatro em quatro anos, e a mudança do Presidente, a cada ano, pode levar a Organização e seus membros à descontinuidade dos compromissos assumidos anteriormente a cada nova composição. Foi com base nisso que a Secretaria de Recursos Humanos envidou esforços junto às Mesas até que fosse aprovada a realização do referido Programa de Desenvolvimento Gerencial. A proposta do Programa era, inicialmente, ampliar a compreensão do gestor público diante do novo quadro de transformações vividas pelas diversas instâncias do Estado no Brasil e nas organizações contemporâneas, e alinhar a linguagem dos dirigentes para que fosse possível dar continuidade à qualidade técnica dos serviços oferecidos ainda que o quadro político sofra alterações na velocidade que a Lei eleitoral prevê. Outro objetivo foi o de prepará-los para enfrentar, com eficiência, eficácia e efetividade, os desafios que se apresentavam à época face à modernização administrativa da Edilidade, o ingresso de novos funcionários e a evolução técnica na área de informática que já vinha ganhando peso nos investimentos realizados. 13 A segunda fase do Programa era ampliar o conhecimento a todo quadro fixo de funcionários que passou a participar de cursos, discussões e debates sobre temas que abrangeram desde a gestão de pessoas à gestão de projetos, passando pela questão da comunicação, gestão de conflitos e negociação, qualidade total, gestão do conhecimento e vários outros. O PDG se mostrou uma ferramenta de grande alcance no desenvolvimento das Equipes promovendo a integração de todos e produzindo melhora visível no clima organizacional, além da construção de uma linguagem única no compromisso da ética no exercício da função pública, gerando grupos de trabalho intrassetoriais que passaram a se dispor a aprimorar processos de trabalho e até questões estruturais na busca de melhorias na gestão e na ampliação da produção do conhecimento interno. Nos dois anos subsequentes, tendo em vista os ótimos resultados alcançados e a perspectiva da continuidade do aprimoramento do quadro de funcionários, a Secretaria de Recursos Humanos conseguiu renovar o contrato com a mesma instituição, e tem em seu plano de metas aprofundar os temas de acordo com a necessidade de cada setor com o objetivo de aprimorar a estrutura e a cultura organizacional, na busca de uma gestão voltada à qualidade com a profissionalização da burocracia. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Sem a pretensão de elaborar conclusões gerais a partir de um caso específico como o relatado, tencionamos concluir este trabalho com algumas reflexões que, mesmo assim, possam ser úteis para profissionais atuantes na gestão de pessoas em outras organizações e para o próprio trabalho futuro na CMSP. A primeira reflexão que gostaríamos de fazer refere-se à natureza do planejamento e da gestão estratégica de recursos humanos nas organizações em geral e particularmente nas organizações públicas. A literatura sobre gestão estratégica e planejamento estratégico tende a valorizar os processos “centrados na organização” em análise e a praticamente ignorar os processos de adaptação estratégica que cabem às camadas inferiores, às organizações subordinadas a outras organizações (como as secretarias, ministérios, empresas públicas, diretorias, 14 departamentos), ou, na linguagem sistêmica, as adaptações dos objetivos das partes, em relação aos objetivos do todo. O risco decorrente, no caso das organizações públicas, é realizar o processo de análise estratégica “a partir do zero”, supervalorizando o ambiente externo propriamente dito (sociedade, comunidade, economia, clientes e concorrentes externos) e, consequentemente, subvalorizando o ambiente “do Estado e do Governo” (marcos legais, prioridades políticas e programas de governo). Adaptar-se a políticas de governo legitimamente estabelecidas é também atuar estrategicamente, além de fundamental para o fortalecimento da democracia. Guardadas certas necessidades de garantia de manutenção de serviços básicos, muito do que vulgarmente se denomina atualmente, de forma pejorativa, como “descontinuidade administrativa”, pode ser mudança decorrente de projetos políticos legitimados nas urnas. (Teixeira & Salomão, 2013, p. 56) Sem abrir mão de qualquer princípio ou convicção básicos que tivessem, a Secretaria de Recursos Humanos e a Equipe de Seleção, Desenvolvimento e Avaliação de Pessoal da CMSP procuraram entender a necessidade dessa coerência sistêmica, seja para garantir a harmonia dos processos organizacionais da instituição como um todo, seja para elevar as probabilidades de alcance de resultados mais ambiciosos em sua própria atuação. Assim, os objetivos declarados no Plano de Metas de Capacitação e Treinamento para 2010 da Equipe de Seleção, Desenvolvimento e Avaliação de Pessoal - reproduzidos a seguir - procuraram manter-se coerentes com as alterações estruturais e novas diretrizes de trabalho estabelecidas legalmente, o que certamente contribuiu para o sucesso das ações e programas implantados: Ampliar a formação teórica, técnica e funcional dos servidores para maior profissionalização; Implantar metodologia de gestão de pessoas (motivação do gestor e da equipe, desenvolvimento e gerenciamento de equipes, formação de lideranças); Implantar novos modelos e instrumentos de gestão para o desenvolvimento organizacional; Atuar conjuntamente com setores de ponta da organização, de forma a estabelecer uma sinergia entre método, tecnologia, informação e poder decisório. Uma segunda reflexão que pode ser feita, ainda relacionada à primeira, é a importância de considerar permanentemente as mudanças do contexto, reservando espaços para o desenvolvimento de estratégias emergentes no planejamento da área e que possam aproveitar as “janelas de oportunidade” que determinados eventos inesperados ou não previstos podem proporcionar. Isso nem sempre é fácil, dada a dificuldade natural das pessoas de procurar adaptar as 15 informações do ambiente aos seus modelos mentais pré-existentes e que vinham funcionando suficientemente bem na explicação da realidade e no alcance dos seus objetivos. É necessária, também, boa capacidade de lidar com frustrações, já que planos podem ser adiados e parte do trabalho ser perdido, além de que, sempre, nesses casos, parcelas consideráveis de poder e benefícios trocam de mãos. Uma terceira reflexão importante, agora relativa a atividades de formação e desenvolvimento, mas igualmente decorrente do enfoque sistêmico, é que também neste caso o contexto organizacional não pode ser ignorado. Pode parecer óbvio, mas, na ânsia de cumprir programas e metas de “hora-aula” e de “funcionários treinados”, muitas vezes somos tentados a “forçar” a realização de programas deslocados da realidade, frustrando a todos. No caso relatado, os problemas de infraestrutura, equipamentos, falta de pessoal, entre outros, formam sempre considerados, seja na escolha de temas, como de cargas e até mesmo como razão para antecipar, adiar ou cancelar programações. Decorre, então, uma outra reflexão: não é possível ser estrategicamente adaptativo e considerar o contexto, sem a participação de superiores, pares, subordinados e “clientes”. Entendemos que a forma participativa com que se atuou no período relatado foi essencial para o ajuste de conteúdos, objetivos, metas, cargas e momentos. O engajamento é tão importante, em ações relacionadas à gestão de pessoas, quanto a qualidade dos conteúdos e planos. Por fim, sem tirar o peso do que comumente se chama de “vontade política” como motor do sucesso de projetos e programas na administração pública, ao menos no que tange aos esforços de aprimoramento da gestão propriamente dita, pode-se dizer que nem sempre ela é suficiente. Os desafios técnicos e a necessidade de obter o engajamento espontâneo das pessoas subsistem além da vontade política dos dirigentes. A iniciativa e a persistência dos profissionais da área também têm um grande papel a desempenhar no sucesso das ações. 16 REFERÊNCIAS Amado, G. (1998). As instituições políticas e o meio social no Brasil. In: D. Meneses, O Brasil no pensamento brasileiro (pp. 87-108). Brasília: Senado Federal. CMSP. (04 de Setembro de 2003). Lei Municipal No. 13.637, de 04 de Setembro de 2003. São Paulo: CMSP. CMSP. (07 de Maio de 2007). Lei Municipal No. 14.381, de 07 de Maio de 2007. São Paulo: CMSP. De Toni, J. (18-21 de Outubro de 2005). Profissionalização da gestão pública e metodologia participativa. X Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública . Santiago, Chile: CLAD. Houaiss, A. (2012). Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa. Acesso em 10 de 11 de 2013, disponível em Grande dicionário Houaiss da língua portuguesa: http://houaiss.uol.com.br/ Oliveira, N. d. (Outubro de 2009). O amadorismo como traço distintivo da burocracia federal brasileira. Tese para obtenção do título de doutor . Brasília: Universidade de Brasília. Prestes Filho, U. d. (2012). Câmara Municipal de São Paulo : 450 Anos de História. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Teixeira, H. J., & Santana, S. M. (1994). Remodelando a Gestão Pública. São Paulo: Edgard Blücher. Teixeira, H. J., Bassotti, I. M., & Santos, T. S. (2013). Contribuições para a gestão de pessoas na administração Pública. São Paulo: FIA. Teixeira, H. 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Endereço eletrônico: [email protected] Yara Helena Falconi – Supervisora da Equipe de Seleção, Desenvolvimento e Avaliação da Câmara Municipal de São Paulo. Endereço eletrônico: [email protected] Sérgio Mattoso Salomão – Administrador pela FEA-USP e pesquisador da Fundação Instituto de Administração (FIA). Endereço eletrônico: [email protected]